Unidade IV
Tendo em vista o trabalho desempenhado pelos ACS, eles foram promovidos a membros do
PSF pelo Ministério da Saúde. A partir desse momento, o foco da politica pública de saúde
brasileira deixou de se concentrar no indivíduo para focar suas intervenções na família, no
coletivo e nos aspectos biopsicossociais.
A ESF é parte da política nacional de atenção básica a saúde, se caracterizando por ser
organizativa e substitutiva ao sistema soberano médico curativista, centrado na rede hospitalar.
O programa conta com uma equipe de atuação clínica multidisciplinar que, através de uma
visão ampliada do que é saúde, procura melhorar a qualidade de vida da população atendida.
A família como um todo é atendida pela ESF, do bebê ao idoso, não havendo restrições de
idade e outras imposições. A ESF é um modelo que privilegia o ser humano e a comunidade
em vez do individual. Como forma de territorialização, a ESF permite a demarcação de um
espaço concreto de atuação da equipe de saúde, tendo o núcleo familiar como base para o
desenvolvimento da atuação, o que permite compreender melhor a dinâmica do núcleo familiar,
suas conexões e quais razões sociais contribuem para o desenvolvimento do processo de saúde
comunitária.
Quando um problema tem uma magnitude que impossibilita a ESF de resolvê-lo sozinha, a
equipe articula ações intersetoriais para solucionar o problema. Se, no território, há um rio com
diversas casas sem saneamento básico, em que os moradores descartam lixo, é função da ESF
buscar ajuda com outras repartições, como a assistência social e as secretarias municipais de
habitação e meio ambiente, sem deixar de exercer sua responsabilidade de educar os moradores
quanto ao descarte correto do lixo e o perigo do consumo de água contaminada sem o devido
tratamento.
A rotina de trabalho na ESF é bem complexa. Todos os dias são realizadas diversas atividades
para atender às necessidades comunitárias. A Unidade Básica de Saúde (UBS) que abriga a
ESF deve ter uma estrutura que permita consultas e demais procedimentos com privacidade, de
modo a não expor e constranger o paciente. Como exposto no livro Manual de saúde pública e
saúde coletiva no Brasil, escrito por Juan Rocha em 2012, algumas atividades da rotina na ESF
são:
● Reuniões entre a equipe e a comunidade para debater casos clínicos, resolver
pendências administrativas, discutir soluções para os problemas comunitários e
propiciar a educação permanente dos profissionais envolvidos;
● Para o tratamento de disfunções e doenças, consultas individuais ou compartilhadas,
isto é, com mais de um profissional ao mesmo tempo, como um médico e uma
enfermeira;
● Visitas domiciliares de ACS e demais profissionais para difundir ações de promoção,
reabilitação e recuperação da saúde, ações preventivas, como a inspeção de terrenos e
casas no combate à dengue;
A alteração do nome para ESF foi corroborada pela portaria número 649 do Ministério da
Saúde, de 28 de março de 2006, que enfatiza que cada equipe é composta, no mínimo, pelos
seguintes profissionais: médico, de preferência especialista em saúde da família, enfermeiros,
ACS, técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, incluindo, ainda, dentistas, auxiliares ou técnicos
em saúde bucal e agentes de combate a endemias.
O perfil da saúde no Brasil demonstra a existência de doenças crônicas que demandam a
atuação de equipes multiprofissionais de saúde. Assim como psicólogos, nutricionistas e
fonoaudiólogos, o fisioterapeuta não faz parte da ESF. Para complementar essa lacuna
profissional, o Ministério criou, em 2008, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Integralizando os cuidados à saúde da população, o NASF oferece uma assistência mais ampla
para tratar das questões clínicas, ambientais e sanitárias da região assistida. Nele, as equipes são
formadas por profissionais de diferentes formações, que compartilham conhecimento e
formulam uma discussão clínica interdisciplinar, visando melhores resultados no tratamento dos
pacientes.
Os gestores municipais são os responsáveis por definir a composição profissional do NASF,
tendo em consideração as carências regionais. São especialidades presentes no NASF:
● Médicos: acupunturista, homeopata, pediatra, psiquiatra, geriatra, clínico
geral, do trabalho, ginecologista e obstetra;
● Assistente social;
● Educador físico;
● Farmacêutico;
● Fisioterapeuta;
● Fonoaudiólogo;
● Nutricionista;
● Psicólogo;
● Terapeuta ocupacional;
● Médico veterinário,
A criação de programas preventivos que ajam nos grupos com risco a desenvolver doenças,
sobretudo as pertinentes à má alimentação, alcoolismo, sedentarismo e tabagismo;
A regionalização permite que a assistência prestada à população seja mais efetiva, visto que
quem está mais próximo de determinada realidade tende tende a vivenciar e compreender os
problemas nela enfrentados de forma mais fidedigna.
Estabelecer o território de trabalho é o primeiro passo na implantação da ESF, pois, sem a
definição da região de atuação da equipe de saúde, fica impossível montar um plano de ações,
colher informações para avaliar as carências comunitárias e indicar um perfil dos aspectos que
envolvem o processo de doença e saúde dos moradores.
Além de ser delimitado, o território representa o espaço em que uma população reside, desfruta
de momentos de lazer, trabalha, busca assistência à saúde e faz compras. Logo, o espaço está
em constante transformação, cabendo à equipe da ESF se atentar e se adaptar às mudanças que
refletem na vida da comunidade.
Cada região atendida pela equipe da ESF tem propriedades sociais e culturais únicas, ou seja,
um perfil epidemiológico e demográfico específico. Tais características são relacionadas às
condições de saúde de cada morador, influenciando positiva ou negativamente. Sempre que
uma nova Unidade Básica de Saúde (UBS) e ESF forem instituídas, é fundamental que a
comunidade seja chamada para participar das reuniões de demarcação do território, pois os
moradores possuem uma visão mais ampliada da região, pelo fato de conhecerem as barreiras
geográficas e os problemas sociais predominantes.
Todas as equipes de ESF têm o seu território de atuação, sendo responsáveis pelo
desenvolvimento de planos de contingência resolutivos. É claro à população que a UBS e a
ESF são as referências de saúde de cada território, sendo procuradas como primeiro acesso
antes de se procurar assistência em outros serviços, salvo exceções, como casos de urgência e
emergência.
As UBS que contam com a ESF, após terem estabelecido sua área de atuação, subdividem o
seu território conforme a quantidade de equipes. Tal divisão se dá conforme as diretrizes da
Politica Nacional de Atenção Básica (PNAB), que determinam que cada equipe seja
responsável por, no máximo, 4000 pessoas, o que equivale a cerca de 1000 famílias. O
território é dividido em:
● Microárea;
● Área;
● Segmento;
● Município.
As microáreas são constituídas por um grupo de famílias que reúnem de 450 a 750 pessoas,
formando a unidade operacional do ACS. Já a área é englobada pelo conjunto de microáreas
em que a equipe da ESF trabalha. Certos aspectos são fundamentais para a determinação das
áreas e microáreas da ESF:
● Cada área deve ter um número que limite a quantidade de pessoas abrangidas pela
equipe, a fim de que todos tenham as suas carências atendidas;
● O ACS deve residir na sua microárea de atuação por no mínimo dois anos;
● É função da área delimitar as comunidades, dando preferência às que são mais
organizadas e que sejam presentes no controle social das medidas de saúde em reuniões
e fóruns;
● Toda área deve ter uma UBS, base da ESF e espaço de assistência à comunidade;
● Para estabelecer os limites, são consideradas as barreiras físicas, vias de acesso e a
disponibilidade de transporte público até a UBS;
● A população deve ser a mais semelhante possível nos aspectos epidemiológicos, sociais
e econômicos, para possibilitar a identificação de áreas homogêneas de risco.
As áreas de risco são os locais dentro do território com situações mais propícias ao
desenvolvimento de doenças e à ocorrência de acidentes, como áreas sujeitas a enchentes, perto
de encostas, sem água tratada, com esgoto a céu aberto e com maior prevalência de crimes.
3.1 GENOGRAMA
O ecomapa foi criado por Ann Hartman em 1975 como um instrumento para as atividades de
assistentes sociais do serviço público dos EUA. Segundo Manuela Agostinho, na página 327
do artigo “Ecomapa”, publicado na edição de maio de 2007 da Revista Portuguesa de
Medicina Geral e Familiar:
O ecomapa é uma representação gráfica das ligações de uma família às pessoas e
estruturas sociais do meio em que habita, identificando os padrões organizacionais da
família e a natureza das suas relações com o meio, mostrando-nos o equilíbrio entre as
necessidades e os recursos da família.
Há três dimensões para cada ligação no ecomapa:
● Força da ligação, que pode ser fraca, tênue, incerta ou forte;
● Impacto da ligação, designado como sem impacto, requerendo esforço ou energia,
fornecendo apoio ou energia;
● Qualidade da ligação estressante ou não.
As linhas demonstram o tipo de conexão: linhas contínuas denotam ligações fortes; linhas
pontilhadas, ligações frágeis; com barras, fatores estressantes. Enquanto as setas mostram o
fluxo dos recursos. A falta de linhas exprime a ausência de uma conexão. Se uma família tem
poucas conexões, a equipe da ESF a auxilia a melhorar suas relações e bem-estar. As seguintes
áreas são incluídas no ecomapa:
● A vizinhança;
NICOLICH, M.; ROCHA M. Sistema Único de Saúde. São Paulo: Medyn, 2017.
ROCHA, J. S. Y. Manual de saúde pública e saúde coletiva no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2012.
SOLHA, R. K. T. Saúde coletiva para iniciantes: políticas e práticas profissionais. 2. ed. São
Paulo: Érica, 2014.