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mediador da escola
Elo entre educadores, pais e estudantes, esse
profissional atua para administrar diferentes pontos de
vista
POR:
Daniela Almeida
01 de Março | 2009
Para ter sucesso, precisa construir uma relação de confiança que permita
administrar os diferentes pontos de vista, ter a habilidade de negociar e prever
ações. Do contrário, passa a se dedicar aos incêndios diários. "Garantir a
integração dos atores educacionais e avaliar o processo evita a dispersão",
explica Sônia Aidar, titular do posto na Escola Projeto Vida, em São Paulo.
É também seu papel manter reuniões semanais com as classes para mapear
problemas, dar suporte a crianças com questões de relacionamento e estabelecer
uma parceria com as famílias, quando há a desconfiança de que a dificuldade
esteja em casa. "Antes, o cargo tinha mais um enfoque clínico. A rotina era ser o
responsável por encaminhar alunos a especialistas, como médicos,
fonoaudiólogos etc.", explica Sônia.
Em algumas redes, como em Guarulhos, na Grande São Paulo, essa ajuda vem de
fora. A organização não-governamental Lugar de Vida, por exemplo, foi
contratada pela prefeitura para prestar o serviço de orientação. O programa foi
pensado para que a equipe da escola tenha encontros quinzenais, de duas horas
cada um, com o pessoal da entidade para falar sobre dificuldades diversas.
Maria Eugênia de Toledo, da Escola Projeto Vida, fala sobre como é lidar
diretamente com crianças e jovens. O relato de Lidnei Ventura, da EBM
Brigadeiro Eduardo Gomes, em Florianópolis, é um bom exemplo da rotina de
quem trabalha lado a lado com os professores. E Suzana Moreira Pacheco, titular
do posto na EMEF Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, em Porto
Alegre, conta como é ser o elo com a comunidade.
"Meu nome é Maria Eugênia Toledo e, desde 2002, sou orientadora responsável
por sete turmas do 6º e do 7º ano da Escola Projeto Vida, em São Paulo. A
demanda de acompanhamento dos jovens é grande. O desafio é não descuidar
do coletivo, ao mesmo tempo que desenvolvemos uma série de intervenções
individuais.
Recentemente, precisei sentar e conversar com um aluno que fez uma coisa
errada. Os professores reclamavam que ele dava trabalho e provocava os
colegas. Em nossa conversa, ele chorou muito e desabafou: ninguém enxergava
suas qualidades. Eu disse: 'Você tem de mostrar seu lado bom. É sua meta.
Combinado?' Ele respondeu que sim. Estávamos de acordo. Uma semana
depois, a escola promoveu um passeio à exposição
Diálogos no Escuro (ambiente em que se simula o cotidiano dos deficientes
visuais) , na cidade de Campinas, a 98 quilômetros de São Paulo. Esse estudante
foi. Para minha surpresa, quando estávamos no escuro para conversar com os
guias cegos, ele fez as melhores perguntas. Queria saber se os guias eram
vaidosos, como era o dia-a-dia deles etc. No fim do programa, um deles
perguntou o nome do aluno e disse: 'Eu enxergo muitas coisas boas em você'. A
reação do estudante foi incrível. Ele me disse, comovido: 'Puxa, o cara não
enxerga, mas viu minhas qualidades'. Essas situações trazem um efeito positivo
para toda a vida da pessoa.
Para fazer parte do convívio dos estudantes, chego meia hora antes do início das
aulas, às 7 da manhã. Acho que o orientador não pode atuar só em classe, por
isso acompanho a circulação no pátio, nos intervalos e nas atividades de grupo
fora de sala. Estou sempre circulando entre eles.
Além disso, temos um encontro semanal com cada uma das turmas. Funciona
como se fosse uma aula dentro da grade curricular, mas tem uma especificidade
de temas. Por exemplo, do 6º ao 9º, eles passam pelo Projeto Vida e Saúde, no
qual discutimos questões como alimentação, drogas, sexualidade, mídia e
relação com o corpo.
Como temos 750 alunos na unidade, a demanda é bem grande. Recebo diversos
tipos de situação, como casos de indisciplina, dificuldade de aprendizagem e
baixa frequência. Às vezes, observo um descompasso entre o docente e a história
das famílias. Nesses casos, cabe a mim fazer a ponte.
O resultado foi incrível. Pouco a pouco, o aluno foi voltando à escola. Se não
fossem os educadores atuantes, fazendo essa ponte com a orientação,
perderíamos o jovem. E ele ficaria atrasado nos estudos.
Outra questão é que acredito ser fundamental o contato dos professores com os
pais. Nossa unidade não é uma ilha. É preciso discutir em conjunto o
desenvolvimento das crianças. Com esse objetivo, programamos alguns eventos
de interação - previstos para esse ano. Queremos chamá-los para alguns ciclos
de palestras sobre as problemáticas da adolescência. É o nosso desafio em
2009: desenvolver projetos que tragam a comunidade para dentro do espaço da
unidade de ensino de forma planejada e produtiva."
Os pais como aliados no ensino dos filhos
"A EMEF Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, em Porto Alegre, foi
uma conquista da comunidade do Morro Alto - que se mobilizou pela construção
da escola junto à prefeitura. Por isso, o entorno está muito presente em nosso
dia-a-dia. Tudo isso representa uma satisfação para mim, Suzana Moreira
Pacheco, orientadora da unidade.
Em poucos dias, a aluna começou a faltar. Não pensei duas vezes: fui até a casa
da família buscá-la. Às vezes, chegava e eles me diziam: 'Ela se atrasou hoje...'
Eu respondia que não tinha importância. Esperava que eles a aprontassem e
levava a menina para a aula, mesmo atrasada. Cansei de ir buscar essa aluna
em sua residência.
Depois, o problema virou o material escolar. Vira e mexe, ela chegava sem nada
para anotar. O fato é que todas as pessoas da família utilizavam o caderno. Ela,
com 7 anos, não conseguia se organizar naquele espaço. Cheguei a sugerir que
ela guardasse as coisas em uma caixa. Aos poucos, consegui pontuar com a
família a importância de cuidar do material.
BIBLIOGRAFIA
Orientação Educacional e Intervenção Psicopedagógica, Isabel Solé, 260
págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 49 reais