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15602019 3765
Abstract This paper aimed to characterize ac- Resumo Este estudo objetivou caracterizar as
tions directed to children’s mental health (CMH) ações voltadas à saúde mental infantil (SMI)
in Primary Health Care (PHC), based on an no contexto da Atenção Básica (AB), a partir de
integrative review of Brazilian literature (2006- uma revisão integrativa da literatura brasileira
2017). The searches were carried out from LI- (2006-2017). As buscas foram realizadas a partir
LACS, SciELO and VHL Network databases. Af- das bases de dados LILACS, SciELO e do Portal
ter applying the inclusion and exclusion criteria, BVS. Após a aplicação de critérios de inclusão e
13 articles were identified for analysis, which were exclusão, identificaram-se 13 artigos para análise,
presented in three thematic axes: 1) Characteri- que foram apresentados em três eixos temáticos:
zation of the demands on CMH for PHC; 2) Ac- 1) Caracterização das demandas em SMI para a
tions and interventions on CMH carried out in AB; 2) Ações e intervenções de SMI realizadas na
PHC; and 3) Difficulties and propositions for the AB; e 3) Dificuldades e proposições para a imple-
implementation of actions on CMH in PHC. The mentação das ações em SMI na AB. A literatura
literature points, as the main actions, the iden- aponta, como as principais ações, a identificação
1
Programa de Pós- tification of CMH problems and their referral to de problemas de SMI e o seu encaminhamen-
Graduação em Psicologia e
Saúde, Universidade Federal care by specialties. Some studies described specific to para atendimento por especialidades. Alguns
de Ciências da Saúde de actions of professionals such as physicians, pedia- estudos descreveram ações específicas de profis-
Porto Alegre (UFCSPA). tricians, and psychologists. Interventions of a local sionais médicos, pediatras e psicólogos. Também
R. Sarmento Leite 245,
Sala 207, Prédio 1, Centro character or in partnerships with universities were foram identificadas intervenções de caráter local
Histórico. 90050-170 Porto also identified. The analysis of this material indi- ou em parcerias com universidades. A análise do
Alegre RS Brasil. cated that PHC has been considered as an import- material demonstrou a identificação da AB como
georgius.esswein@gmail.com
2
Centro de Atenção ant field of action in CMH, but that nevertheless um importante campo de atuação em SMI, mas
Psicossocial II Novos requires greater investments, especially in profes- que, no entanto, requer maiores investimentos em
Tempos. Canoas RS Brasil. sional training and work organization. termos de formação profissional e organização do
3
Residência
Multiprofissional em Saúde Key words Mental health, Child, Primary Health trabalho.
Mental, Universidade Care, Review Palavras-chave Saúde mental, Criança, Atenção
Estadual de Campinas. Primária à Saúde, Revisão
Campinas SP Brasil.
4
Programa de Pós-
Graduação em Psicologia
e Saúde, Departamento de
Psicologia, UFCSPA. Porto
Alegre RS Brasil.
3766
Esswein GC et al.
Quadro 1. Descritores utilizados para as buscas dos artigos e número de registros encontrados.
Nº de registros encontrados
Descritores
LILACS SciELO
Atenção primária à saúde AND Saúde da criança AND Saúde mental 02 14
Primary health care AND Child health AND Mental health 02 66
Saúde mental AND Criança AND Atenção primária à saúde 30 14
Mental health AND Child AND Primary health care 26 66
Saúde mental AND Pré-escolar AND Atenção primária à saúde 03 01
Mental health AND Child, preschool AND Primary health care 02 02
Serviços de saúde mental AND Criança AND Atenção primária à saúde 12 05
Mental health service AND Child AND Primary Health Care 08 04
Total 85 172
Descritores Portal BVS
Atenção primária à saúde AND Saúde da criança AND Saúde mental 65
Saúde mental AND criança AND atenção primária à saúde 65
Saúde mental AND pré-escolar AND Atenção primária à saúde 12
Serviços de saúde mental AND criança AND atenção primária à saúde 37
Total 179
Descritores (não indexados) Portal BVS
Saúde mental infantil AND Atenção básica 27
Infância AND Atenção básica AND Saúde mental 12
Infância AND Atenção primária à saúde AND Saúde mental 18
Saúde mental infantil AND Atenção primária à saúde 28
Serviços de saúde mental AND Criança AND Atenção básica 33
Saúde da criança AND Saúde mental AND Atenção básica 58
Saúde mental AND Criança AND Atenção básica 58
Saúde mental AND Pré-escolar AND Atenção básica 13
Total 247
Fonte: Elaborado pelos autores.
Para a análise dos 13 artigos incluídos nessa as ações em SMI, bem como a caracterização da
revisão, foi criado um protocolo com indicado- população atendida. Já quanto ao enfoque meto-
res descritivos a partir de três eixos temáticos: 1) dológico, 10 artigos (77%) eram empíricos, dois
Caracterização das demandas em SMI para a AB; (15,5%) eram relatos de experiência e de caso, e
2) Ações e intervenções de SMI realizadas na AB; apenas um deles (7,5%) apresentou um cunho
e 3) Dificuldades e proposições para a implemen- teórico. A maioria dos estudos empíricos teve en-
tação das ações em SMI na AB. Esses eixos emer- foque qualitativo (n=5, 50%), seguido de quanti-
giram a partir da leitura integral dos 13 artigos. tativo (n=3, 30%) e misto (n=2, 20%).
O Quadro 3 apresenta detalhadamente as
características metodológicas dos artigos analisa-
Resultados dos. Dentre os estudos empíricos (n=10), iden-
tificaram-se como participantes: crianças (n=6,
No Quadro 2 estão detalhadas as informações 60%), pais ou familiares (n=6, 60%) e profissio-
sobre ano de publicação, objetivos e enfoque me- nais de saúde (n=6, 60%). Importante conside-
todológico dos artigos analisados. Percebe-se, a rar que 6 (60%) estudos acessaram mais de um
partir do ano de 2012, um aumento de publica- destes grupos (por exemplo, pais e profissionais,
ções sobre a temática, pois 70% (n=9) dos artigos pais e crianças). Dentre os estudos que incluíam
analisados foram publicados entre 2012 e 2017. as crianças atendidas pelos serviços de saúde,
Destacaram-se, como objetivos mais frequentes, identifica-se que em três (50%) deles os dados
a descrição e a avaliação de estratégias de cuida- eram provenientes de prontuários e, em cinco
do em SMI, a percepção dos profissionais sobre (83%), também de informações referidas ou ins-
3769
Exclusões
Total: 57 artigos
Total: 14 artigos
Leitura completa
6 artigos excluídos pela temática (não contemplar saúde mental exclusivamente da
infância: n=5; não contemplar somente a AB: n=1)
Figura 1. Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos com descritores indexados.
trumentos preenchidos por familiares. Dentre todos qualitativos, a análise temática (n=5, 50%),
a faixa etária das crianças, cinco estudos (83%) socio-histórica, (n=1, 10%), hermenêutica feno-
tiveram como alvo o período de 5 a 12 anos de menológica (n=1, 10%) e o ecomapa (n=1, 10%).
idade. Apenas dois estudos empíricos e um relato Dentre os métodos quantitativos, identificou-se
de experiência abrangeram crianças de faixa etá- análises estatísticas descritivas (n=5, 50%), com-
ria inferior. Ainda, um estudo empírico contou parativas (n=3, 30%), correlacionais (n=1, 10%)
com crianças de um a nove anos, divididas em e uso de regressão uni e multivariada (n=1, 10%).
dois grupos etários. O Quadro 3 apresenta a avaliação crítica
Quanto aos instrumentos empregados nos es- dos estudos que buscou identificar a adequada
tudos empíricos, verificou-se uma diversidade de descrição dos participantes e a adequação do
estratégias para a coleta de dados, incluindo en- método empregado em relação aos objetivos
trevistas (n=6, 60%), instrumentos padronizados propostos em cada estudo, além da validade das
para a identificação de sintomas (n=4, 40%) e a evidências19, sobretudo relacionadas aos resulta-
caracterização do contexto familiar (n=2, 20%), dos discutidos neste artigo. Os parâmetros utili-
questionários (n=3, 30%), consulta a dados de zados para análise dos níveis de evidência foram
prontuários (n=3, 30%), diário de campo (n=1, descritos em Souza et al.19, considerando: Nível
10%) e fotografias (n=1, 10%). Já no que se refere 1 (evidência resultantes de meta-análise), Nível
à análise de dados, foram utilizados, como mé- 2 (evidências resultantes de estudos de delinea-
3770
Esswein GC et al.
SMI realizadas no âmbito da AB. As ações mais outros descreveram intervenções realizadas por
frequentes referiram-se à identificação/diagnós- profissionais ou equipe de saúde em parceria
tico de problemas de SMI15,21,24-26 e ao encami- com outras instituições ou através de algum pro-
nhamento para serviços de especialidades21,23-25. grama de caráter local.
Alguns estudos fizeram referência ao trabalho Os estudos que abordaram o trabalho do
de alguns profissionais em específico, enquanto médico e do pediatra, em particular, indicaram
3772
Esswein GC et al.
como principais atividades aquelas relacionadas tretanto, notaram diferenças entre os casos que
à identificação e ao encaminhamento, além de não envolviam queixa escolar, pois nestes a in-
prescrição de medicação21,23,24. Tanaka e Laurid- tervenção mais adotada era a terapia individual.
sen-Ribeiro21 descreveram que a conduta mais Em apenas 1% dos casos que procuraram a UBS
frequentemente adotada pelos pediatras frente com queixa escolar foi realizada entrevista com
a problemas de SMI de uma UBS de São Paulo o professor. Para os autores, isto demonstra que
foi a orientação (23,6%) e o encaminhamento os profissionais interpretam estas queixas como
para serviço de saúde mental e Fonoaudiologia passíveis de tratamento clínico, desconsiderando
(15,3%). Os autores ainda destacaram que 29,2% uma complexa rede que envolve outras relações
(n=21) das crianças com hipótese diagnóstica de imbricadas nas dificuldades escolares.
problemas de saúde mental não apresentaram Por outro lado, um trabalho interdisciplinar
conduta médica registrada no prontuário. (Psicologia e Enfermagem) foi descrito por Ar-
Gomes et al.23, em investigação em UBSs e pini et al.27. Trata-se de um projeto de extensão
ESFs de Divinópolis, apresentaram a percepção realizado por alunos da UFSM junto ao Progra-
de médicos e pediatras sobre suas intervenções. ma da Criança na cidade de Santa Maria-RS. As
A atividade de orientação foi referida por esses ações incluíram atendimentos, que abarcavam o
profissionais. Sobre a administração da medica- trabalho da Enfermagem, através do acompanha-
ção, indicaram não haver diálogo com o especia- mento e orientações gerais sobre o cuidado com
lista, de forma que ou a criança já chegava medi- o bebê, e da Psicologia, voltado aos aspectos rela-
cada, ou tinha a sua receita apenas renovada nas cionais (relações pais-bebê). Os recursos técnicos
consultas. Os entrevistados não concordavam usados no trabalho da Psicologia foram observa-
com a forma como os encaminhamentos esta- ção orientada pelo IRDI (Indicadores Clínicos de
vam instituídos, com o desfecho quase sempre Risco para o Desenvolvimento Infantil); entre-
medicamentoso. No entanto, não propuseram vistas com familiares; orientações aos familiares
intervenções diferentes dessas. Da mesma forma, e encaminhamento, quando necessário, para ou-
relataram a não realização de atividades preven- tros profissionais ou serviços de saúde. Segundo
tivas ou de acompanhamento de desenvolvimen- as autoras, tal projeto representa uma estratégia
to, por considerarem uma responsabilidade dos de detecção precoce de riscos ao desenvolvimen-
profissionais da Enfermagem. to, e de prevenção e promoção em saúde.
Já Becker et al.22 descreveram uma interven- Já Tszenioski et al.26 descreveram interven-
ção realizada por alunos de Medicina, a partir ções realizadas por estudantes de Terapia Ocupa-
de uma experiência de estágio. O estudo de caso cional, a partir de um projeto de pesquisa-ação,
descreveu uma intervenção realizada em UBS articulado com uma unidade de AB de Recife. As
para o acolhimento de uma criança (5 anos) en- intervenções foram apresentadas como possibi-
caminhada pela escola, que verbalizava desejo de lidades de atuação desses profissionais em SMI,
morrer e agredir colegas. Devido a ineficácia da cujo trabalho é caracterizado pela descoberta de
intervenção proposta e aos efeitos colaterais da habilidades que estimulem a potencialidade das
medicação, o caso foi direcionado para a equipe crianças, a fim de promover maior independência
de estagiários. Esta reorganizou o plano de cuida- e autonomia. As atividades de estimulação eram
do a partir do conceito de Círculo de Segurança, realizadas através de intervenções apoiadas na im-
que estabelece suporte emocional e instruções portância do brincar, incluindo treino de habilida-
para pais e profissionais sobre a criação de um des psicossociais e cognitivas. A equipe de pesquisa
ambiente seguro para que a criança desenvolva também avaliou a rede de atenção e traçou metas
suas emoções. Desta forma, articularam-se inter- junto às famílias e equipes de saúde de diferentes
venções que contemplavam a família, a UBS e a serviços. Na avaliação dos autores, as intervenções
escola frequentada pela criança, uma estratégia propostas contribuíram para o fortalecimento da
positiva e alternativa à patologização e à medi- rede de cuidados, oportunizando maior articula-
calização. ção entre a equipe de AB e o serviço especializado,
Particularmente sobre o trabalho do psi- além do fortalecimento de vínculos entre algumas
cólogo, Braga e Morais20 descreveram como a das crianças atendidas e suas famílias e escolas.
conduta mais frequentemente adotada por este As ações apresentadas até então fazem refe-
profissional em UBS de São Paulo, em relação a rência a intervenções desenvolvidas por alguns
uma amostra de 104 prontuários de crianças, a profissionais em UBS e ESF ou em projetos em
orientação familiar (24,7%), seguida de terapia parceria com universidades. Todavia, Carvalho
grupal (20,5%) e terapia individual (15,3%). En- et al.5 descreveram, a partir de diferentes atores
3773
Outros artigos21,28 ainda fizeram menção es- atenção às queixas orgânicas em detrimento dos
pecífica aos casos de violência psicológica acolhi- aspectos psicológicos21,23,24,28, sendo estes, por ve-
dos na AB, devido à sua repercussão na SMI, e à zes, minimizados, tanto em relação a condições
necessária intervenção para interromper o ciclo clínicas15 quanto em relação a casos de violência
de maus tratos. Especificamente, Silveira et al.28 psicológica28.
apontaram que os diferentes profissionais da AB Especificamente sobre o pediatra, foram re-
de uma cidade do sul do Brasil priorizavam os feridas dificuldades no reconhecimento de pro-
sinais físicos de violência e subestimavam os si- blemas de SMI, de modo que esses profissionais
nais psicológicos. Os autores ainda identificaram percebem não ter o mesmo domínio para lidar
a ausência de uma ação específica para detectar com questões relacionadas à saúde mental em
violência psicológica contra crianças e dificul- comparação a outra especialidade21,24. Algumas
dades dos profissionais para intervir de maneira justificativas apontadas para a incapacidade de
eficaz. acolher a demanda de SMI relacionaram-se à
Como visto até então, diversos estudos iden- linguagem do campo da saúde mental, a carac-
tificaram o encaminhamento como parte impor- terísticas dos próprios profissionais e a falhas na
tante das ações em SMI a serem realizadas por formação21,24. Nesta direção, alguns estudos2,15,28
profissionais da AB. No entanto, Cavalcante et abordaram a importância da detecção precoce de
al.25 ressaltam que, ao acolher e fazer avaliação problemas de SMI e propuseram a implementa-
clínica para posterior encaminhamento, o pro- ção de protocolos sensíveis à infância para quali-
fissional da AB deve saber reconhecer qual a de- ficar esse processo.
manda que o serviço é capaz de atender e qual, No que tange aos profissionais da Psicologia,
de fato, deve ser encaminhada para atendimento foi salientado que estes muitas vezes têm dificul-
especializado. Por fim, ainda que não se trate de dades em buscar outras formas de intervir para
uma ação em SMI diretamente voltada à popula- além da psicoterapia individual, devido à forma-
ção assistida, Cavalcante et al.25 fizeram menção ção predominantemente clínica20. Nesse sentido,
ao apoio matricial como ferramenta importante reconhece-se que a formação e a capacitação dos
na retaguarda das atividades do profissional da profissionais ainda se constituem na contramão
AB. Trata-se de uma estratégia que, muitas vezes, das diretrizes da reforma psiquiátrica e de saúde
viabiliza que intervenções em SMI sejam realiza- mental, privilegiando as intervenções e a psico-
das no contexto da AB. patologia tradicional e fragilizando, por outro
Salienta-se, ainda, que diversas ações descri- lado, o atendimento integral25,28. De fato, a com-
tas nos estudos revisados foram desenvolvidas a preensão fragmentada de saúde e dos processos
partir de uma articulação com diferentes setores. subjacentes à patologização foi descrita em al-
Dentre elas, destacam-se a interlocução com as guns artigos como um entrave ao cuidado em
famílias5,20-23,27,26, rede de assistência à saúde e in- SMI na AB5,6,20,22,23,25.
fância21,23,25-28; e instituições escolares20,22,26. Como visto, diversos estudos apontaram a
necessidade de maiores investimentos na for-
Dificuldades e proposições para a mação dos profissionais, para a consolidação de
implementação das ações em SMI na AB práticas de SMI na AB2,5,6,20,21,24-26,28. Nesse senti-
do, alguns autores20,21,28 ressaltaram a necessidade
Por fim, diversos artigos (n=12 artigos) tam- de investimentos tanto na formação continuada
bém discutiram as dificuldades enfrentadas para quanto na revisão dos currículos de graduação.
a implementação efetiva das ações apresentadas, Entre as sugestões, identificou-se propostas de
assim como apresentaram proposições para sa- formação que incluam práticas de intervenção21 e
ná-las. Algumas dificuldades referidas relaciona- que possam quebrar a lógica dos especialismos e
vam-se aos profissionais, tais como despreparo do privilégio dos aspectos biológicos em relação
ou insegurança para lidar com a população in- aos de saúde mental6,28.
fantil que necessita de atenção em saúde men- Para além de aspectos individuais e forma-
tal2,5,15,20,21,23-25,28. Esta limitação foi referida algu- tivos, outras dificuldades para a implementação
mas vezes a partir de uma dificuldade pessoal, de ações de SMI na AB dizem respeito à organi-
relacionada a aspectos emocionais do profissio- zação e à articulação dos serviços5,21,25,26,28. Nessa
nal, ou a partir de uma dificuldade no reconheci- direção, foram elencadas dificuldades relacio-
mento das demandas passíveis de serem atendi- nadas ao encaminhamento, tais como demanda
das na AB ou que devam ser encaminhadas para excessiva, desconhecimento dos profissionais em
as especialidades24-26. Mencionam, ainda, a maior relação ao funcionamento da rede, bem como
3777
ações evidenciam incoerências entre as diretrizes da demanda em SMI na AB, o que é particular-
e como, de fato, estão organizadas as interven- mente importante, tendo em vista que identificar
ções da rede. A identificação destas contradições a real necessidade de atenção permite ações mais
converge com a literatura31,32, que mostra que assertivas, tanto a nível de intervenção, por parte
os profissionais da AB, por vezes, orientam suas dos profissionais, quanto a nível de gestão, atra-
ações a partir de um modelo tradicional e hie- vés da implementação ou atualização de serviços
rarquizado de assistência. Particularmente nesta atentos às especificidades da população. Por ou-
revisão, destacou-se a necessidade de investimen- tro lado, particularmente sobre a percepção dos
to na ampliação da formação dos profissionais, profissionais, torna-se interessante compreender
contribuindo tanto para a sua qualificação téc- como, de fato, as estratégias de cuidado estão
nica quanto em relação a como compreendem o sendo operacionalizadas, pois estes dados podem
cuidado em SMI. servir de subsídio para a implementação de ati-
Outros estudos de revisão bibliográfica que vidades de educação continuada que considerem
articularam saúde mental e AB também apon- o atual panorama dos serviços e profissionais da
taram algumas características dessa articulação AB, qualificando o atendimento à população.
identificadas neste trabalho, como as dificulda- A partir do exposto, espera-se que esta revisão
des dos profissionais, obstáculos no funciona- contribua para ampliar o conhecimento sobre o
mento dos serviços e ausência de formação na atual estado da arte das publicações científicas
área33-35. Nesse sentido, é possível perceber que brasileiras que abordam ações e intervenções so-
a implementação de estratégias de intervenção bre a SMI no contexto da AB e promova reflexões
em saúde mental ainda é um desafio para a AB e sobre a atuação dos profissionais. Este trabalho
para toda a rede. Especificamente sobre a infân- possui algumas limitações, sobretudo relaciona-
cia, a complexidade pode se tornar ainda maior, das à restrição do material analisado, tendo em
devido às especificidades desta população. Estes vista que não foram incluídos outros tipos de pu-
entraves indicam questões complexas, que ul- blicação científica que não artigos. Além disso, o
trapassam o contexto da AB, mas dizem respei- número escasso de publicações brasileiras sobre
to à estruturação dos serviços e sua articulação o tema denota a necessidade de maior divulga-
como um todo. Neste sentido, fica claro que as ção das ações de SMI realizadas no âmbito da
mudanças efetivas para modificar este panorama AB. Ainda, a identificação de apenas estudos com
necessitam envolver ações em diferentes níveis e níveis de evidência 4 e 5 sugere a necessidade da
constante reflexão, a partir da formação conti- realização de pesquisas a partir outros de outros
nuada, da educação permanente, da revisão dos delineamentos, especialmente quantitativos e ex-
currículos dos cursos da área da saúde, além do perimentais, para, por exemplo, qualificar a ava-
necessário acompanhamento de gestão e reestru- liação dessas intervenções19.
turação dos serviços, tendo em vista sobre como, Da mesma forma, recomenda-se a ampliação
de fato, eles vêm operando. dos estudos de caracterização dessa demanda na
Em relação aos aspectos metodológicos, sa- AB, para um melhor planejamento das ações e
lientam-se algumas considerações. Diversos es- intervenções dos profissionais. As dificuldades
tudos caracterizaram a amostra de crianças-alvo encontradas nas buscas dos artigos sugerem tam-
de cuidados em saúde mental tanto a partir de bém a necessidade de padronização na indexação
instrumentos padronizados2,15,21,24 quanto a par- de termos descritores sobre esta temática, tendo
tir de registros de prontuários, questionários ou em vista que se trata de um campo de estudo e
das percepções dos próprios profissionais20,23,26. atuação singular, necessário e de suma importân-
Ambas as estratégias permitem a identificação cia para a área da saúde.
3779
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