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9 786558 210535
I000128
FABIANO CAXITO
Direitos humanos e
relações sociais
Fabiano Caxito
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: melitas/Shutterstock
Caxito, Fabiano
Direitos humanos e relações sociais / Fabiano Caxito. - 1. ed. - Curiti-
ba [PR] : IESDE, 2021.
124 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-053-5
2 Relações étnico-raciais 32
2.1 Raça e etnia 33
2.2 Preconceito e discriminação 41
2.3 Cultura afro-brasileira e indígena 49
2.4 Políticas de ações afirmativas 51
2.5 Trabalho, produtividade e diversidade cultural 56
3 Gênero e sexualidade 63
3.1 Sexualidade e diversidade sexual 64
3.2 Identidade de gênero e orientação sexual 67
3.3 Movimentos feministas 70
3.4 Movimentos LGBTQIA+ 76
Filme Martin Luther King Jr., um dos mais proeminentes líderes na luta
pelos direitos humanos no século XX, apoiou algumas de suas ideias
nessa visão da filosofia católica da era medieval, tanto nas ideias de
Santo Agostinho quanto nas de São Tomás de Aquino. Conforme King:
“todos os estatutos da segregação são injustos porque a segregação
distorce a alma, prejudica a personalidade, dá ao segregacionista um
sentido falso de superioridade e ao segregado um sentido falso de in-
ferioridade” (KING, 1970 apud MIRANDA FILHO, 2013, p. 18).
De acordo com Salles (2015), a ONU foi criada no ano de 1945, logo Direção: Richard Curtis. EUA: ONU;
Projeto Todos; 72 Filmes, 2020.
após o final da Segunda Guerra Mundial, como resultado de um esfor-
Disponível em: https://www.youtu-
ço de diversos países para promover a paz, a reorganização econômica be.com/watch?v=KucGm-5mOQ8.
Acesso em: 14 jul. 2021.
e a reconstrução das relações entre as nações. Além da preocupação
imediata com a reconstrução da Europa, em grande parte destruída
pela guerra, a ONU nasceu também com a preocupação de promover o
desenvolvimento social nos países em desenvolvimento.
2. Irã 1. China
400
4. Iraque
350
300
250
251+ 5. Egito
11. Japão
6. EUA
200
184
12. Coreia do
Norte
150 7. Paquistão
100+
9. Sudão
100 do Sul 13. Vietnã
IRÃ
ARÁBIA
IRAQUE
EGITO
EUA
PAQUISTÃO
SOMÁLIA
SUDÃO
IÊMEN
SINGAPURA
BARÉM
JAPÃO
BIELORRÚSSIA
BANGLADESH
BOTSUANA
SUDÃO
COREIA
SÍRIA
VIETNÃ
USA
IRAQ
EGYPT
PAKISTAN
SOMALIA
SOUTH SUDAN
YEMEN
SINGAPORE
SUDAN
NORTH KOREA
SYRIA
VIET NAM
BAHRAIN
JAPAN
BELARUS
BANGLADESH
BOTSWANA
CHINA
IRAN
SAUDI ARABIA
SAUDITA
DO SUL
DO NORTE
Fonte: Relatório..., 2021, p. 4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca pela garantia dos direitos humanos pode ser identificada em
diversos momentos da história humana e tem raízes na filosofia, na polí-
tica e na evolução das legislações nacionais. O tema ganhou centralidade
por meio das grandes mudanças econômicas, sociais e políticas que mar-
caram a transição da Idade Média para a Idade Moderna e, posteriormen-
te, para a Idade Contemporânea.
A partir da segunda metade do século XX, após a Segunda Guerra
Mundial, o surgimento de organizações internacionais, como a ONU, fez
com que a busca pela garantia dos direitos humanos se tornasse uma
preocupação global.
No Brasil, apesar de a Constituição de 1988 ter como um de seus prin-
cípios a proteção dos direitos humanos, na prática cotidiana de nossa
sociedade, uma grande parcela da população ainda não goza plenamente
de seus direitos.
ATIVIDADES
Vídeo 1. Explique os conceitos filosóficos de estado de natureza e estado social.
REFERÊNCIAS
ALVES, J. A. L. A ONU e a proteção aos direitos humanos. Revista Brasileira de Política. Internacional,
Brasília, v. 37, n. 1, p. 134-145, 1994. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/
lindgrenalves/lindgren_alves_onu_protecao_dh.pdf. Acesso em: 21 maio 2021.
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ARENDT, H. O que é política? 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de António de Castro Caeiro. São Paulo: Atlas, 2009.
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
• compreender os conceitos de raça, etnia, racismo, precon-
ceito e discriminação racial;
• reconhecer a importância das culturas afro-brasileira e indí-
gena na formação cultural do país;
• conhecer as políticas de ação afirmativa no Brasil e no
mundo;
• compreender o impacto do racismo no trabalho, na cultura
e na sociedade.
Relações étnico-raciais 33
Quadro 1
Classificação Homo sapiens
Viktoriia2696/Shutterstock
Relações étnico-raciais 35
A ideia de um povo puro, que representaria os mais nobres ideais
da nação, ganhou ainda mais força com a publicação, em 1859, do
trabalho de Charles Darwin. Em A origem das espécies, Darwin (2014)
mostra que o processo evolutivo das espécies ocorre pelo cruzamen-
to de indivíduos com determinadas características, o que poderia le-
var a alterações profundas na espécie em apenas poucas gerações.
Documentário Francis Galton, sobrinho de Darwin, parte da ideia da evolução
das espécies para concluir que a espécie humana poderia também
ser alterada ou, em sua visão, melhorada pela seleção das carac-
terísticas dos indivíduos. Galton (apud BLACK, 2003), ao cunhar o
termo eugenia, que significa “bem-nascido”, vai além: defende que
é papel do Estado, por meio de políticas públicas, e da ciência, por
meio de estudo e experimentos, acelerar o processo evolutivo da
espécie humana, impedindo que indivíduos com características in-
desejáveis se reproduzam.
O documentário Homo
sapiens 1900 mostra o As ideias eugenistas obtiveram grande repercussão no momento
conceito da eugenia, ideia
desenvolvida por Francis
político pelo qual passava o mundo, com o fortalecimento do nacio-
Galton. Esta defendia que nalismo e a consolidação dos estados (CENTURIÃO, 2009). A eugenia
as capacidades humanas
eram hereditárias e que
influenciou programas de governo em diversos países do mundo e
determinadas raças, foi uma das principais bases teóricas do nazismo.
como os brancos, eram
superiores a outras. O Os estudos de Harris se relacionam com o conceito da eugenia,
documentário mostra
corrente de pensamento que surgiu no século XIX, em um contexto
imagens de experimentos
científicos realizados, político de formação dos modernos Estados-nações ocidentais, que
com o objetivo de provar
buscavam fortalecer a ideia de que a nação deveria ser representa-
a superioridade racial, a
qual influenciou as ideias da por um povo unido (SILVA, 2013).
nazistas da superioridade
branca. A pseudociência eugenista também encontrou espaço no Brasil,
Direção: Peter Cohen. Suécia, 1998. nas primeiras décadas do século XX. Porém, a intensa miscigenação
Disponível em: https://www. da população brasileira fez com que a visão eugenista, que defendia
youtube.com/watch?v=TPSjjElIIZM.
Acesso em: 26 abr. 2021. a promoção de uma raça pura, se tornasse uma realidade inviável.
Segundo Pereira (2001), no Brasil, a eugenia se difundiu mais como
um conceito defendido por elites intelectuais do que como um pro-
jeto institucionalizado pelo governo, como aconteceu em diversos
países europeus. A visão mais difundida acabou sendo a de que as
misturas raciais faziam parte da construção do país como nação e
eram indissociáveis da história brasileira (SCHWARCZ, 2011).
Relações étnico-raciais 37
O uso do termo raça para dividir ou segregar os indivíduos da espé-
cie humana se baseia na dificuldade de se compreender que as aparen-
tes diferenças entre dois indivíduos, como a cor da pele, não significam
que existem diferenças entre as características que definem a espécie.
Vídeo O conceito de raça, dentro do estudo das espécies, está relacionado
O termo negro é utilizado com características físicas associadas a uma determinada origem geo-
em documentos oficiais.
O estatuto da igualdade gráfica (SANTOS; BRAGA; MAESTRI, 2007). A dificuldade em se utilizar
racial (Lei n. 12.288/2010) esse conceito para se definir a raça de um indivíduo reside na com-
usa o termo negro ou
população negra 68 vezes plexidade de se determinar quais são essas diferenças e qual é a real
em seu texto; já o termo importância delas.
preto, apenas uma.
A filósofa Djamila Ribeiro Segundo Santos, Braga e Maestri (2007), as diferenças aparentes ou
defende o uso da palavra
negro, por considerar que
externas, como cor da pele ou do cabelo, são meramente físicas, não
o termo inclui pessoas tendo necessariamente relação com uma diferença genética.
afrodescendentes, inde-
pendentemente da cor As diferenças das características externas podem ocorrer mesmo
da pele, uma caracterís-
tica fenotípica. No vídeo
dentro de uma mesma família. O caso das irmãs gêmeas inglesas,
Negro ou preto? É preto, Marcia e Millie Biggs, tornou-se conhecido com a publicação da revis-
publicado pelo canal
Portal Raízes, o músico
ta National Geographic, que mostra como diferentes fenótipos podem
e ativista Nabby Clifford ser gerados por meio da carga genética dos mesmos pais, já que as
explica a diferença entre
os termos e defende o
gêmeas são filhas de um casal birracial – mãe inglesa e pai jamaicano
uso de preto. – e possuem traços semelhantes e tons de pele distintos (EDMONDS,
Disponível em: https:// 2018).
www.youtube.com/
watch?v=3ccWLl0m4QA. Acesso Para Santos, Braga e Maestri (2007), o genótipo é o material here-
em: 26 abr. 2021.
ditário que cada indivíduo carrega em suas células, formado pela carga
genética de seus ancestrais. Já o fenótipo são as características físicas
que podem ser observadas externamente e que podem sofrer influên-
cia de fatores externos, por exemplo o meio ambiente, como mostra o
caso das irmãs inglesas.
Relações étnico-raciais 39
e o português colonizador. O mameluco, nascido da mistura do euro-
peu branco e do nativo, para os autores, é o primeiro representante do
povo brasileiro.
Indígena
0,19%
75%
Brancos
Relações étnico-raciais 41
como, mesmo com toda a miscigenação étnico-racial da população
brasileira, ainda persistem o preconceito e a discriminação na socie-
dade brasileira.
Ribeiro (2019) chama a atenção para essa dicotomia, para essa di-
ferença entre a discriminação sofrida por um dos grupos e os privi-
légios de que outro grupo goza. Em seu Pequeno Manual Antirracista,
dedica um dos capítulos a demonstrar os preconceitos sofridos pelos
negros do Brasil, destacando que são vistos como inferiores ou desti-
nados a ocupar lugares subalternos na estrutura social. Segundo relata
a autora,
como muitas pessoas negras que circulam em espaços de poder,
já fui confundida com copeira, faxineira ou, no caso de hotéis de
luxo, prostituta. Obviamente não estou questionando a dignida-
de dessas profissões, mas o porquê de pessoas negras se verem
reduzidas a determinados estereótipos. (RIBEIRO, 2019, p. 12)
Relações étnico-raciais 43
de (RIBEIRO, 2019, p. 15-18). Assim, a autora mostra que, para entender
Importante os desafios da negritude, é preciso entender os privilégios da branqui-
Branquitude, para Jesus tude, corroborando a afirmação de Bento e Carone (2002).
(2021), são “as práticas
daqueles indivíduos Já o item II do parágrafo único do artigo 1º do Estatuto da Igualdade
brancos que assumem
e reafirmam a condição
Racial define a desigualdade racial como:
ideal e única de ser
toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição
humano, portanto, o
direito pela manutenção de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e priva-
do privilégio perpetuado da, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou
socialmente”. étnica. (BRASIL, 2010)
Negritude, segundo Do-
mingues (2005, p. 25-26), O texto legal mostra que a discriminação étnico-racial leva à viola-
no terreno político “serve
de subsídio para a ação ção dos direitos humanos dos grupos minoritários, dificulta o acesso a
do movimento negro oportunidades de desenvolvimento social, a bens e serviços públicos,
organizado. No campo
ideológico, negritude além de expor os indivíduos do grupo minoritário a situações de humi-
pode ser entendida como lhação, risco, violência e isolamento. Como mostra a profunda letra da
processo de aquisição de
uma consciência racial. música Negro Drama, do grupo Racionais MC’s:
Já na esfera cultural,
Uma negra e uma criança nos braços [...]
negritude é a tendência
de valorização de toda Veja, olha outra vez o rosto na multidão
manifestação cultural de A multidão é um monstro sem rosto e coração [...]
matriz africana”.
[...] Família brasileira, dois contra o mundo
Mãe solteira de um promissor vagabundo [...]
Um bastardo, mais um filho pardo sem pai
(NEGRO..., 2002)
Relações étnico-raciais 45
Na concepção de Nogueira (2007), o indivíduo é julgado e classifica-
do por seus traços. Assim, mesmo o indivíduo de ascendência negra ou
indígena pode ser considerado branco, desde que seu fenótipo apre-
sente as características relacionadas ao grupo étnico-racial europeu.
O preconceito de marca é, segundo o autor, ligado a questões intelec-
tuais e estéticas; o branco é considerado inteligente e belo, enquanto o
negro e o indígena são considerados, mesmo que de maneira velada,
incompetentes e feios. Ribeiro (2019, p. 13), com base em suas expe-
riências pessoais, relata o seguinte:
quando eu cursava filosofia, um colega se mostrou muito surpreso
por eu ter tirado uma nota maior que a dele num trabalho e sugeriu
que era porque o professor gostava de mim. Outro colega insinuou
que me daria a parte mais fácil de um trabalho “para me ajudar”.
— Sempre que alguém fala para mim que sou racista, digo: Não
sou! Inclusive meu filho tem amigo preto, eu recebo preto na
minha casa, ele almoça na nossa mesa.
— Se você tira o João da minha vida, eu passo a ser racista agora?
— Ele era nosso preto ostentação (PORTA DOS FUNDOS, 2015).
Relações étnico-raciais 47
Almeida (2019) explica que o racismo está impregnado na estrutu-
ra da sociedade brasileira. Mesmo que não se manifeste abertamen-
te, por atos ou palavras, a sociedade brasileira é racista. O silêncio ou
a inação do indivíduo de qualquer grupo étnico-racial com relação ao
racismo estrutural o torna conivente, do ponto de vista ético e moral,
com a manutenção do racismo. Para o autor, “a mudança da sociedade
não se faz apenas com denúncias ou com o repúdio moral do racismo:
depende, antes de tudo, da tomada de posturas e da adoção de práti-
cas antirracistas” (ALMEIDA, 2019, p. 52).
Relações étnico-raciais 49
Mesmo no Brasil contemporâneo, a produção artística das popula-
ções negras e indígenas ainda ocupam espaços periféricos e não rece-
bem o devido reconhecimento e a valorização como representações
legítimas da cultura dos grupos minoritários. Nesse sentido, a letra da
música Sr. Tempo Bom, dos rappers Thaíde e DJ Hum, destaca a impor-
tância das expressões culturais dos grupos negros.
A importância da internet A arte e a cultura dos grupos minoritários têm se fortalecido nas úl-
e dos celulares para a
defesa dos direitos e timas décadas, por meio da ocupação de espaços periféricos, especial-
da cultura indígena é o mente nas grandes metrópoles. A produção cultural indígena e negra
tema do documentário
Indígenas Digitais, filmado ainda sofre com a invisibilidade, é pouco divulgada pela grande mídia e
em grande parte pelos enfrenta dificuldades para ocupar os espaços oficiais e socialmente re-
próprios indígenas, de
diferentes etnias, prove- conhecidos, como teatros e museus. Assim, para se fortalecer, a cultura
nientes de diversos es- dos grupos minoritários busca ocupar novos espaços e se posicionar
tados das regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste política e socialmente.
brasileiras.
Nesse sentido, a cultura negra se destaca pela ocupação de espa-
Direção: Sebastian Gerlic. Brasil, 2010.
ços, a partir das décadas de 1970 e 1980, com o crescimento da cultura
Disponível em: https://
www.youtube.com/ do Hip Hop, composta de representações culturais ligadas à música,
watch?v=T2I7ovB6E7k. Acesso em:
à dança e às artes visuais, principalmente o graffiti (FOCCHI, 2007). O
26 abr. 2021.
desenvolvimento da internet e das redes sociais também representa
um importante espaço para a divulgação da cultura negra e indígena.
Segundo Bueno (2013, p. 14),
muitos povos indígenas têm usado a rede para atingir um públi-
co grande, dentro e fora do país. Os recursos on-line são usados
para romper o isolamento em que muitas comunidades vivem
e também para vencer a barreira da falta de espaço que esses
povos têm nas mídias tradicionais. A internet possibilita aos in-
dígenas divulgar suas culturas e potencialidades de forma mais
2.4
Vídeo
Políticas de ações afirmativas
A música Negro drama, do grupo Racionais Mc’s, retrata o que os
séculos de discriminação, negação de direitos e falta de oportunidades
causaram nas populações das minorias étnico-raciais.
Relações étnico-raciais 51
Periferias, vielas, cortiços
Você deve tá pensando
O que você tem a ver com isso?
Desde o início, por ouro e prata
Olha quem morre, então
Veja você quem mata
Recebe o mérito a farda que pratica o mal
Me ver pobre, preso ou morto já é cultural
Histórias, registros e escritos
Não é conto nem fábula, lenda ou mito
(NEGRO..., 2002)
Políticas distributivas
são ações ou decisões Essa limitação do alcance da política pode advir de uma limitação de
do governo com um recursos ou pode ter o objetivo de oferecer condições especiais para
escopo mais individual, um determinado grupo que precise de incentivos. Podemos citar como
buscando oferecer exemplos de políticas distributivas os programas de crédito barato para
condições privilegiadas pequenos empreendedores, os incentivos fiscais para alguns tipos de
para determinados grupos negócios que precisam se desenvolver, ou a realização de obras públicas
ou mesmo regiões do país, em comunidades pouco desenvolvidas.
sem, contudo, serem ações
que atingem a totalidade da
população.
Políticas redistributivas
são aquelas que atingem
a população como um O programa Bolsa Família é um exemplo de política desse tipo,
todo e que têm aspecto fundamentado no conceito de redistribuir renda usando os impostos
universal. O sistema cobrados sobre os rendimentos e sobre o consumo das parcelas
tributário, as mudanças na mais ricas da população a fim de garantir uma renda mínima
previdência e os programas para as parcelas mais pobres.
de redistribuição de renda
são exemplos dessa
forma política.
Políticas constitutivas
são as normas e os
procedimentos necessários Secchi (2012) as chama de meta-policies e explica que
para que as outras políticas esse tipo de política está acima das outras. São exemplos
públicas sejam colocadas de políticas constitutivas a definição das competências de
em prática pelo governo. As cada um dos três poderes, o sistema eleitoral e as formas de participação
políticas constitutivas orientam da sociedade civil nas decisões políticas.
e organizam a formulação e a
implementação do programa
do governo.
Relações étnico-raciais 53
As políticas públicas de ação afirmativa são classificadas como uma
política distributiva, pois estão direcionadas a um determinado grupo
específico, no caso as minorias étnico-raciais, e têm um caráter compen-
satório ao incentivar a igualdade de tratamento e de oportunidades, nos
âmbitos educacional, profissional e social, para os grupos étnico-raciais
que, por motivos históricos, têm sua ascensão social dificultada ou im-
pedida (BENTO, 2000). O caráter compensatório das políticas públicas de
ação afirmativa, segundo Munanga (2007, p. 1):
as chamadas políticas de ação afirmativa são muito recentes na
história da ideologia antirracista. Nos países onde já foram im-
plantadas (Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Índia, Alemanha,
Austrália, Nova Zelândia e Malásia, entre outros), elas visam ofe-
recer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento dife-
renciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação
de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação.
Uma das mais conhecidas ações afirmativas são as cotas raciais que
garantem um percentual de vagas nas universidades públicas. Ribeiro
(2019) explica que as cotas raciais são necessárias, pois as populações
minoritárias têm maior dificuldade de acesso a uma educação de qua-
lidade, devido ao racismo estrutural que perpassa toda a sociedade
brasileira. Segundo a autora, o alto nível de exigência e a grande quan-
tidade de candidatos nos vestibulares das universidades públicas fa-
zem com que alunos de alto poder aquisitivo e das classes econômicas
superiores (que estudaram em boas escolas nos anos iniciais e tiveram
acesso a cursos complementares e experiências, como intercâmbios)
tenham vantagens competitivas frente aos indivíduos dos grupos étni-
co-raciais historicamente discriminados, o que conclui que essa reali-
dade reforça ainda mais o racismo estrutural da sociedade.
Artigo
https://www.linkedin.com/pulsemeritocracia-na-sociedade-%C3%A9-diferente-de-dentro-da-
empresa-caxito/?originalSubdomain=pt
Relações étnico-raciais 55
ciais. Tanto as ações do Estado quanto de instituições privadas são fun-
damentais para gerar oportunidades de trabalho e de carreira para os
indivíduos que sofrem com o preconceito racial.
Já Oliveira (2013) faz uma relação entre raça e gênero e mostra que,
se o mercado de trabalho discrimina as minorias étnico-raciais, as mu-
lheres negras sofrem ainda mais com o preconceito. Além de sofrerem
mais com o desemprego, o trabalho da mulher negra é ainda mais pre-
cário e mal remunerado. A pesquisa é corroborada pelos dados coleta-
Leitura
dos por Guimarães (2004), que chega a outra importante conclusão: a
No site Hypeness, é
quantidade de anos de estudo e a qualificação escolar dos indivíduos possível encontrar a
de grupos minoritários é menor, e a baixa escolaridade é diretamente história em quadrinhos
On the plate (De bandeja
relacionada à precariedade do trabalho e ao menor nível salarial. em português), do
australiano Toby Morris.
De modo complementar, Vilela e Monsma (2015) concluem que pro-
A obra ilustra como a
fissionais brancos são mais bem remunerados do que profissionais falta de equidade impacta
as oportunidades pro-
negros com o mesmo nível educacional e com experiência profissional
fissionais de dois jovens
semelhante. De modo complementar, Cacciamali e Hirata (2005) mos- de diferentes origens
étnico-raciais e sociais.
tram que as mulheres negras, entre profissionais com o mesmo nível
Disponível em: https://www.
educacional, são as que mais são discriminadas no mercado de trabalho.
hypeness.com.br/2015/05/
Os dados mostram que a grande maioria dos profissionais que quadrinho-resume-o-porque-de-a-
historia-de-que-todo-mundo-tem-
ocupam cargos de gestão e liderança são brancos, enquanto os car- as-mesmas-chances-nao-e-tao-
gos operacionais e básicos da estrutura hierárquica são predominante- verdadeira-assim-2/. Acesso em:
26 abr. 2021.
mente ocupados por minorias étnico-raciais.
Relações étnico-raciais 57
Os resultados dos estudos citados mostram a importância das ações
afirmativas, tanto as relacionadas à educação quanto as relacionadas
à inserção de negros e indígenas no mercado de trabalho. Segundo
Ribeiro (2019, p. 24),
a lei de cotas para universidades federais, promulgada em 2012,
representou uma grande vitória. Uma pesquisa da Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Su-
perior (Andifes), com base em dados de 2018, mostrou que, nes-
sas instituições, a maioria dos estudantes é negra (51,2%); 64,7%
cursaram o ensino médio em escolas públicas e 70,2% vêm de
famílias com renda mensal per capita de até um salário mínimo
e meio.
ATIVIDADES
Vídeo
1. Explique o conceito de eugenia.
REFERÊNCIAS
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Relações étnico-raciais 59
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Gênero e sexualidade 63
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
• compreender os conceitos de sexualidade e diversidade sexual;
• reconhecer as diversidades sexual e de gênero;
• refletir sobre as relações de normatividades de gênero e
sexo na sociedade e no Judiciário em especial;
• conhecer o papel dos movimentos feministas e LGBTQIA+
nas conquistas dos direitos humanos.
A existência de grupos sociais como as hijras mostra que a divisão en- Documentário
tre gêneros e os papéis sociais de cada um deles dependem de aspectos
O documentário Shabnam
culturais e históricos de cada grupo social, como aponta Weeks (2018). Mousi é baseado na bio-
grafia da política indiana
Para Foucault (2017), as expectativas sobre papéis, posturas e comporta-
Shabnam Mousi, que
mentos que homens e mulheres devem ocupar na sociedade reafirmam lutou pelos direitos dos
hijras, considerados, tanto
as relações e as estruturas de poder do grupo social.
social quanto legalmente,
A visão da sexualidade heteronormativa, para Foucault (2017), é uma como um terceiro sexo
na sociedade indiana.
ferramenta construída pela sociedade ocidental nos últimos séculos Apesar de serem aceitos,
como forma de controle e poder dos grupos sociais dominantes. Ela está cumprirem um papel na
estrutura social e terem
presente tanto nos discursos, normas e comportamentos quanto nas parte de seus direitos
práticas legais e sociais que orientam a sociedade. Finco, Souza e Oliveira garantidos pela legislação,
principalmente a partir da
(2017, p. 110) afirmam: luta de Shabnam, os hijras
ainda sofrem preconcei-
a sexualidade é mais que uma questão pessoal, é social e é po- tos e discriminação.
lítica, resultante de um processo de aprendizagem que se dá
ao longo do processo de socialização e está intimamente rela- Direção: Yogesh B hardwaj. India:
cionada ao modo como as relações de gênero estão organiza- Bollywood Films & Entertainments,
2005.
das em um determinado contexto, servindo para constituir os
sujeitos subjetivamente.
Gênero e sexualidade 65
Música Os discursos heteronormativos apontados por Foucault (2017) estão
A letra da música Flutua, presentes nos mais variados grupos e ambientes sociais, a começar pela
cantada por Johnny
Hooker, mostra como própria família, que muitas vezes critica e pune comportamentos por es-
o discurso heteronor- tarem em desacordo com as atitudes que são esperadas para o gênero
mativo está presente na
sociedade. Ao relatar daquele indivíduo.
um romance entre dois
homens, a letra diz:
Esse julgamento se dá também em outros ambientes nos quais o in-
O que vão dizer de nós? divíduo está inserido em seu cotidiano, como a escola, o grupo de amigos
Seus pais, Deus e coisas tais e os ambientes profissionais. Em um ambiente mais geral, os discursos
Quando ouvirem rumores heteronormativos estão presentes também na mídia, nas comunidades
do nosso amor?
religiosas e nos serviços públicos que negam atendimento ou discrimi-
Baby, eu já cansei de me
esconder nam aqueles que não se enquadram na dualidade sexual homem/mu-
Entre olhares, sussurros lher, como na área de saúde e nos serviços de apoio social.
com você
Somos dois homens e nada Como instrumento de dominação social, a heteronormatividade tem
mais
o papel de definir não apenas como os indivíduos de cada gênero devem
Eles não vão vencer
se comportar, mas também como deve ser a prática sexual de cada gê-
Ao mostrar um casal
homossexual sendo nero. Não se trata de negar que a dimensão biológica tem uma influên-
agredido, o clipe mostra cia profunda sobre a sexualidade, mas a prática da vida sexual envolve
a discriminação pala além
das palavras. também aprendizados, experiências, vivências e emoções do histórico
de vida de cada indivíduo.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=mYQd7HsvVtI. Acesso
em: 25 jun. 2021. 3.1.1 Questões de gênero
Os conceitos de gênero e sexualidade não se refletem apenas na dis-
criminação e no preconceito social contra indivíduos que não seguem os
papéis heteronormativos esperados. Segundo Louro (2013), os papéis
sociais masculinos e femininos são definidos de acordo com as caracte-
rísticas de cada cultura e sociedade.
Gênero e sexualidade 67
1 Se para os indivíduos cisgênero
1
a heteronormatividade já traz
Segundo Jesus (2012), o desafios, para aqueles cujo gênero biológico não corresponde à sua
conceito de cisgênero foi
desenvolvido na década identidade de gênero, ou seja, os transgêneros, os desafios são infini-
de 1990 para designar
indivíduos que se identifi-
tamente maiores e mais amplos.
cam com o sexo biológico
e gênero que lhes foram Para entender os conceitos de cisgênero e transgênero, é neces-
atribuídos no nascimento. sário conhecer o conceito de identidade de gênero. Para Jesus (2012), a
representação social dos gêneros masculino e feminino é carregada
de convenções e comportamentos reconhecidos pelo grupo social,
com base no sexo biológico e na genitália do indivíduo. Porém, não
necessariamente a construção e a percepção do próprio indivíduo
sobre sua identidade estão alinhadas a essas características físicas e
biológicas.
O documentário Disclosure:
cisgênero ou transgênero, pode ter diferentes orientações sexuais, e
ser trans em Hollywood foi estas podem se modificar durante a vida.
produzido por pessoas
trans e apresenta um Simões e Facchini (2009) destacam que, da mesma forma que os
olhar profundo sobre a
importância da represen- gêneros e a sexualidade socialmente aceitos são definidos histórica e
tatividade transgênera em culturalmente em cada grupo social, as identidades de gênero e orien-
filmes e na televisão. Tam-
bém é discutido como a tações sexuais também são construídas socialmente. Assim, o que se
versão hollywoodiana tem
espera com base na cultura heteronormativa e cisnormativa é que os
impactado a vida dessas
pessoas. indivíduos desejem sexualmente e se relacionem apenas com indi-
víduos do sexo e do gênero oposto. Porém, segundo os autores, no
Direção: Sam Feder. USA: Netflix,
2020. plano do indivíduo, nem sempre esses elementos caminham juntos.
Gênero e sexualidade 69
3.3 Movimentos feministas
Vídeo
Para que se possa entender e discutir o surgimento e o desenvolvi-
mento dos movimentos feministas, é necessário entender o conceito
de patriarcado, pois é com base na estrutura da sociedade em que o
homem está no centro do poder político, econômico e social que a luta
pelos direitos da mulher se faz necessária. Segundo Costa (2017, p. 3):
o termo “patriarca” é primeiramente encontrado no Antigo Tes-
tamento, como governo paternal de uma família, tribo ou igreja;
“patriarcado” é uma categoria sociológica ou antropológica (mas
poderíamos também dizer filosófica e política) a partir da qual se
concebe um modo específico de organização social, a saber, uma or-
ganização em que o homem mais velho tem a autoridade máxima.
Silva, Mata e Silva (2017) explicam que a luta pelos direitos da mulher
sempre esteve presente no desenvolvimento histórico da sociedade,
mas alguns marcos históricos são fundamentais para que se entenda
o movimento feminista. Para as autoras, as origens do feminismo re-
O matriarcado, que pode
montam ao Iluminismo e a momentos históricos, como a Revolução ser entendido como a
Francesa e a Independência americana. estrutura social na qual as
mulheres se encontram
Porém, para Pinto (2010), o movimento feminista como uma força em posição de poder, é
tema do filme Eu não sou
organizada surgiu no fim do século XIX, com as lutas das mulheres in- um homem fácil, produzi-
glesas pelo direito ao voto. As sufragistas – mulheres que organizavam do pela Netflix. Nele, um
homem criado em uma
manifestações pedindo o direito de participar das decisões políticas da sociedade patriarcal se
sociedade – representaram o primeiro movimento organizado pelos muda para uma local em
que o poder é exercido
direitos da mulher. Apesar de ser uma luta por um direito específico, pelas mulheres. Diversas
o movimento sufragista expôs a situação de negação dos direitos das situações aparentemente
cômicas mostram de
mulheres, dando origem aos movimentos feministas. modo contundente como
a sociedade é machista e
No Brasil, o direito ao voto foi conquistado pelas mulheres na dé- sexista.
cada de 1930, o que colocou o país à frente dos direitos femininos,
Direção: Éléonore Pourriat. França:
pois a grande maioria das nações ainda não garantia o direito ao Autopilot Entertainment, 2018.
voto feminino naquele momento (PINTO, 2010).
Gênero e sexualidade 71
Filme Segundo Miguel e Biroli (2014), a partir da década de 1950, após a
Segunda Guerra Mundial, as mulheres passam a ter, nos países ociden-
tais, uma participação maior na sociedade, conquistando espaços na
política e na economia.
Gênero e sexualidade 73
A prática daquilo que a autora chama de primeiro-damismo, ou seja,
a atuação da primeira-dama (esposa do político que detém o Poder
Executivo) em ações sociais, mostra como a profissão é ligada à figura
da mulher.
Quadro 1
Classificação dos segmentos de indústria com relação às categorias ocupacionais feminina,
integrada ou masculina
SEGMENTOS CLASSIFICAÇÃO
construção masculina
comércio integrada
alojamento integrada
transporte masculina
administração masculina
educação feminina
doméstica feminina
social feminina
Gênero e sexualidade 75
forma de lutar pelos direitos da mulher traz resultados mais amplos,
pois os direitos de outras minorias, como as étnico-raciais e L
GBTQIA+,
também fazem parte de uma sociedade mais justa e harmônica.
Gênero e sexualidade 77
de que todo ser humano sente desejo sexual, sendo que a falta
dele implicaria prejuízos na saúde mental da pessoa e no surgi-
mento de disfunções sexuais.
órgãos públicos e entidades locais e globais que lutam pelos direitos Direção: David Heilbroner, Kate
Davis. USA: First Run Features, 2010.
desse grupo.
Gênero e sexualidade 79
Leitura a garantia de direitos da população LGBTQIA+ ao longo dos últi-
O jornal El País veiculou, mos anos tem se tornado uma construção política adquirida em
em março de 2019, a conquistas fragmentadas e por meio de lutas dia após dia, onde
matéria Morrer por ser gay:
o mapa-múndi da homo-
se esbarra diretamente na crescente linha de movimentos e ata-
fobia, apresentando as ques homofóbicos que se apresentam na sociedade brasileira.
estatísticas de 70 países
que condenam pessoas Diversos países do mundo ainda criminalizam a homossexualidade
que não são heterosse-
e, em alguns deles, a punição é a pena de morte. A ascensão da extre-
xuais e 123 nações em
que relacionamentos ma direita ao poder em diversos países ocidentais na segunda metade
homoafetivos são aceitos
da década de 2010 trouxe diversos retrocessos na luta pelos direitos da
e não são punidos por lei.
Essa matéria escancara a comunidade LGBTQIA+.
necessidade de mudanças
na cultura desses países Segundo Silva (2020), mesmo que o aumento do conservadorismo
e reforça a importância
não tenha, do ponto de vista legal, extinguido nenhum avanço jurídico,
da luta pelos direitos das
pessoas LGBTQIA+. Leia a no que diz respeito à prática e ao cotidiano da sociedade, preconceitos
matéria completa no link
e discriminações com relação aos indivíduos LGBTQIA+ voltaram a ser
a seguir.
observados. Santos (2019) aponta que políticas públicas afirmativas e
Disponível em: https://brasil.elpais.
com/brasil/2019/03/19/interna- de inclusão social e econômica foram abandonadas ou paralisadas, o
cional/1553026147_774690.html. que representa um perigoso retrocesso nas conquistas dos direitos hu-
Acesso em: 28 jun. 2021.
manos dessa comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As conquistas obtidas no passado pelos grupos minoritários relacio-
nados a questões de gênero e sexualidade, como as mulheres e a co-
munidade LGBTQIA+, e baseadas em uma dura e contínua luta cotidiana
tanto dos indivíduos quanto dos movimentos organizados, apesar de re-
presentarem grandes avanços, mostram como cada passo em direção à
garantia dos direitos humanos é fundamental para a construção de uma
sociedade mais inclusiva e justa.
No mundo contemporâneo, grupos políticos ligados a uma visão con-
servadora da sociedade defendem a manutenção da estrutura patriarcal,
heteronormativa e cisnormativa, o que representa um grande risco para
as recentes conquistas obtidas pelos movimentos feministas e LGBTQIA+.
Além de garantir os direitos humanos por meio de legislações ade-
quadas, é necessária uma mudança cultural na estrutura da sociedade
para que todos sejam vistos como iguais, independentemente de gênero,
identidade e orientação sexual. A educação, tanto dos adultos quanto – e
principalmente – das crianças, desempenha um papel fundamental nessa
mudança devido ao seu potencial de transformação cultural e social.
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Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• compreender a relação entre direitos humanos, multicultura-
lismo e alteridade;
• refletir sobre a questão da diversidade e do reconhecimento
das diferenças;
• entender os conceitos de multiculturalismo, diversidade e alteridade;
• refletir sobre a diversidade na sociedade contemporânea.
Segundo o autor, os indivíduos não se enxergam com base em Direção: Lungelo Kuzwayo. EUA:
sua posição social, seu gênero ou sua ocupação, mas se veem como Columbia College Chicago Film &
Video Department, 2015.
sujeitos, como pessoas que podem tomar a decisão de aceitar ou
não as imposições sociais do grupo, bem como agir em prol dele.
lecidos pelo grupo. Castells (2013) afirma que a base da sociedade Manuel Castells, renoma-
do sociólogo espanhol,
são os indivíduos interconectados. Essas conexões são realizadas aborda as questões da
por meio das decisões de cada indivíduo e podem ser baseadas em individualidade e da
coletividade em seus
alinhamentos de crenças e valores, sejam eles pessoais, políticos, estudos. Na entrevista
econômicos ou sociais. para o Canal Fronteiras
do Pensamento, intitulada
É nesse contexto de grupos sociais formados por indivíduos diferen- Manuel Castells – Indivíduo
e coletividade, o sociólogo
tes – que criam uma identidade cultural compartilhada – que as dife- explica os conceitos de
renças são muitas vezes usadas de maneira negativa para hierarquizar, individualidade, indivi-
dualismo e sociedade no
dividir e segregar. Assim, o conceito de alteridade se faz necessário mundo contemporâneo.
para que os direitos de todos os indivíduos sejam respeitados.
Disponível em: https://
Na música AmarElo, o rapper Emicida mostra que a exclusão so- www.youtube.com/
watch?v=rgmCjuNVLSg.
cial causa cicatrizes profundas nos indivíduos, e eles passam a usar Acesso em: 2 jul. 2021.
essas cicatrizes para se definirem como indivíduos excluídos:
Fourleaflover/Zoart Studio/Diana_Karch/
VoodooDot/Shutterstock
Exclusão Segregação
Integração Inclusão
vetor stock/Shutterstock
No primeiro deles, a que o autor chama de relações pessoais
desinteressadas, não há a criação de um laço ou relacionamento social,
pois não há o interesse genuíno de um indivíduo em reconhecer a
identidade do outro, ou seja, não há alteridade.
02
busca estabelecer relações com o outro, mas apenas para atingir seus
próprios objetivos pessoais. O outro é apenas uma ponte para que esses
interesses sejam alcançados. Esse tipo de relação é muito comum nos meios
empresariais e nas relações econômicas. Nesse contexto, há alteridade, mas
ela é parcial. Se o outro não corresponde às expectativas ou às necessidades
do sujeito, a relação é abandonada. Não há a intenção de entender e aceitar
o outro em toda a complexidade da sua identidade.
03
O terceiro baseia-se em uma relação interpessoal aberta, na qual o
interesse pelo outro é genuíno e verdadeiro. O indivíduo exercita a
alteridade ao perceber, compreender e aceitar o outro com todas as suas
idiossincrasias e características individuais e de identidade cultural.
Glossário
idiossincrasia: caracte-
Lévinas (2005) afirma que as relações de alteridade, da mesma for-
rística comportamental
própria a um grupo ou a ma que acontecem nas relações interpessoais, também ocorrem na
uma pessoa.
relação entre diferentes culturas. Para o autor, o primeiro contato com
uma cultura diversa é marcado pelo estranhamento e pelo não enten-
dimento das diferenças. Quanto mais distante da cultura do indivíduo,
mais difícil é exercer a alteridade. Se o outro e sua cultura não apresen-
tam nenhum ponto de acesso, referência ou interligação com a cultura
do sujeito, mais difícil fica estabelecer relações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se é necessário discutir a inclusão social de grupos e de indivíduos que
foram marginalizados pela sociedade e que se encontram em situação de
vulnerabilidade quanto aos seus direitos humanos, é preciso entender os
motivos pelos quais a exclusão acontece.
Porém, tanto o conceito da inclusão quanto o da exclusão estão rela-
cionados a outras realidades que precisam ser conhecidas para que pos-
samos abordar a construção de uma sociedade em que os indivíduos não
sejam julgados ou avaliados por seu gênero, por sua origem étnico-racial,
identidade de gênero ou orientação social, imagem, condição financeira,
escolaridade, condição de saúde ou posição social.
Em um mundo cada vez mais diverso e multicultural, a alteridade se
torna cada vez mais importante para o futuro da civilização humana. Para
lidar com esse futuro incerto e cheio de desafios, a humanidade precisa
aprender com a história e a cultura de cada povo e nação. Como ensinam
as tribos sul-africanas: “Sawubona!”.
ATIVIDADES
Vídeo 1. Explique os conceitos de exclusão, segregação, integração e inclusão.
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• analisar a relação entre inclusão e direitos humanos;
• compreender o papel dos movimentos sociais nas discussões
sobre os direitos humanos;
• analisar as principais áreas de conflito social;
• conhecer o cenário atual e refletir sobre os futuros possíveis
para a discussão dos direitos humanos.
% sobre % sobre
Faixas salariais População
população arrecadação
Até 3 salários mínimos 159.620.400 79,0% 53,8%
De 3 a 5 salários mínimos 20.482.800 10,1% 12,7%
De 5 a 10 salários mínimos 15.352.000 7,6% 16,6%
De 10 a 20 salários mínimos 4.848.000 2,4% 9,6%
Mais de 20 salários mínimos 1.696.800 0,8% 7,3%
Totais 202.000.000 100,0% 100,0%
Direção: André Fran; Rodrigo Um dos temas mais discutidos nos últimos anos, tanto nos Estados
Cebrian; Felipe Ufo. Brasil: Unidos quanto na Europa e no Brasil, é o controle sobre os processos
GloboNews, 2017.
eleitorais, sétimo princípio da concentração de riqueza. Os poderes po-
Os sujeitos coletivos são definidos por Leal et al. (2015) como grupos
ou outras formas de associação estruturados entre pessoas que compar-
tilham crenças, pontos de vista, formas de pensar e demandas comuns
e que agem de modo organizado e em conjunto na mediação entre os
interesses dos indivíduos e das instituições nos espaços de discussão
sobre as questões sociais. Segundo Lúcio (2015, p. 491), “reconhecer os
sujeitos coletivos é dar materialidade política – voz e capacidade delibe-
rativa – às pessoas inseridas na situação e no contexto em que ocorrem
as disputas. Significa ir além da democracia representativa, chegando a
uma forma mais direta de intervenção, debate e deliberação”.
Ainda para Leal et al. (2015), muitas das conquistas legais, sociais
e políticas alcançadas pelas minorias sociais e econômicas no Brasil, Documentário
especialmente nas últimas décadas do século XX e nos primeiros Renato Janine, um
dos mais destacados
anos do século XXI, estão relacionadas à atuação dos movimentos filósofos contemporâ-
sociais, tanto aqueles organizados e institucionalizados na figura de neos brasileiros, que
atua como professor
sindicatos e instituições quanto aqueles que nascerem de maneira da Universidade de São
desestruturada por meio de demandas gerais da população, mas Paulo, no documentário
O Novo nas Ruas, faz
que se transformaram em grandes manifestações sociais que resul- uma profunda análise
taram em grandes mudanças. filosófica, sociológica e
social das manifestações
É importante salientar que nem todos os movimentos sociais e públicas ocorridas em
todo o mundo durante o
sujeitos coletivos buscam propor e implementar mudanças na socie-
ano de 2013. No vídeo,
dade. Existem movimentos que almejam não apenas a manutenção ele comenta que as
manifestações parecem
das estruturas, das leis, das políticas e dos comportamentos como
acontecer por acaso e
também defendem o retrocesso em questões de direitos humanos explodem de repente. O
filósofo aponta que as
conquistados por outros movimentos e sujeitos coletivos, caso de
redes sociais apresentam
grupos conservadores que lutam contra leis como a que legaliza o um importante papel na
criação e na divulga-
casamento homoafetivo e que protegem os indivíduos LGBTQIA+
ção de movimentos ao
(ROMANCINI, 2018). facilitar o encontro de
pessoas e grupos que
É nessa disputa entre as demandas, os interesses, as crenças e as lutam por seus direitos.
O filósofo compara as
ideias de diferentes movimentos, sujeitos coletivos e demais atores
manifestações com os
sociais que a sociedade se modifica e evolui. A participação social é movimentos estudantis
de 1968.
fundamental, pois dá espaço para diferentes visões e demandas dos
variados grupos sociais no processo de planejamento das políticas pú- Disponível em: https://vimeo.
blicas dos governos e na própria concepção de qual deve ser o papel do com/74203386. Acesso em: 12
jul. 2021.
Estado e das organizações privadas na sociedade.
Disponível em: https:// Se eu souber que nesse quarto de hotel tem comida boa todo
www.researchgate.net/ dia e bato todo dia na porta pra comer e eles abrem a porta,
publication/348707415_1992_- me deixam ver a festa, me deixam vê-los jogando salame pra
_a_via_gangsta. Acesso em: 8
jul. 2021.
todo lado, isto é, simplesmente jogando comida pra todo lado,
mas eles dizem que não tem comida. Todos os dias, saio e
Para Luna (2014), esse tema contrapõe dois movimentos sociais or-
ganizados e atuantes: de um lado, os grupos pró-vida, os quais defen-
dem que, mesmo antes de nascer, o feto representa uma vida humana
e, portanto, deve ter seus direitos garantidos; de outro lado, os movi-
mentos feministas, os quais defendem o direito de a mulher definir se
deve dar continuidade à gestação.
5.4
Vídeo
Direitos humanos: presente e futuro
O mundo contemporâneo traz grandes desafios para a garantia dos
direitos humanos. As crises econômicas, sociais e políticas que marca-
ram a segunda metade da década de 2010 e o início da década de 2020,
aprofundadas pelos efeitos da pandemia global causada pela Covid-19,
trazem novos desafios para os movimentos sociais que buscam a inclu-
são social de grupos marginalizados (SIQUEIRA et al., 2020).
Livro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em um país marcado pelas desigualdades sociais como o Brasil, discu-
tir e lutar pela efetivação dos direitos humanos e pela plena cidadania é
cada vez mais importante. No Brasil contemporâneo, violência, exclusão
social, racismo, sexismo, preconceito contra a população LGBTQIA+, falta
de oportunidades de educação e trabalho, exclusão econômica e margi-
nalização estão não só presentes, como se aprofundam.
Nesse contexto, o futuro da defesa dos direitos humanos tende a ser
marcado pela intensificação dos conflitos e pelo aumento da importân-
cia dos movimentos sociais como legítimos representantes dos grupos
sociais e sujeitos coletivos. Nenhuma conquista e nenhum avanço em di-
reção à inclusão total e à plena cidadania podem ser considerados con-
solidados. A necessidade da luta pelos direitos humanos é cotidiana e
contínua, seja hoje, seja no futuro!
ATIVIDADES
Vídeo 1. Explique a relação entre a participação social e a democracia.
3 Gênero e sexualidade
1. Explique a diferença entre os conceitos de gênero e sexualidade.
9 786558 210535
I000128
FABIANO CAXITO