O documento discute o papel ambíguo das redes sociais na propagação e combate ao racismo. Ele explica como as redes sociais permitem o anonimato e a disseminação de ideias racistas, mas também deram visibilidade à questão do racismo e permitiram que vítimas se manifestassem. Propõe medidas como identificação de usuários e detecção de discurso de ódio para combater o racismo nas redes sociais.
O documento discute o papel ambíguo das redes sociais na propagação e combate ao racismo. Ele explica como as redes sociais permitem o anonimato e a disseminação de ideias racistas, mas também deram visibilidade à questão do racismo e permitiram que vítimas se manifestassem. Propõe medidas como identificação de usuários e detecção de discurso de ódio para combater o racismo nas redes sociais.
O documento discute o papel ambíguo das redes sociais na propagação e combate ao racismo. Ele explica como as redes sociais permitem o anonimato e a disseminação de ideias racistas, mas também deram visibilidade à questão do racismo e permitiram que vítimas se manifestassem. Propõe medidas como identificação de usuários e detecção de discurso de ódio para combater o racismo nas redes sociais.
O racismo é um problema que permeia as sociedades desde o início das
civilizações. As intolerâncias raciais, religiosas e étnicas desenvolveram-se, e, travestindo-se de diferentes maneiras, assumiram variadas formas e atingiram diversos alvos, seguindo a evolução dos povos. Em meio à revolução tecnocientífica, segundo Herbert Marshall McLuhan, o mundo globalizado se tornou uma aldeia global, ou seja, ao se referir ao tempo de propagação de mensagens, afirma que a tecnologia encurta as distâncias. Dessa forma, as redes sociais desempenham papel ambíguo nesta aldeia, pois são, simultaneamente, um mecanismo de combate e de propagação das intolerâncias, atingindo um grande número de pessoas. Torna-se clara a capacidade das redes sociais em difundir preconceitos ao analisar-se o método, por exemplo, de recrutamento do grupo extremista Estado Islâmico, que utiliza esses meios de comunicação para atingir um maior número de pessoas, convertendo-as religiosa e politicamente. Além disso, o poder alcançado por esse grupo é responsável pelo despertar de "lobos solitários", extremistas preconceituosos cuja atuação reflete o grande alcance das redes sociais. No contexto brasileiro, observa-se uma expressão do racismo, majoritariamente relacionada à cor. Graças a uma série de fatores, como a não inclusão de ex-escravos na sociedade após a assinatura da Lei Áurea em 1888 e a teorias, como a de Nina Rodrigues, segundo a qual a miscigenação seria sinônimo de degeneração, os preconceitos comuns à época da escravidão se mantiveram no país. Mesmo após 1989, com a Lei Caó em vigor, em que o racismo tornou-se crime no Brasil, esse perdura. Em 1988, cem anos após a abolição da escravidão, pesquisa divulgada pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou a incoerência no trato brasileiro à questão: 97% dos entrevistados disseram não ter preconceitos. Por outro lado, 98% dos mesmos entrevistados afirmaram conhecer alguém racista. Logo, surge o questionamento: onde estariam os vários racistas que sobram na conta? Pesquisas relacionadas ao mesmo tema realizadas em 1995, 2008 e 2011 apresentaram resultados semelhantes, o que leva à observação de que a discriminação racial no Brasil é, frequentemente, tratada como um preconceito de um terceiro, ou seja, de alguém em outro contexto, como aponta a professora Lilia Moritz Schwarcz, titular no departamento de Antropologia da USP. Nessa lógica, é preciso perceber que racismo e história da formação do Brasil devem ser analisadas conjuntamente e também reiterar que há um racismo oculto no Brasil potencializado pela internet: à medida em que as redes sociais proporcionaram a possibilidade de se esconder no anonimato por meio da criação de perfis falsos, pessoas racistas utilizam-se dessa ferramenta para propagação de seu preconceito. Situações recentes, como da jornalista Maria Júlia Coutinho e da atriz Taís Araújo, vítimas de preconceito através das redes sociais, exemplificam tal ocorrência e chamam atenção para o racismo enquanto problema que ainda permeia a sociedade brasileira. Além disso, a possibilidade do anonimato nas redes sociais retira o risco físico ao enunciar a ofensa, uma vez que ofender alguém pessoalmente gera o risco de uma resposta agressiva por parte da vítima ou outros que a defendam. Diferente disso, na internet, o discriminador é protegido das reações inesperadas, facilitando assim a divulgação de suas preconceituosas e desrespeitosas ideias. Por outro lado, as redes sociais impulsionaram o combate e a denúncia ao racismo, mostrando-o como uma realidade próxima, ainda que disfarçada. Dessa forma, as redes sociais deram visibilidade para a questão do preconceito, denunciando o “mito da democracia racial”. Ademais, passaram a desempenhar papel importante como promotoras do debate e da reflexão, além de dar força para os movimentos sociais e voz para aqueles que apoiam as políticas afirmativas. Outro papel destes meios de comunicação que contribui para o combate ao racismo é a possibilidade que deram às vítimas de se manifestarem e lutarem contra a discriminação. Em contrapartida, essa possibilidade de combate ao racismo pelas redes sociais é, simultaneamente, uma ferramenta de sua propagação. Isto é, a tentativa incessante de enfrentamento pode, na realidade, trazer mais holofotes para um ato racista do que efetivamente prevenir sua ocorrência no futuro, dado que aquele que realiza um comentário preconceituoso nas redes sociais e passa a ser enfrentado por um grande número de usuários está, muitas vezes, recebendo a atenção desejada. Outrossim, há uma falsa noção de inexistência de leis na internet, na qual, supostamente, a liberdade de expressão transgrediria sem consequências o artigo 5º da Constituição de 1988 no que tange à inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas. Atrelada a isso, a ideia de impunidade com relação aos crimes cometidos na internet colabora para a propagação da discriminação através das redes sociais. Dados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (Safernet) mostram que em dez anos foram feitas 525.311 denúncias de racismo referentes a 81.732 páginas diferentes. Destas somente 18.287 (aproximadamente 22,4%) foram removidas, fato que fortalece aqueles que se utilizam dessas ferramentas para promover o preconceito, pois perpetua a ideia da internet como a “terra de ninguém”. Com o intuito de evitar o uso indevido das redes sociais para propagar o preconceito, é necessária a exigência de um documento para identificação por parte das redes sociais ao criar um perfil, pois, desta maneira, torna-se mais difícil um ofensor ter um perfil falso, combatendo o racismo oculto propagado pelo anonimato. Outra possível solução para o problema é a promoção do direcionamento de recursos por parte das empresas detentoras de redes sociais no uso de ferramentas de “search engine”, mecanismo que analisa aquilo que o internauta digita, com o intuito de detectar mensagens preconceituosas que possam ser publicadas. Ao rastrear expressões de ofensa em um comentário que o usuário esteja escrevendo, uma mensagem de alerta pode aparecer para o internauta informando que a equipe de combate ao racismo da rede social detectou palavras ofensivas no post e questionar se, realmente, era aquilo que se desejava escrever. Assim, o racista terá uma sensação de monitoramento e pensará novamente se aquilo, verdadeiramente, deve ser enunciado. Além disso, tal medida quebra a lógica passiva de combate ao preconceito das redes sociais que podem retirar páginas ou comentários após denúncias e representa uma alternativa de prevenção por combater uma possível agressão antes que ela viralize e atinja inúmeras pessoas. Ademais, vale ressaltar que as redes sociais, enquanto comunidade composta por pessoas, ao apresentar posturas racistas, estão expondo um problema da sociedade, que, por sua vez, pode ser mudada através da educação. Tendo em vista esse objetivo, o Ministério da Educação deve promover o debate acerca do racismo como conteúdo fundamental para as aulas de sociologia e a análise das suas consequências para a sociedade por meio das aulas de história nas instituições de ensino públicas e privadas. Além disso, as instituições privadas, que detêm número muito reduzido de alunos negros (33% segundo o INEP), podem promover palestras, cujo objetivo seja explicitar o racismo vivenciado pelos negros e suas decorrências, uma vez que muitos de seus alunos têm pouco ou nenhum contato com esse problema em seu dia a dia. Como discutido, o racismo persiste na sociedade atual manifestando-se, contudo, através de novos meios de comunicação. Paralelamente, esses também fortaleceram o combate à discriminação. Medidas simples, como as supracitadas, podem ser tomadas para que as redes sociais continuem combatendo o racismo e diminuam seu caráter negativo de promoção de preconceitos.