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Consciência Negra

Consciência Negra significa reconhecer e valorizar a luta dos negros, a


cultura negra brasileira e suas contribuições para a constituição de nossa
sociedade. No Brasil, há uma data para celebrá-la: 20 de novembro que,
além de homenagear as culturas e lutas dos povos negros, reforça a
importância da sociedade como um todo refletir e agir para combater o
racismo estrutural no país.

A origem da Consciência Negra remonta aos anos 70, com o surgimento


de alguns grupos de luta contra o racismo, como o Grupo Palmares,
localizado em Porto Alegre (RS) e ligado a um quilombo, e o
Movimento Negro Unificado. Eles estudavam e apreciavam a cultura e a
literatura negra, pesquisavam e dialogavam com outros ativistas, também
inspirados pela luta anti-apartheid que era travada à época na África do
Sul, e passaram a promover ações para pensar a consciência negra e o
combate ao racismo.

O dia da Consciência Negra faz parte do calendário escolar desde 2003


e, em 2011, foi instituída em todo o Brasil pela Lei n.º 12.519. Apesar de
não ser um feriado nacional, alguns estados e municípios a adotaram
como sendo.

O dia 20 de novembro foi escolhido para marcar a Consciência Negra


por ser a data da morte de Zumbi dos Palmares, líder daquele que foi um
dos maiores quilombos do país, o Quilombo de Palmares, na Serra da
Barriga, na ocasião, vinculada à capitania de Pernambuco. Sua morte se
deu em 1695, em uma emboscada. Ao lado de Dandara dos Palmares e
Tereza de Benguela, Zumbi tornou-se um dos maiores símbolos de luta e
resistência contra a escravidão.
Por que é necessária uma data para a Consciência Negra?
Desde a invasão do Brasil por europeus, no início do século XVI, a
sociedade brasileira tem sido estruturada a partir de relações desiguais,
violentas e de submissão. Apenas muito recentemente políticas públicas
foram efetivadas com o intuito de minimizar séculos de tanta
desigualdade e repressão.

Um ponto nevrálgico (e talvez o mais emblemático) dessa relação


assimétrica é pensar na abolição da escravatura no Brasil colonial.
Tratou-se de uma resolução completamente falha e ineficiente para um
problema criado exclusivamente pelos brancos. Da maneira como feita,
em nada inclusiva, não garantiu aos negros e indígenas condições
mínimas de acesso à terras (para cultivo e moradia), educação, saúde,
empregabilidade e outras políticas públicas — uma estrutura racista que
vem sendo reinventada e perpetuada até hoje e se estende das esferas de
poder às relações pessoais.

Hoje, uma das mais expressivas estruturas do racismo em nossa


sociedade é a necropolítica, ou “política do deixar morrer”. Como
conceitualizou Achille Mbembe, filósofo, teórico político, historiador,
intelectual e professor universitário camaronês, trata-se de uma escassez
ou ausência de políticas públicas para minimizar os efeitos do racismo e
da pobreza extrema que afetam sobretudo, pessoas negras.

As consequências de um país estruturado a partir dessa segregação se


expressam em diversos índices e indicadores sociais, como por exemplo:
pretos e pardos, que são 56% da população brasileira, têm os piores
indicadores de renda, moradia, escolaridade, serviços, etc. (Pesquisa
Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, IBGE, 2019), e constam entre a
maior parte dos alvos de violência do Estado e homicídios, sobretudo
mulheres e jovens negros (Atlas da Violência 2020).

Vale lembrar que racismo é crime inafiançável e imprescritível, previsto


na Lei nº. 7.716/89, com penas que podem variar de 1 a 5 anos. Há
também a previsão no Código Penal da injúria racial, que consiste em
ofender a honra de alguém se valendo de elementos referentes à raça,
cor, etnia, religião ou origem, e estabelece a pena de reclusão de um a
três anos e multa.

Qual é o papel da escola na Consciência Negra?


É dever da escola, enquanto uma das instituições fundamentais de uma
sociedade, combater o racismo e outras violências presentes em nossa
cultura e que reverberam no espaço escolar, uma vez que ele é
constituído pelas mesmas pessoas e valores que circulam dentro e fora
dele.

Nesse sentido, há um longo caminho a percorrer: dos 10 milhões de


jovens brasileiros entre 14 e 29 anos de idade que deixaram de
frequentar a escola sem ter completado a educação básica, 71,7% são
pretos ou pardos. Jovens negros passam, em média, quase dois anos a
menos na escola do que brancos e a taxa de analfabetismo é quase três
vezes maior entre negros (Pnad Contínua da Educação 2019). Essa
profunda desigualdade tem consequências graves, como o impacto na
renda e na expectativa de vida dessas pessoas.

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