Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Para entender
1) Ainda hoje existe racismo?
Sim. Por mais que as leis garantam a igualdade entre os povos, o
racismo é um processo histórico que modela a sociedade até hoje. Uma
prova disso é o contraste explícito entre o perfil da população brasileira e
sua representatividade no Congresso. Enquanto a maior parte dos
habitantes é negra (54%), quase todos (96%) os parlamentares são brancos. Outro dado relevante da violência contra a
população negra é que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil.
5) Racismo é crime?
É, sim. Com a Lei Caó 7.716, de 1989, o racismo se
tornou crime inafiançável e imprescritível com pena
de reclusão de até cinco anos. Isso significa, por
exemplo, que alguém que impede uma pessoa de
entrar no elevador ou xinga uma apresentadora de
TV por ela ser negra deve ser punido.
TEXTOS DE APOIO
Após ano de mobilizações, percepção sobre racismo aumenta na cidade de SP (Juliana Domingos de Lima de Ecoa, em
São Paulo em 19/11/2020)
Mais pessoas passaram a reconhecer, em 2020, a existência e os efeitos do racismo para a população negra e para o
desenvolvimento da maior cidade do Brasil. É o que revela a nova edição da pesquisa "Viver em São Paulo: relações
raciais", divulgada hoje (19) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência.
Para a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães, os resultados da pesquisa acompanham o avanço
da discussão sobre raça e racismo em anos recentes, pelo menos no nível local. "Nos últimos anos, a gente tem visto uma
maior conscientização da população como um todo, com mais pessoas negras que são referência em espaços importantes
e o questionamento de conceitos racistas que a sociedade normalizou, especialmente na internet", disse a Ecoa.
Um dos achados da pesquisa é que a percepção de que há diferença no tratamento de pessoas negras e brancas em
espaços como shoppings e comércios, no ambiente de trabalho e escolar aumentou significativamente desde 2019. Essa
mudança também é mostrada pelo aumento do indicador de percepção de racismo em São Paulo criado pela pesquisa,
que passou de 0,59 a 0,65 no último ano.
Em 2020, 74% dos entrevistados também afirmaram acreditar que pessoas negras têm menos oportunidades que
pessoas brancas no mercado de trabalho. Essa percepção ainda é maior entre negros do que brancos (78% contra 69%,
respectivamente), mas aumentou na população geral em relação aos dois anos anteriores.
A organização realiza a pesquisa de percepção anualmente, com recortes variados. A questão racial já figurava de
maneira transversal nas edições sobre mobilidade, trabalho e renda, por exemplo, mas a percepção sobre o racismo na
cidade passou a ser medida diretamente pela pesquisa em 2018.
Por que a percepção aumentou?
A edição deste ano da pesquisa incluiu uma pergunta sobre os protestos internacionais desencadeados pelo assassinato
de George Floyd pela polícia norte-americana, em maio.
Para 54% dos habitantes da cidade, as manifestações que reivindicaram o fim da violência policial contra a população
negra em várias cidades do mundo desde então provocaram maior conscientização sobre o racismo, inclusive no Brasil.
Os resultados indicam que casos nacionais recentes de racismo também tiveram impacto na visão da população sobre a
questão. Após entregadores de aplicativo negros serem alvo de ataques que viralizaram nas redes no início de agosto,
90% dos moradores de São Paulo concordam que grandes empresas de entrega por aplicativo devem se envolver para
prevenir e assegurar um ambiente antirracista.
Segundo dados do levantamento "As faces do racismo", realizado pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Central
Única de Favelas e divulgado em junho, o reconhecimento do racismo pela população vai além da cidade de São Paulo.
A pesquisa ouviu 3.100 pessoas com idades entre 16 e 69 anos de todos os estados do país e constatou que 91% dos
entrevistados consideram que uma pessoa branca tem mais chances de conseguir emprego em relação a uma pessoa
negra. O levantamento apontou ainda que 94% dos brasileiros creem que uma pessoa negra corre mais risco de ser
abordada de forma violenta ou ser morta pela polícia.
Para o professor da Unesp e militante do movimento negro Juarez Xavier, a maior conscientização da população
brasileira sobre o racismo não reflete apenas a repercussão de atos racistas em 2020, mas resulta da ação política
contínua do movimento social de negros nos últimos 40 anos no Brasil.
A atuação intensa desse movimento contribuiu para "estender à sociedade brasileira um letramento sobre as relações
étnico-raciais", disse Xavier a Ecoa. Ele também cita a maior produção de pesquisas e dados sobre a desigualdade racial
em diferentes esferas e sobre a mortalidade violenta de pessoas negras como outro fator responsável por ampliar a
percepção da população brasileira sobre o tema.
"A morte do George Floyd despertou uma ação política já em curso na sociedade brasileira", afirmou Xavier. O professor
lembra que a denúncia da violência policial é uma pauta antiga no movimento negro brasileiro — já estava presente na
fundação do Movimento Negro Unificado em 1978 e foi central na criação da Coalizão Negra por Direitos em 2019.
A ação política contrária a casos como o de Floyd que ganhou escala internacional neste ano, segundo ele, apenas
deflagrou uma pauta comum em diferentes sociedades marcadas pelo racismo e uma convergência de percepção em
torno da violência que atinge a população negra.
A pesquisa da Rede Nossa São Paulo também registra, localmente, um fenômeno global mencionado por Xavier: a maior
conscientização de uma população branca de classe média em relação à pauta racial, resultante dessas mobilizações
recentes.
Da percepção à ação
Embora as pesquisas apontem que o reconhecimento do racismo pela população tem aumentado, a coordenadora da
Rede Nossa São Paulo Carolina Guimarães identifica nos resultados do novo levantamento um abismo entre percepção e
ação, sobretudo em relação ao que pode ser feito por pessoas brancas para combater o racismo. Práticas como intervir
em situações de tratamento diferente, participar de protestos em apoio às reivindicações das pessoas negras e votar em
candidatos negros nas eleições foram citados por uma minoria na pesquisa como parte do papel da população branca
nessas questões.
A mudança de percepção é, ainda assim, um primeiro passo importante, especialmente quando se considera a negação
histórica do racismo no Brasil.
Falas de políticos aumentam racismo; punições ajudam no combate
Pouco mais de 80% dos paulistanos consideram que declarações de cunho racista ou preconceituoso feitas por políticos
estimulam o racismo ou preconceito na cidade. Essa percepção saltou de 75% para 82% entre 2019 e 2020.
A pesquisa revela ainda que, para quem mora na cidade, o aumento da punição por injúria racial e a adoção de punições
mais severas para policiais responsáveis pela morte de pessoas negras são as medidas que mais contribuem para o
combate ao racismo na cidade de São Paulo. Outra ação efetiva seria a inclusão de discussões sobre o tema nas escolas.
A pesquisa "Viver em São Paulo: relações raciais" conversou com 800 moradores da cidade de São Paulo de 16 anos ou
mais entre 8 e 21 de setembro de 2020. A coleta de se deu parte no formato online e parte pessoalmente e os resultados
foram ponderados para restituir os pesos de cada região da cidade e o perfil dos respondentes da amostra.
FONTE: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/11/19/apos-ano-de-mobilizacoes-percepcao-sobre-racismo-aumentou-na-cidade-de-sp.htm