Você está na página 1de 23

SAÚDE PÚBLICA

Unidade IV

Saúde da família: uma estratégia de 


múltiplos objetivos  

Gabriela de Melo Kohns 


Objetivos
1.1 OBJETIVOS DA UNIDADE
● Compreender historicamente a criação do Programa Saúde da Família
(PSF);

● Entender como se deu a transição de PSF para Estratégia de Saúde da


Família (ESF);
● Identificar as atribuições da ESF;

● Compreender a importância da ferramenta da territorialização para o


planejamento, organização e estabelecimento de ações em saúde;
● Contextualizar as formas de organização do território através de
instrumentos gráficos.
Programa Saúde da Família
O Programa Saúde da Família (PSF), hoje denominado Estratégia Saúde da Família (ESF), foi
estabelecido no Brasil em 1994, no município de Sobral, no estado do Ceará. A implantação do
PSF foi um grande desafio aos gestores da saúde pública, já que, à época, era um programa
sem precedentes no país. Raphaela Solha, autora do livro Saúde coletiva para iniciantes:
políticas e práticas profissionais, publicado em 2014, afirma que as equipes à frente desse
processo basearam-se na experiência de países como Cuba e Canadá, onde já havia políticas
públicas similares ao PSF.
O PSF adotou características do Programa dos Agentes Comunitários de Saúde (PACS), um
programa de visitação domiciliar feito por enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde
(ACS). Os objetivos do PACS eram a erradicação da mortalidade infantil, a educação e
promoção da saúde, a redução da disseminação de doenças infectocontagiosas e a ampliação
do acesso à vacinação. Hoje em dia, o PACS é mantido em algumas cidades como estratégia
complementar de saúde, já que, com o passar do tempo, ficou nítida a ligação das ações dos
ACS com a otimização dos indicadores de saúde, sobretudo na faixa populacional mais
carente, como indicado por Taís Moreira no livro Saúde coletiva, de 2018.

Tendo em vista o trabalho desempenhado pelos ACS, eles foram promovidos a membros do
PSF pelo Ministério da Saúde. A partir desse momento, o foco da politica pública de saúde
brasileira deixou de se concentrar no indivíduo para focar suas intervenções na família, no
coletivo e nos aspectos biopsicossociais.

A ESF é parte da política nacional de atenção básica a saúde, se caracterizando por ser
organizativa e substitutiva ao sistema soberano médico curativista, centrado na rede hospitalar.
O programa conta com uma equipe de atuação clínica multidisciplinar que, através de uma
visão ampliada do que é saúde, procura melhorar a qualidade de vida da população atendida.

Conforme os artigos “Atributos essenciais da Atenção Primária e a Estratégia Saúde da


Família”, escrito por Maria Amélia Oliveira e Iara Pereira para a edição de setembro de 2013
da Revista brasileira de enfermagem, e “Estratégia Saúde da Família: Clínica e Crítica.”,
escrito por Luís Cláudio Motta e Rodrigo Siqueira-Batista para a edição de junho de 2015 da
Revista brasileira de educação médica, os seguintes princípios de atenção e cuidado à saúde
são designados pela ESF:
● A criação de vínculos e a corresponsabilização entre a população e a equipe
multidisciplinar de saúde;
● A prescrição do problema-alvo na atenção à saúde de cada família, compreendido com
base na análise do ambiente e do espaço geográfico em que cada indivíduo vive;
● O desenvolvimento de ações integrais de saúde para as famílias, o meio ambiente e
ambiente de trabalho do paciente;
● A responsabilização pela população assistida;
● A realização de intervenções que não se limitem aos muros das unidades de saúde.
A ESF é um programa do Sistema Único de Saúde (SUS). Logo, respeita seus princípios a fim
de assegurar universalidade no acesso, integralidade na assistência, equidade, resolubilidade
dos problemas, hierarquização com ênfase na atenção básica, regionalização e descentralização.

A família como um todo é atendida pela ESF, do bebê ao idoso, não havendo restrições de
idade e outras imposições. A ESF é um modelo que privilegia o ser humano e a comunidade
em vez do individual. Como forma de territorialização, a ESF permite a demarcação de um
espaço concreto de atuação da equipe de saúde, tendo o núcleo familiar como base para o
desenvolvimento da atuação, o que permite compreender melhor a dinâmica do núcleo familiar,
suas conexões e quais razões sociais contribuem para o desenvolvimento do processo de saúde
comunitária.

Por conhecer a realidade epidemiológica da região, fazer uso de ferramentas informatizadas e


repassar informações com uma linguagem de fácil entendimento à população, a ESF firma
pactos e metas com o objetivo de proporcionar uma maior qualidade de vida. Graças à garantia
de acesso, a ESF é considerada uma porta de entrada da atenção básica no sistema de saúde
pública, sendo capaz de acompanhar e assegurar acesso aos demais níveis de complexidade a
depender da demanda de cada caso, sem perder o vínculo
original e sua individualidade.

A população assistida por cada equipe de saúde da família é de


até 4000 pessoas. É importante ressaltar que há exceções,
cabendo aos gestores municipais, às equipes da atenção básica e
ao conselho municipal de saúde a definição de outro parâmetro
populacional por equipe, levando em conta as características, os
riscos e as vulnerabilidades da comunidade.
A ESF age por meio de projetos que visam à recuperação, manutenção e promoção da saúde,
prevenção de doenças e agravos, além da reabilitação. As equipes trabalham sobre um território
pré-determinado, cadastrando os moradores, para que se conheça a comunidade, bem como os
problemas de saúde que a aflige.
A saúde é muito mais que a ausência de doença e o estar saudável envolve o bem estar físico,
social, familiar e mental, sem contar o aspecto econômico, que influencia nas condições de
moradia, nos hábitos alimentares e no acesso à educação. Logo, a equipe da ESF não cuida da
saúde comunitária somente de dentro da UBS, precisando conhecer mais a fundo o território e
a realidade de cada família.

Quando um problema tem uma magnitude que impossibilita a ESF de resolvê-lo sozinha, a
equipe articula ações intersetoriais para solucionar o problema. Se, no território, há um rio com
diversas casas sem saneamento básico, em que os moradores descartam lixo, é função da ESF
buscar ajuda com outras repartições, como a assistência social e as secretarias municipais de
habitação e meio ambiente, sem deixar de exercer sua responsabilidade de educar os moradores
quanto ao descarte correto do lixo e o perigo do consumo de água contaminada sem o devido
tratamento.

A rotina de trabalho na ESF é bem complexa. Todos os dias são realizadas diversas atividades
para atender às necessidades comunitárias. A Unidade Básica de Saúde (UBS) que abriga a
ESF deve ter uma estrutura que permita consultas e demais procedimentos com privacidade, de
modo a não expor e constranger o paciente. Como exposto no livro Manual de saúde pública e
saúde coletiva no Brasil, escrito por Juan Rocha em 2012, algumas atividades da rotina na ESF
são:
● Reuniões entre a equipe e a comunidade para debater casos clínicos, resolver
pendências administrativas, discutir soluções para os problemas comunitários e
propiciar a educação permanente dos profissionais envolvidos;
● Para o tratamento de disfunções e doenças, consultas individuais ou compartilhadas,
isto é, com mais de um profissional ao mesmo tempo, como um médico e uma
enfermeira;
● Visitas domiciliares de ACS e demais profissionais para difundir ações de promoção,
reabilitação e recuperação da saúde, ações preventivas, como a inspeção de terrenos e
casas no combate à dengue;

● Ações educativas na comunidade pautando temas da realidade local, por meio de


palestras, encontros, consultas e reuniões.
2.1 TRANSIÇÃO DO PSF PARA A ESF
A denominação Programa Saúde da Família foi mantida de 1994 a 2006, quando se chegou à
conclusão que a palavra ''programa'' deveria ser alterada para ''estratégia''. O principal
argumento a favor da substituição para Estratégia Saúde da Família está no fato de que um
programa possui tempo pré-determinado, o que não acontece nessa situação, que se caracteriza
como uma assistência contínua e permanente à saúde da população.

A alteração do nome para ESF foi corroborada pela portaria número 649 do Ministério da
Saúde, de 28 de março de 2006, que enfatiza que cada equipe é composta, no mínimo, pelos
seguintes profissionais: médico, de preferência especialista em saúde da família, enfermeiros,
ACS, técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, incluindo, ainda, dentistas, auxiliares ou técnicos
em saúde bucal e agentes de combate a endemias.
O perfil da saúde no Brasil demonstra a existência de doenças crônicas que demandam a
atuação de equipes multiprofissionais de saúde. Assim como psicólogos, nutricionistas e
fonoaudiólogos, o fisioterapeuta não faz parte da ESF. Para complementar essa lacuna
profissional, o Ministério criou, em 2008, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Integralizando os cuidados à saúde da população, o NASF oferece uma assistência mais ampla
para tratar das questões clínicas, ambientais e sanitárias da região assistida. Nele, as equipes são
formadas por profissionais de diferentes formações, que compartilham conhecimento e
formulam uma discussão clínica interdisciplinar, visando melhores resultados no tratamento dos
pacientes.
Os gestores municipais são os responsáveis por definir a composição profissional do NASF,
tendo em consideração as carências regionais. São especialidades presentes no NASF:
● Médicos: acupunturista, homeopata, pediatra, psiquiatra, geriatra, clínico
geral, do trabalho, ginecologista e obstetra;

● Assistente social;
● Educador físico;

● Farmacêutico;

● Fisioterapeuta;

● Fonoaudiólogo;

● Nutricionista;
● Psicólogo;

● Terapeuta ocupacional;

● Médico veterinário,

● Profissional com formação em arte e educação;

● Profissional de saúde sanitária.


A continuidade do NASF está
ameaçada pois, em novembro de
2019, o Ministério da Saúde lançou
a portaria número 2979, revogando
a formação de novas equipes e
finalizando a transferências de
verbas federais ao mesmo. O fim do
NASF representa o fim do contato
dos profissionais da unidade básica
com uma equipe mais ampla de
diferentes áreas de conhecimento, o
que resulta em prejuízos à
população.
2.2 ATRIBUIÇÕES DAS EQUIPES
Dentro da ESF, com o propósito de organizar o sistema para que a assistência oferecida à saúde
seja mais efetiva, as equipes têm funções comuns a todos:
● A instalação do território de atividade e da população sob cuidado das
unidades básicas de saúde e das equipes de trabalho;

● O planejamento de medidas voltadas à atenção à saúde conforme os


problemas apresentados, o que engloba a criação de grupos educativos,
ações intersetoriais e encontros sociais;

A criação de programas preventivos que ajam nos grupos com risco a desenvolver doenças,
sobretudo as pertinentes à má alimentação, alcoolismo, sedentarismo e tabagismo;

Efetuação do primeiro atendimento de urgência e acolhimento com escuta qualificada,


analisando os riscos de cada circunstância;

Executar busca ativa, notificando doenças e agravos de notificação compulsória e de


importância para a região;

Elaboração de ações de promoção da saúde que otimizem a qualidade de vida e proporcionem


maior autonomia e independência à população;
● Amparo às ações de gestão local e encorajamento da participação popular, fomentando
a participação no conselho gestor do centro de saúde, para a discussão dos problemas
locais e da consequente solução dos mesmos;
● Constituição de práticas intersetoriais, objetivando uma assistência mais integral,
vinculando diferentes setores, como igrejas e associação de moradores, para agir sobre
os determinantes de saúde da região;
● Disponibilização de assistência à saúde, nas unidades básicas, na residência do paciente
e no território englobado pela ESF, com consultas, curativos, vacinas e avaliação dos
sinais vitais;
● Instituição de medidas de vigilância em saúde dentro da região assistida, de forma
compartilhada com os outros níveis de complexidade, como parte das atividades
rotineiras da unidade.
O estabelecimento de responsabilidades mútuas é fundamental, pois serve como guia para as
equipes de trabalho em todo o país, evitando que algumas atividades sejam efetivadas e outras
não, prejudicando a parcela da população que necessita de um serviço especifico. Outras
atribuições específicas à equipe constam de acordo com a legislação e as prioridades de cada
município e as prioridades nacionais pactuadas.
Território

A regionalização permite que a assistência prestada à população seja mais efetiva, visto que
quem está mais próximo de determinada realidade tende tende a vivenciar e compreender os
problemas nela enfrentados de forma mais fidedigna.
Estabelecer o território de trabalho é o primeiro passo na implantação da ESF, pois, sem a
definição da região de atuação da equipe de saúde, fica impossível montar um plano de ações,
colher informações para avaliar as carências comunitárias e indicar um perfil dos aspectos que
envolvem o processo de doença e saúde dos moradores.
Além de ser delimitado, o território representa o espaço em que uma população reside, desfruta
de momentos de lazer, trabalha, busca assistência à saúde e faz compras. Logo, o espaço está
em constante transformação, cabendo à equipe da ESF se atentar e se adaptar às mudanças que
refletem na vida da comunidade.
Cada região atendida pela equipe da ESF tem propriedades sociais e culturais únicas, ou seja,
um perfil epidemiológico e demográfico específico. Tais características são relacionadas às
condições de saúde de cada morador, influenciando positiva ou negativamente. Sempre que
uma nova Unidade Básica de Saúde (UBS) e ESF forem instituídas, é fundamental que a
comunidade seja chamada para participar das reuniões de demarcação do território, pois os
moradores possuem uma visão mais ampliada da região, pelo fato de conhecerem as barreiras
geográficas e os problemas sociais predominantes.
Todas as equipes de ESF têm o seu território de atuação, sendo responsáveis pelo
desenvolvimento de planos de contingência resolutivos. É claro à população que a UBS e a
ESF são as referências de saúde de cada território, sendo procuradas como primeiro acesso
antes de se procurar assistência em outros serviços, salvo exceções, como casos de urgência e
emergência.
As UBS que contam com a ESF, após terem estabelecido sua área de atuação, subdividem o
seu território conforme a quantidade de equipes. Tal divisão se dá conforme as diretrizes da
Politica Nacional de Atenção Básica (PNAB), que determinam que cada equipe seja
responsável por, no máximo, 4000 pessoas, o que equivale a cerca de 1000 famílias. O
território é dividido em:
● Microárea;

● Área;
● Segmento;

● Município.
As microáreas são constituídas por um grupo de famílias que reúnem de 450 a 750 pessoas,
formando a unidade operacional do ACS. Já a área é englobada pelo conjunto de microáreas
em que a equipe da ESF trabalha. Certos aspectos são fundamentais para a determinação das
áreas e microáreas da ESF:

● Cada área deve ter um número que limite a quantidade de pessoas abrangidas pela
equipe, a fim de que todos tenham as suas carências atendidas;
● O ACS deve residir na sua microárea de atuação por no mínimo dois anos;
● É função da área delimitar as comunidades, dando preferência às que são mais
organizadas e que sejam presentes no controle social das medidas de saúde em reuniões
e fóruns;
● Toda área deve ter uma UBS, base da ESF e espaço de assistência à comunidade;
● Para estabelecer os limites, são consideradas as barreiras físicas, vias de acesso e a
disponibilidade de transporte público até a UBS;
● A população deve ser a mais semelhante possível nos aspectos epidemiológicos, sociais
e econômicos, para possibilitar a identificação de áreas homogêneas de risco.

As áreas de risco são os locais dentro do território com situações mais propícias ao
desenvolvimento de doenças e à ocorrência de acidentes, como áreas sujeitas a enchentes, perto
de encostas, sem água tratada, com esgoto a céu aberto e com maior prevalência de crimes.
3.1 GENOGRAMA

Por meio do genograma, são representadas as interações familiares através da atribuição de


símbolos específicos. Para construir um genograma, a equipe da ESF levanta dados de pelo
menos três gerações da família analisada, incluindo nomes, idades, datas de acontecimentos
traumáticos, estado civil dos membros, profissões, quantidade de filhos, conflitos entre os
familiares, vícios, doenças, emoções de proximidade, entre outras informações que forem
julgadas relevantes. Fatores elencados por Débora Mello, uma das autoras do artigo
“Genograma e ecomapa: possibilidades de utilização na estratégia de saúde da família”,
presente na edição de abril de 2005 da Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento
humano.
A ilustração gráfica do perfil familiar faz com que a equipe e a família reflitam juntas sobre as
questões familiares abordadas. De acordo com Lucila Nascimento, Semíramis Rocha e Virgínia
Hayes, autoras do artigo “Contribuições do genograma e do ecomapa para o estudo de famílias
em enfermagem pediátrica”, publicado na edição de junho de 2005 da revista Texto e contexto
– Enfermagem, o genograma é composto por dois elementos essenciais:

● Elementos estruturais, responsáveis pela tradução de dados sobre a


composição familiar;
● Elementos funcionais, que demonstram como os vínculos familiares se
definem.
Os símbolos do genograma foram padronizados na década de 1980 pelo North American
Primary Care Research Group. O gênero masculino é representado por um quadrado e o
feminino, por um círculo. Os casais são ligados por uma linha horizontal. As mortes, doenças e
transtornos de cada membro familiar também são assinalados no próprio genograma. As mortes
são identificadas por um "x" dentro do símbolo, o ano do óbito fica acima do símbolo e, na
parte interior, a idade de falecimento. Nos Diagramas 2 e 3, são observados os símbolos
utilizados.
Segundo José Roberto Muniz e Evelyn Eisenstein, na página 75 do artigo “Genograma:
informações sobre família na (in)formação médica”, publicado na edição de março de 2009 da
Revista brasileira de educação médica:
O genograma permite registrar as informações sobre os membros da família e suas
relações transgeracionais, permitindo uma rápida visão gestáltica dos complexos
padrões familiares. Isto contribui para levantar hipóteses de como um problema clínico
pode estar correlacionado ao contexto psicossocial daquela família no decorrer do
tempo.
O genograma tem uma temática diferente das árvores genealógicas, pois, no caso da árvore,
apenas os graus de parentesco são assinalados, enquanto as informações comportamentais e as
doenças apresentadas não são incluídas.
No genograma, os quadrados e círculos representam as pessoas, e as linhas, as afinidades
existentes.
São quesitos fundamentais para a construção do genograma:

● Uso da simbologia padrão;


● A representação de, pelo menos, três gerações;
● Início com a representação do casal e dos filhos;
● Indicação do ciclo vital da família;
● Representação das ligações familiares;

● Indicação de fatores de estresse;


● Respeitar a cronologia de idades, que deve ir dos mais velhos para os mais novos.
3.2 ECOMAPA

O ecomapa foi criado por Ann Hartman em 1975 como um instrumento para as atividades de
assistentes sociais do serviço público dos EUA. Segundo Manuela Agostinho, na página 327
do artigo “Ecomapa”, publicado na edição de maio de 2007 da Revista Portuguesa de
Medicina Geral e Familiar:
O ecomapa é uma representação gráfica das ligações de uma família às pessoas e
estruturas sociais do meio em que habita, identificando os padrões organizacionais da
família e a natureza das suas relações com o meio, mostrando-nos o equilíbrio entre as
necessidades e os recursos da família.
Há três dimensões para cada ligação no ecomapa:
● Força da ligação, que pode ser fraca, tênue, incerta ou forte;
● Impacto da ligação, designado como sem impacto, requerendo esforço ou energia,
fornecendo apoio ou energia;
● Qualidade da ligação estressante ou não.
As linhas demonstram o tipo de conexão: linhas contínuas denotam ligações fortes; linhas
pontilhadas, ligações frágeis; com barras, fatores estressantes. Enquanto as setas mostram o
fluxo dos recursos. A falta de linhas exprime a ausência de uma conexão. Se uma família tem
poucas conexões, a equipe da ESF a auxilia a melhorar suas relações e bem-estar. As seguintes
áreas são incluídas no ecomapa:
● A vizinhança;

● Os serviços oferecidos no território;


● Grupos sociais como igreja, associação de moradores, grupo de ginástica, etc.;
● Educação;

● Vínculos pessoais significativos;


● Trabalho.
O ecomapa identifica a presença ou não de recursos sociais, econômicos e culturais
relacionados às condições de saúde comunitária, sendo um instrumento que dá uma visão
ampliada sobre a estrutura familiar e seu território, de modo a direcionar as condutas com base
nos problemas. A direção das setas expressa o fluxo de energia, observando se o membro
despende energia em algum aspecto da rede social, se ele se beneficia dela, ou se o fluxo
acontece nos dois sentidos.

Após finalizado o ecomapa, com o intuito de avaliar as vulnerabilidades, os aspectos


desfavoráveis e as competências, a equipe da ESF o analisa em conjunto com a família a fim de
levantar hipóteses sobre a origem dos problemas.
SINTETIZANDO 

Nesta unidade, aprendemos que a Estratégia Saúde da Família (ESF) é a nomenclatura


atualizada do antigo Programa Saúde da Família (PSF). Com o objetivo de aproximar a
população à assistência integral de saúde, a ESF é, em conjunto à UBS, a referência na
assistência à saúde, sendo a porta de entrada no SUS, isto é, qualquer pessoa que precise de
atendimento passa por uma ESF ou UBS antes de ser encaminhada para um hospital, a
depender da gravidade do problema.
Verificou-se que o território de atuação das equipes da ESF é uma área demarcada por limites
geográficos, que engloba uma comunidade. É responsabilidade da ESF conhecer o perfil
epidemiológico e demográfico da população assistida, para que, a partir dos dados, se
constituam ações preventivas e de promoção, proteção e recuperação da saúde, uma vez que,
como também foi visto, um problema geral de saúde pode ter um fator associado à localidade
como causa.
A utilização dos instrumentos gráficos de genograma e ecomapa ajudam a equipe da ESF a ter
uma visão ampliada sobre a relação entre a comunidade e seu território. Através desses
instrumentos visuais, é possível identificar os problemas conexos à condição de saúde familiar,
o que permite intervenções especificas e mais efetivas, graças à ingerência dos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS), aliada ao uso de genogramas e ecomapas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGOSTINHO, M. Ecomapa. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [s. l.], v. 23, n.
3, 2015, p. 196-297. Disponível em:
<http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10366>. Acesso em: 07 abr. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019. Diário Oficial


da União, Brasília, 13 nov. 2019. Disponível em:
<http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.979-de-12-de-novembro-de-2019-227652180
>. Acesso em: 07 abr. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 649, de 28 de março de 2006. Diário Oficial da


União, Brasília, 29 mar. 2006. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0649_28_03_2006.html>. Acesso em:
07 abr. 2020.

JUNKES, A. Saúde coletiva no Brasil. Rio de Janeiro: Prior, 2018.

MELLO, D. F. et al. Genograma e ecomapa: possibilidades de utilização na estratégia de saúde


da família. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano, São Paulo, v. 15, n. 1,
p. 78-91, abr. 2005. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822005000100009&lng
=pt&nrm=iso>. Acesso em: 07 abr. 2020.

MOREIRA, T. C. et al. Saúde coletiva. Porto Alegre: SAGAH, 2018.

MOTTA, L. C. S.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Estratégia Saúde da Família: Clínica e Crítica.


Revista brasileira de educação médica, Rio de Janeiro, v. 39, n. 2, p. 196-207, jun. 2015.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022015000200196&lng=en
&nrm=iso>. Acesso em: 07 abr. 2020.

MUNIZ, J. R. EISENSTEIN, E. Genograma: informações sobre família na (in)formação


médica. Revista brasileira de educação médica, Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, p. 72-79, mar. 2009.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022009000100010&lng=pt
&nrm=iso>. Acesso em: 07 abr. 2020.

NASCIMENTO, L. C.; ROCHA, S. M. M.; HAYES, V. E. Contribuições do genograma e do


ecomapa para o estudo de famílias em enfermagem pediátrica. Texto e contexto - Enfermagem,
Florianópolis, v. 14, n. 2, 2009, p. 72-79. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en
&nrm=iso>. Acesso em: 07 abr. 2020.

NICOLICH, M.; ROCHA M. Sistema Único de Saúde. São Paulo: Medyn, 2017.

OLIVEIRA, M. A. C.; PEREIRA, I. C. Atributos essenciais da Atenção Primária e a


Estratégia Saúde da Família. Revista brasileira de enfermagem, Brasília, v. 66, n. esp., 2013, p.
158-164. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000700020&lng=en
&nrm=iso>. Acesso em: 07 abr. 2020.

ROCHA, J. S. Y. Manual de saúde pública e saúde coletiva no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2012.

SOLHA, R. K. T. Saúde coletiva para iniciantes: políticas e práticas profissionais. 2. ed. São
Paulo: Érica, 2014.

WINTER, G. O bê-a-bá do Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: Prior, 2015.

WIKIMEDIA COMMONS. File:SUS apenas preenchimento.svg. Disponível em:


<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3611135>. Acesso em: 07 abr. 2020.

Você também pode gostar