Disciplina: (Módulo) História da IPB Professor: Dr. Junior Cesar Rodrigues Lima Aluno: Jurandyr da Silva Filho – 5º ano. Resenha sobre a monografia: Fé e Liberdade – Um Desafio ao Protestantismo na Sociedade Escravista do Século XIX. Na monografia, “Fé e Liberdade – Um Desafio ao Protestantismo na Sociedade Escravista do Século XIX”, o reverendo Phillipe dos Santos Cunha de Paula aborda a relação dos missionários protestantes com a escravidão no Brasil durante o século XIX, utilizando a história político-social para contextualizar os fatos. O autor recorre a posi- cionamentos de historiadores para narrar a história e apresentar as vozes do protestan- tismo diante da escravidão. O objetivo da pesquisa é produzir uma reflexão sobre o tema a partir de documentos e relatos históricos, buscando compreender o papel e as atitudes dos missionários protestantes em relação à escravidão no contexto brasileiro do século XIX. De acordo com o autor, o protestantismo brasileiro teve um papel significativo no contexto da escravidão no Brasil imperial até a abolição em 1888. A fim de compreender essa interação o autor mostra que é de mister importância analisar o cenário social e político da época; uma vez que o texto mostra que o protestantismo, ao se estabelecer no Brasil, trouxe consigo diferentes visões sobre a escravidão, influenciando tanto a socie- dade quanto as políticas públicas, refletindo transformações da sociedade brasileira du- rante aquele período, em razão da mão-de-obra africana ter desempenhado um papel sig- nificativo na formação da sociedade brasileira. Portanto, segundo o autor, é de funda- mental importância fazer uma análise completa desse período histórico. Em sua pesquisa o autor informa que durante a colonização do Brasil, os escravos eram utilizados principalmente para a produção de bens destinados à exportação, já que a agricultura de subsistência era considerada pouco importante e que os senhores de engenho determinavam os horários, tarefas, ritmo de trabalho e metas de produção dos escravos, que eram garantidos pelos feitores. Além do plantio e colheita, os escravos tam- bém realizavam atividades de beneficiamento da cana para a produção de açúcar. A pesquisa demonstra que, devido à posse de muitos escravos pelos latifundiários, a economia brasileira durante o período colonial tornou-se altamente dependente do tra- balho escravo. No século XIX, o Brasil começou a produzir café em grande escala para exportação, o que impactou significativamente a economia e a demanda por mão de obra escrava. A Lei Eusébio de Queirós, aprovada em 1850, proibiu a importação de escravos, levando a uma queda na importação de cativos, embora ainda ocorresse de forma ilegal. No início do século XIX, o trabalho escravo era predominante nas lavouras, mas a política de abolição gradual forçou os latifundiários a abrir mão de seus escravos, apesar de ten- tativas de atrasar a abolição por parte dos senhores de escravos. Em contrapartida, a pesquisa menciona que, de acordo com Peter L. Eisenbrg (1977), alguns senhores alforriavam seus escravos de forma independente e que isso ocorria frequentemente quando a população escrava envelhecia sem poder ser renovada, devido ao fim da importação de cativos. Nesse contexto, alguns senhores libertavam os escravos idosos e doentes para evitar custos com eles. Importante ainda ressaltar, que a pesquisa afasta qualquer dúvida que a questão da escravidão e sua lucratividade, em especial para os senhores de escravos, provocou conflito com as bases de fé dos protestantes, tendo em vista que tal prática vai contra os princípios cristãos. Quanto a postura dos missionários protestantes em relação à escravidão no Brasil, a pesquisa informa que eles, inicialmente, não buscaram confrontar a Coroa ou a sociedade escravista, mas a incompatibilidade da escravidão com os princípios do protestantismo acabou gerando ações em favor da abolição. Cabe ressaltar, que a atuação dos missio- nários e a relação entre religião e abolição da escravidão, segundo a pesquisa deixa claro, são temas relevantes e complexos na história do Brasil. A pesquisa destaca exemplos de missionários que se opuseram à escravidão no Brasil. Robert Reid Kalley, chegou ao Brasil em 1855 e atuou contra a escravidão, proclamando o evangelho sem fazer distinção racial. O Capelão Richard Boys, em 1819, expressou preocupação com a alfabetização e instrução religiosa dos escravos. Justin Spaulding, o primeiro missionário metodista no Brasil, fundou uma escola dominical que atendia mais de quarenta crianças e jovens, incluindo duas classes de escravos, uma que falava inglês e outra que falava português. Sobre Ashbel Green Simonton o texto descreve como um dos primeiros missionários presbiterianos no Brasil, que, embora timidamente, manifestou-se contra a escravidão no país que em seu diário, mencionou a prática da escravidão tanto no Brasil quanto em sua terra natal de forma depreciativa e surpresa. A pesquisa afirma que Simonton expressou sua convicção de que, para qualquer pessoa com sentimentos delicados e filantropia, nenhuma justificativa seria suficiente para a escravidão, exceto a extrema necessidade. Simonton em seu "Diário de Simonton", segundo o autor, registrou a participação em um leilão de escravos, onde um senhor pagou por dois negros, expressando seu horror diante da escravidão, evidenciando a impactante realidade que presenciou. Originário do Norte dos EUA, era favorável à abolição, pois considerava a escravidão como pecado e opres- são. Se referindo ainda a Simonton, o autor da pesquisa afirma a postura cautelosa de Simonton ao expressar suas ideias antiescravistas publicamente no Brasil, especialmente após seu retorno dos EUA em 1863. Ele registrou em seu Diário a admissão do negro João Marques de Mendonça à comunhão da igreja do Rio em 06/10/1864 e que, além disso, há três anotações no Diário de Simonton, em 03/01/1860 e 31/12/1866, que indicam que ele se utilizava de trabalho escravo no Brasil, embora nunca os possuísse, fato inte- ressante que o autor destaca é que o último registro de uma oração feita por ele antes de sua morte foi feito por um negro, membro da igreja de São Paulo. A pesquisa mostra que as igrejas protestantes, especialmente as missões presbite- rianas, evitaram se envolver precocemente com a questão abolicionista no Brasil, devido ao receio de prejudicar o processo de implantação da igreja em um contexto onde o cato- licismo detinha grande influência política e era a religião majoritária. Essa postura, segun- do o autor da pesquisa, pode ser compreendida à luz do contexto histórico e social da épo- ca, onde a questão da escravidão era extremamente sensível e politicamente carregada. A pesquisa cita o Jornal Imprensa Evangélica que foi fundado em 1864 por Simon- ton, Alexander Blackford e o ex-padre José Manoel da Conceição, e é considerado um dos documentos oficiais utilizados pelos protestantes no Brasil. Durante a Lei do Ventre Livre, o jornal se posicionou de forma tímida em relação à abolição da escravatura, com o objetivo de tolerar a manutenção do sistema vigente até que se encontrasse uma saída que não prejudicasse os interesses tanto dos senhores como dos escravos. Por lado, a pesquisa mostra que havia o receio dos missionários de que o projeto de implantação da Igreja Presbiteriana pudesse sucumbir caso agissem em desacordo com as leis religiosas do país. Os artigos publicados na Imprensa Evangélica mostravam-se timidamente favoráveis ao projeto abolicionista brasileiro, mas evitavam tomar uma po- sição mais clara para não prejudicar a instituição da igreja. Falando ainda sobre a abolição da escravatura, o autor menciona o acordo entre a Inglaterra e o Brasil em 1831, que declarou ilegal o tráfico negreiro, mas ressalta que o comércio de escravos só foi definitivamente proibido em 1850, com a aprovação da lei Eusébio de Queirós por D. Pedro II. A pesquisa ressalta que muitos escravizados conseguiram comprar sua liberdade, seja por esforço próprio ou com o apoio de associações abolicionistas. No entanto, segundo o autor, a re-escravização era uma realidade, especialmente no Rio de Janeiro e em outras cidades, onde qualquer pessoa que se assemelhasse a um escravo poderia ser detida e obrigada a provar sua liberdade, tal situação evidenciava a resistência à abolição da escra- vidão, mesmo após a promulgação da Lei Áurea em 1888. Com isso, a pesquisa destaca a complexidade e as dificuldades enfrentadas pelos escravizados e libertos na busca por sua emancipação. O autor da pesquisa menciona o jornal Imprensa Evangélica que publicou nomes de diversas lideranças do presbiterianismo que apoiavam o movimento abolicionista, que destacou que o protestantismo de missão não foi inerte aos horrores da escravidão e que a participação do presbiterianismo foi positiva e expressiva em relação a todas as deno- minações protestantes em processo de implantação no Brasil entre 1870 e 1888. A pesquisa mostra ainda, que a presença de negros nas igrejas presbiterianas no Bra- sil do século XIX, significou um movimento de abertura e inclusão por parte de alguns líderes religiosos, apesar do contexto de escravidão, fato evidenciado por Simonton que recebeu João Marques de Mendonça como membro da igreja do Rio em 1864, bem como pela catequização dos escravos e ensino de cânticos realizados por Chamberlain na fazen- da de Dois Córregos. Segundo o autor, esses exemplos ilustram a presença e participação dos negros nas igrejas presbiterianas, contribuindo para uma compreensão mais ampla da história religiosa e social do Brasil. A pesquisa relata que o Presbitério do Rio de Janeiro se posicionou contra a escra- vidão durante sua 22ª reunião em 1886, realizada em Barreira, que durante essa reunião, a questão da escravidão foi discutida, e o presbitério reiterou as conclusões da declaração da Assembleia Geral Presbiteriana dos Estados Unidos, de 1818, condenando a escra- vidão. Essa posição, segundo o autor da pesquisa, demonstra o engajamento da instituição religiosa na luta contra a escravidão, refletindo um importante momento histórico no Brasil. Segundo o autor da pesquisa, alguns pastores presbiterianos, em particular o Rev. Emanuel Vanorden, que ganhou destaque por seu posicionamento abolicionista, foi um missionário presbiteriano que fundou a primeira igreja presbiteriana no Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Grande, e também trabalhou em outras localidades. Quando da or- ganização da igreja, ele publicou no The Brazilian Christian Herald que, em 20 de feve- reiro de 1878, foi organizada uma igreja evangélica na cidade de Rio Grande, composta por oito pessoas, e foi adotada por unanimidade a resolução de que nenhum proprietário de escravos seria admitido à igreja a menos que primeiro libertasse seus escravos. O autor em sua pesquisa observou que um ano antes dos eventos mencionados acima, em 24 de outubro de 1877, Vanorden escreveu uma carta ao presidente dos Estados Uni- dos, R. Hayes, denunciando o transporte de escravos para o Brasil em navios norte-ame- ricanos e solicitando medidas. O autor da pesquisa acrescentou que essas ações eviden- ciam o comprometimento de Vanorden e outros pastores presbiterianos na luta contra a escravidão, contribuindo para a compreensão da história do abolicionismo no Brasil. Além disso, a pesquisa deixa claro que missionários e líderes protestantes se posicio- naram contra a escravidão, embora de forma discreta, e demonstraram grande preocu- pação em acolher os escravos e ensiná-los a ler a Bíblia. Essas ações foram pequenos gestos de acolhimento que revelam o quão delicado era o tema na sociedade do século XIX.