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13/08/2023, 21:15 Carreira docente: 5 aspectos para debater os desafios da profissão | Nova Escola

Falta de valorização da profissão, lacunas na formação inicial e continuada e impactos na saúde mental estão entre os principais desafios da carreira. Foto:
Getty Images

A profissão de professor envolve muitos desafios, como as lacunas na formação inicial, a falta de valorização profissional, a sobrecarga de
trabalho, os baixos salários e, muitas vezes, as condições precárias das escolas. Dois estudos lançados no primeiro semestre deste ano buscam
entender a percepção dos educadores em relação a diversos aspectos da carreira docente, jogando luz nessas questões. 

A “Pesquisa de opinião com professores e professoras de escolas públicas brasileiras”, parceria entre Todos Pela Educação, Itaú Social, Instituto
Península e Profissão Docente, ouviu mais de 6,7 mil docentes da rede pública de todo o Brasil sobre temas como satisfação e valorização
profissional, progressão de carreira e o papel das Secretarias de Educação. 

Na mesma linha, o estudo “O futuro da docência: desafios e percepções atuais sobre a carreira de professor”, da Rede Conectando Saberes,
abordou tópicos como rotina e motivação, prática pedagógica, concursos, contratações e estágios. Cerca de 6,4 mil educadores, entre professores,
coordenadores pedagógicos e diretores de escolas públicas e privadas, além de profissionais das Secretarias de Educação, participaram do
levantamento. 

Com base nesses documentos, NOVA ESCOLA selecionou cinco assuntos fundamentais – saúde mental, atratividade da carreira, inadequação
docente, formação continuada e ingresso na profissão – que estão no centro do debate sobre a carreira docente. Na sequência, professores da Rede
Conectando Saberes que estiveram presentes no evento organizado pelo Todos Pela Educação, no dia 1º de junho de 2023, que reuniu
organizações do terceiro setor e docentes da Conectando Saberes para discutir os resultados das pesquisas, comentaram esses temas. Confira a
seguir.

1. Saúde mental dos professores


Nos últimos anos, sobretudo após o período pandêmico, a preocupação com a saúde mental da população tornou-se um ponto de atenção. Com os
professores não seria diferente, principalmente considerando as longas jornadas de trabalho, acúmulo de tarefas, pouco tempo para planejamento e
a remuneração muitas vezes insuficiente. Situações como essas, que já faziam parte da rotina dos docentes e foram agravadas pela crise da Covid
19, influenciam a motivação de estar em sala de aula e de continuar exercendo a profissão.

Cerca de 75% dos entrevistados na pesquisa “O futuro da docência", da Rede Conectando Saberes, acreditam que um dos principais fatores que
fazem os professores desistirem ou pensarem em desistir da carreira docente está relacionado a questões psicológicas. E número semelhante (71%)
admite se sentir estressado no trabalho devido à cobrança excessiva por resultados, segundo o levantamento do Todos pela Educação.

“Hoje, estamos com uma pressão muito grande devido ao déficit de aprendizagem que foi agravado, a (re)aprendizagem de socialização e as
cobranças já históricas na carreira docente”, pontua Gláucio Ramos, professor na rede municipal e membro do núcleo de Paulista (PE) da
Conectando Saberes.

De acordo com ele, o ambiente de trabalho do professor é insalubre por uma série de fatores, como falta de estrutura e de recursos e problemas de
aprendizagem e de comportamento dos estudantes. “Tudo isso colabora para que o professor se sinta sobrecarregado. Antes, essa questão não era
olhada, mas a pandemia permitiu que fosse aberto espaço para falar sobre o tema.”

LEIA TAMBÉM – Como a gestão escolar pode favorecer as relações e o trabalho da equipe

https://novaescola.org.br/conteudo/21722/desafios-carreira-docente 2/9
13/08/2023, 21:15 Carreira docente: 5 aspectos para debater os desafios da profissão | Nova Escola
Nesse contexto, o reconhecimento e o suporte emocional por parte da gestão podem ser a chave para prevenir o esgotamento e lidar com a
sobrecarga. A “Pesquisa de opinião com professores e professoras de escolas públicas brasileiras” aponta que a principal ação que as Secretarias de
Educação devem priorizar nos próximos anos é a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes. 

“Se o professor não tiver uma válvula de escape, ele surta, ele adoece. Na minha rede, tem docentes pedindo afastamento por adoecimento. A
mente é algo muito frágil e, quando você adoece, é complicado o processo de retorno à sala de aula”, completa o educador.

A questão da saúde mental mostra-se fundamental, pois, além de afetar a qualidade de vida do professor, a sua motivação profissional e o próprio
processo de ensino e aprendizagem, ela também influencia outros aspectos, como a atratividade da carreira – o desejo dos estudantes de se
tornarem professores.

2. Atratividade da carreira docente


No Brasil, não é uma situação incomum chegar em uma sala de aula da Educação Básica, perguntar aos estudantes quem deseja ser professor e
poucos levantarem a mão – ou mesmo nenhum. Como tornar a carreira docente mais atrativa para os ingressantes do Ensino Superior é uma
questão que preocupa especialistas e profissionais da área. Os motivos do desinteresse são diversos, como a falta de reconhecimento profissional,
os baixos salários e a sobrecarga na jornada de trabalho.

No relatório “O futuro da docência”, 77,6% dos respondentes concordam total ou parcialmente que um dos principais fatores que fazem os
professores desistirem ou pensarem em desistir da carreira docente está relacionado aos salários e planos de carreira.

“O incentivo financeiro no começo da carreira é muito importante. Mas, além disso, para atrair bons estudantes – levando em conta que os alunos
de licenciatura, em geral, fazem parte das camadas mais populares – é necessário uma bolsa robusta que garanta a permanência e a conclusão do
curso”, comenta a professora Rebeca Simões, do núcleo de Recife (PE) da Rede Conectando Saberes.

Em relação à falta de prestígio social e de valorização profissional, a pesquisa do Todos pela Educação mostra que apenas 7% dos docentes
consideram que, no Brasil, os professores são tão valorizados quanto médicos, engenheiros e advogados.

Aproximar mais os professores da elaboração de políticas públicas e programas educacionais das redes de ensino pode ser uma forma de desenhar
melhor a carreira docente e torná-la mais interessante. É nisso que acreditam 92% dos professores que responderam a mesma pesquisa e
sinalizaram interesse nesse tipo de ação. Ao escutar quem está no chão da escola, as necessidades e os gargalos da carreira docente ficam mais
claros e facilitam o processo de elaboração de soluções para a reestruturação da profissão.

“Garantir a presença de sujeitos que vivem o ambiente escolar no debate de dados e política públicas é significativo para sabermos quais caminhos
devem ser tomados para mediar conflitos e solucionar demandas”, afirma a professora Lília Melo, coordenadora do núcleo de Belém (PA) da Rede
Conectando Saberes. “A escuta de nossas vozes é essencial para amenizar nossas angústias e anseios”, reforça. 

Pesquisa de opinião com professores e professoras de escolas públicas brasileiras ouviu mais de 6,7 mil docentes da rede pública de todo o Brasil sobre
temas como satisfação e valorização profissional, progressão de carreira e o papel das Secretarias de Educação. Foto: Príamo Brandão/Divulgação

3. Inadequação docente
O comprometimento da saúde mental dos professores e a baixa atratividade da carreira docente levam a um terceiro desafio, que é a falta de
educadores em sala de aula. Seja pela inexistência de professores especialistas em determinados componentes curriculares – a chamada
inadequação docente – ou pela lacuna na assiduidade de docentes (absenteísmo), esse tem sido um problema enfrentado pelas gestões escolares.
Do total de educadores entrevistados na pesquisa da Rede Conectando Saberes, 70,5% declararam que a inadequação docente é frequente na sua
escola. Ou seja, há professores alocados em componentes para os quais não possuem formação, pois a escola não tem em seu quadro um docente
com aquela graduação.

https://novaescola.org.br/conteudo/21722/desafios-carreira-docente 3/9
13/08/2023, 21:15 Carreira docente: 5 aspectos para debater os desafios da profissão | Nova Escola
Isso acende um alerta para um cenário de escassez de professores. O baixo número de formados em licenciaturas compromete o quadro de
professores em determinados componentes curriculares, sobretudo da área de exatas e ciências, como Física e Biologia. Quanto menos atrativa a
carreira, menos estudantes se mostram interessados em se graduar e, consequentemente, não são supridas as demandas de componentes específicos
nas escolas. 

Um dos caminhos apresentados na pesquisa “O futuro da docência” é as Secretarias de Educação contribuírem por meio da melhoria dos
mecanismos de alocação dos professores nas escolas. Um exemplo é o uso de sistemas que cruzam dados, de modo que um professor tenha o
máximo de turmas na mesma escola ou região e não seja designado para disciplinas para as quais não recebeu formação.

“Sem dúvida, a carência de professores vai ser um problema grave na docência. É mais do que urgente ressignificar esse profissional perante a
sociedade para atrair mais profissionais à área”, avalia o professor Gláucio Ramos.

4. Formação continuada
Mesmo depois de o professor já ter passado pela graduação, continuar estudando e buscando novos saberes e atualização profissional é
fundamental. Cerca de 94% dos professores concordam que o aperfeiçoamento na prática pedagógica que impacta na oferta de melhores condições
de aprendizagem para os estudantes, deve contar para a progressão na carreira, de acordo com a “Pesquisa de opinião com professores e
professoras de escolas públicas brasileiras”.

A participação em espaços formativos oferecidos pelas Secretarias de Educação e pelas escolas ou em cursos de interesse do próprio profissional
contribui para a formação docente e, consequentemente, para a prática pedagógica e a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. 

Além disso, essas oportunidades são muito valiosas ao permitirem a troca de experiências entre os educadores. Em média, 77% dos professores
que responderam à pesquisa do Todos pela Educação dizem ter mais satisfação profissional quando podem dividir com lideranças e colegas as
vivências e os desafios da sua prática. 

O levantamento “O futuro da docência” traz um ponto positivo sobre esse assunto. Mais de dois terços dos profissionais (72%) concordam que as
formações continuadas oferecidas pelas Secretarias de Educação estão relacionadas aos problemas práticos enfrentados pelos professores no seu
dia a dia e costumam ser frequentes (71,0%).

Para a professora Caroline Laino, do núcleo do Rio de Janeiro (RJ) da Rede Conectando Saberes, a construção de uma jornada de formação
continuada deve passar pela escuta ativa e a busca coletiva de soluções junto aos professores.

“O docente se percebe devidamente preparado para as várias demandas e adversidades de seu cotidiano por meio da formação continuada. Ao se
sentir seguro para administrar uma sala de aula, aumenta seu grau de satisfação com a profissão, o que pode inspirar novos jovens a serem
professores”, assinala.

5. Início da carreira
Sair da universidade e iniciar uma carreira não costuma ser uma tarefa fácil. Na docência, é preciso que o profissional se sinta apto e com as
ferramentas adequadas, como menciona a professora Caroline, para compartilhar os conhecimentos com os seus estudantes.

LEIA TAMBÉM – Professores iniciantes: como se preparar para a sala de aula?

No entanto, segundo a pesquisa realizada pelo Todos pela Educação, somente 19% dos professores concordam totalmente que os atuais cursos de
pedagogia e licenciaturas estão preparando bem os professores para o início da profissão. 

Uma das principais percepções de quem já está em sala de aula é que o contato dos graduandos com a realidade escolar durante a formação é
insuficiente. Essa distância prejudica o ganho de experiência durante a graduação e o próprio desenvolvimento profissional. 

Além disso, quando esses professores chegam às escolas, muitas vezes eles não recebem o apoio necessário – 56% dos professores afirmam que
não tiveram orientação específica em seu primeiro ano de docência, de acordo com o mesmo estudo. 

“Precisamos pensar como a prática será desenvolvida por quem está iniciando a carreira, levando em consideração que são necessários
convivência e tempo de experiência. E aí está um enorme desafio em alinhar teoria e prática”, conclui a professora Lília Melo. 

De modo geral, mesmo diante dessas questões, as pesquisas mostraram que os professores acreditam no poder da Educação e continuam se
dedicando e se empenhando para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. A pesquisa do Todos pela Educação aponta que oito em cada dez
entrevistados concordam que, se pudessem decidir novamente, ainda escolheriam ser professor. E 91% afirmam que perceber que os alunos estão
aprendendo é o que traz mais satisfação na profissão.

Ingresso e permanência na carreira docente


A percepção dos educadores sobre alguns temas que envolvem a profissão de professor

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Principais desafios enfrentados pelos docentes no dia a dia

10 medidas que as Secretarias de Educação deveriam priorizar nos próximos anos

1. Oferecer apoio psicológico os professores e estudantes;

2. Aumentar o salário dos professores;

3. Promover programas de reforço e recuperação para os alunos;

4. Promover o envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos;

5. Melhorar as condições de infraestrutura das escolas;

6. Oferecer mais oportunidades de formação para os professores;

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7. Ampliar o uso de tecnologia;

8. Implementar metodologias de ensino inovadoras;

9. Aumentar o tempo que os estudantes passam nas escolas;

10. Aprimorar o processo de seleção, formação e acompanhamento dos diretores.

Fontes: O futuro da docência: desafios e percepções atuais sobre a carreira de professor e Pesquisa de opinião com
professores e professoras de escolas públicas brasileiras

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