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Índice

Introdução.................................................................................................................................2
OS DIREITOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
......................................................................................................................................................3
Histórico das nomenclaturas: do preconceito à tentativa de inclusão..................................3
A evolução dos conceitos..........................................................................................................5
A importante relação entre os direitos fundamentais constitucionais e a pessoa com deficiência. 6
Dignidade da pessoa humana........................................................................................................6
Princípio da Autonomia............................................................................................................3
COVID 19: Impactos para Grupos Vulneráveis........................................................................4
1) Grupos vulneráveis tradicionalmente considerados...................................................................4
Mulheres.......................................................................................................................................4
a) Pessoas em situação de rua, moradores de assentamentos informais e população sem acesso
adequado ao saneamento básico....................................................................................................5
Conclusão..................................................................................................................................8

1
Introdução
O trabalho de campo da cadeira de direitos humanos e sociedade internacional,
reportaremos sobre a questão dos direitos humanos no âmbito das pessoas com deficiência
e na época da COVID 19. Sabe-se que os direitos humanos são normas que reconhecem e
protegem a dignidade de todos os seres humanos. Os direitos humanos regem o modo
como os seres humanos individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como sua
relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação a eles.

A lei dos direitos humanos obriga os governos a fazer algumas coisas e os impede de fazer
outras. Os indivíduos também têm responsabilidades: usufruindo dos seus direitos
humanos, devem respeitar os direitos dos outros. Nenhum governo, grupo ou indivíduo

tem o direito de fazer qualquer coisa que viole os direitos de outra pessoa.

Os direitos humanos são universais e inalienáveis. Todas as pessoas em todo o mundo têm
direito a eles. Ninguém pode voluntariamente desistir deles. Nem outros podem tirá-los
dele ou dela.

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OS DIREITOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA

Inicialmente, este capítulo trará as diversas denominações das pessoas com deficiência,
muitas delas com sentido difamatório e depreciativo. Trará, também, o avanço de sua
conceituação, que evoluiu de uma definição puramente médica, ligada exclusivamente à
questão da deficiência em si, para um conceito social, que envolve toda a sociedade para
o problema da deficiência, se preocupando com a integração da pessoa e com a
mobilização social para a eliminação das barreiras por elas enfrentadas. Enfim, será
realizada uma análise dos dispositivos constitucionais que garantem direitos às pessoas
com deficiência para que haja maior integração à sociedade, focando nos princípios
fundamentais: princípio da igualdade, dignidade da pessoa humana, princípio da
solidariedade e autonomia, que são tão bem difundidos e protegidos pela nossa
Constituição.

Histórico das nomenclaturas: do preconceito à tentativa de inclusão

As pessoas com deficiência, ao longo da história, sofreram diversas formas de


discriminação, e uma delas se deu através das diversas denominações pejorativas pelos
quais já foram chamadas, a exemplo de “mongoloides”, “pessoas defeituosas”,
“inválidos”, “incapazes”, “excepcionais”, “indivíduos com capacidade residual”, quando
sempre se focava no lado negativo da deficiência em si, reforçando o que as pessoas não
conseguiam fazer como a maioria.
Posteriormente, surgiram outras denominações que não tinham a intenção de serem
pejorativas, mas que ainda não definiam de forma correta esse grupo de pessoas. Citamos
algumas delas:
a) Pessoas Deficientes - apesar do avanço em relação às outras por aparecer
a figura da pessoa como ser humano, ela não é adequada, pois enfatiza a
deficiência em detrimento da pessoa;
b) Pessoas Portadoras de Deficiência – é errônea da mesma forma, pois
quem porta algo pode deixar de portar, e a deficiência faz parte da pessoa;
ela tem uma deficiência e não é “portadora dela”, ou a carrega. Nessa
definição há uma clara valorização da deficiência, que é tratada como
objeto;
c) Pessoas com Necessidades Especiais - que também não é uma

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nomenclatura adequada, uma vez que necessidades especiais também englobam todas as
pessoas que necessitam de atenção especial, como crianças, mulheres grávidas e idosos,
não sendo, pois, exclusiva para pessoas com deficiência, sendo mais genérica.

A mais recente e correta denominação utilizada oficialmente é a expressão Pessoa com


Deficiência, que foi adoptada a partir da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, cujo documento final foi assinado em Nova York, em 30 de março de 2007, e
promulgada pelo Brasil, passando a vigorar através do Decreto nº. 6.949 de 25 de agosto
de 2009. Esse Tratado foi o primeiro documento internacional sobre direitos humanos
que o país deu status de Norma Constitucional, uma vez que a Convenção da ONU foi
aprovada pelo Congresso Brasileiro, atendendo ao §3º do art. 5º da Constituição Federal,
sendo um grande avanço das pessoas com deficiência no Brasil. Apesar de ser a
nomenclatura oficial empregada, nossa legislação em muitas passagens utiliza a
denominação pessoas portadoras de deficiência1.
A expressão Pessoa com Deficiência, diferentemente das outras acima mostradas,
valoriza a pessoa humana, respeitando a sua dignidade sem aquela antiga relação negativa
com a deficiência que existia nas denominações anteriores.
A busca pela utilização de uma terminologia correta é de extrema importância para o
avanço do alcance desses, uma vez que facilita a identificação do grupo que busca a
efetivação de seus direitos, facilita a aproximação das pessoas com a causa, além de ser
uma questão de honra, de dignidade e respeito com essas pessoas.

Essa falta de nomenclatura correta, tendo em vista que ela sempre está evoluindo
conforme o momento histórico da sociedade e os valores de cada época, não significa que
não devemos buscar uma denominação mais próxima da realidade vivida, a fim de evitar
a utilização dos temos depreciativos e a propagação do preconceito que essas
denominações ultrapassadas carregam, que estigmatizam as pessoas com deficiência,
além de disseminar ideias erradas e infundadas a respeito das mesmas.

1
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. § 3º Os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_
03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 17/10/2015.

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A evolução dos conceitos
A partir do século XX, principalmente, começaram diversos movimentos internacionais
de luta pelos direitos da pessoa com deficiência, onde diversos temas foram debatidos
para assegurar a efetivação desses direitos, tendo um importante objectivo sendo
alcançado, a conceituação de pessoa com deficiência.

A mais recente definição que conseguiu de forma clara e sem preconceitos definir pessoa
com deficiência ocorreu com a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, que se segue: Art. 1º: Pessoas com deficiência são aquelas que têm
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL,
2009).

A Convenção traz um conceito que aponta para como a deficiência se manifesta perante a
sociedade, dando menos importância a simples constatação médica da deficiência em si e
priorizando a dimensão social, os efeitos sociais da deficiência. Ela não deve ser
entendida como uma falha, falta ou carência de um indivíduo, nem mesmo como
sinónimo de doença, mas como uma dificuldade de interacção social.

Um importante fato sobre a conceituação correta, da mesma forma que acontece com a
denominação, é que é impossível se chegar a uma verdade absoluta, como a própria
Convenção em seu preâmbulo na alínea “e” versa que existe essa mutação de conceitos,
que irão variar e evoluir ao longo do tempo e momento histórico, vejamos: [...] e)
Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência resulta
da interacção entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao
ambiente que impedem a plena e efectiva participação dessas pessoas na sociedade em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

A história dos conceitos aplicados às pessoas com deficiência deve-se à existência do


conceito baseado no modelo médico, que durou por muitos anos, mas que já se encontra
superado pelo modelo social que é o aplicado actualmente, com algumas inclusões.
Existiu, ainda, um outro modelo anterior aos dois acima mencionados, que é o modelo de
prescindência, que ligam a deficiência a um motivo religioso, ou seja, a deficiência seria
um “castigo divino”.

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A importante relação entre os direitos fundamentais constitucionais e a pessoa com
deficiência

Hoje é praticamente impossível falar dos direitos das pessoas com deficiência sem fazer
uma relação com os direitos fundamentais.
Os direitos fundamentais, que são garantias que atingem a todas as pessoas de forma
indistinta, é uma prova de que temos que proporcionar certos “benefícios” às pessoas com
deficiência para que estas possam ter acesso às mesmas oportunidades oferecidas às
outras pessoas. Neste sentido, deve-se criar leis, melhorar os acessos físicos, educacionais
e trabalhistas, de forma a ocorrer uma integração efectiva. Para proporcionar essa
igualdade de oportunidades, é preciso haver um tratamento diferenciado, como algumas
garantias e direitos específicos. Não se trata de direitos especiais, mas sim de leis
especificas para que haja uma equivalência de oportunidades. A lei deve garantir que não
haja espaço para que o preconceito e a falta de informação excluam ainda mais as pessoas
com deficiência, pois já existem inúmeras outras dificuldades que eles têm que enfrentar
(barreiras físicas, atitudinais), e o preconceito, infelizmente, acaba sendo uma das maiores
vicissitudes a serem enfrentadas.
A seguir falaremos dos princípios fundamentais presentes na Constituição de 1988, como
a garantia à dignidade da pessoa humana, o princípio da igualdade, da autonomia e da
solidariedade.

Dignidade da pessoa humana

Um dos primeiros documentos a reconhecer o trabalho como direito inalienável do ser


humano foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França, em 1789, mas
este só toma uma escala mundial com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em
1948, promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A preocupação com a igualdade entre as pessoas começa com uma força maior após duas
guerras mundiais, principalmente após a Segunda Guerra, quando foi violado o mais
importante dos direitos inerentes à pessoa, que é a vida. Com isso, viu-se a necessidade
de garantir os direitos dos indivíduos, proteger-lhes das atrocidades que ocorreram nas
Grandes Guerras, surgindo, assim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um
documento da luta universal contra a opressão e a discriminação, que declara: Artigo I.
Todas os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.
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Princípio da Igualdade

O princípio da igualdade possui dois desdobramentos quanto à sua interpretação e


aplicação, quais sejam, a igualdade formal e a igualdade material, assim definidas:
A igualdade formal é a que se encontra no art. 33º da Constituição, que afirma: “[...]
todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Esta é a igualdade perante a lei, em
que as pessoas devem ser tratadas sem qualquer distinção, não podendo existir
privilégios ou diferenças de tratamento.
Essa aplicação formal e igualitária da lei, que não permite qualquer
distinção, tem como objectivo a protecção do indivíduo, da liberdade do cidadão contra
o Estado, o polo mais forte da relação. Não se mostrou eficaz para diminuir as
desigualdades entre as pessoas.
Já em relação à igualdade material, o texto constitucional traz que certos
grupos necessitam de protecção especial, no sentido de “desigualar para igualar”. Este
caso se refere a uma igualdade na lei que visa proteger grupos determinados, situações
específicas e certos valores, como no caso de gestantes, trabalhadores, indígenas, meio
ambiente, pessoas com deficiência e quem ou o que necessite de atenção especial. Trata-
se de uma igualdade real, de fato e efectiva.

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afirmativas, que como veremos posteriormente, são destinadas a certos grupos que vivem à margem da
sociedade ou sofrem, hoje, o tratamento concedido aos seus antepassados, criadas para conceder-lhes
igualdade de oportunidades.
O princípio da igualdade material e formal são igualmente correctos, tendo cada um a sua aplicação
dependendo do caso concreto, mas a utilização da igualdade material tem maior importância na defesa da
igualdade de oportunidades que se busca para as pessoas com deficiência.

Princípio da Autonomia

Segundo Aurélio Buarque de Holanda, autonomia é “1. Faculdade de se governar por si mesmo; 2.
Direito ou faculdade de se reger (uma nação) por leis próprias;
3. Liberdade ou independência moral ou intelectual; 4. Ét. Condição pela qual o homem pretende
escolher as leis que regem sua conduta. ” (1988, p.203).
Como exposto acima, a autonomia está relacionada à capacidade de ação, de tomar as decisões que
regulam a sua vida; enfim, significa total liberdade para seguir suas próprias escolhas, acarretando a
liberdade ou independência moral.
O princípio da autonomia encontra-se previsto na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência da ONU, abaixo:

Art. 3 Os princípios da presente Convenção são:

a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as


próprias escolhas, e a independência das pessoas;
Artigo 16: Prevenção contra a exploração, a violência e o abuso

4. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para promover a recuperação física,
cognitiva e psicológica, inclusive mediante a provisão de serviços de proteção, a reabilitação e a
reinserção social de pessoas com deficiência que forem vítimas de qualquer forma de exploração,
violência ou abuso. Tais recuperação e reinserção ocorrerão em ambientes que promovam a saúde,
o bem-estar, o auto-respeito, a dignidade e a autonomia da pessoa e levem em consideração as
necessidades de gênero e idade (DECRETO nº 6.949, 2009.).

A garantia do princípio da autonomia é de suma importância para as pessoas com deficiência, uma vez
que é o reconhecimento de que elas são capazes de decidir seu próprio destino, tendo assim, uma vida
independente, baseada em suas próprias escolhas.

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COVID 19: Impactos para Grupos Vulneráveis
A pandemia de COVID-19 também traz reflexos ligados aos direitos humanos no que diz
respeito aos grupos vulneráveis, sejam os tradicionalmente assim designados, sejam
grupos que passaram a ser vulneráveis em função da própria pandemia. Os impactos
atingem os grupos enquanto tal, e também os indivíduos que os compõem, reforçando
vulnerabilidades.
Vulnerabilidade pode ser entendida como “a qualidade de se estar em uma situação
desprivilegiada e/ou desempoderada em função de características pessoais ou do entorno
(social ou situacional) e em que se pode sofrer algum dano (físico, moral ou de direitos),
necessitando de protecção específica (ou peculiar)” (JUBILUT e MARTUSCELLI, 2018,
p. 872).
Já a ideia de minorias, associada ao conceito mais amplo de grupos vulneráveis, está
intimamente relacionada ao tema do poder, significando que “[a]s minorias e os grupos
vulneráveis estão, assim, em posição hierárquica inferior à sociedade majoritária no que
tange às relações de poderes entre elas” (JUBILUT, 2013, p. 16) em “um construído
histórico-político-filosófico-Social” (Ibid).
A presente seção abordará como a COVID-19 está impactando os direitos de pessoas em
situação de vulnerabilidade e de subjugação ao poder da maioria, ou seja, os grupos
vulneráveis.
1) Grupos vulneráveis tradicionalmente considerados
Mulheres
A pandemia de COVID-19 está afectando as mulheres de várias maneiras: desde
preocupações com sua saúde, segurança e renda, até responsabilidades adicionais de
assistência, acúmulo de funções profissionais e domésticas, dificuldades em relação a
onde/com quem deixar seus filhos caso não possam fazer o distanciamento social, e maior
exposição à violência doméstica. As mulheres são expostas a riscos de saúde e
económicos de maneira intrinsecamente conectada com seus papéis na comunidade e
responsabilidades como cuidadoras no lar e na família (ONU Mulheres, 2020a). A
profunda crise económica que acompanha a pandemia perpassará questões intrinsicamente
relacionadas às desigualdades de género.

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a) Pessoas em situação de rua, moradores de assentamentos informais e
população sem acesso adequado ao saneamento básico

A política mundial de isolamento social, consubstanciada em ficar em casa e lavar as mãos


para reduzir a curva da taxa de propagação do coronavírus, expõe a vulnerabilidade
daqueles que não têm uma moradia ou saneamento adequado.
Para a Relatora Especial da ONU sobre o Direito à Moradia Aequada da ONU, Leilani
Farha, a moradia tornou-se a defesa da linha de frente contra o coronavírus, mas, para as
cerca de 800 milhões de pessoas que vivem em situação de rua em todo o mundo, esse não
é o caso (FARHA, 2020). Além disso, essa população de alto risco médico enfrenta
desafios de saúde desproporcionais e altas taxas de doenças respiratórias, aumentando sua
susceptibilidade a doenças, incluindo o novo vírus (Ibid).
Diante dessa pandemia, a falta de acesso a moradias adequadas é uma sentença de morte
em potencial para pessoas que vivem em situação de rua e coloca a população em geral em
risco contínuo. A falta de moradia, inclusive durante uma crise e independentemente da
nacionalidade ou status legal, é uma violação prima facie dos direitos humanos. As
principais protecções fornecidas pelo direito à moradia são fundamentais à dignidade
humana e à preservação da vida que nunca podem ser suspensas, mesmo em um estado de
emergência (Ibid).
Neste contexto, um guia liderado por mulheres em nome do Grupo de Trabalho de
Comunicação de Riscos e Engajamento da Comunidade sobre Preparação e Resposta à
COVID-19, na região Ásia-Pacífico, copresidido pela OMS, pelo Federação Internacional
das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) e pelo Escritório das
Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

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A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), elaborou um relatório
que descreve algumas das medidas adoptadas pelos Estados-Membros da União Europeia
(EU) para proteger a saúde pública durante a pandemia. Em relação à população que vive
nas ruas, os Estados da União Europeia levaram em consideração a vulnerabilidade dos
sem-teto ao planejar e implementar medidas de contenção. Municípios nos Países Baixos,
por exemplo, criaram unidades habitacionais especiais para os sem-teto. O Ministro da
Habitação da França anunciou que o Estado gastará 50 milhões de euros adicionais em
acomodação e que quartos de hotel serão disponibilizados aos sem-teto (FRA, 2020, p.
27).
Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, os desafios ocasionados pela
COVID-19 devem ser abordados sob a perspectiva dos direitos humanos e com respeito às
obrigações internacionais (CtIDH, 2020). Dada a natureza da pandemia, os direitos
económicos, sociais, culturais e ambientais devem ser garantidos, sem discriminação, a
todas as pessoas sujeitas à jurisdição do Estado e, especialmente, àqueles grupos que são
desproporcionalmente afectados por estarem em situação de maior vulnerabilidade, como
aqueles habitantes de regiões ou áreas menos privilegiadas, os sem-teto ou aqueles que
vivem na pobreza (Ibid).
A cooperação entre governos nacionais, regionais e locais na busca de soluções
para pandemia é essencial. Nesse contexto, os Estados devem atender urgentemente às
necessidades de moradia das pessoas em situação de rua, de forma prioritária, a fim de
garantir sua igual protecção contra o vírus e a protecção da população em geral. Os
Estados devem fornecer acomodação a todos os sem-teto que vivem em situação irregular
ou nas ruas, com o objectivo de transferi-los para moradias permanentes, para que não
retornem à situação de falta de moradia depois que a pandemia termine. (FARHA, 2020)
Além da falta de moradia, a falta de saneamento básico, problemas no
abastecimento de água potável, casas muito pequenas, abafadas, superlotadas e muito
próximas umas das outras, também são um desafio na prevenção da COVID-19, pois mais
de 1.430 cidades em 210 países foram afectados pela COVID-19, mais de 95% do total de

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casos se desenvolvem em áreas urbanas. Aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivem em
assentamentos informais e favelas em moradias superlotadas e inadequadas e 2,4 bilhões
de pessoas carecem de acesso adequado a água potável e saneamento. (UN- Habitat, 2020,
p.2)
Para enfrentar a COVID-19, a ONU-Habitat pretende focar em três áreas principais, em
diferentes contextos urbanos e tipos de comunidades: 1) apoiar os governos locais e as
soluções orientadas pela comunidade em assentamentos informais; 2) fornecer dados,
mapeamento e conhecimento de dados urbanos para a tomada de decisão informada; e 3)
orientar na mitigação do impacto económico, levando em consideração os sectores
formais e informais (Ibid).
Os fundos necessários para apoiar as intervenções planejadas pela ONU-Habitat (Ibid, p.
6) superam 72 milhões de dólares. Deste valor, um total de 8.330,000 milhões de dólares
serão destinados a 16 Estados da América Latina e Caribe, dentre eles o Brasil. Nessa
região, os desafios da COVID-19 incluem o acesso desigual aos serviços de saúde,
juntamente com o forte impacto económico devido ao declínio no comércio, manufactura,
e turismo, resultando em maior desemprego e salários mais baixos.
Para a OEA, as medidas adoptadas pelos Estados na atenção e contenção da pandemia
devem se centrar no pleno respeito aos direitos humanos (OEA, 2020). A cooperação
internacional e o intercâmbio de boas práticas são essenciais (Ibid). Toda política pública
com enfoque em direitos humanos para prevenção e contenção da pandemia, deve
fortalecer mecanismos de cooperação internacional entre Estados e, regionalmente, com
apoio, participação e cooperação de grupos da sociedade civil, como organizações
governamentais e organizações com base comunitária e o sector privado (Ibid).
Nesse contexto, a actuação da ONU-Habitat é essencial para apoiar acções na busca da
redução do risco social de famílias vulneráveis que vivem nas comunidades. Um exemplo
da actuação da ONU-Habitat, no Brasil, se dá no Complexo da Maré. Sua presença
também ocorre, por igual, em outros grandes complexos de favelas do Rio de Janeiro e
tem como objectivo reduzir o risco social de famílias vulneráveis que vivem nas
comunidades, além de apoiar acções da comunidade, como a Frente de Mobilização da
Maré, que foi criada por moradores da comunidade, e visa prevenir a população quanto
aos riscos do coronavírus (ONU, 2020f).

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Conclusão
Do trabalho de campo que se seguiou, tiramos algumas ilações importantes, desde logo:

 Direitos humanos são indivisíveis. Sejam de natureza civil, política, económica,


social ou cultural, eles são todos inerentes à dignidade de toda pessoa humana.
Consequentemente, todos eles têm o mesmo valor como direitos. Não existe um

direito "menor". Não há hierarquia de direitos humanos.


 Todos os indivíduos são iguais como seres humanos e em virtude da inerente
dignidade de cada pessoa humana. Todos os seres humanos têm direito a seus
direitos humanos sem discriminação de qualquer tipo, como raça, cor, sexo, etnia,
idade, idioma, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social,
deficiência, propriedade, nascimento ou outro status.
 Cada pessoa e todos os povos têm direito à participação activa, livre e significativa
no desenvolvimento civil, político, económico, social e cultural, por meio do qual
os direitos humanos e as liberdades fundamentais podem ser realizados. Têm
também direito a contribuir para esse desenvolvimento e a desfrutar do mesmo. 
 Os Estados e outros detentores de deveres têm de cumprir as normas e padrões
legais consagrados nos instrumentos de direitos humanos. Quando não o fizerem,
os titulares de direitos lesados têm o direito de instaurar procedimentos para uma
reparação adequada perante um tribunal competente ou outro adjudicador, de
acordo com as regras e procedimentos previstos na lei.

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