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DOI: 10.1590/1413-812320152010.

10292014 3151

Práticas assistenciais em saúde mental

artigo article
na atenção primária à saúde: análise a partir de experiências
desenvolvidas em Florianópolis, Brasil

Mental health care practices in primary health care:


an analysis based on experiences developed in Florianópolis, Brazil

Raquel Valiente Frosi 1


Charles Dalcanale Tesser 1

Abstract This article analyzes mental health care Resumo Analisou-se um conjunto de práticas
practices in primary health care (PHC) in the city assistenciais em saúde mental na atenção pri-
of Florianópolis, which were based on proposals mária à saúde (APS) de Florianópolis, tendo
by Abilio Costa-Rosa regarding the asylum-psy- como base a diferenciação proposta por Abílio
chiatric and psychosocial modes of care. The Costa-Rosa entre os modos asilar-psiquiátrico e
methods involved the following: a) the contextu- de atenção psicossocial. Os métodos envolveram:
alization of the empirical field with documental a) contextualização do campo empírico com a
analysis and interviews with managers; b) map- análise documental e entrevistas com gestores; b)
ping interventions through interviews with pro- mapeamento de intervenções em entrevistas com
fessionals from nine selected Family Health Teams profissionais de nove equipes de ESF sorteadas; c)
(ESF); c) deepening the understanding about aprofundamento do entendimento destas ações
these actions through observations and interviews em observações e entrevistas com profissionais e
with professionals and 20 case studies, which were em 20 estudos de caso, que foram sistematizados
systematized in accordance with the flowchart conforme o fluxograma proposto por Merhy, por
proposed by Merhy through interviews with ser- meio de entrevistas com usuários e análise dos
vice users and analysis of records. It was identi- prontuários. Identificou-se que ações voltadas ao
fied that the actions aimed at access and moni- acesso e monitoramento dos casos envolviam toda
toring of the cases involved the whole team, and a equipe e que o acompanhamento era central-
that medical and pharmacological treatment was mente médico e farmacológico. Ações estruturadas
centrally administered. Interventions based on a partir da palavra, do contexto sociocomunitário
words, socio-communitarian interventions and e do corpo também estiveram presentes e mostra-
interventions based on the body were also present, ram potencial para operar em uma perspectiva de
and they showed the potential to operate from a valorização da autonomia e singularidade, estan-
perspective of valuing autonomy and singularity, do, muitas vezes, subutilizadas pela falta de incor-
aspects which are often underused when psycho- poração da abordagem psicossocial. Aponta-se a
1
Departamento de Saúde
Pública, Centro de Ciências social approaches are absent. The need to improve necessidade de avançar no modelo de atenção e na
da Saúde, Universidade care models and to bring together psychosocial aproximação entre atenção psicossocial e APS.
Federal de Santa Catarina. care and PHC is suggested. Palavras-chave Atenção Primária à Saúde, Saú-
Campus Universitário
CCS, Trindade. 88040-900 Key words Primary health care, Mental health, de mental, Práticas assistenciais, Modelos assis-
Florianópolis SC Brasil. Care practices, Care models, Expanded clinic tenciais, Clínica ampliada
raquelfrosi@yahoo.com.br
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Frosi RV, Tesser CD

Introdução com centralidade na sua determinação orgânica.


As medidas de tratamento voltam-se à supressão
Os autores que têm debatido a aproximação entre de sintomas e as terapêuticas são compatíveis
saúde mental e atenção primária à saúde (APS) com a biomedicina, sendo priorizadas inter-
assinalam a compatibilidade epistemológica e venções farmacológicas. Já o modo de atenção
política das Reformas Sanitária e Psiquiátrica, psicossocial é caracterizado pela valorização dos
porém não se furtam de apresentar os desafios fatores políticos e biopsicossocioculturais como
emergentes neste processo, incluída a operação determinantes do processo de adoecer e pela no-
da atenção1-4. ção de singularidade de cada caso. A “cura” é en-
Estudos anteriores acerca das práticas assis- tendida como um reposicionamento subjetivo e
tenciais em saúde mental na APS apontam para as terapêuticas privilegiadas são as psicoterapias,
realização de ações de identificação de deman- laborterapias e dispositivos de reintegração so-
das (contando com a participação dos Agentes ciocultural, ainda que, de acordo com a situação,
Comunitários de Saúde — ACS), acolhimento e os medicamentos possam ser utilizados como
diagnóstico5-7; tendência de se ver saúde mental auxiliares de maior ou menor importância.
como saber especializado, o que se dirige à cor-
responsabilização com a implantação do matri-
ciamento5,6,8; predomínio de tratamento medi- Percurso metodológico
camentoso, ou de outras intervenções biomédi-
cas6,8,9; realização de escuta e orientações, que, Almejando ampliar a capacidade de compreensão
muitas vezes, não são percebidas como interven- do fenômeno em estudo, adotou-se uma perspec-
ção pelos próprios profissionais7,8, ou realização tiva de triangulação na coleta de dados, com di-
de ações improvisadas9; tentativa de desenvolver versificação do material empírico. Assim, além de
o projeto terapêutico em atendimentos indivi- materiais elaborados pelos pesquisadores especi-
duais e visitas domiciliares, com baixa cobertura ficamente para a pesquisa, valorizou-se a contex-
assistencial5; encaminhamento dos casos, com tualização e a consulta a documentos produzidos
frequência para urgências em função de crises5,7,9. no cotidiano do campo investigado13. A pesquisa
Tais pesquisas constatam a escassez, ou ausência, iniciou-se com a leitura de documentos institu-
de ações que utilizam os recursos comunitários5,6, cionais, por entrevistas com gestores municipais
mas enfatizam que diretrizes e conceitos cruciais relacionados à saúde mental e à APS e com pro-
ao funcionamento da própria APS — como aco- fissionais de nove equipes de Estratégia de Saúde
lhimento, humanização, qualidade de vida e vín- da Família (ESF) de centros de saúde distintos,
culo — são aberturas à valorização e estrutura- que foram sorteadas de forma a contemplar, pro-
ção do cuidado em saúde mental8,9. porcionalmente, os distritos sanitários da cidade.
Considerando estes achados, a pesquisa que Posteriormente, realizou-se estudo aprofundado
este artigo sintetiza teve como objetivos: a) des- das práticas assistenciais identificadas por meio
crever práticas assistenciais em saúde mental ofe- de: entrevistas com profissionais envolvidos nas
recidas na rede de APS de Florianópolis quanto ações (incluídos alguns profissionais do Núcleo
a proponentes, público-alvo e funcionamento; b) de Apoio a Saúde da Família – NASF); observa-
analisar como estas práticas assistenciais são ar- ção das mesmas; e sistematização de 20 estudos
ticuladas para compor os projetos terapêuticos e de caso de participantes destas ações, construídos
que itinerários de atenção produzem; c) situar as através do fluxograma de síntese proposto por
práticas nos campos teóricos-técnicos da saúde Merhy14, com base nas entrevistas com os usuários
mental e APS, observando sua relação. e da análise de prontuários. A saturação indicou o
Assumiu-se o entendimento de que práticas momento de interrupção da coleta de dados em
assistenciais são atos de trabalho em que instru- todas as etapas, estando incluídos no segundo mo-
mentos e meios são utilizados sobre um objeto e mento do estudo 08 entrevistas com profissionais
orientados a um fim10. Esta definição foi trans- de diversas áreas e a observação de 6 atividades,
posta para as noções de doença, cura e tratamen- totalizando a participação direta de 21 profissio-
to, através da caracterização da biomedicina feita nais na pesquisa. Os usuários participantes foram
por Camargo Júnior11 e dos eixos de diferencia- indicados pelos profissionais por serem atendidos
ção entre os modos de atenção psicossocial e asi- com determinada prática assistencial, sorteados
lar-psiquiátrico, sistematizados por Costa-Rosa12. dentre listas de casos, ou escolhidos por conveni-
Para este autor, o modo asilar-psiquiátrico carac- ência, ao serem atendidos no dia em que a pesqui-
teriza-se por uma definição invariável de doença, sadora encontrava-se no Centro de Saúde (CS).
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O estudo, aprovado no Comitê de Ética em Resultados
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade
Federal de Santa Catarina, adotou o preenchi- As equipes de ESF, contando com o suporte das
mento do Termo de Consentimento Livre e Es- equipes de NASF, têm incorporado um conjunto
clarecido por todos os participantes, como forma de ações em saúde mental que serão apresentadas
de assegurar a liberdade na participação e esta- neste texto. Estas, no entanto, ainda estão marca-
beleceu estratégias para preservação do sigilo e das por uma divisão do trabalho que mantém os
confidencialidade das informações, aqui destaca- profissionais de enfermagem e ACS centralmente
da a denominação dos participantes por pseudô- voltados ao acesso e monitoramento dos casos
nimos. enquanto o acompanhamento fica a cargo dos
De forma compatível com os princípios da médicos.
pesquisa qualitativa, que exige do pesquisador Neste artigo, a descrição do que tem sido ofe-
abertura e flexibilidade para apreensão da reali- recido como atenção foi sistematizada em 4 eixos
dade15, com esta composição de dados realizou- relacionados entre si: intervenções farmacológi-
se uma descrição e análise das práticas assisten- cas, pela palavra, sociocomunitárias e através do
ciais, situadas nos debates teóricos do campo da corpo. Antecipa-se aqui que estes eixos descriti-
APS e escrutinadas pelas diferenças e tensões en- vos fundamentarão 4 outros eixos que retomam
tre os modos de atenção psicossocial e asilar-psi- a leitura conceitual referida anteriormente, como
quiátrico. Tomaram-se os eixos vínculo, autono- representado na Figura 1.
mia e singularidade como pontos de partida para
demarcar as diferenças entre os dois modos de Intervenções Farmacológicas
atenção em saúde mental, e os atributos acesso,
longitudinalidade e integralidade despontaram Ao longo da história clínica de praticamente
como mais relevantes para se pensar a relação todos os usuários, é a medicação que, de forma
entre a saúde mental e a APS. Priorizou-se a pros- contínua, perpassa o tratamento, muitas vezes
pecção de tendências e de pontos de alta densida- dissociada de um processo de escuta ou de outas
de, potencializando o debate acerca de caminhos formas de atenção. Esta situação pode ser exem-
para uma maior aproximação entre APS e aten- plificada pelo fato de que, embora convidados
ção psicossocial. com base em práticas assistenciais variadas, 17
Cabe destacar que o campo de pesquisa foi dos 20 usuários faziam uso de psicotrópico no
a APS de Florianópolis, cidade que, segundo o momento da entrevista. Também pelo caso de
IBGE, tinha estimada a população de 433.158 Eugênia, que, no momento da pesquisa, passava
habitantes, em 2012, e, para qual, o Ministério por acompanhamento médico frequente e sem
da Saúde indicava 93% de cobertura de ESF, em medicamentos e que afirma: Nunca me chamou
agosto do mesmo ano. O matriciamento, que para a conversa e nem encaminhar para a psico-
vem sendo implementado desde 2006, era, no logia, nem nada, né? O primeiro médico me falou
período da pesquisa, executado por 12 equipes ‘isso é droga’, me passou um remédio. Claro, na pri-
de NASF, compostas por profissionais de diver- meira semana ele me ajudou, mas na segunda ele
sas áreas. Partindo do entendimento de que as já não supria a fissura e vontade de beber.
equipes de referência têm um importante papel Quase a totalidade dos CS possui algum fluxo
no estabelecimento de vínculo com o usuário, na para a renovação de receitas, em geral operada no
atenção longitudinal e na coordenação do cui- acolhimento de enfermagem. Esta prática, que
dado em rede, e que contam com o suporte das também tem sido identificada em outros estu-
equipes especializadas para o fortalecimento de dos2,17, foi registrada em praticamente todos os
sua intervenção16, esta pesquisa enfocou as ações prontuários e tendeu a ser mais presente quando
desenvolvidas pelos profissionais da ESF incluin- há rotatividade ou falta de médicos, ou também
do, a partir destes, as ações realizadas de forma conforme vai se estendendo o acompanhamento
articulada pelos profissionais de NASF. Entende- e alargam-se os intervalos entre as reavaliações.
se que esta análise permite compreender os desa- Dado o descontentamento dos profissionais, há
fios e avanços alcançados no campo das práticas algumas mudanças neste procedimento, porém,
assistenciais, quando da existência de uma rede nem sempre se qualifica o cuidado, podendo
que enfoca a consolidação da atenção primária à acentuar-se seu enfoque administrativo, como
saúde e do matriciamento. quando deixa de haver uma abordagem dos
profissionais de enfermagem, que costumam
verificar como estão passando os usuários, para
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Base conceitual

Práticas Assistenciais:
Atos de trabalho em que instrumentos e meio são utilizados sobre um objeto e orientados a um fim.

Doença: fatores políticos e Doença: orgânica


biopsicossocioculturais
Modo de Cura: reposicionamento Modo Asilar Cura: supressão dos
Atenção subjetivo Psiquiátrico sintomas
Psicossocial Terapêuticas: psicoterapias, Terapêuticas:
laboterapias, socioterapias, Farmacológicas
dispositivos de
reintegração sociocultural,
psicofármacos.

Eixos de análise e descritivos


Conceitos Dados do Campo Empírico Conceitos

Saúde Mental APS

Intervenções
Vínculo farmacológicas Acesso

Intervenções
Intervenções socio-
Autonomia pela palavra comunitárias Longitudinalidade

Intervenções
Singularidade pelo corpo Integralidade

Eixos de discussão

Desafios para Sobre a cronificação As necessárias pontes Práticas assistenciais


qualificar a entrada em dos atendimentos entre as ofertas e a no encontro entre APS e
atendimento singularidade atenção psicossocial

Uso precipitado Vínculo serve Baixo uso de Potencialidade das


de intervenções para manutenção abordagens enfocando a intervenções pelo corpo
farmacológicas. de tratamentos singularidade. em saúde mental na
predominantemente APS.
Pouca aposta inicial em farmacológicos.
outros tipos de práticas
assistenciais. Baixo uso de estratégias
de tratamento que
possam favorecer a
autonomia.

Figura 1. Esquema analítico.

Fonte: dos autores.

fazer-se a renovação de forma direta com a far- o profissional de psiquiatria. Cabe destacar que
mácia. Um CS estruturou um grupo com base o matriciamento de psiquiatria esteve associado
nas renovações, tendo na equipe de coordenação principalmente às condutas farmacológicas.
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Na história destes casos, identifica-se um vesse queixas de aumento da agressividade com
pronto atendimento medicamentoso, além do um psicotrópico prescrito, não iria alterá-lo por
não encerramento dos tratamentos farmaco- interpretar que havia uma função importante na
lógicos, e daí o fato de haver muitos usuários expressão daquela agressividade.
crônicos de psicotrópicos. Alguns profissionais Observa-se que, além da dimensão de refle-
referem tentativas de reavaliação para retirada xão, as intervenções estruturadas pela palavra
ou substituição destes medicamentos, inclusive tiveram funções de catarse e apoio, sendo a úl-
por fitoterápicos, mencionando dificuldades. O tima predominante. A continuidade no processo
caso de Verena é ilustrativo destas dificuldades e de escuta parece essencial para garantir-se outro
da necessidade de singularização nesta proposta. modo de atendimento a estes usuários, contudo,
Da análise de seu prontuário/entrevista conclui- muitas vezes esta abordagem tem ficado restrita
se que foi pouco enfatizada sua participação no a sua chegada, possivelmente por haver, naquele
grupo de ginástica, que atendia seu perfil vai- momento, a necessidade de contextualizar diag-
doso, e não aproveitado seu vínculo forte com a nósticos para definir tratamentos.
enfermagem no encaminhamento para o grupo A intervenção pela palavra, como medida sis-
de apoio psicológico, feito de forma diretiva por temática, está depositada nos grupos de apoio psi-
outro profissional. Há maior sucesso na evitação cológico, valorizados pela gestão e considerados,
de novas prescrições de ansiolíticos, o que é favo- por muitos profissionais, como uma primeira
recido pela existência de protocolos clínicos que linha de intervenção para os casos de sofrimento
sustentam esta conduta comedida. psíquico, inclusive por sua acessibilidade, como
Observada a pouca ênfase, na literatura em expresso por Zoé: Geralmente eu tento resolver
APS, sobre as dificuldades com o uso crônico de o que eu consigo junto com o grupo de apoio psi-
psicotrópicos, além da tendência de defesa de cológico da própria unidade. Estes grupos estão
tratamentos cada vez mais longos, ainda que haja presentes nas unidades em que há psicólogos no
problemas em suas evidências18, resgata-se a po- NASF, ou seja, em sete das nove equipes pesqui-
tencialidade da utilização, neste campo, do con- sadas. O atendimento individual de psicologia foi
ceito de desprescrição, que tem sido utilizado, em identificado como extremamente pontual, o que
especial no caso de idosos polimedicados, para se mostra pertinente para parte das abordagens,
fomentar uma conduta que reavalie e acompa- sem abarcar, porém, a necessidade de todos os ca-
nhe a suspensão de alguns medicamentos19. sos. Neste sentido, o encaminhamento para psi-
coterapia em ONGs ou centros de formação foi
Intervenções pela palavra mencionado não só em unidades sem psicólogo,
mas também por não se contar com a oferta de
Identificou-se um conjunto de estratégias atendimento quando necessário.
que valorizam a dimensão da subjetividade, den-
tre essas, o acolhimento de enfermagem, que, em- Intervenções sociocomunitárias
bora apresente estreita relação com o acesso, com
predomínio de encaminhamentos, também pode Embora as abordagens familiares sejam en-
se construir como um espaço de escuta, inclusive tendidas como uma potencialidade da ESF e da
a partir do vínculo existente com a comunidade medicina de família e comunidade (expressiva
pelas outras ações desenvolvidas. Esta conduta proporção dos médicos desta rede básica são
tem sido reconhecida pelos usuários, como ex- especialistas, ao contrário do restante do país),
presso na fala da usuária Dalila: Aí ela chamou a estas foram bastante pontuais neste estudo, es-
Dora, que já me levou na outra sala e já conversou tando prioritariamente associadas a situações de
comigo [...] acho que até por isso que a minha re- crise ou de maior gravidade, quando se mostrou
ferência é ela. necessária uma leitura mais aprofundada da di-
Ainda que os acompanhamentos médicos es- nâmica familiar. O fato de que outros membros
tejam, em geral, centrados na medicação, alguns da família são usuários da APS, tendo por vezes
profissionais propiciam um espaço de reflexão vínculo com a ESF, mostrou-se uma potenciali-
sobre a situação de sofrimento, colocando a in- dade a ser explorada. O uso de visitas domiciliares
tervenção medicamentosa de forma subordina- também esteve associado à abordagem de casos
da a uma interpretação subjetiva e favorecendo graves e a intervenções familiares.
a adesão a um cuidado não medicamentoso do Os encaminhamentos para grupos comuni-
sofrimento. No prontuário da usuária Guiomar, tários, como parte das ações em saúde mental,
por exemplo, Gil registra que mesmo que hou- foram comuns, assim como a utilização de gru-
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pos variados da unidade, como de mulheres, ca- lada. Armênia, por exemplo, se debatia com sin-
minhada e artesanato. Estes se fizeram presentes tomas de ansiedade que lhe faziam comer muito
voltados ao autocuidado, ocupação do tempo e teve a caminhada prescrita por conta do coles-
livre e socialização. Há alguma subutilização terol, sem que fosse feita uma correlação desta
destas práticas, como na equipe de Pilar, que, atividade como estratégia para enfrentamento da
apesar de elencar um conjunto de situações nas ansiedade.
quais articulou a rede de serviços de referência, Além de ser um ponto de abertura para a
teve dificuldade de lembrar algum caso no qual chegada de demandas em saúde mental, o cuida-
utilizou recursos presentes em sua unidade. Além do clínico mostrou interfaces importantes para a
da necessidade de sua articulação com as demais atenção propriamente dita, uma vez que favorece
formas de cuidado, foi identificada a necessidade o vínculo e legitimação dos profissionais da APS,
de uma singularização na construção destas ofer- tanto por usuários, quanto pelos serviços espe-
tas, situação que, por vezes, é solucionada pelos cializados de saúde mental. Quando a dimensão
próprios usuários, conforme se nota na fala de orgânica se faz presente, parece haver mais desen-
Guilhermina: Eu faço curso de bordado duas ve- voltura para operar a intervenção em saúde men-
zes por semana e estava me deixando nervosa, e eu tal. A profissional Nívea, por exemplo, referiu um
disse ‘eu não quero coisa para me deixar irritada, caso que estava em atendimento exclusivamente
eu quero coisa que me dar prazer’. [...] Gus que fa- para o problema psiquiátrico e constata que, ao
lou para mim, ‘ocupe o seu tempo’, porque eu não haver diagnóstico de Hipertensão, se alterou, de
sou de parar. Mandou arrumar um namorado. Eu forma positiva, toda a dinâmica de cuidado.
vou achar um velho que quer se aproveitar ainda Nas entrevistas com os profissionais e poste-
de mim, que eu tenho um teto para oferecer? Eu riormente nos estudos de caso, foram identifica-
fui até dançar, que tinha mandado ir dançar eu e a dos o uso de acupuntura em casos de ansiedade, a
minha filha, que também distrai e faz um exercício. realização de auriculoterapia, inclusive de forma
Em uma equipe houve a inserção de casos articulada ao grupo de apoio psicológico, e tam-
graves em um grupo de caminhada e em outra bém a utilização de fitoterápicos. As intervenções
a oferta de uma oficina terapêutica, ambas envol- com PICs fazem parte da tentativa de desmedica-
vendo parcerias entre NASF e ESF. Pensar neste lizar as práticas das equipes de saúde e denotam
conjunto de usuários é um desafio importante, um sentido de integração da dimensão física e
uma vez que muitos deles não conseguem acessar psíquica. Além disso, indicam uma abertura para
o CAPS e que ficam com uma oferta terapêutica um conjunto de intervenções integradas, como
bastante restrita, como Teodósio, que tentava ir no caso do usuário Virgílio, que vinha apresen-
ao CAPS sem sucesso e que passou a se benefi- tando alterações cardiovasculares relacionadas
ciar da oficina. A ampliação destes recursos para à ansiedade e para quem foi proposto de forma
os casos graves nem sempre é reconhecida como associada acupuntura, atendimento psicológico
possível, conforme a fala da profissional Ema: é e fisioterapia. Sobre tal atendimento o usuário
diferente tu combinar isso com uma idosa que está verbaliza: Eu estava cheio de dor nas pernas, não
mais tristinha, ou mesmo deprimida, do que tentar podia dormir, melhorei. E uma dor que eu tinha
fazer uma intervenção deste tipo com esquizofrêni- aqui no peito, achava que era o coração, eles finca-
co e bipolar grave. Sabe que não tem tantos efeitos, ram aquelas agulhas, tudo, melhorei bastante [...]
é mais difícil. aí, eu passei por uma psicóloga e comecei a melho-
rar [...] é que eu tomo uma fluoxetina de manhã e
Intervenções pelo Corpo tomo um clonazepan 2mg de noite, né? Mas ajudou
porque eu não... eu gosto de ir pescar e não ia mais
Há maior autoria das equipes de ESF nas prá- pescar com medo. O meu negócio era mesmo medo
ticas assistenciais que giram em torno da dimen- de conversar com as pessoas, assim, entende. Tudo
são corporal, como, por exemplo, nas práticas isso aí me atrapalha [...] tudo mandado por Vik.
corporais, nas Práticas Integrativas e Comple- Aquilo ali me ajudava, né? Porque eu estava fican-
mentares (PICs) e no cuidado clínico. do meio encarangado das pernas e coisas. Algumas
Dentre as práticas corporais, o incentivo à ati- equipes têm utilizado estas ofertas já na chegada
vidade física foi bastante presente e transversal ao dos casos, derivando dali um novo tipo de acom-
conjunto de atividades socializantes ou prazero- panhamento, este mais partilhado pelos profis-
sas propostas aos usuários. Entretanto, em geral, sionais das áreas de medicina e enfermagem.
a atividade física não foi explorada dentro do pla- Por fim, em uma análise geral, observou-se
no de cuidado em saúde mental de forma articu- que a ampliação das formas de cuidado tem sido
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proposta rapidamente nos atendimentos mais mentar a resolubilidade das equipes, para além
recentes, seja de uma forma articulada, o que das soluções farmacológicas.
se mostrou mais efetivo, seja de forma pontual
e tangencial. Ainda assim, não foram muito co- Sobre a cronificação dos atendimentos
muns as abordagens que efetivamente inverte-
ram a oferta ao colocarem as intervenções não Observou-se que há uma subutilização do
farmacológicas de forma anterior à prescrição de acompanhamento longitudinal dos usuários e
psicofármacos. do vínculo com objetivo de sustentar tratamen-
tos não farmacológicos e que, paradoxalmente,
a intervenção psicofarmacológica acaba por se
Discussão estender ao longo do tempo, deixando sem in-
terrupção tratamentos que teriam um tempo de-
Conforme sistematizado na Figura 1, neste es- limitado21,22. Assim, a APS acaba tendo que agir
tudo emergiram 4 eixos para discussão: a qua- sobre um conjunto de sofrimentos e tratamen-
lificação no acesso, a tendência à cronificação, a tos cronificados. Este fenômeno possivelmente
importância da singularidade como referência é naturalizado como se fosse uma extensão de
das ofertas terapêuticas e, por fim, o corpo como abordagens consolidadas para doenças ou condi-
marco para a clínica psicossocial da APS. ções crônicas como Hipertensão e Diabetes, nas
quais o cuidado fundamenta-se em uma conduta
Desafios para qualificar a entrada farmacológica permanente, os medicamentos de
em atendimento “uso contínuo”.
Ressalva-se que, ainda que se considere um
Reconhecido o papel das equipes da ESF na tempo por vezes prolongado de cuidados, se
abordagem inicial para os diversos tipos de adoe- comparados a outras condições de saúde, e mes-
cimento e sofrimento18, parece ser necessária uma mo a possibilidade de novos episódios na vida, se
maior capacidade de suspensão da abordagem espera que os usuários com demandas de saúde
do sofrimento psíquico como doença e da pron- mental passem por intervenções de cuidado que
ta oferta de medicamentos. Isso ocorre mesmo favoreçam a superação de suas dificuldades, que,
que haja um recurso – que deveria ser fortemente em princípio, não justificariam a manutenção de
difundido no campo da APS – que é a demora tratamentos permanentes. Têm-se como exceção
permitida ou watchful waiting20. No campo do os transtornos severos e persistentes, que tam-
sofrimento psíquico, este não serviria para uma bém deveriam ser abordados com incremento
avaliação da remissão do quadro de forma es- das ofertas assistenciais que favorecem o desen-
pontânea, ou para o delineamento mais nítido volvimento da autonomia.
do quadro sintomático, como é comum na clínica Uma das analogias que parece adequada para
biomédica do “corpo”, mas, principalmente, para pensar o cuidado em saúde mental na APS, evi-
avaliar-se o efeito de medidas não farmacológicas. dentemente como abstração e com limitação,
A dificuldade com este processo não parece dada a grande diferença no campo das materia-
estar atrelada somente ao fato de que as equipes lidades e de modelos explicativos, são as doenças
não fazem outras ofertas de cuidado, mas, so- osteomusculares. Embora demandem interven-
bretudo, à possibilidade de apostarem em seus ções diversificadas e bastante sistemáticas, como
efeitos, inclusive de modo alternativo e prévio a fisioterapia ou atividade física orientada, estes
às intervenções farmacológicas. Uma mudança quadros apresentam significativas mudanças, em
envolveria abarcar de forma mais sistemática e especial para aqueles usuários que sejam envolvi-
integrada, e desde o início dos acompanhamen- dos neste espaço de cuidado e que consigam su-
tos, um conjunto de outras intervenções, singu- porte para alterar algumas situações que tendem
larizando-as e analisando seus efeitos de forma a reproduzir seu sofrimento.
continuada. Sendo assim, retoma-se a importância de que
Salienta-se que existe uma gama de situações sejam resgatados na APS recursos capazes de atu-
em que os sofrimentos físico e psíquico apresen- ar a favor da reorganização do cuidado, como a
tam-se de forma articulada e que o enfrentamen- singularização dos planos de atenção e a constru-
to integrado de problemas como dores, insônia, ção de intervenções compartilhadas pelas equi-
ganho de peso, através de recursos como grupos pes, incluída sua permanente avaliação, o que
de emagrecimento ou de atividade física, PICs, tem se convencionado, na saúde coletiva brasi-
dentre outros, também é importante para au- leira, chamar de projeto terapêutico singular, que
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não foi identificado como uma estratégia efeti- Práticas assistenciais no encontro entre APS
vamente utilizada nas equipes. Tal ferramenta e atenção psicossocial
pode ser bastante relevante como uma forma de
reorganizar os registros dos casos, o que é essen- A reforma psiquiátrica diversificou as práti-
cial para enfrentamento dos efeitos gerados pela cas terapêuticas, tomando a arte e a cultura como
rotatividade dos profissionais na continuidade da formas de propiciar uma expressão e reconstru-
atenção. ção subjetiva, inclusive através do laço social. O
corpo faz-se presente pela dança e pelo teatro e,
As necessárias pontes entre as ofertas por vezes, pelo esporte24. As intervenções de saú-
e a singularidade de mental na APS parecem contar mais com o
corporal para sua ampliação, possivelmente pela
A valorização do sujeito, em sua dimensão composição de seu campo de saber e pelas ex-
singularizada, é central para possibilitar uma pectativas que se fazem sobre sua atuação. Assim,
distinção do modo psicossocial, que não almeja neste estudo foi identificado que as intervenções
o tamponamento dos sintomas12 – menos ainda para abordar outras condições clínicas, as práti-
de forma permanente, como quando se medica cas corporais, dentre estas principalmente a ati-
de forma preventiva – e sim propiciar que o pró- vidade física, mas também as PICs, mostram-se
prio sujeito deste sintoma recoloque-o a favor da como possibilidades para complexificar o cui-
sua transformação singular12,23. É justamente este dado em saúde mental, mesmo para casos mais
enfoque, que se mostrou bastante deficitário nas graves.
práticas das equipes, que possibilitaria uma con- Considerada a massiva oferta de medicamen-
dução articulada entre as ofertas de cuidado e a tos psicotrópicos, as PICs, ainda muito distantes
escuta, inclusive quanto aos fármacos, que seriam da saúde mental, têm se colocado como uma al-
opção quando o sintoma impede o processo de ternativa, uma vez que, em geral, a abordagem
transformação. clínica que sustenta estas práticas valoriza a cor-
A falta de contato com o arcabouço teórico- poreidade como forma de expressão da dimensão
técnico da atenção psicossocial, em especial com subjetiva. Há uma preocupação em atender-se à
sua clínica, parece ter como efeito o não avançar demanda de supressão dos sintomas a partir de
de algumas formas de cuidado disponíveis. As medidas que também são vinculares, sem deixar
contribuições desta perspectiva poderiam forta- de remeter os sujeitos a uma implicação com sua
lecer uma reapropriação do cuidado através do condição de saúde, justificando-se, neste sentido,
vínculo, que, pelo que se pode observar nesta certo estatuto desmedicalizante que as ampara25.
pesquisa, embora bastante presente na APS, nem Deve-se atentar para a diferenciação entre a
sempre é incorporado de forma operativa para concepção de saúde física que é valorizada aqui
um cuidado em saúde mental transformado. como potência, daquela que, por sua visão restri-
A presença de uma abordagem centrada na ta, deslegitima o campo da escuta e da subjetivi-
pessoa, com valorização da indissociabilidade dade, haja vista que, como nos aponta Lucchese
entre físico e psíquico, e uma compreensão da et al.9, a saúde física que emerge como categoria
dinâmica familiar e social, assim como a no- biomédica não só privilegia o corpo e a doen-
ção de acolhimento, deixam abertura, na APS, ça, mas igualmente subordina e ordena a saúde
a um cuidado articulado pela escuta na direção mental. Assim, ainda que a própria expertise dos
da abordagem psicossocial. É justamente nestas profissionais da saúde mostre-se potente para
ancoragens que, por vezes, desponta a adoção de estruturação de um conjunto mais diversificado
medicamentos de forma cautelosa, ou subordi- de ações, é fundamental que se valorize também
nada à singularidade do caso e o uso de inter- ofertas terapêuticas livres desta reconhecida fun-
venções mais diversificadas, que incluem um ção, como aquelas amparadas na expressão, na
acompanhamento mais sistemático e vincular. socialização lúdica, dentre outras, reafirmando
Estas ações se mostraram como potencial de al- sua capacidade de colocar em pauta um cuidado
ternatividade, ou pelo menos complementarida- não prescritor.
de e compensação necessária ao predominante
tamponamento de sintomas pela via química, de
tendência cronicizante.
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Considerações Finais Portanto, recomenda-se àqueles que estão en-
volvidos na transformação da atenção em saúde
Identificou-se, neste estudo, uma importante mental na APS que seja propagada a utilização do
atuação das equipes de ESF no acesso e moni- trabalho com projetos terapêuticos singulares30,31,
toramento dos casos, com ênfase no tratamento buscando-se priorizar, desde a chegada dos ca-
farmacológico continuado, acompanhada de di- sos, o uso de estratégias não farmacológicas de
ficuldades de realizarem-se ações de atenção que tratamento. Também que seja entendida de for-
valorizam a singularidade e o desenvolvimento ma mais abrangente a atuação do conjunto das
da autonomia, referências que estruturam dife- equipes da ESF, em especial dos profissionais de
renças entre os modos de atenção psicossocial enfermagem e ACS, e que seja garantido o acom-
e asilar-psiquiátrico12. Assim, as práticas assis- panhamento articulado por especialistas para os
tenciais acabam sendo afeitas a uma noção de casos em que este efetivamente se faça necessá-
cuidado similar à da psiquiatria comunitária ou rio. Propõe-se ainda que sejam incrementadas
preventiva, que teve sua importância na (pré) ações que possibilitem interferir no processo de
história da reforma psiquiátrica brasileira por cronificação dos tratamentos farmacológicos,
tornar-se o primeiro espaço de oferta de atenção monitorando os períodos de utilização de me-
não manicomial, incorporando o cuidado siste- dicamentos e empoderando os usuários em seu
mático e antecipado como uma forma de evitar tratamento, tendo como exemplo os Grupos de
internações psiquiátricas. Tal modelo foi poste- Gestão Autônoma de Medicamentos32.
riormente considerado limitado, por não ques- Esta pesquisa reafirma o entendimento de
tionar a forma como o saber psiquiátrico obje- que é preciso explorar características da pró-
tificava o sofrimento/loucura e por suas conse- pria APS na sua aproximação com o modelo
quências medicalizantes26,27. Cabe-nos resgatar os da atenção psicossocial, mas também identifica
apontamentos feitos por Mondoni e Costa-Ro- que é preciso fortalecer, neste campo, o contato
sa28 em estudo realizado no Estado de São Paulo, com a produção acumulada da atenção psicos-
no qual constataram que o modo de atenção psi- social, que, por vezes, ficou restrita aos serviços
cossocial coexiste com influências da psiquiatria especializados, o que não foi transformado, até
tradicional e da psiquiatria preventiva, sendo que o momento, apesar da implantação do matricia-
esta última, por sua similaridade e proximidade mento. Este distanciamento entre atenção psi-
com a reforma psiquiátrica, dificulta o avanço da cossocial e o campo da APS já foi apontado em
atenção psicossocial. outros estudos1,4 e pode ser também observado
Salienta-se que o cuidado em saúde mental em referências bibliográficas importantes para os
orientado por princípios da APS, sob a ênfase nas profissionais de APS, ou mesmo de matriciamen-
suas normativas nacionais16,29, mantém uma pre- to33,34. Sugere-se, portanto, que este modelo de
ocupação com o acolhimento e acompanhamen- atenção seja objeto de intervenções no campo da
to longitudinal dos casos, mas que seus atributos formação e educação permanente deste conjunto
também sustentam e valorizam ações que têm de profissionais. Destaca-se aqui que há diversos
como eixos centrais o fortalecimento da autono- pontos a serem explorados e desenvolvidos na re-
mia e o enfoque na subjetividade, como o incen- lação entre atenção psicossocial e APS, como, por
tivo à participação em atividades comunitárias, exemplo, quanto à crítica às intervenções medi-
as PIC e os grupos de apoio. Apesar de existentes, calizantes em saúde mental e suas interfaces com
estas intervenções ainda são subutilizadas, justa- o debate que vem sendo feito na APS, a partir do
mente por não serem centrais nos processos de conceito de prevenção quaternária35, ou ainda
atendimento e por não serem exploradas o su- quanto à aproximação entre corpo e subjetivi-
ficiente, inclusive quanto à singularização, o que dade, que emergiu neste estudo com um potente
dependeria também de maior ancoragem psicos- encontro entre estes campos.
social para as práticas realizadas.
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Frosi RV, Tesser CD

Colaboradores Referências

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Aprovado em 17/03/2015
Versão final apresentada em 19/03/2015

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