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Democracia racial é um conceito ideológico que se refere a suposta inexistência

do racismo no Brasil, baseado principalmente no aspecto da miscigenação analisado no


tópico anterior. Sob esse prisma, o mito da democracia racial é uma questão
antropológica presente na história da sociedade brasileira desde a abolição da
escravatura e continua a ser um tópico de muita discussão na contemporaneidade. Sendo
assim, em relação ao tema, é necessário analisar a institucionalização do racismo, como
o “racismo cordial” age e o que o brasileiro pensa sobre o racismo.

Em primeiro plano, a institucionalização do racismo é o processo pelo qual o


pensamento racista é introduzido dentro das leis e normas de um estado, organização ou
sistema semelhante. Nesse sentido, países como a África do Sul e Estados Unidos tem
exemplos claros disso materializados no Apartheid e na segregação racial de ambientes
públicos. Por outro lado, o racismo no Brasil nunca foi institucionalizado ou
oficializado como nesses países, permitindo que ele se mantivesse velado e camuflado
em suas manifestações, porém eficiente em seus objetivos (MUNANGA; 2017).

Sob esse prisma, uma vez camuflado, o racismo no Brasil usufruiu de longos
prazos de desenvolvimento latente sem nenhuma ação contraria imediata, tendo assim
crescido na sociedade brasileira de forma lenta e constante. Nesse sentido, a
racionalidade em si já não é suficiente para que todas as pessoas possam renunciar a
suas crenças racistas (MUNANGA; 2017). Sendo assim, o racismo brasileiro age de
forma “cordial”, não declarado, desmoralizando suas vítimas e diminuindo a coesão de
uma possível força contraria que tem de agir contra algo que muitos não enxergam ou se
recusam a enxergar.

Diante desse quadro, os fatores de um racismo não institucionalizado e não


declarado foram responsáveis por moldar a mentalidade do individuo brasileiro com o
objetivo de velar ainda mais as manifestações racistas, cercando as mesmas com
sincretismos e eufemismos. Nesse cenário, perguntar para um brasileiro sobre racismo é
um ato incomodante e perturbador, gerando respostas ambíguas e fugitivas, muitas
vezes fundamentadas em questões unicamente socioeconômicas (MUNANGA; 2017).
Desse modo, a construção do racismo à brasileira é um processo único no que tange os
sistemas racistas ao redor do globo.

Além disso, vale ressaltar o quão intrigante é o fato de que, atualmente, quanto
mais existem forças para manter o racismo oficialmente não institucional, mais ele se
adentra e deixa claro de que é um processo plenamente intrínseco aos mais diversos
níveis da sociedade brasileira. Nesse âmbito, as evidências são amplas e diversas, como
o vice-presidente Hamilton Mourão fazendo declarações afirmando a inexistência do
racismo no Brasil, que seria algo que militantes tentam “importar” para o país.

Diante do que foi exposto, é clara a necessidade de uma mudança drástica no


pensamento brasileiro em relação ao tema do racismo, sendo a resposta mais comum
para isso a educação. No entanto, como mencionado, o racismo no Brasil é intrínseco
aos mais diversos níveis do sistema, incluindo a educação e todas as suas respectivas
ferramentas. Dessa maneira, no nosso caso, a mudança de toda esta situação se encontra
no simples ato de escutar empaticamente as vítimas desse cruel processo, possibilitando
o mínimo entendimento de como a desmoralização ocorre e quais seriam os possíveis
caminhos para alterar isso.

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