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A relação do Ensino de História envolta da Cultura Indígena

Denize Ferreira*

Leidiane Anaqueri*

Michela Monteiro*

Resumo

O objetivo desta analise é compreender o processo e a dinâmica do ensino de História


na educação Escolar Indígena no município de Tefé-AM. A pesquisa está voltada a
Escola Municipal Rural Indígena Padre Augusto Cabrolié presente na comunidade Betel
entre os Kambeba da Terra Indígena da Barreira da Missão. Esse texto traz como
objetivo central analisar a função da Escola Municipal Rural Indígena Padre Augusto
Cabrolié, a partir do atual contexto pandêmico brasileiro. Assim como, a compreensão
de como o processo de ensino vem se organizando acerca de um longo período,
destacando a importância da educação escolar indígena, suas a luta e dificuldades. Fruto
de organizações e dos movimentos sociais indigenistas, que mesmo tendo conquistado
alguns avanços significativos no decorrer de sua trajetória, ainda precisa de muitas
melhorias para que o ensino venha ser de qualidade. Para as pesquisas, foram feitas
buscas bibliográficas referentes à comunidade, a unidade escolar, assim como pesquisas
orais aos membros participantes da educação que foram afetados diretamente com o
surgimento da COVID-19. Tendo como referência o método oral e dialético, junto à
leitura do Diretório Pombalino.

Palavras-Chaves: Ensino de História; Educação Indígena; Trajetória; Período


Pandêmico.

Introdução

Durante um longo período na história do País, os povos indígenas vêm lutando


para conquistar a garantia de seus direitos diante a sociedade, e muitas vezes para que
sejam ouvidos pelas as autoridades, esses povos fazem frente a diversas reivindicações,
apesar de em muitas ocasiões serem dadas como sem importância.
Junto a esses contextos de lutas, a busca pela melhoria da educação escolar
indígena é um enfoque significativo, e que apesar de ter conquistado algumas mudanças
essenciais, ainda é preciso esforço para que o ensino possa melhorar sua qualidade, e
para que isso aconteça, é necessário ter uma educação comunitária, especifica e
diferenciada onde além da transmissão das disciplinas presentes na base escolar do país,
também precisam dar atenção para o ensino bilíngue, que retrate as suas linguagens de
origem, tendo em vista que esses povos passaram a não ter apenas o contato com a
educação nacional, a qual foi trazida pelos europeus, mas também precisam dar atenção
à própria cultura nativa.
Desta forma, este artigo tem a finalidade de apresentar o processo da educação
escolar indígena na comunidade Betel, localizada nas proximidades do município de
Tefé/AM, através de analises referentes ao cotidiano da Escola Municipal Rural
Indígena Padre Augusto Cabrolié. Usamos como metodologia um breve levantamento
bibliográfico referente a textos de autores que analisam a temática em questão, assim
como entrevistas remotas, contendo também a utilização da História Oral, a qual serviu
de base para a realização das pesquisas sobre a comunidade, com professores que
ligados à escola, e com moradores da região que possuem ligação com a unidade
escolar.
Basicamente, o texto está estruturado em quatro tópicos: a introdução, História
da Educação escolar indígena, Educação da disciplina de História para os indígenas e as
considerações finais. O primeiro tópico aborda a importância da educação indígena ao
longo do tempo, e as perspectivas de modificações futuras no trabalho pedagógico na
escola, seguidos das propostas do trabalho em relação à comunidade escolar, baseados
em diálogos que promoveram analisar e conhecer na prática os elementos culturais da
educação indígena da comunidade Betel.

História da educação escolar indígena

Depois que a introdução do ensino formal no País foi aceita, aconteceu em 1759
às Reformas Pombalinas, essas reformas ficaram responsáveis por expulsar os jesuítas
das terras da colônia tirando das mãos dos religiosos o controle da educação e
colocando nas mãos do Estado.
Após anos depois desses acontecimentos, o ano de 1889 representou um novo
começo no processo educacional e na história do País. Foi nesse período que ocorreu a
queda do império e foi instaurada a República onde o governo saia das mãos do
Imperador e passava para as mãos de Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente a
governar a nação. O processo educativo nessa nova fase que passava o país não se deu
de forma fácil e também não foi simples pelo fato da educação, assim como o processo
político, ter que passar de uma fase para outra.
Dessa forma, conforme aborda Silva (2017), a escola construída na Primeira
República começou a trazer várias novidades educativas dentre elas, a implantação das
escolas seriadas, agrupando alunos de acordo com a idade e níveis de aprendizagem,
assim como também os grupos escolares eram chamados de escolas graduadas, uma vez
que o agrupamento de alunos se dava de acordo com o grau em que se situavam,
passando gradativamente até concluir o ensino primário.
Consequentemente as formas de expressão cultural até hoje são vistas com certo
desrespeito, isso atinge diretamente a representação dos indígenas e suas respectivas
identidades. A consciência da sobreposição de valores e imposições vivenciadas pelos
povos anteriormente, faz parte do discurso do povo indígena da comunidade Betel,
principalmente quanto à maneira como a instituição escolar atuou com uma educação
voltada a homogeneizar ou assimilar os elementos culturais próprios da cultura
indígena. Nesse sentido, e melhor se posicionando sobre isso, o gestor escolar AL, firma
dizendo que:

A escola foi um meio utilizado para perda de muitas identidades étnicas do


nosso país, nós estamos fazendo o contrário, nós estamos querendo que a
escola seja uma das protagonistas em trazer de volta, refazendo o caminho de
volta para a comunidade, então é essa situação que a gente está vendo hoje, e
relacionar os dois conhecimentos de mundo (informação oral).

O papel da escola é preparar o indivíduo para ter uma vida em sociedade que
possibilite uma boa convivência na com os indivíduos, ter uma boa profissão e
contribuir para uma sociedade susta e igualitária. E com base nas pesquisas sobre a
escola da comunidade Betel, o desenvolvimento do ensino está fundamentado junto a
leis do país, as quais garantem aos povos indígenas o direito à educação escolar
indígena.
Por conseguinte a perspectiva da Escola Municipal Rural Indígena Padre
Augusto Cabrolié esta de acordo com as linhas que regem a Constituição Federal de
1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL-LDBEN, 1996),
onde ficou garantido aos indígenas processos próprios de ensino e aprendizagem.
Segundo as informações a respeito da comunidade escolar, ficou esclarecido também
que a equipe pedagógica da escola adota medidas regulares determinadas
especificamente pelas normas para a construção da escola indígena.
Com base nas analises de Almeida e Silva (2003), os mesmos verificam que no
período atual, a legislação voltada à educação escolar indígena brasileira não é mais
apresentada na distinção que, anteriormente, buscava integrar e assimilar os povos
indígenas aos ideais hegemônicos de origem ocidental, mas sim na incumbência de “[...]
proteger, respeitar valorizar os saberes, as línguas, crenças, tradições e as formas de
organização dos povos indígenas”, ou seja, é assegurado não só a comunidade Betel,
como todos os indígenas brasileiros o direito de pertencimento de suas línguas, culturas
e tradições.
Dessa forma, desde um longo tempo na história do país até o contexto atual, é
bem perceptível que a educação passou e vem passando por sucessivas mudanças,
sempre buscando a melhoria no âmbito de ensino e aprendizagem. E essas
transformações ocorreram devido o processo de industrialização onde o mundo
começou a usufruir de novos meios tecnológicos e inovações sociais. Do mesmo modo,
a educação escolar precisa disponibilizar meios de ensino que possam assegurar um
ensino de qualidade para os indivíduos, a fim que estes possam exercer um papel
participativo e transformador no meio social em que se insere.

A educação na disciplina de História para os indígenas

Apresentar a organização da educação escolar indígena em Tefé/AM, dando


ênfase aos seus sentidos, significados e valores, remete compreensão de como está
sendo formado esse processo, quais métodos educacionais estão sendo efetivados e
quais princípios fundamentam a construção do ensino e aprendizagem.
A educação para os índios é algo intimo e diferenciando, visto que, conforme
relatam Oliveira e Quaresma (2013), os indígenas olham o mundo e os fatos da vida de
um modo particular, por isso sua filosofia de educação sobre os processos e as
condições de transmissão da cultura, sobre a natureza dos saberes ensinados e sobre as
funções sociais da educação se constitui de modo muito diferente da filosofia
educacional adotada pelos não índios.
Dessa forma, a educação é processo de muita importância para esses povos, pois
ensinar e aprender não corresponde somente ir à escola, a aprendizagem está presente
nas várias formas de ensinar que cada povo indígena desenvolve em suas aldeias,
buscando sempre inserir seu povo no processo de educação, passando a eles desde cedo
os ensinamentos que servirão durante o processo da existência de cada um no mundo.
No campo das práticas escolares, foram analisadas as percepções da realidade
indígena, com o acompanhamento seguindo o método oral, foram desenvolvidos
questionamentos para algumas famílias e professores a respeito das aulas de História do
ensino fundamental da escola indígena na comunidade de Betel. Seguindo o contexto
pandêmico da comunidade, as analises foram feitas de forma cautelosas, seguindo todas
as normas.
As pesquisas apontam que o uso da língua nativa está diminuindo, até com os
professores, mesmo estes sendo indígena, a língua falada é o português. Segundo o
professor Cesar, “a língua portuguesa é a mais utilizada entre alunos, até mesmo entre
os professores e funcionários da unidade escolar”.
Dessa forma, é essencial existir a adaptação dos instrumentos e materiais
didáticos pedagógicos, visando alcançar os estudantes indígenas, pois, segundo
afirmações de Luciano (2006),”as atividades educacionais são pensadas como se todo
cidadão brasileiro falasse a mesma língua, comesse a mesma comida e da mesma
maneira, como se tivesse a mesma origem, a mesma mitologia, a mesma religião, os
mesmos valores, as mesmas tradições, e costumes, a mesma forma de organização do
trabalho, a mesma forma de organização social, econômica”.
Visto isso, vale ressaltar a importância de demonstrar que o professor precisa
fazer adaptações de seus materiais, para alcançar seus alunos. Na escola da comunidade
Betel os professores trabalham o uso dos materiais didáticos, adaptando as fichas de
leitura na língua kambeba, produzindo cartazes com desenhos das vivencias dos alunos.
Contudo, analisamos que o ensino de História na comunidade é muito
padronizado, a utilização de livros didáticos é pouco aproveitável. A partir das analises
feitas com algumas famílias que têm parentes ou filhos que estudam na comunidade,
elas afirmam que a educação tanto na disciplina de história, quanto em outras
disciplinas precisa ser mais desenvolvida, principalmente após o surgimento da
pandemia, onde a educação nas escolas foi pouquíssima proveitosa.
O cenário atual na comunidade ainda é muito difícil, sem conexão de internet,
escasso apoio das políticas publicas, seduc não se mobiliza. Então, a maior
responsabilidade por dar continuidade à formação educacional na escola indígena acaba
por recair sobre os professores indígenas. Com isso, conforme as nossas pesquisas, o
depoimento do Tuxaua Kambeba afirma que:

A Escola Municipal Rural Indígena Padre Augusto Cabrolié ela tem a função
de trabalhar o desenvolvimento da identidade e tem feito esse papel, porque
os professores que trabalham aqui são indígenas e aprenderam na base; pode
até levar um dos nossos professores para zona urbana que eles são capazes de
desenvolver o trabalho melhor do que um professor vindo de lá pra trabalhar
aqui. Eu me orgulho dos meus irmãos, primos e colegas que são professores,
que estão desenvolvendo um trabalho de qualidade e querem passar o
conhecimento para as crianças; são esforçados e têm compromisso mesmo
com nossos filhos, eles tem se voltado para ensinar uma educação de
qualidade mesmo (informação oral).

Desta forma, ficaram expostos vários processos que estão em evidência. Como o
da luta pela terra e cultura indígena, tendo em vista que ao trabalhar com esses povos é
preciso estar conectado a eles, caso isso não aconteça, acaba entrando em alguns
aspectos mais tradicionais de uma educação formal.
Seguindo a perspectiva sobre a educação do ensino de História na cultura
indígena. Analisamos o ensino com base no dialogo com a professora Vanoíria, onde a
mesma relatou promover debates e reflexões em sua aula. Com isso, professora
consegue levantar algumas questões a respeito da luta pela terra e a importância de eles
ficarem atentos a essas discussões que vêm sendo realizadas para uma possível
resolução de conflitos.
Outro aspecto importante para destacar, na analise da fala da professora
Vanoíria, é a respeito dos objetivos de se ensinar a História na escola indígena, que é
também a preocupação dos demais professores. O que se pode observar é que o ensino
de História na escola indígena está totalmente ligado à realidade em que estudantes e
professores estão inseridos, assim como as lutas e os obstáculos enfrentados por estes
grupos para que consigam manter sua identidade.
Portanto, a partir de aspectos fundamentais da questão da luta pelo território e
pela cultura indígena, é importante que os professores e a comunidade em geral se
envolva na educação, buscando formar seus estudantes conscientes e reflexivos, de
forma que estes estejam dispostos a lutar por causas dignas. A formação do aluno não se
faz somente através do conhecimento escolarizado, mas aliando esse conhecimento à
formação do indivíduo, enquanto pessoa pertencente a uma etnia, com seus costumes e
suas lutas.

Conclusão

Ao finalizar este trabalho observamos que, a partir do lugar em que os estudantes


estão inseridos, são trabalhados os conteúdos, fazendo analogias deste espaço e seus
movimentos em relação à história mundial e também vice-versa. Ou seja, há uma forma
indígena de interpretação da História e que tem sido trabalhada pelos professores a fim de
valorizar a atuação de seu grupo nessa história que por muito tempo mascarou e
estereotipou os indígenas.
Dessa forma, concluímos que o processo de formação e transmissão da educação
indígena busca desde muito tempo a valorização das formas próprias de ensino-
aprendizagem dos povos indígenas, que apesar de todos os desafios está em constante
movimento. Dessa forma, é muito importante que todos contribuam com essas discussões
no auxílio aos professores indígenas que lecionam a disciplina de História em escolas
indígenas. Personagens estes que possuem um papel fundamental nesse processo, pois
são eles que vivem o cotidiano tanto da escola indígena como da própria comunidade.

Referências

ALMEIDA, Eliene Amorine; SILVA, Rosa Helena Dias. A política de educação escolar
indígena na década de 90. Amazônida: Revista do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Ufam, ano 8, n. 1,jan./jun.2003.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 de
outubro de 1988. Disponível em:www.planalto.gov.br/legislação. Acesso em: 15 jun.
2021.
FERREIRA, Marília de Nazaré de Oliveira, QUARESMA, Francinete de Jesus Pantoja.
Os Povos Indígenas e a Educação, 2013.
LUCIANO, Gersem dos Santos Baniwa. O índio brasileiro: o que você precisa saber
sobre os povos indígenas no Brasil de Hoje. Brasília, LACED/Museu Nacional, 2006.
SILVA, Maria da Penha da. Lei nº 11. 645/200 e o Lugar dos Povos Indígenas no
Currículo do Curso de História (UFPE) – 2017.

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