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20 de novembro relembra Zumbi dos Palmares, ícone da resistência, e coloca movimento negro
em evidência
Para além dos detalhes oficiais, a verdade é que o movimento negro se coloca como crítico do
13 de maio, dia em que a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel, há 130 anos, marcando
enfim a abolição da escravatura no país. O principal motivo para não comemorar a data do
primeiro semestre é que não foram criadas políticas públicas para inclusão social do negro na
época. Ou seja, o fim da escravidão não gerou uma melhoria na qualidade de vida desses
trabalhadores rurais – como direitos trabalhistas e acesso à educação – e eles continuaram à
margem da sociedade,
A conquista de direitos por essa parcela da população brasileira, aliás, é bastante recente. A
política de cotas raciais é uma delas. Sua implementação em diversas universidades começou a
ser tratada só no início dos anos 2000. E ainda há muito o que conquistar para reverter esse
abismo social. Nesse contexto, relembrar Zumbi em novembro é trazer a luta e a resistência
para o centro da discussão.
Dennis de Oliveira, chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de
Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), explica que “o 20 de
novembro acompanha a onda de mudança e transformação do próprio movimento negro, que
veio, ao longo das últimas décadas, pautando sua atividade para superar a ideia de ‘coisa’ –
deixada pela abolição — para sujeitos que fazem parte da sociedade e necessitam de políticas
públicas”.
A importância da celebração
Embora um único dia não faça jus à importância da discussão, o professor Juarez Tadeu de
Paula Xavier, do Núcleo Negro da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acha a data
importante para o segmento.
É uma espécie de epicentro. Durante todo o mês de novembro ações voltadas para a
consciência negra são feitas e há uma mudança significativa do quanto e como olhamos para a
questão. Antes eram apenas esforços isolados de organizações negras”, afirma.
Ainda que essa representatividade tenha ultrapassado os limites da periferia – até então único
lugar de enfrentamento – e alcançado uma esfera cultural mais ampla, com grupos de
liderança a disseminando em várias frentes, a violência contra a população negra a despeito
dessas vitórias e conquistas continua ostensiva, pontua Xavier. Segundo a ONU, a cada 23
minutos, um jovem negro é morto no Brasil.
“É uma questão a ser observada. O que me parece que falta, além dos dispositivos políticos
institucionais que temos hoje – e que, sim, mudaram a realidade –, é que essas ações sejam
estimuladas e discutidas em conjunto pela sociedade”, diz ele. E pondera: “O enfrentamento ao
racismo não é questão de preto, mas da sociedade brasileira. Superar a desigualdade social
implica, necessariamente, na discussão sobre questões étnico-raciais.”
O racismo precisa ser colocado em evidência para obrigar poderes e organizações, que lutam
pela população negra, a pensarem estratégias efetivas para reverter esse cenário de
intolerância e desigualdade.
“Além das políticas públicas como cotas e ProUni, precisamos avançar na inserção em
empresas privadas. Os estereótipos racistas continuam atuando nas seleções, por exemplo. É
preciso criar mecanismos que conscientizem sobre a importância da diversidade. O Estado é
que deve induzir essa prática”, acrescenta Oliveira.
Para a atriz Maria Gal, autora do livro A Bailarina e a Bolha de Sabão, que conta a história de
uma menina que sonhava em ser bailarina, mas não foi bem-aceita pelas colegas, é preciso
debater diariamente para que a população negra esteja presente em todos os setores da
sociedade.