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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades


Faculdade de Educação / Coordenação Pedagógicas UERJ

Avaliação Presencial: AD1 ( ) AD2 ( X ) 2023.2

Disciplina: Prática de Ensino II - Currículo

Coordenador (a): Florence Casariego

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Texto

Carreira docente: 5 aspectos para debater os desafios da profissão


Saúde mental, inadequação docente, formação continuada, atratividade e ingresso na carreira são
temas-chaves para compreender a realidade dos professores

A profissão de professor envolve muitos desafios, como as lacunas na formação inicial, a falta de valorização
profissional, a sobrecarga de trabalho, os baixos salários e, muitas vezes, as condições precárias das escolas.
Dois estudos lançados no primeiro semestre deste ano buscam entender a percepção dos educadores em
relação a diversos aspectos da carreira docente, jogando luz nessas questões.

A “Pesquisa de opinião com professores e professoras de escolas públicas brasileiras”, parceria entre Todos
Pela Educação, Itaú Social, Instituto Península e Profissão Docente, ouviu mais de 6,7 mil docentes da rede
pública de todo o Brasil sobre temas como satisfação e valorização profissional, progressão de carreira e o
papel das Secretarias de Educação.
Na mesma linha, o estudo “O futuro da docência: desafios e percepções atuais sobre a carreira de professor”,
da Rede Conectando Saberes, abordou tópicos como rotina e motivação, prática pedagógica, concursos,
contratações e estágios. Cerca de 6,4 mil educadores, entre professores, coordenadores pedagógicos e
diretores de escolas públicas e privadas, além de profissionais das Secretarias de Educação, participaram do
levantamento.

1. Saúde mental dos professores

Nos últimos anos, sobretudo após o período pandêmico, a preocupação com a saúde mental da população
tornou-se um ponto de atenção. Com os professores não seria diferente, principalmente considerando as
longas jornadas de trabalho, acúmulo de tarefas, pouco tempo para planejamento e a remuneração muitas
vezes insuficiente. Situações como essas, que já faziam parte da rotina dos docentes e foram agravadas pela
crise da Covid 19, influenciam a motivação de estar em sala de aula e de continuar exercendo a profissão.

Cerca de 75% dos entrevistados na pesquisa “O futuro da docência", da Rede Conectando Saberes, acreditam
que um dos principais fatores que fazem os professores desistirem ou pensarem em desistir da carreira
docente está relacionado a questões psicológicas. E número semelhante (71%) admite se sentir estressado no
trabalho devido à cobrança excessiva por resultados, segundo o levantamento do Todos pela Educação.

“Hoje, estamos com uma pressão muito grande devido ao déficit de aprendizagem que foi agravado, a
(re)aprendizagem de socialização e as cobranças já históricas na carreira docente”, pontua Gláucio Ramos,
professor na rede municipal e membro do núcleo de Paulista (PE) da Conectando Saberes.

De acordo com ele, o ambiente de trabalho do professor é insalubre por uma série de fatores, como falta de
estrutura e de recursos e problemas de aprendizagem e de comportamento dos estudantes. “Tudo isso
colabora para que o professor se sinta sobrecarregado. Antes, essa questão não era olhada, mas a pandemia
permitiu que fosse aberto espaço para falar sobre o tema.”

Nesse contexto, o reconhecimento e o suporte emocional por parte da gestão podem ser a chave para prevenir
o esgotamento e lidar com a sobrecarga. A “Pesquisa de opinião com professores e professoras de escolas
públicas brasileiras” aponta que a principal ação que as Secretarias de Educação devem priorizar nos
próximos anos é a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes.

“Se o professor não tiver uma válvula de escape, ele surta, ele adoece. Na minha rede, tem docentes pedindo
afastamento por adoecimento. A mente é algo muito frágil e, quando você adoece, é complicado o processo
de retorno à sala de aula”, completa o educador.

A questão da saúde mental mostra-se fundamental, pois, além de afetar a qualidade de vida do professor, a
sua motivação profissional e o próprio processo de ensino e aprendizagem, ela também influencia outros
aspectos, como a atratividade da carreira – o desejo dos estudantes de se tornarem professores.

2. Atratividade da carreira docente

No Brasil, não é uma situação incomum chegar em uma sala de aula da Educação Básica, perguntar aos
estudantes quem deseja ser professor e poucos levantarem a mão – ou mesmo nenhum. Como tornar a
carreira docente mais atrativa para os ingressantes do Ensino Superior é uma questão que preocupa
especialistas e profissionais da área. Os motivos do desinteresse são diversos, como a falta de
reconhecimento profissional, os baixos salários e a sobrecarga na jornada de trabalho.

No relatório “O futuro da docência”, 77,6% dos respondentes concordam total ou parcialmente que um dos
principais fatores que fazem os professores desistirem ou pensarem em desistir da carreira docente está
relacionado aos salários e planos de carreira.
“O incentivo financeiro no começo da carreira é muito importante. Mas, além disso, para atrair bons
estudantes – levando em conta que os alunos de licenciatura, em geral, fazem parte das camadas mais
populares – é necessário uma bolsa robusta que garanta a permanência e a conclusão do curso”, comenta a
professora Rebeca Simões, do núcleo de Recife (PE) da Rede Conectando Saberes.

Em relação à falta de prestígio social e de valorização profissional, a pesquisa do Todos pela Educação
mostra que apenas 7% dos docentes consideram que, no Brasil, os professores são tão valorizados quanto
médicos, engenheiros e advogados.

Aproximar mais os professores da elaboração de políticas públicas e programas educacionais das redes de
ensino pode ser uma forma de desenhar melhor a carreira docente e torná-la mais interessante. É nisso que
acreditam 92% dos professores que responderam a mesma pesquisa e sinalizaram interesse nesse tipo de
ação. Ao escutar quem está no chão da escola, as necessidades e os gargalos da carreira docente ficam mais
claros e facilitam o processo de elaboração de soluções para a reestruturação da profissão.

“Garantir a presença de sujeitos que vivem o ambiente escolar no debate de dados e política públicas é
significativo para sabermos quais caminhos devem ser tomados para mediar conflitos e solucionar
demandas”, afirma a professora Lília Melo, coordenadora do núcleo de Belém (PA) da Rede Conectando
Saberes. “A escuta de nossas vozes é essencial para amenizar nossas angústias e anseios”, reforça.

3. Inadequação docente

O comprometimento da saúde mental dos professores e a baixa atratividade da carreira docente levam a um
terceiro desafio, que é a falta de educadores em sala de aula. Seja pela inexistência de professores
especialistas em determinados componentes curriculares – a chamada inadequação docente – ou pela lacuna
na assiduidade de docentes (absenteísmo), esse tem sido um problema enfrentado pelas gestões escolares. Do
total de educadores entrevistados na pesquisa da Rede Conectando Saberes, 70,5% declararam que a
inadequação docente é frequente na sua escola. Ou seja, há professores alocados em componentes para os
quais não possuem formação, pois não tem em seu quadro um docente com aquela graduação.

Isso acende um alerta para um cenário de escassez de professores. O baixo número de formados em
licenciaturas compromete o quadro de professores em determinados componentes curriculares, sobretudo da
área de exatas e ciências, como Física e Biologia. Quanto menos atrativa a carreira, menos estudantes se
mostram interessados em se graduar e, consequentemente, não são supridas as demandas de componentes
específicos nas escolas.

Um dos caminhos apresentados na pesquisa “O futuro da docência” seria as Secretarias de Educação


contribuírem por meio da melhoria dos mecanismos de alocação dos professores nas escolas. Um exemplo é
o uso de sistemas que cruzam dados, de modo que um professor tenha o máximo de turmas na mesma escola
ou região e não seja designado para disciplinas para as quais não recebeu formação.

“Sem dúvida, a carência de professores vai ser um problema grave na docência. É mais do que urgente
ressignificar esse profissional perante a sociedade para atrair mais profissionais à área”, avalia o professor
Gláucio Ramos.

4. Formação continuada

Mesmo depois de o professor já ter passado pela graduação, continuar estudando e buscando novos saberes e
atualização profissional é fundamental. Cerca de 94% dos professores concordam que o aperfeiçoamento na
prática pedagógica impacta na oferta de melhores condições de aprendizagem para os estudantes e deve
contar para a progressão na carreira, de acordo com a “Pesquisa de opinião com professores e professoras de
escolas públicas brasileiras”.
A participação em espaços formativos oferecidos pelas Secretarias de Educação e pelas escolas ou em cursos
de interesse do próprio profissional contribui para a formação docente e, consequentemente, para a prática
pedagógica e a melhoria do processo de ensino e aprendizagem.

Além disso, essas oportunidades são muito valiosas ao permitirem a troca de experiências entre os
educadores. Em média, 77% dos professores que responderam à pesquisa do Todos pela Educação dizem ter
mais satisfação profissional quando podem dividir com lideranças e colegas as vivências e os desafios da sua
prática.

O levantamento “O futuro da docência” traz um ponto positivo sobre esse assunto. Mais de dois terços dos
profissionais (72%) concordam que as formações continuadas oferecidas pelas Secretarias de Educação estão
relacionadas aos problemas práticos enfrentados pelos professores no dia a dia e costumam ser frequentes
(71,0%).

Para a professora Caroline Laino, do núcleo do Rio de Janeiro (RJ) da Rede Conectando Saberes, a
construção de uma jornada de formação continuada deve passar pela escuta ativa e a busca coletiva de
soluções junto aos professores.

“O docente se percebe devidamente preparado para as várias demandas e adversidades de seu cotidiano por
meio da formação continuada. Ao se sentir seguro para administrar uma sala de aula, aumenta seu grau de
satisfação com a profissão, o que pode inspirar novos jovens a serem professores”, assinala.

5. Início da carreira

Sair da universidade e iniciar uma carreira não costuma ser uma tarefa fácil. Na docência, é preciso que o
profissional se sinta apto e com as ferramentas adequadas, como menciona a professora Caroline, para
compartilhar os conhecimentos com os seus estudantes.

No entanto, segundo a pesquisa realizada pelo Todos pela Educação, somente 19% dos professores
concordam totalmente que os atuais cursos de pedagogia e licenciaturas estão preparando bem os professores
para o início da profissão.
Uma das principais percepções de quem já está em sala de aula é que o contato dos graduandos com a
realidade escolar durante a formação é insuficiente. Essa distância prejudica o ganho de experiência durante
a graduação e o próprio desenvolvimento profissional.

Além disso, quando esses professores chegam às escolas, muitas vezes eles não recebem o apoio necessário
– 56% dos professores afirmam que não tiveram orientação específica em seu primeiro ano de docência, de
acordo com o mesmo estudo.
“Precisamos pensar como a prática será desenvolvida por quem está iniciando a carreira, levando em
consideração que são necessários convivência e tempo de experiência. E aí está um enorme desafio em
alinhar teoria e prática”, conclui a professora Lília Melo.

De modo geral, mesmo diante dessas questões, as pesquisas mostraram que os professores acreditam no
poder da Educação e continuam se dedicando e se empenhando para melhorar o processo de ensino e
aprendizagem. A pesquisa do Todos pela Educação aponta que oito em cada dez entrevistados concordam
que, se pudessem decidir novamente, ainda escolheriam ser professor. E 91% afirmam que perceber que os
alunos estão aprendendo é o que traz mais satisfação na profissão.

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/21722/desafios-carreira-docente

Autora: Julia Goulart


Publicado em 20/07/2023
Questões

Questão 1) A autora do texto aborda alguns dos principais desafios da carreira docente e
destaca: “A profissão de professor envolve muitos desafios, como as lacunas na formação
inicial, a falta de valorização profissional, a sobrecarga de trabalho, os baixos salários e,
muitas vezes, as condições precárias das escolas.”
Indique, segundo o texto, um dos principais fatores que fazem os professores desistirem ou
pensarem em desistir da carreira. Destaque um trecho que embasa a sua resposta. (Valor 3.0
pontos)

Questão 2) Indique duas estratégias pedagógicas que podem ser utilizadas para tornar a
carreira docente mais atrativa para os ingressantes do Ensino Superior. (Valor 2.0 pontos)

Questão 3) A autora Julia Goulart destaca no texto que mesmo depois do professor já ter
passado pela graduação, continuar estudando e buscando novos saberes e atualização
profissional é fundamental.
Indique duas contribuições positivas da formação continuada de professores. (Valor 3.0
pontos)

Questão 4) Sair da universidade e iniciar uma carreira docente não costuma ser uma tarefa
fácil, envolve muitas angústias, incertezas e dificuldades.
Indique e explique dois desafios principais para o início da carreira docente. (Valor 2.0
pontos)

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