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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

DO PREQUESTIONAMENTO NO PROCESSO DO
TRABALHO

DO PREQUESTIONAMENTO NO PROCESSO DO TRABALHO


Revista de Direito do Trabalho | vol. 85 | p. 22 | Jan / 1994
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 4 | p. 673 | Set /
2012DTR\1994\45
Estêvão Mallet
Professor Adjunto IV de Direito do Trabalho das Faculdades Metropolitanas Unidas; Professor
Adjunto I de Direito do Trabalho da Universidade Paulista; Membro da Academia Nacional de Direito
do Trabalho e Advogado

Área do Direito: Geral

Sumário:

1.Antecedentes históricos

1. Antecedentes históricos
Corte, das decisões finais das Justiças Estaduais e, bem assim, das da Justiça Federal, quando: a)
se haja levantado questão de validade de tratado ou de lei da União e o julgamento haja concluído
pela invalidade; b) se haja levantado questão de validade de lei estadual em face da Constituição,
tratados ou leis da União, e o julgamento haja concluído pela validade e, finalmente; c) qualquer
título, direito, privilégio ou imunidade é invocado com fundamento na Constituição, lei ou tratado
da União e o julgamento é contrário ao título, direito, privilégio ou imunidade. 7 Em qualquer
dessas hipóteses, era imprescindível houvesse sido argüida a aplicação ou incidência da lei
questionada, sem o que restaria prejudicado o writ. Daí afirmar Coolley ser indispensável, para o
seu cabimento, constar dos autos, "ou expressamente, ou por manifestação clara e necessária,
que qualquer uma das questões enumeradas haja surgido no Tribunal do Estado e aí haja sido
rejeitada". 8 Tinha-se, pois, imposta pelo direito e reconhecida pela doutrina, a exigência de prévia
discussão da validade da lei ou do tratado, sem o que ficava tolhido o acesso à Corte Suprema.
No Brasil, proclamada a República e antes mesmo de promulgado o novo texto constitucional,
editou o Governo Provisório o Dec. 510, de 22.6.1890, cujo art. 59, § 1.º, reproduzindo quase
literalmente o Judiciary Act norte-americano, permitia a interposição de recurso para o Supremo
Tribunal Federal, das decisões da justiça dos Estados, "a) quando se questionar sobre validade ou
aplicabilidade de tratado ou leis federais, e a decisão do tribunal do Estado for contra ela; b):
quando se contestar a validade de leis ou atos de governos dos Estados, em face da
Constituição, ou das leis federais, e a decisão do tribunal do Estado considerar válidos os atos ou
leis impugnados". O mesmo recurso passou ao texto da Constituição de 1891, vindo previsto em
seu art. 59, § 1.º, sempre, porém, com a exigência de que houvesse sido questionada ou
contestada a matéria objeto da impugnação, o que levou Barbalho a escrever: "Para que caiba
este recurso, é necessário que a questão que o provoca tenha sido efetivamente agitada em
processo movido perante as justiças estaduais e lá tenha sido julgada: não basta que tal questão
se possa ou pudesse suscitar naquela ordem judiciária". 9
A situação em nada mudou com a revisão constitucional de 1925-1926, nem, tampouco, com as
Constituições de 1934 e de 1937. Em todas se fazia referência à necessidade de questionamento
do texto legal federal violado ou não aplicado.
A Constituição de 1946, todavia, foi a primeira a regular o recurso para o Supremo Tribunal sem
fazer qualquer alusão ao questionamento prévio da aplicação da norma jurídica federal, admitindo
seu cabimento sempre que a decisão fosse "contrária a dispositivo (da própria Constituição) ou à
letra de tratado ou lei federal". 1 0 Esboçou-se, em vista disso, tendência no sentido de dispensar
o prequestionamento para interposição de recurso de natureza extraordinária, 1 1 o que logo
acabou por repercutir na Jurisprudência, como dão mostra as seguintes decisões:
"Apontada lei federal cujo dispositivo haja sido violado pela decisão recorrida, ainda que não
questionada sua aplicação no curso da demanda, cabível será o recurso (extraordinário)" (STF, 2.ª
T., Proc. RE 6.213, Rel. Min. Edgar Costa). 1 2
"Conhece-se de recurso extraordinário quando preterida disposição legal, embora não questionada
sua aplicação" (STF, 2.ª T., Proc. RE 6.362, Rel. Min. Orosimbo Nonato). 1 3
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Não vingou, todavia, a apontada tendência. Premido o Supremo Tribunal Federal pelo número
crescente de recursos a ele dirigidos 1 4 - de impossível julgamento por Corte composta, como
tinha e tem de ser, por poucos magistrados - criou a sua Jurisprudência diversos óbices ao
processamento das impugnações. Entre esses óbices cedo se incluiu, com a Súmula 282 e,
posteriormente, com a Súmula 356, a exigência de prequestionamento do ponto de direito federal
suscitado, para admissão e prosseguimento do recurso extraordinário. 1 5
Do direito comum passou o requisito do prequestionamento para o direito do trabalho, editando-se
o Enunciado 184, e, mais tarde, o Enunciado 297, ambos do Tribunal Superior do Trabalho,
também em decorrência da insuportável quantidade de recursos endereçados a essa Corte. 1 6
2.1 Dessa forma, para interpor qualquer recurso de natureza extraordinária no processo do
trabalho é imprescindível, segundo diretriz já cristalizada, prequestionar a matéria alusiva à
violação de literal dispositivo de lei ou da Constituição da República (LGL\1988\3), pouco
importando tratar-se de recurso de revista, de embargos 1 7 ou mesmo de recurso extraordinário
stricto sensu. Não satisfeita a exigência, denega-se a impugnação ou, em caso de ser admitida,
deixa-se de conhecê-la, proferindo-se juízo negativo de admissibilidade, restando prejudicada a
apreciação de eventual recurso adesivo, ainda que, quanto a este, haja sido prequestionado o
ponto suscitado. 1 8
É importante ressaltar, todavia, que só se cogita de prequestionamento em recurso de natureza
extraordinária, que se distingue dos demais recursos pelo cabimento apenas em hipóteses
limitadas, taxativamente previstas em lei, não sendo suficiente, para sua interposição, o mero fato
da sucumbência. 1 9 Perfeitamente dispensável, pois, o prequestionamento em recurso ordinário ou
mesmo em agravo de petição, ambos recursos de natureza ordinária. Trata-se de decorrência do
efeito devolutivo amplo inerente a essa espécie de recurso (CPC (LGL\1973\5), art. 515), que faz
com que se transfira "ao Juízo recursal a competência originária do Juízo recorrido para conhecer
de todas as questões nele suscitadas e discutidas, mesmo que a sentença não as tenha julgado
por inteiro. Assim, a atividade cognitiva e decisória do Tribunal incide sobre as questões
suscitadas e discutidas, ainda que não tenham sido resolvidas". 2 0
Portanto, a circunstância de a sentença recorrida não haver apreciado certo ponto da
controvérsia não impede que a segunda instância o julgue, bastando, para isso, levantá-lo no
recurso, sem que se imponha o prévio oferecimento de embargos de declaração. Dizendo de outro
modo, a não interposição dos embargos de declaração não toma preclusa a matéria, como muito
bem já decidiu o Tribunal Superior do Trabalho, em julgados que merecem referência:
"Devem ser objeto de apreciação e julgamento pelo Tribunal ad quem todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.
Quando o Regional, mesmo provocado por meio de embargos declaratórios, nega julgamento sobre
determinada questão, declarando que a omissão foi da Junta, viola o art. 515, do CPC
(LGL\1973\5), que edita aquela regra. Em instância ordinária a ausência de prequestionamento não
implica preclusão" (TST, 1.ª T., Proc. RR 2.873/86, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ n. 14.987). 2 1
"Os Tribunais Regionais, atuando como segundo grau de jurisdição ordinária, têm competência para
apreciar matéria discutida no processo, mesmo que a sentença sobre esta não se tenha
pronunciado. Efeito devolutivo amplo consagrado no § 1.º, do art. 515, do CPC (LGL\1973\5)"
(TST, 2.ª T., Proc. RR 6.585/84, Rel. Min. José Ajuricaba, DJ 219/85). 2 2
Em síntese, só em recursos de natureza extraordinária incide o requisito do prequestionamento.
2.2 Não apenas, porém, em recursos dessa natureza é que se exige o prequestionamento do
ponto suscitado. Depois de certa hesitação, e contra a voz de parcela da doutrina, 2 3 impôs-se
também a observância de tal formalidade para propositura de ação rescisória, quando invocada
violação de literal disposição de lei (CPC (LGL\1973\5), art. 485, V), consoante se infere do
Enunciado 298, do TST. Todavia, se já na sua formulação originária constitui o prequestionamento
exigência ilegítima - como se pretende demonstrar mais adiante - transplantá-lo para o campo da
rescisória caracteriza subversão completa do direito vigente, a qual acarreta situações
verdadeiramente paradoxais como, para dar apenas um exemplo, tornar insuscetível de rescisão
pronunciamento de nulidade manifesta e reconhecida pela própria Jurisprudência, 2 4 como é a
decisão citra petita. Por isso, o mesmo Tribunal Superior do Trabalho que aprovou o Enunciado
298 viu-se obrigado, em várias oportunidades, a temperar o significado do referido verbete,
admitindo a rescisão por ofensa à lei, sem que houvesse sido prequestionado o preceito violado.
25

Na verdade, a ação rescisória é, como diz seu próprio nome, ação e não recurso e "seria erro...
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que se concebesse o remédio jurídico processual da rescisão de sentenças como recurso". 2 6 Daí
porque nem tudo o que se aplica aos recursos pode ser invocado em matéria de rescisória. Não
faz sentido, por exemplo, condicionar o ajuizamento da ação rescisória ao pagamento das custas
fixadas pela decisão rescindenda, como em relação aos recursos (CLT (LGL\1943\5), art. 789, §
4.º). Igualmente descabida é a exigência de prequestionamento do texto legal apontado como
violado, tanto mais quanto possível a propositura da rescisória por quem não foi parte no processo
originário (terceiro juridicamente interessado ou Ministério Público), 2 7 e não teve, por isso, meios
para prequestionar a aplicação de qualquer dispositivo legal.
Acresce ponderar, por outro lado, que, se não está a parte interessada na desconstituição da
sentença obrigada a exaurir as vias recursais cabíveis, antes de ajuizar a rescisória, conforme
entendimento da melhor doutrina 2 8 e da jurisprudência uniforme, 2 9 é absurdo dela exigir-se o
prequestionamento da lei violada. Mostra-se evidentemente contraditório dispensar a interposição
de recurso (que é o mais) e exigir, ao mesmo tempo, o prequestionamento do texto ofendido (que
é o menos).
O requisito do prequestionamento há de ser, pois banido do âmbito da ação rescisória, na linha,
aliás, da orientação do Supremo Tribunal Federal:
"O requisito do prequestionamento não se aplica à rescisória, que não é recurso, mas ação contra
sentença transitada em julgado, atacável ainda que a lei indicada não tenha sido examinada na
decisão rescindenda" (STF, Pleno, Proc. E-AR 732/RJ, Rel. Min. Soares Muñoz). 3 0
"... em se tratando de ação rescisória não se impõe o requisito do prequestionamento. A rescisória
tanto pode versar o fundamento em que se fixou a decisão rescindenda, quanto em outro por ela
não tratado" (STF, Pleno, Proc. AR 1.126/SP, Rel. Min. Djaci Falcão). 3 1
"Não é requisito da ação rescisória o prequestionamento do texto legal violado, no acórdão
rescindendo" (STF, Pleno, Proc. RE 89.753/SP, Rel. Min. Cordeiro Guerra). 3 2
2.3 Como quer que seja, não se pode deixar de assinalar, sob pena de omissão, incidir o requisito
do prequestionamento tanto quando o texto violado integra a legislação ordinária, como quando
compõe a Constituição da República (LGL\1988\3). A natureza ou hierarquia do dispositivo
desrespeitado é, nesse particular, irrelevante, 3 3 o que, de certo modo, se afigura ao menos
coerente.
2.4 A única exceção que se abre à rigorosa exigência de prequestionamento reside na hipótese de
violação de lei processual praticada pela própria decisão recorrida, ao apreciar o recurso
interposto, vale dizer, quando incorre esta em error in procedendo.
É o que ocorre, por exemplo, quando não se faz o julgamento do recurso preceder de publicação
da pauta no órgão oficial, com a antecedência imposta pelo art. 552, § 1.º do CPC (LGL\1973\5).
A ofensa a esse preceito pode ser de imediato alegada no recurso cabível, sem necessidade de
prévia argüição na instância recorrida. 3 4
Essa hipótese vai aqui assinalada não tanto pelo exemplo acima referido, de reduzido interesse
prático, por ser de ocorrência pouco freqüente, mas porque muito se aproxima de situação
repetidas vezes verificada em processos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho. Trata-
se das ações em que se invoca direito adquirido a certo índice de correção salarial (URP, IPC; etc.
...), suprimido por dispositivo legal taxado de inconstitucional. Não poucas vezes têm os Tribunais
Regionais proclamado, através de seus órgãos fracionários, a inconstitucionalidade do dispositivo
legal impugnado, desrespeitando o art. 97, da Constituição. Em casos tais, poder-se-á impugnar a
decisão prolatada, viciada por error in procedendo, sem necessidade de prévio questionamento da
ofensa à Constituição no Juízo a quo, com a imediata interposição do recurso de revista.
3. Caso, porém, se faça necessário o prequestionamento do ponto controvertido incumbe à parte
interessada suscitá-lo oportunamente, opondo embargos de declaração na hipótese de a decisão
recorrida não emitir pronunciamento expresso a esse respeito.
Não suplanta o óbice do Enunciado 297, do Tribunal Superior do Trabalho, portanto, a apreciação
meramente implícita de determinada questão, impondo-se sempre análise direta do ponto
controverso. 3 5
"Nesta instância extraordinária não se admite prequestionamento implícito..." (TST, SDI, Proc. E-
RR 4.952/89, Ac. 2.332/93, Rel. Min. Cnéa Moreira). 3 6
Assim, não se pronunciando o julgado sobre o ponto controverso, o oferecimento de embargos de
declaração será de rigor, segundo Jurisprudência prevalente, sob pena de preclusão.

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Sobre tais embargos é preciso dizer, em primeiro lugar, não haver como considerá-los
protelatórios, para efeito de aplicação da multa prevista no parágrafo único, do art. 538, do CPC
(LGL\1973\5), já que o propósito da parte é, tão-somente, dar cumprimento a exigência imposta
pela Jurisprudência, e nunca adiar a solução do litígio. Daí haver o Superior Tribunal de Justiça
decidido:
"Não são protelatórios embargos declaratórios destinados a evidenciar o prequestionamento, com
vista a interposição de recurso especial" (STJ, 1.ª T., Proc. REsp. 12.647/SP, Rel. Min. Gomes de
Barros). 3 7
Por outro lado, não servem os embargos de declaração para, sob o pretexto de prequestionar
determinado ponto, suscitar matéria nova, antes não alegada. Nesse caso a omissão não seria do
julgado, mas da parte que, no momento adequado, não deduziu corretamente seu articulado.
"Não configura prequestionamento, para os efeitos da Súmula 356, questão nova proposta nos
embargos de declaração, sem que tivesse sido presente ao juízo de apelação mediante a sua
dedução nas razões do recurso" (STF, 1.ª T., Proc. Ag. 101.689-2 (AgRg) SP, Rel. Min. Rafael
Mayer). 3 8
Não constitui matéria nova, porém, aquela que, havendo sido levantada como fundamento do
pedido ou da defesa, deixou de ser apreciada pela sentença, uma vez que, impugnada esta,
transfere-se ao Tribunal o conhecimento integral da causa, conforme já exposto anteriormente. 3 9
De qualquer modo, está claro que se tem por prequestionada a matéria tanto que haja o julgado a
apreciado, não sendo de se exigir, evidentemente, menção formal do artigo de lei reputado
violado, exigência não contida, aliás, nem mesmo na Súmula 282, do Supremo Tribunal Federal:
"O verbete 282 da Súmula condiciona o cabimento do recurso extraordinário a que o direito federal
discutido pelo recorrente haja sido ventilado no acórdão recorrido, e não que esse julgado indique
o artigo que, na lei federal, disponha sobre o direito discutido" (STF, 1.ª T., Proc. RE 70.945-RJ,
Rel. Min. Antonio Neder). 4 0
"O fato de a decisão proferida não conter alusão explícita ao preceito que a respalda, não
caracteriza a transgressão ao... princípio (do prequestionamento) ... Daí a premissa segundo a
qual prequestionamento revela-se pela abordagem em si do tema e decisão respectiva, e não pelo
simples fato de, um apego maior à forma, ter-se na decisão os números dos artigos pertinentes"
(STF, 2.ª T., Proc. AG 139.902-1/SP, Rel. Min. Marco Aurélio). 4 1

4. Conforme se procurou demonstrar, 4 2 a imposição de prequestionamento da matéria


controversa, para oferecimento de recurso de natureza extraordinária, é fruto da crise vivida pelos
Tribunais Superiores, com o vertiginoso crescimento do número de impugnações submetidas a
julgamento. Trata-se, no entanto, de expediente que, em primeiro lugar, se mostrou incapaz de
solucionar o problema existente, continuando esses Tribunais desmedidamente sobrecarregados
com recursos impertinentes ou, no mais das vezes, apenas protelatórios.
Por outro lado, o prequestionamento constitui medida sem grande respaldo no direito comparado -
que, como já visto, 4 3 não a prestigia - e que não conta, tampouco, com o apoio das fontes mais
remotas do direito brasileiro. 4 4
Mais importante do que isso, todavia, é que não há como conciliar o prequestionamento com a
liberdade que se dá ao juiz na qualificação jurídica dos fatos, em conformidade com a velha
máxima do iura novit curia. Realmente, se, como diz José Alberto dos Reis, "o juiz não está sujeito
às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito",
45
é evidente não ficar descaracterizada a ofensa à lei, que autoriza a interposição de certo
recurso, pela simples circunstância de não haver sido esta mesma lei invocada pela parte
interessada. Dai assinalar Pontes de Miranda, de modo enfático, que "em sistema jurídico que tem
o princípio iura novit curia, seria absurdo que se não desse o recurso extraordinário contra decisão
do tribunal que, sem alegação contrária, deixou de aplicar regra jurídica federal, ou aplicou regra
jurídica, não referida, por entender não ser contrária à Constituição, ou à lei federal, a despeito de
não se lhe haver 'contestado' a validade". 4 6 O importante é, pois, apenas a violação da regra; o
não haver sido ela invocada é sem pertinência, em face da reconhecida possibilidade de atuar o
juiz com liberdade em matéria de qualificação jurídica dos fatos alegados pelas partes. Na
verdade, tem o juiz não apenas a prerrogativa como "o dever de examinar de cada um de seus
possíveis pontos de vista jurídicos o estado de fato apresentado pelo demandante", adverte
Rosenberg, dever que subsiste "mesmo quando o autor não haja afirmado nenhum ponto de vista
jurídico". 4 7 Assim, em matéria de definição da regra aplicável, a omissão das partes não exime o
juiz de decidir em conformidade com o direito vigente, nem faz com que sua decisão, quando
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contrária a texto expresso de lei, tome-se insuscetível de impugnação. Por isso mesmo é que,
consoante sublinha Chiovenda ao escrever sobre o recurso de cassação italiano - com natureza
extraordinária tal como o nosso recurso de revista - "se pode denunciar (por esse recurso) a
violação de lei mesmo quando conforme às alegações das partes em primeira ou segunda
instância; em virtude do princípio iura novit curia, efetivamente, o juiz deve de ofício aplicar a
norma de lei cabível no caso, e a demanda do particular não o vincula nesta matéria". 4 8
Aliás, o descumprimento de regra jurídica não invocada, mas aplicável à hipótese, não é menos
grave, para a integridade do ordenamento jurídico, do que o descumprimento de regra invocada.
49
Logo, a atitude da parte ao longo do processo, no tocante às alegações em matéria de direito,
não constitui elemento relevante para a delimitação do cabimento de recurso de natureza
extraordinária, tanto mais quanto é certo destinar-se tal recurso diretamente à tutela do direito
objetivo e apenas indiretamente à proteção do direito subjetivo dos litigantes. 5 0
5. Conclui-se, pois, pela necessidade de revisão da exigência de prequestionamento do ponto
controverso, formulada pela Jurisprudência para a interposição de recurso extraordinário, que,
além de não haver aliviado a insuportável carga de trabalho que ameaça inviabilizar o
funcionamento dos Tribunais Superiores, não constitui medida conciliável com as regras
informativas do processo civil e trabalhista.
O que cumpre fazer, para que, como desejável, se tome mais célere a distribuição da justiça, não
é cercear indistintamente a atividade processual dos litigantes, mas sim onerar aquele que, de
modo concreto, resiste injustificadamente ao andamento do processo. 5 1 Tal como a ação, que só
deve ser proposta quando impossível a solução negociada do conflito, também o recurso só deve
ser interposto quando incorreta ou injusta a decisão censurada, e real, efetivo e sério o desejo de
reformá-la. Recorrer constitui hoje, porém, ato que se pode praticar irresponsavelmente, visto
como, por mais inconsistente que se mostre o inconformismo do postulante, disso não lhe advém
prejuízo algum, salvo a incidência de inexpressivos juros moratórios e a remotíssima possibilidade
de configuração de litigância de má fé. O recurso desempenha, em semelhante contexto, papel de
excelente instrumento para protelar-se a solução definitiva da controvérsia. 5 2 e continuará a ter
essa utilidade, por maiores que sejam os obstáculos erigidos pela Jurisprudência, enquanto puder o
litigante utilizá-lo sem receio de sofrer qualquer sanção.
Sendo assim, como o requisito do prequestionamento pouco contribui para tomar mais rápida a
solução do litígio e, ainda mais, acaba por fazer com que decisões contrárias a literal dispositivo
de lei acabem por prevalecer, não se vê razão para que subsista a exigência. Há melhores
mecanismos para mais aproximar o processo do ideal de celeridade, 5 3 sem afastá-lo, todavia, do
ideal não menos importante de justa solução da lide.

7. José Afonso da Silva, Do Recurso Extraordinário no Direito Processual Brasileiro, S. Paulo, Ed.
RT, 1963, n. 9, p. 28.

8. A Treatise on the Constitucional Limitations, Boston, 1890, p. 19.

9. Constituição Federal (LGL\1988\3) Brazileira - Commentarios, Rio, Typ. da Cia. Litho-


Typographica, 1902, p. 245.

10. Art. 101, III, "a", da Constituição de 1946.

11. Vide, por exemplo, Pedro Batista Martins, Recursos e Processos de Competência Originária dos
Tribunais, Rio, Forense, 1957, n. 327, p. 389.

12. RF 110/357-360.

13. RF 112/429. Confira-se, ainda nesse sentido, o Ac. da mesma 2.ª T., RE 5.305, relatado
também pelo Min. Orosimbo Nonato in RF 110/415-419.

14. Enquanto em 1904 foram distribuídos cerca de 26 recursos extraordinários no Supremo Tribunal
Federal, número que se elevou para apenas 55 em 1933, já em 1960 julgaram-se 5.946, sendo
certo que o relatório anual de 1985 informa haverem sido decididos 17.798 desses recursos (os
dados encontram-se em estudo de Carlos Robichez Penna, intitulado "O recurso extraordinário e a
crise do Supremo Tribunal Federal", publicado na Revista da Associação dos Procuradores do
Município de São Paulo, 1985/1986, n. 8, p. 21). Apenas para que se tenha um padrão de
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confronto, vale notar que a Suprema Corte Americana recebeu em 1958 apenas 1.819 causas para
julgamento, número que se elevou para 2.294 em 1963 e para não mais do que 4.222 em 1983
(Lawrence Baum. A Suprema Corte Americana, Rio, Forense- Universitária, 1987, p. 161).

15. Dispõem os verbetes citados, respectivamente: "É inadmissível o recurso extraordinário,


quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada". "O ponto omisso da
decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso
extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento". Não é demais lembrar que o próprio
instituto da Súmula, conquanto relacionado remotamente com a figura dos assentos do direito
português, foi criado também como expediente para contornar o problema do excessivo número de
recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal (vide, sobre a matéria, Calmon de Passos, "Da
argüição de relevância no recurso extraordinário" in RF 256/11-22).

16. Apenas para que se tenha idéia dessa quantidade, vale observar que entre julho e dezembro
de 1990 recebeu o Tribunal Superior do Trabalho 10.292 processos, elevando-se para 11.747 esse
número no mesmo período de 1991, com crescimento de mais de 14%, no curto espaço de apenas
um ano (dados colhidos na Revista Synthesis ns. 13 e 15).

17. O recurso de embargos infringentes, cabível contra decisão não unânime proferida em
processo de dissídio coletivo de competência originária do Tribunal Superior do Trabalho (art. 2.º,
II, "c", da Lei 7.70l/88), equiparável aos embargos infringentes do processo civil (CPC
(LGL\1973\5), art. 530 e ss.), não possui natureza extraordinária, já que, no limite da divergência,
opera devolução integral da causa. A ele não se aplica, portanto, o requisito do
prequestionamento (vide, no texto principal. parágrafo seguinte).

18. A regra do art. 500, do CPC (LGL\1973\5), há de ser lida de modo amplo, abrangendo qualquer
hipótese de não conhecimento do recurso principal, e não apenas os casos de desistência,
inadmissibilidade ou deserção, como dá a entender a letra do dispositivo (nesse sentido, José
Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil (LGL\1973\5), Rio, Forense,
1974, v. V, n. 133, p. 257).

19. Assim Zanzucchi que, sobre o recurso de cassação italiano, assimilável aos recursos de
natureza extraordinária do direito brasileiro, escreve: "non basta... la mera soccombenza a
legittimarlo, ma bisogna che Ia soccombenza si coordini a uno di quei vizi della sentenza che Ia
Suprema Corte, a stregua di legge, é chiamata a rivedere" ( Il Nouvo Diritto Processuale Civile,
Milão, Giuffrè, 1942, II, p. 238). No mesmo sentido Provinciali ao assinalar: "...il carattere
straordinario dell' impugnazione... deriverebbe dalla particolorità dei motivo idoneo a legittimarla;
quando non basti piú la generica aspirazione alia giustizia della decisione, per porre in moto il
procedimento d'impugnazione, ma occorra la presenza di uno speciale motivo, dalla legge
tassativamente indicato, non suscettibile, cioê, di estensione interpretative o analogiche..." (
Sistema delle Impugnazione Civile, Pádua, Cedam, 1943, Parte Generale, § 16, p. 67).

20. Sergio Bermundes, Comentários ao Código de Processo Civil (LGL\1973\5), S. Paulo, Ed. RT,
1975, v. VII, n. 108, pp. 125/126. Sobre o efeito devolutivo dos recursos, em especial do de
apelação, não se pode deixar de citar o clássico trabalho de Luiz Machado Guimarães, intitulado
"Efeito devolutivo da apelação", publicado em Estudos de Direito Processual Civil, Rio, Ed. Juridica
Universitária, 1969, pp. 216-226.

21. in João de Lima Teixeira Filho, Repertório de Jurisprudência Trabalhista, Rio, Freitas Bastos,
1989, v. 6.º, em 4.365, p. 1.036/1.037.

22. in Teixeira Filho, ob. cit., v. 5.º, em 4.015, p. 831. No âmbito dos Tribunais Regionais
encontra-se também julgado bastante expressivo, com a seguinte ementa: "Havendo omissão da
sentença de primeiro grau, ainda que não levantada em embargos de declaração, devolvida é a
matéria, quando objeto de recurso ordinário, desde que impugnada oportunamente" (TRT, 9.ª
Reg., 2.ª T., Proc. RO 61/87, Rel. Juiz Fernando Almeida, DJ 11/87 in Teixeira Filho, ob. cit., v.
6.º, em 4.380, p. 1.040).

23. Coqueijo Costa, Direito Judiciário do Trabalho, Rio, Forense, 1978, n. 419, p. 412. No mesmo
sentido, Ada P. Grinover, "Do prequestionamento na rescisória trabalhista" in Processo do Trabalho
- Estudos em Memória de Coqueijo Costa, S. Paulo, LTr, 1989, pp. 211/214.

24. "Anula-se decisão citra petita, mandando-se prol atar outra" (TST, 3.ª T., Proc. RR 6.129/82,
Rel. Min. Orlando Teixeira da Costa in DJ 6.4.84).

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25. Veja-se, por exemplo, a decisão da Seção de Dissídios Individuais no Proc. TST-RO-AR 786/89,
Ac. 2.782/91, Rel. Min. José Luiz Vasconcellos in Revista LTr 56-10/1.254. No mesmo sentido, mas
sem apreciação expressa da questão, ao menos segundo o que consta da ementa publicada,
confira-se o Proc. TST-RO-AR 12.299/90, Ac. 1.516/92, Rel. Min. José Calixto in DJU 21.8.92, n.
161, p. 12.901.

26. Pontes de Miranda, Tratado da Ação Rescisória, Rio, Forense, 1976, § 16, p. 119.

27. Vi de art. 487, II e III, do CPC (LGL\1973\5), atentando, quanto ao último dos dois, para as
disposições do art. 83, da Lei Complementar 75/93.

28. "A ação rescisória - escreve Pontes de Miranda - só se propõe contra sentença que transitou
em julgado, isto é, de que não cabe, ou de que não mais cabe recurso. Nada tem com o autor ter
interposto, ou não, os recursos que a lei lhe permitia... O que perdeu o prazo do recurso pode
pedir rescisão" (Tratado da Ação Rescisória cit., § 17, pp. 144/145).

29. Vide Súmula 514 (MIX\2010\2237)/STF.

30. RTJ 116/870.

31. RTJ 116/451.

32. RTJ 97/699.

33. Dentre os diversos julgados existentes sobre esse ponto, confiram-se os seguintes: "A mera
argüição de matéria constitucional não basta para o conhecimento do recurso, desde que... não
prequestionada..." (STF, 1.ª T., Proc. RE 81.891/SP, Rel. Min. Cunha Peixoto in RTJ 76/937). "O
alegado maltrato ao art. 153, § 3.º, só veio a ser invocado na oportunidade do recurso
extraordinário e, portanto, serodiamente, pelo que à hipótese se aplica o disposto nas Súmulas
282 e 356" (STF, 2.ª T., Proc. RE 101.632/SP, Rel. Min. Aldir Passarinho in RTJ 115/796).

34. "Advogado. Falta de publicação de seu nome na pauta. Recurso extraordinário conhecido e
provido... Nem cabe objetar que essa matéria não foi agitada na instância a quo, pois não poderia
ser, uma vez que diz respeito à nulidade do acórdão de apelação, por não ter sido o julgamento
anunciado como determina a lei. Assim, só poderia mesmo surgir no recurso extraordinário
interposto desse acórdão" (STF, 1.ª T., Proc. RE 67.013/PA, Rel. Min. Luiz Gallotti in RTJ 50/527).
No mesmo sentido há, ainda os julgados publicados na revista citada, vols. 52/282; 53/267; 55/
276, além de outros mais. Assim já entendia, aliás, a doutrina (cf., Pedro Lessa, Do Poder
Judiciário, Rio, 1915, pp. 117/118 e Odilon de Andrade, Comentários ao Código de Processo Civil
(LGL\1973\5), Rio, Forense, 1946, v. IX, n. 361/355).

35. Nesse sentido é a Jurisprudência do STF, contrária ao prequestionamento implícito (vide, p.


ex., RTJ 99/1.189, e 125/1.368), e, bem assim, a do Tribunal Superior do Trabalho (vide Proc. E-
RR 5.518/80, Ac. 1.115/85, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 23.8.85 in Revista LTr 51-9/1.043). Há,
todavia, decisão mais recente do Superior Tribunal de Justiça em sentido contrário: "Em tema de
prequestionamento, o que deve ser exigido é apenas que a questão haja sido posta, na instância
ordinária. Se isto ocorreu, tem-se a figura do prequestionamento implícito, que é o quanto basta"
(STJ, 2.ª T., Proc. REsp. 2.336IMG, Rel. Min. Carlos Velloso in DJU-I 4.6.90, p. 5.054).

36. in DJU-I, n. 169, 3.9.93, p. 17.875. No mesmo sentido: "Para efeito recursal, o
prequestionamento não pode ser auferido de forma implícita" (TST, SDI, Proc. 43.488/92, Ac.
2.443/93, Rel. Min. Guimarães Falcão in DJU-I, n. 178, de 17.9.93, p. 19.036).

37. in DJU-I, 20.4.92, p. 5.203.

38. in DJU-I, 19.4.85, p. 5.457. Em outra oportunidade ficou assentado: "A matéria constitucional
invocada, com o intento de superar o óbice regimental, carece de prequestionamento, eis que o
tema veio a ser considerado tão-somente nos embargos de declaração, sem que houvesse sido
presente aos julgadores do acórdão recorrido nos precedentes da causa. Recurso extraordinário
não conhecido" (STF, 1.ª T., Proc. RE 99.021/MA, Rel. Min. Rafael Mayer in RTJ 107/827). Do
corpo do acórdão consta a seguinte observação: "... a própria letra da Súmula (356) supõe para a
integração do acórdão embargado, tenha sido ele omisso quanto ao ponto questionado, e omissão
somente existe quando proposta a questão, sobre ela não se pronuncia o julgado, não sendo
aquele recurso momento adequado para adir o tema até então silente" (p. 830). Também assim no
Tribunal Superior do Trabalho: "Os Embargos de Declaração não são o meio processual adequado
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para prequestionar, pela primeira vez, matéria que se pretende ver analisada" (TST, SDI, Proc.
ED-AG-E-RR 27.591/91, Ac. 2.389/93, Rel. Min. Hylo Gurgel in DJU-I, n. 178, de 17.9.93, p.
19.038).

39. Vide retro, n. 2.1.

40. RTJ 82/419.

41. DJU 5.4.91, p. 3.664 apud Bol. da AASP n. 1.693/146. No mesmo sentido, Ac. RE 141.788, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, com a seguinte ementa: "O prequestionamento para o RE não reclama
que o preceito constitucional invocado pelo recorrente tenha sido explicitamente referido pelo
acórdão, mas, sim, que se tenha versado inequivocamente a matéria objeto da norma que nele se
contenha." (in DJU-I, n. 114, 18.6.93, p. 12.114). Não merece aplauso, pois, decisão anterior do
Supremo Tribunal Federal em que se afirma: "É requisito de admissibilidade do recurso
extraordinário a expressa menção a norma constitucional ou a dispositivo de lei contrariados pela
decisão recorrida. Se a decisão adota entendimento írrito a tais normas, mas omite a referência a
elas, não resta figurada a questão federal, que enseja o recurso" (STF, 2.ª T., Proc. RE 114.007
(EDcl)-SP, Rel. Min. Carlos Madeira in RTJ 130/401). Semelhante diretriz exterioriza formalismo que
ultrapassa as exigências das Súmulas 282 e 356, e não se justifica sob nenhum aspecto, já que a
existência de questão federal revela-se pela abordagem, no julgado, da matéria suscitada, e não
pela mera transcrição de dispositivos legais.

42. Vide n. I, supra, especialmente notas 14 e 16.

43. Vide n. I, supra, notas 3, 4 e 5.

44. Vide n. I, nota 1.

45. Código de Processo Civil (LGL\1973\5) Anotado, Coimbra, Coimbra Editora, 1981, v. H/355.

46. Comentários ao Código de Processo Civil (LGL\1973\5), Rio, Forense, 1975, t. VIII, p. 87.

47. Tratado de Derecho Procesal Civil, B. Aires, EJEA, 1955, t. II, § 88, II, n. 1, "c", p. 31.

48. Instituições cit., p. 412 (o grifo é do original).

49. Tem toda razão Celso Bandeira de Mello quando afirma: "Uma norma ou um princípio jurídico
podem ser afrontados tanto à força aberta como à capucha. No primeiro caso expõe- se
ousadamente à repulsa; no segundo por ser mais sutil, não é menos censurável" ( O Conteúdo
Jurídico do Princípio da Igualdade, S. Paulo, Malheiros, 1993, n. 13, p. 24).

50. Essa a conhecida tese de Calamandrei, exposta em La Cassazione Civile ( apud Carnelutti,
Derecho y Proceso, B. Aires, EJEA, 1971, n. 154, pp. 280/281, nota 28), de acerto inquestionável
em face do direito italiano e do francês, em que expressamente se admite o recurso de cassação
no interesse da lei (vide art. 363, do CPC (LGL\1973\5) italiano e art. 17, da Lei francesa de
3.7.67), mas válida também para o ordenamento jurídico brasileiro, conforme demonstra Afonso da
Silva ( Do Recurso Extraordinário cit., n. 40, p. 105).

51. Tenha-se sempre presente que a demora no julgamento da causa afeta de maneira desigual as
partes no processo, prejudicando muito mais o litigante pobre, de modo a caracterizar verdadeira
denegação de tutela jurisdicional. É o que se extrai das colocações de Cappelletti: "A excessiva
duração do processo civil em geral e do processo do trabalho em especial não é... somente
demonstração de desorganização e de ineficiência. Ela é também demonstração da inacessibilidade
da justiça, especialmente para as partes economicamente mais fracas, as quais não podem se
permitir o luxo de uma espera tão prolongada" ("El nuevo proceso laboral bajo acusación",
publicado em Proceso, Ideologías, Sociedad, B. Aires, EJEA, 1974, n. 14, p. 232).

52. Irrespondível, nesse particular, a colocação de Antônio Álvares da Silva no sentido de que "a
grande maioria dos recursos serve mais à protelação e à chicana jurídica" ("A Instrução Normativa
3 do Tribunal Superior do Trabalho" in Suplemento Trabalhista LTr 58/93).

53. Consulte-se, a propósito, o que se escreveu no artigo "Sobre o projeto de criação de


comissões de conciliação" in RDTrabalho 83/44-48, S. Paulo, Ed. RT, 1993.
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