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COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL AO ADOLESCENTE:

RELATO DE EXPERIÊNCIA
Carla Lidiany Bezerra Silva Oliveira. Universidade Estadual do Ceará. Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará. Fortaleza - Ceará.
Maria Veraci Oliveira Queiroz. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza - Ceará.
Maria da Gloria Oliveira Carneiro. Secretaria da Saúde do Estado do Ceará. Fortaleza - Ceará.
Descritores: Relações Interprofissionais; Saúde mental; Adolescente; Estudantes; Instituições Acadêmicas
INTRODUÇÃO
A saúde mental de crianças e adolescentes têm recebido mais atenção em decorrência dos impactos do isolamento social
no período da pandemia por COVID-19 e fechamento das instituições educacionais por longo tempo. Assim, as crianças e
os adolescentes vivenciaram restrição no convívio social com colegas, professores, família e redes comunitárias, o que
intensificou o sentimento de solidão e tornou evidente a associação de tal sentimento com problemas de saúde mental
(NEUMANN et al, 2021). No retorno às atividades presenciais, em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia,
muitos estudantes adolescentes celebraram o retorno à escola, enquanto outros experienciaram momentos difíceis na
adaptação ao novo modo de estudo. Eram frequentes os relatos de medo, raiva, tristeza, estresse, cansaço, angústia por ir
à escola, dificuldade para permanecer em sala de aula e de concentrar-se nos estudos, repercutindo negativamente no
rendimento escolar. Além disso, a ausência de amigos e a dificuldade em se relacionar com pares, pareceram gerar
ansiedade e tristeza, conforme relato de alguns estudantes. Frente à complexidade de tal cenário, os profissionais dos
setores de apoio ao estudante adotaram a colaboração interprofissional no cuidado aos adolescentes que apresentavam
queixas e demonstravam algum sofrimento mental. Teve-se o entendimento que esta colaboração potencializaria as ações
e estratégias promotoras de saúde e redução desses agravos. A colaboração interprofissional na saúde envolve
compartilhamento de responsabilidade, determinada interdependência profissional, nitidez de funções para um cuidado
centrado no usuário (PEDUZZI E AGRELLI, 2018; PEDUZZI ET AL, 2020). A aplicação desta proposta visualiza-se como
relevante ao ambiente educacional ante às circunstâncias atuais.
OBJETIVO
Relatar a experiência da colaboração interprofissional no cuidado aos estudantes com sinais e sintomas de adoecimento
mental em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência de vivência profissional colaborativa entre uma das autoras, que atua como
enfermeira, e outros profissionais de uma instituição pública de ensino que oferta cursos de nível técnico, superior e de pós-
graduação no interior do estado do Ceará, Brasil.
RESULTADOS
Para atendimento dos estudantes em sofrimento mental, a instituição dispunha de psicólogo, assistente social, enfermeiro,
assistente de aluno, pedagogo e técnico em assuntos educacionais por meio das Coordenadorias de Assuntos Estudantis e
Técnico-pedagógica. O aluno poderia buscar atendimento diretamente junto aos setores ou por meio da assistente de
aluno. Inicialmente, ocorria o acolhimento de cada estudante, por meio da escuta ativa, realizada pela assistente social,
enfermeira ou psicólogo. A partir desse contato inicial, eram identificadas as necessidades do adolescente e convocada
reunião com os demais profissionais para analisar e discutir as intervenções a serem propostas ao adolescente e sua família.
A atuação interprofissional envolvia, além dos profissionais dos setores citados, os coordenadores de curso e os professores,
e tinha como eixo norteador as necessidades e o bem-estar mental do estudante que tinha voz ativa para fazer sugestões
ou críticas e aceitar ou recusar as intervenções propostas pela equipe durante todo o processo. O mesmo envolvimento era
possibilitado à família do adolescente que era contactada por telefone e recebida presencialmente na instituição momento
em que ocorria o compartilhamento de informações pertinentes ao adolescente e a sua convivência familiar e social. Os
profissionais reuniam-se para a análise das informações disponíveis relativas aos aspectos individuais, familiares e do
contexto escolar do adolescente. Com isso elaboravam propostas que eram compartilhadas em encontros com o
adolescente e sua família. E no diálogo, eram feitas as pactuações necessárias e possíveis, onde as intervenções variavam
de acordo com o caso, sendo algumas delas: adaptações temporárias no horário escolar, nas avaliações e na participação
em atividades sociais; acompanhamento psiquiátrico e psicológico; auxílio na organização do horário de estudos; encontros
de escuta uma vez por semana e em caso de necessidade; encaminhamentos a outros profissionais. Assim, os adolescentes
conseguiram gradativamente superar o momento mais delicado e à medida que progrediram na recuperação da saúde
mental, conseguiram restabelecer os vínculos com amigos, familiares e professores e retornar integralmente às atividades
acadêmicas.
DISCUSSÃO
No cuidado em saúde mental ao estudante, os profissionais demonstraram interesse em estabelecer vínculo entre eles e
com o adolescente e seus familiares, além de interesse de trabalhar junto apoiando-se na confiança e na convivência, o
que contribuiu para a internalização da colaboração como frisa Arruda et al (2018). Soma-se a isso, que o cuidado guiou-
se pela perspectiva da integralidade e envolvimento do sujeito cuidado, onde foram estabelecidas a cogestão, o trabalho
em equipe, o diálogo e o compartilhamento de saberes, como pontuado por Silva (2018) e Peduzzi et al (2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática interprofissional colaborativa subsidiou o cuidado em saúde mental do adolescente por meio do vínculo
estabelecido com o sujeito cuidado e sua família, onde a cogestão, o compartilhamento de saberes e a
corresponsabilização foram valorizados por todos os profissionais envolvidos, assim como o protagonismo dos sujeitos.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, G.M. M. S.; BARRETO ICHC, RIBEIRO KG, FROTA AC. The development of interprofessional collaboration in different contexts
of multidisciplinary residency in Family Health. Interface (Botucatu). 2018. v. 22(Suppl 1).p.1309-23. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622016.0859.
NEUMANN, Ana Luisa et al. Impacto da pandemia por covid-19 sobre a saúde mental de crianças e adolescentes: uma revisão
integrativa. 2021.
PEDUZZI M, AGRELI HF. Teamwork and collaborative practice in primary health care. Interface (Botucatu). 2018. v.22 Suppl 2. p. 1525-
34. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622017.0827.
PEDUZZI M, AGRELI HLF, SILVA JAM, SOUZA, HS. Teamwork: revisiting the concept and its developments in inter-professional work.
Trabalho, Educação e Saúde. 2020. v.18(Suppl 1). DOI: https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00246.
SILVA, L. B. Multi-professional Residency in Health in Brazil: Some aspects of the historic trajectory. Revista Katálysis. 2018. v.21. n. 1. p.
200-9. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-02592018v21n1p200.

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