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ANÁLISE PRELIMINAR DE INSOLAÇÃO E AMBIÊNCIA LUMINOSA EM

EDIFICAÇÃO OU CONJUNTO URBANÍSTICO: COM AUXÍLIO DE SIMULAÇÃO


DO SOL COM O PRÓPRIO SOL, MAQUETE, REGISTRO FOTOGRÁFICO
E CARTA DE SOMBRAS

1. Simulação do Sol com o próprio sol.

A simulação do sol com o próprio sol pode ser utilizada com ao menos três propósitos:
a) estudo da insolação de uma edificação ou conjunto urbanístico quanto à exposição
aos raios solares diretos e sombras próprias provocadas pela sua orientação ao sol durante o
ano em determinado lugar e clima;
b) estudo da eficiência da utilização de dispositivos de controle dos raios solares –
como beirais, quebra-sóis horizontais e verticais, ao serem colocados frente às aberturas de
cada fachada; e
c) estudo qualitativo da luz natural captada pelas aberturas – partes translúcidas de
portas e janelas, de um ambiente típico de uma edificação, para visualização e registro
fotográfico de como se dá a configuração do ambiente luminoso produzido pela
distribuição da luz do sol direta e difusa captadas, com auxílio de uma maquete do design
interior deste ambiente, realisticamente representada em escala 1/10, 1/20 ou 1/25,
representando-se nela todas as cores, texturas e posicionamento do mobiliário no espaço
para ele pensado.

Para a realização destas simulações utilizando o próprio sol para sua simulação é necessário
utilizar-se de maquetes que não sejam afetadas facilmente pelo calor de sua exposição aos
raios solares; utilizando-se de uma carta de sombras da latitude do lugar; e uma câmera
fotográfica de razoável qualidade para registro das imagens exteriores e interiores –
prevendo-se aberturas laterais protegidas para coleta destas fotografias no caso do estudo de
ambiências luminosas. Também um luxímetro pode ser utilizado para traçar-se o perfil da
curva de iluminação de luz natural ao adentrar uma edificação e formar uma ambiência
luminosa.

2. O que é uma carta de sombras

A carta de sombras ou diagrama de sombras de um lugar de latitude determinada, é uma


representação geométrica do comprimento das sombras da luz solar direta produzidas por
uma haste vertical de comprimento d num plano horizontal. O CSTB (1971) tem um
trabalho publicado em que mostra um conjunto destas cartas para latitudes do hemisfério
norte.

As linhas curvas resultantes e apresentadas nessa carta são das principais efemérides do sol:
solstício de verão (curva A), solstício de inverno (curva G) e equinócios de outono e
primavera (curva D).

Há ao menos dois tipos de Carta de Sombras: a de desenho universal – a chamada sundial


por LAM (1986) página 190, que pode ser utilizado para qualquer latitude e lugar, mas,
mudando a sua base para adaptá-la à latitude do lugar do projeto; e o outra Carta de
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auxílio de Simulação do Sol com o próprio Sol, Maquete, Registro Fotográfico e Carta de Sombras.
Prof. Paulo Marcos Paiva de Oliveira, 2019

Sombras foi apresentada pelo CSTB (1971). Esta utilizada por Lam (1986) tem o
inconveniente de apresentar um volume tridimensional que pode também produzir sombras
indesejáveis na edificação em estudo, além de ter que ser adaptada para cada latitude do
lugar. Já as cartas de sombras do CSTB podem ser já utilizadas em um plano horizontal só
que em uma versão de carta apropriada para cada latitude em estudo no projeto e sem
volume que sobressaia na maquete.

Originalmente as cartas do CSTB (Centro Científico e Tecnológico da Construção da


França) – que indico foram produzidas para cada latitude do hemisfério norte; mas, como
para sua utilização no hemisfério sul, basta inverter o norte com o sul e invertendo-se aas
posições dos solstícios, coisa que o fizemos adaptando-a em tamanho e indicação do norte
nas cartas apresentadas ao final deste artigo. Esse tipo de carta é uma transposição simples
e geométrica decorrente fundamentalmente das experiências de registro, medições e
anotações efetuadas por astrônomos renascentistas dentro das catedrais de sua época
(Heilbron, 1999, p.190).

Observação: O relógio solar também fornece uma carta de sol. Entretanto, como objetos
tridimensionais mais volumosos não se prestam muito bem à análise e registro da insolação
junto a maquetes, posto que suas sombras se confundirão com as do edifício projetado,
dificultando a análise pretendida.

2.1 Como utilizar as cartas de sombras do CSTB

Mesmo que originalmente este tipo de carta tenha sido produzida para ser utilizada no
estudo dos projetos do edifício em geral, ela hoje é apenas indicada para estudos de
insolação com auxílio de modelos tridimensionais físicos – as maquetes, já que
posteriormente a ela surgiu a carta solar estereográfica, esta sim, universalmente aceita
como a mais indicada para o estudo no projeto de representação bidimensional.

Os estudos de simulação do sol com o próprio sol tanto podem ser utilizados para análise e
proposição de soluções de controle do sol da forma total e fachadas de um edifício ou plano
urbanístico - com auxílio de maquetes físicas expostas a esta simulação do sol, quanto para
o estudo qualitativo da luz natural com sua penetração no interior de espaço arquitetônico
orientado adequadamente aos caminhos solares de seu sítio.

2. Montagem da carta de sombras

2.1 Colar a carta num cartão rígido, recortando o excesso de papel;


2.2 Fixar uma haste vertical de comprimento d (dimensão que deve ficar visível acima
do plano da carta) no ponto central aos círculos de altura 10o e 45o;

Para isto, cortar um alfinete ou palito de dente de seção circular com um


comprimento conforme indicação na própria carta, de modo a fixá-lo verticalmente
no ponto indicado neste diagrama, ficando para fora do cartão a dimensão indicada
como d. Utilizar cola branca para fixar a mesma. Ter extremo cuidado para que esta
haste fique perpendicular ao plano da carta (uma forma de conseguir isto é utilizar
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um esquadro como guia na hora da fixação da haste). Deixar a cola secar e cuidar
para não danificar este aparelho. O melhor é guardá-lo convenientemente numa
caixa quando não estiver sendo utilizado.

3. Roteiro de utilização

3.1 Utilizar a carta de sombras do CSTB com a latitude do lugar do projeto, fixando-a
num plano horizontal da maquete com o norte da carta paralelo e de acordo com o
norte do projeto.
3.2 Elaboração da maquete volumétrica de projeto de conjunto urbano em escala por
exemplo de 1/1000, e em maquete de edificação, em escala apropriada, utilizando-
se de material resistente ao calor da insolação tendo em vista não serem deformadas
quando submetidas aos raios solares da simulação; o ideal é utilizar de uma maquete
impressa em 3D com resina plástica de características recomendáveis.
3.3 Submeter este conjunto de maquete e carta à luz direta do sol, fazendo coincidir a
sombra da haste vertical de comprimento d fixada no ponto central dos círculos de
alturas de 10o e 45o representados nesta carta de sombras, com a hora da efeméride
do sol que se quer estudar. Uma alternativa à simulação do sol com o próprio sol
anterior, é utilizar uma fonte de luz pontual, mas, com a relativa impropriedade de
fornecer raios divergentes, diferentemente dos raios do sol que são praticamente
paralelos.
Recomendação: em princípio, realizar este estudo de simulação solar e registro
visual da insolação às 9, 12 e 15 horas de cada um dos solstícios – de verão e de
inverno - e equinócios – de outono e primavera - representados na carta solar em
estudo. Observação: como as duas linhas representativas do caminho do sol nos
equinócios são coincidentes, pode-se registrá-las fotograficamente somente uma
vez.

3.4 Observar e registrar fotograficamente a luz e as sombras resultantes na maquete


volumétrica como sendo aquelas que ocorreriam no projeto caso construído. O
registro das manchas luz e sombras sobre a maquete pode ser efetuado com desenho
de observação, câmara de celular em imagens sequenciais e/ou vídeo ou qualquer
câmara fotográfica.

Assim, posicionar a maquete sob o “sol” em cada curva de solstício de verão,


inverno e equinócios, nas horas de 8, 9, 12, 15, 16 e 17 horas, fazendo a sombra da
haste central da Carta de Sombras com a hora do solstícios e equinócios e assim
fotografando a maquete em cada uma destas horas.

ATENÇÃO: Somente a observação sem registro é desaconselhável em virtude da


dificuldade em se fazer comparações entre momentos de insolação diversificados
durante as datas principais do ano – solstícios e equinócios.

Observação: no caso de se utilizar de fotografias ou filme de vídeo da maquete para


registro e avaliação visual, só é possível registrar com qualidade apta para avaliação
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visual as imagens coletadas sem flash, uma vez que este anula as sombras
produzidas pelo sol ou pela luz simuladora do mesmo. As câmaras mais novas de
um mínimo de qualidade para utilização técnica, dispõem de um botão para acionar
manualmente o flash independentemente da luz disponível no local.

5. Análise do material visual coletado

A análise visual dos resultados da insolação registrados a partir da maquete volumétrica


pode então ser procedida. Esta análise deve ser estendida para o projeto em cada uma das
estações e conseqüentemente durante todo um ano. Neste processo, também deve ser
considerada a caracterização do clima do lugar e sua interferência na insolação (tipos de
céu e regime das chuvas). Considerar os estudos ambientais bioclimáticos, realizados
introdutoriamente à pesquisa.

Nesta análise deve ser avaliada:

A – a(s) função(ões) predominante(s) a que se destina(m) a arquitetura projetada;


B – para onde estão orientadas as fachadas e suas possíveis aberturas;
C – como estão posicionados funcionalmente os ambientes e os elementos
compositivos do projeto em relação à insolação que o estudo permitiu visualizar;
D – que alterações devem ser propostas no projeto para que situações de conforto
térmico e visual-luminoso possam ser contempladas. Também especular a
reorganização espacial dos ambientes, com o objetivo de que as funções neles
desenvolvidas possam ser melhor posicionadas frente à luz solar.

4.5 Apresentação do trabalho

Em pranchas de papel no máximo A3. Com texto explicativo da análise, além das
fotografias - imagens visuais coletadas, analisadas, explicadas e referenciadas..

4.6 Carta de Sombras para Brasília, Lat. 16o Sul, adaptada para Brasília por Oliveira,
P. Marcos, 2001, sob original do CSTB (1971).
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Observação: uma carta solar serve para estudos em locais que estejam um grau a mais ou um grau
a menos da latitude que vem marcada nesta, devido a que suas diferenças práticas são diminutas.
Assim, esta mesma carta de sombras pode ser utilizada para todo o Distrito Federal e até partes de
seu entorno geográfico.

4. Referências Bibliográficas
CSTB: Diagrammes Solaires.Volume 124 de Cahiers du Centre Scientifique et Technique
du Batiment. Paris, CSTB – Centre Scientifique et Technique du Batiment, 1971
HEILBRON, J. L.: “The Sun in the Church.” In: THE SCIENCES, New York
Academy of Sciences,pp 29-35; SEPTEMBER/OCTOBER 1999.
LAM, William: Sunlighting – As formgiver for Architecture. New York, Van Nostrand
Reynold Company, 1986.
OLIVEIRA, Paulo: Análise Preliminar de Insolação de Edifício -
Roteiro de Estudo e Análise Preliminar de Insolação de Edifício com auxílio da Carta de Sombras,
Maquete e Simulação do Sol com o próprio Sol com Registro fotográfico. Texto de uso interno do
Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo ,a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de Brasília. Brasília, 2001, revisado em 2003.

5. Notas:
5.1 Este artigo foi originalmente produzido quando o autor era professor da
Universidade de Brasília, para utilização interna na sua Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo. Aqui é aprimorado e referenciado.

5.2 A carta solar estereográfica também deve ser utilizada em etapas posteriores
do projeto para estudos mais detalhados das proteções e controles da insolação
da edificação ou plano urbanístico do lugar. Em próximo texto será estudada.

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