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SOCIOLOGIA
RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL

QUESTÃO RACIAL BRASILEIRA: FLORESTAN FERNANDES


VISÕES CLÁSSICAS Infelizmente, com o passar dos anos, foi possível observar que
a miscigenação não trouxe benefícios diretos para determinadas
Devido ao longo período de escravidão dos negros no Brasil, a camadas. Os negros e mestiços, em sua maioria, continuaram
questão racial permeia as relações de nossa sociedade. A abolição excluídos do processo de inclusão social. Com isso, criou-se uma
da escravatura em 1888 não deu conta de suprimir os problemas, visão que aborda a questão racial como irrelevante, como se o
já que apesar da libertação, não ocorreram formas de inclusão racismo não fosse uma prática brasileira e que aqui se vivencia
social. Com isso, escravos foram libertos sem alfabetização, sem uma democracia racial.
ofício direto, sem renda, sem moradia e tendo a concorrência direta No entanto, o sociólogo Florestan Fernandes nos anos
dos imigrantes europeus nos postos de trabalho, a grande maioria 1960, buscou acabar com essa visão harmoniosa. Em seu
acabou ocupando posições subalternas dentro da sociedade. livro “A integração do negro na sociedade de classes”, de 1965,
Nesse cenário, o debate sobre raça, racismo e exclusão é algo Fernandes aborda as dificuldades e percalços encontrados para
presente e permanente no Brasil, penetrando diversas esferas um verdadeiro processo de inclusão. A sua posição principal é a de
como a família, escola, meios de comunicação, movimentos sociais que a democracia racial é um mito, uma vez que a exclusão racial
e políticas públicas. Para compreender melhor, vamos aprofundar o é presente em diversas estruturas e instituições sociais brasileiras.
diálogo envolvendo pensadores clássicos da Sociologia brasileira.

GILBERTO FREYRE
Nos anos de 1930, ocorreram tentativas de modificar a visão
social acerca dos negros. Gilberto Freyre em seu livro “Casa
Grande e Senzala” busca valorizar os aspectos da miscigenação
como fator importante e benéfico para a sociedade brasileira,
contrariando visões anteriores que buscavam uma espécie de
branqueamento da população. Freyre acabava por se tornar um
defensor da existência de uma “democracia racial”.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/f/f4/Florestan_Fernandes.jpg

O MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL


O movimento negro busca alterar uma realidade de inferioridade
e preconceito sofrido por uma classe social. Debater o movimento
negro no Brasil é parte de uma discussão acerca da história
brasileira, sua formação cultural e perspectivas futuras. Toda
forma de origem segregacionista ou discriminatória emitida para
qualquer indivíduo por sua origem racial é denominada racismo.
Esse movimento é proibido na constituição brasileira, de acordo
com a lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
Nesse contexto, o movimento negro no Brasil cresce, tomando
como postura uma crítica firme à teoria da democracia racial,
buscando demonstrar todas as dificuldades passadas por essa
camada da população. Essas dificuldades podem ser observadas
principalmente quando analisamos os aspectos relativos à renda
da população brasileira, já que a população pobre do país é de
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/Gilberto_Freyre1.jpg grande maioria negra, fruto de um longo processo histórico.
O movimento negro no Brasil, hoje, encontra como pauta
É importante destacar que Gilberto Freyre foi um dos mais
principal a integração social igualitária; algumas conquistas foram
importantes pensadores sociais brasileiros, assim, essa visão teve
alcançadas, tais como: a política de cotas em universidades.
grande repercussão e, principalmente, ajudou a construir uma ideia
Entretanto, ainda é preciso uma alteração social muito grande para
de identidade nacional baseada na convivência racial pacífica e
que se possa trabalhar com a ideia de democracia racial.
harmoniosa no Brasil.

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04. (UDESC) Leia o trecho a seguir:


“Não existe democracia racial efetiva, onde o intercâmbio
EXERCÍCIOS entre indivíduos pertencentes a ‘raças’ distintas começa e termina
no plano da tolerância convencionalizada. Esta pode satisfazer
PROPOSTOS as exigências do bom-tom, de um discutível espírito cristão e da
necessidade prática de ‘manter cada um no seu lugar’. Contudo,
01. (UFU) O discurso sobre a formação da identidade nacional ela não aproxima realmente os homens senão na base da mera
brasileira tem como uma de suas vertentes o estudo das coexistência no mesmo espaço social e, onde isso chega a
consequências do encontro de três matrizes étnicas: o negro, acontecer, da convivência restritiva, regulada por um código que
o europeu (branco) e o indígena. Em meio a este debate, e consagra a desigualdade, disfarçando-a e justificando-a acima dos
contrariando as teorias raciais, elaborou-se uma tese conhecida princípios de integração da ordem social democrática”.
como “democracia racial”, caracterizada por Florestan Fernandes, 1960.

a) defender o direito de participação de representantes de todas


Florestan Fernandes se refere à ideia de “democracia racial” que,
as raças no processo político.
durante um período, foi considerada constitutiva da identidade
b) pressupor a miscigenação harmoniosa entre os diferentes nacional brasileira. Esta tese era caracterizada por:
grupos étnicos que formaram a nação brasileira.
a) pressupor uma miscigenação harmoniosa entre os diferentes
c) denunciar os conflitos raciais e a desvalorização dos grupos étnicos constitutivos da nação brasileira.
afrodescendentes no Brasil.
b) apregoar que representantes de todos os grupos étnicos
d) culpar os grupos dominantes pela marginalização dos deveriam ter representatividade política em âmbito legislativo.
afrodescendentes e da população indígena brasileira.
c) promover a denúncia de práticas racistas contra negros,
mulheres e indígenas.
02. (ENEM (LIBRAS)) A miscigenação que largamente se praticou
d) reivindicar a instauração de processos e eventuais julgamentos
aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria
dos responsáveis pelo processo de favelização nas grandes
conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre
capitais brasileiras, a partir de fins do século XIX.
a casa-grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária e
escravocrata realizou no sentido de aristocratização, extremando e) defender as candidaturas plurirraciais nos processos eleitorais,
a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala pós 1964.
e insignificante lambujem de gente livre sanduichada entre os
extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado pelos 05. (ENEM) Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi por
efeitos sociais da miscigenação. vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não é isso o que
FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Record, 1999. acontece nas redes sociais: a democracia racial apregoada por
Gilberto Freyre passa ao largo do que acontece diariamente nas
A temática discutida é muito presente na obra de Gilberto Freyre, e comunidades virtuais do país. Levantamento inédito realizado
a explicação para essa recorrência está no empenho do autor em pelo projeto Comunica que Muda [...] mostra em números a
intolerância do internauta tupiniquim. Entre abril e junho, um
a) defender os aspectos positivos da mistura racial.
algoritmo vasculhou plataformas [...] atrás de mensagens e textos
b) buscar as causas históricas do atraso social. sobre temas sensíveis, como racismo, posicionamento político e
c) destacar a violência étnica da exploração colonial. homofobia. Foram identificadas 393.284 menções, sendo 84%
d) valorizar a dinâmica inata da democracia política. delas com abordagem negativa, de exposição do preconceito e da
discriminação.
e) descrever as debilidades fundamentais da colonização
Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).
portuguesa.
Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapeada por meio de
03. (ENEM PPL) A população negra teve que enfrentar sozinha o uma pesquisa em plataformas virtuais, o texto
desafio da ascensão social, e frequentemente procurou fazê-lo
a) minimiza o alcance da comunicação digital.
por rotas originais, como o esporte, a música e a dança. Esporte,
sobretudo o futebol, música, sobretudo o samba, e dança, sobretudo b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro.
o carnaval, foram os principais canais de ascensão social dos c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito.
negros até recentemente. A libertação dos escravos não trouxe d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na sociologia.
consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis,
mas negada na prática. Ainda hoje, apesar das leis, aos privilégios e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal comportamento.
e arrogâncias de poucos correspondem o desfavorecimento e a
humilhação de muitos. 06. (ENEM (LIBRAS)) A origem da capoeira está ligada à escravidão
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. brasileira, pois nasceu como elemento de resistência à opressão
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado). do negro escravo naquela época. Considerados como mercadorias,
os negros eram submetidos à vontade e aos desmandos de seus
Em relação ao argumento de que no Brasil existe uma democracia senhores. O castigo, a humilhação e o medo foram formas de
racial, o autor demonstra que manutenção e controle desse sistema. A forma mais importante de
a) essa ideologia equipara a nação a outros países modernos. resistência a essas condições de vida foram as fugas. A capoeira
surge nesse contexto como elemento de resistência física, diante da
b) esse modelo de democracia foi possibilitado pela miscigenação.
necessidade de autodefesa à opressão, utilizando seu corpo para
c) essa peculiaridade nacional garantiu mobilidade social aos confrontar seus opressores; e resistência cultural, proveniente da
negros. necessidade do negro escravo de se fazer humano, reconstruindo
d) esse mito camuflou formas de exclusão em relação aos sua identidade.
afrodescendentes. Disponível em: http://ebookbrowsee.net. Acesso em: 28 jan. 2014 (adaptado).

e) essa dinâmica política depende da participação ativa de todas


as etnias

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O contexto do surgimento da prática da capoeira no Brasil marca c) comprovação de que a prática da capoeira foi fundamental
física, histórica e culturalmente essa manifestação corporal, para a abolição da escravatura.
caracterizando-a como uma d) legitimação da contribuição dos negros como componente
a) prática corporal de controle das ações humanas. fundamental da cultura brasileira.
b) forma de reconstrução identitária como defesa do negro. e) crença de que uma etnia minoritária precisa ter seus costumes
c) atividade física esportiva de cunho competitivo entre negros. preservados pelos legisladores.
d) maneira de adaptação da cultura negra à sociedade
escravocrata. 09. (ENEM)

e) manifestação cultural das relações simétricas entre escravos Yaô


e senhores. Aqui có no terreiro
Pelú adié
07. (ENEM 2ª APLICAÇÃO) As origens da capoeira remontam ao Faz inveja pra gente
Brasil escravocrata e ao tráfico negreiro africano. O confronto dessas Que não tem mulher
ações e contextos tornou possível o florescimento dessa prática
corporal. O negro na condição de escravo nunca se submeteu No jacutá de preto velho
totalmente à violência do branco, quer seja física ou simbólica, Há uma festa de yaô
criando suas próprias estratégias de resistência. Evidentemente, a
capoeira enfrentou uma série de preconceitos e rejeições até o seu Ôi tem nêga de Ogum
recente reconhecimento como patrimônio histórico nacional pelo De Oxalá, de lemanjá
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
PELEGRINI. T. A contribuição da capoeira para a formação do professor de Educação Mucama de Oxossi é caçador
Física: fundamentos teóricos e possibilidades de intervenção. Disponível em: Ora viva Nanã
Nanã Buruku
Até o seu recente reconhecimento como patrimônio cultural
nacional, a trajetória social da Capoeira, como expressão de Yô yoo
resistência da população negra no Brasil, foi marcada Yô yooo
a) pelo massivo apoio e incentivo do Estado e de suas instituições
oficiais, através de diversas políticas públicas direcionadas No terreiro de preto velho iaiá
para a diminuição das desigualdades sociais. Vamos saravá (a quem meu pai?)
b) pela predominância do espontaneísmo e do improviso sobre os Xangô!
elementos de ataque e defesa, reduzindo o seu impacto como VIANA, G. Agó, Pixinguinha! 100 Anos. Som Livre, 1997.
luta de resistência da população negra.
A canção Yaô foi composta na década de 1930 por Pixinguinha, em
c) pela presença de instituições e organizações oficiais parceria com Gastão Viana, que escreveu a letra. O texto mistura o
encarregadas de ensinar sua prática e que foram importantes português com o iorubá, língua usada por africanos escravizados
para o reconhecimento social da população negra no Brasil. trazidos para o Brasil. Ao fazer uso do iorubá nessa composição,
d) pela compreensão de sua prática associada à vadiagem o autor
e à desordem, que contribuíram para sua marginalização, a) promove uma crítica bem-humorada às religiões afro-
especialmente, até a terceira década do século XX. brasileiras, destacando diversos orixás.
e) pela existência de uma estrutura normativa que possibilitou o b) ressalta uma mostra da marca da cultura africana, que se
estabelecimento de regras e códigos próprios, ampliando seus mantém viva na produção musical brasileira.
significados libertários e contestatórios.
c) evidencia a superioridade da cultura africana e seu caráter de
resistência à dominação do branco.
08. (ENEM 2ª APLICAÇÃO)
d) deixa à mostra a separação racial e cultural que caracteriza a
Capítulo XIII constituição do povo brasileiro.
e) expressa os rituais africanos com maior autenticidade,
Dos vadios e capoeiras respeitando as referências originais
Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercicios de agilidade
e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeira; andar 10. (ENEM (LIBRAS)) Yeda Pessoa de Castro — Durante três
em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma séculos, a maior parte dos habitantes do Brasil falava línguas
lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, ameaçando africanas, sobretudo línguas angolanas, e as falas dessas
pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: regiões prevaleceram sobre o português. Antes se ignorava
Pena – de prisão cellular por dous a seis mezes. essa participação, se dizia que o português do Brasil ficou assim
falado devido ao isolamento, à predominância cultural e literária
Paragrapho unico. É considerado circumstancia agravante do português de Portugal sobre os falantes negros africanos
pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. analfabetos. Eles realmente não sabiam ler ou escrever português,
Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro. mas essas teoria seram baseadas em fatores extralinguísticos.
BRASIL. Código Penal de 1890. Disponível em: www.senado.gov.br. Eu introduzi nessa discussão a prevalência e a participação dos
Acesso em: 31 jul. 2012. falantes africanos, sobretudo das línguas níger-congo, que são
cerca de 1.530 línguas. As mais faladas no Brasil foram as do Golfo
A mudança diante da prática cultural descrita está relacionada à do Benim e da região banto, sobretudo do Congo e de Angola.
a) verificação de que a ampliação do patrimônio possibilita novos SCARRONE, M. Por que a participação da família africana (de línguas) é tão importante?
mercados de trabalho. Disponível em: www.revistadehistoria.com.br. Acesso em: 8 jun. 2015.

b) compreensão de que a capoeira deixou de ser um elemento


identitário para os negros.

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A importância das pesquisas linguísticas sobre a constituição do ANOTAÇÕES


português do Brasil fica evidenciada nesse texto, porque registra a
a) importância de aspectos extralinguísticos na formação da
língua.
b) proximidade entre aspectos da língua portuguesa e de línguas
africanas.
c) participação dos falares africanos na formação do português
brasileiro.
d) predominância dos falantes africanos em território brasileiro.
e) supremacia do português de Portugal sobre os falares
africanos.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. B 03. D 05. B 07. D 09. B
02. A 04. A 06. B 08. D 10. C

ANOTAÇÕES

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