Você está na página 1de 17

A QUESTÃO SOCIAL DA JUVENTUDE

NA ORDEM DEMOCRÁTICA DE HOJE

Roseli Machado L. Nascimento1


João Clemente de Souza Neto2
Orlando Coelho3

A História contemporânea apresenta-se num momento de crise. As mudanças de


paradigmas sociais e políticos trouxeram um quadro de impasse que afeta o mundo nas
mais diversas dimensões. O Brasil se encontra em um momento bastante delicado que
fere a própria ideia de democracia arduamente construída nos últimos quarenta anos. A
polarização ideológica nos diversos campos, particularmente na Educação, tende a
desconstruir vitórias concretas e centrais à garantia de direitos e ao pleno
desenvolvimento do jovem empobrecido das periferias urbanas, por exemplo.

Por outro lado, as desenfreadas conquistas tecnológicas, ainda que trazendo


inúmeros avanços sociais nos mais diversos campos da vida do brasileiro, não
conseguiram atenuar as imensas desigualdades que assolam o país. Resta, do século
anterior, a perspectiva da criminalização da pobreza e sua juventude, particularmente
em suas capitais brasileiras como é o caso de São Paulo.

É nesse contexto de culpabilização que as políticas públicas voltadas para a


juventude no Brasil, apesar de um discurso aparentemente emancipador, apresentam
uma prática eminentemente autoritária; assim, em seus discursos defende o
protagonismo da juventude, mas - ante ao posicionamento destes enquanto cidadão
ativo na sociedade - torna-se objeto da polícia.

O Brasil apresenta-se na atualidade como o quino país do mundo em homicídio


da juventude.

Como mostra o diagnóstico, os homicídios são hoje a principal causa de


morte de jovens de 15 a 24 anos1 no Brasil e atingem especialmente jovens

1
Doutorando do Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade
Presbiteriana Mackenzie – Bolsista CAPES.
2
Professor Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
3
Doutorando do Programa de Pós Graduação em Psicologia Educacional no Centro Universitário FIEO .
negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas
dos centros urbanos. Dados do SIM/DATASUS do Ministério da Saúde
mostram que mais da metade dos 52.198 mortos por homicídios em 2011 no
Brasil eram jovens (27.471, equivalente a 52,63%), dos quais 71,44% negros
(pretos e pardos) e 93,03% do sexo masculino (WAISELFISZ, 2013).

As políticas públicas, por ações ou omissões, trazem um ranço de genocídio e


descaso ante ao massacre diário nunca noticiado em suas reais dimensões pelas mídias
tradicionais. Desde a década de 1990, no entanto, a juventude está mais efetivamente a
discussão das políticas sociais, uma vez que tais indivíduos tornaram-se sujeito de
direitos, como destaca o Estatuto da Criança e Adolescência – ECA (BRASIL, 1990).

Para além dos discursos, o que pretende, de fato, a política de juventude no


Brasil – o quinto país, no mundo, em homicídios de jovens? Como isso se aplica às
mais diversas áreas da vida social? Em termo de trajetória e historia de vida, como isso
impacta o jovem brasileiro pobre? A partir desses questionamentos o presente trabalho
busca refletir de forma a desnaturalizar as relações e desigualdades sociais presente no
cotidiano da sociedade brasileira, enquanto processo histórico e social que cria formas
de ser, estar e perecer no mundo, apontando para uma visão mais ampla da questão
social da juventude na contemporaneidade.

Na perspectiva educativa que entenda o humano enquanto sujeito e busque sua


emancipação, destacamos as ações sociais, educativas e culturais, enquanto formas de
Educação Social (escolar ou não) e referenciadas teoricamente pela Pedagogia Social.
Nesses termos, podemos adotar a reflexão acerca da Pedagogia Social que a
caracteriza-se por ser:
... uma área do conhecimento que tenta capturar outras formas de
conhecimento que ocorrem em diferentes espaços de aprendizagem que não
são da escola ... São diferentes tipos de aprendizagem que visam erradicar
violações de direitos. [...] Costumamos dizer que traz em seu coração um
projeto de sociedade, um projeto de educação que valoriza os atributos e
potencialidades dos indivíduos (SOUZA NETO, 2009).

Assim, tem em sua configuração a proposta de se pensar a educação rumo a


novas configurações de mundo, possibilidades de relações sociais melhores e mais
justas em espaços educativos, Para tanto, estuda ainda as relações sociais, os contextos
históricos e políticos e a percepção do humano ante a sua realidade.
É com nessa perspectiva, por exemplo, que se pensa a proteção integral da
criança e juventude (art. 227 da Constituição Federal), destacando a importância do
olhar que é dado à criança e ao jovem pobre, em vulnerabilidade social/ pessoal
particularmente nos contextos de periferias urbanas e junto ao seguimento educativo.
Assim, pensar a juventude e seu desenvolvimento pleno, emancipação e acesso
ao desfrute de cidadania plena é um dos desafios colocados para a pedagogia social e
que perpassa pelo entendimento do que é a juventude, suas especificidades, a melhor
forma de abordagem e sua complexidade num mundo também complexo.

O QUE É JUVENTUDE, HOJE?


Juventude ou Juventudes?

“Juventude”, como categoria de análise, para além da classificação etária (entre


15 e 29 anos) engloba uma grande pluralidade. Autores como Margulis e Urresti (1996),
destacam que “A condição histórico-cultural de juventude não se oferece de igual forma
para todos os integrantes da categoria estatística jovem”. Juventude, assim, pode ser
entendida como uma construção social histórica que evoca outras categorias como
classe, raça, gênero, origens geográficas, entre aspectos que remetem à cultura
simbólica e materiais de grupamentos humanos.

Por tudo isso, é imprescindível explicitar as diferenças de classes ao se estudar a


juventude, sob pena de contribuir para reprodução de privilégios da ideologia dominante
neste ponto da modernidade, como lembrado por Bourdieu. Apesar da provocação de
que “A juventude é apenas uma palavra”, para o autor desconsiderar as clivagens
socialmente dadas, é o mesmo que tentar manipular a realidade. Nesse sentido, pode-se
destacar pelo menos duas juventudes: a experimentada pelos filhos da burguesia, com
um conjunto privilégios advindos da relação de classe expressada pelo capital cultural
herdados pelos primeiros, e outra juventude, desigual, estigmatizada vivenciada pelos
filhos da classe operária.

Esses dois tipos de juventude estão colocados subliminarmente nos processos e


concepções das instituições e do Estado brasileiro, em particular. Assim o é na
Educação, no atendimento aos mínimos sociais, na aplicação da lei, entre outros, que
remetem a uma série de posturas discriminatórias que tendem a caracterizar o cotidiano
da vida nacional segregando privilegiados e expropriados.

Aspectos ideológicos difundidos como sensos comuns constituírem aspectos de


um imaginário coletivo e estigmas que carimbam o destino dos jovens pobres e
desprivilegiados. Isso é ainda ratificado pela forma como o Estado o trata e concebe esta
juventude, em termos das condições objetivas dadas. A observação mais atenta a essa
situação denota, por exemplo, que no Brasil, os ordenamentos jurídicos são
interpretados a partir de dois princípios ou óticas:

a) O jovem pertencente a “raça” virtuosa (classe média, ricos, universitário, branco,


bem empregado);
b) O jovem pertencente à “raça” perigosa (pobre, negro, baixa escolaridade,
desempregado, nordestino e, por vezes, em conflito com a lei).

Esta perspectiva fica patente no Atlas da Violência elaborado pelo IPEA


(Instituto de Pesquisa e Estudos Aplicados) FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança
Pública) contra a juventude que descreve os seguintes dados:
Quando analisamos a violência letal contra jovens, verificamos, sem
surpresa, uma situação ainda mais grave e que se acentuou no último ano: os
homicídios respondem por 56,5% da causa de óbito de homens entre 15 a 19
anos. Quando considerados os jovens entre 15 e 29 anos, observamos em
2016 uma taxa de homicídio por 100 mil habitantes de 142,7 - ou uma taxa
de 280,6, se considerarmos apenas a subpopulação de homens jovens (IPEA/
FBSP, 2018).

Considera-se que a questão esta entre os mais graves problemas brasileiros.


Reporta-se a uma “Juventude Perdida” que reflete um severo dano no caminho do
desenvolvimento social brasileiro. Nesse contexto, destacam-se ainda na análise, a
assustadora velocidade com a qual vem aumentando essa incidência nos estados do
Norte e entre os jovens oriundos da população negra brasileira.
Outra questão que já abordamos em outras edições do Atlas da Violência é a
desigualdade das mortes violentas por raça/cor, que veio se acentuando nos
últimos dez anos, quando a taxa de homicídios de indivíduos não negros
diminuiu 6,8%, ao passo que a taxa de vitimização da população negra
aumentou 23,1%. Assim, em 2016, enquanto se observou uma taxa de
homicídio para a população negra de 40,2, o mesmo indicador para o resto da
população foi de 16, o que implica dizer que 71,5% das pessoas que são
assassinadas a cada ano no país são pretas ou pardas. (IPEA/ FBSP, 2018)

Neste cenário de tragédia na sociedade brasileira, destaca-se a importância de se


compreender os impactos das práticas e das políticas públicas e sociais voltadas à
juventude pobre marginalizada. Como proposta preliminar estudo desenvolveu uma
pesquisa piloto na perspectiva de escutar os jovens sobre como eles veem, sentem,
entendem e percebem as políticas públicas voltadas para sua faixa etária.
Não basta entender as políticas públicas a partir dos ordenamentos jurídicos para
captar sua repercussão na vida e na experiência compartilhada, no caso aqui dos jovens,
mas é importante entende-las no cotidiano, em seu locus e cultura. Ali onde a criança e
o jovem vulnerabilizado socialmente vive, cresce, brinca, conversa, estuda, trabalha,
aprende e ensina - onde materializa suas formas de socialização e de convivência.

Problematizando Juventude,
Criminalização e Políticas Públicas

Num cenário nacional composto por inúmeros sensos comuns, imaginários


coletivos que compõem a base das relações sociais carregadas de preconceitos,
discriminações e racismo estruturais, destaca-se a importância de se problematizar a
realidade dada, no sentido de desnaturalizar os processos que criaram e perpetuam
desigualdades e injustiças sociais.

Se por um lado o mundo do consumo idolatra uma juventude “virtuosa”, que é


reverenciada por seu vigor, irreverência, beleza e disposição e tomada como a geração
do futuro, na História brasileira, os jovens pobres sempre foram considerados imaturos,
ignorantes e delinquentes, pivetes, trombadinhas, menor.

A partir do final dos anos 1980, os grupos em defesa dos direitos e adolescentes
desenvolveram uma série de discussões e mobilizações que culminaram com a
aprovação do Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), que instituía a proteção
integral, já indicado no art. 227 da Constituição Federal de 1988, modificando o status
desses jovens de “menor” para sujeito de direitos.

Nem por isso a juventude pobre e negra deixou de ser alvo das demandas do
medo das classes medianas e altas que, com base em seus sensos comuns, exigiam a
repressão e punição, mesmo que isso incorresse em perdas de garantias de direitos e o
exercício de ações arbitrárias.
Para Tereza Caldeira:

"a ordem simbólica engendrada na fala do crime não apenas discrimina


alguns grupos, promove sua criminalização e os transforma em vítimas da
violência, mas também faz o medo circular através de histórias e ajuda a
deslegitimar as instituições da ordem e legitimar a privatização da justiça e
uso de meios violentos e ilegais" (p. 43).
Sergio Adorno aponta que:

[...] em conjunturas em que os sentimentos coletivos de medo e insegurança


diante da violência parecem exacerbados, estimulando o pânico moral contra
suspeitos de cometerem crimes, acirram-se e radicalizam-se as posições pró e
contra a adoção de políticas exclusivamente repressivas, em especial
destinadas aos adolescentes autores de infração penal. (ADORNO, 1999,
p.67)

Nesse sentido, Zygmut Bauman (1998) ressalta que os sentimentos de medo e


ansiedade advindos da chamada pós-modernidade/ globalização e o Estado neoliberal
(como falta de garantias de proteção social gerada pelo fim do estado de bem-estar)
seriam, assim, direcionados para a questão da segurança pública - lei e ordem em última
instância.

Dentro deste cenário, em que a violência simbólica e material é direcionada a


um segmento da população tido por “perigoso”, o jovem pobre, negro, do sexo
masculino se constitui envolto na luta por não ser atingido por esse imaginário social
ainda mantido pela sociedade contemporânea.

Esta é uma das questões que vieram a tona na pesquisa piloto empreendida nesta
investigação. Ali, os jovens apontaram - como uma questão de fundo para a
compreensão do que é ser jovem em uma periferia urbana – a discriminação da qual são
vítimas, inclusive a policial. Assim, a partir dos

... preconceitos dos agentes policiais, jovens (trabalhadores, estudantes ou


bandidos) pobres passam a ser o outro lado indiscriminado dessa guerra sem
tréguas que pretende livrar-nos do mal. Essa imagem do „menor‟, isso é, da
criança e do adolescente pobres é a parte da estratégia para justificar a ação
policial violenta e corrupta, na qual já se tornou difícil distinguir o que é
repressão ao crime do que é crime de extorsão (ZALUAR, 2004, p. 49-50).

A proteção da população infanto-juvenil está direta ou indiretamente atrelada a


politicas públicas, tanto em termos de programas e serviços de atendimento, seja em
forma de legislação e mesmo enquanto pesquisas que desenvolvem estudos para
subsidiar tais ações e implementação de políticas públicas. O texto de Souza Neto
(1992) De menor a cidadão: filantropia, genocídio, políticas assistenciais, destaca um
panorama amplo do que vem a ser as políticas e ações voltadas para a infância e
juventude pobre e negra, demonstrando, ainda, a anatomia de uma política de genocídio
contra crianças e adolescentes, especialmente os afrodescendentes.
Tais reflexões fazem emergir a dubiedade das políticas públicas que, pelo menos
em seus discursos, indicam beneficiar as pessoas que realmente necessitam delas, no
entanto, perversamente estão atendendo os interesses do poder econômico vigente.
Ainda segundo, Souza Neto, tal análise evidencia a existência de um Estado “do mal-
estar social” que segrega e esconde as desigualdades que desembocam num conjunto de
práticas que vão contra as populações negras, em particular a juventude negra brasileira.
O extermínio de “menores” foi e continua sendo útil para manutenção e a
permanência de dados grupos políticos no poder, fato este que Souza Neto aponta como
já expressos na obra de autores como Balzac, Marx, Durkheim e outros que já
descreveram de que modo o crime impulsiona o desenvolvimento da economia e, ao
mesmo tempo, reconfigura a organização societária.
Michel Foucault destaca um aspecto interessante para esta análise:
Desde 1820 se constata que a prisão, longe de transformar os criminosos em
gente honesta, serve apenas para fabricar novos criminosos ou para afundá-
los ainda mais na criminalidade. Foi então que houve, como sempre nos
mecanismos de poder, uma utilização estratégica daquilo que era um
inconveniente. A prisão fabrica delinquentes, mas os delinquentes são úteis
tanto no domínio econômico como no político. Os delinquentes servem para
alguma coisa. Por exemplo, no proveito que se pode tirar da exploração
sexual: a instauração, no século XIX, do grande edifício da prostituição só foi
possível graças aos delinquentes que permitiram a articulação entre o prazer
sexual quotidiano e custosos e a capitalização.
Outro exemplo: todos sabem que Napoleão III tomou o poder graças a um
grupo constituído, ao menos em seu nível mais baixo, por delinquentes de
direito comum. E basta ver o medo e o ódio que os operários do sec. XIX
sentiam em relação aos delinquentes para compreender que estes eram
utilizados contra eles nas lutas políticas e sociais, em missões de vigilância,
de infiltração, para impedir ou furar greves, etc. (FOULCAULT, 1998, p. 131
e 132).
A sociedade exclui para incluir, e esta transmutação é condição de uma ordem
social desigual. Mesmo que não seja de forma decente e digna, todos estamos inseridos,
de algum modo, no círculo reprodutivo das atividades econômicas. Uma inserção
desigual que envolve grande parte da população brasileira, em sua maioria negra e
migrante, fazendo com que sejam assumidas posições sociais indiscutivelmente
precarizadas e desprezadas.

Se, as Políticas Sociais a favor da juventude, trazem consigo um ranço de


criminalização, de estigma, e até mesmo de uma política de genocídio contra a
juventude pobre, qual seria o resultado social de indivíduos sem direitos, expostos a
situações de violência, crimes e ausências do Estado entre outros desvios e patologias
sociais? De que forma reage uma sociedade em que o medo é reproduzido e
potencializado para o controle social, como apontado por Foucault, entre outros? Como
esse jovem espoliado em seus direitos apropria-se (ou não) de políticas sociais e que
impacto isso tem em sua própria existência e de seu grupo social?

A PESQUISA PILOTO

Esta etapa da pesquisa inicia uma investigação mais ampla sobre a apropriação e
o impacto das politicas públicas e sociais junto a juventude. Os resultados referem-se a
avaliação realizada junto aos grupos de jovens participantes de uma Comissão de
Festividade do local pesquisado, em meados do mês de Junho/2018, no Conjunto
Residencial Jardim Gaivotas – Grajaú.

Enquanto metodologia de pesquisa social, em termos do desenvolvimento de


processos de avaliação, foi utilizada uma técnica de pesquisa qualitativa, derivada das
entrevistas grupais, que desenvolve a coleta de dados a partir das interações entre os
membros de um referido grupo. Apesar de necessitar de planejamento uma boa
estruturação prévia, essa técnica foi escolhida pelo baixo custo, por proporcionar a
obtenção de dados válidos e confiáveis e, particularmente por ser um procedimento que
abrevia o tempo da pesquisa de campo.

Foram feitos dos dois encontros com grupos de jovens moradores do extremo sul
da região metropolitana de São Paulo, caracterizado por algumas carências e
vulnerabilidades sociais, particularmente em termos de acesso a bens e serviços
públicos e sociais, moradias precarizadas, baixa renda familiar/ per capta e um forte
processo de estigmatização territorial e social.

Na perspectiva de escutar os jovens sobre como eles veem, sentem, entendem e


percebem as políticas públicas voltadas para a juventude, tanto do ponto de vista da
garantia de direitos quanto, e principalmente, do ponto de vista de seu entendimento
enquanto aspecto do cotidiano, este trabalho propôs-se a discutir sobre juventude,
criminalização e políticas públicas, com base em um referencial teórico bibliográfico,
aprofundado nos encontros do grupo de estudos (GEPEPS/Mackenzie). Também
buscou analisar a situação do marco legal da juventude na atualidade brasileira, e
desenvolveu uma pesquisa de campo junto a jovens de uma região específica e
periférica da cidade, com o intuito de captar suas vivências, entendimentos e
representações no que tange às políticas públicas, às relações de criminalização e
cultura em que estão envoltos.

O percurso metodológico referenda os estudos como os de Gaskell (2002),


Stewart; Shamdasani (1990), Patton (1990), Silva e Trad, (2005) que destacam o uso
do grupo focal, ou entrevistas coletivas como técnica em avaliações de marketing, bem
como programas e políticas públicas que particularmente trabalham com
regulamentação pública, além das áreas de Saúde e Ciências Sociais.

O estudo, que se pretende ser mais amplo e englobar outras regiões da metrópole
paulistana, dadas as condições objetivas do momento, desenvolveu-se na região do
Grajaú, distrito de Capela do Socorro, Zona Sul da cidade de São Paulo.

O intuito foi coletar os dados amostrais, observar o resultado dos instrumentais e


procedimento metodológico de entrevista coletiva e analisar os resultados obtidos à luz
do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)4.

Com a uma finalidade de captar as impressões dos participantes, o procedimento


de entrevista coletiva buscou valorizar a percepção de cada sujeito participante,
destacando as dimensões simbólicas e/ou subjetivas advindas da experiência do

4
LEFÉVRE, F. e LEFÉVRE, A. M. C. O Discurso do Sujeito Coletivo: Um novo enfoque à pesquisa
qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: UDUCS – Coleção Diálogos, 2005.
processo de discussão coletiva do tema em questão. A técnica de pesquisa é uma forma
de entrevista grupal, baseada na comunicação e na interação entre os participantes.
Assim, procurou-se identificar tendências e padrões de respostas associadas com o tema
de estudo, no caso a Juventude e as Políticas Públicas. O aspecto da criminalização e a
percepção que os jovens têm dela e como se percebem enquadrados ou inseridos nela
também foi assunto da discussão.

A escolha por esse procedimento de pesquisa atende a demanda de tempo


exíguo, mas também proporciona observar de perto os resultados de tal procedimento.
Nesse sentido, a experiência mostrou-se bastante rica e interessante. Possibilitou
identificar percepções, procedimentos, comportamentos, mudanças e aprimoramentos
nas reflexões, mostrando-se, ainda um processo didático e de construção de
conhecimento coletivo, na medida que ampliou os debates, trouxe questionamentos e,
por vezes polarizações.

Os participantes dos grupos destacam-se por serem todos jovens (entre 15 e 27


anos) o que os tornam homogêneo em termos de características que interferem em sua
percepção do tema (juventude e políticas públicas) que, apesar de tão plenamente
vivida, tende a ser tão pouco refletida em sua experiência cotidiana.

Assim a partir de categoria social juventude tais sujeitos foram sub classificados
em diferentes subgrupos: faixas etárias, gênero, escolaridades. Estas características
acrescentam variáveis que podem influenciar de modo não controlado os resultados do
estudo.

Esta etapa preliminar foi desenvolvida com dois grupos (um com 17
participantes e outro com 15), ambos realizados no mesmo dia, sendo um pela manhã e
outro a tarde. O critério para tanto foi a disponibilidade dos participantes.

Com 32 participantes no total, escolhidos por convite/aceitação, os encontros


realizaram-se na associação de moradores local. Eles já estavam se reunindo
periodicamente para organizar uma festa Julina na comunidade, para arrecadar fundos
para o time de futebol.
Participaram ao todo 23 rapazes (integrantes do time, organizadores, amigos e
irmãos) e 9 moças (irmãs, amigas, namoradas), subdivididos nas seguintes faixas
etárias: entre 15 e 18 anos (8); entre 18 e 21 (18); entre 21 e 25 (4); entre 25 e 29 (2).

Tabela 1
Idade e Gênero
% Gênero
Idade (anos) Total em relação ao Feminino Masculino
total
N. abs. % N. abs. %
De 15 até 18 8 3 33,33 5 21,74
De 18 até 21 18 4 44,45 14
De 21 até 25 4 1 11,11 1
De 25 até 29 2 1 11,11 1
Total 32 100,00 9 100,00 23

Desse grupo, 1 indivíduo estava cursando o Ensino Fundamental I, 7 estavam ou


haviam parado no Ensino Fundamental II, 22 estavam ou haviam concluído e parado
seus estudos no Ensino Médio e 2 haviam ingressado no Ensino Superior.

Tabela 2
Escolaridade, segundo gênero
% Gênero
Escolaridade Total em relação Feminino Masculino
ao total N. abs. % N. abs. %
Fundamental incompleto 1 3,12 1 4,35
Fundamental completo 7 21,88 1 11,11 6 26,10
Ensino médio incompleto 10 31,25 5 55,56 5 21,74
Ensino médio completo 12 37,50 2 22,22 10 43,56
Superior incompleto 2 6,25 1 11,11 1 4,35
Superior completo - - -
Total 32 100,00 9 100,00 23 100,00

Em relação ao quesito raça/cor e gênero, houve a auto declaração de ambos os


aspectos. Assim, 7 pessoas se consideraram brancas (3 fem. e 4 masc.); 5 se auto
declararam pretas (1 fem. e 4 masc.); houve 19 declarações como pardos (6 fem. e 13
masc.) e 1 homem se declarou como indígena.
Tabela 3
Informantes por raça/cor e gênero
Gênero
Raça/ Cor Total %em relação ao total Feminino (28,12%) Masculino (71,88%)
N. abs. % N. abs. %
Branca 7 21,87 3 33,33 4 17,40
Preta 5 15,62 1 11,11 4 17,40
Parda 19 59,37 6 66,66 13 56,50
Indígena 1 3,12 0 - 1 4,34
Total 32 100,00 9 100,00 23 100,00

As entrevistas e seus resultados

As entrevistas coletivas, acompanhadas de breve questionário, foram guiadas por


um roteiro temático conduzido pelo moderador, com um observador, encarregado da
filmagem. Ambas as reuniões foram gravadas e filmadas para posterior transcrição. O
contato entre o grupo de jovens e os pesquisadores foi intermediado pelo líder da
comunidade. Os jovens foram indagados e ouvidos na sede da associação amigos do
bairro local.
Os procedimentos para a coleta de dados seguiram os seguintes critérios: a
pesquisadora mediadora é uma profissional já treinada e apta a desenvolver atividades
coletivas tanto educativas como para a pesquisa. Foi lido e explicado o documento de
livre consentimento para a cessão dos depoimentos. As gravações só serão utilizadas
para auxiliar na digitalização dos depoimentos, não sendo objeto de manipulação em si.
As assinaturas dos menores de idade foram ratificadas pelos pais.

Faremos aqui uma avaliação geral dos dois grupos trabalhados, indo direto para a
análise dos dados obtidos. Assim, a pesquisa destaca que os jovens de uma forma geral
conhecem as políticas públicas, muito embora, por vezes alguns as confundam com a
política partidária. Destacaram algumas como a escola, os postos de saúde, hospitais, o
policiamento, bem como programas como o Leve-Leite e cessão de cestas básicas, por
parte de algumas entidades.
Questionam algumas das iniciativas locais, como os CEUs, muito embora também
reconheçam sua importância na região. Da mesma forma, valorizam a educação, apesar
de não acreditar totalmente na possibilidade da transformação social apenas pela
questão da escolarização.
Tendo em vista sua origem socioeconômica, o fato de serem migrantes, ou filhos
de migrantes, negros e mestiços também têm uma noção do preconceito e da
discriminação que vivenciam – particularmente os rapazes – constantemente
“escolhidos” para serem revistados pela polícia. Por tudo isso, destacaram a importância
de “ralar” em dobro para alcançar “algo de bom na vida” uma vez que se sabem
“pobres, pretos e pardos, sem acesso e morando longe” como citado por eles.
Com tudo isso, no entanto, apesar do aspecto ruim dessa situação, da defasagem
em relação aos grupos privilegiados da sociedade - os “Burguesinhos/ Mauricinhos”-,
também se veem como mais amadurecidos e capazes de assumir a responsabilidade pela
própria vida. A permanência nas casas paternas, no mais das vezes, se dá por uma
questão de composição de renda ou, como relatado: “uns [os burgueses] não saem [da
casa dos pais] porque não querem largar o osso; outros [os jovens pobres] não saem
porque é a carne dele que ajuda a manter a casa em pé”.
Apesar disso, têm percepção de que, enquanto comunidade e população periférica
lhes falta muito do mínimo necessário para uma vida digna. Também destacam a
ausência do poder público e a presença do poder local ligado ao tráfico de drogas e
outras contravenções.
Sabem que são associados à criminalidade, só por morarem onde moram. Alguns
relataram que eles mesmos e/ ou membros de suas famílias por vezes mentem sobre o
local de moradia para conseguirem emprego. Assim, veem e convivem com a
criminalização em seu cotidiano – seja nas “Gerais” da polícia, seja no comportamento
da chamada burguesia ante a sua presença na rua, num estabelecimento comercial, nos
recintos de culto ao consumo. A esse respeito, lembraram dos “rolezinhos” dos quais
alguns participaram, bem como do “churrasco dos diferenciados” na praça Buenos Aires
em Higienópolis.
Um dos aspectos interessantes que nos remonta a avaliação de Magnani sobre o
pedaço é justamente a visão positiva que têm de sua comunidade e a relação que se
estabelecem entre muitos de seus membros. Apesar de reconhecerem as mazelas que
embasam a existência/ sobrevivência nas suas localidades, também reconhecem a
movimentação proposta pela própria comunidade.
Destacamos aqui o histórico de lutas reivindicatórias, movimentos culturais e
combatividade da região (Grajaú – movimento de moradia, Casa da Mulher do Grajaú,
Mães Crecheiras, Balaio Cultural, Pagode da 23 etc.). Assim, seja pelo engajamento
político – dos quais muitos pais e parentes participaram – seja pela vivência artística e
cultural ou ainda pelas associações religiosas, festividades e mobilizações de caráter
reivindicatório e participativo alguns dos jovens se reconhecem e reconhecem a história
de sua família nesses processos.
Tais aspectos referem-se diretamente aos vínculos de pertencimento, aos elos de
identidade e de solidariedade que unem os grupos quase que em comunidades, no
sentido mais sociológico do termo, ao invés do eufemismo geralmente usado para
descrever as favelas, cortiços, ocupações e outras formas precarizadas de habitação.
Assim, apesar do Estado não se fazer presente na medida minimamente necessária,

CONCLUSÃO

Na realidade do cotidiano as relações são mais que interdisciplinares,


transpassam suas fronteiras em experiências que constituem a cotidiano e a história
oculta em cada ser humano e seus grupamentos. A oportunidade de discutir a história do
cotidiano nos permite entrelaça-la com as diversas vertentes do conhecimento de forma
a trata-la de forma mais integrada e complexa e, acima de tudo, poder refletir sobre cada
uma de suas nuances.

Assim, vimos que a categoria juventude longe de ser um constructo homogêneo


ressalta os aspectos das desigualdades, enquanto questão social posta, como algo crucial
para o entendimento do que vem a ser essas juventudes e seus trajetos sociais.

A educação, particularmente a educação comprometida com a emancipação,


pode criar novos paradigmas e novas perspectivas de vida, de si e do mundo para o
jovem empobrecido pelas perversidades dos sistemas sociais historicamente
constituídos.
Dos resultados da pesquisa piloto pode-se, ainda, pensar em uma autonomia
pessoal advinda da precariedade vivenciada nos contextos de inclusão perversa – que
exige dos indivíduos dos grupos socialmente vulnerabilizados muito mais (em termos
das condições objetivas da existência) do que dos indivíduos dos grupos privilegiados –
e numa dependência social/ coletiva no que tange às deficiências no atendimento dos
mínimos sociais (saneamento, saúde, empregabilidade, educação entre outras
obrigações do Estado democrático de Direitos) nos territórios periféricos, segregados e
desassistidos.

E há, também, o aspecto das construções e das relações sociais, dos movimentos
ligados à cultura local e suas práticas (esportivas, de festividades, de mutirões, das
mobilizações reivindicatórias) que desencadeiam nos jovens a busca por agremiações,
por pertencimento, por formas de organização – ainda que não amadurecidas – mas que
lhes permitam espaços de discussão, de percepção e de tomada de decisões.

Nas ausências do Poder Público e fora das estruturas da criminalidade, os jovens


“Manos e Minas em suas quebradas” forjam um espaço social a partir das suas relações
sociais, da percepção histórica da realidade e da construção de suas afetividades.

REFERÊNCIAS

ADORNO, Sérgio. Adolescentes, crime e violência. In: ABRAMO, Helena W.; FREITAS,
Maria V.; SPOSITO, Marília P. Juventude em Debate. São Paulo: Cortez, 2002.

ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de & EUGENIO, Fernanda (orgs). Culturas jovens: novos
mapas do afeto. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2006.

ARCE, José Manuel Valenzuela. Vida de barro duro: cultura popular juvenil e grafite. Rio de
Janeiro, Editora UFRJ, 1999.

ARIÉS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Ambivalência. Rio de Janeiro:, Jorge Zahar, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

BLASS. Leila . Tribos urbanas: produção artística e identidades .


https://books.google.com.br/books?isbn=8574194557
BOURDIEU, Pierre. “A juventude é apenas uma palavra”. In: Questões de Sociologia. Rio de
Janeiro: Marco Zero, 1983, p. 113, disponível em
http://www.observatoriodoensinomedio.ufpr.br/wp-content/uploads/2014/04/a-juventude-
eapenas-uma-palavra-bourdieu.pdf ,

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm

_______. Lei 8069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente, Brasília, 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm

_______. Estatuto da Juventude , Brasilia, 2013. Disponível em:


https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/509232/001032616.pdf

_______ . Índice de vulnerabilidade juvenil à violência e desigualdade racial 2014/


Secretaria-Geral da a Presidência da República, Secretaria Nacional de Juventude,
Ministério da Justiça e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. –
Brasília : Presidência da República, 2015

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São
Paulo. São Paulo: Ed. 34/Edusp, 2000.

HERSCHMANN, Micael. O Funk e Hip Hop invadem a cena, (tese de doutorado UFRJ ) 2000.

HOBSBAWN Hobsbawm, Eric. A Era dos Extremos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.

IPEA - Atlas da Violência elaborado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa e Estudos Aplicados)
FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), 2018.

LEFÉVRE, F. e LEFÉVRE, A. M. C. O Discurso do Sujeito Coletivo: Um novo enfoque à


pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: UDUCS – Coleção Diálogos, 2005.
MACHADO L. N., Roseli. Arte-educação em Contextos de Periferias Urbanas – Um Desafio
Social (dissertação de Mestrado, PUC-SP), 2010.

MAGNANI, José Guilherme C. Festa no Pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo:
Editora Hucitec, 2003.
MARGULIS, Mario & URRESTI, Marcelo. "La juventud es más que una palabra". In:
Margulis, M. (org.). La juventud es más que una palabra. Buenos Aires, Biblos,1996.

MARTINS, José de Souza. O Massacre dos inocentes: a criança sem infância no Brasil. SP:
Hucitec, 1991.

MISSE, Michel. Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre
a categoria “bandido”, in Lua Nova, São Paulo, 79: 15-38, 2010 ,
Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ln/n79/a03n79.pdf ,

NASCIMENTO, Elimar. Hipóteses Sobre a Nova Exclusão Social: dos excluídos necessários ao
s excluídos desnecessários. Cad. CRH., Salvador, n.21. p.29-47, jul./ dez. l994, disponível em:
http://www.cadernocrh.ufba.br/viewarticle.php?id=315 ,
NOVAES, R. Juventude e participação social: apontamentos sobre a reinvenção da política. In:
ABRAMO, Helena W.; FREITAS, Maria V.; SPOSITO, Marília P.: Juventude em Debate. São
Paulo: Cortez, 2002.

SOUZA NETO, J.C. De menor a cidadão: filantropia, genocídio, políticas


assistenciais, São Paulo, PUC. 1992 .

___________ Crianças e adolescentes afrodescendentes e o sistema de proteção


integral. Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.3, set.- dez. 2016, p.122-
135. Disponível em: http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/199

SOUZA NETO, João Clemente de; SILVA, Roberto da; MOURA, Rogério Adolfo
(Orgs.). Pedagogia social. São Paulo: Expressão e Arte, 2009.

SENNETT, Richard. A Corrosão do caráter. RJ e SP, Ed. Record, 2009.

STEWART, D. W.; SHAMDASANI, P. Focus group research: exploration and discovery.


Newburry Park: Sage, 1990.

TRAD Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em


experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis: Revista de Saúde
Coletiva. vol.19 no.3 Rio de Janeiro 2009

UNESCO. Políticas públicas de/para/com juventudes. Brasília: UNESCO, 2004.

WAISELFISZ, J.J. Juventude Viva. Homicídios e Juventude no Brasil. O Mapa da Violência


2013. Brasília, Secretaria Nacional da Juventude, 2013.

ZALUAR, Alba. Integração Perversa: Pobreza e Tráfico de Drogas. Rio de Janeiro, FGV, 2004.

Você também pode gostar