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TERAPIA COMPORTAMENTAL: QUESTÕES TEÓRICAS E

PRÁTICAS

1
SUMÁRIO

TERAPIA COMPORTAMENTAL: QUESTÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS 1

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................... 4

Introdução .................................................................................................. 5

Definindo objetivos práticos - clínicos .................................................... 8

Multideterminação do comportamento ................................................... 9

Desenvolvendo objetivos na Análise Comportamental ............................ 12

Identificação de temas gerais relacionados às condições aversivas


presentes na vida do cliente ........................................................................... 12

Identificação de padrões comportamentais .......................................... 13

Contextos históricos que favoreceram o desenvolvimento destes padrões


........................................................................................................................ 15

Identificação dos efeitos que os comportamentos trazem para a vida do


cliente ............................................................................................................. 18

Análise das variáveis motivacionais ..................................................... 18

Habilidades Terapêuticas na Prática Analítico-Comportamental ............. 19

Habilidades terapêuticas específicas: .................................................. 20

1. Observar .................................................................................. 20

2. Ser empático ............................................................................ 23

3. Lidar com diferenças ................................................................ 24

4. Expressar sentimentos e evocá-los no cliente ......................... 25

5. Ser assertivo ............................................................................ 27

6. Ser persuasivo ......................................................................... 28

7. Confrontar o cliente com contradições em seu comportamento


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8. Ter informações sobre o contexto em que o cliente vive ......... 32

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 35

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Introdução

A Terapia Comportamental, também frequentemente chamada de Terapia


Analítico-Comportamental, é um termo utilizado para se referir às ideias de
intervenção clínica que foram baseadas nos princípios provenientes do
Behaviorismo Radical de B. F. Skinner e da Análise Experimental do
Comportamento. Essas propostas de intervenção estão voltadas para o setting
terapêutico, onde há ênfase na relação terapeuta-cliente, na análise operante do
comportamento verbal e na análise dos eventos privados sem, no entanto, perder
o cunho externalista de causalidade (Baum, 1999).

Entre alguns modelos teóricos e práticos baseados pela terapia


comportamental estão a Terapia por Contingências de Reforçamento, a
Psicoterapia Analítica Funcional - FAP, a Terapia da Aceitação e do Compromisso
– ACT, a Terapia de Casal Integrativa IBCT, a Terapia Comportamental Dialética
e a Terapia Comportamental Construcional (Vandenberghe, 2003).

Na terapia comportamental segundo Baum (1999), o comportamento é


determinado e entendido como interação organismo-ambiente e tem função
biológica adaptativa, sendo compreendido dentro de um contexto a partir de
relações funcionais - as contingências - e apresenta um modelo selecionista de
causalidade, que abrange a história da espécie, do indivíduo e da cultura. Ou seja,
enfatiza o controle externo do comportamento. Desta forma, o terapeuta
comportamental considera sentimentos, atitudes, valores, pensamentos e
emoções de um indivíduo como variáveis dependentes, resultantes deste
processo interativo denominado de contingências.

Segundo Skinner (1953/1993) a busca pela terapia de um modo geral


acontece quando as pessoas estão sob efeitos de contingências aversivas. Para
que estas condições sejam modificadas é necessário interferir nestas
contingências, caso contrário, o quadro permanecerá o mesmo. Por exemplo,
embora o ambiente terapêutico seja predominantemente verbal, um cliente pode
falar sobre um sentimento desagradável por um longo tempo (muitas sessões), e
isto não produzir o menor efeito, pelo fato de não ter levado a mudanças nas

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contingências determinantes.

Na década de 30 do século 20, B. F. Skinner iniciou seus trabalhos em


Psicologia em duas frentes durante o seu doutoramento: de um lado, realizou uma
pesquisa histórica e conceitual sobre a noção de “reflexo” na Fisiologia e na
Psicologia (uma tentativa de dar uma roupagem operacional ou estritamente
funcional ao termo e adotá-lo como ferramenta explicativa em sua ciência).

De outro, criou e adotou recursos metodológicos e técnicos em uma ampla


linha de pesquisa experimental em laboratório (as duas facetas são apresentadas
de forma clara em Skinner, 1938/1966). Some-se a isso que o interesse de
Skinner na Psicologia, como atesta sua própria autobiografia (Skinner, 1979),
também foi fortemente marcado pela possibilidade de intervenção social, o que
fica mais evidente com a publicação de sua novela utópica “Walden II” (Skinner,
1948/1971) e de vários artigos sobre educação, que acabaram por conduzi-lo ao
seu “Technology of Teaching” (“Tecnologia do Ensino”) (Skinner, 1968a).

Note-se, então, que em Skinner também há diferentes modalidades de


conhecimento convivendo no mesmo espaço. Em 1945, Skinner (1945) chama a
sua versão de Behaviorismo de “Behaviorismo Radical” e o faz especialmente
para diferenciar-se do Behaviorismo de Boring e Stevens, a quem chama de
behavioristas, apenas, “metodológicos”.

O Behaviorismo Radical seria a filosofia por trás da Ciência do


Comportamento que ele estava tentando erguer e que deveria no futuro substituir
a própria Psicologia, profunda e irremediavelmente impregnada por pressupostos
mentalistas. Tal ciência foi chamada de “Análise Experimental do
Comportamento”.

Recentemente, Tourinho (1999) sugeriu uma reorganização terminológica


para os diversos saberes behavioristas de tradição skinneriana. De acordo com a
sua estrutura, a área ampla seria chamada simplesmente de Análise do
Comportamento (AC). O seu braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de
Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado como Análise
Experimental do Comportamento. O braço ligado à criação e administração de
recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do

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Comportamento. As três subáreas estariam inter-relacionadas em um processo
contínuo de alimentação recíproca.

Para Tourinho (1999), nenhuma das três existiria de forma autônoma, por
mais que, algumas vezes, os seus representantes não consigam identificar
claramente seus vínculos com as demais. Assim, mesmo que um pesquisador de
laboratório estivesse dedicado ao exame de propriedades de um tipo específico
de esquema de reforçamento em pombos, as razões pelas quais:

(a) pombos seriam sujeitos legítimos para estudar processos que se tenta
compreender em humanos,

(b) o comportamento estaria sendo investigado em si mesmo e não como


expressão de outro nível de análise (fisiológico, conceitual e mental),

(c) o porquê da adoção da probabilidade da resposta como medida


privilegiada nessa investigação,

(d) a ênfase no estudo dos efeitos da consequenciação do comportamento,


seriam todas decisões anteriores à produção dos dados empíricos da própria
pesquisa.

Seriam todos pressupostos engendrados por uma filosofia: o Behaviorismo


Radical. Da mesma forma, uma análise epistemológica ou cultural dessa
perspectiva estaria ligada intrínseca e irremediavelmente aos dados e teorias
derivadas de pesquisas empíricas, amplamente realizadas em laboratório, com
animais não humanos, sobre condicionamento operante.

De fato, um exame epistemológico de cunho skinneriano seria, em grande


medida, uma aplicação da noção de operante para entender o comportamento
dos cientistas. Donahoe (1993) identificou duas formas de produção de
conhecimento em Análise do Comportamento: a análise experimental e a
interpretação. A interpretação seria o uso de conceitos derivados da pesquisa
empírica para contextos onde uma investigação dessa natureza seria difícil ou
impossível, como seria o caso de uma análise da cultura ou da origem das
verbalizações privadas nos seres humanos.

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O que diferenciaria o exercício de interpretação do analista do
comportamento de outras especulações psicológicas, como as de Jung, por
exemplo, seria, segundo Donahoe (1993), o amplo lastro experimental que os
conceitos/ferramentas conceituais teriam. Ao falar da consciência, por exemplo,
Skinner irá usar todo o arsenal operante e respondente disponível, tentando
identificar pontos de contato entre o comportamento dos organismos no
laboratório e o fenômeno da consciência em humanos em situação natural. Note-
se, então, que o instrumental teórico disponível ao behaviorista radical teria uma
gênese empírica.

Em relação ao ramo tecnológico da Análise do Comportamento, a chamada


Análise Aplicada do Comportamento, valeria o mesmo raciocínio: o modo de
examinar o mundo a ser alterado, que técnicas adotar para mensurar o
comportamento alvo, por que adotar medidas comportamentais precisas, por que
mudar o comportamento seria a essência desta ferramenta psicológica, e ainda,
quais conceitos utilizar nessa leitura do mundo real, seriam todas práticas ligadas
ou ao Behaviorismo Radical e/ou a Análise Experimental do Comportamento.

Atualmente, os terapeutas comportamentais discutem longamente em seus


encontros de área a necessidade de realizarem um bom diagnóstico
comportamental antes de qualquer intervenção planejada propriamente dita. O
instrumento privilegiado a ser usado nessa tarefa seria a identificação de relações
funcionais entre padrões de responder e certos aspectos ambientais identificáveis
e, preferencialmente, manipuláveis. Note-se, porém, que estabelecer relações
funcionais seria a principal tarefa dos pesquisadores no laboratório, e a tarefa
nessa configuração particular de investigação experimental foi sugerida no âmbito
da filosofia da ciência por autores como Mach e Bridgman (Lopes Jr., 1999).

Definindo objetivos práticos - clínicos

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A definição dos objetivos pode ser reavaliada e modificada no decorrer das
sessões. O estabelecimento de objetivos práticos e clínicos é um elemento indis-
pensável no processo terapêutico. Exige uma boa interpretação dos processos
comportamentais envolvidos, orienta o terapeuta no processo de intervenção, fa-
vorece a motivação do cliente para mudanças, fornece maior segurança ao tera-
peuta e ao cliente e oferece melhores parâmetros de avaliação da terapia (Marcal,
2005).
Alguns fatores podem contribuir para o surgimento de dificuldades e
divergências no estabelecimento de objetivos clínicos a partir de uma visão
analítico-comportamental, entre os quais podem ser citados: a multideterminação
do comportamento; a múltipla formação da terapia comportamental; o surgimento
ainda recente da literatura clínica de base behaviorista radical; a análise a partir
do sujeito único, desfavorecendo a criação de pacotes de tratamento; o fato de
que o estabelecimento de objetivos é pouco explorado ou discutido na literatura
(Marcal, 2005).

Multideterminação do comportamento

Skinner (1953/1993), ao fazer a análise de casos complexos, descreve os


efeitos múltiplos que uma única variável pode ter no comportamento ao mesmo
tempo, assim como as múltiplas causas de um único comportamento. Pode-se
analisar o exemplo de uma baixa frequência no responder, comumente
encontrada na depressão. Isto pode resultar de experiências em um único
ambiente ou de vários; de situações passadas e/ou atuais; decorrer da ausência
ou remoção de reforçamento social, da presença de eventos aversivos
incontroláveis ou do reforçamento diferencial para o não agir (Ferster, 1973).

Follette, Naugle e Linnerooth (2000) citam o exemplo da ocorrência do


choro na sessão. Este pode ser eliciado por lembranças de eventos dolorosos,
ser relacionado à tristeza atual (ausência ou perda de reforçadores), significar
alívio (remoção de estímulos aversivos presentes ou sinalizados), ter função de
esquiva (a postura do terapeuta ou o conteúdo investigado estão sendo aversivos)

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ou estar sob controle discriminativo de probabilidade de afeto ou simpatia (cliente
tem história de reforçamento por demonstrar dor e sofrimento). Inúmeras
interpretações podem levar a variadas intervenções.

Múltipla formação da terapia comportamental - Vandenberghe (2001)


apresenta diferentes eixos formadores do que é chamado Terapia
Comportamental, entre eles destacam-se:

a) a Terapia Comportamental Clássica - que tem como objetivos


terapêuticos promover mudanças em mecanismos internos do cliente, a partir do
condicionamento pavloviano;

b) a Análise Comportamental Aplicada ou Modificação do Comportamento


- que tem por objetivo manipular contingências específicas relacionadas a
mudanças em comportamentos-alvo, não considerando eventos privados;

c) a Terapia Cognitiva Comportamental - cujos objetivos estão relacionados


a mudanças em crenças distorcidas ou irracionais e;

d) a Análise Clínica do Comportamento - que tem como objetivo promover


mudanças nas contingências a partir da relação terapêutica em um setting clínico.

Como pode ser observado, estes modelos apresentam objetivos e


propostas de mudanças diferentes e muitas vezes incompatíveis.

No entanto, muitos terapeutas comportamentais com formação clínica


pautada em manuais das décadas de 70 e 80 (e.g. Rimm & Masters, 1983),
receberam forte influência de estratégias clínicas variadas que incluíam, dentro de
uma mesma ótica comportamental, técnicas pertencentes a estes diferentes
modelos formadores do comportamentalismo. O efeito comparativo comumente
encontrado era entre a terapia comportamental e terapias não comportamentais.
Discussões de cunho epistemológico dentro da abordagem behaviorista eram
pouco exploradas (Marcal, 2005).

O surgimento recente da literatura clínica de base behaviorista radical - A


literatura clínica de base behaviorista radical aplicada ao setting terapêutico é
recente quando comparada a outros modelos clínicos de psicoterapia e também

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dentro de uma perspectiva histórica de desenvolvimento da Análise do
Comportamento (Vandenberghe, 2001; Micheleto, 2001). Com isto, a difusão e
implementação de modelos e técnicas comportamentais variadas influenciaram a
postura clínica de muitos profissionais adeptos do comportamentalismo. Ainda é
comum a imagem do terapeuta comportamental estar associada a um mero
aplicador de técnicas relacionadas a problemas específicos, algo que não
combina com a atual Análise Comportamental Clínica.

A análise a partir do sujeito único - A variabilidade também pode ocorrer


em função do método indutivo praticado na análise experimental do
comportamento, privilegiando os dados obtidos a partir da história de
contingências de um único sujeito (Chiesa, 1994).

Dougher e Hayes (2000), por exemplo, distinguem o modelo idiográfico,


adotado pela Análise do Comportamento, do modelo nomotético, comum em
abordagens baseadas em modelos diagnósticos estatísticos. Isto significa que,
apesar de os princípios de análise do comportamento estarem dentro das
regularidades buscadas pela ciência.

Como afirma Chiesa (1994), a análise funcional dos comportamentos de


cada cliente sempre será peculiar, devido à sua história única. Isto abre inúmeras
possibilidades interpretativas e desfavorece pacotes generalizados de tratamento.
Duas pessoas, com o mesmo quadro clínico podem necessitar de intervenções
contingenciais bem diferenciadas. Como afirmou Dougher e Hayes (2000), o que
é reforçador ou punidor varia de pessoa para pessoa, e ao longo do tempo para a
mesma pessoa.

Estabelecimento de objetivos é pouco explorado ou discutido na literatura


- Estas múltiplas possibilidades interpretativas podem ter contribuído para que o
estabelecimento de objetivos na análise comportamental clínica fosse tratado de
uma forma mais geral (mudar as contingências mantenedoras do quadro), ou
apenas dentro de um modelo de raciocínio, como no caso da FAP (que busca criar
condições dentro da sessão para que o terapeuta possa reforçar imediatamente,
e de forma natural, os comportamentos apropriados do cliente que são pouco
frequentes - e também enfraquecer os chamados comportamentos-problema,

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considerados não adaptativos) e da ACT (que busca quebrar o controle verbal que
impede o cliente de buscar novas experiências e assim produzir as mudanças
comportamentais necessárias ao seu bem-estar e adaptabilidade) (Marcal, 2005).

Desenvolvendo objetivos na Análise Comportamental

A seguir, serão analisadas algumas sugestões de aspectos básicos a


serem considerados, a partir do que é apresentado pelo cliente na sessão. Estes
tópicos buscam favorecer a definição de objetivos na terapia, são compatíveis
com o que já foi apresentado por outros autores (e.g Berns, Jacobson e
Cristensen, 2000; Guilhardi, 2004; Hayes, Strosahl e Wilson, 1999; Kohlenberg e
Tsai, 1991/2001) e em conformidade com os princípios da análise experimental
do comportamento e a filosofia behaviorista radical. Buscam identificar:

a) temas relacionados a condições aversivas com base nas queixas,


sentimentos do cliente;

b) padrões comportamentais generalizados;

c) contextos históricos que favoreceram o desenvolvimento desses


padrões;

d) efeitos que os comportamentos do cliente trazem para a sua vida e;

e) variáveis motivacionais para a mudança.

Todas estas questões são aqui consideradas importantes para o


estabelecimento de objetivos. Não cabe à proposta deste trabalho, discutir
modelos ou formas de intervenção.

Identificação de temas gerais relacionados às condições aversivas


presentes na vida do cliente

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Temas gerais relacionados aos sentimentos do cliente podem ser
identificados pelo terapeuta, tais como: insatisfação no relacionamento familiar,
sentimentos de rejeição em contatos interpessoais, sentimentos de angústia e
incapacidade diante da vida, sofrimento por perda, ansiedade diante de desafios,
insatisfação com o modo de agir, desânimo generalizado, medo de críticas,
elevada tensão emocional, frustrações amorosas, etc (Marcal, 2005).

Berns, Jacobson e Christensen (2000) utilizam um recurso semelhante


aplicado à terapia de casal e enfatizam as vantagens da definição de classes de
respostas em termos funcionais, favorecendo a que uma mudança num
comportamento resulte na mudança em outros. A similaridade funcional também
é enfatizada por Kohlenberg e Tsai (1991/2001).

Portanto, trabalhar com temas permite uma visão molar dos


comportamentos do cliente, evita a necessidade de descrição e análise de cada e
de todas as situações e também permite trabalhar com vários comportamentos
simultaneamente. Follette, Naugle e Linnerooth (2000) também consideram
importante colocar os temas em ordem hierárquica de importância clínica.

Junto à identificação dos temas devem ocorrer a análise das contingências


aversivas relacionadas a estes, as situações gerais em que ocorrem, o início e as
características dos processos comportamentais relacionados ao tema, etc
(Marcal, 2005).

Identificação de padrões comportamentais

Os comportamentos do cliente relacionados à queixa indicam um padrão


(e.g. ocorre comumente em outros contextos) ou são exclusivos de uma dada
situação? Identificar padrões comportamentais amplia o conhecimento sobre o
cliente, favorece a investigação histórica e possibilita maior segurança quanto ao
que pode e o que precisa ser mudado. Pode-se exemplificar com o caso de uma
mulher que reclama da sua relação com o marido, relatando agir agressivamente

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com ele, quando este se comporta diferentemente do que ela gostaria. O clínico
necessitaria saber mais sobre a questão antes de propor formas de resolução do
conflito. Por exemplo, isto ocorre em qualquer frustração ou somente em
situações específicas? Ela age agressivamente apenas com ele ou também o faz
com outras pessoas? Isto acontece apenas em relações mais próximas? (Marcal,
2005).

Neste caso, alguns padrões comportamentais mais amplos poderão estar


relacionados a essa queixa e deverão ser investigados, tais como saber o nível
de exigência dos outros e de si, a resistência geral à frustração, se há
características de impulsividade, se apresenta baixo autocontrole em outras
situações, se há “egocentrismo”, se há o hábito de culpar os outros pelas coisas
que não dão certo e assim por diante. A identificação desses padrões deverá ser
feita junto à cliente, num ambiente de não-julgamento. Esta é uma etapa inicial de
autoconhecimento: saber que, e como se comporta. As outras etapas incluem o
saber por que se comporta e quais os efeitos do seu comportamento no mundo.
Outros padrões não relacionados diretamente às queixas iniciais podem ser
identificados no decorrer das sessões (Marcal, 2005).

O terapeuta também pode formular hipóteses sobre prováveis


comportamentos característicos do cliente e averiguar junto a este a sua
pertinência. Por exemplo, ao ouvir os relatos de um cliente dizendo que é
acomodado em várias situações, o terapeuta pode questionar se este também
tem dificuldades em tomar decisões importantes, de ter iniciativa, de sempre
esperar as coisas acontecerem, de não ter persistência, ser dependente dos
outros, ter baixa autoconfiança, etc. Isto pode indicar um “tronco” comum de
experiências, tais como ter sido acostumado a receber muitas coisas na vida sem
que tivesse que se esforçar para isso, como ocorre nos esquemas em tempo
(Marcal, 2005).

Além da forma de agir, poderão ser identificados padrões relacionados a


sentimentos, processos emocionais, regras e reforçadores característicos. Esta
visão mais ampla de padrões comportamentais exige uma análise as mudanças
atinjam efetivamente diversos contextos na vida do indivíduo e não apenas
situações específicas. Isto evitaria a comentada substituição de sintomas, comum

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quando são feitas análises restritas de contingências na vida do cliente. Carrara
(1998, p.232 - 233) discute esta questão:

Skinner recomenda que a análise funcional deve abranger todas (na


acepção da palavra, isso é inviável) as contingências possíveis que têm
alguma função determinadora sobre o comportamento. Todavia, por
comodidade ou negligência, ou mesmo por deficiência na formação
ético-profissional, alguns psicólogos têm tornado essa análise funcional
muito restrita aos eventos relatados pelo cliente e mais ainda restrita a
contingências que o terapeuta suspeita terem efeito sobre o
comportamento.

Assim, a Análise Aplicada do Comportamento precisa, valendo-se de sua


crítica interna e mesmo da crítica externa que pensa ser essa superficialidade
decorrência de pressupostos da ciência do comportamento, fortalecer através dos
cursos oferecidos a ideia de ampliação da análise de contingências. (Carrara,
1998, p. 232).

O problema fundamental desse tipo de enfoque está numa análise


incompleta das relações funcionais entre comportamento e ambiente, que leva a
resultados fictícios, aparentemente corretos, mas que em bom número de casos
podem ser considerados próteses, correções provisórias e específicas de alguns
padrões comportamentais (Marcal, 2005).

Portanto, se se pretende... produzir mudanças duradouras, permanentes e


generalizadas nos padrões do comportamento mudado, é de se supor que, se não
todas, pelo menos a maior parte das variáveis relevantes deve ser investigada o
que não se deve confundir com investigação de causas 'profundas' ou 'remotas'
dos atuais comportamentos em foco. ... (Carrara, 1998, p. 233)

Contextos históricos que favoreceram o desenvolvimento destes


padrões

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A partir do momento em que o cliente identifica sua forma de se comportar
na vida, é fundamental saber por que este se comporta assim. A visão skinneriana
de causalidade descarta modelos internalistas para explicar as ações,
pensamentos e sentimentos humanos. A forma como alguém se apresenta está
relacionada à sua história de vida, mais precisamente à história de contingências
(Marcal, 2005).

Perkins, Hackbert e Dougher (2000) afirmam que interpretações baseadas


apenas em contingências imediatas podem ser inadequadas, dependendo dos
objetivos do tratamento e, no mínimo, deixariam inexplicáveis como as
contingências atuais passaram a exercer controle. Conforme esses autores, o
modelo causal de variação e seleção, característico do behaviorismo radical, está
atento aos efeitos da experiência passada no comportamento atual, o que não
ocorre em modelos de causalidade contígua. Também ressaltam que
interpretações históricas do comportamento do cliente podem ter efeitos salutares
como a redução na culpa ou vergonha de como se comporta, servir como
operações estabelecedoras para funções comportamentais ou efeitos de eventos
relevantes, e podem também dar assistência à formulação de intervenções
efetivas.

Entre os níveis mais elevados de autoconhecimento adquiridos no


processo terapêutico está o saber por que “eu sou do jeito que eu sou.”
Normalmente, os clientes que estão dentro de uma cultura internalista têm
explicações mentalistas para seu modo de ser (Oliveira, 2001). Nesta visão, as
ações humanas são governadas e iniciadas por agentes internos, sejam eles
fictícios ou não. Contribui para este raciocínio o fato de que as pessoas estão
acostumadas a ver o resultado e não o processo. E o processo é histórico.

Relações familiares, sociais, conjugais, vida acadêmica e profissional, entre


outras, necessitam ser investigadas. Quanto mais tempo uma pessoa viver em
um contexto (e.g. experimentar certas contingências), mais este influenciará no
seu modo de ser. Observa-se o exemplo de uma bailarina que passa muito tempo
da vida treinando e dançando sob certas exigências. Ela adquire posturas e jeito

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de andar característicos, que vão ocorrer mesmo quando ela não estiver nesse
ambiente, e talvez até muitos anos após deixar de ser bailarina (Marcal, 2005).

Sua maneira de se expressar, seus valores relacionados à aparência e


outros hábitos também poderão ser especificamente modelados. Isto ocorre
analogamente com todas as pessoas, envolvendo outros comportamentos e
ambientes. Quanto maior o contato com uma contingência, maior a probabilidade
de influência desta sobre os comportamentos. Daí o papel preponderante que as
relações familiares têm na formação de uma pessoa, pois, em geral, poucos
ambientes estão tão presentes na vida de alguém (Marcal, 2005).

Em relação ao exemplo da mulher agressiva com o marido, suponha-se


que tenha sido identificado que a mesma apresenta com frequência os seguintes
padrões comportamentais: muito exigente com os outros, baixa resistência à
frustração nas relações mais próximas, quer que as coisas sejam sempre do seu
jeito, culpa os outros quando as coisas não dão certo, etc. Qual seria então a
relação entre estas formas de se comportar e sua história de vida?

Seguindo um raciocínio básico, observa-se, de imediato, que a cliente


parece não ter sido exposta a frustrações nas relações mais próximas e também
ter sido muito reforçada nas suas exigências. Isto significa que pode ter passado
muito tempo em ambientes em que detinha muito poder, com muitas pessoas
preocupadas em agradá-la e poucas consequências sociais punitivas. A partir
destas suposições, o terapeuta poderá, de forma não-julgadora, investigar
relações históricas da sua cliente, como por exemplo, pedir para que descreva
como foram as relações familiares, se houve contribuição dessas na sua forma de
ser atual, etc. Poderá, também, em situações pertinentes, fazer questionamentos
precisos baseados em suas interpretações, do tipo “você acha que foi acostumada
a ter as coisas sempre ou quase sempre do seu jeito, quando junto à sua família?”.
(Marcal, 2005).

Quanto mais a cliente entender a função dos ambientes históricos na


determinação do seu jeito de ser atual, mais ela passará a raciocinar em termos
de contingências, uma condição fundamental para que se possa atuar
efetivamente sobre as mesmas e um dos objetivos básicos na Análise

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Comportamental Clínica (Marcal, 2005).

Identificação dos efeitos que os comportamentos trazem para a vida


do cliente

Esta análise também é feita junto ao cliente, possibilitando-lhe saber quais


os efeitos do seu agir imediatamente e quais os efeitos ao longo do tempo, em
quais situações suas atitudes e regras são efetivas, e em quais são prejudiciais,
quais reforçadores (positivos e negativos) são adquiridos, e quais removidos.
Voltando ao exemplo anterior, a agressividade da esposa pode produzir
reforçamento imediato (marido faz o que ela quer) e punição em longo prazo
(reduz o sentimento de amor do marido, relação fica cada vez mais desgastada);
pode ser efetiva em situações em que “ser cordial” não funciona (algumas formas
de reivindicação) e pode ser contraproducente em outros contextos (reclamar com
o seu chefe); pode remover coisas aversivas (marido deixa de fazer o que a
incomoda), mas também remover coisas boas (carinho, afeto, compreensão dos
outros), pode gerar respeito e obediência, mas também produzir respostas de
contra controle (Marcal, 2005).

Entender estas funções comportamentais pode interferir na motivação da


cliente em adotar uma nova postura, mesmo quando as contingências aversivas
ainda não estiverem exercendo seu papel como operações estabelecedoras. Esta
análise também permite entender em que situações, quando e de que maneira a
mudança deve ocorrer, algo normalmente não vislumbrado pelo cliente, que tem
concepções mais rígidas em relação a mudanças de atitude e ao conceito de
personalidade (Marçal, 2001).

Análise das variáveis motivacionais

Um terapeuta mais experiente sabe que quando um cliente se queixa de


algo aversivo em sua vida, não significa que haja motivação suficiente para mudar

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essa condição. Uma pessoa pode se queixar de que gostaria de trabalhar e ser
independente, mas não se dar conta de que o preço que teria de pagar (em
esforço) para isto é muito alto em função dos reforçadores envolvidos (que podem
ser adquiridos de outra maneira e com muito menos custo) e da sua pouca
experiência em conseguir coisas (especificamente dinheiro e conforto) em longo
prazo e com muito empenho. Conselhos, dicas ou soluções por parte do terapeuta
podem apenas gerar concordância nas sessões ou até algumas mudanças, mas
estas seriam apenas temporárias. É como se a terapia começasse a patinar
(Marcal, 2005).

A análise motivacional é, portanto, essencial para estabelecer os rumos da


terapia. No caso anterior, o que seria mais importante: tentar levar o cliente a
trabalhar ou fazê-lo entender sua real motivação? Caso se mostre necessária a
mudança, como poderia o campo motivacional ser afetado? A partir de instruções,
por meio de técnicas de autocontrole, por inserções em contextos que afetem o
valor reforçador do trabalho e desenvolvam naturalmente repertórios mais efetivos
ou de outras formas?

Alguns aspectos são comumente importantes para a avaliação do campo


motivacional do cliente, como a identificação do nível de acesso a reforçadores
na vida atual e pregressa, a relação custo-benefício para a mudança, a presença
de contingências que reforcem comportamentos concorrentes, o nível de
desenvolvimento do repertório requerido para a mudança, o nível de reforçamento
envolvido nas opções ficar e mudar, etc (Marcal, 2005).

Habilidades Terapêuticas na Prática Analítico-Comportamental

Em um processo terapêutico, mudanças no comportamento do cliente são

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contingentes às ações do terapeuta. O êxito ou insucesso da terapia depende,
portanto, da forma como o terapeuta lida com o cliente e com seus problemas.
Sendo assim, foram elencadas as seguintes habilidades: observar, ser empático,
lidar com diferenças, expressar sentimentos e evocá-los no cliente, ser assertivo,
ser persuasivo, confrontar o cliente com contradições em seu comportamento e
ter informações sobre o contexto em que o cliente vive. Cada uma dessas
habilidades foi descrita e discutida, e as conclusões dessa análise podem
colaborar para uma formação clínica mais completa, suprindo algumas lacunas
observadas nos métodos tradicionais de formação do terapeuta analítico-
comportamental (Tourinho et al. 2007).

Sendo o processo terapêutico focado no comportamento, fenômeno


complexo e multideterminado, é mais provável que se esteja falando de elementos
que se complementam para o resultado final observado no cliente, que se soma
às mudanças ambientais introduzidas dentro e, principalmente, fora do contexto
de consultório (Meyer & Vermes, 2001).

Segundo Meyer e Vermes (2001), a qualidade da relação terapêutica tem


valor preditivo para os resultados do tratamento, mas a complexidade de fatores
envolvidos em tal relação e as dificuldades de controle dessas variáveis impedem
uma ampla compreensão dos aspectos mais relevantes para uma boa relação
terapeuta-cliente (Meyer & Vermes, 2001). Pelas mesmas razões, o momento
atual da investigação da intervenção terapêutica, no que se refere a
características e a efetivas respostas do terapeuta para a mudança do
comportamento do cliente, ainda é de resultados iniciais e pouco conclusivos,
embora promissores (Tourinho et al. 2007).

Habilidades terapêuticas específicas:

1. Observar

20
O terapeuta deve, desde o primeiro contato, observar as respostas vocais
e não vocais do cliente, com todas as suas nuances. Observar as respostas não
vocais do cliente refere-se a estar sob controle dos gestos, das expressões faciais
e da postura para identificar suas funções, enquanto as respostas vocais têm sua
importância, por ser a principal ferramenta na prática clínica (Tourinho et al. 2007).

Segundo Medeiros (2002), nas primeiras sessões, observar as vestimentas


e a aparência geral do interlocutor ajuda a identificar o tipo de comunidade na qual
está inserido, auxiliando na adaptação da linguagem e de temas discutidos em
sessão. Além disso, a observação de tais aspectos serve como parâmetro para
avaliação da presença do terapeuta, enquanto uma audiência não punitiva
(Marmo, 2012).

Referindo-se ao comportamento verbal, Skinner (1978) propôs categorias


básicas de operantes verbais, dentre as quais serão destacados apenas três: tato,
mando e autocrítico; por serem as modalidades mais presentes em um contexto
de psicoterapia.

Tato é um operante verbal sob controle de um estímulo antecedente não-


verbal e tem como função básica nomear tal estímulo (Skinner, 1978). Na terapia,
o tato faz-se presente sempre que o cliente relata ao terapeuta o conjunto de
condições privadas e públicas percebidas. Por sua vez, o terapeuta também
emite tatos quando descreve sua percepção a respeito dos problemas do cliente
e das condições a eles relacionadas. O processo de tatear, comum a terapeuta e
cliente, portanto, é condição sine qua non para a ocorrência das demais funções
terapêuticas (Tourinho et al. 2007).

Sendo uma resposta presente no repertório do indivíduo desde os primeiros


anos de vida, o tato terá sua precisão e acurácia dependentes de contingências
sociais específicas. Se o cliente não teve acesso a ambientes verbais muito ricos,
é esperado que suas descrições verbais sejam limitadas ou distorcidas,
dificultando o trabalho do terapeuta (Meyer & Vermes, 2001)

O repertório verbal do terapeuta, relativo à sua capacidade de tatear as

21
respostas vocais e não-vocais do cliente, será fundamental para ampliar as
possibilidades de explicação do comportamento do cliente por meio de hipóteses
funcionais, e para garantir uma maior flexibilidade na forma como se comunica
durante o processo terapêutico (Marmo, 2012).

Um terapeuta experiente consegue estar sob controle de mudanças


comportamentais cada vez mais sutis, embora, muitas vezes, não consiga
descrever com exatidão todos os estímulos discriminativos que controlam suas
decisões ao longo da sessão. Evidentemente, é desejável que este se empenhe
em se auto observar e identificar, cada vez melhor, tais estímulos, pois isso se
traduzirá em um ajuste fino para a escolha da melhor resposta ao cliente a cada
momento (Tourinho et al. 2007).

Outra categoria de operante verbal a ser observada no cliente é o mando.


Skinner (1978) conceituou o mando como a resposta verbal que especifica a
consequência reforçadora. São exemplos de mandos as respostas de perguntar,
de dar ordens ou de fazer pedidos. Para cada um desses exemplos observa-se
uma consequência reforçadora específica responsável por manter o mesmo tipo
de asserção que produziu o reforçador, em situações futuras. Respectivamente:
a resposta do interlocutor à pergunta, o seguimento da ordem dada e a solicitação
atendida ao pedido feito.

Clientes com um repertório verbal amplo podem variar a forma como fazem
suas solicitações, de modo a não deixar tão claro qual a sua demanda, reduzindo
as chances de uma negação ou crítica. Repertórios verbais com essas
características são conhecidos como mandos disfarçados (de tatos). Um exemplo
de mando disfarçado de tato seria uma “indagação” do cliente sobre a
conveniência de o terapeuta conhecer um familiar, quando, na verdade, o cliente
teria essa demanda, e só não faz tal solicitação diretamente pelo risco dela ser
negada (Medeiros, 2002).

A adequada observação de mandos disfarçados se faz relevante para que


o terapeuta não reforce inadvertidamente essa classe de resposta verbal, pois
esta concorre com respostas assertivas do cliente (Medeiros, 2002).

A terceira classe de operantes verbais destacada é o autocrítico, que tem

22
a função de descrever, de qualificar ou de comentar outras respostas verbais,
alterando o efeito de tais respostas sobre o ouvinte (Skinner, 1978). Isso pode ser
observado na expressão: “tenho certeza que não conseguirei enfrentar essa
situação”. O autocrítico deve ser atentamente observado porque pode fornecer
pistas sobre o modo como o cliente avalia uma situação, tanto no que se refere
aos eventos privados relacionados a uma situação como na análise da força com
a qual um estímulo eliciador, aversivo ou reforçador controla as respostas do
cliente (Medeiros, 2002).

2. Ser empático

Del Prette e Del Prette (2001) conceituam empatia como uma habilidade
de comunicação contextualizada em uma situação de demanda afetiva, na qual o
interlocutor é capaz de: 1) compreender e sentir o que o falante pensa e sente, e
2) comunicar adequadamente a compreensão obtida e o sentimento vivenciado.

A partir de um levantamento realizado, Meyer e Vermes (2001)


categorizaram empatia como comportamentos verbais e/ou gestuais (inclusive
expressões no rosto) que tenham como objetivo a aproximação e a demonstração
de compreensão. Incluem o relato verbal dos sentimentos positivos que o cliente
desperta no terapeuta, paráfrases e resumos, uso criterioso de humor,
confirmações como “Sim, eu acho que é isso mesmo” e indicação de estar ouvindo
e concordando como “Uhm., aha., sim, etc.” Ser empático inclui:

a) adoção de perspectiva (disposição para se colocar no lugar da outra


pessoa, podendo ou não experimentar os mesmos sentimentos dela);

b) neutralidade e imparcialidade (disposição para ouvir, sem julgar, os


pensamentos e os sentimentos de outra pessoa) e

c) comportamento pró-social (preocupação genuína com o bem-estar da


outra pessoa) (p.104).

Tal categorização ainda não consegue operacionalizar, de forma

23
abrangente, o que é chamado de empatia. Um reflexo dessa dificuldade se traduz
na falta de parâmetros claramente definidos para se estabelecer um treino para
essa classe de respostas (Del Prette e Del Prette, 2001).

Como forma de promover a empatia e reconhecer as dificuldades em


manter uma postura empática, durante a disciplina ministrada foram propostas
situações imaginárias nas quais o aluno atendia um suposto cliente que
apresentava intensas respostas de crítica, desprezo ou raiva, capazes de produzir
reações emocionais aversivas ao terapeuta. Após alguns minutos, a cena era
interrompida e a turma discutia estratégias para lidar com aquela situação,
promovendo, então, a auto-observação e a identificação dos estímulos eliciadores
das emoções do terapeuta (Meyer e Vermes, 2001).

A atividade permitiu aos alunos observarem que a empatia é uma


habilidade almejada, mas nem sempre alcançada. O fundamental seria o
terapeuta aprender a ampliar seus limites de convivência com condições
aversivas produzidas pelo cliente, entendendo que tais respostas são decorrentes
dos próprios problemas que o cliente precisa resolver, e não uma atitude
consciente e intencional (Del Prette e Del Prette, 2001).

3. Lidar com diferenças

Minha capacidade de ser empático está relacionada com o grau de


identificação que tenho com o outro. Quando valores, opiniões e estilo de vida
são aproximadamente compartilhados, torna-se mais fácil ser empático. O
problema é que não é possível escolher apenas clientes com essas mesmas
características para o atendimento. É mais provável se deparar com clientes com
uma ampla variação de modos de vida mais ou menos diferentes daquele
experienciado pelo terapeuta (Meyer e Vermes, 2001).

Frente a essa realidade, o terapeuta precisa ser flexível para lidar com as
diferenças, evitando juízos de valor, em relação a aspectos da vida do cliente. São
exemplos dessas diferenças a opção sexual, o nível socioeconômico, valores

24
pessoais ou a preferência política. O terapeuta capaz de lidar com clientes muito
diferentes de si provavelmente mantém essa flexibilidade em sua vida pessoal e
vice-versa (Del Prette e Del Prette, 2001).

Simulações de sessões de atendimento também foram utilizadas para criar


uma situação fictícia de clientes com características bem particulares, como
adictos ou com posições político-partidárias extremas para que o terapeuta
percebesse suas dificuldades naquela situação. Em seguida, o professor simulou
uma sessão na qual assumiu o papel de terapeuta e pediu aos alunos que
representassem um cliente fictício, com características ou com valores díspares
do contexto de vida do professor. Dessa forma, coube ao terapeuta apresentar
respostas empáticas e não-valorativas das ações do cliente, mesmo diante de
colocações passíveis de punição social (Meyer e Vermes, 2001).

Em seguida, foram discutidas com os alunos as características de pessoas


tidas como intoleráveis, de acordo com a percepção de cada participante.
Debateu-se também como a dificuldade de lidar com tais pessoas, muitas vezes,
reside na incompreensão das contingências que levam estas a agirem daquela
forma. Ressaltou-se, portanto, a necessidade de buscar conhecer melhor outras
contingências, além daquelas próximas ao terapeuta (Del Prette e Del Prette,
2001).

4. Expressar sentimentos e evocá-los no cliente

A quarta habilidade abrange, a rigor, duas habilidades distintas, ambas


relacionadas com o fato de o terapeuta saber lidar com sentimentos. A primeira
delas consiste em expressar os próprios sentimentos ao cliente, quando isso
possa ter uma função terapêutica relevante. A segunda seria a capacidade de o
terapeuta evocar sentimentos no cliente (Del Prette e Del Prette, 2001).

A expressão de sentimentos por parte do terapeuta depende da sua


capacidade de auto-observação. Tal recurso pode ser útil para que o terapeuta
consiga entender que contingências sociais costumam surgir a partir de respostas

25
problemáticas do cliente e, com isso, identificar relações S-R-S que esclareçam o
repertório do cliente (Meyer e Vermes, 2001).

Ao detectar condições privadas diretamente relacionadas ao


comportamento do cliente, o terapeuta pode-se utilizar dessa percepção para
descrever suas reações emocionais, produzidas por uma resposta específica do
cliente. Esse recurso pode ser utilizado tanto em situações de empatia,
envolvendo sentimentos positivos, como no surgimento de sentimentos aversivos,
provocados pelo próprio cliente (Meyer e Vermes, 2001).

É esperado que situações de conflito ou outras eliciadoras de respondentes


aversivos ocorram em baixa frequência na relação terapeuta-cliente, porém esses
momentos podem ser cruciais para o desenvolvimento do processo terapêutico.
Ao expressar sentimentos aversivos relativos ao cliente, é provável que haja:

1) prejuízo grave ao vínculo terapêutico, podendo levar ao rompimento do


processo de terapia; ou

2) alterações no vínculo que, embora produzam efeitos aversivos em um


primeiro momento, possibilitam o contingenciamento adequado de respostas
problemáticas no repertório do cliente. A situação exige, portanto, extrema cautela
e clareza dos fatores envolvidos (Medeiros, 2002).

Para saber como agir em situações de conflito que demandem a expressão


de sentimentos, o terapeuta precisa pautar-se pela análise funcional da resposta
do cliente, relacionando-a ao contexto da sessão e das contingências
controladoras de tal ação. Além disso, ele precisa ter a exata noção de que
sempre há uma consequência produzida pelo terapeuta para cada resposta do
cliente. Essa noção amplia enormemente a relevância de um contínuo processo
de avaliação funcional entre as respostas do cliente e as contingências que a
antecedem e a sequenciam, anulando, dessa maneira, a possibilidade de “não
reagir” a uma ação do cliente. Assim, quando o cliente expressa uma reação
emocional intensa, não há como o terapeuta passar ao largo da situação, fingindo
que nada está acontecendo de diferente ou apenas perguntando ao cliente sobre
o que “significa” aquela reação (Medeiros, 2002).

26
A segunda habilidade que o terapeuta precisa desenvolver, em relação à
expressão de sentimentos, refere-se a conseguir evocar sentimentos no cliente.
Pautado pela ideia de Skinner (1974) de que eventos privados podem funcionar
como pistas para se entender as contingências de controle sobre o
comportamento operante, ao conseguir evocar sentimentos específicos no cliente,
o terapeuta pode ajudá-lo a perceber melhor os fatores ambientais responsáveis
pela presença da condição privada percebida.

A tarefa de levar o cliente a perceber seus eventos privados é


particularmente útil quando este não está ciente de fatores ambientais
controladores de seu comportamento. O cliente pode, ainda, ser capaz de
observar uma condição emocional privada aversiva, mas agir no sentido de evitá-
la, em um processo de fuga ou esquiva. Ao conseguir levar o cliente a entrar em
contato com suas emoções, o terapeuta aumenta as chances de produzir o
segundo efeito terapêutico citado (Medeiros, 2002).

Mesmo podendo gerar uma condição aversiva inicial, é fundamental que o


terapeuta consequencie a expressão de sentimentos do cliente com atenção e
acolhimento, além de prover uma análise funcional visando o esclarecimento dos
fatores determinantes de tais sentimentos. Uma terceira tarefa seria apontar
formas mais produtivas para o cliente lidar com esses eventos privados aversivos
(Meyer e Vermes, 2001).

5. Ser assertivo

A discussão sobre assertividade está inserida no contexto das habilidades


sociais, conjunto de respostas presentes em uma relação inter- pessoal que
favorece uma clara comunicação e a maximização de reforçadores positivos (Del

27
Prette & Del Prette, 2001; Rich & Schroeder 1976) para a resposta de dialogar e
de outros comportamentos envolvidos por parte dos interlocutores.

O comportamento assertivo, por parte do terapeuta, pode ser requerido em


diferentes situações, desde o estabelecimento do contrato inicial de
atendimento, passando por expressões de sentimentos e manejo de situações
conflituosas. Além disso, em queixas que envolvam dificuldade de expressar
sentimentos e pensamentos, respostas verbais assertivas do terapeuta podem
servir de modelo para o cliente (Rich & Schroeder 1976).

Nem sempre clientes apresentam um comportamento assertivo. É comum


a presença de respostas passivas ou agressivas na presença do terapeuta.
Nesses casos, há risco de um terapeuta iniciante reagir de forma mais diretiva
frente a respostas passivas do cliente, ou se sentir inseguro diante de uma maior
agressividade. No primeiro caso, o problema estaria em não perceber que a
frequente aprovação do cliente, produto de um padrão pouco assertivo, pode
controlar e manter respostas do terapeuta de emitir regras a serem seguidas muito
mais em função de tal reforçamento do que por sua função terapêutica. Na
segunda possibilidade, respostas agressivas do cliente podem levar o terapeuta
iniciante a temer conflitos e passar a responder sob controle do medo, deixando
de intervir de maneira mais produtiva (Rich & Schroeder 1976).

Falcone (2001) propõe a empatia como repertório complementar à


assertividade, afirmando que se expressar de maneira empática, antes de
apresentar uma resposta assertiva, pode minimizar a possibilidade de avaliação
negativa da resposta assertiva do terapeuta. Um comportamento assertivo
também pode ser empático ao cliente quando permite que este observe que as
reações do terapeuta ao seu relato são autênticas, e não visam apenas agradá-
lo. O terapeuta precisa, portanto, aprender a emitir respostas assertivas sempre
contingentes às situações que as demandem, como estratégia terapêutica
claramente identificada.

6. Ser persuasivo

28
Dentre as habilidades propostas, a de ser persuasivo provavelmente seja
a mais polêmica, em função da hipótese de que o terapeuta poderia “convencer”
o cliente a realizar algo de interesse do primeiro, e não do próprio cliente. Cabe,
portanto, um esclarecimento inicial necessário para o problema do “controle”
exercido pelo terapeuta sobre o cliente (Rich & Schroeder 1976).

No contexto de terapia, a adoção do termo técnico “controle” não pode ser


confundida com o uso popular do termo. Na linguagem da Análise do
comportamento, ao se falar que um evento exerce controle sobre o
comportamento queremos apenas salientar que tal evento é contingente àquele
comportamento. Neste sentido é que afirmamos que o terapeuta exerce controle
sobre as respostas do cliente e o inverso também é verdadeiro, ou seja, o
comportamento do terapeuta também é modelado por contingências produzidas
pelo cliente (Hayes, 1987).

Ciente de que as ações do cliente serão contingentes à sua presença,


o terapeuta deve estar sempre pautado pelo benefício e bem-estar do cliente,
reavaliando constantemente sua postura a fim de evitar o desvio dessa premissa
básica para sua atuação (Zettle & Hayes, 1982).

Ao falar sobre comportamento persuasivo em terapia é preciso relacioná-


lo com o conceito de comportamento governado por regras, entendido como
aquele sob controle de estímulos verbais especificadores de contingência, como
no caso de instruções ou conselhos (Hayes, 1987).

A emissão de regras por parte do terapeuta, dentre outros fatores, também


se deve ao contexto tradicional no qual ocorre uma psicoterapia, restrito ao
consultório e fortemente embasada em uma intervenção verbal. Com todas as
limitações geradas pela falta de acesso direto às contingências produtoras e
mantenedoras do comportamento problemático do cliente, por vezes o terapeuta
lança mão de contingências verbais com o objetivo de produzir o seguimento de
regras, sendo esta apenas uma etapa intermediária necessária para se alcançar
o objetivo final da terapia, qual seja levar o cliente a ficar mais sensível e aprender
a lidar com contingências reais às quais está submetido (Guilhardi, 2002).

A área de estudos sobre o comportamento governado por regras aponta

29
para um conjunto de variáveis que interferem no grau de controle produzido pelas
regras de um falante, dentre as quais podemos citar a habilidade do falante em
monitorar e liberar consequências para o seguimento de regra, além de sua
credibilidade (Zettle & Hayes, 1982).

Polito (2016) aponta algumas estratégias para promover a persuasão, que


podem ser generalizadas para o contexto clínico como úteis para promover o
seguimento de regras. Um conjunto específico de respostas vocais e motoras
pode ser visto pelo ouvinte como evidência de que o falante está “seguro” da
veracidade daquilo que está falando, aumentando a probabilidade de o primeiro
fazer aquilo que lhe é solicitado. Além disso, a utilização de exemplos, de
comparações, de testemunhos, de referências a pesquisas e de estatísticas para
fortalecer a defesa de argumentos podem ser utilizados em condições específicas
na terapia, especialmente quando o terapeuta enfrenta a resistência do cliente a
mudar um padrão rígido de comportamento de fuga e esquiva.

Nos casos de resistência a mudanças, o cliente pode discordar ou se opor


ao que o terapeuta diz, dificultando o andamento do processo (Guilhardi, 2002).
Nesses casos, o terapeuta deve ser persuasivo e convencer o cliente a abandonar
seu padrão de comportamento evitativo.

7. Confrontar o cliente com contradições em seu comportamento

A habilidade terapêutica de confrontar o cliente requer cuidados por parte


do terapeuta, em função dos riscos de apresentação de uma condição
exageradamente aversiva na relação. Sua função é levar o cliente a observar e
identificar inconsistências em seu comportamento e, com isso, aprofundar a
análise de contingências ambientais controladoras de suas respostas verbais e

30
não-verbais (Guilhardi, 2002).

Frequentemente, essas inconsistências ocorrem entre o dizer e o fazer.


Quer dizer, o cliente diz ao terapeuta que fez algo mas outras respostas suas
apontam para uma discordância e, às vezes, oposição àquilo que foi dito. Por
exemplo, o cliente com problemas de adicção alcoólica afirma que conseguiu
reduzir o consumo de álcool nos últimos dias, embora tenha ido à sessão com
sinais de ter bebido há pouco tempo. Outra possibilidade de inconsistência a ser
confrontada entre o fazer e o dizer do cliente pode ocorrer quando este apresenta
uma ação descrita de forma claramente distorcida. Pode-se ilustrar a situação com
uma cliente que ostensivamente controla a filha, não a deixando, inclusive, tomar
a decisão de escolha da profissão, mas relata ao terapeuta que sempre deu
liberdade à filha, apenas tomando o cuidado de “orientá-la” (Zettle & Hayes, 1982).

A confrontação também pode ser empregada para bloquear respostas de


esquiva do cliente, como mudar de assunto ou responder de forma a evitar novas
investigações por parte do terapeuta (Guilhardi, 2002).

Profissionais pouco experientes provavelmente terão dificuldades com as


situações descritas, temendo produzir uma situação aversiva e conflituosa. Ao se
depararem com contradições no relato do cliente evitam apontá-las, perdendo
uma ótima oportunidade de contribuir para o seu autoconhecimento. Quando isso
acontece e o terapeuta não faz a confrontação, há risco de um problema adicional,
que é o reforçamento inadvertido de respostas de esquiva (Zettle & Hayes, 1982).

Um terapeuta hábil em confrontar o cliente com suas contradições está


atento a essas ocorrências e consegue reduzir o caráter aversivo da
confrontação, minimizando colocações que poderiam ser interpretadas como
atribuição de culpa a si mesmo, levando-o a analisar que contingências estariam
controlando o comportamento inconsistente apresentado (Hayes, 1987).

Para conseguir seu objetivo de chamar a atenção para o problema sem


necessariamente fazer uma acusação, o terapeuta deve estar sensível aos efeitos
de suas intervenções verbais no comportamento do cliente, o que lhe permitirá
selecionar a melhor forma de abordar a questão, escolhendo criteriosamente as
palavras. Por exemplo, ao invés de falar: Você não está sendo coerente. Disse

31
que estudou, mas passou o dia de ontem todo na internet jogando com os amigos;
talvez seja mais produtivo se o terapeuta disser: Apesar de você ter dito que
estudou ontem, me parece que o jogo com os amigos atrapalhou seus planos.
Vamos tentar entender o que o impediu de manter sua disciplina frente aos
estudos (Guilhardi, 2002).

Vale ressaltar que, em uma intervenção confrontativa, o terapeuta pode


não se restringir às respostas inconsistentes imediatamente emitidas, podendo
compará-las com outras anteriormente observadas e relacioná-las enquanto um
padrão de comportamento com uma função em comum ocorrendo em contextos
diversos (Zettle & Hayes, 1982).

8. Ter informações sobre o contexto em que o cliente vive

Uma última, mas não menos relevante habilidade terapêutica, refere-se ao


conhecimento mais detalhado dos diferentes contextos nos quais o cliente está
inserido. Esses contextos envolvem as esferas familiar, social, econômica,
profissional e religiosa, dentre outras (Hayes, 1987).

Estar atualizado com essas informações requer do terapeuta uma


investigação dos aspectos levantados sempre que o cliente abordá-los ou, quando
isso não ocorrer, é possível indagá-los diretamente, de preferência quando o
assunto discutido permita uma conexão com esses contextos de sua história de
vida (Rich & Schroeder 1976).

Tomar conhecimento sobre aspectos da vida religiosa ou profissional do


cliente, nem sempre relatados espontaneamente, pode dizer muito sobre seu
comportamento, auxiliando em uma análise funcional mais completa e refinada.
Dessa forma, é possível entender, por exemplo, que uma pessoa suporta uma
condição aversiva por muito tempo por estar submetido a contingências que o
fazem relacionar seu sofrimento à penitência necessária para redimir seus
pecados (Tourinho et al. 2007).

Um outro exemplo, dessa vez ligado à necessidade de compreensão de

32
aspectos característicos de uma profissão, poderia ser visto na queixa de uma
mulher casada com um cirurgião que se queixa da pouca atenção dada a ela e
aos filhos. Para a avaliação do problema, é importante o terapeuta conhecer a
rotina de um médico cirurgião, que costuma sair de casa mais cedo que o usual e
que pode voltar tarde da noite todos os dias, em função do acompanhamento de
clientes ou de outras atividades realizadas (Tourinho et al. 2007).

Um maior conhecimento de condições idiossincráticas do cliente também


auxilia na formação de um bom vínculo terapêutico, pois ao observar que seu
terapeuta mostra ter conhecimento sobre as particularidades de sua vida, o cliente
pode se sentir empaticamente acolhido e mais à vontade para se colocar, tendo
em vista que o risco de ser incompreendido, em seus pontos de vista, foi reduzido
(Rich & Schroeder 1976).

Vale salientar que o terapeuta não precisa, necessariamente, ter tido as


mesmas experiências de vida ou concordar com o mesmo posicionamento político
ou religioso, mas precisa compreender as variáveis relevantes que controlam o
padrão comportamental descrito dentro de um contexto social mais amplo.
Condições específicas que fazem parte da rotina do cliente podem ser
responsáveis pelo aumento ou diminuição da emissão de certas classes de
resposta (Hayes, 1987).

Uma forma de conseguir estar atento a essas variáveis pode ser alcançada
pela própria experiência clínica. A sucessão de histórias de vida e os relatos
descritivos vão proporcionando ao terapeuta, aos poucos, a capacidade de
identificar condições ambientais e respostas do cliente que se assemelham às já
relatadas por outros clientes, o que poderia sugerir a presença de relações de
contingências parecidas (Tourinho et al. 2007).

Outra possibilidade de ampliar o repertório relativo ao conhecimento das


variáveis do contexto dos clientes poderia se dar com o engajamento do terapeuta
em atividades sociais diversas, como a participação em cursos ou a colaboração
com uma organização não-governamental. Ações como essas proporcionam
contato com pessoas diferentes, além da aquisição de novos conhecimentos
sobre temas diversos (Meyer & Vermes, 2001).

33
Por último, a aproximação com a cultura, por meio das artes, como a
literatura, cinema e teatro, também auxilia na capacidade de entender diferentes
estilos de vida, pois costumam retratar a história de personagens com riqueza de
detalhes sob outros pontos de vista (Rich & Schroeder 1976).

34
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