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PSICOLOGIA SOCIAL I

PRECONCEITO, ESTEREÓTIPOS E
DISCRIMINAÇÃO

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Olá!
Através desta aula você irá:

1) Entender os conceitos de preconceito, estereótipo e discriminação;

2) Diferenciar os conceitos de preconceito, estereótipo e discriminação;

3) Reconhecer a importância e a relação dos fenômenos relativos ao preconceito, estereótipo e à discriminação.

O preconceito é um fenômeno tão velho que por tal motivo se faz difícil a sua erradicação.

A noção de preconceito como parte de estudos científicos vem sendo estudada desde o século XIX. Seu maior

pesquisador foi Gordon Allport, se tornando o principal autor desta área com a publicação do livro intitulado

Prejudice (Preconceito).

Os estudos anteriores a Allport não tiveram grandes desdobramentos pois consideravam a questão do

preconceito como algo natural. Um bom exemplo disto são os estudos onde se aceitava superioridade racial

como verdadeira.

As diversas teorias de então davam relevância a explicação de, por exemplo, a suposta inferioridade dos negros,

relacionando-a a um atraso evolutivo caracterizado por retardo intelectual e excessivo ímpeto sexual, entre

outras coisas.

A partir dos anos 1930 do século passado iniciaram-se certas mudanças sobre o preconceito, e assim, estes fatos

históricos foram considerados irracionais e sem fundamento cientifico. Na verdade, estas afirmações racistas

eram expressões de interesses grupais, como consequência do processo de categorização social.

Características do preconceito

Muitas vezes não se reconhece o preconceito com facilidade e, muitas das vezes, este tema é desviado nos mais

diversos ambientes sociais. Ele aparece em manifestações sutis ou tão cotidianas que passa desapercebido e com

pouca frequência paramos para refletir a respeito.

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Desta forma, o preconceito é expressado continuamente não apenas pelas atitudes e práticas cotidianas das

diversas comunidades, mas principalmente por meio da estrutura social que efetivamente exclui as populações

sócio-historicamente discriminadas, estratificando de maneira desigual as classes, os grupos, as pessoas.

A verdade é que o preconceito, como Aronson (2002) e seus colaboradores destacam, deve ser considerado

onipresente. Estes mesmos autores afirmam que além de ser um fenômeno generalizado, o preconceito deve ser

considerado também como perigoso. Ele pode levar ao ódio extremo e até o genocídio.

Em casos menos radicais, o preconceito traz como consequência quase inevitável a redução da autoestima dos

indivíduos alvo. As pessoas que pertencem a grupos sujeitos ao preconceito são vítimas, desde muito cedo, de

ataques mais ou menos francos a sua autoestima.

Segundo Aronson (2002) o preconceito pode ser entendido como uma atitude.

“Especificamente, preconceito é definido como uma atitude negativa ou hostil contra pessoas de um grupo

identificável, baseada exclusivamente na sua condição de membro do grupo. Por exemplo, quando dizemos que

uma pessoa tem preconceito contra os negros queremos dizer que ela está preparada para comportar-se fria ou

hostilmente na relação aos negros e que ela acha que todos os negros são mais ou menos a mesma coisa. Assim,

as características que esse individuo atribui aos negros são negativas e fanaticamente aplicadas ao grupo como

um todo – os traços ou o comportamento do indivíduo alvo do preconceito não são percebidos ou são

desconsiderados”

Desta forma, o preconceito é, em sua essência, uma atitude. Em outras palavras, uma pessoa preconceituosa

pode desgostar de pessoas de certo grupo e comportar-se de maneira ofensiva para com elas devido à crença de

que tal grupo possui características negativas.

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No caso do preconceito, estamos enfatizando o aspecto afetivo dos três componentes vistos, na aula anterior,

sobre atitudes (componente afetivo, cognitivo e comportamental).

Na verdade, o preconceito pode ser positivo ou negativo. Uma pessoa pode ser a favor ou contra um

determinado grupo. No entanto, na Psicologia Social o termo é usado especificamente nas atitudes negativas.

Sendo assim, o preconceito nos leva necessariamente à realização de comportamentos discriminatórios.

Diferença entre preconceito, estereótipos e discriminação

No linguajar comum, esses três termos se equivalem, mas em termos acadêmicos não. Há um encadeamento

lógico que precisa ficar claro. Cognitivamente, os seres humanos processam aproximadamente da seguinte

maneira:

Juntamos pessoas em grupos para poder interagir com elas. Isto nos permite tomar

decisões certas em diversos momentos como, por exemplo, o que fazer com as pessoas

Estereótipo novas que aparecem na nossa frente. De tal forma, sabemos que nosso comportamento

frente a pessoas mais velhas ou vestidas com terno e gravata é diferente do que com

pessoas mais novas ou vestidas de short e chinelo.

A partir desse agrupamento fazemos julgamentos sobre esses grupos. Inclusive, nós
Preconceito
mesmos nos identificamos como sendo parte desses agrupamentos.

Nos comportamos segundo esse julgamento quando estamos frente alguém que forma
Discriminação
parte do grupo em questão.

Estereótipos

Podemos entender estereótipo como as crenças e os atributos compartilhados sobre um grupo.

Nós, seres humanos, temos uma tendência de generalizar a partir de similaridades percebidas e dificilmente nos

focamos no que é diferente, já que ao nos basearmos no que é comum conseguimos tomar decisões mais

rapidamente para poder atuar sem demora.

Durante o processo de socialização, somos levados a entender e categorizar o mundo que nos rodeia e formamos

as ideias de quem somos e os papéis a desempenhar. Assim descobrimos a que grupo pertencemos e através

desta diferenciação o indivíduo recolhe informações generalizadas sobre os diversos grupos.

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Podemos considerar, então, a socialização como uma das origens dos estereótipos. Na verdade, entramos em

contato com determinados estereótipos desde o nascimento e passamos a aceita-los sem grandes

questionamentos até a adolescência, época em que apresentamos fortes dúvidas em relação a crenças e valores

em geral, especialmente aqueles que associamos aos nossos pais.

Com a adolescência o jovem assimila outros estereótipos. Até então o processo de aquisição e formação dos

estereótipos era feito principalmente por inculcamento dos pais, professores e outras figuras significativas do

processo de socialização. Já na adolescência, outros agentes de socialização com quem o jovem interage

reconstroem outra realidade da vida comunitária.

Assim, é pela experiência vivida no processo de socialização que os estereótipos são aprendidos, acomodados e

assimilados e depois integrados em um determinado contexto cultural e sócio-histórico.

Considerando que o estereótipo é uma crença compartilhada, e a crença é uma cognição relacionada a um objeto,

podemos considerar o estereótipo como sendo o componente cognitivo do preconceito. Podemos considerar

também o estereótipo como um componente pré-atitudinal.

De tal forma, o estereótipo permite conviver e interagir na sociedade já que ele facilita a organização de

informações sobre pessoas e instituições de nosso ambiente social com os quais precisamos interagir. Mas, como

estas cognições refletem, na verdade, generalizações bastante superficiais, os estereótipos não podem ser

utilizados pelas pessoas de uma forma rígida, pois isto impossibilitaria enxergar as diferenças individuais e as

particularidades de cada caso.

Aronson e colaboradores (2002) concordam com Allport ao afirmar:

“... o mundo é simplesmente complicado demais para que tenhamos uma atitude altamente

diferenciada a respeito de cada coisa. Em vez disso, maximizamos nosso tempo e energia cognitivos

desenvolvendo atitudes elegantes, exatas, em relação a alguns tópicos, enquanto confiamos em

crenças simples e esquemáticas em relação a outros. (...) Dada a nossa limitada capacidade de

processamento de informações, é razoável que os seres humanos se comportem como “avaros

cognitivos” – que tomem atalhos e adotem certas regras empíricas na tentativa de compreender

outras pessoas” (Aronson, et al, 2002, p. 295)

O estereótipo e a formação da autoimagem

Os estereótipos também participam na formação da autoimagem de cada indivíduo. Em outras palavras, os

estereótipos grupais com os quais nos identificamos orientam, em parte, a forma como atuamos e as

expectativas que temos sobre nós mesmos.

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Para entender melhor esta função dos estereótipos é interessante assinalar como eles se manifestam na

percepção das diferenças segundo o gênero. Assim, por exemplo, uma mulher que comparte o estereótipo de que

o sexo feminino é o sexo frágil, agirá de forma coerente ao mesmo, se colocando em posições onde precise ser

cuidada e protegida por algum homem na vida dela.

É desnecessário dizer que o fenômeno da estereotipagem dos gêneros distancia-se de fato da realidade, com

grande frequência. Por exemplo, em algumas profissões muitas pessoas, da nossa cultura, consideram as

profissionais do sexo feminino como menos competentes (como no caso de médicas, engenheiras etc.) somente

pelo fato de serem mulheres, independentemente da capacidade real das mesmas.

Discriminação

Segundo Campos (2000) se o preconceito é uma atitude negativa, podemos considerar a discriminação como um

comportamento negativo. E assim, crenças estereotipadas resultam, muitas vezes, mas nem sempre, em

tratamentos injustos entre as pessoas. E desta forma, chamamos de discriminação àquela ação negativa

injustificada ou até prejudicial que é exercida contra os membros de um grupo vítima do preconceito.

É importante entender que nem todo preconceito se deriva, invariavelmente, em um ato discriminatório. Mas

quando fazemos referência à esfera do comportamento, expressões verbais hostis, condutas agressivas que

expressam crenças contra um grupo social, estamos invariavelmente falando de discriminação. Em outras

palavras, sentimentos hostis somados a crenças estereotipadas levam a uma atuação que pode variar, segundo

diversos níveis de gravidade, de um trato diferenciado até expressões mais agressivas de desprezo ou atos

manifestos de agressão física.

Para entendermos melhor a relação entre preconceito e discriminação podemos citar os experimentos

realizados por Sherif e colaboradores. Sherif, psicólogo turco nascido em 1906, é considerado hoje em dia como

um dos maiores pesquisadores que nos permitiu entender as origens e as formas de conflitos intergrupais e suas

possíveis soluções.

Em relação às pesquisas da década dos 1950 deste autor, Rodrígues, Assmar e Jablonski (2000) relatam:

"Em três ocasiões distintas (1949, 1953 e 1954), durante três semanas passadas em um acampamento de férias

de verão, um grupo de meninos entre 11 e 12 anos pensou estar se divertindo amenamente em uma colônia de

férias. Na verdade participavam, ainda que inadvertidamente, de um experimento em um setting natural acerca

da origem da coesão grupai, bem como dos conflitos grupais, e, neste último caso, de sua possível redução"

(Rodrigues et ai., 2000, 150).

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Assim, Sherif dividiu os meninos e formou dois grupos que no começo não se conheciam. A partir das diversas

atividades em que participavam, os meninos foram criando laços de amizade e quando, em um segundo

momento, os dois grupos eram colocados para competir um contra o outro, diversos comportamentos e

sentimentos hostis se evidenciaram.

Formas de discriminação

As diversas formas de discriminação são institucionalizadas nas organizações por meio de sistemas de opressão

social amplamente conhecidos como, por exemplo, o racismo, o machismo, a homofobia entre outros.

Tais práticas, em geral associadas ao assedio moral, podem convergir em qualquer forma de violência. Por

exemplo, no caso da homofobia, entendida como o medo ou aversão a pessoas homossexuais, essa discriminação

socialmente estabelecido pode desembocar em um crime homofóbico que pode incluir desde uma agressão

verbal ou psicológica até mesmo uma agressão física.

Infelizmente, as manifestações de discriminações se apresentam em todas as dimensões das relações de

exploração, especialmente no mundo laboral.

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Uma maneira bastante comum de realizar um diagnóstico da discriminação em uma organização é realizar o

senso de seus colaboradores. Esse simples levantamento dirá quantas mulheres exercem cargos de chefia, que

cargos os deficientes físicos estão ocupando, se pardos e negros estão em outro tipo de função que não seja só

operacional, entre outras observações. Muitas vezes, estes dados demonstram a discriminação velada que existe

nas organizações.

Causas do preconceito e da discriminação

A principal explicação para a causa do preconceito e da discriminação advém de um legado histórico e de

circunstâncias sociais às quais estamos atrelados. Entretanto, a nossa história não pode ser considerada como a

única e exclusiva causa das manifestações sociais do preconceito e dos atos discriminatórios que observamos

nos jornais.

A partir de uma análise histórica sobre a discriminação racial no Brasil alguns autores acreditavam na herança

escravocrata de nosso país enquanto outros afirmam que a principal causa destas manifestações racistas é o

sistema capitalista que auxiliou na manutenção de uma estrutura social discriminatória. Neste caso, a

discriminação está relacionada com os ganhos materiais e simbólicos do grupo discriminador.

Na sociedade brasileira atual, onde contamos com leis que punem o preconceito, esperaríamos a erradicação da

discriminação racial ou de gênero. Entretanto, a resposta é negativa a tal suposição, pelo menos para questões de

raça e gênero. Diversos autores apontam para uma mudança na expressão desse preconceito assim como de seu

conteúdo.

Como tentativa de explicar o preconceito e a discriminação surge o estudo da personalidade autoritária, onde o

ponto principal consiste em delegar ao sujeito a responsabilidade de comportamentos racistas como o

antissemitismo.

Autores como Adorno (1950), entre outros, consideravam que o preconceito era um distúrbio da estrutura de

personalidade autoritária. Estes autores sustentavam que a hostilidade contra os judeus muitas vezes coexistia

com a hostilidade contra outras minorias. Mas estas pesquisas não encontraram suficiente suporte científico.

De qualquer forma, parece correto afirmar que o preconceito contém fortes raízes emocionais. Mas

especificamente, a frustração gera hostilidade que é redirecionada e descarregada em bodes expiatórios. Esse

fenômeno é conhecido como “agressividade transferida”, onde os alvos para essa agressividade étnica

representam, muitas vezes, grupos concorrentes percebidos como responsáveis pela frustração pessoal.

Por outro lado, o preconceito se compõe também de elementos cognitivos. Myers (2000) afirma:

“Compreender a estereotipagem e o preconceito também ajuda a lembrar como a nossa mente

funciona. Como as maneiras pelas quais pensamos sobre o mundo – e o simplificamos – influenciam

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nossos estereótipos? E como os estereótipos afetam os nossos julgamentos? (...) as convicções

estereotipadas e as atitudes preconceituosas existem não apenas por causa do condicionamento

social e porque permitem às pessoas transferir hostilidades, mas também como subprodutos de

processos de pensamentos normais”. (Myers, 2000, p. 197)

Em outras palavras, a maioria dos estereótipos não é, na verdade, tanto produto da maldade das pessoas e sim

da forma com elas simplificam os seus mundos complexos. Os estereótipos equivalem a ilusões perceptivas que

são subprodutos da nossa capacidade de interpretar o mundo que nos rodeia.

Assim, os estereótipos agrupam as pessoas em categorias que, por um lado, exageram a uniformidade dentro dos

membros de um grupo e, por outro lado, aumentam as diferenças entre grupos. Somado a isto, a nossa percepção

de pessoas distintivas e de ocorrências vividas nos levam muitas vezes à distorção de nossos julgamentos.

Entendemos que pessoas distintivas são aquelas que se tornam salientes em um grupo por apresentar

características totalmente únicas e diferentes do resto das demais.

Quando alguém se torna saliente em um grupo determinado tende a chamar a nossa atenção e muitas vezes,

parece ser mais responsável que o resto pelo que acontece nesse momento. Um indivíduo distintivo, como por

exemplo. uma pessoa de alguma minoria possui uma qualidade compulsiva. Tais pessoas nos deixam

particularmente conscientes de diferenças que de outra maneira passariam despercebidas.

Se um indivíduo de alguma minoria comete algum crime, ajuda a criar uma correlação ilusória entre pessoas e

comportamentos. Como consequência, o grupo ao que este indivíduo pertence acaba sendo julgado injustamente

como se todos os seus membros fossem iguais e por tanto, capazes de cometer atos criminosos.

Concluindo...

Certamente, os estereótipos existem em quase todos nós e são facilmente ativados podendo levar a

manifestações cruéis aos membros de certos grupos. Os estereótipos afloram quase que automaticamente em

certas condições, e este processo de ativação é muito difícil de ser controlado pelo indivíduo, especialmente

quando não tem consciência dele.

Mas, para podermos reduzir o preconceito, os estereótipos e a discriminação, segundo especialistas, a melhor

maneira é a do contato. Mais explicitamente, precisamos colocar as pessoas de grupos diferentes colaborando as

umas com as outras para poderem alcançar objetivos em comum. Esta seria uma atividade para ser praticada

especialmente em escolas e com crianças.

O que vem na próxima aula


•Teoria da dissonância cognitiva.

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•Experimentos que demonstram como se aplica a teoria da dissonância cognitiva.

•O processo de tomada de decisões e os fatores implícitos no mesmo.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• aprendeu os conceitos de estereótipo, preconceito e discriminação;
• entendeu a relação entre os fenômenos relativos ao preconceito, ao estereótipo e à discriminação;
• compreendeu as consequências específicas dos fenômenos relativos ao preconceito, ao estereótipo e à
discriminação.

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