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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

PRESSUPOSTOS DO CABIMENTO DO RECURSO DE


REVISTA

PRESSUPOSTOS DO CABIMENTO DO RECURSO DE REVISTA


Revista de Direito do Trabalho | vol. 53 | p. 5 | Jan / 1985
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 4 | p. 625 | Set /
2012DTR\1985\103
C.A. Barata Silva
Presidente do Tribunal Superior do Trabalho

Área do Direito: Processual

; Trabalho
Sumário:

1.Da divergência jurisprudencial - 2.Da comprovação da divergência - 3.Do conhecimento da


revista: Juízos de admissibilidade ("a quo e ad quem")

1. Da divergência jurisprudencial
A divergência jurisprudencial, que justifica o recurso de revista, deverá estabelecer-se entre
acórdãos do mesmo Tribunal Regional ou entre os de diferentes Tribunais Regionais ou das Turmas
ou, ainda, entre os de Tribunal Regional e decisões do Tribunal Superior do Trabalho, em sua
composição Plena.
Essa divergência, ainda que obedecidos todos os critérios exigidos para a sua apresentação, não
servirá para fundamentar a revista, quando a decisão recorrida estiver em consonância com
Súmula de jurisprudência uniforme do TST, de acordo com a nova redação da alínea "a" do art.
896 da CLT (LGL\1943\5), ex vi da Lei 7.033 de 5.10.82. Portanto, a partir do momento em que é
estratificado um entendimento através da consagração de um verbete sumular, restam
obstaculizadas as possibilidades de a parte oferecer revista contra decisão de TRT que, sendo-lhe
desfavorável, adotou posicionamento coerente com regra jurisprudencial, fixada pelo TST.
A Jurisprudência é unânime neste sentido, como podemos observar em ementa fincada nos autos
do RR 2.480/82 (publ., DJ de 24.6.83) que espelha o pensamento da 1.ª Turma do TST: "A
decisão que se sustenta em verbete de Súmula deste Tribunal não comporta recurso de revista,
segundo as disposições consolidadas que a disciplinam".
Não poderia ser de outra forma pois, como já frisado, a revista visa, como recurso extraordinário
que é, justamente, a uniformização da jurisprudência, a unificação interpretativa e mais, porque, a
própria Constituição Federal (LGL\1988\3) em seu art. 143 atribui, ao TST, o caráter de instância
extraordinária no âmbito trabalhista, tornando irrecorríveis, em regra, suas decisões. Finalmente,
visou-se evidentemente, evitar a subida de revistas que, embora fundamentadas, não lograriam
êxito no julgamento do mérito. Procurou-se evitar, deste modo, o congestionamento do TST, com
a apreciação de recursos, que versassem matéria já prejudicada pela existência de jurisprudência
uniforme, consubstanciada em Súmula.
Cabe, em primeiro lugar, analisar a expressão "derem ao mesmo dispositivo legal", uma vez que não
é unânime a opinião dos doutrinadores e a orientação jurisprudencial. Para uns, com os quais
concordamos, por ser a revista um recurso estrito, também restritivamente devem ser analisadas
as hipóteses de seu cabimento e, conseqüentemente, a divergência, necessariamente há de
ocorrer na interpretação de um certo e determinado dispositivo legal. Para outros, porém, a
divergência poderá ocorrer sobre "tese", numa interpretação liberal que, no nosso entender, não
se coaduna com os princípios que informam e disciplinam o direito processual do trabalho. Outros,
ainda, chegam a admitir que a divergência possa ocorrer sobre a interpretação de norma
convencional ou do regulamento da empresa, com a invocação de que estas, por força de lei,
aderiram à normatividade vigente.
Data venia, se assim quisesse o legislador, teria se referido, como já o fez no passado, à "norma
jurídica", e não a "dispositivo legal", partindo-se da afirmação de que entre as fontes do direito
positivo nacional, em matéria trabalhista, além da norma legal, há a convencional, a decorrente de
decisão normativa e a regulamentar, entre outras.
A adotar-se a interpretação liberal acima exposta, a revista se tornaria um recurso ordinário,
quase sempre cabível, o que, evidentemente, não foi desejo do legislador. Manifestou-se neste
sentido o insigne Min. Thélio da Costa Monteiro em acórdão referente ao RR 75/80 (publ., Dl de

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20.2.81): "Mera interpretação de norma regulamentar da empresa se exaure nas instâncias


ordinárias, não fundamentando revista à luz do disposto no art. 896 da CLT (LGL\1943\5)".
Nesta direção, muito bem colocou o ilustre Min. Coqueijo Costa em ementa relativa ao RR 2.754/81
(publ., DJ de 21.5.82), a qual transcrevemos in verbis: "Simples interpretação de cláusula
contratual, ou norma regulamentar contratualizada, não rende ensejo a recurso de revista". Ainda
sobre o assunto, vejamos ementa de lavra do preclaro Min. Guimarães Falcão alusivo ao RR 5.243/
80 (publ., D J de 5.2.82): "Interpretação de norma regimental interna não enseja cabimento de
recurso de revista".
Seguindo esta linha de pensamento, vejamos o que registrou o eminente Min. Coqueijo Costa em
ementa concernente ao RR 3.382/82 (publ., DJ de 30.3.84): "Interpretação de cláusula contratual
e revista. Mera interpretação de cláusula contratual, originária ou derivada da inserção de norma
regulamentar da empresa, não dá azo ao conhecimento da revista".
Cabe-nos acentuar, contudo, que a interpretação liberal vem predominando nos pretórios
trabalhistas, admitindo-se, até, que as normas decorrentes de decisões normativas, quando
interpretadas divergentemente, sirvam de suporte para o cabimento da revista.
Por outro lado, é necessário que se analise o que é realmente a interpretação divergente.
Temos que, a propósito, a expressão divergente foi tomada no sentido de conflitante. Não será,
por certo, uma interpretação mais liberal ou menos liberal, mais ou menos literal, que poderá
caracterizar o dissídio jurisprudencial.
O que o legislador quis, no nosso entender, é que, na interpretação do "mesmo dispositivo legal" e
não da mesma "norma jurídica", haja realmente conflito para possibilitar o cabimento da revista.
A variação da expressão no tempo, reforça nosso ponto de vista. Assim, a interpretação razoável,
embora divergente, mas não conflitante de maneira cabal, com outra, não enseja, em nosso
entender, o cabimento da revista.
A propósito, convém transcrever a palavra de Alcides de Mendonça Lima:
"O prestígio da lei, o seu alcance e o seu vigor dependem, entre outros fatores, de sua
interpretação uniforme e de sua aplicação sem discrepâncias pelos Tribunais. O equilíbrio das
relações sociais, o interesse das partes e a garantia das instituições exigem que determinada lei
não seja compreendida pelos órgãos do Poder Judiciário de maneira vacilante, dúbia, incerta,
gerando uma espécie de desconfiança no espírito dos litigantes, que se sentem desamparados,
desde que os Juízes e Cortes não assegurem um modo preciso de realização de um preceito legal.
Quem postula em Juízo, quer como autor, quer como réu, necessita saber qual a orientação dos
tribunais sobre a matéria controvertida na demanda, para evitar pleito inútil, desde que sua
alegação não encontra eco no pretório, por já se ter firmado jurisprudência contrária. Mas a
vacilação e a dubiedade dos Tribunais acarretam, muitas vezes, prejuízos incalculáveis para as
partes, na ausência de decisões harmônicas sobre certa tese jurídica. Na verdade, não se pode
pretender uniformidade absoluta, pois, da diversidade de julgadores e de órgãos, terá de haver
diversidade de conclusões. Desde, porém, que uma decisão definitiva e final de um Tribunal (e até
mesmo de um Juízo singular, na acatada opinião do eminente Min. Castro Nunes, in Teoria e
Prática do Poder Judiciário, p. 379) divirja de outra do Supremo Tribunal Federal ou de qualquer
dos Tribunais de Apelação, ou desde que Câmaras ou Turmas do mesmo Tribunal discrepem entre
si, permite-se que a parte prejudicada com a decisão divergente, recorra a um órgão superior,
para determinar qual dos julgados encerra a solução mais consentânea com o espírito da lei. No
primeiro caso, cabe ao Supremo Tribunal dirimir a controvérsia por via de recurso extraordinário.
Na segunda hipótese, cabe às Câmaras Cíveis do Tribunal, em cujo seio se verificou a colisão de
julgados, dirimir a controvérsia".
"Com esta providência, não se pensa em estratificar o Direito, não lhe concedendo novas
interpretações, que, na realidade, vai semeando, e nem permitindo uma adaptação mais harmônica
com novas condições sociais. Estabelecida a divergência, não se deverá, sem mais estudos e
meditação, adotar a nova interpretação, somente por ser mais moderna.
"Fixada a antinomia de julgados, será de boa lógica e de bom senso, de par com a prudência,
determinar qual a corrente de opinião que mais consulte aos interesses coletivos. Somente com
esse confronto, poderão as novas doutrinas ingressar na ordem jurídica, sem os grandes abalos e
as profundas convulsões que, em lugar de aperfeiçoarem, prejudicam, muitas vezes, o ritmo
social".
Em segundo lugar, a configuração do conflito de interpretação sobre o mesmo dispositivo legal há
de ocorrer necessariamente entre dois Tribunais Regionais, através do Pleno ou de Turma ou,
entre um Tribunal Regional, por seu Pleno ou por suas Turmas, conforme o caso, e o Tribunal

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Superior do Trabalho em sua composição plenária.


A conseqüência, pois, é que a revista pela hipótese permissiva da alínea "a" do art. 896 da CLT
(LGL\1943\5), somente poderá prosperar, se o conflito ocorrer: a) na interpretação do mesmo
dispositivo legal pelo mesmo Tribunal Regional, através de seu Pleno ou de suas Turmas. A razão
da referência feita a Pleno e Turmas é decorrência da existência, na organização judiciária
trabalhista, de Tribunais que, necessariamente, deverão ser divididos em Turmas, de outros aos
quais se possibilita a divisão e, finalmente, de uma terceira categoria em que é vedada a divisão,
tendo em vista o número dos componentes do colegiado (art. 670 da CLT (LGL\1943\5)); b) na
interpretação do mesmo dispositivo legal entre dois Tribunais Regionais, através de seu Pleno ou
de suas Turmas, e c) na interpretação, nas mesmas condições, entre um Tribunal Regional por seu
Pleno ou por uma de suas Turmas, e o Tribunal Superior do Trabalho em sua composição plenária.
A jurisprudência, sobre o assunto, é extensa. Vejamos ementas que cristalizam o pensamento do
TST: "Recurso de revista. Ao contrário do que ocorre em relação aos embargos previstos no art.
894, da CLT (LGL\1943\5), a divergência jurisprudencial consubstanciada em confronto com
arestos de Turmas do TST, mostra-se imprestável" ( RR 5.837/82, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes
de Farias Mello, publ. in DJ de 4.5.84). "Não se conhece de revista por divergência, quando a
maioria dos arestos elencados são de Turmas do TST e o único confrontável não enfrenta toda a
complexa fundamentação do acórdão recorrido" ( RR 5.702/82, Rel. Min. Orlando Teixeira da Costa,
publ. in D J de 13.4.84). "Não se conhece de recurso assinado por advogado sem a devida
capacitação nos autos e de revista amparada em divergência, mas citando arestos do TFR e de
Turma do TST" ( RR 3.510/81, Rel. Min. Orlando Teixeira da Costa, publ. in DJ de 17.2.84).
A Jurisprudência reveladora do conflito pretoriano, diz a lei, deve ter come origem Tribunais
Regionais ou Pleno do TST.
O ilustre Min. Coqueijo Costa, quando integrava a 3.ª Turma do TST, teve oportunidade de
assinalar, em ementa fincada nos autos do AI 2.637/78 (publ., DJ de 23.3.79), que os acórdãos de
Turma do TST e do STF disservem totalmente para o conhecimento do recurso de revista.
E veja-se que, mesmo os arestos de Tribunais Regionais, sofrem restrições, quando visam lastrear
a revista em que se discute elementos probatórios, em virtude da natureza extraordinária do apelo
em questão. O insigne Min. Russomano, na 2.ª Turma do TST, em voto que tive o prazer de
acompanhar, proferido no RR 3.643/78 (publ., DJ de 1.6.79), deixou consignado que o simples fato
de o Tribunal Regional apreciar a mesma matéria, idêntica ou pelo menos semelhante, em sentido
diverso do adotado no julgado recorrido, não caracteriza, por si só, o conflito exigido no art. 896
consolidado. Frisou o insigne jurista, que a apreciação de forma diversa do mesmo fato, seria
contingência do exercício da função judicial, não restando autorizada a revista, pois mesmo
quando baseada em discrepância de julgados, não perderia seu caráter de recurso extraordinário,
que apenas comportaria o debate de teses jurídicas.
De conseqüência, tem-se que jamais servirão para fundamentar a revista decisões das E. Turmas
do Colendo TST, muito embora decisões de E. Turmas de Tribunais Regionais justifiquem a
admissibilidade da revista. Aparentemente, existe uma incoerência ao admitir-se que a
interpretação divergente de uma Turma de hierarquia menor, possa servir de suporte ao cabimento
da revista, ao passo que a decisão da Turma do E. TST, que é o órgão que por lei julga o recurso,
não serve. Ocorre que, para a divergência entre Turmas do TST, já existem os embargos previstos
no art. 894 da CLT (LGL\1943\5), o que explica a aparente inversão.
Questão interessante também, diz com a "inservibilidade" de julgados da Suprema Corte para
fundamentar o cabimento da revista. Ocorre que a última instância em matéria de legalidade no
processo trabalhista é o Tribunal Superior do Trabalho, ficando reservado ao E. Supremo Tribunal
Federal, somente o exame de ofensa à Constituição (art. 143 da Constituição).
A divergência, finalmente, deverá ser específica, ou seja, o aresto regional e aqueles apontados
como conflitantes, devem ter os mesmos pressupostos fáticos. As teses devem ser idênticas e as
decisões opostas.
2. Da comprovação da divergência
Aspecto fundamental na hipótese analisada é a da prova do conflito de interpretação. Como
ensina Alcides de Mendonça Lima, a p. 290 da 2.ª edição de sua magnífica obra já citada, "é claro,
pois, que não basta que o recorrente alegue a colisão. Precisa provar que a mesma ocorre. Tem
de citar o aresto divergente, que servirá de padrão para o julgamento pela Turma do Tribunal
Superior do Trabalho".
Se possível, deverá coligir o maior número de acórdãos contrários à tese da decisão recorrida. A
indicação da divergência far-se-á de acordo com o que estatui a Súmula 38 (MIX\2010\2497) do
TST: "Para a comprovação da divergência justificadora do recurso é necessário que o recorrente

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junte certidão, ou documento equivalente, do acórdão paradigma ou faça transcrição do trecho


pertinente à hipótese, indicando sua origem e esclarecendo a fonte de publicação, isto é, órgão
oficial ou repertório idôneo de jurisprudência".
Há que se ressaltar, no particular, que a simples juntada de certidão de caso análogo disserve
para comprovar o necessário conflito pretoriano, eis que deve o julgador, ao examinar o recurso,
ter plenas condições de avaliar se existente ou não a pretendida divergência de julgados. Daí se
entender que deva a parte recorrente trazer ao feito elementos suficientes para que o Magistrado
possa, a simples vista do recurso, decidir sobre a sua admissibilidade. E a Súmula 38 tratou de
cristalizar, em seu verbete, os requisitos que devem ser pelo recorrente observados, de modo a
resultar efetiva e corretamente demonstrada a divergência exigida pelo art. 896 consolidado.
Ao relatar acórdão referente ao RR 1.350/79 (publ., DJ de 5.5.80), o insigne Min. Nelson Tapajós
muito bem colocou: "No recurso de revista, pela letra "a" do art. 896 da CLT (LGL\1943\5), a
prova do dissídio jurisprudencial far-se-á por certidão, ou mediante indicação do Diário da Justiça
ou de repertório de Jurisprudência autorizado, com a transcrição do trecho que configure a
divergência, mencionadas as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos
confrontados".
Coqueijo Costa, com clareza e precisão que lhe são inerentes, em ementa referente ao RR 573/76
(publ., DJ de 16.3.77), assinala: "A violação à letra da lei não se confunde com a interpretação:
só aquela justifica o conhecimento da revista. A divergência jurisprudencial não revestida das
exigências objetivas da Súmula 38 não serve ao conhecimento do recurso de natureza
extraordinária".
No RR 1.734/79 (publ., DJ de 8.2.80), encontramos acórdão de autoria do Min. Mozart Victor
Russomano enfocando o aspecto da autenticidade das xerocópias que têm como finalidade
precípua, a comprovação da divergência: "As xerocópias de acórdãos apenas servem de suporte
da alegação de divergência jurisprudencial quando devidamente autenticadas. Xerocópia não
autenticada de xerocópia autenticada não é instrumento hábil para demonstrar a discrepância de
julgados exigida pelo art. 896 da CLT (LGL\1943\5)".
3. Do conhecimento da revista: Juízos de admissibilidade ("a quo e ad quem")
O juízo de admissibilidade a quo da revista é exercido pelo Juiz-presidente do Tribunal Regional. É
perante ele que a revista é interposta, cabendo-lhe o exame não só de tempestividade, da
garantia do juízo como, e principalmente, o exame da ocorrência dos pressupostos recursais da
violação de lei ou do conflito de julgados. É ao presidente do Tribunal Regional que a parte deverá
demonstrar o cabimento de sua revista. É ele que deverá prolatar o despacho, recebendo ou
denegando o recurso, no exercício do juízo de admissibilidade a quo.
Convicto o juízo de admissibilidade a quo que a revista é tempestiva, que o depósito foi feito
oportuno temporae, que existe divergência específica ou violação de lei, prolatará o despacho de
recebimento, correndo daí, ao que pensamos, o prazo para o preparo que, por isso mesmo, fica
excluído do exame do juízo de admissibilidade a quo.
A matéria, conforme abordaremos mais adiante, é controvertida, entendendo alguns que da
protocolização do recurso deve correr o prazo para o preparo. Data venia, a interposição do
recurso somente se formaliza com o despacho de recebimento, não cabendo ao juízo a quo,
declarar a deserção do recurso recebido, senão alertar o juízo de admissibilidade ad quem sobre o
não preparo que, como veremos, não é prévio, mas posterior (dentro de cinco dias) à interposição
do apelo. Caso contrário, teríamos a hipótese de agravo de instrumento interposto contra
despacho deferitório de revista, mas cujo encaminhamento ao TST teria sido trancado pela
deserção. Insistimos, pois, que não cabe ao juízo de admissibilidade a quo o exame da deserção
da revista que fica reservado ao ad quem.
Ao juízo de admissibilidade ad quem no caso da revista, a Turma do TST, é que caberá, além de
reexaminar a tempestividade, a garantia do juízo, apreciar também o preparo, se houver, pelo
acréscimo de condenação no Regional ou pela condenação originária, se as custas não tiverem
sido pagas.
Toda essa matéria é preliminar e, necessariamente, será examinada pela Turma Julgadora, posta
em debate pelo relator sorteado, juntamente com os pressupostos recursais do art. 896 da CLT
(LGL\1943\5).
Somente ultrapassada a barreira do conhecimento é que a Turma se adentrará no mérito da
causa. É como uma porta que se abre para permitir aos julgadores a visão do panorama meritório.
Problema da mais alta relevância, ao se abordar o cabimento da revista com fundamento na letra
"a" do art. 896 da CLT (LGL\1943\5) é o decorrente da aplicação da Súmula 23 do Colendo TST
que afirma "não se conhece da revista ou dos embargos, quando a decisão recorrida resolver
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determinado item do pedido por diversos fundamentos, e a jurisprudência transcrita não abranger
a todos".
Sobre o assunto encontramos inúmeros acórdãos que, socorrendo-se do disposto na Súmula acima
referida, não conhecem da revista.
Em ementa do acórdão prolatado nos autos do RR 2.034/81 (publ., DJ de 5.3.82), o eminente Min.
Guimarães Falcão muito bem colocou. "Os acórdãos paradigmas devem conter todos os elementos
de fundamentação do acórdão revisando. Faltando um, são imprestáveis para justificar o recurso
de revista".
Ainda sobre o assunto, assinalou o Min. Nelson Tapajós ao lavrar ementa nos autos do RR 307/79
(publ., DJ de 30.5.80): "É inadmissível o recurso de revista, quando a decisão recorrida assenta
suas conclusões em mais de um fundamento e a jurisprudência transcrita não abrange a todos.
Revista não conhecida".
Contudo, na sistemática processual trabalhista os recursos sempre terão efeito devolutivo, e, de
conseqüência, se conhecidos pela instância ad quem, devolvem a esta o integral conhecimento do
feito (art. 899 da CLT (LGL\1943\5)).
Desde que, demonstrado o conflito de interpretação sobre um dispositivo legal, nos termos
exigidos pela lei, muito embora a decisão atacada tenha sido fundamentada em vários dispositivos,
não vemos porque não conhecer da revista em sua integralidade. Diga-se, a propósito, que não
encontramos suporte legal ou doutrinário para o conhecimento parcial da revista, como vem
fazendo o E. Tribunal Superior, conhecendo quanto a um aspecto da demanda e não conhecendo
quanto a outro.
O conflito de interpretação sobre o mesmo dispositivo legal, é pressuposto do conhecimento da
revista, que deve ser conhecida na sua integralidade, desde que o conflito tenha sido
demonstrado. Outra coisa, por sem dúvida, é o provimento parcial da revista, neste ou naquele
ponto. O conhecimento, pelo efeito devolutivo, deve ser integral, desde que verificada a hipótese
do cabimento. O provimento, se dado, é que poderá ser parcial ou total. Esta, a nosso ver, parece
ser a interpretação exata dentro da normatividade processual vigente, exceção feita, é claro, no
caso em que o recurso seja apenas parcial, atacando, somente, determinada ou determinadas
partes da decisão recorrida.
Diga-se, a propósito do assunto, que o Pretório Excelso através de duas Súmulas já fixou,
definitivamente, a solução do problema. A primeira, a de n. 292, expressamente diz que
"interposto o recurso extraordinário por mais de um dos fundamentos indicados no art. 101, III, da
Constituição, a admissão apenas por um deles, não prejudica o seu conhecimento por qualquer
dos outros".
E através da Súmula 528 firmou o E. Supremo Tribunal Federal a interpretação de que "se a
decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo Presidente do Tribunal a quo, de
recurso extraordinário que, sobre qualquer dela se manifestar não limitará a apreciação de todas
pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de interposição de agravo de instrumento".
Na discussão do processo, que originou a Súmula, vale transcrever trecho do voto do eminente
Min. Djaci Falcão, ressaltando que "a competência do juízo a quo cinge-se às condições de
admissibilidade do julgamento do recurso, constituindo o seu despacho um exame preliminar e
provisório com o objetivo de evitar o processamento do recurso que, na verdade, seja
inadmissível. Se a parte interpõe o recurso extraordinário na sua inteireza, não é dado ao
Presidente do Tribunal cindir a sua integral apreciação.
O limite da extensão do recurso, a meu ver, compete à parte que manifesta sua interposição.
Desde que admitido o apelo extremo sob uma argüição, cabe ao juiz ad quem, examinar o recurso
na sua integralidade, mesmo em relação àquela parte que não mereceu admissão no despacho que
ordenou o seu processamento".
No mesmo sentido, é expressivo o pronunciamento do Min. Amaral Santos, verbis: "Entendo que
não cabe ao Presidente do Tribunal a quo receber, em parte, o recurso extraordinário; somente o
litigante é que poderá interpor recurso de parte da decisão. O Presidente recebe ou não recebe,
admite ou não o recurso, mas não poderá admiti-lo em parte".
Sobre o assunto o Min. Coqueijo Costa, ao relatar acórdão referente ao RR 5.293/81 (publ., DJ de
27.5.83), defendeu que: "O juízo de admissibilidade se desdobra em a quo e ad quem. No caso da
revista trabalhista, o a quo é exercido pelo Presidente do TRT e o ad quem pela própria Turma do
TST. O a quo admite ou não o recurso, que é de cognição incompleta, meramente declaratório,
retratável quando denega seguimento, não constitui grau de jurisdição, só causa gravame quando
tranca o seguimento ao recurso, e, mesmo quando o recebe, pode ser infirmado em despacho do
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Relator da Turma ad quem, nas hipóteses do art. 9.º da Lei 5.584/70. Só a Turma do TST, no
exercício do juízo de admissibilidade ad quem pode se autolimitar no âmbito do conhecimento da
revista". E continua o eminente mestre acima citado: "Diz a Súmula 457 (MIX\2010\2181) do STF
que "o TST, conhecendo da revista, julgará a causa, aplicando o direito à espécie". A Súmula 528
do mesmo Pretório Excelso proclama que "a admissão parcial não limitará a apreciação de todas as
partes autônomas do recurso extraordinário pelo STF, ainda que sem ressalva, não prejudicará a
questão do cabimento do recurso extraordinário ao qual se assemelha pelas exigências dos
requisitos de conhecimento, a revista no processo do trabalho".
Como já afirmamos no início, que a revista tem a mesma natureza do recurso extraordinário,
repetimos que as Súmulas acima transcritas ajustam-se como luva à tese que defendemos.
Há, ainda, outra hipótese do não conhecimento do recurso de revista a ser analisada: dispõe a
Súmula 126 (MIX\2010\2584) do TST que: "Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts.
896 e 894, "b" da CLT (LGL\1943\5)) para reexame de fatos e provas".
Logo, obstaculizado resta o conhecimento do recurso, quando a pretensão do recorrente esbarrar
em elementos fáticos, admitidos pelo acórdão regional, visto que, em virtude da Súmula acima
mencionada, não poderão ser objeto de exame na revista.
A exemplo disto, vejamos uma hipótese em que se discute a existência ou não da relação de
emprego: discutir-se elementos essenciais ao deslinde da questão, como, por exemplo, a
subordinação, não é mais possível nesta instância superior, eis que somente reapreciando provas,
poderia o tema ser reexaminado. Se a revisão pretendida não transcender ao plano da faticidade,
encontrará obstáculo intransponível na Súmula anteriormente mencionada. Para ilustrar nossa
afirmação, vejamos a ementa do acórdão prolatado nos autos do AI 1.837/79 (publ., DJ de
20.6.80), cujo autor é o ilustre Min. Expedito de Azevedo Amorim: "O tema da existência da
relação de emprego é matéria puramente de fato, não ensejando, por isso, o cabimento da
revista".
Nem mesmo o apoio em divergência jurisprudencial habilitará a revista, se os paradigmas partirem
de pressupostos fáticos diversos, anteriormente comprovados. Assim, não é possível ajustar-se a
casos concretos para justificar a revista nem mesmo acórdãos em que se discute hipótese
semelhante, face a inviabilidade da natureza da discussão que se pretende.
A propósito do assunto, vejamos ementa de lavra do eminente Min. Marco Aurélio Mendes de
Farias Mello, Relator do E- RR 3.252/79 (publ., D J de 7.5.82), que cujos termos transcrevemos in
verbis: "1) Os Tribunais Regionais do Trabalho constituem-se em última instância trabalhista no
reexame de fatos e provas colhidos com processamento da reclamação, gozando, assim, quanto a
tais matérias, de soberania. 2) Ao Tribunal Superior do Trabalho incumbe, como terceira instância,
apenas o reexame de matéria de direito, ou seja, dizer do acerto ou desacerto do enquadramento
jurídico dado pelo Regional aos fatos lançados no acórdão atacado pelo recurso de revista, de
resto espécie de recurso extraordinário. 3) A divergência suficiente a ensejar o recurso de revista
está jungida a decorrente de interpretação de dispositivo legal, sendo irrelevante a relativa ao
alcance da cláusula contratual. 4) "Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e
894, "b", da CLT (LGL\1943\5)) para reexame de fatos e provas" (Súmula 126 (MIX\2010\2584) do
TST). 5) Olvidar tais premissas, implica em transformar instância extraordinária em ordinária
elastecendo-se o tempo do desfecho de controvérsias, mediante acúmulo de processos a
aguardar pronunciamento indevido" Ao relatar acórdão referente ao RR 5.335/82 (publ., DJ de
12.8.83), o insigne Min. Ildélio Martins assinala: "Matéria fática ou sumulada e dispositivos legais
não condizentes com a causa, não justificam o conhecimento do recurso de revista".
O revolvimento de estrutura fática não se compadece com a revista pois, como asseveramos
anteriormente, este apelo tem nítidos aspectos de natureza extraordinária.
Aqui, seria de suscitar-se a importante controvérsia jurídica sobre a distinção entre matéria de
fato e matéria de direito. Poder-se-ia, a priori, afirmar que a primeira depende de forma e a
segunda, salvo raras exceções, como por exemplo, o problema do direito local (municipal,
estadual, estrangeiro ou consuetudinário, art. 337 do CPC (LGL\1973\5)), independe. O problema
teve sua complexidade afirmada por Antônio Castanheira Neves em seu Questão-de-facto -
Questão-de-Direito, Livraria Almedina, Coimbra, 1967, quando diz que: "geralmente se reconhece
que a distinção absoluta, ou logicamente pura, entre "o direito" e "o facto" não é realizável, dado
que se, por um lado, os "factos relevantes" são já em si selecionados e determinados em função
da norma aplicável, em função de uma perspectiva jurídica, a norma aplicável (o direito), por outro
lado, não pode deixar de ser selecionada e determinada em função da estrutura concreta do caso
a decidir. Ao considerar-se a questão-de-facto está implicitamente presente e relevante a
questão-de-direito; ao considerar-se a questão-de-direito não pode prescindir-se da solidária
influência da questão-de-facto. Ou numa formulação bem mais expressiva: "para dizer a verdade o
"puro facto" e o "puro direito" não se encontram nunca na vida jurídica: o facto não tem
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existência senão a partir do momento em que se torna matéria de aplicação do direito, o direito
não tem interesse senão no momento em que se trata de aplicar ao facto; pelo que, quando o
jurista pensa o facto, pensa-o como matéria do direito, quando pensa o direito, pensa-o como
forma destinada ao facto" (J. Ray, Essai sur la Structure Logique du Code Civil Français, 115). E
se alguns se referem a um insuperável "círculo" lógico para designar esta mútua e correspectiva
referência do direito ao facto e do facto ao direito, o que não deixa sempre de acentuar-se é uma
inegável solidariedade entre o direito e o facto em todo o problema jurídico concreto, a excluir a
viabilidade de uma nítida e logicamente absoluta distinção".
Outra restrição imposta ao recurso de revista, no que tange o seu conhecimento, é o que reza a
Súmula 42 (MIX\2010\2501) do TST: "Não ensejam o conhecimento de revista ou de embargos
decisões superadas por iterativa, notória e atual jurisprudência do Pleno".
Mais uma vez, procura-se evitar a proliferação de recursos infundados.
Relativamente à hipótese de que trata a Súmula 42, as ementas abaixo relacionadas ilustram, com
exatidão, a impossibilidade do conhecimento da revista em se tratando de jurisprudência uniforme.
"Questões superadas por iterativa jurisprudência do TST, consubstanciadas em Súmulas e a
inexistência de violação literal de lei não autorizam o conhecimento do recurso. Recurso não
conhecido" ( RR 6.553/82, Rel. Min. Antônio Alves de Almeida, publ. in DJ de 12.8.83).
"Recurso de revista. Em estando a decisão regional em harmonia com jurisprudência dominante do
Pleno do Tribunal Superior do Trabalho, impossível é o conhecimento de tal recurso - Súmula 42
(MIX\2010\2501), do TST" ( RR 4.803/81, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, pub. in
DJ de 15.4.83).
Importante nesse ponto do nosso estudo é saber-se o que se entende por jurisprudência
uniforme.
Para De Plácido e Silva, em seu Vocabulário Jurídico, Forense, 1978: "derivado do latim
jurisprudentia, de jus (Direito, Ciência do Direito) e prudentia (sabedoria), entende-se literalmente
que é a ciência do Direito vista com sabedoria.
"Os romanos definiam-na, segundo Ulpiano, como o conhecimento das coisas divinas e humanas e
a ciência do justo e do injusto: divinarum atque humanarum rerum notia, justi atque injusti
seientia".
"Modernamente, é jurisprudência aplicada também no sentido de ciência do Direito.
"É claro o sentido literal: o Direito aplicado com sabedoria.
"Assim é que se entende a jurisprudência como sábia interpretação e aplicação das leis a todos os
casos concretos que se submetem a julgamento da justiça. Ou seja, o hábito de interpretar e
aplicar as leis aos fatos concretos, para que, assim, se decidam as causas.
"Desse modo a jurisprudência não se forma isoladamente, isto é, pelas decisões isoladas. É
necessário que se firme por sucessivas e uniformes decisões, constituindo-se em fonte criadora do
Direito e produzindo um verdadeiro jus novum. É necessário que, pelo hábito, a interpretação e
explicação das leis a venham formar.
"A jurisprudência firmada, em sucessivas decisões, vale como verdadeira lei.
"Jurisprudência: extensivamente assim se diz para designar o conjunto de decisões acerca de um
mesmo assunto ou a coleção de decisões de um tribunal".
Já para Carlos Maximiliano, em sua Hermenêutica e Aplicação do Direito, Freitas Bastos, 1961, 3.ª
ed., "chama-se Jurisprudência, em geral ao conjunto das soluções dadas pelos tribunais às
questões de Direito; relativamente a um caso particular, denomina-se jurisprudência - a decisão
constante e uniforme dos tribunais sobre determinado ponto de Direito".
Analisando a evolução histórica da jurisprudência, na sua obra já citada, afirma o eminente mestre
Carlos Maximiliano que: "na antiga Roma teve atuação mais larga do que hoje se lhe atribui: assim
acontecia, porque aos pretores cabia o jusedicendi: por meio de editos declaravam como seria a
justiça administrada no ano futuro, e deste modo contemplavam e corrigiam o Direito vigente. Dá-
se atualmente o contrário: decide o magistrado só em espécie, embora em alguns casos
preventiva e prospectivamente, como em habeas corpus e certos interditos. Não estipula de modo
geral, para o futuro, expressamente. Entretanto o faz de modo indireto, implícito; porque os
indivíduos sujeitos à sua jurisdição e os respectivos consultores se orientam pela jurisprudência,
que é seguida pelos tribunais inferiores.
"Os pretores tornaram a justiça menos formalista, introduziram a aequitas (eqüidade) e pode dizer-
se que a eles se deve a entrada de um elemento novo para o acervo da jurisprudência romana, o
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jus gentium, que transformou o Direito Nacional. Aquela foi a idade de ouro da jurisprudência, que
teve prestígio e autonomia sem par e a autoridade de Direito Consuetudinário.
"Adriano ordenou aos próprios magistrados que nos casos duvidosos se guiassem pelas opiniões
dos jurisconsultos; quando estas divergissem, aqueles escolhessem a que lhes parecesse melhor,
e dessem as razões da preferência.
"Teodósio II e Valentiniano III impuseram, em termos ainda mais categóricos, a consulta às obras
de Papiniano, Paulo, Gaio, Ulpiano e Modestino; em havendo desacordo, optassem pelo primeiro e,
só mesmo quando nenhum deles oferecesse a solução para um caso concreto, se guiassem pelo
próprio critério profissional. O poder absorvente da Coroa proclamou, enfim, a supremacia, ou, pior
ainda, o uso exclusivo, da interpretação autêntica, sobretudo nos governos de Constantino e
Justiniano; só ao Imperador incumbia interpretar as leis - ejus est interpretari cujus est conclere.
"Não obstante a vontade soberana, a jurisprudência, embora com amplitude diminuída, muito
menos do que a do tempo dos "editos", foi pouco a pouco adquirindo autoridade, não mais como
elaboradora de normas, e, sim, como elemento, ou fonte de exegese apenas.
"Na Idade Média, época barbárica, os colégios judiciários não só declaravam o sentido e alcance
dos textos positivos, mas também traçavam regras especiais para as novas necessidades da vida
prática: a jurisprudência voltou a figurar como fonte de Direito.
"No Século XVII ressurgiu o sistema de interpretar diretamente os textos e só atender a opiniões
individuais dos doutos quando concludentes, fundadas na razão e baseadas na letra e no
verdadeiro espírito da lei. A jurisprudência assumiu o seu grande papel, que até hoje desempenha,
de esclarecedora dos códigos, reveladora da verdade ínsita em normas concisas.
"Perante a própria corrente histórico-evolutiva, em maioria absoluta no campo da hermenêutica,
aparece a jurisprudência como elemento de formação e aperfeiçoamento do Direito.
"Preenche as lacunas, com o auxílio da analogia e dos princípios gerais. É um verdadeiro
suplemento da legislação, enquanto serve para a integrar nos limites estabelecidos; instrumento
importantíssimo e autorizado pela hermenêutica, traduz o modo de entender e aplicar os textos em
determinada época e lugar; constitui assim, uma espécie de uso legislativo, base de Direito
Consuetudinário, portanto".
Segundo Nast ( La Fonction de la Jurisprudence dans la Vie Juridique Fran-çaise, p. 4) "a
jurisprudência, na atualidade, tem três funções muito nítidas, que se desenvolveram lentamente:
uma função um tanto automática, de aplicar a lei; uma função de adaptação, consistente em pôr
a lei em harmonia com as idéias contemporâneas e as necessidades modernas; e uma função
criadora destinada a preencher as lacunas da lei".
O estudo dos arestos serve também ao progresso de outro modo: prepara as reformas legislativas.
Não raro, o tribunal, embora se conforme com a norma escrita, lhe aponta os efeitos, deplora ter
de julgar a favor do texto e contra o Direito ou a eqüidade.
A jurisprudência demonstra porque a letra antiga não pode mais adaptar-se às exigências sociais
do presente.
Ainda segundo Carlos Maximiliano: "uma decisão isolada não constitui jurisprudência; é mister que
se repita, e sem variações de fundo. O precedente, para constituir jurisprudência, deve ser
uniforme e constante. Quando esta satisfaz os dois requisitos granjeia sólido prestígio, impõe-se
como revelação presuntiva do sentir geral, da consciência jurídica de um povo em determinada
época; deve ser observada enquanto não surgem razões muito fortes em contrário: minime sunt
mutandaquae interpretationemcertam semper habuerunt, "altere-se o menos possível o que teve
constantemente determinada interpretação".
Outro não é o pensamento de J. M. de Carvalho Santos em seu Código de Processo Civil
(LGL\1973\5) Comentado (Freitas Bastos, vol. IX, 1941, 2.ª ed.): "A lei não se contenta com
arestos isolados. Exige jurisprudência uniforme, isto é, pacífica e constante".
Também Bilac Pinto e Lúcio Bittencourt in Recurso de Revista, p. 131 explicam:
"Não bastam dois ou três acórdãos para se reputar alterada a primitiva decisão. A lei exige
jurisprudência uniforme.
"Com esta expressão redundante, quer a lei estabelecer, com ênfase, que a nova jurisprudência
deve ser precisa, invariável, reta, inflexível, pacífica, no dizer comum, tenha a autoridade que os
romanos davam as coisas perpetuamente julgadas de modo semelhante ( rerumperpetuo similiter
judicatarum).
"Jurisprudência uniforme deve ser entendida como a " jurisprudence consacrée" no mesmo sentido

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que a manda observar o Código Civil (LGL\2002\400) suíço. Aliás, uma decisão isolada, diz Carlos
Maximiliano, não constitui jurisprudência; é mister que se repita e sem variações de fundo. O
precedente, para constituir jurisprudência, deve ser uniforme e constante.
"Uniforme, ensinam os léxicos, do latim uniformis, de unus e "forma" é o que tem a mesma e uma
só forma, que não manifesta variedade; cujas partes componentes são perfeitamente idênticas
entre si. Destarte, jurisprudência uniforme será aquela cujos arestos apresentem invariavelmente,
perfeita identidade.
"Assim, existindo um ou mais acórdãos divergentes em meio a uma seqüência constante, não se
poderá pretender a inadmissibilidade da revista.
"Variará, porém, em cada caso, a apreciação da constância e uniformidade, cujo conceito ficará
ao sábio e prudente arbítrio dos tribunais, pois, não é possível, a priori, fixar numericamente
quantas decisões serão imprescindíveis para a caracterização da jurisprudência uniforme. Nesse
mister, sobremodo delicado, devem, porém, os juízes ter sempre em vista que o escopo do texto é
impedir que se invoquem decisões antigas, correspondentes a uma fase anterior da jurisprudência,
já definitivamente transposta e abandonada.
"Não é suficiente, além disso, a simples inclinação da jurisprudência em sentido contrário à
primitiva decisão. É mister que os novos acórdãos hajam sido prolatados no mesmo sentido da
decisão recorrida".
Dentre os muitos autores que se dedicaram ao estudo da jurisprudência, vale destacar J. M. de
Carvalho Santos, cujo Repertório Enciclopédico do Direito do Trabalho nos oferece precioso
subsídio ao estendermos o tema.
Na concepção de R. Limongi França, cujo trabalho se fez publicar na obra acima citada, a palavra
"jurisprudência" comporta vários conceitos e, para tanto, sobrelevou cinco definições que
passaremos a transcrever:
"O primeiro, um conceito lato, capaz de abranger, de modo geral, toda a ciência do direito, teórica
ou prática, seja elaborada por jurisconsultos, seja por magistrados.
"O segundo, ligado à etimologia do vocábulo, que vem de júris+prudentia, consistiria no conjunto
das manifestações dos jurisconsultos (prudentes), ante questões jurídicas concretamente a eles
apresentadas. Circunscrever-se-ia ao acervo dos hoje chamados "pareceres", quer emanados de
órgãos oficiais, quer de jurisperitos não investidos de funções públicas.
"O terceiro, o de doutrina jurídica, teórica, prática ou de dupla natureza, vale dizer, o complexo
das indagações, estudos e trabalhos, gerais e especiais, levados a efeito pelos juristas sem a
preocupação de resolver imediatamente problemas concretos atuais.
"O quarto, o de massa geral das manifestações dos juízes e tribunais sobre as lides e negócios
submetidos à sua autoridade, manifestações essas que implicam uma técnica especializada e um
rito próprio, imposto por lei.
"O quinto, finalmente, o de conjunto de pronunciamentos, por parte do mesmo Poder Judiciário,
num determinado sentido, a respeito de certo objeto, de modo constante, reiterado e pacífico".
Outro aspecto que carece ser analisado, ainda no tocante à jurisprudência, é relativo ao fato de
os Tribunais, não raro, julgarem contra legem.
Temos que não é possível admitir-se a jurisprudência contra legem. Neste campo, muito bem
colocou R. Limongi França: "Ainda que oportunas e justas sejam as ponderações do Magistrado,
não lhe é dado, em virtude de lei e da Constituição, sobrepor-se ao legislador, revogando ou
ignorando as normas por este traçadas. Nestes casos tudo quanto se lhe possibilita, tal como no
que concerne ao Direito científico, é preparar os elementos da elaboração da norma, de iure
constituendo" ( Repertório Enciclopédico do Direito do Trabalho, p. 284).
Cumpre-nos, ainda, verificar a possibilidade de a jurisprudência adquirir caráter análogo ao da lei,
de regra obrigatória de Direito.
O princípio básico é de que os julgados anteriores não vinculam, necessariamente, o magistrado,
ainda que se trate de decisões de um Tribunal da mais alta instância.
Há que se observar que as circunstâncias fáticas são envolvidas por uma gama de fatores de
ordem moral, social, política e por que não dizer, psicológica, distintos em cada caso.
Desta forma, o magistrado não pode apreciar o Direito como se estivesse seguindo os ditames de
uma fórmula matemática.
Porém, como já salientamos anteriormente, o quadro atual, no particular, da Justiça do Trabalho é

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estarrecedor. A sobrecarga de trabalho acomete juízes e tribunais obrigando-os a julgar, em


tempo razoável, inúmeros processos para que, com isso, maiores danos não sejam atribuídos às
partes. Desta sorte, dá-se o nascimento de conclusões pouco meditadas, guardando grande
distância de uma expressão inatacável do Direito.
Por outro lado, como fruto deste excesso de trabalho, constatamos que o dinamismo da ciência
jurídica se vê assolado pelo comodismo de advogados e juízes que se servem de axiomas jurídicos,
insensíveis ao valor intrínseco da causa e, desta maneira, aviltam grande parte da própria
jurisprudência. Verifique-se a final, que a repetição mecânica dos arestos vai instituindo-se em
autêntica "verdade" de evidência.
Cabe assinalar ainda, a hipótese de, na fase do conhecimento do recurso de revista, o Ministro
Relator negar prosseguimento ao apelo face ao que dispõe o art. 9.º da Lei 5.584/70.
De acordo com este dispositivo, o Ministro Relator poderá negar prosseguimento ao recurso, se o
pedido do recorrente contrariar Súmula de jurisprudência uniforme do TST, ou ao revés, a decisão
recorrida, com ele estiver de acordo.
Não poderia ser outra a orientação pois, como já salientamos inicialmente, o que se pretende é
justamente descongestionar o TST, evitando o julgamento de recursos, que versem matéria já
prejudicada pela existência de jurisprudência uniforme consubstanciada em Súmula.
Este procedimento visa, também, acelerar a prestação jurisdicional, visto que dispensa a inclusão
do processo em pauta, via de conseqüência, o julgamento da Turma e, finalmente, afasta a
possibilidade da apresentação de recurso de embargos.
O assunto ensejou manifestação do Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello em acórdão
prolatado nos autos do AG- RR 1.867/81 (publ., DJ de 16.4.82), quando assinala que: "Em estando
o pedido formulado na revista em conflito com a Súmula ou. Prejulgado do TST, impossível é o
prosseguimento da mesma. Admitida a revista pelo juízo primeiro de admissibilidade, incumbe ao
Relator a observância do contido no art. 9.º da Lei 5.584, de 26.6.70".
Em contrapartida, porém, cria-se a oportunidade futura de interposição de agravo regimental,
consoante o que dispõe o art. 166, "c", do Regimento Interno do TST.
Observe-se que o Regimento Interno do TST reservou a denominação e a disciplina do agravo
regimental para a forma de impugnação emergente com a circulabilidade interna nesta Corte.
A despeito da autorização legal consubstanciada no art. 9.º da Lei 5.584/70, este não é. o
procedimento utilizado de maneira unânime pelos Relatores. A maioria deles prefere levar o recurso
a julgamento, muito embora este não venha a ultrapassar a fase do conhecimento pois, como já
dito acima, encontrará obstáculo intransponível na existência de matéria sumulada.
4. Da violação de lei
Na hipótese da letra "b" do art. 896 da CLT (LGL\1943\5), a revista cabe das decisões de última
instância, quando "proferidas com violação de literal disposição de lei ou de sentença normativa"
(redação dada pela Lei 5.244 de 1968).
Como acentua Mendonça Lima, a p. 274 de sua obra já citada: "De certo modo, voltou o sistema
introduzido pelo Decreto-lei 8.737, que, alterando o teor do Decreto-lei 6.353, mencionava "a letra
expressa da lei". Há, também, uma relativa equivalência com o texto primitivo da Consolidação,
que falava em "violação expressa do direito", conforme já acentuamos no início deste capítulo.
"Tal dispositivo vem oscilando, em sua terminologia, a exemplo do que sempre aconteceu com os
pressupostos da ação rescisória, com a qual, aliás, se assemelha.
"Realmente, a sentença era nula, ou "nenhuma", se fosse "dada contra direito expresso"
(Ordenação, 1.º, 3.º, tít. 75); ou "proferida contra expressa disposição da legislação comercial"
(Regulamento 737, art. 680, § 2.º); ou "contra a expressa disposição de lei" ( Decreto 763, de
1980; Código de Processo Civil (LGL\1973\5) e Comercial do Rio Grande do Sul, art. 1.054, "a",
combinado com o art. 504, "b"); ou "contra direito expresso" ( Código de Processo Civil
(LGL\1973\5) e Comercial do Distrito Federal, art. 302, III); ou, finalmente, "contra literal
disposição de lei" ( Código de Processo Civil (LGL\1973\5) Nacional, art. 798, I, "c"). E a sentença
passou a ser declarada nula por via de ação rescisória, ex vi do art. 681, § 4.º, do Regulamento
737, dispositivo reproduzido, pela primeira vez, no art. 100, "c", do Decreto 3.084, de 1898.
"A redação anterior - "com violação da norma jurídica" - que reeditara a do Decreto-lei 6.353, era
mais correta, porquanto a infringência dificilmente será expressa ou direta, mas os juízes sempre
agem por via oblíqua, ante interpretações defeituosas ou erradas. A violação poderá não ser
expressa e, mesmo assim, ser passível de corrigenda, pois é a essência do julgado, o seu sentido,
aquilo que pode representar para a aplicação cotidiana da norma, e não a exteriorização do
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pensamento dos juízes. Também não deve o remédio ficar restrito às violações contra literal
disposição, mas deve alargar seu âmbito, mormente no setor trabalhista, cujos juízes, pela
especialização da matéria, têm poderes mais profundos e extensos, permitindo-se-lhes mais
liberdade na aplicação do direito. As locuções "contra direito expresso" e "contra literal disposição
de lei" apresentam certa equivalência, se bem que a última seja mais restrita.
"Ambos, porém, se referem ao direito escrito e não ao direito que promane de outras fontes, como
os princípios gerais de direito, a jurisprudência, os usos e praxes forenses, as opiniões dos
jurisconsultos e dos escritores de direito e o direito racional - fontes consuetudinárias e fontes
doutrinárias. Donde se vê que a expressão lei alcança menos do que a expressão direito".
A expressão "contra literal disposição de lei" que aparece na CF de 1934, art. 76, III, "a", como
pressuposto ao cabimento do recurso extraordinário deu e vem dando margem a grande
divergência, sendo de notar-se o ataque que lhe dirigiu o insigne Pontes de Miranda em seus
Comentários à Constituição Federal de 1946, vol. III, p. 74, n. 30, in verbis:
"A noção de literalidade que aí se insere constitui erro mais perigoso do que o enigmático "direito
expresso", que as regras sobre a ação rescisória mantinham. Que é que interessa à unidade do
direito nacional, das leis federais, que só lhes assegure a aplicação nos casos de literal disposição
de lei? E que é que se diz "letra" da lei? Se, devido a outras regras das leis federais, ou da mesma
lei federal, não for a letra, mas o sentido, o que mais importa, por que levar-se ao Supremo
Tribunal Federal a questão que se resolveu contra a literalidade, e não se permitir o recurso no
caso de se haver, erradamente, prestigiado a inépcia do significado literal? Demais, se um tribunal
define prédio rural ou rústico o que é efetivamente destinado a plantio ou criação, e o outro como
o que está situado na zona rural (isto é, prédio não é o da cidade), de qual dos dois julgados se
há de interpor o recurso extraordinário? Se dissermos que somente cabe, e só há de subir nos
autos em que se definiu rural ou rústico, pela destinação, entende-se que o sentido literal é o
topológico, o da situação espacial. Se dissermos que somente cabe, e só há de subir nos autos
em que se definiu rural ou rústico, pela situação espacial, entende-se que o sentido literal é o que
atende à destinação do prédio.
"O legislador constituinte de 1934, impermeável a certas noções rudimentares sobre lógica de
linguagem, não pôde perceber essa coisa que, na espécie, se tornou de extrema importância.
Pena é que o legislador constituinte de 1946-lhe houvesse seguido as pegadas, no art. 101, III,
"a": a literalidade não é um absoluto; o senso literal não é um só, nem unívoco; há dois, três ou
mais sensos literais, e dizer que somente se pode interpor recurso extraordinário do que
contravém à "letra" da lei é ignorar que a letra das leis é forma, como toda a palavra humana, que
só se pode contravir, com uma proposição e outra proposição, portanto ao conteúdo de uma letra
de lei, ao conteúdo de disposição literal".
Neste aspecto, cumpre destacar o pensamento de J. C. Barbosa Moreira quando afirma que: "O
inc. V do art. 485 reproduz expressão ("literal disposição de lei") que, no art. 798, I, "c", do Código
de 1939, fora objeto de severa crítica doutrinária. Melhor teria sido substituí-la por "direito em
tese", como sugeriu a Comissão Revisora. O ordenamento jurídico evidentemente não se exaure
naquilo que a letra da lei revela à primeira vista. Nem é menos grave o erro do julgador na solução
da quaestio iuris quando afronte norma que integra o ordenamento sem constar literalmente de
texto algum.
"Lei", no dispositivo sob exame, há de entender-se em sentido amplo. Compreende, à evidência, a
Constituição, a lei complementar, ordinária ou delegada, o decreto-lei, o decreto legislativo, a
resolução (Carta da República, art. 46), o decreto emanado do Executivo, o ato normativo baixado
por órgão do Poder Judiciário (v.g. resolução sobre organização e divisão judiciárias. CF
(LGL\1988\3), art. 144, § 5.º). Inexiste qualquer diferença, a este respeito, entre normas jurídicas
editadas pela União, por Estado-membro ou por Município. Também a violação de norma jurídica
estrangeira torna rescindível a sentença, na hipótese de ter-se de aplicar à espécie o direito de
outro país.
"Não há que distinguir, por outro lado, entre normas atinentes ao direito internacional e ao direito
interno, ou entre normas pertencentes a um ou a outro ramo deste. É irrelevante que se viole o
direito material ou o direito processual: será rescindível, v.g., a sentença que, ao arrepio do
preceito insculpido no art. 128, julgue ultra petita ou extra petita".
Data venia, ousamos divergir do ilustre mestre para sustentarmos que a violação deve ocorrer
contra a literalidade do texto e não sobre direito em tese. E isso porque o legislador pátrio teve o
cuidado de incluir na regra examinada a "violação de sentença normativa", que tanto pode ser
econômica ou de interpretação.
Ora, se o dispositivo pode, na processualística do trabalho ser interpretado em tese pelos
Tribunais, com força de lei, através das decisões proferidas em dissídio coletivo de natureza
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jurídica, é de ver-se que a violação em tese tem sua admissibilidade através do conflito de
interpretação que será resolvido pela decisão que julgar o dissídio coletivo de interpretação.
A "violação de literal dispositivo de lei", tanto pode ocorrer quanto a texto de direito material,
como em relação a regras de direito processual. A violação sempre existirá para o conhecimento
da revista, muito embora em matéria processual predomine a regra de que as nulidades, que,
necessariamente, deverão ser provocadas pelas partes, somente serão declaradas "quando
resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes", (arts. 794 e 795 da CLT
(LGL\1943\5)). Repetimos, entretanto, que há, necessariamente, que se distinguir entre o
conhecimento da revista e seu provimento. A inexistência de prejuízo para os litigantes,
conseqüentemente não impedirá o conhecimento da revista, sendo, entretanto, motivo para que
não seja declarada a nulidade no julgamento do recurso, como matéria preliminar. O mesmo pode
ser dito quando a nulidade decorrente de violação de lei puder ser sanada pelo suprimento da falta
de repetição do ato ou, ainda, quando argüída por quem lhe tiver dado causa (art. 796 da CLT
(LGL\1943\5)).
Destarte, a violação que autoriza a revista prevista na alínea "b" do art. 896 consolidado deve ser
literal, categórica, frontal. Tem-se, como literal, a violação da letra do texto, sujeito ao rigor das
palavras, imperativo. A literalidade da violação é sempre destacada, como se pode verificar das
várias decisões já proferidas, cujas ementas traduzem a tese ora abordada: "Divergência
jurisprudencial e infringência à Lei. A primeira deve ser específica, enquanto a segunda deve ser
frontal, exsurgindo a convicção sobre as mesmas da tese lançada no Acórdão Regional" ( RR
3.548/81, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, publ. in DJ de 17.9.82). "Não cabe a
argüição de violação de lei, quando a divergência se estabelece com normas contidas em
regulamento do empregador, que obriga às partes, mas não norma legal, capaz de sustentar
revista na Justiça do Trabalho. A violação há de ser à literalidade da lei, assim entendido o
documento legal promanado dos órgãos legislativos competentes, na forma indicada pela
Constituição, que contenha norma geral ou dispositivo de natureza orgânica ou que tenha por fim
criar direito novo, que a todos obriga. A divergência ou violação não enseja a discussão de
matéria fática" ( RR 2.676/ 79, Rel. Min. Marcelo Pimentel, publ. in DT de 20.6.80). "Recurso de
revista. Divergência jurisprudencial e violação a dispositivo legal. 1. A divergência suficiente a
ensejar o conhecimento deve ser específica, ou seja, deve refletir a adoção de teses diversas,
considerados os mesmos fatos. 2. A violação a dispositivo legal, autorizadora da conclusão sobre
o atendimento do requisito de recorribilidade previsto na alínea "b" do art. 896, da CLT
(LGL\1943\5), deve ser evidente, não configurando decisão que reflita razoável interpretação de
preceitos legais" ( RR 5.834/83, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, publ. in DJ de
6.4.84).
Saliente-se, afinal, que a parte deverá indicar o dispositivo legal violado sob pena de, em caso
contrário, não ser conhecido o seu recurso.
Uma vez, portanto, julgado o recurso de revista pelo TST, que poderá dar pelo provimento ou não
desse apelo, a parte prejudicada, com essa decisão, poderá opor embargos para o Eg. Tribunal
Pleno, com fundamento no art. 894, "b" da CLT (LGL\1943\5).
Cumpre ressaltar, ainda no tocante à exigência contida na alínea "b" do art. 896 da CLT
(LGL\1943\5), por ilustração, que o Projeto de Lei 6, de 1983, atualmente em exame no Senado
Federal, estabelece em seu art. 3.º que os recursos de revista, de competência das Turmas do
TST, somente serão admitidos, se comprovada a "ofensa literal e inequívoca à letra de lei federal",
retirando, assim, da apreciação do TST, a violação de outras normas jurídicas, que não texto de
lei federal e, mais, de sentença normativa, que hoje ensejam o cabimento de tais apelos.
A redação originária acima transcrita foi, contudo, alterada pela Câmara dos Deputados que,
através de emenda apresentada e aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça entendeu
que a expressão atual, por sua imprecisão leva o recorrente a um indesejável estado de dúvida
quanto a aplicação do texto legal, acabando por concluir que a revista (alínea "b" do art. 896 da
CLT (LGL\1943\5)), somente caberá se ocorrer "ofensa inequívoca à letra de lei federal ou à
disposição de convenção ou acordo coletivo de trabalho". Por outro lado, a mesma Comissão
modificou a "redundante" expressão "ofensa literal e inequívoca à letra de lei federal" para "ofensa
à letra de lei federal" e acrescentou "ou à disposição de convenção ou acordo coletivo de
trabalho" que são, sabidamente, fonte de direito de trabalho.
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