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BRASIL E O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL1

O Brasil é um país racista. A frase, dita em voz alta, pode até causar
espanto no brasileiro desavisado, que acredita que vivemos em um paraíso racial. O
racismo nacional é “maquiado”, resultado de uma miscigenação histórica, que criou
um leque de tons de pele, misturou culturas, mas que não excluiu o racismo. O
preconceito racial no país, existe e segue firme e forte entre estatísticas de
desemprego, homicídios, falta de acesso à educação, criminalidade, diferenças de
salários e oportunidades e até em fantasias de Carnaval.
Mas, o que é racismo?
Ao pé da letra racismo é um tipo de discriminação social que se baseia no
conceito de hierarquização racial. Ele pode se manifestar de diversas formas. Uma das
mais recorrentes, por exemplo, é a invisibilização midiática para personagens na falta
de papéis ofertados a pessoas de diferentes etnias. Outra forma de discriminação
racial é quando ocorrem ofensivas físicas e verbais. O problema é que, por muito
tempo, não se discutiu o racismo no Brasil. Fez-se piadas, criou-se formas de dizer
que a beleza, fora do padrão branco europeu, era exótica, assim como todos os
símbolos religiosos e culturais que vinham com ela. Falou-se de miscigenação e
criou-se termos com mestiço, moreno e mulato, entre outras formas de embranquecer
- mesmo que verbalmente, a cor que se multiplicava: a negra.
Por conta disso, por muito tempo o brasileiro acreditou no mito da
democracia racial, na qual o racismo ou a falta dele, seria protagonista de belas
histórias de igualdade, em que os diferentes povos constitutivos do povo brasileiro e
seus mais variados tons de pele provariam a falta de preconceito de seu povo. Mas na
prática, não é bem assim.
O racismo está nos dados
A cada 100 pessoas vítimas de homicídio no Brasil, 71 são negras, informa
o Atlas da Violência de 2017, estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) junto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com
o mesmo órgão, em 2015, dos quase 10 milhões de desempregados acima dos 16
anos, cerca de 2,7 milhões eram homens negros e 3,1 milhões eram mulheres negras,
totalizando quase 6 milhões.
A desigualdade continua em outros recortes. Enquanto o número de
homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, entre 2003 e 2013, os homicídios de
mulheres negras, no mesmo período, aumentaram 54,2%, segundo o Mapa da
Violência de 2015, pesquisa que também esmiúça o panorama nacional, passando de
1.864 para 2.875 vítimas.
O mercado de trabalho também expõe suas diferenças. De acordo com o
Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, produzido pelo Ipea, em 2015 a taxa de
desocupação de mulheres negras era de 13,3% e a dos homens negros, 8,5%. Isso
acaba sendo reflexo também da falta acesso à educação. Entre 1995 e 2015, a
população adulta branca, com 12 anos ou mais de estudo, duplicou de 12,5% para
25,9%. No mesmo período, a população negra com a mesma escolaridade, passa de
3,3% para 12%. Apesar do aumento, a disparidade ainda é grande, porque é
importante lembrar que, no Brasil, 54% da população se autodeclara preta ou parda
(que somadas são a população negra).

                                                                                                               
1  Por: Katarina Bandeira 20/03/2018 - 13:25 - Atualizado em: 21/03/2018 - 09:26  
Violação dos direitos à igualdade étnico-racial
Existem no Brasil diversos órgãos de proteção e promoção dos direitos
humanos que podem ser utilizados por pessoas vítimas de racismo e discriminação.
Caso crimes dessa natureza sejam identificados a primeira providência, para que seja
instalado um inquérito, é registrar uma queixa em uma delegacia de polícia, seja ela
especializada no combate à discriminação racial ou não. Só depois o caso poderá ser
encaminhado à justiça.
No caso de injúria racial (Lei nº 9.459/1997), existe a necessidade da
presença de advogado ou defensor público. Através dela é possível obter a reparação
civil pelos danos sofridos. Por último, para violações de direitos como os das
comunidades quilombolas ou quando houver veiculação de mensagens racistas em
meios de comunicação, os órgãos a serem contatados são as Procuradorias Regionais
dos Direitos do Cidadão nos estados, a Defensoria Pública da União ou a
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. No caso de discriminação existente no
mercado de trabalho, o órgão a ser contatado é o Ministério Público do Trabalho.
Não deve-se deixar o racismo passar em brancas nuvens.
Em 21 de março de 1960, aproximadamente vinte mil pessoas protestavam
pacificamente contra a “Lei do Passe”, em Joanesburgo, na África do Sul, até serem
massacradas pela polícia sul-africana. A lei em questão obrigava a população negra a
andar com identificações que limitavam a circulação delas na cidade. Tropas militares
do Apartheid atiraram e mataram 69 manifestantes, além de ferir cerca de 180 pessoas
durante o confronto.
A violência gratuita chamou atenção das Organização das Nações Unidas
(ONU), que usou a data para criar, em 1966, o Dia Internacional contra a
Discriminação Racial, em memória ao “Massacre de Shaperville”.

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