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espaços de uso
público no Brasil
Módulo
1
Sobre as lutas por
inclusão das pessoas com
deficiência.
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Coordenadora de Desenvolvimento
Marcela Coimbra de Albuquerque
Supervisores Técnicos:
Coordenação-Geral de Acessibilidade e Tecnologia Assistiva, da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas
com Deficiência, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Rodrigo Abreu de Freitas Machado – Coordenador-Geral
Rafaele Dib Ubaldino de Freitas
Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT / Labo-
ratório Latitude e Enap.
Enap, 2019
Referências ..................................................................................... 20
Mas é fato que nossa capacidade de agir depende tanto de nossas habilidades humanas, como
de fatores físico ambientais e sociais, e existem situações nas quais as condições de nossos
ambientes podem limitar, e até impedir permanentemente, o desenvolvimento de atividades
desejadas. O que pode ser apenas um esforço a mais para a maioria das pessoas, como entrar
num prédio de serviço público subindo uma série de degraus, para uma criança, uma gestante,
ou pessoa muito idosa pode representar uma grande dificuldade.
Poder identificar como criar as condições para que todos possam realizar as atividades que
desejam é essencial para criar espaços considerando a nossa diversidade humana, permitindo a
participação de todas as pessoas, e em especial, das pessoas com deficiência.
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas.
Podemos então nos perguntar: Se a maioria de nossos espaços e ambientes foram tradicionalmente
construídos para um modelo de ser humano - geralmente adulto, e de alta estatura - onde nem
crianças, nem idosos são levados em conta, por exemplo - como esses espaços podem acolher
e permitir a diversidade? Que mudanças são necessárias para que nossos espaços urbanos e
construídos possam criar as condições necessárias para permitir a participação de todos? E
em especial, como devem ser para eliminar as barreiras que impedem a plena participação de
pessoas com deficiência?
Para compreender como criar condições para a inclusão de pessoas que possuem algum tipo de
deficiência é importante conhecer um pouco a história de como se desenvolveram as suas lutas
pela conquista de direitos à igualdade.
Saiba mais
Veja outros conteúdos sobre Desenho Universal na biblioteca do curso.
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.”
“Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição.”
Fig. 1: Um dos objetivos centrais da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi
promulgada após o final da II Guerra Mundial em 1945 e a derrota do nazismo, é abolir
para sempre os ideais racistas e de discriminação e preservar a dignidade humana.
Fonte: a) https://nacoesunidas.org/onu-promove-concurso-internacional-de-posteres-sobre-o-
holocausto/ b) https://i.pinimg.com/originals/36/96/95/369695a511b245e21945f8725382544a.jpg
Este movimento social, que inicia com as reinvindicações dos soldados que retornavam à vida
civil se amplia e visa a eliminação de barreiras para todas as pessoas com deficiência. Podemos
citar como exemplos de barreiras físicas, comunicacionais e atitudinais identificadas neste
movimento: escadas como único acesso à prédios, ausência de informação visual ou tátil, regras
que não permitiam o acesso à educação para pessoas com deficiência intelectual, regras ou
atitudes que limitavam o acesso aos postos de trabalho.
De acordo com a LBI - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, de
2015:
Ainda de acordo com a LBI, as barreiras estão classificadas em: barreiras urbanísticas; barreiras
arquitetônicas; barreiras nos transportes (seus meios e sistemas); barreiras nas comunicações e
na informação; barreiras atitudinais; e barreiras tecnológicas.
Veja nas imagens a seguir definições e exemplos que ilustram os diferentes tipos de barreiras.
Barreiras urbanísticas são as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos
ao público ou de uso coletivo, tais como: ausência de rampas e sinais sonoros para travessia;
passeios muito estreitos, sem calçamento ou com buracos.
Fig. 2: Cruzamentos inclinados, sem faixa de pedestres, com obstáculos e sem marcação correta de piso
tátil é inseguro para todos e em especial para pessoas com deficiência visual ou com deficiência motora.
Fonte: Acervo pessoal de Marta Dischinger.
2. Barreiras arquitetônicas
Barreiras arquitetônicas são as existentes nos edifícios públicos e privados, tais como: ausência
de rampas ou elevadores, portas estreitas que não permitem a passagem de uma cadeira de
rodas, ausência de piso tátil em locais amplos.
Barreiras nos transportes são as existentes nos sistemas e meios de transportes, tais como:
ônibus sem piso baixo ou plataforma elevatória, ponto de ônibus sem pisos táteis, vagão de
metrô sem sistema sonoro.
Fig. 4: Barreiras existentes nos sistemas e meios de transportes. a) Ponto de ônibus em concreto
sobre o passeio impede o acesso de pessoas em cadeira de rodas ou com dificuldades de
movimento, apesar da existência de ônibus acessíveis com plataformas elevatórias. b) Pontos
de ônibus sem placas informativas sobre linhas e horários dificultam seu uso para todos, e a
ausência de pisos táteis impede o acesso seguro ao veículo para pessoas com deficiência visual.
Fonte: a) Acervo pessoal de Paty de Avila Baccin. b) Acervo pessoal de Marta Dischinger.
6. Barreiras tecnológicas
Barreiras tecnológicas são as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência
às tecnologias, tais como: computador sem sistema de leitura de tela; sites sem alternativas
textuais para imagens, sons e vídeos, e sem possibilidade de aumento do tamanho de fontes e
contraste de cores.
Importante
Podemos ainda definir as barreiras físico-espaciais como os elementos físicos,
naturais ou construídos, que dificultam ou impedem a realização de atividades
desejadas, de forma independente, limitando a participação das pessoas em
igualdade de condições.
Para pessoas com deficiências sensoriais, as barreiras dinâmicas podem ser mais graves do que as
permanentes. Uma pessoa cega não pode visualizar barreiras permanentes, mas pode memorizar
sua localização e evitá-las. No entanto, um cabo estendido no meio de uma circulação para uma
manutenção, por exemplo, pode não ser identificado e se tornar uma barreira dinâmica. Para
pessoas com audição reduzida, a poluição sonora de áreas urbanas, pode ser barreira dinâmica
que afeta a comunicação interpessoal.
Dica
Veja agora vídeos depoimentos de pessoas com deficiência sobre as barreiras
que encontram em atividades de sua vida diária.
https://cdn.evg.gov.br/cursos/275_EVG/videos/modulo01video01.mp4
https://cdn.evg.gov.br/cursos/275_EVG/videos/modulo01video03.mp4
https://cdn.evg.gov.br/cursos/275_EVG/videos/modulo01video02.mp4
Dica
Veja alguns vídeos referentes à pessoa com deficiência em Materiais
Complementares do Módulo 1. O documentário intitulado “O que é normal?”
pode ser acessado através do link: https://youtu.be/vyBIUjS25HA
Você também pode ver o filme sobre o livro. Acessível nos links abaixo:
Saiba mais
Todos estes documentos estão acessíveis para consulta em sua íntegra na
biblioteca do curso.
É também a partir desta época que surge uma nova área de atuação e pesquisa que visa criar
ambientes, espaços e objetos acessíveis, que permitam a inclusão de pessoas com deficiência.
Ao longo dos anos, esta nova maneira de pensar o espaço recebe várias denominações: Design
Social, Design sem Barreiras, Desenho Adaptado e Desenho Transgeracional, e mais recentemente
Design Inclusivo.
h,
Destaque,h
É nos Estados Unidos, em 1985, que o arquiteto Ron Mace cria o conceito
de Desenho Universal, cuja ideia central é considerar desde o início de um
projeto a diversidade das necessidades humanas, eliminando a ideia de fazer
“projetos especiais” ou “adaptações” para pessoas que possuem necessidades
“não usuais”. O Desenho Universal, em sua acepção mais ampla, deve levar
em conta não apenas a busca de soluções espaciais que possam atender a
todos, mas também a diversidade de contextos sociais e econômicos.
(1) http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/manual-desenho-
universal.pdf
(2) https://projects.ncsu.edu/ncsu/design/cud/about_ud/udprinciplestext.
htm [em inglês]
Saiba mais
Os principais tratados, convenções e protocolos se encontram para consulta,
na íntegra, nos conteúdos de expansão.
Isso significa que o estado brasileiro se compromete a criar as condições para que pessoas com
qualquer tipo de deficiência tenham o direito a uma vida digna e que possam receber os suportes
necessários em ordem de tornarem-se o mais independente possível.
Assim, de acordo com o texto da Convenção, as pessoas com deficiência têm direito: ao respeito
a sua dignidade como pessoa, à autonomia individual, à independência e à liberdade de escolha,
à não discriminação e à aceitação da diversidade, à plena e efetiva participação e inclusão na
sociedade com igualdade de oportunidades de educação, ao trabalho e ao acesso a todos os bens
e serviços, para atingir condições de cidadania. Também têm o direito de ter suas necessidades
consideradas em todos os estágiosde planejamento econômico e social.
Entre as ações necessárias para possibilitar a sua inclusão é crucial promover mudanças no
Saiba mais
Saiba mais: para mais informações veja em conteúdo de consulta a Nota
técnica do IBGE “Releitura dos dados de pessoas com deficiência no Censo
Demográfico 2010 à luz das recomendações do Grupo de Washington”
acessível no site:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/metodologia/notas_
tecnicas/nota_tecnica_2018_01_censo2010.pdf
Em relação à faixa etária de incidência de deficiências é importante considerar que grande número
da população no Brasil vive em situações de pobreza. A falta de condições de saneamento básico
e de atendimento de saúde preventiva traz como consequência um grande número de crianças
que vão nascer com algum tipo de deficiência, ou vão ter deficiências adquiridas na infância, que
poderiam ser evitadas. Um exemplo desta situação foi o nascimento de milhares de crianças com
microcefalia, devido à epidemia de Zika entre 2015 e 2017.
Por outro lado, a inversão de nossa pirâmide populacional, com o crescimento progressivo
da população idosa, traz consigo um aumento considerável do número de pessoas com suas
habilidades funcionais reduzidas, ou com deficiências adquiridas, aquelas que ocorrem ao
longo da vida da pessoa. Cabe ressaltar que a diminuição das habilidades funcionais, tais como
diminuição da força e da mobilidade, ocorre naturalmente com o processo de envelhecimento e
não necessariamente será uma deficiência adquirida.
Outros fatores que diferenciam o Brasil, em relação à incidência de deficiências para a população
jovem e adulta, são os altíssimos índices de violência urbana e no campo, e a violência no trânsito.
Os dados disponíveis geralmente se referem ao número de mortes, mas maiores do que estes,
e muitas vezes não computados, são os números das pessoas que ficam com sequelas, lesões
permanentes e/ou deficiências.
Saiba mais
1,25 milhões de pessoas morrem a cada ano no trânsito, em todo o mundo.
Do total das vítimas que sofreram lesões e traumas, 20 a 50 milhões ficaram
com algum tipo de deficiência adquirida. Cerca de 90% das mortes no trânsito
concentraram-se nos países com baixa e média renda (OMS e Banco Mundial,
2015).
h,
Destaque,h
Os conceitos introduzidos neste Módulo são apresentados em maior detalhe
ao longo dos módulos do Curso de Acessibilidade em Espaços de Uso Público
no Brasil – por meio de texto de fundamentação básica em diferentes
formatos (textos básicos, vídeos depoimentos, apresentações em PPT, gráficos
e imagens). Não esqueça que palavras e termos que envolvem conceitos
constam do Glossário, para consulta de seu significado.
Dica
Agora que você chegou ao final deste módulo, experimente fazer os exercícios
de avaliação.
BRASIL. LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 26 out. 2018.
IBGE. Censo Demográfico 2010: Características gerais da população, religião e pessoas com
deficiência. 2010. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/
cd_2010_religiao_deficiencia.pdf. Acesso em: 26 out. 2018.
IBGE. Censo Demográfico 2010: Releitura dos dados de pessoas com deficiência no Censo
Demográfico 2010 à luz das recomendações do Grupo de Washington. Nota técnica 01/2018.
Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/metodologia/notas_
tecnicas/nota_tecnica_2018_01_censo2010.pdf. Acesso em: 26 out. 2018.
IBGE. Projeção da População 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em
2047. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-numero-de-habitantes-do-
pais-deve-parar-de-crescer-em-2047. Acesso em: 26 out. 2018.
LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins (Comp.). História do Movimento Político das Pessoas
com Deficiência no Brasil. - Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de
Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010. 443p.: il. 28X24 cm. Disponível em:
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração dos direitos das pessoas deficientes.
1975. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_def.pdf. Acesso em: 28
set. 2010.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.aspx?LangID=por. Acesso
em: 28 set. 2010.
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Deficiência. Trad Lexicus Serviços Linguísticos – São Paulo. SEDPcD: São Paulo, 2012, 312 p.
Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/usr/share/documents/RELATORIO_
MUNDIAL_COMPLETO.pdf. Acesso em: 26 out. 2018.
THE PRINCIPLES OF UNIVERSAL DESIGN. Version 2.0 - 4/1/97. Disponível em: https://projects.
ncsu.edu/ncsu/design/cud/about_ud/udprinciplestext.htm. Acesso em: 26 out. 2018.
UNITED NATIONS. Standard Rules on the Equalization of Opportunities for Persons with
Disabilities - plenary meeting 20 December 1993. Disponível em: http://www.un.org/
documents/ga/res/48/a48r096.htm. Acesso em: 26 out. 2018. [em inglês]
BRASIL. LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 26 out. 2018.