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Este texto é um desdobramento do artigo “Direitos LGBTI sob ataques no Brasil: Notas sobre
o efeito da ascensão da Nova Direita e do bolsonarismo” (prelo) de autoria de Milena Lacerda,
Bruna Irineu e Brendhon Andrade que que irá compor o ebook “Políticas Públicas, Desigualdades
Sociais e Marcadores Sociais da Diferença” organizado pelo Grupo de Pesquisa em Gênero, Ética,
Educação e Política (GEEP) da UNIPAMPA.
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Essa realidade descrita, em alguma medida e considerando as devidas proporções, se repete em
âmbitos estaduais e municipais, naquelas localidades em que, em algum momento, instituiu algum
tipo de ação ou política pública direcionadas à comunidade LGBTI. A exemplo disso, recomenda-
se o texto ‘Um estudo entre ruínas: o programa Rio Sem Homofobia e a política LGBTI Fluminense’
de Luan Cassal (2018).
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Trata-se da possibilidade de invalidação de atos do Poder Público não compatíveis com a
Constituição Federal. Essa ferramenta jurídica foi criada pelo direito pós-guerras, ao qual, surge
pela necessidade de preservação e proteção dos direitos humanos e fundamentais, bem como a
garantia e estabilidade do Estado de Direito.
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Ressalte-se que as ações levantadas se referem àquelas que foram submetidas diretamente
no Supremo Tribunal Federal por meio de processo constitucional que se traduz em controle de
constitucionalidade concentrado.
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O direito à adoção (2010), a inscrição de parceiro homossexual como dependente preferencial
no Regime Geral de Previdência (2010) e o direito ao casamento (2011) foram reconhecidos pela
via difusa, tendo o Superior Tribunal de Justiça consolidado a jurisprudência em sentido positivo.
O controle de constitucionalidade difuso pode ser compreendido como aplicação incidental no
cotidiano dos órgãos que formam as Instituições Judiciárias.
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As lentes neoconservadoras compreendem que os papéis da família, Igreja e comunidade foram
atribuídos ao Estado por meio de políticas sociais. Em outras palavras, o neoconservadorismo
apresenta-se como uma forma atualizada do conservadorismo clássico articulando seus valores
morais reacionários ao receituário econômico do neoliberalismo.
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Na política brasileira, são raros aqueles que se apresentam como neoconservadores ou neoliberais,
mesmo que apresentam programática explicitamente neoconservadora e neoliberal. É comum ver
quadros do PSDB e DEM, como João Dória e Rodrigo Maia, respectivamente, que se alinham com
o modelo neoliberal. E há figuras como Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha (MDB) e Marco Feliciano
(PSC) que se comprometem com as ideias neoconservadoras de ‘mais família e menos Estado’.
Ministério das
Janeiro/2019: Retirada da diretriz de promoção e defesa dos direitos
Mulheres, Família e
da população LGBTI na reestruturação do Ministério das Mulheres,
Direitos Humanos –
Família e Direitos Humanos - MMFDH
MMFDH
Ministério das
Janeiro/2019: Ministra Damares Alves discursa em sua posse que
Mulheres, Família e
“Meninos vestem azul e meninas vestem rosa” e que em sua gestão
Direitos Humanos –
“meninos voltarão a ser príncipes e meninas princesas”
MMFDH
Ministério das
Junho/2019: Extinção do Conselho Nacional de Combate à Mulheres, Família e
Discriminação LGBT (CNCD) Direitos Humanos –
MMFDH
Agosto/2019: ANCINE proíbe o financiamento de filmes com temática Agência Nacional de
LGBTI Cinema (ANCINE)
Nesse cenário posto, estudos apontam que “os efeitos desta crise sobre
o mercado de trabalho foram imediatos e afetaram de forma diferenciada os
trabalhadores. Os mais afetados em termos de perda de ocupação foram as
mulheres, os mais jovens, os pretos e os com menor nível de escolaridade”
(BARBOSA; COSTA; HECKSHER, 2020, p. 61).
Butler (2018) argumenta que há vidas que não são passíveis de luto,
embora a precariedade da vida seja uma condição compartilhada entre
todos/as humanos/as. Nesse cenário, aquelas pessoas em contexto de
capitalismo dependente e superexploração, alocadas geopoliticamente
no Sul Global que ainda enfrenta as marcas deixadas pelo colonialismo,
submetidas cotidianamente às violências estruturais, têm suas precariedades
politicamente induzidas potencializadas.
Isso implica, inclusive, na percepção de horror moral, no qual “podemos
ver a divisão do mundo em vidas passíveis ou não passíveis de luto” (BUTLER,
2018, p. 53). No Brasil, como visto, o COVID-19 afetou diferencialmente a
população brasileira. A classe trabalhadora, em sua heterogeneidade e
interseccionalidade, torna-se alvo do projeto econômico excludente. Dito
isso, compreendem-se as razões de 160 mil mortes não gerarem a comoção
que o Norte Global geraria.
A partir de todo cenário delineado, a agudização da crise capitalista
e o desmonte das políticas sociais impulsionadas pelo ideário neoliberal
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Matéria intitulada “Pessoas trans e LGBT+ negras e indígenas estão mais expostas ao impacto da
covid-19, aponta pesquisa”. Disponível em: http://www.generonumero.media/lgbt-coronavirus/.
Acesso em: 24/11/2020.
Para ver mais: Eleições 2020: Brasil bate recorde histórico com mais de 70 LGBTIs eleitos. Disponível
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em: https://revistahibrida.com.br/2020/11/16/eleicoes-2020-brasil-bate-recorde-historico-com-
mais-de-70-lgbtis-eleitos/ . Acesso em: 24/11/2020.
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