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ISSN: 1676-4285

Estrutura das unidades básicas de


saúde para atenção à criança: estudo
descritivo
Priscilla Shirley Siniak dos Anjos Modes1, Maria Aparecida Munhoz Gaíva1

1
Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO
Objetivo: avaliar, na perspectiva de médicos e enfermeiros, a estrutura das Unidades
Básicas de Saúde que assistem a criança menor de um ano no município de Cuiabá-MT.
Método: Estudo descritivo avaliativo do qual participaram 26 profissionais (12 médicos e
14 enfermeiros) que atuam na rede básica de saúde. Os dados foram coletados mediante
aplicação de questionário, no período de outubro a dezembro de 2010.
Resultados: A avaliação dos profissionais apontou para carências na estrutura física
das unidades, principalmente a ausência de locais para o desenvolvimento de atividades
educativas e acolhimento dos usuários, além da falta de materiais básicos para assistir
à criança.
Conclusão: Pode-se considerar que, o atendimento em geral é bom, mas há necessidade
de investimentos na estrutura física, capacitação dos profissionais, resolutividade e
contrarreferência.

Descritores: Avaliação em saúde; Atenção primária à saúde; Qualidade da assistência à saúde; criança.

Modes PSSA, Gaíva MAM. Structure of children’s basic health units: descriptive study. Online braz j nurs [Internet]. 2013 Sept
[cited year mouth day]; 12 (2): 471-81. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3624 471
INTRODUÇÃO oferecer, visando atender as reais necessidades
de saúde dessa população.
A Atenção Básica (AB) é caracterizada por A Agenda apresenta os princípios norte-
um conjunto de ações de saúde, tanto em âm- adores do cuidado na saúde da criança, com
bito individual quanto coletivo, abrangendo a vistas ao planejamento e desenvolvimento de
promoção e a proteção da saúde, prevenção de ações intersetoriais, acesso universal, acolhi-
agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e mento, responsabilização, assistência integral
manutenção da saúde, desenvolvida por meio e resolutiva. Visa ainda a equidade, atuação em
do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, equipe, desenvolvimento de ações coletivas
sob forma de trabalho em equipe e dirigida a com ênfase nas ações de promoção da saúde,
populações de territórios delimitados. Faz uso participação da família/controle social na gestão
de tecnologias de elevada complexidade e baixa local e avaliação permanente e sistematizada da
densidade, destinada a resolver os problemas assistência prestada(2).
de saúde de maior frequência e relevância em As propostas políticas atuais para atenção
seu território, e tem sido o contato preferencial à saúde da criança giram em torno da reorien-
dos usuários com os sistemas de saúde. É tação de um novo modelo de assistência para a
orientada pelos princípios da universalidade, AB e criação de uma rede de assistência pública
acessibilidade e da continuidade do cuidado, integral e humanizada. Entretanto, para que a
vínculo, integralidade, responsabilização, atenção oferecida seja de qualidade é essencial
humanização, equidade e participação social(1). que as unidades de saúde tenham estruturas
A Estratégia Saúde da Família (ESF) como adequadas, desde a área física, instalações,
eixo norteador para a organização da AB é equipamentos e materiais até recursos humanos
sustentada nos preceitos do Sistema Único de preparados e em número suficiente para assistir
Saúde (SUS), tem caráter substitutivo em relação à criança e à família em suas necessidades.
à rede de AB tradicional, atuando no território e Assim, para o alcance de bons resultados na
realizando cadastramento domiciliar, diagnósti- atenção à saúde, o MS propõe critérios e padrões
co situacional e ações dirigidas aos problemas de mínimos para programação e elaboração de
saúde de maneira pactuada com a comunidade projetos para reforma, ampliação e construção
onde atua. Busca o cuidado dos indivíduos e das unidades básicas de saúde e para o trabalho
das famílias, mantendo postura proativa frente das equipes, com vistas a fortalecer à AB e dar
aos problemas de saúde-doença da população continuidade à mudança do modelo de atenção
adjacente(1). à saúde no Brasil(3).
Para apoiar e organizar a assistência à A disponibilidade de estruturas adequadas
população infantil na rede básica e outros ní- nos serviços de saúde criam condições básicas
veis de atenção voltados à saúde da criança, o para que se alcance um bom desempenho nos
Ministério da Saúde (MS) propôs a Agenda de aspectos relacionados ao processo e aos resulta-
Compromissos para a Saúde Integral da Criança dos da assistência prestada aos usuários(4).
e Redução da Mortalidade Infantil(2) (Agenda), Portanto, faz-se necessário ampliar a in-
que define as principais diretrizes para as po- vestigação e a discussão sobre as condições da
líticas de atenção à criança. Ela traz também organização e estrutura das unidades básicas
as linhas de cuidados infantis que os serviços de saúde para atender às crianças menores de
e toda a rede de atenção no nível local devem um ano do município de Cuiabá-MT. Tendo em
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vista estas considerações, acredita-se que apesar meiro) e exclusão (estar afastado do trabalho
das mudanças e avanços no âmbito da saúde da por motivo de licença, férias ou outros tipos de
população em geral e infantil, desde a instituição afastamento). Esses profissionais foram esco-
do SUS e a implantação da ESF, a atenção de lhidos por serem os responsáveis pelo acompa-
qualidade à saúde da criança em nossa realidade nhamento do crescimento e desenvolvimento
ainda é um desafio para profissionais, gestores (CD) das crianças, por conseguinte são os que
e a comunidade. mantêm maior contato com a criança e com a
Deste modo, o presente estudo objetivou família nessas unidades.
avaliar, sob a perspectiva de médicos e enfermei- Os dados foram coletados por meio de
ros, a estrutura das Unidades Básicas de Saúde questionário estruturado, aplicado aos profissio-
(UBS) que assistem à criança menor de um ano nais, durante os meses de outubro a dezembro
no município de Cuiabá-MT. de 2010. Este instrumento contemplou questões
referentes à identificação do profissional (for-
mação e pós-graduação; vínculo empregatício
MÉTODO e; tempo de serviço na unidade), bem como
dados sobre a estrutura, o processo e o resul-
Trata-se de um estudo descritivo avaliativo, tado da assistência prestada à criança menor
realizado no município de Cuiabá-MT, que no de um ano de idade, baseado no referencial de
ano de 2009 contava com uma população de Donabedian(4). Para a sua construção, tomamos
550.562 mil habitantes, sendo que 8.340 eram por referência o Manual de Estrutura Física das
crianças menores de um ano, correspondendo a Unidades Básicas de Saúde: Saúde da Família(3) e
1,5% da população total da capital(5). A sua rede a Política Nacional de Atenção Básica(7) (PNAB), e
básica de saúde é composta, atualmente, por 85 as principais diretrizes para assistência à criança
unidades básicas, sendo 22 Centros de Saúde previstas na Agenda(2).
(UBS tradicionais) e 63 Unidades de Saúde da Dentre as várias abordagens de avaliação
Família (USF), das quais 60 estão localizadas na em saúde, optou-se, neste estudo, por utilizar
zona urbana e três são rurais; dez clínicas odon- o referencial Donabediano(4), por entender que
tológicas e uma unidade móvel para atender as é o que melhor se adapta a nossa realidade e
22 comunidades rurais. Atualmente, a ESF cobre abrange todos os segmentos que pretende-
48% da população cuiabana(6). mos avaliar (estrutura, processo e resultado).
A pesquisa foi realizada em UBS tradicionais Para este artigo, considerou-se a dimensão da
e USF que realizavam atendimento à criança estrutura, que abarca aspectos da área física,
menor de um ano de idade e que tinham no mí- instalações, recursos humanos e materiais para
nimo duas crianças cadastradas no momento da proporcionar a atenção em saúde.
seleção da amostra. Assim, foram investigadas Os dados foram armazenados em planilha
15 UBS, sendo 14 USF e uma UBS tradicional. eletrônica e analisados por meio dos recursos
Participaram do estudo 26 profissionais, de computação do Statistical Package for the
dos quais 14 enfermeiros e 12 médicos, no mí- Social Sciences (SPSS®). O tratamento dos dados
nimo um profissional de cada unidade de saúde foi realizado através de estatística descritiva.
que atendeu aos critérios de inclusão (prestar Para proceder à avaliação da dimensão da es-
atendimento/assistência à criança menor de um trutura, os dados obtidos foram comparados às
ano de idade na unidade; ser médico ou enfer- proposições do Manual de Estrutura Física das
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Unidades Básicas de Saúde: Saúde da Família(3), saúde pública ou saúde da família, 12 (46,2%)
Agenda(2) e PNAB(7), a fim de possibilitar uma fizeram especialização em outras áreas afins
análise da qualidade estrutural disponível para e dois (7,7%) não possuíam nenhum curso de
o atendimento à criança na realidade estudada, pós-graduação. Cabe ressaltar que nenhum
buscando evidenciar a presença de condições profissional realizou pós-graduação na área de
favoráveis ou não para assistência à criança na saúde da criança, conforme descrito na Tabela 1.
rede básica de saúde.
Após a autorização para a realização da Tabela 1 – Perfil dos profissionais que prestam
pesquisa pela Secretaria Municipal de Saúde de assistência à criança na Rede Básica de Saúde.
Cuiabá-MT, o projeto foi analisado e aprovado Cuiabá-MT, 2010 (n=26)
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Variável N %
Universitário Júlio Muller, protocolo nº 882/ Formação
CEP-HUJM/2010. Os profissionais participantes Médico 12 46,2
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Enfermeiro 14 53,8
Esclarecido após serem informados sobre os Pós-Graduação Latu Sensu
Saúde Pública/Estratégia Saúde
objetivos do estudo e a coleta de dados, sendo- 12 46,2
Família
-lhes assegurado o anonimato.
Outros 12 46,2
Nenhum 2 7,7
Natureza do vínculo
RESULTADOS Efetivo 13 50,0
Contratado 12 46,2
A qualidade de um serviço de saúde é influen- Outro 1 3,8
Jornada de trabalho
ciada por vários fatores, dentre eles a estrutura.
Integral (40 horas) 24 92,3
Boas condições estruturais têm maiores possibili-
30 horas 1 3,8
dades de contribuir para um processo adequado Outro 1 3,8
de assistência e em resultados favoráveis. Total 26 100,0
Fonte: elaboração dos autores
Caracterização dos profissionais
Espaço Físico

A Tabela 1 mostra as características socio-


Para 16 (61,5%) dos profissionais entrevis-
demográficas dos profissionais estudados. Dos
tados, suas unidades não dispõem de espaço
26 profissionais de saúde, sete (26,9%) eram
para acolhimento nem de sala para reuniões
do sexo masculino e 19 (73,1%) do feminino. A
(12/46,2%). Verificou-se ainda, em relação à
idade variou entre 24 e 69 anos, com média de
estrutura física, que todas as unidades dispõem
38,8 anos. Quanto à natureza do vínculo empre-
de consultórios médico e de enfermagem, sala
gatício, 13 (50,0%) profissionais eram efetivos,
de vacina, local para dispensar medicamentos
12 (46,2%) contratados e um (3,8%) possuía
e sanitários para os usuários. A maioria possui
outro tipo de vínculo. Em relação à jornada de
sala de recepção (96,2%), sala de curativos
trabalho, 24 (92,3%) trabalhavam em período
(92,3%), sanitários exclusivos para os funcioná-
integral (40 horas semanais).
rios (88,5%) e sala de procedimentos (73,1%),
Dos profissionais estudados, 12 (46,2%)
conforme apresentado na Tabela 2.
possuíam pós-graduação latu sensu na área de
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Tabela 2 – Distribuição da estrutura física Tabela 3 – Distribuição de equipamentos e
disponível nas unidades de saúde, segundo materiais básicos disponíveis nas unidades,
opinião dos profissionais. Cuiabá-MT, 2010 segundo opinião dos profissionais. Cuiabá-MT,
(n=26) 2010 (n=26)
Sim Não Sim Não
Variável Variável
N % N % n % n %
Sala de acolhimento 10 38,5 16 61,5 Ambú infantil - - 26 100,0
Sala de recepção ou local Pontos de oxigênio/Cilin-
25 96,2 1 3,8 1 3,8 25 96,2
de espera para pacientes dro de oxigênio
Sala de reuniões 14 53,8 12 46,2 Laringoscópio 5 19,2 21 80,8
Consultório de enferma- Lanterna 9 34,6 17 65,4
26 100 - -
gem Balança infantil 26 100,0 - -
Consultório médico 26 100 - - Fita métrica 26 100,0 - -
Sala de procedimentos 19 73,1 7 26,9 Esfigmomanômetro para
15 57,7 11 42,3
Sala para curativos 24 92,3 2 7,7 criança
Sala para armazenar e dis- Otoscópio 18 69,2 8 30,8
26 100 - -
pensar medicamentos Estetoscópio para criança 19 73,1 7 26,9
Sala exclusiva de vacinas 26 100 - - Termômetro 24 92,3 2 7,7
Sanitários exclusivos para Régua antropométrica 25 96,2 1 3,8
23 88,5 3 11.5 Geladeira para armazenar
funcionários 21 80,8 5 19,2
Sanitários para o público 26 100 - - medicamento
Pinças e tesouras 20 76,9 6 23,1
Fonte: elaboração dos autores
Negatoscópio 18 69,2 8 30,8
Recursos materiais e equipamentos Termômetro de geladeira
26 100,0 - -
de vacinas
Quanto à disponibilidade de equipamentos Oftalmoscópio 9 34,6 17 65,4
Geladeira exclusiva para
básicos para prestar assistência em uma unidade 25 96,2 1 3,8
vacina
de saúde, destaca-se que nenhuma unidade
Aparelho de aerossol ou
possuía ambú infantil, 25 (96,2%) profissionais 25 96,2 1 3,8
nebulizador
relataram que suas unidades não dispunham de
Fonte: elaboração dos autores
cilindro de oxigênio, 21 (80,8%) disseram não
possuir laringoscópio e 17 (65,4%) relataram Segundo os profissionais, todas as unida-
não haver lanterna, conforme apresentado na des dispõem dos insumos básicos necessários
Tabela 3. para prestar uma assistência de qualidade. No
Em relação à presença de materiais espe- entanto, somente 12 (46,2%) profissionais infor-
cíficos para assistência à criança nas unidades, maram que em suas unidades possuíam luvas
somente a balança e a fita métrica estavam estéreis e produtos para esterilização química de
disponíveis em todas as unidades. Por outro materiais e somente uma unidade não possuía
lado, 11 (42,3%) unidades não possuíam es- coletor de material perfurocortante.
figmomanômetro infantil; oito (30,8%) não De acordo com as informações dos profis-
tinham otoscópio; sete (26,9%) não possuíam sionais, a maioria dos antibióticos nas unidades
estetoscópio infantil; dois (7,7%) não dispunham é padronizada pelo MS. A nistatina e o sulfato
de termômetro e; um (3,8%) não tinha régua ferroso estavam disponíveis em todas as unida-
antropométrica, conforme a Tabela 3 apresenta. des. Por outro lado, a dipirona, o paracetamol e
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o soro de reidratação oral foram encontrados douro (24/92,3%), mas somente as unidades de
em 25 (96,2%) unidades. Medicações como o saúde de 14 (53,8%) profissionais apresentavam
permanganato de potássio e soro glicosado/ computadores funcionando e nenhuma unida-
fisiológico estavam presentes em 23 (88,5%) e de tinha acesso à internet. A impressora estava
21 (80,8%) unidades, respectivamente. presente em 17 (65,4%) unidades; 22 (84,6%)
Quanto às vacinas do calendário básico unidades tinham televisão e 11 (42,3%) aparelho
infantil, 25 (96,2%) profissionais informaram de DVD.
que suas unidades oferecem todas elas. Quanto O estudo não avaliou o quantitativo de re-
às vacinas em geral, 21 (80,8%) profissionais cursos humanos das unidades, já que objetivou
relataram que as unidades dispõem de vacina a análise somente da atenção à criança. Destaca-
antirrábica e 17 (65,4%) da H1N1. A vacina para -se que as USF do município são compostas por
varicela estava disponível em somente seis uma equipe mínima, conforme define o MS(7).
(23,1%) unidades. Todas as equipes do município estudadas
Quanto aos formulários de apoio para possuem um médico e um enfermeiro, dois a
assistência à criança, todos os profissionais três técnicos/auxiliares de enfermagem e uma
relataram que suas unidades tinham as fichas média de 12 Agentes Comunitários de Saúde
do Sistema de Informação de Agravos de No- (ACS) a depender de sua área de abrangência.
tificação (SINAN), formulário para referência Além disso, algumas unidades possuem o digita-
e contrarreferência e as fichas do Sistema de dor e todas têm um recepcionista e um guarda/
Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). segurança.
Já as fichas do Sistema de Informação da Por sua vez, as UBS tradicionais não pos-
Atenção Básica (SIAB) não estavam disponíveis suem uma equipe mínima, sendo que muitas
em um (3,8%) unidade; a ficha do Programa delas contam com dois enfermeiros, mais de
Nacional de Suplementação de Ferro em duas um médico para atender as principais espe-
(7,7%) e; o espelho de vacina da criança em cialidades, no mínimo três auxiliares/técnicos
cinco (19,2%). Apenas 17 (65,4%) profissionais de enfermagem, um dentista e um auxiliar de
informaram que as suas unidades possuíam os consultório odontológico. O ACS está presente
gráficos para registrar o crescimento utilizado somente nas unidades que desenvolvem o Pro-
como espelho no prontuário da criança. Se- grama de Agentes Comunitários de Saúde. Cabe
gundo relato de 17 (65,4%) entrevistados, suas ressaltar que a maioria dessas unidades conta
unidades não dispõem de Ficha de avaliação da com um gerente do serviço.
Atenção Integrada as Doenças Prevalentes na
Infância (AIDPI).
Em relação à utilização de protocolos clíni- DISCUSSÃO
cos para atendimento à criança, 23 profissionais
(88,5%) informaram fazer uso e três (11,5%) O perfil dos participantes do estudo é
realizam o atendimento sem usar nenhum tipo composto por profissionais maduros, com média
de protocolo. de idade de 38,8 anos, com especialização na
Quanto à disponibilidade de materiais/ área de saúde da família/saúde pública, o que
equipamentos de apoio para o desenvolvimento demonstra preparo para atuar na AB. Há um
das atividades gerais na unidade, todos possuí- predomínio de profissionais do sexo feminino,
am telefone fixo e a maioria dispunha de bebe- o que é compatível com a realidade da força de
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trabalho da área da saúde em nosso município, o Programa Saúde da Família em dois municí-
conforme evidencia os resultados do estudo pios de Minas Gerais, Brasil, apontou que um
realizado em dez grandes centros urbanos do dos pontos negativos encontrados nesta nova
estado de Mato Grosso(8). proposta de reorganização da AB, segundo a
No setor da saúde, em muitos países, a opinião dos médicos, ainda é a falta de infraes-
ocupação da força de trabalho feminino tem trutura adequada(11).
ultrapassado 75%, o que torna as mulheres in- Em relação à sala de espera, que é um es-
dispensáveis à prestação dos serviços de saúde. paço destinado aos usuários do serviço e seus
Esse contingente é principalmente de pessoal acompanhantes, deve ser planejada de forma
da enfermagem(9). a proporcionar um ambiente confortável e
Para que exista uma prática assistencial agradável, com adequada luminosidade, tem-
com a qualidade esperada é essencial que os peratura, ruídos e posicionamento apropriados
serviços de saúde disponham de estruturas ade- dos assentos para facilitar a interação entre os
quadas abrangendo áreas físicas e instalações, indivíduos. Deve ser dimensionada conforme a
materiais, equipamentos, número adequado de demanda, para comportar, aproximadamente 15
profissionais com preparo específico e, que inte- pessoas por UBS, sem desconsiderar os critérios
rajam com o cliente e sua família, na perspectiva de humanização e bom fluxo interno(3).
da criação de vínculo construído pela afetividade A sala de recepção das unidades deveria ser
e respeito à autonomia dos usuários(10). um espaço destinado a informações, registros,
Pelas informações prestadas pelos médicos agendamentos e encaminhamentos, atentando-
e enfermeiros pôde-se verificar que, das 20 salas -se para realizar um acolhimento digno do
ou ambientes considerados indispensáveis pelo usuário. Sendo necessário balcão, ausência de
MS(3) para o funcionamento de uma UBS, somen- grades ou vidros separando o trabalhador e
te 05 estavam disponíveis em todas as unidades, usuário, cadeiras, prateleiras, quadro de avisos,
identificando precariedade na estrutura. Para os computadores e telefones(3).
participantes, as unidades de saúde possuem Embora a maioria das unidades estudadas
carência em alguns aspectos da estrutura, possuísse o ambiente de recepção, ele se en-
como ausência de espaço físico para realizar o contra em condições precárias, não havendo
acolhimento dos usuários e para recepção, sala ventilação adequada, com acomodações em
de reuniões tanto para uso da equipe como número insuficientes e o local não comporta
para atividades de educação em saúde para a o número de usuários, já que muitas UBS são
população e, de sanitários para os trabalhadores. conjugadas e outras estão funcionando em
As características básicas da estrutura prédios adaptados, além de faltar recursos de
são relativamente estáveis e funcionam para apoio como o uso de computadores.
produzir atenção e é um atributo do ambiente. Segundo as informações dos entrevistados,
Isto significa que a característica estrutural dos quase metade das unidades possuem sala de
lugares onde é oferecida a atenção em saúde reuniões, que é um espaço destinado às ativi-
tem uma propensão de influenciar sobre o pro- dades educativas em grupo, com objetivo de
cesso de atenção, diminuindo ou aumentando abordar temas relacionados à saúde da popula-
sua qualidade(4). ção em geral. As unidades devem dispor de um
Estudo que analisou a percepção dos pro- espaço com quadro negro e/ou branco, quadro
fissionais de saúde, gestores e usuários sobre mural, cadeiras em número compatível com a
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quantidade de participantes, mesa, televisão, quanto para os usuários que acessam esse ser-
vídeo, computador, retroprojetor, tela de pro- viço. Ela é marcada pelos componentes estéticos
jeção e outros equipamentos de mídia. No caso e pelos sensíveis apreendidos pelo olhar, olfato
de UBS compactas, a sala de espera principal e audição(3).
poderá ser equipada para fazer as funções de Os dados encontrados nesta pesquisa
sala de reuniões, depois do expediente(3). são compatíveis com estudo realizado em
Dados semelhantes foram encontrados em 37 municípios do Centro-Oeste paulista que
estudo que avaliou a estrutura de UBS tradicio- avaliou a qualidade da AB e mostrou que as
nais no município de Cuiabá-MT, o qual identi- instalações das unidades, em sua maioria,
ficou que apenas 28% das unidades estudadas não são apropriadas. O espaço físico não é
dispunham de sala para reuniões(12). adequado à demanda, as condições básicas
Estudo que avaliou o desempenho da de infraestrutura muitas vezes são precárias,
AB à saúde em 41 municípios na região Sul e a ventilação é inapropriada e as unidades não
Nordeste, identificou a existência de sala de possuem acesso à internet(15).
recepção em quase a totalidade das UBS (98%), Outro estudo que avaliou a estrutura e
embora em apenas 13% dos serviços ela tenha processo de 31 unidades de saúde da Secretaria
sido considerada adequada (iluminação, ruído e Municipal de Saúde e Bem-Estar de Pelotas-RS,
ventilação). O referido estudo foi realizado por identificou precariedade na estrutura e nos servi-
meio da caracterização de processo e resultado, ços, principalmente no que condiz à planta física,
na perspectiva de presidentes de Conselhos atingindo somente 38% do padrão estabelecido
Municipais de Saúde, Secretários Municipais pelo instrumento de avaliação utilizado(16).
de Saúde e Coordenadores de Atenção Básica, Neste estudo, todas as unidades analisa-
trabalhadores de saúde, usuários e indivíduos das dispunham de consultório de enfermagem
residentes na área de abrangência dos servi- conforme relato dos profissionais, entretanto,
ços(13). no estudo realizado em UBS tradicionais do
O intuito de existir uma sala de reuniões município de Cuiabá-MT, identificou-se que
ou de espera que cumpra a função de realizar apenas 44% apresentavam esse espaço. Essa
atividades educativas, é que elas são entendidas comparação não pode desconsiderar que se
como estratégias para fortalecer o SUS, e para trata de dois modelos assistenciais diferentes,
fornecer o acesso equânime, universal e iguali- com formas de trabalho diferenciadas, sendo
tário aos pacientes que utilizam os serviços de necessária uma análise mais aprofundada das
saúde. Também pode ser considerado como um diferenças encontradas(12).
modo de cuidado capaz de ajudar e qualificar os A avaliação dos profissionais mostrou ainda
indivíduos como para conhecer suas necessida- que alguns equipamentos e materiais básicos
des de saúde, identificar os problemas de suas para o atendimento à criança não estavam dis-
comunidades, estimulando a criação de atitudes poníveis em todas as unidades. Cabe observar
críticas e participativas que sinalizam a família que muitos dos materiais usados nas unidades
e proporcionem à comunidade o bem-estar(14). como o otoscópio, lanterna, oftalmoscópio,
A ambiência de uma unidade básica de esfigmomanômetro e laringoscópio, eram de
saúde reflete o espaço físico (arquitetônico), propriedade dos próprios profissionais.
que deve proporcionar uma atenção acolhedora Em relação aos equipamentos audiovisuais
e humana, tanto para profissionais de saúde, e de informática, foram encontrados resultados
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semelhantes em estudo realizado em UBS tradi- serviços cumprem critérios técnicos estabele-
cionais de Cuiabá-MT, em que, apenas 67% das cidos pelo MS, a carência de alguns materiais
unidades estudadas dispunham de televisão, pode prejudicar o cuidado e acompanhamento
28% de computador e 17% de impressora, do crescimento e desenvolvimento infantil.
sendo que nenhuma unidade possuía acesso à As condições de infraestrutura também
internet(12). podem influenciar na reorientação do modelo
Estudo que avaliou a estrutura destinada assistencial, já que uma das estratégias proposta
à consulta de enfermagem à criança na ESF do é assegurar a existência de espaço para o aco-
município de São Paulo evidenciou resultados lhimento, claramente ausente na maioria das
diferentes dos encontrados nesta pesquisa unidades estudadas.
quanto aos recursos materiais, uma vez que a
grande maioria das unidades avaliadas possuía
insumos para o atendimento à criança conforme CONCLUSÃO
as recomendações do MS(10).
A Política Nacional de Atenção Básica de- A pesquisa foi realizada por meio de ques-
fine que equipamentos e materiais adequados tionário aplicado aos médicos e enfermeiros
ao elenco de ações propostas precisam estar que assistiam à crianças menores de um ano em
disponíveis, de forma a garantir a resolutividade UBS e em USF de Cuiabá-MT. Uma limitação do
da AB(7). estudo foi o uso exclusivo do questionário para
Outro estudo que realizou um diagnóstico avaliar a estrutura dos serviços, que apesar de
situacional da ação de acompanhamento do possibilitar uma avaliação rápida e econômica,
crescimento em menores de um ano, realizado poderia ser mais aprofundado com a utilização
em 18 municípios da Região Metropolitana do de outras estratégias como a observação direta
Recife e interior do estado, que abrangeu unida- das unidades.
des de saúde da rede pública (postos, centros, A estrutura disponível para o atendimen-
casas de parto, unidades mistas, hospitais re- to à criança referente às instalações físicas nas
gionais, além das unidades do Programa Saúde unidades básicas de saúde não correspon-
da Família e do Programa de Saúde em Casa diam aos padrões mínimos adotados pelo
que atendiam crianças menores de cinco anos) MS, havendo uma deficiência considerável
revelou que 84,2% das unidades pesquisadas de determinados espaços necessários para
dispunham de balança para bebê funcionando tal atendimento. Na avaliação da estrutura
e, em 15,8% dos serviços, esse equipamento não das unidades estudadas vários aspectos ne-
funcionava ou não existia(17). cessitam de investimentos, dentre eles, um
Tomados em conjunto, os indicadores de espaço físico para a realização de atividades
estrutura mostram resultados semelhantes aos educativas e acolhimento aos usuários, funda-
encontrados em diversos estudos de avaliação mentais para o bom atendimento à criança e à
da ESF, em particular a carência de área física, família, além de adequações do espaço físico
também observada nesta pesquisa. Especifi- de acordo com as normas do MS.
camente, no que se refere às condições para Quanto aos materiais e equipamentos
atenção à criança, apesar das unidades ofere- específicos para atender à criança, há carências
cerem as condições mínimas para a realização expressivas de muitos deles, o que pode pre-
de ações básicas como a imunização, pois os judicar o trabalho dos profissionais em busca
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mais aprofundada da estrutura das unidades atenção básica, estabelecendo a revisão de
básicas que assistem à criança menor de um diretrizes e normas para a organização da aten-
ano em Cuiabá-MT, evidenciando que apesar ção básica para o programa saúde da família
dos avanços que vêm sendo alcançados no (PSF) e o programa agentes comunitários de
âmbito da atenção à saúde no município, ainda saúde (PACS). Diário Oficial da União 29 mar
se tem muito a investir para garantir às crianças 2006; Seção 1.
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