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PROJETO INTEGRADOR: EDIFICAÇÃO

MULTIFUNCIONAL

Gabriel Bahia Gonçalves


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO AO PROJETO INTEGRADOR: EDIFICAÇÃO


MULTIFUNCIONAL ...................................................................................... 3
2 PROJETO DE ARQUITETURA ................................................................... 19
3 ACESSIBILIDADE NO PROJETO DE ARQUITETURA .................................. 29
4 NORMA DE DESEMPENHO (NBR: 15575, 2013) ..................................... 39
5 PRINCIPAIS TIPOS DE SETORES .............................................................. 48
6 EDIFÍCIOS MULTIFUNCIONAIS ............................................................... 59

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1 INTRODUÇÃO AO PROJETO INTEGRADOR: EDIFICAÇÃO


MULTIFUNCIONAL
Prezados alunos, desejo-lhes boas-vindas à disciplina de Projeto Integrador: edificação
multifuncional. A partir deste momento, desejamos sucesso no seu projeto, que será
elaborado neste semestre. Nesta etapa, devido ao fato de que iremos trabalhar com
dois ou mais usos diferentes em uma mesma edificação, algumas peculiaridades em
relação a forma de projetar irão surgir, tanto na investigação do espaço urbano quanto
na intervenção, representação e nas normas do projeto arquitetônico. O objetivo
desta disciplina é ensinar ao aluno como planejar espaços multifuncionais a partir de
estudos de referenciais teóricos e projetuais de edifícios híbridos, por meio do
aprendizado de um processo de elaboração projetual, pelo estudo, aplicação prática
das principais normas técnicas presentes nesses tipos de edificações e por fim, a
elaboração de um projeto multifuncional, que deverá seguir as diretrizes dadas pelo
professor da disciplina.

A partir de agora, vamos iniciar o nosso estudo de forma temporal. Começaremos pelo
contexto histórico das edificações multifuncionais, analisaremos alguns edifícios
híbridos contemporâneos, e em seguida daremos início ao aprendizado do projeto.

1.1 Contexto histórico

Antes de iniciarmos propriamente com as questões relacionadas diretamente ao


projeto, vamos começar a entender como ocorreu a história dos edifícios
multifuncionais. Este tipo de projeto existe desde a época medieval, onde as pessoas
optavam por morar e trabalhar em um mesmo local para não precisarem se deslocar
todos os dias e para não necessitarem ficar transportando suas mercadorias. A partir
da revolução industrial entre o século XVIII e o século XIV, os próprios governos das
cidades começaram a incentivar a setorização dos municípios, ou seja, praticamente
cada bairro da cidade devia ter um tipo de função exclusiva. Determinados bairros

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eram destinados somente a residência, outros apenas serviriam ao comércio, e outros


designados exclusivamente a prédios de serviços. Isso fez com que aparecessem
diversos problemas urbanos como o surgimento de grandes congestionamentos, a
degradação, a falta de segurança devido a criação de ruas ociosas, entre outros pontos
negativos (Junior, 2018).

Hoje em dia, pelo contrário, há um grande incentivo do poder público para a utilização
do uso misto nas cidades, sobretudo em São Paulo. Conforme Jane Jacobs (1961),
autora do livro Morte e Vida das Grandes Cidades afirma que o uso misto proporciona
a movimentação constante e a vida aos lugares; de dia pelo comércio e a noite pelas
residências, cafés e restaurantes. Cada vez mais se nota esta modificação, tanto no
ocidente quanto no oriente. Em São Paulo, por exemplo, há diversos pontos na cidade
que adotam estes princípios. A partir de agora, utilizaremos esta cidade para analisar
brevemente alguns projetos já existentes e compreender suas principais funções.
Sequencialmente, no subtema 1.2, analisaremos dois projetos contemporâneos.

Edifício Esther (São Paulo, SP)

O edifício Esther é um dos primeiros edifícios multifuncionais de São Paulo. Neste


prédio, existem diversas tipologias de unidades habitacionais presentes, graças a
utilização de uma estrutura modular, que acaba permitindo fáceis modificações de
layout. Há três lojas no térreo e três andares de escritórios. No edifício há casa de
câmbio, cabelereiro, restaurante, boate, entre outros estabelecimentos diferenciados.
É bastante interessante observar que essa pluralidade gera movimento tanto para a
edificação em si, quanto para o entorno, trazendo mais vida para os moradores e para
a região. É um exemplo de que a cidade deve servir as pessoas e não o contrário
(Junior, 2018). O prédio foi projetado pelos arquitetos Álvaro Vital Brasil e Adhemar
Marinho, no ano de 1936. Apesar de ter 74 anos de idade, ele continua sendo mais
moderno do que muitos que são mais recentes. Nas figuras 1.1 e 1.1.1, observe o
desenho da fachada e as disposições dos pilares, os conceitos da arquitetura moderna
estão totalmente explícitos.

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Fonte: ArchDaily, 2018. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/888147/classicos-da-


arquitetura-edificio-esther-alvaro-vital-brasil-e-adhemar-marinho>. Acesso em: 08/05/2021.

Figuras 1.1 e 1.1.1 - Área externa e interna do edifício Esther (São Paulo – SP)

Edifício Copan (São Paulo, SP)

O edifício Copan é um ícone simbólico da cidade São Paulo, que está localizado no
centro da cidade. Também é um edifício multifuncional e um pouco mais recente do
que o Ed. Esther. Ele começa a ser construído em 1952 por meio de uma companhia
hoteleira pan-americana, e quem foi chamado para conduzir a construção do projeto
foi o arquiteto Oscar Niemeyer (Oukawa, 2010). O empreendimento possui
apartamentos de quitinete, 01, 02, 03 e 04 dormitórios, 17 andares e a forma de “S”,
que para a época, era um projeto bastante ousado. A obra foi interrompida várias
vezes, mas a partir do ano de 1957, quando o banco BRADESCO assume a
administração do empreendimento, fica decidido que não iriam mais construir um
hotel.

O Copan possui 1160 apartamentos divido em 6 bloco e diferentemente do Ed. Esther,


há uma dificuldade maior de fazer grandes alterações nos apartamentos.

No térreo há diversos usos presentes, existem livrarias, bares, cafés, restaurante e no


topo a edificação possui um mirante. Os demais pavimentos se destinam ao uso
residencial. É um projeto que vale a pena ser estudado para utilizar como referência

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no seu projeto. Em breve consulte o link de acesso da tese da Carolina Oukawa (2010)
em nossas referências.

Fonte: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/paulobrazil-may-2019-exterior-facade-view-


1660590946>. Acessado em 17/08/2021.

Figuras 1.1.2 e 1.1.3 - Entorno e fachada do edifício Copan (São Paulo – SP)

1.2 Referências projetuais contemporâneas

Uma das primeiras perguntas que devemos fazer quando iniciamos qualquer tipo de
projeto são: quais e como serão distribuídos os programas de necessidade de uma
determinada edificação? Quais serão as normas que deveremos obedecer para a
implantação deste prédio? Qual tipo de estrutura é mais indicada para usarmos? Quais
os tipos e gabaritos de edificações que estão no entorno do nosso terreno? Quais
serão as principais referências que poderemos utilizar para a concepção do nosso
projeto? Todas essas perguntas são básicas para qualquer tipo de projeto e serão
respondidas ao longo do nosso material. Por enquanto, iremos analisar algumas
referências projetuais contemporâneas, para começarmos a trabalhar o nosso
repertório projetual por meio da análise e observação.

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Edifício Le Monolithe (Lyon, França)

O primeiro projeto selecionado é o edifício Le Monolithe, que foi construído pelo


estúdio holandês MVRDV e parceiros, no ano de 2011 em Lyon, na França (Ferreira,
2014). O que nos chama a atenção neste projeto é a forma acolhedora e integradora
na qual os arquitetos dispuseram a edificação, é possível observarmos nas imagens
seguintes que o campo visual entre as janelas consegue ter uma relação tanto com as
áreas externas quanto com as demais áreas internas de uma determinada região do
projeto. A utilização dos grandes canteiros arredondados entra em contraste com a
forma linear utilizada no edifício. Podemos observar um outro contraste em relação a
materialidade usada, ora metálica e ora de concreto, também vemos que há um
conjunto entre cores quentes e cores frias, e os arquitetos conseguiram manter a
harmonia. Note que as janelas possuem formatos diferentes em cada bloco do edifício.

Fonte: MVRDV, 2021. Disponível em: < https://www.mvrdv.nl/projects/109/le-


monolithe?photo=1610>. Acesso em: 10/05/2021.

Figuras 1.2 e 1.2.1 - Área interna e externa do edifício Le Monolithe (Lyon, França)

Edifício Paragon (Berlim, Alemanha)

O nosso próximo estudo de caso é o Edifício Paragon, ele está situado em Berlim, na
Alemanha, foi construído no ano de 2016 pela Graft Arquitetura, tem o total de
25.100m² e está implantado em um lote de um antigo hospital (Ferreira, 2014). O que
chama mais a atenção neste projeto em termos de função, é como a setorização está
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sendo distribuída tanto no pavimento térreo quanto nos pavimentos tipos, é possível
observar que o prédio possui uma grande relação com o espaço urbano, uma vez que
ele se integra com os seus pátios públicos. Nele há uma grande quantidade de usos
como supermercado, salas multiuso, cafeterias, biblioteca, fazendo com que haja um
movimento tanto diurno quanto noturno, o que traz mais vida e segurança para o
bairro. Outra questão bastante pertinente de se comentar, é a quantidade de
tipologias de unidades habitacionais presentes nos demais pavimentos acima do
térreo. No edifício há 217 unidades distribuídas em oito pavimentos e tipologias
distintas que permitiram que os arquitetos trabalhassem uma forma da edificação
como um todo mais interessante do que tipologias repetitivas.

Fonte: Galeria da Arquitetura, 2021. Disponível em:


<https://www.galeriadaarquitetura.com.br/slideshow/newslideshow.aspx?idproject=3399&index=0>.
Acesso em: 11/05/2021

Figura 1.2.2 - Foto do Edifício Paragon

Observe as setorizações e os acessos abaixo para compreender como que são


distribuídas as áreas desse edifício e suas respectivas entradas e saídas.

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Fonte:Tostes, 2018. Disponível em: < https://issuu.com/andresatostes/docs/edificio_multifuncio

nal-_andresa_to> Acesso em: 11/05/2021.

Figura 1.2.3 – Setorização em planta do pavimento térreo do Edifício Paragon

Fonte:Tostes, 2018. Disponível em: < https://issuu.com/andresatostes/docs/edificio_multifuncio

nal-_andresa_to> Acesso em: 11/05/2021.

Figura 1.2.4 – Setorização em planta dos pavimentos tipo do Edifício Paragon

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Fonte:Tostes, 2018. Disponível em: < https://issuu.com/andresatostes/docs/edificio_multifuncio

nal-_andresa_to> Acesso em: 11/05/2021.

Figura 1.2.5 – Setorização em corte do pavimento térreo do Edifício Paragon

1.3 Concebendo um Edifício Multifuncional: Legislações básicas de projeto

Após analisarmos algumas referências de edificações multifuncionais, iremos nos


aprofundar nos principais itens de composição projetual, para você não somente
aprender a projetar um edifício multifuncional, mas também sedimentar e adquirir
habilidades para planejar qualquer tipo de espaço. Colocaremos estas regras em
prática ao projetarmos o nosso edifício e futuramente, você poderá realizar analogias
e aplica-las de forma sistemática em outros tipos de projeto, durante a sua atuação
profissional.

Antes de fazermos qualquer tipo de projeto, a primeira coisa que nós devemos nos
informar é saber se é possível executar esse tipo de projeto no terreno determinado.
Devemos nos atentar tanto na questão da possibilidade de inserção da edificação
dentro do terreno definido quanto na questão do dimensionamento, ou seja, se irão
caber todos os ambientes necessários no local.

Então, a primeira investigação que nós deveremos fazer é o chamado: “estudo de


viabilidade”, onde você irá analisar quais são as alternativas de construção do terreno.
Isso irá facilitar o entendimento geral, inclusive do custo médio da obra. Para isso,
você investigará a lei de uso e ocupação do solo e a lei de zoneamento da sua cidade,
para verificar o coeficiente de aproveitamento, a taxa de ocupação do solo, a taxa de

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permeabilidade, o gabarito máximo e os recuos necessários. Há cidades que possuem


dados compilados e armazenados dentro de um site especializado em armazenamento
de dados urbanos, como o Geosampa em São Paulo (SP) ou o PlanUrb em Campo
Grande (MS), porém dependendo da cidade, sobretudo as mais interioranas, muitas
vezes as informações terão que ser consultadas diretamente na prefeitura, pela
ausência deste serviço público.

Coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação, recuos, gabaritos e área


permeável.

A identificação do zoneamento urbano serve para caracterizar o tipo de área em que


determinado terreno ou edificação está localizado. São através das leis de uso e
ocupação do solo que nós teremos acesso a essas informações. Vamos revisar um dos
primeiros dados que nós devemos coletar para iniciar uma implantação em um
determinado terreno, o primeiro será o coeficiente de aproveitamento. O coeficiente
de aproveitamento será um número unitário informado neste documento, quanto
mais elevado ele for, mais se poderá construir no terreno. Geralmente são nas áreas
mais centrais de uma cidade que são indicados coeficientes maiores, devido ao grande
adensamento de infraestruturas e circulações de pessoas.

Para você descobrir a capacidade máxima da quantidade de metros quadrados que


poderão ser construídos, basta multiplicar a área total do terreno pelo número
indicado do coeficiente de aproveitamento da região. Assim que nós analisarmos os
demais itens que deverão ser averiguados antes da implantação, os exemplificaremos
em um terreno fictício com um valor arredondado para melhor compreensão.

O próximo item será a taxa de ocupação, que é um índice que será dado sempre em
unidade de medida de porcentagem, e indicará a quantidade que poderá ser ocupada
na superfície do terreno em relação a sua área total. Teremos também os recuos
frontais, laterais e posteriores, que deverão ser respeitados, assim como o gabarito
máximo estipulado, que nada mais é do que a altura máxima que a sua construção
poderá atingir. (Prefeitura de São Paulo, 2021).
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Teremos também a área permeável que será mais uma questão a que deveremos nos
atentar. É tão simples quanto a taxa de ocupação, a forma de identificarmos a
quantidade que deveremos manter permeáveis no terreno será a mesma. É um dado
que lhe será informado em unidade de medida de porcentagem, essa porcentagem
deverá ser multiplicada pela área total do terreno e você saberá o quanto deverá
ceder para a drenagem de águas pluviais. Imagine se as prefeituras não solicitassem as
áreas permeáveis nos terrenos, as cidades poderiam ter graves problemas de
drenagem que ocasionariam desastres.

Terreno modelo para aplicação das perspectivas operações

A partir de agora, vamos supor que nós temos um terreno em que a área total
corresponda a 1000m², o coeficiente de aproveitamento é equivalente a 4, a taxa de
ocupação é de 50%, e a área permeável é de 15%. E nós gostaríamos de saber quanto
poderemos construir neste local. Vamos iniciar as nossas operações a partir de agora,
para descobrirmos os resultados em metros quadrados.

Área total do terreno (A.T) = 1000m²

1. Coeficiente de Aproveitamento (C.A) = 4

Vamos descobrir o potencial construtivo deste terreno, ou seja, o máximo que


poderemos construir nele verticalmente:

Potencial Construtivo = AT x CA

Potencial Construtivo = 1000 x 4

Potencial Construtivo = 4000m²

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2. Taxa de Ocupação (T.O) = 50%

Agora vamos descobrir até quantos metros quadrados poderemos ocupar a nossa
edificação na superfície do terreno.

Quanto eu posso ocupar na superfície do terreno = AT x T.O

Quanto eu posso ocupar na superfície do terreno = 1000 x 50%

Quanto eu posso ocupar na superfície do terreno = 500m²

3. Área de Permeabilidade (A.P) = 15%

Vamos verificar quantos metros quadrados que nós deveremos destinar às áreas de
drenagem, ou seja, não poderemos interromper a drenagem com construções.

Área permeável = AT x AP

Área permeável = 1000 x 15%

Área permeável = 150m²

Agora sabemos quantos metros quadrados poderemos construir e preservar para a


drenagem. Em relação aos recuos e aos gabaritos, eles também estarão presentes na
lei de uso e ocupação da cidade. A partir de agora, vamos discutir um pouco sobre o
projeto de arquitetura.

1.4 Concebendo uma Edificação Multifuncional: primeiras análises urbanas

Para iniciarmos um projeto, a primeira etapa que devemos realizar é a criação de um


programa de necessidades, em seguida, começaremos a fazer uma análise urbana.
Vamos iniciar pela compreensão da mobilidade urbana, é necessário que nós
verifiquemos os sentidos das vias, se possuem acessibilidade ou não, quais são as vias
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principais e quais são as vias secundárias, avaliar os seus respectivos


dimensionamentos. Isso servirá para nós melhor definirmos onde estarão localizados
os nossos acessos, o que é importante porque os acessos de um projeto são os cartões
de visita do edifício (Ching, 2010). Devemos pensar tanto na circulação do pedestre
quanto na do automóvel.

Precisamos compreender o contexto urbano no qual nós estamos situados, entender


as relações que teremos com as edificações vizinhas, tanto esteticamente, quanto
funcionalmente, e sobretudo qual será a nossa intenção com este projeto, qual será o
impacto no bairro e na cidade que gostaríamos de proporcionar por meio desta
implantação? Devemos analisar quais serão os equipamentos públicos que estarão
próximos ao nosso terreno; são hospitais? Supermercados? São estabelecimentos de
serviços? Predominam-se áreas mistas ou comerciais? Existem quantos pontos de
ônibus que nos permitem rápido aceso a nossa futura edificação? (Moneo, 2013)

Tudo isso que nós estamos perguntando, é para você entender que precisamos realizar
uma análise minuciosa, que muitas vezes acaba tendo um caráter descritivo e ao
mesmo tempo reflexivo. Precisamos conhecer o que existe no entorno, tanto no
imediato (até 1km), quanto no abrangente (acima de 1km). Após isso, conseguiremos
fazer com que o nosso projeto tenha uma forma mais relacionada com o contexto do
bairro, o objetivo da edificação multifuncional é fazer parte da cidade, convidar os que
estão ao lado de fora adentrar à edificação, como se ela fosse uma extensão da cidade.
Uma outra questão que é importante verificarmos é o conforto ambiental, precisamos
saber se neste terreno há um grande nível de ruídos ou não, quais são as principais
fachadas nas quais o sol incidirá diretamente, e também, precisaremos localizar os
fluxos de vento predominantes. Verificar se há ou não bloqueios da luz natural e dos
ventos gerados por outras edificações do entorno. A partir de agora, vamos começar a
pensar na composição do nosso projeto.

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1.5 Concebendo uma Edificação Multifuncional: primeiros passos para iniciar o


projeto arquitetônico

Após definirmos os nossos acessos e investigarmos o contexto urbano da identificação,


podemos começar a pensar na circulação interna por meio de um fluxograma e
sequencialmente por um plano de massas. No plano de massas, distribuem-se os
principais elementos que estarão presentes na nossa implantação, sobretudo definem-
se as estruturas básicas da configuração espacial que serão concebidas futuramente, e
ao finalizar os elementos compositivos principais, já poderão ser acrescidos texturas e
cores sobre os caminhos e os usos do projeto (Macedo, 1989).

Nossas primeiras ferramentas serão elaborações de croquis para começarmos a ter


uma noção geral das possíveis circulações que o nosso projeto terá. Já o fluxograma,
definirá como serão distribuídas as áreas do seu projeto, seguindo o seu programa de
necessidades. Não precisará ter nenhum tipo de forma específica, nem para os
ambientes do projeto, tampouco para a circulação, ele é somente um esquema
diagramado de setas para nos organizarmos.

Mas antes disso, recomenda-se definir o conceito arquitetônico, que nada mais é do
que a ideia que gostaríamos de aplicar no projeto (integração, transparência, solidez),
ou seja, o conceito arquitetônico é tudo aquilo que não podemos tocar, aquilo que é
intangível, oposto do partido arquitetônico, em que logo em sequência, nós
deveremos começar a planejar os materiais que iremos utilizar no projeto para
concretizarmos as nossas ideais que vem dos conceitos (vidros, madeira, rampas,
mezaninos), ou seja, tudo aquilo que nós podemos tocar (Hertzberger, 2012). Vamos
citar um exemplo: o conceito da casa da cascata de Frank Lloyd Right é a integração,
ele relaciona os espaços internos da casa com os espaços externos da natureza. Para
conseguir alcançar esse objetivo de integrar, ele precisa utilizar algum elemento
tangível, algo que nós possamos tocar, neste caso, ele utilizou o vidro para conseguir
integrar o lado de fora com o lado de dentro da casa.

Você sabe qual é a melhor forma de aprender a projetar tanto um edifício


multifuncional ou qualquer outro tipo de projeto? É muito simples, você precisa

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começar a procurar referências de outros projetos que já foram feitos. Parece algo
trivial, porém se você não exercitar a observação e análise projetual do programa em
que você pretende se especializar, infelizmente não conseguirá ter a envergadura que
poderia ter caso analisasse elementos de vários projetos do seu tema de interesse.
Então lhe faremos o convite de começar a pesquisar no Google edifícios
multifuncionais e observar a forma das edificações, como as funções se distribuem, a
relação do entorno com o edifício, os materiais que estão sendo utilizados, as cores, a
estrutura, o conforto ambiental, o paisagismo e outros elementos que você já estudou
até chegar neste semestre. No próximo bloco esperaremos você para dar continuidade
aos nossos estudos e expandir o seu conhecimento projetual.

Conclusão

Neste bloco fizemos uma análise geral sobre os edifícios multifuncionais, desde a sua
história, iniciando na época medieval até a leitura e observação dos projetos mais
contemporâneos. Em seguida, entendemos os primeiros passos para a criação de um
projeto, dos primeiros estudos urbanísticos até a escala do edifício. Aprendemos o que
é a Lei de Uso e Ocupação do Solo, onde se encontra informações básicas para
começarmos a pensar na implantação, entendemos como se efetuam as operações de
todos esses dados (coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação, entre outros
itens); discutimos os detalhes mais importantes comentando sobre vários pontos nos
quais deveremos investigar antes de intervir no espaço e acabamos concluindo que
para nós aprendermos a projetar, um dos grandes instrumentos de apoio é o simples

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fato de estudarmos projetos que já foram construídos, para que o processo de


composição projetual seja fluído e mais fácil de elaborar. Também aprendemos a
diferença entre conceito arquitetônico e partido arquitetônico

Por meio das análises dos edifícios internacionais, concluímos também que as
principais características que devemos observar ao analisar um projeto são as
estéticas, funcionais e técnicas. Condizendo com o que o arquiteto Vitrúvio (2007),
afirmou no século 1 A.C e como consta no seu livro Tratado de Arquitetura.

No próximo bloco, nós iremos começar a nos aprofundar no processo de criação do


projeto, você aprenderá todas as etapas e elementos necessários para a concepção
projetual e para que consiga começar a projetar o seu edifício de forma independente
e utilizando a sua criatividade. Nos encontramos de novo no próximo bloco!

REFERÊNCIAS

ATIQUE, Fernando. Memória de um projeto moderno: a idealização e a trajetória do


Edifício Esther. Dissertação de mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos. São
Paulo, 2002.

CHING, Francis D.K. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. 2º Edição. São Paulo.
Martins Fontes, 2010.

FERREIRA, Thayana Hoth. Edifícios Multifuncionais (Híbridos). Artigo, 2014. Disponível


em: <https://www.webartigos.com/artigos/edificios-multifuncionais-
hibridos/121911/>. Acesso em: 06/05/2021.

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JUNIOR, Jaime Cunha. O Edifício Multifuncional em São Paulo. Desafios e


Potencialidades para sua inserção no quadro urbano contemporâneo, 2018. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-21092018-
163657/publico/TEjaimecunhajunior_rev.pdf. Acesso em: 06/05/2021.

HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. 2º Edição, Martins Fontes, São Paulo,


2012.

MACEDO, Silvio. Moraes. (1989). Plano de Massas - um Instrumento para o desenho


da paisagem. Paisagem E Ambiente, (3), 9-27. https://doi.org/10.11606/issn.2359-
5361.v0i3p9-27

MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual. 8 Arquitetos


Contemporâneos. Editora: Cosaic Naify. 3º Edição, 2013.

OUKAWA, Carolina Silva. Edifício Copan: uma análise arquitetônica com inspiração na
disciplina análise musical. Dissertação, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São
Paulo, 2010. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-31052010-
112310/publico/EDIFICIO_COPAN_CAROLINA_OUKAWA.pdf>. Acesso em: 08/05/21

PREFEITURA DE SÃO PAULO. Novo Zoneamento, 2021. Disponível em:


<https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/marco-regulatorio/zoneamento/>. Acesso
em: 10/05/2021.

TOSTES, Andresa. Edifício Multifuncional. Estratégia para Cidade Compacta. Trabalho


Final de Graduação, Centro Universitário Moura Lacerda, 2018. Disponível em:
<https://issuu.com/andresatostes/docs/edificio_multifuncional-_andresa_to >. Acesso
em: 11/05/2021.

VITRÚVIO. Tratado de Arquitetura. Tradução de Justino Maciel. São Paulo. Martins


Fontes, 2007.

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2 PROJETO DE ARQUITETURA
Seja bem-vindo (a) ao nosso segundo bloco, neste momento, nós iremos aprofundar os
nossos estudos sobre o projeto de arquitetura. Vamos aprender todos os itens
fundamentais para que possamos iniciar o planejamento da nossa edificação. Cada
arquiteto tem sua maneira singular de projetar, alguns começam planejando o espaço
de dentro para fora, outros iniciam de fora para dentro. Esse bloco tem como objetivo
te ensinar a utilizar as ferramentas necessárias para projetar espaços, sobretudo o
nosso edifício multifuncional. Ensinaremos a melhor forma de você usa-las e aplica-las
na elaboração dos seus projetos. Após aprender, você poderá utiliza-las da melhor
forma que lhe convenha, mesmo que sigamos uma ordem para este aprendizado, no
futuro ela poderá ser adaptada por você e para você.

Vamos distribuir os subtemas da seguinte forma: iniciaremos por um momento teórico


e em seguida observaremos alguns exemplos práticos ilustrados, para que você
consiga sedimentar melhor o conteúdo. Iremos começar o bloco estudando os acessos
e as circulações, em breve, partiremos para a análise de setorização, conforto
ambiental, estruturas, entre outros itens.

Um arquiteto estudioso chamado Francis Ching, dissecou e investigou minuciosamente


cada elemento de um projeto arquitetônico, desenvolvendo uma volumosa e
consistente bibliografia prática. Será a partir das análises deste autor que iremos
entender os conceitos de cada etapa do processo projetual. Vamos começar pelos
acessos e circulações.

2.1 Acessos e circulações


Quando estamos nos referindo aos acessos de uma edificação, estamos tratando
apenas dos locais onde as pessoas entram e saem. Como o próprio nome já diz, os
locais onde elas acessam o projeto. Esse termo é muito confundido com a circulação,
que possui uma complexidade um pouco maior mas vamos entender as diferenças
entre um e outro a partir de agora.

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A circulação para Ching (2010) nada mais é do que o conjunto de elementos que irão
estruturar e definir um projeto de arquitetura. Ele diz que uma boa arquitetura se
percorre e se caminha dentro e fora da edificação, fazendo com que a mesma se torne
viva. Afirma que a forma na qual você irá distribuir a circulação definirá a característica
do seu espaço, o autor também ressalta que este elemento não deve ser estritamente
funcional, ele diz que nós devemos articula-los em relação aos nosso ambientes,
precisamos pensar na valorização dos componentes presentes durante os percursos e
nos lembra que é necessário causarmos sensações agradáveis, trabalhar com a
percepção do usuário, planejando campos visuais interessantes e que condizem com a
proposta do projeto. Devemos proporcionar espaços contemplativos durante a
movimentação da pessoa que está usufruindo o projeto.

Ching (2010) define como as principais características da circulação: tempo, espaço e


movimento, para que o usuário tenha a compreensão total do projeto durante a sua
caminhada tanto nas áreas internas quanto nas áreas externas da edificação. Então é
necessário que esses locais não sejam obstruídos, exige-se fluidez como adjetivo
principal. Além de Ching, a circulação também foi debatida no século passado por
outros arquitetos como Zevi (1992), que discute a questão do espaço-tempo, que
quando aplicada à arquitetura, visa propor a criação de circulações e ambientes mais
fluidos e abertos, fazendo com que haja constante e plena liberdade de movimentação
atribuída ao espaço.

Para finalizarmos essa seção, vamos esclarecer o conceito de percurso, que utilizamos
anteriormente. Para Flório (2012), a definição de percurso, é a ação da movimentação,
que se entende pelo trajeto de um local a outro, com uma distância entre os mesmos,
dentro de um determinado espaço por meio do deslocamento. O percurso será
definido no projeto através de uma configuração que variará a partir de diversos
fatores como: direcionamentos visuais, orientações, hierarquias (circulações principais
e secundárias), apreciações espaciais, simbolismos e entre outras questões.

A partir de agora, vamos dar sequência aos nossos próximos itens, vamos conversar
um pouco sobre a setorização e ampliar os nossos conhecimentos sobre essa questão.

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2.2 FLUXOS
Quanto aos fluxos, considera-se um dos elementos mais básicos e necessário de se
pensar no começo do projeto. Precisamos nos atentar a quantidade de pessoas que
poderão estar circulando na edificação e em cada pavimento. Para que consigamos
dimensionar adequadamente as nossas conexões entre os nossos ambientes
chamados circulações. Há dois tipos de circulações: a circulação vertical (escadas,
rampas e elevadores), e a circulação horizontal que nada mais são do que os caminhos
retos, curvos ou orgânicos que se encontram em um mesmo nível.

Considera-se que para termos um caminho confortável para percorrer, precisamos de


no mínimo 80cm, e para um cadeirante, 90cm (Neufert, 2001). Para dimensionarmos
corretamente esses espaços, precisamos prever o fluxo, sabendo quantas pessoas em
média poderão transitar em um mesmo momento em cada espaço. Após verificarmos,
podemos somar as medidas conforme o número de usuários e estipular o
dimensionamento.

Uma questão muito importante em relação ao planejamento do fluxo, é quanto a


preocupação que devemos ter ao projetar as nossas rotas de fuga, caso aconteça
alguma emergência e as pessoas precisem evacuar o prédio o mais rápido possível.
Para isso, nós temos que consultar as normas técnicas do corpo de bombeiros, que
estudaremos apenas no próximo bloco. Precisamos sempre ter hidrantes, extintores
bem posicionados, um reservatório de incêndio, e claro, utilizar materiais na
construção que auxiliem a evitar futuros problemas relacionados à propagação do
fogo.

2.3 SETORIZAÇÃO
Antes de conceituarmos a setorização, vamos conversar um pouco sobre
planejamentos de espaços. Conforme Frederick (2015), o planejamento de espaços se
caracteriza pela distribuição e organização de ambientes internos e externos, para
comportar as necessidades funcionais de um determinado projeto.

21
,

Para o autor, é fundamental que o arquiteto tenha essa habilidade, pois precisaremos
lidar com as dificuldades funcionais de conseguir fazer com que acomodemos
adequadamente um edifício no seu devido lugar. Por isso, precisamos nos atentar na
essência do lugar e das edificações que lá existem.

Um simples projetista de espaços, cria espaços com as dimensões em metros


quadrados para diversos ambientes, já o arquiteto, além disso, entende o propósito e
o significado do local. Sobretudo, o seu valor social; nós precisamos capacitar o projeto
para gerar experiências e mexer com os sentimentos dos usuários, trazendo beleza,
diversão, ironia, enriquecimento, entre outras sensações (Frederick, 2015).

O autor afirma que quando formos começar a pensar no nosso projeto na etapa inicial,
devemos trabalhar de forma hierárquica, e não trazendo todos os de talhes do projeto
de uma só vez. Devemos começar do maior para o menor, de forma gradual, até
chegarmos nos elementos mais específicos.

Utilizando sua folha de preferência, a estenda e comece desenhando linhas guias


leves, fazendo alguns alinhamentos de geometria, analisando os principais pontos
visuais que existem no seu terreno para poder explora-los da melhor maneira possível,
trazendo proporção e relação para os elementos que conseguiu desenvolver até o
momento.

Após ter elaborado um bom esquema projetual, vá para o próximo passo, que será o
avanço para um nível de detalhamento maior, inicie somente por um ambiente, mas
não perca muito tempo nele, tente homogeneizar a sua produção e desenvolvimento
dos detalhes para todos os ambientes e repita o processo progressivamente. O
arquiteto, diferentemente dos engenheiros, conhece tudo sobre alguma coisa, já os
engenheiros, conhecem tudo sobre algo. Isso nos torna capazes de liderar e coordenar
grupos de profissionais que incluem: designer de interiores, projetistas, pedreiros,
gesseiros, eletricistas, paisagistas, engenheiros civis, engenheiros mecânicos, entre
outros profissionais. Nós devemos conhecer o mínimo sobre cada disciplina, para
podermos negociar e administrar as demandas no mundo profissional, fazendo jus às

22
,

necessidades dos nossos clientes e a total integridade do projeto em termos técnicos,


estéticos, funcionais e de execução.

Para Flório (2002), a setorização nos possibilita visualizar os principais usos de um


projeto. Podemos utiliza-la em duas situações, tanto para analisar projetos quanto
para criar nos espaços. Para criarmos, que é o nosso caso, em primeiro lugar
deveremos identificar quais serão os usos presentes no nosso edifício. Para você
entender melhor, vamos exemplificar por meio de uma casa. Em uma residência nós
temos ambientes que comportam as seguintes funções: áreas íntimas (quarto e
banheiro), áreas sociais (sala de TV, sala de estar, sacada, varanda, etc.) e áreas de
serviço (cozinha e área de serviço). Após você fazer essa identificação dos usos
existentes em um determinado projeto, deveremos escolher uma cor diferente para
cada uso e pintarmos, seja digitalmente ou não, da forma que você achar mais
confortável. Vamos citar um outro tipo de projeto para você se ambientalizar melhor
com a setorização, contextualizando um supermercado. Observe a imagem abaixo:

Fonte: Moki, 2021. Disponível em: <https://site.moki.com.br/como-organizar-prateleiras-


supermercado/.> Acesso em: 15/05/2021

Figura 2.3 – exemplo da setorização de um supermercado

É interessante que você já tenha os ambientes dimensionados para que além de


distribuir e organizar os usos, também visualize as proporções entre as áreas do
projeto. Diferentemente do fluxograma onde você terá um diagrama indicando a
conectividade e os locais aproximados onde os ambientes irão ficar posicionados.
23
,

2.4 Conforto ambiental


É importante analisarmos o conforto ambiental do nosso terreno e entender de que
forma ele se comportará em relação ao nosso futuro projeto. É interessante
começarmos fazendo um estudo da carta solar da cidade, e verificar quais serão as
fachadas que terão maior e menor incidência de sol ao longo do ano, desenhando
esquemas para facilitar esse entendimento, assim como demarcar os principais fluxos
de ventos. Isso tornará mais fácil o processo de desenvolvimento do projeto,
explorando melhor as áreas para posicionar de maneira correta todos os ambientes, a
fim antever situações indesejadas de aberturas de fachadas colocadas em direções
equivocadas.

O conforto ambiental se preocupa com questões acústicas também, tanto no controle


dos ruídos externos por uso de estratégias de projeto e de paisagismo que podem
contribuir bloqueando sons elevados indesejados (ex: uso de maciços arbustivos ou
arbóreos como forma de combater os ruídos), quanto nas áreas internas utilizando
materiais que ajudam a isolar mais a propagação do som. Há também a preocupação
quanto a qualidade dos ambientes do próprio projeto, como a forma da arquitetura, o
zoneamento das funções internas da edificação e das suas geometrias, as condições do
ambiente que o projeto está inserido, considerando sempre a atual presença de
vegetações, corpos d’água, e o seu entorno (Gonçalves e Duarte, 2006).

A sustentabilidade também está ligada ao conforto ambiental. O primeiro significado


de desenvolvimento sustentável, foi usado pelo Brandtland Report, dizendo que é
aquilo no qual cumpre as necessidades do momento atual, sem prejudicar as próximas
gerações que virão. Já houveram inúmeras conferências mundiais para firmar
protocolos de sustentabilidade. No Rio de Janeiro em 1992 por exemplo (Rio 92), ou
em Johannesburgo no ano de 2002. Cada vez mais, felizmente, os arquitetos
contemporâneos veem aplicando conceitos sustentáveis em suas edificações,
melhorando o nível de consumo de água do edifício, gerando menos impactos
ambientais para ele, e melhorando o nível de consumo de água, gerando menos
impactos ambientais e tentando economizar ao máximo energia elétrica. Para isso, na
arquitetura, utilizamos vários elementos como fachadas ventiladas, brises, placas auto

24
,

voltaicas, e outras estratégias para obtenção de energia natural, captação de água e


melhor adequação da climatização do projeto. Podemos tanto usar na edificação em si
quanto nos ambientes internos e é muito importante que tenhamos um breve
conhecimento também, sobre as Normas de Desempenho (2015), para auxílio nos
materiais que são sugeridos para um bom resultado.

2.5 ESTRUTURAS

Pensar na estrutura do seu edifício multifuncional, ou qualquer outro projeto que você
esteja concebendo, tem uma grande importância pois a estrutura não somente
permitirá que a sua edificação se estabilize e consiga se manter em equilíbrio e
segurança, mas também será um dos principais elementos definidores da forma
arquitetônica, influenciando tanto na forma externa quanto nas formas internas. Já
que as estruturas também ocuparão espaços no terreno, precisamos nos atentar
porque após nós definirmos o tipo de estrutura que utilizaremos, temos que nos
atentar onde elas estarão localizadas, pois não podemos tê-las como empecilho no
posicionamento dos ambientes (Rebello, 2000)

Analisar a estrutura que poderá ser usada, é considerada uma das primeiras etapas da
concepção projetual porque planejar a disposição dos pilares pode ser uma tarefa um
pouco difícil pois precisamos mantê-los equilibrados e ao mesmo tempo não podemos
permitir que eles interrompam acessos, circulações, campos visuais importantes,
disposições de mobiliários, entre outros itens. Caso você acabe deixando de pensar na
estrutura no início do projeto, com certeza você se deparará com alguns desses
problemas durante ou ao fim da elaboração projetual.

Quanto mais elaborada é a estrutura, possivelmente ela também terá um custo


considerável no valor da obra, sobretudo se ela possuir um formato menos
convencional, ou se o solo for um tanto problemático (muito arenoso ou argiloso).
Para isso e por outros motivos, fazemos o “System Penetration Test”, conhecido como
“SPT”, que servirá para verificarmos características mais detalhadas do solo no qual
iremos projetar. Isso facilitará na decisão do tipo de estrutura que iremos adotar.

25
,

Também precisamos considerar que cada região possui seus materiais nativos, e
dependendo de cada estado ou país, alguns tipos de estruturas são mais baratas do
que outras. Os principais tipos de estrutura são as de madeira, concreto e metálicas;
nos seguimentos pré-fabricados ou pré-moldados. Nós como arquitetos, não somos
especialistas em sistemas estruturais, mas temos que ter no mínimo uma breve noção
de pré-dimensionamentos desses tipos de estruturas.

Os principais detentores desse conhecimento são os engenheiros civis, porém nada


nos impede de fazermos pequenas ou médias construções e contratar um engenheiro
civil como prestador de serviços, para calcular as estruturas da nossa edificação,
mostrando todas as peças que serão necessárias para a execução do projeto e sendo
responsáveis pela estrutura da sua construção. Há arquitetos que constroem sem
contratar esse tipo de serviço, entretanto, recomenda-se a parceria entre os dois
profissionais. Geralmente os engenheiros civis vendem esse serviço em um pacote
único, onde podemos atribuir os custos ao nosso cliente.

Para finalizarmos, vamos comentar brevemente sobre às diferenças principais entre os


tipos de estruturas que conversamos anteriormente. A diferença entre a estrutura pré-
moldada e a estrutura pré-fabricada, é que a estrutura pré-moldada é feita no próprio
local da obra, já a pré-fabricada não, elas são criadas em industrias e já chegam
prontas para serem inseridas nas obras. As mesmas são mais seguras, pois passam por
testes de qualidade na fábrica antes de serem disponibilizadas para venda, porém são
menos assertivas e possuem o custo menor.

Conclusão

Neste bloco, tivemos a oportunidade de aprender e relembrar assuntos gerais


referentes ao início do processo de criação projetual. Tendo como primeiro elemento
a ser analisado no âmbito exclusivo do projeto de arquitetura os acessos, em seguida a
circulação, o fluxo, a setorização, o conforto ambiental e a estrutura.

26
,

Lembrando que não necessariamente devemos seguir essa ordem. A partir de agora,
que conseguimos entender cada um dos conceitos, vamos começar a colocar em
prática os nossos conhecimentos. Iniciando a investigação do terreno, elaborando os
pré-dimensionamentos, definindo como serão as nossas circulações e a forma do
projeto em si, por meio do tipo da estrutura a ser definida.

No próximo bloco, nós iremos entrar em um grau de detalhamento mais elevado.


Iremos aprender sobre a implantação de um edifício multifuncional, estudaremos
normas brasileiras referentes a elaboração e representação deste tipo de edificação;
faremos um panorama geral sobre acessibilidade, entre outras questões

REFERÊNCIAS
CHING, Francis D.K. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. 2º Edição, São Paulo.
Martins Fontes, 2010.

CHING, Francis. Técnicas de construção ilustradas. 3º Edição, São Paulo. Martins


Fontes, 2010.

FLÓRIO, Ana Maria Tagliari. Os projetos residenciais não-construídos de Vilanova


Artigas em São Paulo. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, 2012. Disponível
em: < https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-01022013-
143949/publico/tese_anat_revisada.pdf>. Acesso em: 31/05/2019.

FLÓRIO, Wilson. Projeto residencial moderno e contemporâneo: Análise Gráfica dos


princípios de forma, ordem e espaço de exemplares da produção arquitetônica
residencial. São Paulo: Editora Mackpesquisa, 2002. 2v.

REDERICK Matthew. 101 lições que aprendi na escola de arquitetura. São Paulo:
Martins Fontes, 2010.

27
,

GONÇALVES, Joana; DUARTE, Denise. Arquitetura sustentável: uma integração entre


ambiente, projeto e tecnologia em experiências de pesquisa, prática e ensino.
Ambiente Construído v.6, Porto Alegre, 2006. Acesso em: 08/06/2021. Disponível em:
< https://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/viewFile/3720/2071>

NEUFERT, Ernst. Arte de Projetar em Arquitetura: princípios, normas e prescrições


sobre construção, distribuição e programas de necessidades, dimensões de edifícios,
locais e utensílios. 15º Edição, 2001.

REBELLO, Yopanan C. P. “A Concepção Estrutural e a Arquitetura”. Zigurate Editora.


São Paulo 2000.

ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. 5 ed. São Paulo. Martins Fontes, 1996

28
,

3 ACESSIBILIDADE NO PROJETO DE ARQUITETURA


Neste bloco, vamos começar a analisar questões direcionadas à acessibilidade no
projeto de arquitetura, iremos compreender a importância da acessibilidade em
elementos básicos de uma edificação, analisando especificidades dos principais meios
de circulação vertical e compreendendo conceitos e normas brasileiras. Iremos
começar investigando a acessibilidade de forma introdutória, em seguida iniciaremos
uma leitura relacionada às circulações adaptadas para pessoas com necessidades
especiais, trazendo medidas mínimas, máximas e breves, conceitos que iremos utilizar
na prática em nosso projeto. Esta leitura nos permitirá realizar analogias em outros
tipos de projetos públicos, pelo fato das normas de acessibilidade se repetirem a
grosso modo.

3.1 Introdução à acessibilidade

Existem muitos indivíduos que possuem deficiência e passam por dificuldades todos os
dias, isso ocorre quando por exemplo, um cadeirante quer ir fazer compras mas a loja
ou o supermercado não possui uma rampa de acesso projetado adequadamente, ou
elevadores, quando um deficiente que possui baixa visão ou é cego vai a um
restaurante e não há nenhum cardápio escrito em braile, quando uma pessoa surda
não consegue ser compreendida por sua linguagem de sinais em um supermercado, e
assim por diante (DiCastro, 2019). A inclusão é um desafio diário, mesmo com a
existência de várias leis que foram criadas para tentar ajudar este grupo da população,
pois na prática o que acontece é totalmente diferente (Ulbricht, 2018)

Em primeiro lugar, vamos entender a diferença entre acessibilidade e inclusão social. A


inclusão é o conjunto de ações que combatem a exclusão da vida em sociedade, esta é
causada pelas diferenças das pessoas. O objetivo é o oferecimento de oportunidade
igualitárias e acessos de serviços e bens a todos. A acessibilidade se refere a
possibilidade de acesso e condição para utilização com autonomia e segurança de
espaços públicos por indivíduos com deficiência ou mobilidade reduzida. Conforme o

29
,

Censo de 2010, quase 46.000.000 de brasileiros, ou seja, 24% da população declarou


ter algum grau de dificuldade, em uma das habilidades investigadas: visual, motora,
auditiva e mental. Considerando somente as pessoas que tem grande ou total
dificuldade nesses cenários, temos mais de 12.500.000 de brasileiros que possuem
deficiência, o que corresponde a 6,7% da população.

A constituição brasileira de 1988 garante os direitos sociais e individuas das pessoas


com deficiência, foi a partir dela que surgiram diversas leis e normas mais específicas
que visam garantir acessibilidade e inclusão, como a lei de cotas publicada em 1991
que tem como foco a inclusão de pessoas com deficiência PCD no mercado de
trabalho. Já nos anos 2000 foi lançada a lei 10098, a primeira totalmente voltada à
acessibilidade. Ela já tinha a visão de quebrar as barreiras no dia-a-dia, sejam elas
urbanas, nos transportes públicos, ou na comunicação, assegurando a autonomia e a
oportunidade das pessoas portadoras de deficiência.

Em 2004, um decreto reforçou o que essa lei já dizia, atendimento prioritário, projetos
arquitetônicos e urbanísticos acessíveis e acesso a comunicação e informação,
trazendo novamente as normas técnicas como parâmetros de acessibilidade a serem
seguidos. Hoje em dia, uma das leis mais completas sobre acessibilidade no Brasil, é o
estatuto da pessoa com deficiência, também conhecida como LBI (Lei Brasileira de
Inclusão), que foi aprovada em 2015. Houve a criação de um documento da ONU, que
garantia o direito total e igual para essas pessoas e seu legado foi bastante importante
para as legislações de acessibilidade de todos os países.

É uma das leis de acessibilidade mais amplas da nossa constituição, elas se dividem em
três partes: direitos fundamentas das pessoas com deficiência (transporte, saúde e
educação), garantia ao acesso a comunicação e informação e a punição de quem
descumpre esses pontos. Hoje, apesar das leis de acessibilidade existentes, algumas
organizações somente as respeitam quando advertidos ou cobrados de uma forma
direta.

Por esse motivo, começaram a existir normas mais específicas para determinadas
áreas, como na saúde, onde os planos de saúde precisam possuir os seus canais de

30
,

comunicação acessíveis para todos; na educação, o MEC busca promover a inclusão de


alunos, e também lançou a portaria nº 20, que exige que os ambientes físicos e digitais
sejam acessíveis a todos. E caso as universidades não atenderem esses requisitos, elas
não poderão renovar ou cadastrar novos cursos. cabendo sempre a escola se adaptar
as necessidades dos alunos e não vice-versa. No trânsito, se preocupando em um
processo mais inclusivo na habilitação de indivíduos portadores de deficiências
auditivas, o Conselho Nacional de Trânsito, lançou uma resolução que solicita
professores intérpretes que saibam libras em todas as etapas do processo de
aprendizado do aluno, assim quando um surdo for tirar sua carteira de motorista, o
conselho garante que os DETRANs estarão acessíveis para os mesmos. No trabalho, de
acordo com o número de funcionários da empresa, existe uma cota, a quantidade de
contratação de pessoas com deficiência. A conscientização social e jurídica sob os
problemas dos os indivíduos com deficiência são recentes, e por causa disso, a
acessibilidade é pouco difundida.

Conceitos de acessibilidade
A partir de agora, vamos entender alguns conceitos e informações relacionados a
arquitetura acessível conforme a NBR:9050/ 2015:

Desenho universal: está ligado à concepção de produtos, ambientes, programas e


serviços que podem ser utilizados por todas as pessoas

Definição de acessível: algo que pode ser utilizado, alcançado, acionado ou vivenciado
por qualquer pessoa

Adaptável: pode ser alterado para que se torne acessível.

Adaptado: foi alterado e se tornou acessível

Adequado: originalmente planejado para ser acessível

Banheiro: chuveiro ou chuveiro e banheira + bacia sanitária + lavatório + acessórios

Sanitário: bacia sanitária + lavatório + acessórios

31
,

Vestiário: local para a troca de roupas (pode ser junto com o banheiro ou sanitário)

Calçada: faz parte da via (segregada em nível) sendo utilizada para circulação de
pedestres, mobiliário, vegetação, etc.

Passeio: faz parte da calçada (circulação exclusiva de pedestres).

Desenho Universal: concepção de ambientes, serviços, programas e produtos que


podem ser usados por todas as pessoas.

Rota Acessível: trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os ambientes


externos ou internos, e que possa ser utilizado por todas pessoas

Ajuda técnica ou tecnologia assistiva: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos,


que promovam a funcionalidade visando a autonomia e independência da pessoa com
deficiência. Ex: softwares ampliadores de tela

Utilização acompanhada: uso de equipamento com presença de pessoal habilitado (em


todas as etapas)

Utilização Autônoma: uso de equipamento com autonomia total (em todas as etapas)

Módulo de Referência: é o espaço mínimo (0,8 x 1,2 m) ocupado por uma pessoa
utilizando cadeira de rodas, motorizada ou não.

Largura mínima para circulação de PCR: 0,9m

Toda porta de uso comum precisa ter um espaço de 60cm livres na lateral da
maçaneta quando a mesma abre na direção do usuário. A largura livre do vão da porta
é obrigatória ter 90cm, pois se não tiver, um cadeirante não conseguirá circular

Maçanetas: sempre dar preferência às do tipo de alavanca

1 PCR = 90cm

1 pedestre + 1 PCR = 1,20m a 1,50m

2 PCR = 1,50m a 1,80m

32
,

3.2 Escadas e rampas

Escadas

Neste tópico vamos compreender os principais itens que deverão ser considerados na
sinalização da escada de uma edificação. Vamos nos colocar no lugar de uma pessoa
de baixa visão, sendo assim, imagine um idoso com catarata ou um indivíduo que
possui problemas de visão, eles não conseguirão enxergar os degraus corretamente,
pois por verem de forma embaçada, os degraus têm a mesma cor e parecem um
mesmo elemento.
Então para trazer mais segurança, conforto e autonomia para esse indivíduo subir e
descer a escada, nós teremos que instalar nos degraus e nos espelhos, uma faixa que
possua uma cor que faça contraste com a cor da escada, de preferência
fotoluminescente, porque quando a pessoa vai subir a escada, ela precisará ver o
espelho de cada um dos degraus com mais facilidade, e quando ela estiver descendo a
escada, ela precisa ver com mais facilidade cada um dos degraus.
Além disso, nós instalaremos o piso tátil de alerta, ele será colado antes do começo da
escada e após o término da mesma. A NBR 16537 de 2016 especifica de forma mais
detalhada onde deveremos posiciona-lo, visto que cada escada será diferente pois
poderá apresentar dimensões variadas. A pessoa identificará que está em frente de
um obstáculo, no nosso caso, uma escada, e irá procurar os corrimãos. Todas as
escadas precisarão ter corrimãos em ambos os lados e com duas alturas.
Para o usuário cego saber onde ela está, nós iremos instalar uma placa no corrimão
com linguagens em braile, indicando onde o usuário está, e não para onde ele vai.
Deveremos descrever ao indivíduo cego ou com visão reduzida, qual pavimento ou o
ambiente que estamos, por exemplo: 3º andar, 5º andar, mezanino, cobertura, e entre
outros. A largura mínima de uma escada corresponde a 1,20m para ser considerada
uma rota acessível.
Precisaremos sinalizar nos dois corrimãos, colocando 4 plaquinhas no início e 4
plaquinhas no final. Dessa forma, nós iremos conseguir adequar a escada para com
que essas pessoas consigam caminhar tranquilamente.
33
,

Então a partir de agora, vamos fazer uma breve revisão dos itens que precisaremos:
piso tátil de alerta, sinalização visual dos degraus, corrimão contínuo em ambos os
lados e por fim, placas em braile nos corrimãos.

Rampas

Quando formos projetar uma rampa, devemos nos atentar na sua inclinação, pois
dependendo da porcentagem, o cadeirante não conseguirá percorre-la devido ao
excesso de esforço, ou pior, poderá causar acidentes. Imagine conosco, a pessoa na
cadeira de rodas, a gestante, o idoso, o obeso, subirá uma rampa e chegará um
momento em que ela poderá se sentir cansada e precisará descansar. Para isso, ela
precisará estar em uma área plana, e conforme Panero (2005), após 80cm de altura de
desnível que a pessoa sobe em uma inclinação de 8,33%, ela começa a se cansar, e por
isso, precisaremos fazer um patamar na rampa, ou seja, 8,33% no máximo para subir
até 80cm. Se quisermos subir 1 metro de altura, precisamos de 6,25%, e não a
inclinação máxima mencionada anteriormente, fazendo com que a pessoa consiga
percorrer um caminho mais suave, vencer esse desnível de uma vez só.

A inclinação da rampa se relaciona com o esforço que o indivíduo faz. A NBR:9050 de


2015 diz que é possível apenas ultrapassarmos 8,33% de inclinação quando são
esgotadas qualquer tipo de possibilidades, podendo se elevar até 12,5%, entretanto,
com essa altura, somente poderemos subir 7,5cm, porque o esforço que a pessoa
precisará fazer para subir esta inclinação é muito grande, e terá que fazer um breve,
porém possível, impulso. (Ronchetti, 2017)

3.3 Elevadores
Vamos conversar um pouco sobre acessibilidade nos elevadores. Os elevadores
precisam atender a NM 313 de 2007 para que se tornem acessíveis. Vamos iniciar com
o piso tátil de alerta, que deve ter o mesmo comprimento da projeção da porta do
elevador e pode ser em placas ou em relevos. Em relação ao seu afastamento do trilho
da porta, elas deverão estar posicionadas entre 25cm a 32cm, com cor contrastante ao
piso, para fazer com que a pessoa com baixa visão identifique a presença do
34
,

equipamento, além dele, nós precisamos instalar nos dois lados do batente do
elevador e na parte de fora, uma placa informando o andar em alto relevo e em cor
contrastante para o deficiente confirmar onde se encontra, a mesma deverá estar
posicionada em 1,20m de altura. Devemos nos atentar na entrada e na saída de
pessoas com mobilidade reduzida, evitando grandes degraus e respeitando o
dimensionamento mínimo de 90cm em relação aos vãos das portas.

3.4 Rotas de fuga

Em primeiro lugar, antes de começarmos a entender as rotas de fuga, precisamos


compreender o que é uma rota acessível. A rota acessível significa que por onde uma
pessoa entra, todos entram. A mesma situação se enquadrará em uma saída de
emergência (ou rota de fuga), porém de forma contrária, onde um indivíduo sai, todos
saem. Os responsáveis para a definição dessas normas são o código de obras e o corpo
de bombeiro, entretanto caberá a nós identificarmos as barreiras físicas, que possam
impedir o acesso a todos os ambientes e a todas as pessoas, sobretudo pessoas com
deficiência.
Deveremos traçar no mínimo um caminho seguro que interligue os usos comuns de
uma determinada edificação, desobstruído e com sinalização, a fim de termos um
planejamento adequado para as nossas rotas de fuga (Alves, 2005).
Um idoso, um cadeirante ou uma gestante, não podem sair por um lugar diferente de
onde as outras pessoas estão saindo, para evitar conflitos de circulação, em hipótese
alguma isso pode acontecer. E é por isso que na escada de emergência, nós
precisamos acrescentar um espaço maior do que a circulação, onde as pessoas de
cadeira de rodas ficarão esperando para serem socorridas.
Em relação às responsabilidades, tanto da acessibilidade das rotas de fuga, quanto
para os demais elementos de uma obra a serem planejados para serem acessíveis,
além do arquiteto ou do engenheiro serem responsáveis pela garantia da aplicação dos
planejamentos necessários, o órgão público também precisa analisar o projeto e
realizar uma vistoria no imóvel, para que ambos atestem que haverá condição de
acessibilidade no local (Ronchetti, 2017).

35
,

O item 6.4.5 da NBR:9050 (2015) afirma que no final da escada nós precisamos ter
uma área de circulação do fluxo das pessoas que estão descendo e subindo esta
escada, se nós tivermos um elevador dentro da escada de emergência, nós precisamos
colocar um espaço equivalente a ao menos um raio de giro livre na frente do elevador,
para que as pessoas consigam esperar o mesmo, podendo se locomover sem
atrapalhar ou pisotear umas às outras, sobretudo as pessoas com deficiência que
permanecem posicionadas na área de resgate.

3.5 Banheiros

A partir de agora, vamos conversar um pouco sobre os principais locais que devemos
nos atentar em relação à acessibilidade no banheiro. Comecemos pelo box do
chuveiro, para torna-lo acessível devemos inserir barras de apoio, tanto para a
realização da transferência entre o cadeirante e o banco que deverá ser instalado,
tanto para apoio durante o banho.

Nós devemos nos atentar para que a água do chuveiro não caia na cabeça do
indivíduo, e sim, no meio das pernas, então precisamos verificar se o banco estará
corretamente instalado de acordo as dimensões recomendadas pela NBR:9050 (2015).
A altura do banco deve ter 46cm de altura, pois precisa ser equivalente à altura da
cadeira de rodas, para diminuir o esforço físico exigido para os movimentos
necessários.

O acionamento do chuveiro precisa ser por alavanca, para que uma pessoa que, por
exemplo, não tenha os dedos das mãos, consiga ligar o chuveiro. E por fim, deve-se
sempre utilizar um alarme no chuveiro, para que caso ocorra algum tipo de acidente o
indivíduo consiga avisar que está em apuros. Resumindo, sobre as barras no chuveiro,
precisaremos no mínimo ter duas, a barra horizontal e a barra lateral.

A partir de agora vamos conversar sobre a bacia sanitária, a regra será a mesma, nós
precisaremos ter duas barras instaladas, com finalidade de apoio e transferência. O
botão de alavanca deverá ser em formato de alavanca ou elevado, para que pessoas
que por exemplo, não tenha os dedos das mãos, consigam acionar a descarga ou girar
36
,

a alavanca (Ronchetti, 2017). As barras deverão estar instaladas a 89cm de altura em


relação ao piso, afastadas 35cm do eixo da bacia sanitária. A bacia deverá ter 46cm de
altura, e dentro do banheiro, será necessário que haja espaço para a realização de um
raio de giro equivalente a 1,50m.

Em relação ao lavatório, recomenta-se ter 50cm de largura, acionamento da água por


alavanca pelos mesmos motivos nos citados anteriormente e novamente teremos duas
barras (vertical e lateral). Em relação ao espelho, posicionado atrás do lavatório, ele
deve estar instalado a partir de 90cm do chão. (CAURJ, 2018).

Conclusão

Este bloco nos permitiu obter conhecimento dos principais itens comuns de
acessibilidade, tendo aplicabilidade não somente na nossa edificação multifuncional,
mas também possibilitando o desenvolvimento de outros tipos de programa, tendo
em vista que analisamos itens que se repetem em vários tipos de edificações públicas.
As circulações verticais, horizontais e os banheiros, poderão estar presentes desde a
pequena escala projetual, até a grande escala. Entretanto, caberá a você no futuro se
debruçar em um tipo de projeto no qual irá se especializar, e entender de forma
minuciosa a acessibilidade em cada ambiente da sua especialidade, e não somente
estes itens que nós estudamos, que possuem um caráter generalista, ou seja, aplicável
para qualquer projeto arquitetônico público.

37
,

No próximo bloco, iremos aprender sobre as normas de desempenho, que são


fundamentais para proporcionar conforto e qualidade para as nossas obras
arquitetônicas.

REFERÊNCIAS

ALVES, Alessandra. Incêndio em edificações: a questão do escape em prédios altos


em Brasília (DF). 2005. 205 f. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília/DF, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (NBR: 9050:2015). Acessibilidade às


edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. São Paulo. 2º Edição. 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 16537: Acessibilidade -


Sinalização tátil no piso - Diretrizes para elaboração de projetos e instalação. 2016.
Rio de Janeiro, 2016.

CONSELHO DE ARQUTIETURA E URBANISMO DO RIO DE JANEIRO (CAURJ). Casa


conceito arquitetura acessível promove a conscientização da importância da
acessibilidade nos espaços, 2018. Disponível em: <https://www.caurj.gov.br/casa-
conceito-arquitetura-acessivel-promove-a-conscientizacao-da-importancia-da-
acessibilidade-nos-espacos/>. Acesso em: 05/06/2021.

DICASTRO, Vitor. Acessibilidade ou Inclusão. Desenhando, 2019. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=4mS23CcPDI8>. Acesso em: 08/06/2021.

RONCHETTI, Eduardo. Qual a inclinação máxima de uma rampa acessível? 2017.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qY9Ii6Axp3s>. Acesso em:
08/06/2021.

RONCHETTI, Eduardo. Entenda sobre acessibilidade e rota de fuga, 2017. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=aG2H58Xd5eQ%20RONCHETTI>. Acesso
em: 08/06/2021.

38
,

4 NORMA DE DESEMPENHO (NBR: 15575, 2013)


Neste bloco, nós iremos conhecer a norma de desempenho (NBR:15575, 2013), que foi
criada para trazer critérios mínimos de segurança, higiene, sustentabilidade e conforto
às habitações, sejam elas casas ou apartamentos. Esta norma é relativamente recente,
surgiu em 2010, porém entrou em vigor alguns anos depois. Infelizmente ela vem
sendo pouco implementada e considerada nas edificações, e nota-se problemas até
mesmo em empreendimentos de alto padrão. No quesito do conforto acústico, por
exemplo, observa-se que muitas vezes há falha na acústica, onde escuta-se
frequentemente ruídos de seus vizinhos, enquanto o que esta norma sugere é a
adequação das técnicas e dos materiais construtivos de uma obra, tópicos que
estudaremos a seguir, analisando os principais elementos presentes a considerar no
nosso edifício multifuncional e nas obras públicas e privadas em geral.

4.1 Desempenho térmico

O desempenho térmico é um assunto muito importante, porque procura investigar o


conforto do usuário e também a eficiência energética para redução do custo das
edificações. Em todos estes desempenhos que iremos analisar, sobretudo o térmico,
podemos aplicar as diretrizes da norma, tanto no planejamento do edifício, quanto nas
edificações que já estão construídas.

A norma exige que nós elaboremos um modelo termodinâmico para medir


virtualmente as temperaturas internas dos ambientes sociais de uma casa por
exemplo. Nós iremos considerar todas as características físicas e de materiais do nosso
projeto, testaremos no modelo computacional e obtemos o resultado da variação da
temperatura dos ambientes ao longo de um ambiente crítico de verão e de inverno
(Just, 2019).

No verão a norma exige que a nossa temperatura máxima interna não seja maior do
que a temperatura máxima externa, enquanto no inverno, solicita que a nossa
temperatura mínima do lado de dentro da edificação seja ao menos 3º a mais do que

39
,

no lado de fora. Caso o nosso projeto não atenda aos requisitos de temperatura
exigidos pela norma, nós teremos que investigar formas de alteração do projeto para
que ele cumpra as necessidades, poderemos alterar as cores da fachada, os tipos de
vidro, elementos sombreadores, elementos de isolamento térmico de cobertura, e
entre outras questões (Nulde, 2019).

Há um outro regulamento que complementa este, chamado Desempenho Térmico de


edificações, foi criado anteriormente, no ano de 2005, é uma norma prescritiva que
apresenta algumas das propriedades térmicas que os materiais possuem além das
definições bioclimáticas e algumas diretrizes construtivas que são levadas em conta no
momento de fazermos um projeto.

A NBR 15575 de desempenho térmico vem revolucionando o mercado, e há dois tipos


de métodos principais para avaliação do desempenho térmico, o primeiro é o método
simplificado, feito a partir de metodologias de cálculos, é um procedimento simples,
porém menos preciso, entretanto, nos traz algumas informações importantes. Temos
também a simulação computacional que é feita a partir de softwares que são
disponibilizados gratuitamente, e estes nos dão uma precisão muito maior em relação
aos parâmetros térmicos do edifício. Tanto uma técnica quanto a outra podem ser
utilizadas para nossa análise e alguns dos itens analisados nos materiais são a
transmitância térmica, a resistência, a condutividade, entre outros dados.

4.2 DESEMPENHO LUMÍNICO

Parece básico se nós dissermos que em todas as edificações nós precisamos de luz
natural e de luz artificial, porém quando nós formos tratar de desempenho lumínico
em relação a essa norma, as coisas podem não ser tão simples assim. A edificação deve
cumprir quantidades mínimas e máximas de lux em todos os ambientes. A norma
estabelece em que todos os ambientes de permanência prolongada, como sala,
quarto, cozinha e área de serviço, precisamos adotar um nível mínimo de
iluminamento, mas como escabecemos esse nível? Conforme a norma, precisaremos
de 60 lux no centro do ambiente, lux é a quantidade de luz que chega em uma

40
,

determinada superfície, ou seja, é a quantidade de iluminamento que uma superfície


precisa ter. (Santos et al, 2015)

A norma irá estabelecer 3 níveis de atendimento, o nível mínimo que é obrigatório (60
luxes de iluminância na área central do ambiente), o nível intermediário (90 luxes), e
por fim, o nível superior (120 luxes). Para nós avaliarmos se nós estamos conseguindo
alcançar essas luminâncias, existem duas maneiras segundo a norma, a primeira será
por meio das simulações, que poderão ser realizadas por softwares específicos de
iluminação, e farão considerações como a latitude, o local que a cidade estará
localizada, as obstruções de sombra do entorno (caso tenha edificações vizinhas ou
não), as cores presentes nas superfícies que influenciarão diretamente, o tipo de vidro
que nós teremos no nosso projeto, a refletância dos materiais, dos pisos e do próprio
vidro.

A norma utiliza dois dias e dois horários específicos do ano para a elaboração destas
análises, e verifica se nesses dias nós atendemos o mínimo obrigatório, intermediário
ou o superior. A segunda maneira de nós verificarmos o atendimento da norma, é
através da medição da luz no próprio local através do luxímetro, que é um aparelho
portátil, bastante simples e barato, que possui uma fotocélula que mede a quantidade
de luz que está chegando na superfície, apresentando no visor quantos lux existe.

O procedimento de medição do fator de luz diurna possui uma metodologia


estabelecida por norma, levando em consideração em que o dia deverá estar com o
céu nublado, a necessidade de que nós devemos ter no mínimo 50% da luz natural
penetrando no ambiente e entre outras diretrizes.

Em relação às iluminações artificiais, nós devemos garantir nos quartos, salas,


banheiros, áreas de serviços, no mínimo 100 lux, já na cozinha, precisaremos de 200
lux no mínimo, 300 lux para um nível intermediário, e em um nível superior 400 lux. A
norma de desempenho quando trata de iluminação, possui a análise de diversos
ambientes, inclusive os que nós iremos utilizar no nosso projeto do edifício
multifuncional, estes foram apenas alguns exemplos mais comuns para você

41
,

compreender a funcionalidade das proporções em relação às necessidades de cada


ambiente (Qualia, 2016).

4.3. Desemprenho acústico

Ao iniciarmos este subtópico, é necessário compreendermos que a acústica é uma


área que tem muita repercussão em relação aos noticiários, jornais, internet e que
incomoda muitas pessoas nos ambientes habitacionais por inúmeros motivos, e é por
isso que devemos tratar com profundidade esse assunto, compreendendo os
parâmetros das normas de desempenho.

Existem muitas dúvidas relacionadas a estas questões, como por exemplo: será que se
usarmos um bloco cerâmico atenderá ou não as nossas necessidades de isolar
acusticamente um ambiente? Será que se utilizarmos a parede de gesso acartonado
será melhor do que um bloco simples de vedação?

Então, vamos começar... A norma de desempenho não traz parâmetros relacionados


ao conforto acústico, mas sim de desempenho, precisamos entender que estamos
tratando de elementos distintos. Quem irá avaliar o conforto especificamente, será a
NBR 10152/2017, que descreverá de forma minuciosa os ambientes em relação às
necessidades da acústica. Entretanto, este não é o nosso caso, e sim o de
compreendermos o desempenho.

Quando nós estamos analisando o desempenho, nós estamos investigando todo o


sistema, por exemplo, a parede pronta incluindo esquadrias, no caso janelas, portas,
entre outros elementos. É necessário avaliarmos tanto o lado externo quanto o
interno, levando em consideração o abafamento dos ruídos que podem ser
transmitidos tanto das áreas comuns, quanto dos próprios andares dos prédios por
meio dos pisos, coberturas e das paredes.

Estes ruídos podem ser transmitidos de forma aérea de também por impactos, e assim
como nos itens anteriores, nós precisamos avaliar os métodos, que também são feitos
por simulações computacionais, fazendo com que possamos definir quais serão os

42
,

materiais e o sistema mais adequados para atender os critérios estabelecidos pela


norma de desempenho (Just, 2018).

Temos também a avaliação em campo, por meio de ensaios no local, investigando os


sons aéreos e de impacto que resultarão em conclusões que podem divergir daquilo
que foi concebido na etapa de projeto. Em seguida, faremos uma análise para
confrontar o que foi visto no campo com o que foi analisado pelo computador, para
conseguirmos ter um resultado mais preciso.

Concluímos que a avaliação do desempenho acústico, é concebida em quatro grandes


sistemas, analisando o som aéreo, o sistema de vedação vertical interna, externa, e os
pisos. Em relação ao impacto, averiguando a presença de barulhos de salto alto e
queda de objetos por exemplo.

Falando especificamente de materiais absorventes acústicos, eles ficam voltados para


o ambiente, não necessariamente ficam escondidos, e muitas vezes eles impactarão na
estética do ambiente. Há muitos materiais conhecidos no mercado, como a fibra
material que pode ser absorvente ou não, há as que refletem o som, e outras que
absorvem, por isso nós precisamos nos atentar na escolha desses materiais. Teremos
os materiais fibrosos que podem ser lã de pet ou de vidro e são matérias compostas de
fibras que tem a finalidade de absorção, poderão ser forrados com tecido ou com fotos
plotadas, há diversas formas de trabalhar a estética.

Também teremos os materiais ressonadores, que terão alguns tipos de ranhuras e


aberturas, lembrando que a madeira pode ou não ser um material absorvente, isso irá
depender da sua característica, se ela apresentar ranhuras ou forem placas vibrantes,
ou possuírem características naturais que irão absorver devido sua porosidade.
Entretanto, há chapas de madeira pré-fabricadas que possuem um caráter reflexivo e
usa-se muito em salas de concerto. Outro material que é frequentemente utilizado
para o isolamento acústico é a espuma, você poderá coloca-la em diversos
posicionamentos, há uma grande variedade de modelos, dimensões e soluções
peculiares. Usamos a espuma para abafar ambientes específicos, onde há uma grande
quantidade de ruídos ou para fins mais direcionados, como em um estúdio.

43
,

Para finalizar essa seção, vamos revisar alguns conhecimentos. Isolar um ambiente, é
fazer com que os ruídos que veem das atividades internas e externas não incomodem
as nossas atividades do dia-a-dia. O significado de barreiras acústicas, nada mais é do
que qualquer elemento presente no espaço que promova a diminuição de intensidade
do som e logo o isolamento dos ruídos aéreos, onde podemos mencionar as paredes,
os taludes, os muros, e entre outros.

Em relação à redução dos ruídos, os mesmos irão depender de algumas questões


como: a capacidade de amortecimento das ondas sonoras do material utilizado, da
inflexibilidade e do próprio peso do material.

4.4 Saúde, higiene e qualidade do ar.

A NBR: 15.575 (2013) indica que as edificações precisam propiciar condições de


salubridade no seu interior, considerando as condições de temperatura e umidade no
interior da unidade habitacional, juntamente com o tipo do sistema utilizado na
construção. Como critério, o requisito mencionado deve atender as normativas fixadas
na legislação vigente, e como forma de avaliação, é preciso realizar verificação por
métodos de ensaios também estabelecidos na mesma.

Foi o ministério do meio ambiente que criou esta vigência (CONAMA nº 491/2018),
fazendo com que os arquitetos as sigam tanto no projeto básico quanto no executivo.
Os ensaios podem ser executados na fase de obra, e os resultados necessitam ser
apresentados por laudos técnicos. O item 3 da norma de desempenho aborda sobre os
poluentes na atmosfera interna da habitação, equipamentos presentes na edificação
não poderão liberar poluentes em locais confinados, que podem causar níveis de
poluição maiores do que aqueles verificados no entorno.

As habitações devem atender os critérios fixados na legislação, e ser verificadas pelos


métodos de ensaio. São inúmeros os acidente e problemas que podem ser causados
pelo excesso de ar poluído presente no interior das habitações, como em 2019 que
ocorreu uma tragédia no Chile quando uma família natural de Santa Catarina, morreu

44
,

asfixiada pelo vazamento no aquecedor de gás instalado. Outro caso parecido,


aconteceu em São Paulo, na cidade de Santo André.

O item 04 da norma, abordará sobre os poluentes no ambiente de garagem, cujos


gases de escapamentos de veículos e equipamentos não podem invadir as áreas
internas da habitação, e o sistema de ventilação precisa possibilitar a renovação e
saída dos gases poluídos gerados por estes equipamentos e veículos. No Brasil e no
mundo já ocorreram diversos acidentes em garagens devido à falta de sistema de
exaustão, como em maio de 2019 quando um incêndio provocado por defeitos
elétricos de um carro deixou uma criança de sete anos falecida em sua garagem, já em
junho, ocorreu uma explosão de um carro dentro de outra garagem de um edifício do
Rio de Janeiro.

Vamos começar a conversar sobre os sistemas hidrossanitários, referente ao requisito


15.1, contaminação da água a partir dos componentes das instalações, que diz sobre a
necessidade da separação física das instalações de água potável, das águas que não
são potáveis e também da não transmitância de substâncias que podem ser tóxicas ou
que contaminem a água através de metais pesados.

Conclusão

Neste bloco, tivemos a oportunidade de aprender introdutoriamente sobre a Norma


de Desempenho 15.575 de 2013, e entender os seus itens mais importantes para a
arquitetura, compreendendo conceitos, métodos de trabalho e finalidades sobre os
itens que tratam sobre conforto ambiental e sobre os seus materiais. A norma de
desempenho possui um vasto conteúdo, recomendamos que você acesse o link
disponível nos nossos referencias teóricos que abordam todos os conteúdos sobre
caso você tenha interesse em aprender mais a respeito das demais questões que
citamos no início do bloco, visto que não adentramos o assunto por não ser o foco

45
,

principal neste momento e por ser um conteúdo muito longo, que infelizmente não
conseguimos abordar em apenas um semestre.

No próximo bloco, vamos compreender questões relacionadas aos ambientes de um


edifício multifuncional e sobre as suas principais áreas, como as comerciais,
residenciais, corporativas e suas áreas de convivência.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Edificações habitacionais –


Desempenho. Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro. 2013

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Edificações habitacionais –


Desempenho. Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos. Rio de Janeiro. 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Edificações habitacionais –


Desempenho. Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e
externas. Rio de Janeiro. 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 10152:2017 Versão


Corrigida:2020. Medições acústicas e atenuação de ruído em geral. Disponível em:
<https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=382777>. Acesso em: 14/06/2021.

CONAMA. Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018. Disponível em:


<https://www.in.gov.br/web/guest/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51058895/do1-2018-11-21-resolucao-n-
491-de-19-de-novembro-de-2018-51058603>. Acesso em: 09/06/2021.

JUST, Angelo. Desempenho acústico. Introdução. 2018. Tecomat Engenharia.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nPEe72nfQI8>. Acesso em:
08/06/2021.

JUST, Ângelo. Introdução do Desempenho Térmico, 2019. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=E1FQnr9WjmA>. Acesso em: 07/06/2021.

46
,

QUALIA. NBR 15.575 Desempenho Lumínico, 2016. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=6JwO7veHmhw>. Acesso em: 07/06/2021.

NULDE, Marcelo. Norma de Desempenho NBR 15575 - Térmico, 2019. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=WSC5y7_CPkY>. Acesso em: 08/06/2021.

SANTOS ET AL. Análise da eficiência energética, ambiental e econômica entre


lâmpadas de LED e convencionais, 2015. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/esa/a/gZgg9y4kV5RrgK8Mv6J9YNh/?lang=pt>. Acesso em:
09/06/2021.

SENADO FEDERAL. Código de Defesa do Consumidor e normas Correlatas, 2º edição,


2017. Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/533814/cdc_e_normas_corre
latas_2ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 08/06/2021.

47
,

5 PRINCIPAIS TIPOS DE SETORES


Neste bloco, iremos aprender as características dos principais tipos de setores que
podem estar presentes em uma edificação multifuncional. Começaremos entendendo
como se planeja uma área comercial, em seguida, vamos compreender os ambientes
corporativos, estudaremos sobre unidades habitacionais e teremos dois subtópicos
para tratarmos sobre especificidades projetuais relacionadas ao espaço corporativo.
Este bloco tem uma característica voltada diretamente ao projeto arquitetônico.
Iremos te ensinar noções de como projetar cada uma dessas áreas de forma prática e
sucinta, tendo como ênfase a escala do projeto e do mobiliário.

5.1 Ambientes comerciais – Pisos e Materiais

Nesta seção vamos aprender brevemente a como planejar os pisos e os materiais de


ambientes comerciais, em seguida, iluminações, cores e disposição dos materiais.

Pisos

A primeira questão que você precisa ter em mente em relação ao tipo do piso que
você irá escolher para a área comercial do seu edifício multifuncional são os pisos.
Caso você projete uma loja ou alguma lanchonete, se atente ao tipo de piso que você
irá escolher, caso você utilize um piso muito sofisticado com características mais
rebuscadas, em um espaço comercial popular, você pode estar inibindo pessoas de
classes baixas ou médias de adentrarem o seu estabelecimento por fazer com que
algumas pessoas desse público pensem que não fazem parte deste espaço, que este
lugar pode ser caro demais para ela. Não se trata do custo dos pisos em si, pois há
pisos porcelanatos que são baratos, entretanto possuem certa sofisticação, podendo
causar este fenômeno. Opte por pisos mais simples em lojas que atendam todos os
públicos, sem perder a elegância do espaço (Gurgel, 2017)

48
,

Materiais
Em relação aos materiais, é de suma importância nós termos em mente quais tipos de
materiais nós iremos utilizar dentro das nossas lojas, restaurantes e lanchonetes. Você
precisa avaliar qual será sua intenção em relação a este espaço que você irá projetar. É
um espaço que você quer que as pessoas permaneçam durante mais tempo? Ou é um
local que você quer que as pessoas consumam e vão embora mais rápido para dar
lugar a outras que estão chegando? Quando você concebe um espaço que tenha
bastante madeira, materiais mais pomposos e com cores mais quentes, propicia-se a
criação de um espaço que tende a fazer com que o usuário permaneça, sobretudo se
você inserir sofás ou cadeiras confortáveis. Tome cuidado com o brilho, por exemplo,
se o nosso objetivo é criar uma loja popular e inserimos muito brilho no espaço, por
consequência, o mesmo erro do subtópico passado poderá acontecer. Dará a entender
que o espaço tem uma característica mais elitizada; a mesma coisa acontece quando
nós inserimos decorações clássica ou provençais, pelo fato de remeter a uma
"Gourmetização" do espaço (Prancht, 2004).

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/samples-material-multi-color-oak-wood-
1933908965. Acesso em: 18/08/2021

Figura 5.1 – algumas cores de revestimento de madeira

5.2 Ambientes comerciais – Iluminação e cores

Iluminação

Quanto à iluminação, é necessário que você entenda que o comércio não pode
ter baixa iluminação, nós sempre precisamos fazer com que ele esteja bem iluminado,

49
,

mesmo que ele tenha uma boa quantidade de luz natural, é preciso que nós realcemos
os nossos produtos e também que evitemos sombras (Hunderhill, 2004). Com exceção
de restaurantes específicos que a própria proposta temática já sugira baixa quantidade
de lux, como por exemplo o Restaurante OutBack. Entretanto, com lojas mais
populares não podemos fazer com que elas tenham pouca iluminação geral e grande
iluminação sob os produtos, pois poderá trazer uma impressão de loja mais elitizada, a
não ser que a sua intenção seja essa e que você queira trazer como proposta para o
seu projeto uma loja que atenda pessoas de poder aquisitivo mais alto. Para um
comércio mais neutro, é necessário que busquemos um equilíbrio.

Cores

Conforme a agência Santo Traço (2017), especializada em design de varejo, quando


formos trabalhar com as cores, é interessante que usemos cores primárias ao projetar
lojas populares e com a precificação dos produtos fáceis de visualizar. Lojas populares
não podem ser escuras nem monocromáticas, diferentemente de lojas mais elitizadas,
em que podemos notar o oposto, não são todas, mas podemos observar nestas a
presença de cores secundárias e terciárias, eventualmente monocromáticas ou
temáticas.

Obviamente, cada caso de loja é um caso diferente, precisamos avaliar de forma


singular o público alvo do comércio e quais públicos são mais atendidos dentro dos
contextos gerais de tudo que conversamos até agora. Por fim, vamos finalizar essa
seção com a disposição dos mobiliários.

5.3 Disposição dos mobiliários

A disposição dos mobiliários, irá variar para cada tipo de comércio, mas é possível
analisarmos alguns padrões. Veja bem, a forma na qual projetamos um restaurante, é
diferente de uma loja, que é diferente de uma livraria, mas temos alguns
denominadores comuns como: a fachada, onde trabalhamos o vitrinismo, que nada
mais é do que um elemento no qual nós trabalhamos para a mostrar o produto, atrair

50
,

A disposição dos mobiliários, irá variar para cada tipo de comércio, mas é possível
analisarmos alguns padrões. Veja bem, a forma na qual projetamos um restaurante, é
diferente de uma loja, que é diferente de uma livraria, mas temos alguns
denominadores comuns como: a fachada, onde trabalhamos o vitrinismo, que nada
mais é do que um elemento no qual nós trabalhamos para a mostrar o produto, atrair
o cliente, informar e comunicar, mas sobretudo, conectar e promover a venda, seja
qual for o tipo de produto: de alimentos, roupas, acessórios ou de objetos em geral.

Podemos utilizar vários tipos de vitrines, quando nós tratamos de vitrines externas
temos por exemplo as abertas ou interligadas, as suspensas, a corredor, a fachada, a
mezanino, entre outros tipos. Quanto às internas, temos as vitrines de nicho, aquário,
gôndolas ou as show-case, conhecidas como vitrines balcão (Lourenço, 2011).

Após definirmos quais serão os nossos tipos de vitrine, poderemos começar a pensar
nos nossos caminhos. Os caminhos serão um dos principais elementos importantes do
comércio, porque será por ele que definiremos as disposições dos mobiliários e que
iremos conduzir as pessoas no estabelecimento. Se lembra quando conversamos sobre
setorização alguns blocos atrás? Vamos fazer a mesma coisa agora, porém estamos em
uma escala muito menor, na escala do design de interiores. Vamos setorizar as áreas
das mercadorias de uma loja de roupa masculina, por exemplo, vamos separar as áreas
por categorias, mantendo as roupas sociais em um lugar, e as roupas mais casuais em
outro. Usemos como exemplo os seguintes produtos: camisas sociais, sempre
próximas das calças sociais, dos cintos e dos sapatos (Ebster, 2013), já as calças jeans,
camisas polo, camisetas, podem estar próximos uns dos outros de forma separada e
organizada, e numa outra área da loja os calçados: sapatos, tênis e chinelos. Nós
devemos setorizar a nossa loja para dispor os nossos mobiliários, a mesma ideia pode
se aplicar até em um supermercado, onde temos os setores de higiene, de limpeza,
alimentício (carnes, peixes, frios, frutas, verduras), produtos para pets, entre outros
setores. Cada tipo de loja terá seu tipo de mobiliário pertinente ao uso.

Devemos posiciona-los estrategicamente, facilitando o entendimento do usuário em


relação a compreensão espacial, não obstruindo os caminhos, os produtos precisam
estar claramente apresentados, e tomar cuidado com o posicionamento do caixa,
51
,

muitas vezes é melhor ele não ficar próximo da entrada para não espantar o cliente
pois dependendo do tamanho da fila, ele poderá não querer entrar por achar que irá
demorar para comprar o produto.

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beijing-china-january-2-2014-calvin-
190668140 Acesso em 18/08/2021>

Figura 5.3 – fachada da loja da Calvin Klein

Observe que não temos letreiros na vitrine que irão dificultar a visualização dos
produtos e a cor quente utilizada para proporcionar aconchego, mesmo usando um
piso frio, consegue-se associar a sensação causada aos produtos

5.4 Ambientes corporativos


Os ambientes corporativos veem sofrendo diversas mudanças com o passar do tempo,
no século XX, a principal característica dos primeiros edifícios corporativos eram dar
preferência a quantidade de trabalhadores realizando suas funções em grande escala,
devido a lógica de quanto mais pessoas a empresa tiver mais lucro gerará.
Diferentemente desta, a arquitetura coorporativa do século XXI, preza mais pela

52
,

qualidade à quantidade, fazendo com que os amplos ambientes que tinham grandes
quantidades de mesas padronizadas para o trabalho, se tornassem ambientes menos
superdimensionados e dedicados a atender de forma personalizada e focada no
conforto e no bem-estar do funcionário.

Hall e sala de espera

Em um projeto corporativo, assim como em qualquer projeto, nós temos as áreas que
devemos conhecer.

Vamos começar por onde nós entramos, o hall e a sala de espera. Os usos dessas áreas
nada mais são do que a própria espera, o atendimento de triagem, a utilização de
notebooks e a leitura de jornais e revistas. Recomenta-se uma área destas por andar e
2m² por assento, ela deverá estar posicionada no acesso do pavimento, de
preferência, próxima aos sanitários. Pode ser usada como uma ferramenta de branding
e identificar a personalidade da empresa logo quando o visitante chega e precisará de
uma atenção especial, exaltando a identidade da firma. É importante que tenha
mobiliários confortáveis e atrativos, e é preciso dar bastante importância para os locais
de carregamentos de notebooks, celulares e o posicionamento do roteador de Wi-Fi.

Circulação

Em relação à circulação do projeto corporativo, deveremos pensar na transitoriedade


de pessoas e a respeito da movimentação entre ambientes, sendo interessante que
tenhamos espaços de interações rápidas e informais. Geralmente a área que
ocupamos em relação à circulação varia de 10% até 15% em relação a área total do
projeto, e no mínimo, temos que fazer com que a circulação tenha 1,20m.

A circulação não necessariamente precisará de luz natural, mas precisamos ter um


projeto de sinalização presente para facilitar a orientação do cliente.

53
,

Áreas de trabalho

Em relação às áreas de trabalho, as principais perguntas que nós devemos fazer


inicialmente são: como irá funcionar o uso do escritório? Os funcionários farão saídas
de campo? Trabalharão remotamente quando desejarem? As pessoas trabalham em
meio período ou em período integral dentro do escritório? Qual será o número de
funcionários? Existe atendimento ao público? Recebem-se clientes? Entre outras
perguntas.

Esses são alguns dos questionamentos básicos que nós devemos responder para
conseguir conceber a circulação e a setorização da área de trabalho para os
funcionários. Precisaremos elaborar um formulário de briefing para organizar todas
essas ideias em relação aos metros quadrados que temos disponíveis e sistematizar o
programa de necessidades.

Em relação aos mobiliários das áreas de trabalho, temos as chamadas estações, nas
quais existem vários tipos, cada uma atendendo um tipo de necessidade da empresa,
como por exemplo, se você preferir que o funcionário foque no trabalho, recomenda-
se as estações celulares ou de cabine às estações lineares, que apesar de serem mais
comuns, possuem uma característica integrativa com os demais trabalhadores,
entretanto, são mais distrativas por não terem fechamentos visuais. Nos nossos
materiais dinâmicos, conversaremos mais sobre suas características.

Vamos finalizar este bloco entendendo sobre as áreas de descanso e de lazer, e em


seguida, faremos uma breve revisão sobre unidades habitacionais.

54
,

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-business-people-working-office-
concept-374127247> Acesso em 18/08/2021

Figura 5.4 – estação linear, mais integração e eventualmente menos foco entre os
funcionários

Ambientes de descanso corporativos

As áreas de descanso são destinadas aos funcionários para descansarem durante os


períodos de intervalos e também podem ser utilizadas em pequenos eventos da
empresa. O layout pode ser composto de mesas, bancos, pufes, espreguiçadeiras,
poltronas e seus principais benefícios são: a promoção ao relaxamento dos
trabalhadores, sua valorização, o uso multifuncional deste espaço e o fato de poder
estar integrado com a área de alimentação. Se essa área tiver um certo grau de
investimento, ela poderá ser um local importante para a manutenção do clima interno
da empresa (Meel, 2012).

55
,

Ambientes de lazer corporativo

Para Meel (2012), as salas de lazer deste tipo de ambiente se caracterizam pela
disposição das atividades e usos por meio da interação informal entre os funcionários,
o relaxamento dos colegas de trabalho, a disponibilidade de assistirem televisão e a
possibilidade de jogarem diversos tipos de jogos. Quanto às dimensões, elas acabam
variando conforme o orçamento disponível do cliente e o dimensionamento dos
equipamentos (mesa de bilhar, ping-pong, pebolim, mesa para jogos de tabuleiro,
etc.). O Local no qual ela deverá estar localizada, precisa ser próximo à área de
alimentação e de descanso, e distante dos espaços abertos de trabalho.

5.5 Unidades habitacionais

Projetarmos unidades habitacionais, não são muito diferentes de projetar uma casa,
devemos pensar nos ambientes principais como: salas, cozinha, área de serviço,
quartos, banheiros e talvez um escritório. Obviamente, na maioria das vezes teremos
limitações de espaços e a exclusão ou redução de algumas áreas, como uma possível
área de lazer de 25m² de uma casa, que diminuirá para uma sacada de 5m². Mas a
estrutura de setorização basicamente será a mesma: áreas íntimas, sociais e de
serviço, entretanto, quando reformamos, deveremos seguir o estatuto do condomínio,
porém como nós começaremos o projeto do zero, isso não existirá este documento.

É interessante que nós tenhamos ao menos 3 tipologias de pavimentos, pois isso


permitirá que façamos com que o projeto tenha uma forma mais interessante do que
muitos empreendimentos que apresentam uma ou duas tipologias tornando o projeto
monolítico esteticamente. Outra questão que você precisa se atentar, tratando-se da
área interna, é a acessibilidade, verificar se a circulação está condizente com o
desenho universal e as normas da ABNT, sobretudo em algumas das unidades
habitacionais que você terá que destinar a pessoas com deficiência. Nos materiais
dinâmicos, nós trataremos de forma descritiva todas essas questões.

56
,

Conclusão

Vale lembrar que para aprender a realizar um determinado ambiente ou projeto, é


necessário que você analise outros trabalhos, de forma minuciosa, prestando atenção
em cada detalhe de ambientes já construídos, para fazer com que o seu repertório
aumente. Conversamos neste bloco a respeito de diretrizes de projeto, tanto
formativas quanto informáticas, mas você precisa entender que para ter um
conhecimento completo sobre um determinado programa arquitetônico, não basta
somente a teoria em si, mas também a parte prática, que na arquitetura, na maioria
das vezes se caracteriza de forma inicial pela observação, a fim da obtenção de
repertório para maior fluidez no desenvolvimento do projeto.

Agora que você possui um conhecimento geral sobre as áreas do nosso projeto a ser
desenvolvido, vamos para o bloco seis, onde iremos finalizar os últimos conteúdos
para que você tenha sucesso no seu projeto.

REFERÊNCIAS

EBSTER, Claus; GARAUS, Marion; organização Naresh Malhotra. Design de loja e


merchandising Visual - Criando um ambiente que convida a comprar - tradução
Arlete Simille. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva,2013

GURGEL, Miriam. Projetando espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas


comerciais. 6.ed.rev. ed. São Paulo: SENAC-SP, 2017

HUNDERHILL, Paco. A magia dos shoppings: como os shoppings atraem e seduzem,


tradução Ana Beatriz Rodrigues. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

LINDSTROM, Martin. Verdades e Mentiras sobre por que compramos. Editora Harper
Collins Brasil, 1º edição. Rio de Janeiro, 2017.

57
,

LOURENÇO, Fátima; SAM, José Oliveira Sam. Vitrina: veículo de comunicação e venda.
São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.

PRANCHT, Klaus. Tiendas Planificación y diseño. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,


2004.

SANTO TRAÇO, Design para lojas populares, 2017. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=-TGHahnwpvY>. Acesso em: 11/06/2021.

MEEL, Juriaan van; MARTENS, Yuri. Como planejar espaços de escritórios. Guia prático
para gestores e designers. Editora GG Brasil. 2012

58
,

6 EDIFÍCIOS MULTIFUNCIONAIS

Os edifícios multifuncionais, quando bem projetados, estão atrelados a serem uma


extensão da rua, uma extensão da cidade. O paisagismo aplicado à edificação
multifuncional, tem como objetivo ser o instrumento de conectividade entre o prédio
e a(s) rua(s). Entretanto, em cenários como nos centros de São Paulo ou do Rio de
Janeiro, onde há um grande adensamento construtivo, muitas vezes não é possível
trabalhar um paisagismo horizontal, optando-se com frequência pela verticalidade.
Nas demais capitais e cidades interioranas, há mais espaço, possibilitando explorar ao
máximo aquilo que o paisagismo pode oferecer.

É necessário que você compreenda que nós estamos trabalhando com várias funções
em um mesmo edifício, então é necessário que atendamos tanto os indivíduos que
trabalham no prédio, tanto os que chegam para fazer compras ou simplesmente
passear.

Vamos examinar cada tipo de situação de forma isolada, e no final deste bloco, você
saberá qual é a melhor forma de se projetar o paisagismo para esse tipo de projeto.

6.1 O paisagismo nas edificações multifuncionais

Em um edifício multifuncional nós podemos ter diversos usos como: comerciais,


corporativos, habitacionais, educacionais, de lazer, entre outros. É importante que
você entenda que haverá diversos motivos para pessoas irem e virem ao seu edifício, e
por essas inúmeras razões, temos que projetar o paisagismo do nosso edifício de
forma que atendamos a todos os tipos de público. Vamos começar discutindo
questões básicas sobre o processo do projeto de paisagismo em si, e conforme o bloco
for avançando, iremos discutindo sobre a intenção do paisagismo para o uso
corporativo e comercial.

59
,

6.2 Introdução ao paisagismo para espaços multifuncionais

Vamos conversar nessa seção sobre a importância de nós trabalharmos o paisagismo


nos nossos espaços multifuncionais. Em primeiro lugar, é importante que nós
arborizemos o nosso espaço, pois quando arborizamos, nós geramos sombras e
também interceptamos águas da chuva, que é um dos processos de drenagem mais
importantes. A implantação de árvores nos ajuda servindo como barreira contra
luminosidade, ventos, ruídos e também atrai a natureza ao espaço multifuncional,
trazendo pássaros e enriquecendo o ecossistema urbano, gerando o aumento da
biodiversidade, tendo a função de um corredor ecológico para a nossa edificação e
trazendo benefícios estéticos para o nosso projeto.

Precisamos somente nos atentar a algumas leis, como o Decreto nº 52.903/12 que diz
a largura mínima de uma calçada equivalente a 1,20m e que deveremos destina-la a
passagem de pedestres de forma exclusiva. Há também ao Decreto nº 45.904/05 que
se refere a uma largura mínima de 70cm ao lado desta passagem de pedestres, que
deverá ser destinada à vegetação e mobiliários urbanos, e é neste momento que nós
traremos as soluções para o nosso contexto projetual.

Quando formos planejar o paisagismo da nossa edificação multifuncional,


precisaremos tomar cuidado com aquilo que nós conversamos já no primeiro módulo,
referente aos recuos do terreno para não obstruirmos nada. O Decreto nº 45.904/05
como havíamos dito, irá destinar que a primeira faixa em relação a rua será usada para
árvores, postes de iluminação, sinalização de trânsito, lixeiras, caixas de correio,
rampas de acesso, entre outros elementos citados no decreto. A segunda faixa será
para os pedestres e por fim, haverá uma última, a terceira faixa, destinada a mesas de
bar, vegetação, rampas, toldos, e ela não terá largura mínima para isso.

6.3. Projetando áreas externas em edifícios multifuncionais

Para nós iniciarmos este tópico, em primeiro lugar você precisa entender que ao
projetarmos o paisagismo de um edifício multifuncional, precisamos fazer com que os

60
,

espaços sejam reconhecíveis, isso vale tanto para a clareza nas funções quanto para a
sua identidade. Conforme as funções que criarmos, precisaremos trabalhar com as
sensações e as informações visuais, fazendo com que nós cheguemos a este resultado
de reconhecimento das atividades propostas. Para isso, deveremos definir zonas, a fim
de fazermos uma conexão entre as mesmas, selecionando aquelas que ficarão mais
isoladas (caso haja) e as principais. Os locais que tiverem ligação entre si, deveremos
fazer com que o indivíduo que estará frequentando o local compreenda a relação
entre o conjunto, mesmo que de forma indutiva. Os caminhos e os espaços deverão
estar seguindo uma hierarquização, fazendo com que o usuário seja indicado e
conduzido para determinados espaços, conforme as nossas intenções. Vamos agora
conversar um pouco sobre a hierarquização no paisagismo.

A aplicação da hierarquização no paisagismo para a edificação multifuncional

A hierarquização dos espaços no paisagismo é conseguir perceber qual espaço que


efetivamente deve ganhar destaque, que será trabalhado de maneira que as pessoas
que estejam no local percebam que ele é importante, muitas vezes até pelo contraste
do espaço de onde ela vem vindo. A pessoa vem de um lugar e com o contraste, nós
criamos um segundo espaço que possui uma identidade mais marcante, e que nos
proporciona fazer com que o usuário identifique e reconheça este lugar mais
rapidamente. Se todos os espaços tiverem o mesmo nível, a mesma sofisticação, com a
mesma complexidade, faz com que nós não percebamos o que é importante e o que
não é (principal ou secundário), não reconheceremos os elementos e não saberemos
onde nós chegamos, então por isso precisamos trabalhar estas diferenças na leitura do
projeto.

61
,

Fonte: MALAMUT, Marcos. Paisagismo. Projetando espaços livres. Editora Livro. 1º Edição, 2011

Figuras 6.3 e 6.3.1 – condução do usuário por meio de caminhos estabelecidos pela
vegetação

6.4 Características espaciais do paisagismo

Conforme Malamut (2011), caracterizam-se quatro tipos de espaços nos quais nós
deveremos nos preocupar em conceber adequadamente, são os espaços de chegada,
espaços de estada, espaços de passagem e por fim os espaços focais. Para isso,
deveremos elaborar relações que facilitem a criação de sensações e percepções no
local. Os instrumentos que nós temos para realizar este trabalho são: a textura, a
transparência, a opacidade, a cor, entre outros elementos. Então em um primeiro
momento, nós vamos planejar os acessos e os caminhos, em seguida, poderemos
pensar nos pontos focais. Iremos definir os principais pontos de observação da
paisagem, pensar na hierarquia, como dito anteriormente, considerando fatores
funcionais e perceptivos, e por fim, definiremos os volumes que nós vamos utilizar.
Não necessariamente, precisaremos pensar nas espécies dos arbustos, forrações,
árvores ou gramados que iremos utilizar neste momento dos volumes, apenas nos
preenchimentos espaciais.

62
,

Diagrama conceitual e detalhamento

Após nós termos elaborado os nossos primeiros rascunhos, partiremos para o croqui
onde sugere-se a elaboração do diagrama conceitual para começarmos a entender as
materialidades e a circulação do nosso projeto de paisagismo. A partir dele, por meio
de simbologias criadas por nós mesmos, podemos representar várias informações para
indicar a circulação de pedestres, pontos de acessos, pontos de visualização e de
contemplação, paredes, cortinas, barreiras, os usos de cada local do projeto, volumes,
cores e texturas, entre outros elementos representativos. Observe a imagem abaixo,
retirada do livro Landscape Graphics: Plan Section and Perspective Drawing of
landscape spaces, de Grant Reid.

Fonte: REID, Grant W. Landscape graphics: Plan, section and perspective drawing of landscape spaces.
FASLA, 2002.

Figura 6.4 – Diagrama Conceitual

Após concluído estes dois primeiros momentos, ao chegarmos na finalização do


projeto de paisagismo, você poderá detalhar tanto pela implantação quanto pelo

63
,

corte, as informações mais importantes que você deverá transmitir, que serão as
alturas das vegetações e de suas copas (quando forem árvores), o nome, a espécie e a
correta representação gráfica de acordo com as suas formas, volumes, cores e texturas
(Doyle, 2002).

6.5 Paisagismo para o espaço corporativo e comercial

Os edifícios corporativos em si muitas vezes são feitos de concreto, vidro e tijolos,


porém com um projeto de paisagismo adequado poderemos gerar vida para esse
grande elemento cinza. É muito importante que nós nos coloquemos no lugar do
indivíduo que trabalhará no edifício, então precisamos proporcionar espaços serenos,
tranquilos, onde os funcionários poderão se encontrar com os seus colegas, relaxar se
distraindo com o seu celular, com um livro, ouvindo música, aproveitando o almoço
com um vento agradável. O paisagismo no espaço corporativo, na maioria das vezes,
serve como um cartão de entrada para quem busca um escritório para locação e caso
você projete um espaço funcionalmente e esteticamente interessante, um desenho
externo que atraia a atenção de quem está adentrando ao edifício já trará ótimos
olhares ao usuário e beneficiará o seu cliente, no caso, a empresa para qual você
estará trabalhando para a construção do empreendimento.

A criação de um caminho primário bem definido, é de suma importância para expor


clareza na circulação do projeto, porém é necessária a criação de espaços mais
reservados e acolhedores para que o trabalhador consiga se sentir mais à vontade, não
podemos fazer com que estes locais tenham tanta permeabilidade visual, é necessário
que nós os tapemos com arbustos mais encorpados, ou até mesmo árvores,
diferentemente nos caminhos primários, onde é interessante que tenhamos clareza
visual para a própria identidade do projeto e para a valorização da fachada.

Para trabalharmos a entrada, flores coloridas podem ser uma boa opção, pois os
espaços corporativos tendem a ter uma característica muito acinzentada, e elas
chamam a atenção do usuário e trazem alegria para o ambiente. Entretanto, é
necessário que não atrapalhemos a sinalização do local. Caso utilize, procure as flores

64
,

nativas da sua região, assim como os demais elementos que serão trabalhados nos
elementos verdes do seu paisagismo (forrações, arbusto e árvores).

Fonte: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/moskvacity-bottom-view-skyscrapers-


center-russian-1714622212>. Acessado em 18/08/2021

Figura 6.5 – características comuns dos edifícios corporativos na


contemporaneidade, pele de vidro, estrutura de aço e concreto.

Antes mesmo de pensar nos espaços secundários como os ambientes mais íntimos,
devemos definir uma área em comum para que todos os trabalhadores possam
usufruir da mesma, para fazerem reuniões ao ar livre, interagirem, lancharem, entre
outras ações. É pertinente a colocação de bancos em locais estratégicos, assentos
simples, próximos de trepadeiras, árvores, arbustos, pensando não somente no
quesito da intimidade, mas também em proporcionar um local sombreado. É valido
também a inserção de pontos focais para atrair transeuntes ao espaço, sobretudo ao
nosso edifício que terá uma característica multifuncional.

Conforme uma empresa chamada Grupo VG (2018), que é especializada em


paisagismo, a vida na cidade vem se tornando muito estressante, o paulistano por

65
,

exemplo, passa muitos dias por ano se deslocando na cidade, essa repetição gera
estresse e acaba refletindo na produtividade e principalmente na qualidade de vida
das pessoas, por isso muitas empresas estão mudando seus escritórios e comércios
para que seus colaboradores queiram estar lá. O ambiente mais agradável gera mais
interação, conexão, foco e beneficia a qualidade de vida de quem produz. Um
escritório mais verde, ajuda o profissional permanecer fisicamente, mentalmente e
emocionalmente mais envolvido com o seu trabalho.

Em palavras mais abrangentes, além de trazer a responsabilidade ambiental para o


comércio ou espaço corporativo, o paisagismo proporciona o aumento da qualidade de
vida dos funcionários de uma empresa. Há inúmeros espaços que vem trabalhando o
paisagismo tanto internamente quanto externamente em suas firmas, fazendo com
que um conforto ambiental agradável venha ao encontro dos indivíduos, seja para o
visitante ou para os funcionários, além dos benefícios estéticos que os mesmos podem
gerar, se corretamente projetados (Neto e Santos, 2009)

Conclusão

Este módulo nos possibilitou ter conhecimentos básicos para elaborar um projeto de
paisagismo para uma edificação de uso misto. Tendo o foco na análise do funcionário
dentro deste espaço, entendendo os principais elementos a serem considerados e
planejados de acordo com o contexto projetual e a compreensão do processo de
projeto de paisagismo. Aproveito a conclusão para parabenizar desde já, aos alunos
que chegaram até o final da trilha de aprendizagem, e desejo-lhes boa sorte na
elaboração do projeto. Um abraço a todos!

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,

REFERÊNCIAS

MALAMUT, Marcos. Paisagismo. Projetando espaços livres. Editora Livro. 1º Edição,


2011.

DOYLE, Michael. Desenho a Cores. Técnicas de desenho de projeto para arquitetos e


designers de interiores. 2º edição, Editora Bookman, 2002.

WATERMAN, Tim. Fundamentos de Paisagismo. Porto Alegre, editora bookman, 2011.

Grupo VG. Empresa de Paisagismo Corporativo e Urbano. Disponível em:


<https://www.verticalgarden.com.br/empresa-paisagismo-corporativo>. Acesso em:
14/06/2021.

NETO, Afonso; SANTOS, Ronaldo. A importância do paisagismo quanto a promoção de


qualidade de vida. Cascavel, 2009, TCC. Disponível em:
<https://www.fag.edu.br/upload/graduacao/tcc/522a518a0a3fd.pdf>. Acesso em:
09/06/2021.

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