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DEMOCRACIA RACIAL.

Democracia racial é um conceito que nega a existência do racismo no Brasil.

A democracia racial, de fato, nunca existiu. O que ocorreu foi uma inversão da realidade
brasileira sobre suas relações raciais. O mito da democracia racial surgiu por meio dos
viajantes que vinham ao Brasil, pela elite intelectual e política, pelos dirigentes do
movimento abolicionista institucionalizado e pelo processo de mestiçagem.

Acreditava-se que, no contexto brasileiro, a relação entre o ex-senhor de escravos e seu


ex-escravo era de amizade e benevolência. Assim, havia uma elite tradicional que chegava
a manter uma relação paternal de tutela com seus antigos servos. Isso evitava uma possível
tomada de consciência das pessoas negras sobre sua realidade.

A situação brasileira de conflito e desigualdade social entre negros e brancos era ainda
mais mascarada quando comparada à realidade norte-americana, que implementou
regimes de segregação com a discriminação e o preconceito institucionalizados.

Assim, o tratamento dos EUA de verdadeira discriminação contra a sua população negra
reforçava a falsa ideia de no Brasil não haver preconceito ou que esse acontecia de
maneira mais branda, quase escassa.

Outro fator que muito contribuiu para reforçar a ideia de tolerância e harmonia inter-racial no
Brasil foi a mestiçagem, que aconteceu, majoritariamente, a partir do abuso sexual dos
homens brancos sobre as mulheres negras. No entanto, não foi entendido como abuso nos
séculos passados, mas como se fossem relações normais.

Assim, as práticas racistas foram se construindo no contexto brasileiro, mesmo no


pós-abolicionismo. Um racismo mascarado, reforçado pelo mito da democracia racial e
naturalizado pelas relações sutis no tratamento dos brancos com pessoas negras.

Ao mesmo tempo, os números e fatos relacionados à violência contra a população negra


mostram uma realidade bastante cruel para essas pessoas, mostrando o quão longe
estamos de viver em uma democracia racial.

Panorama recente de violência contra a população negra


No dia 25 de maio de 2020, na cidade de Minneapolis nos Estados Unidos, acontece o
assassinato de George Floyd, um homem afro-americano de 40 anos, asfixiado por um
policial branco, que ignorou as falas de Floyd que dizia já não conseguir mais respirar. O
acontecimento com Floyd lembra o episódio que ocorreu no ano de 2014 em Nova York
com Eric Garner, também morto por asfixia, mesmo após repetir por várias vezes que não
conseguia respirar. Garner também era negro.

O episódio com Floyd desencadeou uma onda de protestos e reativou um movimento,


iniciado em 2013, após a absolvição de George Zimmerman condenado após alvejar o
adolescente afro-americano, Trayvon Martin, chamado “Black Lives Matter” que traduzido
para o português significa “Vidas Negras Importam”.
Poucos dias após a morte de Floyd, no Brasil, Miguel Otavio de Santana, de apenas cinco
anos, é deixado aos cuidados da patroa de sua mãe, trabalhadora doméstica, que foi levar
os cães da patroa para passear. Miguel caiu do nono andar do prédio e morreu. Ele também
era negro.

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