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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM

ISABELLA MIOLA MARTINELLO

CENTRO DE REABILITAÇÃO MOTORA

MARINGÁ
2017
ISABELLA MIOLA MARTINELLO

CENTRO DE REABILITAÇÃO MOTORA

Trabalho apresentado como requisito parcial para


obtenção de aprovação na disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso, no Curso de Arquitetura e
Urbanismo, na Universidade Estadual de Maringá, sob a
orientação do Prof. Msc. José Carlos Mendes Cardoso

MARINGÁ
2017
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos pacientes com quem tive contato da


Instituição ANPR, que me inspiraram a pensar o projeto de forma
humana e especial, e a todos os que me deram suporte nessa trajetória.

AGRADECIMENTOS

À minha mãe e meu pai, meus maiores apoiadores e incentivadores

Ao meu irmão Frederico, pelos conselhos e por todo aprendizado e


compartilhamento acerca da área da saúde

Às minhas amigas Caroline, Julia, Beatriz e Marina, por todo


companheirismo durante essa jornada

Ao meu orientador Prof. Ms. José Carlos Mendes Cardoso, por todo
ensinamento

Ao professor Dr. Igor José Botelho Valques, pela possibilidade de


contato com a arquitetura da saúde e seus ensinamentos

Ao professor Dr. Renato Leão Rego, pelas considerações prévias que


me fizeram avançar

Aos profissionais da ANPR, por me mostrarem a importância dos


cuidados com a reabilitação
‘’Se as coisas são inatingíveis…ora! Não
é motivo para não querê-las… Que tristes
os caminhos, se não fora A presença
distante das estrelas!’’

Mário Quintana

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LISTA DE FIGURAS Figura 21: Rede Estadual de Assistência – Linha de Cuidado
“Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência Física” .................... 35
Figura 01: Quarto internação infantil .............................................. 17
Figura 22: Rede Estadual de Assistência – Linha de Cuidado
Figura 02: Uso das cores em corredor do Sarah Salvador ............. 18 “Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência Física” .................... 36
Figura 03: Rede Sarah Fortaleza ................................................... 19 Figura 23: Levantamento clínicas de ortopedia de Maringá ............ 37
Figura 04:Guia para a Construção de Edifícios voltados a Saúde – Figura 24: Esquema proximidade e conexão do terreno com o
chegada ....................................................................................... 20 Hospital Santa Rita de Maringá ..................................................... 37
Figura 05: Guia para a Construção de Edifícios voltados a Saúde – Figura 25: Esquema levantamento do entorno do terreno .............. 38
circulação. .................................................................................... 20
Figura 26: Vista do terreno pela avenida Carlos Borges ................. 38
Figura 06: Guia para a Construção de Edifícios voltados a Saúde –
contemplação ................................................................................20 Figura 27: Vista do terreno na esquina entre avenida Carlos Borges
e a avenida Luiz Teixeira Mendes .................................................. 39
Figura 07: Pátio que interliga a Escola e a Reabilitação da ANPR 25
Figura 28- Vista do terreno pela Luiz Teixeira Mendes. ................. 39
Figura 08: Corredor da área escolar da ANPR ............................... 25
Figura 29- Relevo natural do terreno. ............................................ 39
Figura 09: Depósito de cadeiras e materiais................................... 26
Figura 30: Tabela uso e ocupação do solo referente ao terreno
Figura 10: Sala de Fisioterapia ...................................................... 27 escolhido ...................................................................................... 40
Figura 11: Oficina Ortopédica ........................................................ 27 Figura 31: Esquema Programa de Necessidades de um Centro de
Figura 12: Esquema de iluminação e ventilação ............................ 29 Reabilitação Motora ....................................................................... 43
Figura 13: Vista aérea Sarah Lago Norte ...................................... 29 Figura 32: Fluxograma proposto .................................................... 43
Figura 14: Jardim Sarah Lago Norte .............................................. 29 Figura 33: Vento predominante durante o dia de Maringá ............. 45
Figura 15: Planta Sarah Lago Norte ............................................... 30 Figura 34: - Esquema concepção espacial do projeto .................... 45
Figura 16: Sheds no bloco de reabilitação ..................................... 31 Figura 35- Níveis propostos para o projeto .................................... 46
Figura 17: Implantação Sarah Pombeba ....................................... 32 Figura 36- Zoneamento proposto ..................................................47
Figura 18: Planta Sarah Pombeba ................................................. 32 Figura 37 – Fluxo interno ao projeto .............................................. 50
Figura 19: Regionais de Saúde do Paraná .................................... 34 Figura 38: Esquema de ventilação bloco de
reabilitação ................................................................................... 52
Figura 20: 15º de Saúde do Paraná ............................................... 34

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Figura 39: Esquema de ventilação
circulação ..................................................................................... 52
Figura 40: Esquema de ventilação área de
espera. ......................................................................................... 52
Figura 41: Espera do setor de imagem ..........................................53
Figura 42: Corredor de distribuição principal.................................. 54
Figura 43: Vista do edifício de reabilitação a oeste ........................ 54
Figura 44: Vista do edifício de reabilitação a leste. ......................... 54
Figura 45: Layout da biblioteca. ..................................................... 55
Figura 46: Perspectiva espaço central do projeto ........................... 55
Figura 47: Vista do projet pela av. Luiz Teixeira Mendes. .............. 56

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O terreno ....................................................... 36
5.3 Leis específicas .......................................................... 39
SUMÁRIO
6. O projeto ............................................................................ 41
1. INTRODUÇÃO 6.1 Programa de Necessidades. ....................................... 42
1.1 Introdução ...................................................................... 8 6.2 A escolha da implantação. .......................................... 44
1.2 Justificativa da proposta ................................................ 9 6.3 O Partido Arquitetônico. .............................................. 46
2. A arquitetura da área da saúde ..................................11 6.4 A definição dos níveis. ................................................ 46
2.1 O sistema de saúde brasileiro e a reabilitação ............. 12 6.5 A organização espacial ............................................... 47
2.2 O papel da arquitetura no processo de reabilitação ..... 13 6.5.1 Administrativo........................................................ 47
3. A arquitetura terapêutica ........................................... 15 6.5.2 Atendimento ambulatorial ...................................... 47
3.1 Processos de Humanização no Brasil .......................... 16 6.5.3 Imagenologia......................................................... 47
3.2 Aspectos da Arquitetura Terapêutica .......................... 16 6.5.4 Oficina Ortopédica................................................. 48
3.2.1 Luz 17 6.5.5 O estar dos funcionários......................................... 48
3.2.2 Cor .........................................................................17 6.5.6 O espaço de reabilitação. ...................................... 48
3.2.3 Textura e volumetria...............................................18 6.5.7 Apoio pedagógico...................................................48
3.3 Evidence-based design: metodologia projetual em 6.6 Fluxos internos ao edifício ........................................... 49
ambiências de saúde ........................................................ 19 6.7 O sistema construtivo .................................................. 51
3.4 Rede Sarah: o conforto aplicado à Reabilitação .......... 21 6.8 Soluções de ventilação. ............................................... 51
4. Obras Correlatas............................................................... 23 6.9 Memorial Descritivo..................................................... 53
4.1 Associação Norte Paranaense de Reabilitação ........... 24 6.10 Considerações finais. ................................................ 57
4.2 Sarah Lago Norte........................................................ 28 7. Referências....................................................................... 58
4.3 Sarah Ilha de Pombeba – Rio ....................................... 31
5. Levantamento da área ............................................... 33
5.1 A 15º Regional de Saúde de Maringá ......................... 34

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5.2
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1.1 INTRODUÇÃO

O século XX e suas evoluções técnicas no campo da acessibilidade e conforto visual, bem como outros pontos que serão
medicina e arquitetura, trouxe o reconhecimento da necessidade de evidenciados durante o trabalho.
um trabalho de forma integrada voltado ao paciente e suas
1.2 JUSTIFICATIVA DA PROPOSTA
potencialidades. Ao passo que surgem novas instituições de saúde
para que se atendesse a crescente demanda da população e de suas A partir de análise dos dados do IBGE e pesquisa referente a
necessidades específicas, passa-se também a discutir o edifício 15º Regional de Saúde do Paraná, nota-se que as três referências
como parte importante no tratamento e recuperação de doentes. existentes no estado e unidades de nível intermediário da região não
suprem a necessidade da população. A distribuição ineficiente
A partir do avanço e especificidade dos processos de cura do
desses centros de reabilitação tem por consequência a necessidade
paciente, a atenção à Reabilitação e seus desdobramentos leva à
de grandes deslocamentos do paciente e influenciam de forma
criação de centros especializados por todo país. No campo da
negativa na periodicidade de seu tratamento.
reabilitação motora, esses espaços hoje se destinam a 7% da
população que apresenta algum tipo de deficiência, sendo 2,33% Além da insuficiência dessas instituições, muitos dos
dessas consideradas severas (IBGE, 2010). ambientes assistenciais de saúde existentes não são tratados
arquitetonicamente para auxiliarem na cura, visto que muitas vezes
Diante disso, o trabalho tem por objetivo estudar as
não são pensados para o fim a que se destinam.
particularidades referentes ao espaço de reabilitação, bem como a
importância do tratamento de elementos arquitetônicos para a
Para que se atinja, portanto, os objetivos estabelecidos,
criação de um ambiente que facilite a aplicação da medicina física e
desenvolve-se um trabalho dividido em seis capítulos. O capítulo um
seja estimulante ao usuário. Esse estudo resulta na proposta de
é composto pela introdução e justificativa da proposta. No segundo
anteprojeto de um Centro de Reabilitação Motora para a 15º regional
capítulo insere-se a o panorama brasileiro de saúde e o papel da
de saúde do Paraná, que visa o enfoque às questões referentes à

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arquitetura nesse processo. O capítulo três aborda a questão da
humanização na arquitetura hospitalar e da área de saúde em geral,
o movimento humanizaSUS e os aspectos a serem considerados
para um projeto humanizado, além do surgimento da rede Sarah
Kubitschek como impulsionadora de um modo mais eficiente e
humano abordado pelo arquiteto João Filgueiras Lima. O capítulo
quatro evidencia projetos correlatos e suas soluções de fluxo,
volumetria, programa de necessidades e relações de
interdependência, o que dá suporte ao quinto e sexto, de
levantamento da área e projeto respectivamente.

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2.1 O SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO E A universal e integral para todos. Seu funcionamento se dá
REABILITAÇÃO seguindo os aspectos de Descentralização, Regionalização,
Hierarquização e Participação social. Dessa forma, a totalidade
Até o século XIX, os ambientes de saúde eram tidos em sua
de serviços se desenvolve, de acordo com o Ministério da Saúde
maioria como indesejáveis e perigosos, e os pacientes não eram
(2000), em um conjunto de estabelecimentos cujas ações podem
tratados de acordo com suas particularidades e potencialidades
ser desenvolvidas pelas unidades estatais (próprias, estaduais
(CARVALHO, 2014). Diante do avanço da ciência e dos estudos
ou federais) ou privadas (contratadas ou conveniadas). A gestão
acerca das patologias e das questões de higiene, a arquitetura
desses, entretanto, é sempre de responsabilidade do poder
hospitalar do século XX inicia o processo de reorganização e
público.
descentralização das atividades desenvolvidas em unidades
especializadas. Ao longo da Constituição Federal de 1998, estão igualmente
assegurados os direitos das pessoas portadoras de deficiências,
A partir da lógica de descentralização e organização do
pela qual se determina que é competência da União e de todas
sistema de saúde brasileiro defendida no final do século XX, o
as suas unidades, cuidar da saúde e assistência pública,
médico e ministro Lionel Miranda cria em 1967o Plano Nacional
proteção e garantia a essas pessoas. No setor da saúde, a lei nº
de Saúde, uma iniciativa de sistematização dos serviços a partir
7.853/89 atribui ao setor público 1) a promoção de ações
de unidades integradas e hierarquizadas, que seguiam um
preventivas; (2) a criação de uma rede de serviços
conceito de universalização. Em 1988, dada às reivindicações do
especializados em reabilitação e habilitação; (3) a garantia de
Movimento Sanitarista, a constituição é revista e o SUS (Sistema
acesso aos estabelecimentos de saúde e do adequado
Unificado de Saúde) é criado, objetivando atender toda a
tratamento no seu interior, segundo normas técnicas e padrões
população (GÓES, 2011).
apropriados; (4) a garantia de atendimento domiciliar de saúde
O SUS estabelece os princípios de universalidade, equidade ao deficiente grave não internado; e (5) o desenvolvimento de
e integralidade, o que significa oferecer acesso à saúde de forma programas de saúde voltados para as pessoas portadoras de

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deficiências e desenvolvidos com a participação da sociedade medidas que ajudam pessoas com deficiências ou prestes a
(art 4. 2.º, inciso II). (Política Nacional de Saúde da Pessoa adquirir deficiências a terem e manterem uma funcionalidade
Portadora de Deficiência, 2008). ideal na interação com seu ambiente”. Esse termo abrange tanto
a ideia de habilitação – que objetiva a desenvolver a máxima
O processo de Reabilitação e acesso à medicina física passa
funcionalidade de pacientes com deficiência congênita ou
a ser portanto direito do portador de deficiência, e se insere na
adquirida na primeira infância - quanto a de reabilitação em si,
perspectiva de inclusão social, conceito que em 1997 é redefinido
cujo objetivo é auxiliar aqueles que perderam sua mobilidade e
com a CIDDM-2 (Classificação Internacional das Deficiências,
funções.
Atividades e Participação: um manual da dimensão das
incapacidades e saúde). Após essa mudança, passa-se a 2.2 O PAPEL DA ARQUITETURA NO PROCESSO DE
entender inclusão social como um modo de inserção baseado na REABILITAÇÃO
equidade das pessoas, - portadoras de deficiência ou não - no
A partir década de 80, segundo Medeiros (2005), posterior a
qual a autonomia e o acesso sejam universais.
grande crise econômica de 70 e a necessidade de redução de
A medicina com esse foco, de acordo com Carvalho (2006), custos, que as ideias de otimização financeira se aliam à
tem por objetivo reduzir a aplicação de medicamentos nos danos preocupação com o paciente. Visto que quanto menor tempo o
da estrutura músculo-esquelética, de forma a diminuir seus indivíduo passasse no hospital menor seriam seus custos com a
efeitos colaterais, além de auxiliar no processo de recuperação instituição, surgem nessa época pesquisas sobre a importância
da habilidade motora do paciente. Seu papel, portanto, defende de um ambiente que traga bem-estar e diminuição do estresse.
Carvalho (2006), não é avaliar o grau de invalidez do indivíduo e Dessa forma, a arquitetura passa a ser fundamental quando se
sim reintegrá-lo à sociedade e explorar seus potenciais. pensa nesse tipo de estabelecimento.

Em semelhança a essa percepção, o Relatório Mundial sobre No caso do processo de Reabilitação, o estudo da arquitetura
a deficiência, 2011, define reabilitação como “um conjunto de também visa facilitar a aplicação da medicina física e garantir

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plena utilização do espaço e dos equipamentos necessários à
ela, permitindo modificações de uso e adaptações para adoção
de novas práticas que tendem a surgir. Aliado a isso, o
desenvolvimento de um projeto acessível é imprescindível para
esse e qualquer tipo de espaço, uma vez que explora a
autonomia defendida pela definição de inclusão social.

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3.1 PROCESSOS DE HUMANIZAÇÃO NO BRASIL ‘’tratamento dado ao espaço físico entendido como espaço social,
profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar
De acordo com o dicionário Aurélio, humanização corresponde a
atenção acolhedora, resolutiva e humana’’. A arquitetura, dessa
inspirar humanidade a.; suavizar; civilizar; tornar-se humano;
forma, se torna responsável por criar ambientes que sejam
compadecer-se.
confortáveis e respeitem a privacidade e individualidade dos
O SUS, implantado com o objetivo de melhorar e ampliar o usuários, mas que permita a integração dos mesmos quando
atendimento à saúde pela população, ainda que tenha atingido bons necessário. Deve-se, também, possibilitar o processo de trabalho de
resultados, não solucionou problemas como o mau atendimento ao forma otimizada, e tratar elementos como cor, iluminação e
usuário e condições precárias de infraestrutura. Devido a isso, no morfologia.
ano de 2000, o Ministério da Saúde regulamentou o Programa
3.2 ASPECTOS DA ARQUITETURA TERAPÊUTICA
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), para
que se promovesse uma nova cultura de atendimento. Em 2003, o De acordo com Horevicz e Cunto (2007), as relações de
programa passou a ser chamado de HumanizaSUS (MELLO, 2008). estresse e saúde podem ser influenciadas por elementos presentes
no ambiente e seus estímulos. Dentre eles, destacam-se a
Discute-se a partir de então, a necessidade de humanizar o
iluminação, a escolha de cores e o uso de texturas e formas. No caso
cuidado e a assistência. Ainda que o programa se destine aos
de um espaço voltado à saúde e reabilitação, as questões que
Hospitais, todo o ambiente da área da saúde deve estimular a cura
envolvem esses elementos devem ser consideradas logo na etapa
ou melhora de seu paciente por meio do cuidado aos profissionais,
de concepção do projeto.
suporte técnico, respeito aos pacientes e a arquitetura dos espaços
projetados. 3.2.1 LUZ

Para que se pudesse projetar de tal maneira, o Ministério da A iluminação de um ambiente é responsável por proporcionar
Saúde cria o conceito de ‘’ambiência’’ que se define como o aos usuários bem-estar visual, e deve ser pensada de modo conjunto

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com a escolha de materiais e cores, uma vez que sua quantidade e
qualidade interfere em suas percepções (Figura 01).

De acordo com Martins (2004), a quantidade de iluminação


que um espaço necessita varia de acordo com seu uso e as
atividades desenvolvidas, enquanto a qualidade de luz está
diretamente ligada aos índices de expressões e temperatura de cor.
Nas salas de espera e recepções, por exemplo, a escolha de luz com
menor intensidade de cor e o uso de iluminação indireta confere ao
ambiente a sensação de aconchego. Já no caso de corredores, a
passagem de luz deve acontecer de forma gradual, para que se evite
o ofuscamento causado pela mudança abrupta da quantidade de luz.
Figura 01- Quarto internação infantil. Fonte: Abdalla, 2012
Para Lukiantchuki e Caram (2008), além da escolha da
iluminação artificial mais adequada, é indispensável a preocupação 3.2.2 COR
com os recursos naturais, pelo fato de conferirem ao espaço conforto
De forma conjunta a iluminação, a escolha de cores utilizadas
e higiene. A relação entre o paciente e a luz natural é evidenciada
em um espaço também é capaz de transformá-lo, uma vez que se é
por Costi (2000) como forma de proporcionar orientabilidade
possível criar diferentes sensações e estímulos nos usuários. Sua
temporal e distração aos usuários.
utilização deve ser pensada de acordo com o uso a que o ambiente
se destina.

Vasconcelos (2006) destaca que as cores quentes


transmitem a sensação de proximidade e densidade, e tem efeito

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estimulante, enquanto as cores frias criam ambientes mais leves,
distantes e possuem efeito calmante. A variação de cor também é
capaz de potencializar as sensações térmicas, o que a torna um
recurso importante quando se projeta um edifício coletivo. De acordo
com a autora, os usuários de um espaço sentem mais frio em
ambientes com tonalidades frias, por exemplo, embora a
temperatura seja a mesma.

No que diz respeito aos estímulos causados, é possível tornar


um ambiente menos monótono a partir da escolha de suas cores,
como no caso dos corredores dos hospitais projetados por João
Filgueiras Lima, que recebem ilustrações e painéis artísticos (Figura
02).

Figura 02- Uso das cores em corredor do Sarah Salvador. Fonte: Fracassoli,
2012.

3.2.3 TEXTURA E VOLUMETRIA

Ainda no campo do conforto visual, a qualidade tátil do


espaço está diretamente ligada às texturas e elementos
arquitetônicos escolhidos na concepção de um projeto. As escolhas
de acabamentos, mobiliário e a criação de pontos visuais que
despertem a atenção do usuário são exemplos disso.

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De acordo com Vasconcelos (2006), uma opção de 3.3 EVIDENCE-BASED DESIGN: METOLOGIA
exploração de texturas se encontra no contato entre o ambiente PROJETUAL EM AMBIÊNCIAS DE SAÚDE
exterior e interior, uma vez que a natureza é rica em elementos
O Evidence-based Design (EBD) é uma metodologia que
capazes de estimular o corpo humano. Os efeitos visuais
busca basear as decisões projetuais em estudos confiáveis de
proporcionados pela criação de pátios e escolha de materiais e
precedentes de forma a se atingir os melhores resultados. No que
formas diferentes podem ser potencializados com a escolha de cores
diz respeito aos edifícios voltados à saúde, o EBD destaca princípios
e iluminação adequada, o que reforça a ideia de se projetar de forma
que, aliado aos aspectos mencionados por Horevicz e Cunto (2007),
conjunta (Figura 03).
norteiam a criação de ambiências humanizadas destinadas a cura. A
partir desse método, pode se constatar que não só o espaço, como a
distribuição do layout, por exemplo, são fatores indispensáveis em
um projeto, uma vez que podem afetar o trabalho dos profissionais
responsáveis (SACKETT et al., 2016).
Em estudo realizado em hospitais para a constatação do
impacto do meio físico em pacientes, familiares e funcionários,
chegou-se em oito itens, dos quais pode-se destacar conforto e
segurança. O primeiro foi ligado diretamente a ideia de uma vista
interessante, possibilidade de orientação do tempo e o uso da arte.
Já o segundo compreende questões como acessibilidade e
suavização de desníveis (SACKETT et al., 2016).
A exploração de visuais interessantes para um projeto na
Figura 03- Rede Sarah Fortaleza. Fonte: Rede Sarah, 2012
área da saúde também é evidenciada pelo estudo de Ulrich et al
(2005), baseado em estudos anteriores de 1984, pelo qual pode-se

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constatar que a visualização da natureza pelo paciente é capaz de
reduzir as taxas de estresse e a medicação, bem como encurtar o
tempo de permanência desse na instituição.
Para o trabalho dessas e de outras questões específicas que
surgem ao longo de um projeto, o Guia para a Construção de
Edifícios Voltados a Saúde, do departamento de saúde de Reino
Unido, estabelece diretrizes para a criação de diferentes espaços
Figura 04 – Guia para a Construção de Edifícios voltados a Saúde –
dentro de uma instituição, aqui destacados: espaços de chegada e chegada. Fonte: elaborado pela autora
espera, circulação e os ambientes contemplativos (Figuras 04, 05 e
06).
Todos os aspectos destacados contribuem para uma arquitetura
mais próxima do usuário, de forma que o estudo dos elementos de
um projeto contribui para seu caráter terapêutico. Na história da
arquitetura voltada a área da saúde, alguns edifícios se destacam
por apresentarem – ou deixarem de apresentar – boas condições
Figura 05 – Guia para a Construção de Edifícios voltados a Saúde –
ambientais e visuais.
circulação. Fonte: elaborado pela autora

Figura 06- Guia para a Construção de Edifícios voltados a Saúde –


contemplação. Fonte: elaborado pela autora

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3.4 REDE SARAH: O CONFORTO APLICADO À formação de um ambiente hospitalar diferente. Em 1975, como
REABILITAÇÃO resultado disso, deu-se iniciou ao primeiro projeto para a rede Sarah
de hospitais – o Sarah Brasília (1975-1980), que inaugura a ideia de
Ainda que existam diretrizes para humanização do projeto de
integração arquitetônica com os princípios de organização do
arquitetura na área da saúde, é necessário reconhecer a
trabalho e o programa de necessidades. Embora esse primeiro
especificidade de cada tipo de ambiente e suas necessidades,
edifício se solucione de forma verticalizada, possuía uma série de
adaptando-as em sua concepção. Para o arquiteto João Filgueiras
elementos que viriam a caracterizar os hospitais projetados pelo
Lima (Lelé), por exemplo, as obras de arte já presentes na
arquiteto (MARQUES, 2012).
arquitetura moderna brasileira, se apresentam como uma
possibilidade de aconchego e portanto de tratamento com o aspecto Parte de todo o conhecimento adquirido pelo arquiteto acerca
de humanização. Lukiantchuki e Souza (2010) defendem que de do conforto, de acordo com Marques (2012) se deve a visita de Lelé
acordo com Lelé, apesar dos edifícios hospitalares necessitarem ser a Finlândia em 1969 e o contato com a arquitetura de Aalto, cujas
funcionais, a beleza é importante a medida que ‘’ alimenta o espírito’’. obras se voltavam ao genius loci – espírito do lugar - e conforto
ambiental.
“Ninguém se cura somente da dor física, tem de curar a dor
espiritual também. Acho que os centros de saúde que
temos feito provam ser possível existir um hospital mais Nas obras de Lelé, tecnologia e ciência e arte e artesanato se
humano, sem abrir mão da funcionalidade. Passamos a equilibram por meio da aproximação com a natureza e da liberdade
pensar a funcionalidade como uma palavra mais
abrangente: é funcional criar ambientes em que o paciente formal. Ele se utiliza em sua arquitetura de biombos, muros e
esteja à vontade, que possibilitem sua cura psíquica.
Porque a beleza pode não alimentar a barriga, mas divisórias que expressam o trabalho do artista Athos Bulcão,
alimenta o espírito” (João Filgueiras Lima, 2004 pag. 50) evidenciando a arte como forma de terapia.
A bagagem de projetos do arquiteto e seu interesse pela
Também associados aos projetos estão os jardins de
exploração na área da reabilitação, faz com que ele estabeleça
ambientação, que além de estimularem os pacientes são
vínculos com o médico Aloysio Campos da Paz para a discussão da
fundamentais no controle climático dos edifícios. Essa relação com

CENTRO DE REABILITAÇÃO MOTORA 21


o espaço naturalmente ventilado e iluminado, torna Lelé um o de vivenciar o trabalho multidisciplinar que gere um processo de
humanista em construção de espaço voltado ao usuário. reabilitação humanístico; e por fim o de viver pela saúde e não
(MARQUES, 2012) sobreviver da doença – princípio esse que o evidence-based design
busca explorar.
Sua arquitetura alimenta o princípio de expansibilidade e
flexibilidade. Em seu projeto para Amapá, por exemplo, Lelé dispõe O foco no paciente como pessoa em potencial, leva os
os blocos de edifícios ao longo de um corredor que funciona como projetos da Rede SARAH a serem considerados um bom exemplo
uma raíz, de onde o programa pode se expandir em diferentes de arquitetura terapêutica e seu estudo é relevante para que se
sentidos. construa ambientes de saúde menos hostis.

A Rede hoje é uma instituição pública com foco voltado à


ortopedia e reabilitação do incapacitado físico e tratamento de
deformidades, traumas, doenças e infecções do aparelho locomotor,
objetivando a melhoria da qualidade de vida do paciente e sua
reinserção. Todas as suas nove unidades: Brasília (DF), Brasília –
Lago Norte (DF), São Luís (MA), Salvador (BA), Belo Horizonte
(MG), Fortaleza(CE), Macapá (AP), Belém (PA) e Rio de Janeiro
(RJ), possuem nove princípios que reafirmam e refletem a
intenção de sua arquitetura.

Dentre esses princípios se destacam o de criar uma rede de


neurorreabilitação que entenda o ser humano como sujeito da ação;

CENTRO DE REABILITAÇÃO MOTORA 22


CENTRO DE REABILITAÇÃO MOTORA 23
A fim de que se compreendesse o programa de uma unidade em um terreno doado pela Prefeitura de Maringá. No ano de 2002, a
de saúde voltada à reabilitação, bem como suas soluções de fluxo, ANPR estabeleu parceria com o SUS (Sistema Único de Saúde) e
organização dos espaços e concepção arquitetônica, buscou-se deu início ao Centro Integrado Regional de Reabilitação e Oficina
pesquisar obras correlatas que servissem de base ao projeto final Ortopédica Dr. Toledo, a qual oferece atendimentos de habilitação e
com esse foco. Este capítulo, portanto, apresenta uma seleção das reabilitação às pessoas com deficiência física e neuromotora do
principais obras estudadas e a análise dos seus aspectos mais Município de Maringá e 15º Regional de Saúde.
relevantes.
No que se refere a disposição de espaço, as entradas do
4.1 ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE DE centro e da escola são diferencias, mas os dois blocos se conectam
REABILITAÇÃO por um pátio em comum (Figura 07) A porta de acesso à unidade
escolar leva a uma recepção, de onde parte o setor administrativo e
Em visita realizada na ANPR (Associação Norte Paranaense
a secretaria, bem como uma sala de reuniões e sanitários. Após a
de Reabilitação) na cidade de Maringá –PR, com supervisão da
passagem pelo pátio coberto – que funciona como área de descanso
psicóloga responsável, analisou-se a área escolar e de reabilitação
aos funcionários e pacientes- há uma distribuição ao longo de um
da ANPR, com o intuito de observar o seu programa de
corredor das salas de aula para diferentes idades. Ainda nesse setor,
necessidades e suas limitações, uma vez que o espaço é muitas
encontram-se as salas de psicologia e assistência social, e uma
vezes apontado como pequeno pelos funcionários e familiares de
ampla sala destinada a reabilitação infantil.
pacientes.

A instituição, de caráter filantrópico e duração indeterminada,


surge em 1963 com os setores de reabilitação e escola para
portadores de necessidades especiais. Sua primeira implantação se
dava na região central da cidade, mas pela necessidade de
ampliação se transfere no ano de 1980 para sua atual localização,

CENTRO DE REABILITAÇÃO MOTORA 24


Figura 07- Pátio que interliga a Escola e a Reabilitação da ANPR. Fonte:
Figura 08- Corredor da área escolar da ANPR. Fonte: Acervo pessoal (10
Acervo pessoal (10 de maio de 2017).
de maio de 2017).

Ao fim do corredor, que recebe diferentes cores de pintura


A piscina para hidroterapia se encontra entre os dois blocos,
para estimulação dos alunos (Figura 08), as cadeiras de rodas são
e possui acesso de ambos os lados. Seu uso é indistinto para adultos
armazenadas sem local adequado, vindas de doação ou cedidas
e crianças, o que limita seu funcionamento em horários específicos.
pelo SUS.

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Nos fundos do bloco de reabilitação, tem-se a oficina É importante a consideração de que o edifício encontra-se
ortopédica com produção de órteses e próteses (Figura 11), e a partir sempre em adaptação e melhoria, uma vez que a demanda e
de uma conexão direta por corredor, a venda dessas e de outros tecnologia ofertada são variáveis no processo. Portanto, a
produtos ortopédicas é disponibilizada em uma loja de frente para a necessidade de um terreno que ofereça maiores possibilidades é
rua. Deve-se destacar que todos os materiais recebidos e produzidos fundamental.
na Instituição não possuem local adequado para depósito (Figura
A visita contribuiu para que se analisasse os pontos
09).
deficientes desse espaço de reabilitação a fim de evita-los e trabalha-
A área de reabilitação acomoda dois espaços com los no projeto. Os conflitos gerados pela falta de separação nos
equipamentos e macas, além de boxes para atendimento de fluxos e a insuficiência de áreas contemplativas na unidade, por
fonoaudiologia (Figura 10). Uma vez que se tem o corredor que exemplo, revelam questões importantes a serem estudadas.
interliga a loja e a oficina, não há a passagem de funcionários que
não sejam do espaço.

O edifício não possui áreas de jardim e tratamento das


ambiências exceto algumas ilustrações nas paredes, o que o
distancia de seu caráter terapêutico.

Com relação a fluxos e acessos, a ANPR não possui


estacionamento e se limita a algumas poucas vagas sobre a calçada,
de forma conjunta aos espaços destinados ao ônibus escolar e
ambulância em casos de emergência. Os funcionários e pacientes
não possuem entradas distintas, e o portão de descarga de materiais Figura 09- Depósito de cadeiras e materiais. Fonte: Acervo

se encontra na frente do edifício. pessoal(10 de maio de 2017).

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Figura 10- Sala de Fisioterapia. Fonte: Acervo pessoal(10 de maio de Figura 11- Oficina Ortopédica. Fonte: Acervo pessoal(10 de maio de
2017). 2017).

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4.2 SARAH BRASÍLIA – LAGO NORTE As atividades, que totalizam 20670m² de área construída, são
organizadas a partir de um eixo horizontal por onde se distribuem os
O Sarah Lago Norte surge como consequência da insuficiência
fluxos. Ao longo desse corredor, painéis de fechamento colorido e
de espaços livres no Sarah Brasília, uma vez que esse se localiza
elementos artísticos são utilizados como forma de estimular a
em uma área central da cidade de terreno reduzido. Implantado em
reabilitação. A solução arquitetônica entorno de um eixo é notada em
um terreno de 80 mil metros quadrados procura-se, a partir do novo
outros edifícios da rede como forma de garantir o caráter funcional
projeto (1997-2003) a exploração da reabilitação ao ar livre e
que o programa exige (Figura 15).
atividades náuticas. Além disso, a sede visa dar suporte à existente
por meio da pesquisa e treinamento acerca do tema Além de questões ligadas à organização espacial, o arquiteto se
(LUKIANTCHUKI, 2010). preocupa, nesse e em outros projetos da rede, com o conforto
ambiental da edificação. No caso do Sarah Lago norte, a ventilação
A unidade, que possui 24 mil metros quadrados, abrange um
adentra o edifício pelas portas de correr e é extraída pelas aberturas
pequeno ambulatório para acompanhamento dos pacientes, setor de
dos sheds (LIMA, 2003). Essa solução se apresenta de forma
imagem, laboratório de movimento e espaço para fisioterapia e
simplificada quando comparada às desenvolvidas no nordeste, uma
hidroterapia. Além disso, conta com espaço de internação com 180
vez que o centro é pouco compartimentado e com ambientes menos
leitos e 60 acompanhantes, centro de estudo com biblioteca,
rígidos do que de um hospital, o que facilita a concepção de espaços
residência para professores visitantes e setores de serviços gerais
amplos em grandes pés-direitos (Figura 12).
(LIMA, 2003).
O projeto explora também um sistema de captação de águas
O projeto se desenvolve em vários níveis dada às condições do
pluviais que se estabelece a partir das calhas metálicas. O
terreno, e a conexão desses blocos é feita por rampas de baixa
escoamento desse sistema é conectado a uma galeria, onde também
declividade entre jardins em taludes, o que confere diferentes visuais
se localizam as infraestruturas hidráulicas e sanitárias.
aos blocos (Figuras 13 e 14).

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O sistema construtivo emprega componentes pré-fabricados
(argamassa armada e aço), frequentemente utilizados nos projetos
de Lelé. Devido a leveza do material e a disposição de estrutura de
vigamento duplo apoiada em pilares metálicos, consegue-se criar
uma volumetria diversificada e esbelta (WOLF, 2001).

Figura 13- Vista aérea Sarah Lago Norte. Fonte: Lima, 2003.

Figura 12- Esquema de iluminação e ventilação. Fonte: Lima, 2003.

Figura 14- Jardim Sarah Lago Norte. Fonte: Lima, 2003.

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Figura 15- Planta Sarah Lago Norte. Fonte: Lima, 2003. Adaptado pela autora.

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Ao se analisar a planta da Instituição e sua distribuição, pode-se Devido a suas condições favoráveis de localização e
traçar relações de proximidade, interdependência entre ambientes, e possibilidade de ventilação natural, o projeto Sarah Ilha da Pombeba
a separação de fluxos e acessos, itens importantes a serem não possui galerias de captação de ar. A cobertura, desenhada em
verificados na concepção de um edifício de saúde. Nesse sentido, o sheds, funciona como extratora do ar quente, uma vez que suas
projeto de Lelé se estabelece como um importante embasamento aberturas estão voltadas para o oeste – direção oposta aos ventos
para o projeto a ser desenvolvido. predominantes (LUKIANTCHUKI, 2010). Para impedir a incidência
direta do sol em suas claraboias, os sheds (Figura 16) são protegidos
4.3 SARAH ILHA – ILHA DA POMBEBA
por venezianas (MOURA, 2002).
O Sarah Rio – Ilha da Pombeba, destina-se ao tratamento infantil
e possui a menor área entre todas as unidades. São 4480 de área
total que atendem de forma exclusivamente ambulatorial.

Implantado na ilha ás margens da lagoa Jacarepaguá, o projeto


se desenvolve no sentido horizontal de forma a explorar a ventilação
natural e a visual da paisagem do Rio. Sua proximidade com a água
também favorece a definição de um microclima ameno.

Um eixo comum, a exemplo do Sarah Lago norte, interliga os


Figura 16- Sheds no bloco de reabilitação. Fonte: Moura, 2002.
quatro blocos de edificações: administração e ambulatório, o setor
de hidroterapia e fisioterapia, serviços gerais e área destinada a Os acessos às áreas administrativas e clínicas, como observado
atividades esportivas. Entre eles, terraços ajardinados aproximam o em planta, são diferentes para pacientes e funcionários, o que facilita
exterior ao interior da instituição. sua organização. Já o corredor central distribui todos os usuários
integrando-os (Figuras 17 e 18).

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Figura 18- Planta Sarah Pombeba. Fonte: Lima, 2003

O projeto se aproxima ao que busca estudar pra cidade de


Maringá por sua escala, e portanto, suas soluções de disposição e
implantação são relevantes como estudo.

Figura 17- Implantação Sarah Pombeba. Fonte: Moura, 2002

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