Você está na página 1de 4

Pergunta principal- A ideologia do racismo inverso é válida?

O racismo inverso é uma corrente ideológica, estritamente relacionada com o racismo, em que uma
minoria étnica mostra discriminação e preconceito a uma maioria. Mas antes de me aprofundar neste
tema, devo referir que há diferenças entre discriminação, preconceito e racismo, porque são conceitos
fundamentais do assunto com significados interligados e complementares. O preconceito é um
julgamento precipitado de algo ou alguém, com falta de informação. A discriminação é,
essencialmente, o tratamento diferenciado a alguém, podendo ser a uma pessoa, especificamente, ou a
um grupo de pessoas, por diversos motivos tais como motivos religiosos, sociais, financeiros, étnicos,
entre outros. Por fim, o racismo é o preconceito e a discriminação a um determinado grupo de
pessoas por razões predominantemente biológicas, sociais e culturais. O racismo tem três maneiras
principais de se manifestar: crimes de ódio, racismo institucional e o racismo estrutural. Os crimes de
ódio são os mais abruptos e evidentes destes três e acontecem quando alguém é violentado, difamado
ou tem acesso negado a algo, simplesmente pela sua cor ou origem étnica. Em segundo lugar, o
racismo institucional consiste na discriminação racial por meios institucionais e exemplos deste
fenómeno são a violência acrescida de polícias a determinados grupos ou a desconfiança exagerada de
agências e empresas, sem qualquer tipo de justificação. Por último, o racismo estrutural é o menos
percetível em que uma sociedade já tem o racismo tão intrínseco aos seus alicerces que se torna
comum. Exemplos disso são as piadas racistas que são consideradas “normais” numa sociedade ou a
reduzida quantidade de minorias sociais em altos cargos.

O racismo inverso é mais recente do que o próprio racismo e a sua origem ainda suscita diversas
dúvidas quanto à sua identificação. Os dois momentos históricos em que o conceito teve maior
protagonismo e, muito provavelmente a sua criação, foram nos Estados Unidos com a chegada dos
movimentos dos direitos civis dos negros, na época dos anos 60-70 e na África do Sul, no período
pós-apartheid a partir de 1991. Levando em conta que foram os conservadores que o criaram e que
são os seus maiores adeptos, faz-me muito sentido que seja nesta altura em que surge o racismo
inverso. É exatamente nesta época em que o poder dos conservadores na sociedade começa a
equiparar-se à influência das pessoas negras e, considerando que usualmente os dados demonstram
que os conservadores costumam apoiar a hierarquia social com critérios económicos e antropológicos,
mostra-se óbvia a razão para rebaixar as minorias étnicas novamente. O seu juízo fundamental assenta
no facto das ações positivas serem medidas racistas. As ações positivas são medidas temporárias e
imediatas, estabelecidas pelo Estado, em que se pretende diminuir desigualdades raciais, culturais,
religiosas e étnicas que, historicamente, teriam sido acumuladas e desenvolvidas. Os cursos feitos
para que os jovens afrodescendentes pudessem se igualar a outros grupos sociais e raciais a nível de
conhecimento são casos de ações positivas. No ponto de vista dos conservadores, esta ação é
preconceituosa, sendo esta uma forma de privilegiar os negros em detrimento dos brancos, ignorando
totalmente, o facto de nem todas as raças terem o mesmo tipo de condições ao longo da história. No
ano de 2016 em Portugal, a taxa de retenção escolar das crianças provenientes dos PALOP era três
vezes maior do que a das crianças portuguesas. Com base nestas estatísticas, é visível a necessidade
das ações positivas e o efeito do colonialismo português nesses países. Então, é errado afirmar que
estas ações só servem para favorecer um dado grupo social uma vez que, o grupo ajudado está em
clara desvantagem em relação aos outros e que o único motivo delas é fazer com que haja igualdade.

Outro ponto a abordar, refere-se ao uso da palavra “inverso” para descrever este tipo de racismo.
Antes de mais, este vocábulo indica que o racismo estaria a acontecer no sentido oposto do que seria
suposto, ou seja, como se houvesse um sentido preferencial deste. O problema é que a definição de
racismo consiste na discriminação e preconceito direcionados a um dado grupo de pessoas devido a
um determinado conjunto de traços biológicos em comum. Então, segundo esta definição, o racismo
de uma pessoa branca a uma pessoa negra é, analogamente, igual ao racismo de uma pessoa negra a
uma pessoa branca, logo a sua direção seria completamente irrelevante na sua classificação.
Independentemente do individuo pertencer a uma minoria ou a uma maioria étnica, isso não dará um
diferente sentido ao racismo. Em suma, a definição de racismo só refere ao facto de haver preconceito
e discriminação, desta maneira o sentido de ocorrência é insignificante perante o tipo de racismo
manifestado.

Também foi criado um outro argumento que, em princípio, invalida o racismo inverso e este
relaciona-se com a sua própria formulação. Semanticamente, o “inverso” de algo simboliza o seu
contrário, portanto, o racismo inverso seria a não discriminação, a aceitação e a tolerância, assim
haveria uma incoerência neste conceito, porque não respeita rigorosamente as normas impostas pela
língua portuguesa. Pessoalmente, não considero este argumento válido até porque o inverso de algo
está mais relacionado com o sentido em que decorre e não com o contrário do conceito em si. Irei
ilustrar o meu ponto com um simples exemplo: um homem caminha do ponto A ao ponto B então, de
acordo com este raciocínio, o inverso do percurso seria ficar parado porque, tecnicamente, o oposto de
caminhar é permanecer em repouso. Contudo, em prática, como o conceito de “inverso” apenas se
aplica ao sentido de ocorrência da ação, acaba por ser óbvio que o inverso de ir do ponto A ao ponto
B é ir do ponto B ao ponto A, deste modo não haveria qualquer incoerência associada à língua
portuguesa.

Concluindo, considero que a ideologia do racismo inverso é inválida porque, como foi referido
anteriormente, o sentido em que o racismo ocorre não tem muita importância, sendo que o racismo
inverso é, simplesmente, racismo por não possuir qualquer tipo de distinção que o particularize do
resto. Na minha opinião, este conceito surgiu como uma forma que os conservadores encontraram
para justificar o seu preconceito, para que pudessem consolidar os seus valores e a sua perspetiva
intolerante. Se, aparentemente, as minorias seriam racistas em relação à maioria, a maioria também
deveria ser racista como forma de defesa, portanto o seu racismo seria justificado pelo racismo
inverso das minorias. Este argumento foi formulado, unicamente pelo facto destas pessoas não se
assumirem racistas, mesmo tendo várias atitudes que o indiciassem. Para terminar, não existe
qualquer sentido que modifique o tipo de racismo, apenas existem pessoas que pretendem disfarçar o
racismo presente na sua ideologia.
Bibliografia:

https://todospelaeducacao.org.br/noticias/o-combate-ao-racismo-e-uma-luta-de-todos-
entrevista-jose-vicente/

https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/racismo.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo

https://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo_reverso

https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/10/06/racismo-reverso-existe-entenda-
por-que-a-pergunta-e-absurda.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_afirmativa

https://www.fflch.usp.br/433

Você também pode gostar