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A jornada inacabada:

500 anos manchados


de sangue em busca
da democracia racial
Colaboradoras
Marcelle V.
Alícia Cruz Ivana Sousa Maia

Bruna Ferreira Luísa Reis Thaysa Borges


01
Formação
dos
brasileiros
europeus tem como uma de suas bases o
estupro das mulheres indígenas que
estavam no território quando os
portugueses chegaram e posteriormente o
estupro das mulheres pretas que foram
sequestradas do continente africano e
trazidas como mercadorias para o Brasil.
Ao longo do processo histórico, a
miscigenação foi também utilizada como
estratégia para favorecer o processo de
embranquecimento do Brasil através do
nascimento de mestiços, que esses
mestiços ao se relacionarem com pessoas
brancas completariam o ciclo do
embranquecimento.
O livro “Casa Grande & Senzala” do
antropólogo pernambucano, Gilberto
Freyre, é muito conhecido, mas também
muito contraditório, o livro ressalta que o
processo de colonização, escravidão e
miscigenação sequer beirou a
pacificidade, foi um processo violento e
traumático para a história brasileira. Ele
conta histórias horrendas sobre aquela
época, registra a violência escravagista,
mas acaba em muitos momentos acaba
por valorizar a visão da casa-grande em
detrimento da visão a partir da senzala,
apresentando um retrato do Brasil bem
longe da realidade
Gilberto relata que houveram
estupros, traz histórias repugnantes
sobre esse processo de miscigenação,
como:
“foram os senhores das casas-grandes que
contaminaram de lues (sífilis) as negras das
senzalas. Negras tantas vezes entregues
virgens, ainda molecas de 12 e 13 anos, a
rapazes brancos já poderes da sífilis das
cidades. Porque por muito tempo dominou
no Brasil a crença de que para o sifilítico não
há melhor depurativo que uma negrinha
virgem”.
— Gilberto Freyre, 1900 - 1987
Mas ao mesmo tempo em que ele
traz isso, diz que a miscigenação foi
mais benéfica do que maléfica.
Os estupros foram mais benéficos do que
maléficos? Mas e os traumas que as mulheres
escravizadas tiveram de carregar pelo resto de
suas vidas?
Anastácia, escrava que foi punida por rejeitar os
assédios de um homem branco e teve que usar
uma máscara de ferro até o fim de sua vida. A
tese de Gilberto Freyre é que a mestiçagem das
raças criou uma sociedade original e que agora
não haveria superioridade de raças, já que todas
são iguais, mas isso parece passar a ideia de
passar pano em todo sofrimento que ocorreu para
isso acontecer.
Gilberto começou a ver com o passar do tempo uma intensa troca de
cultura e de valores entre os povos que aqui se encontravam. Ele chega a
afirmar que miscigenação continuada entre as 3 raças (europeia, africana
e indígena) geraria uma meta raça, essa teoria passou a ser a ser fonte de
orgulho nacional, se olhasse para a situação de outros países, por
exemplo, naquela época estava acontecendo o apartheid, nós éramos
então um povo “pacífico”, o povo “das cores”, o povo “das misturas”, o
povo que “aceita” as diferenças sociais e raciais.

Além de uma grande mentira por conta de todo o preconceito e racismo


que é dirigido as pessoas não brancas, anula-se o fato de que a tal
miscigenação não foi pacífica, o Brasil nasceu do estupro. Contudo, o
02
Consequen
cias
O racismo na atualidade está mais presente do
que possamos imaginar, seja na fala, no vestir
ou no agir! trata-se de algo que não é normal
mas que acaba se tornando COMUM por
normalizarmos tanto este crime de forma
brutal, algo que está enraizado e estruturado
em nós.
O racismo estrutural nada mais é do que o conjunto
das várias formas de racismos, que atingem
diariamente a nossa sociedade, atrasando e
destruindo a luta daqueles que buscam por igualdade
racial.
“costumamos a normalizar e escrachar o nosso
preconceito, principalmente na nossa sociedade
racista onde é o branco quem define o lugar do
preto. mas sim, isso não é de agora, o racismo existe
desde que os portugueses invadiram o brasil e
ensinaram aos escravos a chamarem os brancos de
"senhor e senhora“ bem que poderia existir uma
fiscalização, quando começaram achar legal essa tal
de "miscigenação”. poderia até ter sido bom, é
verdade... mas só se isso não fosse fruto do estupro
e não tivesse sujado de sangue a sociedade. veja
bem, isso é um fato, é racismo estrutural ver o
colega negro de pele clara e ainda assim chamá-lo
demas ei meu, e se teu Deus fosse "preto", tu ainda
"pardo".
chamaria ele de senhor pra esconder o
preconceito? isso tudo foi armação, imagina
naquela época admitir que jesus poderia ser
"Negão". Mas será, que jesus não era preto? eu
estou achando. O problema é que se ele fosse
preto, pra vender sua imagem teriam que dizer
que ele é branco.
- Marcelle V.
Maia, 2023
03
Democracia
racial
“A democracia racial pode ser entendida como: um sistema
racial desprovido de qualquer barreira legal ou institucional
para a igualdade racial, e, em certa medida, um sistema racial
desprovido de qualquer manifestação de preconceito ou
discriminação”
— Petrônio Domingues, 1889-1930
Na democracia racial em outras palavras, temos um país sem
racismo, onde a democracia garante a igualdade e equidade de
direitos para todos, independentemente da cor da pele ou
origem étnica. Fato esse reafirmado na Constituição Federal de
88 que em seu artigo 5°, garante que: “Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”.
todos nós sabemos que a democracia racial está longe existir
efetivamente. Ainda hoje diversas pessoas são vítimas de
racismo e violência apenas por conta da sua cor de pele e sua
“A democracia só será uma
realidade quando houver, de
fato, igualdade racial no
Brasil e o negro não sofrer
nenhuma espécie de
discriminação, de
preconceito, de
estigmatização e de
segregação, seja em termos
de classe, seja em termos de
raça”.

— Florestan
Fernandes, 1920 -
1995
Gilberto Freire acreditava que após a abolição da escravatura, os pretos já foram tratados
como iguais ao resto da sociedade e após 30 anos, Florestan Fernandes aparece com seus
ideais batendo de frente com o que Gilberto tanto falava. Florestan com sua visão mais realista
mostrou que ainda estamos longe de alcançar a tão almejada democracia racial.

Em um caso concreto temos o jogador de futebol Vinícius Júnior que sofreu diversos ataques
racistas partindo de torcedores em um estádio lotado e quando não aguentou mais, reagiu
contra a torcida e foi expulso da partida no dia 21 de maio de 2023. Uma fala bastante forte e
que comprova o mito da democracia racial foi:
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O
racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a
Federação também e os adversários incentivam. Lamento
muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo,
Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação…” — Vini
Jr. (@vinijr) May 21, 2023

O jogador Vinicius Jr. não sofreu racismo


apenas na La Liga, aqui no Brasil também, No
futebol brasileiro nota-se, com muito mais
frequência do que o imaginado, casos de
racismo vindo dos jogadores, mas
principalmente das torcidas. Ademais, os casos
são mais frequentes nos times sulistas. Em
2014, o Grêmio chegou a ser eliminado da
Copa do Brasil por racismo em jogo. Situações
04
Consideraçõe
s finais
Pobreza tem cor no Brasil, o corte de classe coincide com o corte de cor, de origem, de
etnia. Não pode ser coincidência! Não se pode fechar os olhos diante da verdade, se há
um preto pobre e um branco pobre, o branco terá vantagem em uma seleção de emprego,
isso não é uma hipótese, é um fato, conforme a pesquisa feita pela Síntese de Indicadores
Sociais (SIS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
2019.
século XXI, que não há racismo no
Brasil. Inclusive, o ex- presidente do
Brasil, Jair Bolsonaro, já afirmou isso
mais de uma vez, uma fala dessa vindo
chefe de Estado, com tamanha
influência, é extremamente
preocupante. Faz com que várias
pessoas que o seguem e admiram
pensam da mesma forma, mas a
democracia racial nunca existiu no
Brasil, o racismo existe e é constante, as
pessoas devem
54% da população reconhecer
brasileira é preta e a cadaisso.
23 minutos um jovem
negro é morto nesse país. Essa ideia de que no Brasil não há racismo
é muito danosa e serve inclusive para escamotear relações de
violência para com a população preta. Dizer que no Brasil não há
racismo, que aqui somos todos iguais, todos mestiços, que não dá
para saber quem é negro no Brasil, quando é essa população que é a
mais atingida pela violência, pelo ódio, pelas políticas de morte, é
uma maneira de romantizar essas violências.
Ninguém nasce racista, mas o
preconceito racial está tão impregnado
na sociedade que as pessoas aprendem.
Mas você pode escolher não ser racista,
mas precisa ter vontade. Pequenas
mudanças vão nos levar a desconstruir
diariamente o racismo estrutural que
existe em nós. Observar mais as alheias
e próprias falas, gestos, piadinhas, entre
Indicamos o livro
outras coisas, já é “Eu e a Supremacia
um passo bom a ser
Branca”
dado. de Layla Saad, ele é muito
interessante, pois ele faz um convite de
28 dias para que o leitor olhe
determinados temas e refletir sobre as
nossas práticas diárias e como a gente
encara cada um desses temas. O livro é
extremamente forte em alguns aspectos,
porque mesmo quem participa da luta
antirracista, com certeza nota que caiu
em alguma armadilha estrutural do
racismo.
Mesmo 135 anos após a abolição da escravatura, vemos
pessoas defendendo atitudes racistas. É uma vergonha!
Situações como estas acontecem todos os dias e combater o
racismo é defender a vida. No dia 20 de abril de 2023 foi
lançado o jogo “Simulador de Escravidão”, teve mais de mil
downloads antes de ser banido da Play Store. Testemunhar a
maior empresa on-line de aplicativos auferir com racismo
explícito e clara apologia à escravidão, violência física, verbal
e sexual de pessoas pretas como forma de entretenimento é
totalmente lastimável.

Há um ditado alemão que diz: “Se há 10 pessoas


numa mesa, 1 nazista chega e se senta, e
nenhuma pessoa se levanta, então há 11 nazistas
numa mesa” Não se pode tolerar o intolerável,
saia da mesa!
OBRIG
ADA
“numa sociedade racista, não basta não
ser racista, é necessário ser
antirracista”

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— Ângela davis, 2020.
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Referências
Toda Matéria: "Gilberto Freyre". Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/gilberto-freyre/>. Acesso em:
19/05/2023.

SBSociologia: "Gilberto Freyre". Disponível em: <https://sbsociologia.com.br/project/gilberto-freyre/>. Acesso em:


19/05/2023.

Brasil Paralelo: "O que Florestan Fernandes defendia". Disponível em: <https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/o-
que-florestan-fernandes-defendia>. Acesso em: [data de acesso].

Toda Matéria: "Florestan Fernandes". Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/florestan-fernandes/>. Acesso


em: 19/05/2023.

Brasil Escola: "Sérgio Buarque de Holanda - Biografia". Disponível em:


<https://brasilescola.uol.com.br/biografia/sergio-buarque-holanda.htm>. Acesso em: 19/05/2023.

SBSociologia: "Sérgio Buarque de Holanda". Disponível em: <https://sbsociologia.com.br/project/sergio-buarque-de-


holanda/>. Acesso em: 19/05/2023.

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