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Processo de Trabalho em Saúde da Família
Processo de Trabalho em Saúde da Família
Autoria: Emiliana Maria Grando Gaiotto
Como citar este documento: GAIOTTO, Emiliana Maria Grando. Processo de Trabalho em Saúde da
Família. Valinhos, 2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família 05
Unidade 2: Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais 32
Unidade 3: O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família 59
Unidade 4: Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família 85
Unidade 5: Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência 113
Unidade 6: Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia 141
Unidade 7: Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família 176
Unidade 8: Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular 199

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Apresentação da Disciplina

Esta disciplina apresenta as demandas e que na melhoria da assistência à saúde e da


os desafios dos processos de trabalho em qualidade de vida da comunidade.
Saúde da Família. Como você já deve saber, Para melhor aprendizagem, convidamos
a Estratégia de Saúde da Família (ESF) é você a desenvolver seu lado crítico, para
uma política pública prioritária para a reor- que em cada assunto destacado você possa
ganização da Atenção Básica, seguindo os analisar sobre a prática que está realizando.
princípios e as diretrizes do Sistema Único Os conteúdos programáticos serão dividi-
de Saúde (SUS). dos em oito unidades, destacando concei-
O objetivo da disciplina é apresentar e dis- tos importantes para o desenvolvimento do
cutir questões específicas do processo de processo de trabalho na ESF.
trabalho na ESF com foco para a compreen- Aqui, você é convidado a refletir como a
são da gestão do serviço e de estratégias de equipe de saúde da família deve desenvol-
prevenção e promoção da saúde. ver suas habilidades para a mudança de vi-
Neste módulo você vai refletir sobre as prá- são do modelo assistencial, agora com en-
ticas das equipes de saúde da família no seu foque no trabalho em equipe. Você também
território de abrangência e como atuar para verificará a importância da vacinação no
que essa equipe possa desenvolver suas território de abrangência, vai perceber que
atividades de forma apropriada com enfo- no acolhimento é que desenvolvemos nossa
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habilidade da escuta qualificada e a capa- e como as equipes elaboram instrumentos
cidade de darmos uma resposta resolutiva de monitoramento; e por fim abordaremos
aos nossos usuários. o cuidado multidisciplinar de pacientes crô-
Esta disciplina também mostrará como nicos e o Plano Terapêutico Singular.
funcionam as estratégias de prevenção e Nesta disciplina você poderá analisar o seu
promoção da saúde desenvolvidas pelas aprendizado, resolvendo as questões de
equipes de Saúde da Família, e levará você a múltipla escolha, e terá indicação de leitu-
refletir como funcionam o modelo da aten- ras complementares para o aprofundamen-
ção domiciliar e o sistema de referência e to dos temas abordados.
contrarreferência. Espera-se que estes conteúdos façam uma
Já sobre o tratamento supervisionado da interface entre a teoria e a prática em seu
tuberculose, a saúde bucal e a assistência trabalho profissional e que possam con-
ao diabético e hipertenso, serão abordadas tribuir para a mudança de paradigmas dos
técnicas e estratégias de como a equipe re- processos de trabalhos, sempre destacando
aliza o monitoramento dessas prioridades. os princípios e as diretrizes do SUS e forta-
Também trabalharemos com a gestão de in- lecendo o vínculo entre profissionais e co-
dicadores na Estratégia de Saúde da Família. munidade.
Você conhecerá os sistemas de informações
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Unidade 1
Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família

Objetivo

1. Compreender os conceitos sobre a


importância do trabalho multiprofis-
sional de forma horizontal na equipe
de ESF.
2. Discutir como as equipes podem criar
estratégias para a execução das ações
de saúde no seu território de abran-
gência.

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Introdução

Atenção Básica à Saúde (ABS) é o conjun- fortalecer o vínculo entre usuário e profis-
to de ações de saúde no âmbito individual e sionais.
coletivo que abrange a promoção e a prote- A Política Nacional de Atenção Básica
ção da saúde, a prevenção de agravos, a vi- (PNAB) tem a Estratégia de Saúde da Famí-
gilância à saúde, o diagnóstico, o tratamen- lia como prioridade, pois por meio dela res-
to e a reabilitação. Compreende as Unida- gatamos o papel das UBS no levantamento
des Básicas de Saúde (UBS) como a principal das vulnerabilidades territoriais e suas ne-
porta de entrada do Sistema Único de Saú- cessidades, como também o acolhimento
de (SUS), o qual é o mais alto grau de des- com escuta qualificada e humanizada dos
centralização e de proximidade da vida da usuários do SUS (BRASIL, 2012).
comunidade. Também compreende o pro-
cesso de comunicação e acesso aos demais
serviços de saúde de maior complexidade
(SÃO PAULO, 2016).
A equipe de ESF, ao planejar as ações de
saúde, deve utilizar os princípios do SUS
(universalidade, integralidade, equidade
e participação social) como norteadores e
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no qual o indivíduo agora é visto como par-
Para saber mais te integrante de uma família e de uma co-
munidade. Outra diferença do modelo as-
As instituições de saúde da atenção básica po-
sistencial é o trabalho multiprofissional, em
dem ser chamadas de: Unidade Básica de Saúde
que cada profissional tem sua responsabi-
(UBS), Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF)
lidade específica, porém deve estar voltado
e Centro de Saúde (CS). Essas nomenclaturas
para um objetivo comum, que é o paciente.
substituem o antigo nome Posto de Saúde, ainda
utilizado pela população mais idosa. Segundo Vasconcelos (2002), por meio do
trabalho interdisciplinar, são discutidas e
planejadas as ações de saúde trazendo mu-
1.Trabalhando em Equipe na Es-
danças nos processos de trabalho de uma
tratégia de Saúde da Família forma horizontal, em que cada membro da
equipe apresenta o mesmo valor no cam-
A Estratégia de Saúde da Família tem o ob-
po do saber. Um exemplo muito frequente,
jetivo de mudança do modelo assistencial,
que você observa nas discussões de casos
em que o modelo tradicional focado no in-
dentro das equipes, é quando o usuário não
divíduo e na visão curativa vai sendo subs-
comenta dentro do consultório o que real-
tituído por um modelo focado na integrali-
mente está acontecendo na sua casa, porém
dade da assistência e na promoção à saúde,
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o Agente Comunitário de Saúde (ACS) traz 2. Composição da Equipe
essa informação que faz toda a diferença no
processo de intervenção no tratamento das A equipe de ESF é constituída por uma equi-
doenças. Sendo assim, um Agente Comu- pe mínima, com ou sem a equipe de saúde
nitário de Saúde tem a mesma importância bucal, a qual é responsável por um território
que um profissional de nível superior nas e por um número máximo de famílias (de-
discussões, pois o vínculo e o fato de mo- pendendo da vulnerabilidade social do lo-
rar no mesmo território que o usuário fazem cal). A equipe de apoio do Núcleo de Apoio
com que o momento da discussão seja mais de Saúde da Família (Nasf) é formada por
resolutivo e muito enriquecedor. profissionais da saúde, podendo ser uma
equipe de referência para uma equipe ou
para um conjunto de equipes, e seu princi-
pal objetivo é a realização do matriciamen-
to dos casos trazidos pelas equipes para se-
rem discutidos nas reuniões.

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Abaixo você encontrará a descrição dos Equipe de Saúde Bucal:
profissionais para cada tipo de equipe. É composta por um cirurgião-dentista (ge-
Equipe Mínima: neralista ou especialista em ESF), auxiliar
e/ou técnico em Saúde Bucal, podendo ser
É composta por um médico (generalista,
Modalidade I ou Modalidade II.
especialista em ESF ou comunidade), um
enfermeiro (generalista ou especialista em Equipe PACS (Programa de Agente Comu-
ESF), um auxiliar ou técnico de enfermagem nitário de Saúde)
e de quatro a seis agentes comunitários de É composta por um enfermeiro com super-
saúde (ACS). visão de no mínimo 4 ACS e de no máximo
Obs.: Todo profissional terá uma carga ho- 12 ACS.
rária de 40 horas/semanais, exceto os mé-
dicos que podem apresentar outras cargas
horárias conforme descrito na portaria.

9/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família


Equipe de Apoio
• Agente de controle de Endemias; Agente de Promoção Ambiental.
• Núcleo de Apoio de Saúde da Família (Nasf): Nutricionista, Terapeuta Ocupacional, Fi-
sioterapeuta, Assistente Social, Psicólogo, Veterinário, Educador Físico, Fonoaudiólogo,
médicos especialistas (Ginecologista, Pediatra, Dermatologista, Cardiologista etc.).

3. Territorialização e Mapa Vivo

Um dos processos de trabalho mais importante na Estratégia de Saúde da Família é a terri-


torialização. Todo esse processo deve ser realizado em equipe, se possível desde o início da
implantação da ESF no território.

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Figura 1. Exemplo de mapa de área de abrangência.

Fonte: <http://www.toledo.pr.gov.br/sites/default/files/saude_da_familia_europa_esf01.jpg>. Acesso em: 11 set. 2017.

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Para implantar essa política de saúde, de-
vemos observar no território, antes da de-
finição exata da área adscrita, as barreiras
geográficas e as áreas de maiores vulnera-
bilidades sociais, utilizando o princípio da
equidade, ou seja, devemos priorizar o lo-
cal com maior necessidade para implantar
a ESF. A participação da comunidade nesse
processo é indispensável, pois os moradores
têm o domínio do local onde vivem e podem
contribuir para diminuirmos as barreiras
que os técnicos possam a encontrar duran-
te o processo. A Política Nacional de Aten-
ção Básica (PNAB), atualizada pela Portaria
n. 2.436, de setembro de 2017, recomen-
da que cada equipe seja responsável 2000
a 3500 pessoas, garantindo os princípios e
diretrizes da Atenção Básica.

12/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família


3.1. Cadastramento das Famílias de saúde expressam a organização social e
e Diagnóstico de Saúde Local econômica do país. Todos esses fatores po-
dem contribuir para o desenvolvimento de
Após a definição da área de abrangência, doenças no território, por isso a importân-
esse território será a área de atuação da cia da valorização dos saberes da comuni-
equipe (máximo de 3.500 pessoas/área), dade sobre os indicadores e determinantes
que será subdivida em microáreas de acor- da saúde. Um exemplo da participação da
do com o número de ACS por equipe (máxi- comunidade é no combate do mosquito da
mo de 750pessoas por ACS). dengue, colaborando e fazendo mutirões de
limpeza em praças públicas e se organizan-
do para que o lixo não se acumule em local
Como descrito na lei 8080/90, a saúde tem inadequado. Cabe à equipe de saúde criar
como fatores determinantes e condicionan- esse vínculo com as lideranças comunitá-
tes, entre outros, a alimentação, a moradia, rias e incentivá-las a ajudar no processo de
o saneamento básico, o meio ambiente, o transformação do território.
trabalho, a renda, a educação da popula-
ção, o transporte, o lazer e o acesso a bens Após a territorialização, os ACS devem re-
e serviços essenciais; além disso, os níveis alizar o cadastramento das famílias e o ca-
dastramento individual de cada membro da
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família, realizando um mapa com todas as ralmente não chegam ao serviço de saúde
casas, terrenos, comércios, escolas e igre- espontaneamente. Esse é o nosso trabalho,
jas. Tudo deve estar mapeado. A partir do levar saúde a todos.
cadastramento, a equipe realiza o diagnós- Ressaltamos também que somente a coleta
tico dessa área, fazendo o levantamento de dados não é suficiente, ela deve ser re-
das famílias prioritárias. Esse diagnóstico gistrada no prontuário, inserida no sistema
é dinâmico e apresenta alterações cons- de informação e discutida em reunião de
tantes. Lembramos que os ACS devem atu- equipe para que esta possa realizar o diag-
alizar o cadastro mensalmente (visita em nóstico de saúde e planejar as atividades,
100% da sua área de abrangência), pois a priorizando as famílias de maior necessida-
equipe realiza novos diagnósticos, ocorrem de, segundo critérios de risco à saúde.
entrada e saída de pessoas nesse território.
O que a equipe deve supervisionar é se es- Um dos instrumentos que a equipe pode
tão visitando adequadamente todo o terri- utilizar é o mapa vivo ou biomapa, e nele de-
tório e não somente as famílias prioritárias, vem conter as características mais impor-
isso é muito importante para não ocorrer tantes definidas pela equipe e pela gestão
negligência de famílias. Muitas delas vivem do município, contendo as áreas e famílias
em alto grau de vulnerabilidade social e ge- de vulnerabilidade do território como tam-
bém as potencialidades. Esse instrumento
14/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família
permitirá o monitoramento de saúde do território e facilitará a apropriação de informações atu-
alizadas pela equipe.

Figura 2. Exemplo de Mapa vivo de um território com ESF

Fonte: <http://tvssudeste.blogspot.com.br/2013/11/territorio-e-o-processo-saude-doenca.html>. Acesso em: 4 set. 2017.


15/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família
4. Organização do Tra- O atendimento programado em conjunto
balho em Equipe com o atendimento da demanda espontâ-
nea pode dar resposta de 60% a 80% das
O trabalho das equipes na atenção básica
necessidades de saúde da população.
é complexo, por isso a ideia de que na UBS
o trabalho é “mais simples” é equivocada. O trabalho em equipe começa com a orga-
nização de como cada profissional desen-
volverá suas atividades durante a semana.
É importante que a agenda não seja enges-
sada, deve ter espaços para agendamento
próximo e para a demanda do dia. Os agen-
damentos que estão muito distantes de-
vem sempre ser analisados e a mudança do
processo de trabalho relacionada ao acesso
do paciente deve ser constantemente ava-
liada. A agenda deve ser dividida por perío-
dos semanais contendo atividade de grupo
educativo/treinamento da equipe, consul-
tas individuais, reuniões de equipe/matri-
16/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família
ciamento, visita domiciliar e acolhimento. em escolas, creches, asilos, abrigos etc. As
Cada município deve definir suas metas e equipes devem sempre trabalhar em parce-
diretrizes operacionais de ações de saúde, rias fortalecendo os vínculos com associa-
de acordo com as realidades locais. O prin- ções de bairro, Organizações Não Gover-
cipal desafio dos profissionais é criar estra- namentais (ONG) e igrejas e ampliar ainda
tégias para a execução das ações de saúde. mais o fazer saúde.
A equipe deve avaliar o processo de traba- Destacamos as atividades que as equipes
lho e readequá-lo quando necessário. devem planejar para que todo o território
A principal mudança no atendimento, que seja contemplado, são elas: atendimento
observamos das equipes de saúde da famí- clínico e cirúrgico ambulatorial básico na
lia, são as atividades extramuros que são atenção primária, imunização (busca ativa
realizadas dentro da comunidade, tanto no de faltosos), atenção domiciliar (visita do-
atendimento curativo de pacientes que não miciliar ou institucional), práticas integra-
chegavam ao sistema de saúde como na tivas e complementares (atividade física,
realização de ações de promoção de saúde danças), exames diagnósticos e/ou tera-
pêuticos, atividades educativas e terapêu-

17/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família


ticas (grupo de artesanato, grupo de acolhi- 5. Reunião de Equipe
mento de saúde mental), ações comunitá-
rias (meio ambiente, hortas comunitárias), A comunicação entre os profissionais de es-
atenção à saúde da criança e do adolescen- tratégia de saúde da família é uma prática
te, atenção à saúde dos adultos, atenção à que deve ser realizada diariamente. É impor-
saúde da mulher/gestante, atenção à saú- tante estabelecer um horário de reunião de
de do homem, atenção à saúde do idoso, equipe, de preferência um no qual todos os
atenção à saúde de pessoas com doenças profissionais possam participar das discus-
transmissíveis e não transmissíveis (doen- sões. O ideal é que as reuniões fossem rea-
tes crônicos), atenção à saúde bucal, aten- lizadas diariamente e não semanalmente, já
ção à saúde mental, álcool e outras drogas,
que muitos casos têm que ter uma atuação
atenção à saúde da pessoa com deficiência
imediata.
e educação em saúde sobre uso racional de
medicamentos. Nas reuniões de equipe é que são definidas
as ações de saúde que serão desenvolvi-
das, quais os grupos que serão realizados
nas próximas semanas, quais as estratégias
para que o paciente resistente ao tratamen-
to possa aderi-lo, as programações de visi-
18/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família
tas e consultas domiciliares. Também na reunião de equipe são realizadas as discussões de con-
flitos que ocorrem no próprio grupo, fortalecendo o vínculo entre os profissionais de saúde.
A discussão das visitas domiciliares realizadas no dia anterior e o monitoramento das priorida-
des por meio de planilhas desenvolvidas pela equipe são pontos fundamentais para que a equi-
pe esteja apropriada do seu território.
O momento da reunião de equipe também é um espaço para realizar a educação continuada,
proporcionando a atualização e ampliando a visão do processo de trabalho, gerando novos sa-
beres.

19/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família


Glossário
ABS: Atenção Básica de Saúde.
ACS: Agente Comunitário de Saúde.
ESF: Estratégia de Saúde da Família.
Nasf: Núcleo de Apoio de Saúde da Família.
SUS: Sistema Único de Saúde.

20/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família


?
Questão
para
reflexão

Nas discussões diárias, a equipe deve trabalhar cons-


tantemente a ética e discutir os casos em sigilo para
que a população não rompa o vínculo já estabelecido. É
muito constrangedor quando algo que foi discutido em
reunião de equipe é comentado na comunidade. O que
você faria nesse caso?

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Considerações Finais
• A importância do trabalho da equipe de Saúde da Família para a proposta de
mudança do modelo assistencial da Atenção Básica.
• A territorialização é um dos processos de trabalho mais importante na Es-
tratégia de Saúde da Família. Por meio da territorialização é possível identi-
ficar as famílias de maior vulnerabilidade social e discutir em equipe o pla-
nejamento das atividades necessárias para melhorar a qualidade de vida
dessa população.
• Cada membro da equipe é responsável pela sua área específica, porém deve
estar voltado para um objetivo comum, que é o paciente.
• Refletir sobre a complexidade do trabalho das equipes de Saúde da Família
e o planejamento das ações de saúde no território adscrito.

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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Altera o Anexo I da Portaria nº 2.488/GM/MS, de 21 de outubro


de 2011, para ampliar as possibilidades de composição das Equipes de Atenção Básica. Porta-
ria nº 958, de 10 de maio de 2016. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2016/prt0958_10_05_2016.html>. Acesso em: 4 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Memórias da saúde da família no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Série I. História
da Saúde no Brasil). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/memorias_sau-
de_familia_brasil.pdf>. Acesso em: 4 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Bási-


ca. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em:
<http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf>. Acesso em: 4 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde. S.l.: Ministério da
Saúde, 2012. Disponível em: <http://conitec.gov.br/images/Protocolos/Renases2012.pdf>. Aces-
so em: 4 set. 2017.
GOOGLE My Maps: crie e administre mapas personalizados no Google Drive. Qi Network, 3 jul.
2015. Disponível em: <https://www.qinetwork.com.br/google-my-maps-crie-e-administre-ma-
pas-personalizados-no-google-drive/>. Acesso em: 4 set. 2017.
23/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família
PESSÔA, Luisa Regina; SANTOS, Eduardo Henrique de Arruda; TORRES, Kellem Raquel Brandão
de Oliveira. Manual do Gerente: desafios da média gerência na saúde. Rio de Janeiro: ENSP-FIO-
CRUZ, 2011. p. 32-38.
SÃO PAULO. Diretrizes operacionais: fortalecendo a Atenção Básica no município de São Paulo.
São Paulo: Unidade Básica de Saúde, jan. 2016. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/
cidade/secretarias/upload/diretrizesoperacionaisatencaobasica.pdf>. Acesso em: 4 set. 2017.
SÃO PAULO. Reorganização do Processo de Trabalho: acolhimento à demanda espontânea. São
Paulo: Unidade Básica de Saúde: Atenção Básica: Secretaria Municipal de Saúde, 2015. Disponí-
vel em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Reorganiza_Proces-
so_Trabalho_At-Basica_V1_out-2015.pdf>. Acesso em: 4 set. 2017.
TELESSAÚDE. Qualifica APS: guia do gestor para credenciamento e implantação de equi-
pes na APS. Disponível em: <http://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/
11144123-guia-de-credenciamento-e-implantacao-de-equipes-na-aps-versao-final.pdf>. Aces-
so em: 3 set. 2017.
VASCONCELOS, Eduardo M. Os conceitos e os tipos de práticas interdisciplinares e interparadig-
máticas. In: VASCONCELOS, Eduardo M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar. Epistemolo-
gia e metodologia operativa. Petrópolis: Vozes, 2002. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.
br/prisma/Artigo%20Eduardo%20Mourao.pdf>. Acesso em: 4 set. 2017.
24/242 Unidade 1 • Trabalho em Equipe na Estratégia de Saúde da Família
Questão 1

1. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas abaixo:


População adscrita por equipe de Atenção Básica e de Saúde da Família é de
_____ a _____ pessoas, localizada dentro do seu território, garantindo os
princípios e diretrizes da Atenção Básica.

a) 500 a 1000.
b) 600 a 1000.
c) 750 a 1500.
d) 1 000 a 3000.
e) 2000 a 3500.

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Questão 2
2. É correto afirmar sobre o Núcleo de Apoio da Saúde da Família (Nasf)
que:

a) É parte integrante da equipe de Saúde da Família, realiza o matriciamento somente dos ca-
sos complexos e realiza consultas compartilhadas.
b) Somente podem atuar no Nasf os profissionais de saúde que não são médicos, pois realizam
o apoio para as equipes de Saúde da Família.
c) É uma equipe de apoio para matriciamento de todos os casos solicitados pela equipe de
Saúde da Família e realiza atendimento individual somente em casos específicos.
d) Não faz parte da equipe mínima, apenas realiza as discussões sobre os casos mais comple-
xos de saúde e não realiza atendimento individual.
e) É parte integrante da equipe e realiza atendimento de baixa complexidade.

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Questão 3
3. Podemos afirmar sobre a Estratégia de Saúde da Família que:

a) A ESF é uma estratégia de mudança do modelo assistencial da Atenção Básica, em que seu
principal foco é o atendimento de casos complexos.
b) A ESF é responsável pelo acompanhamento de um território adscrito e é uma estratégia de
mudança do modelo assistencial da Atenção Básica.
c) A ESF tem como diretriz uma abordagem terapêutica centrada na doença, visando o diag-
nóstico e o tratamento individual.
d) Na ESF, as equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um território sem definição
geográfica e a principal atividade é o atendimento da demanda espontânea.
e) A ESF tem seu foco principal o atendimento de crianças e gestantes.

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Questão 4
4. Conforme a frase a seguir, podemos afirmar que:

Na reunião de equipe, as discussões das visitas domiciliares realizadas no dia anterior e o moni-
toramento das prioridades por meio de planilhas desenvolvidas pela equipe são pontos funda-
mentais para que a equipe esteja apropriada do seu território.
a) As equipes devem discutir os resultados das visitas do dia anterior da equipe e o monitora-
mento das prioridades podem ser realizados através de planilhas..
b) Está incorreta pois a equipe não tem necessidade de realizar o monitoramento das priorida-
des.
c) Não é recomendado que a reunião de equipe seja diária para não atrapalhar o fluxo da UBS.
d) O monitoramento deve ser feito na visita de avaliação do Programa de Melhoria eAvaliação
da Qualidade.
e) A ESF não tem necessidade de um território defenido.

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Questão 5
5. Sobre a organização do trabalho na Estratégia de Saúde da Família, é
correto afirmar que:

a) A agenda não deve ser flexível, em que a equipe possa administrá-la utilizando o princípio
da equidade.
b) A equipe não deve realiza atividades de promoção á saúde fora da Unidade Básica.
c) A educação permanente não pode ser realizada no momento das discussões nas reuniões de
equipe.
d) A agenda deve ser flexível, em que a equipe possa administrá-la utilizando o princípio da
equidade.
e) Na organização do trabalho da ESF não há necessidade de utilizar os princípios do SUS.

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Gabarito
1. Resposta: E. 3. Resposta: B.
A população adscrita, por equipe de Aten- A ESF é uma estratégia de mudança do mo-
ção Básica e de Saúde da Família, é de 2000 delo assistencial da Atenção Básica, sendo
a 3500 pessoas, localizada dentro do seu uma política pública prioritária. Ela é res-
território, garantindo os princípios e diretri- ponsável pelo acompanhamento de um ter-
zes da Atenção Básica. ritório adscrito, não podendo ultrapassar
4.000 pessoas no território por equipe.
2. Resposta: C.
4. Resposta: A.
A principal atividade da equipe Nasf é o
matriciamento de todos os casos solicita- As equipes devem discutir os resultados das
dos para discussão pela equipe de Saúde da visitas do dia anterior da equipe e o monito-
Família e a prioridade deve ser para consul- ramento das prioridades podem ser realiza-
tas compartilhadas; a realização de atendi- dos através de planilhas.
mento individual é somente em casos espe-
cíficos.

30/242
Gabarito
5. Resposta: D.
Todas agenda dos profissionais de saúde
devem ser flexíveis, em que a equipe pos-
sa administrá-la utilizando o princípio da
equidade

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Unidade 2
Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais

Objetivo

1. Apresentar as vacinas distribuídas


pelo Sistema Único de Saúde.
2. Discutir como as equipes podem criar
estratégias para a busca ativa de fal-
tosos.

32/242
Introdução

Uma das medidas de promoção e preven- te, maior é a chance de as pessoas vacina-
ção à saúde utilizada pelo Sistema Único de das ou não permanecerem saudáveis, esse
Saúde (SUS) é a vacinação. Você já deve ter efeito é conhecido como efeito rebanho
ouvido falar sobre a frase “É melhor preve- (BRASIL, 2017).
nir do que remediar”, e é isso que as vacinas Um breve histórico sobre as vacinas no Bra-
fazem. Segundo a Organização Mundial da sil (BRASIL, 2006):
Saúde (OMS), em 2017, na Semana Mun-
dial da Imunização, as vacinas previnem • 1804: Realizada a primeira vacinação
26 doenças potencialmente fatais e evi- no país, contra a varíola.
taram pelo menos 10 milhões de mortes • 1832: Primeira legislação de obriga-
entre 2010 e 2015. E ainda ressaltou que as toriedade da vacina no Brasil.
vacinas representam uma das maiores his-
• 1889: Obrigatoriedade da vacina para
tórias de sucesso da medicina moderna.
crianças de até seis meses de idade.
Algo que talvez você não saiba: as vacinas
• Em 1904 ocorreu a primeira campa-
não protegem somente aqueles que rece-
nha obrigatória da vacina contra a
bem a vacina, mas também protege os de-
varíola. Ficou conhecida como revolta
mais do mesmo território. Se o microrganis-
da vacina.
mo não estiver circulando no meio ambien-
33/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais
• 1925: Introduzida a BCG no Brasil. • 1980: 1ª Campanha Nacional de Va-
• 1961: Realizadas as primeiras campa- cinação contra a poliomielite, com a
nhas com a vacina oral contra a polio- meta de vacinar todas as crianças me-
mielite. nores de 5 anos em um só dia.
O Brasil é referência mundial em vacinação
• 1972: Início do Programa de Vacina-
e o Sistema Único de Saúde garante à po-
ção Antissarampo.
pulação brasileira acesso gratuito a todas
• 1973: Certificação internacional as vacinas recomendadas pela Organiza-
da erradicação da varíola no Brasil. ção Mundial da Saúde. São 19 vacinas para
Formulado o Programa Nacional de proteger contra mais de 20 doenças e se faz
Imunizações (PNI), com o objetivo de um investimento de R$ 3,9 bilhões por ano
controlar ou erradicar doenças infec- (BRASIL, 2017). Outro detalhe importante
tocontagiosas e imunopreveníveis. que ocorre no Brasil é que mesmo nos luga-
• Em 1975 foi institucionalizado o PNI, res de difícil acesso, lembrando que o Brasil
a legislação específica sobre imuniza- é um país continental, as equipes chegam
ções e vigilância epidemiológica. até eles, podendo ser uma viagem de horas
por barco dentro das florestas brasileiras.

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1. Calendário Vacinal

A vacinação é um dos processos de trabalho das equipes de Atenção Básica. No território,


onde têm as equipes de Estratégia de Saúde da Família, o controle das vacinas é mais rigoroso,
pois um ACS bem treinado sabe informar para as equipes a situação vacinal da sua microárea.
Lembre-se, você deve realizar estratégia na equipe para que os dados epidemiológicos este-
jam sobre controle.
O SUS oferece vacinas para todas as faixas etárias (crianças, adolescentes, adultos, idosos e
gestantes) e para as pessoas em condições especiais (povos indígenas, pessoas com HIV, em
tratamento de câncer, com insuficiência renal e outras patologias que causam queda do siste-
ma imunológico).

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Tabela 1. – Calendário vacinal da criança

Idade Vacinas
Ao nascer BCG

Hepatite B
2 meses 1ª dose

Pentavalente

Poliomielite (VIP)

Pneumocócica 10

Rotavírus
3 meses 1ª dose da Meningocócica C

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Idade Vacinas Idade Vacinas
2ª dose DTP (tríplice bacteriana) – 1º re-
forço
Pentavalente
Poliomielite – 1º reforço (VOP)
4 meses Poliomielite (VIP)
15 meses
Hepatite A
Pneumocócica 10
Tríplice Viral (SCR) – 2ª dose
Rotavírus
5 meses 2ª dose da Meningocócica C Varicela
3ª dose DTP 2º reforço
6 meses Pentavalente 4 anos Poliomielite 2º reforço (VOP)
Poliomielite (VIP) Febre amarela reforço
9 meses Febre amarela 9 a 14 anos
HPV 2 doses (intervalo de 6 meses)
Pneumocócica 10 – reforço (meninas)
Meningocócica C (reforço ou dose
12 meses Meningocócica C – reforço 12 a 13 anos
única)
Tríplice Viral (SCR) – 1ª dose (meninos)

37/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


Idade Vacinas Lembrando: Cada estado tem seu calendá-
Hepatite B (3 doses a depender da rio vacinal, consulte no site da Secretaria Es-
situação vacinal) tadual da Saúde do seu estado .
Febre amarela (1 dose a cada 10
2. Vacinas Distribuídas pelo Sis-
anos)
tema Único de Saúde
Adolescen- Tríplice Viral (2 doses até os 29
tes, adultos e anos ou 1 dose em > 30 anos. Ida- Nesse tópico, você vai aprender quais as do-
idosos de máxima: 49 anos) enças que cada vacina do calendário vacinal
previne, a via de aplicação e o local. Isso fará
DT (Reforço a cada 10 anos)
parte do seu processo de trabalho, tenha
dTpa (para gestantes a partir da sempre uma tabela de vacina para te ajudar
20ª semana que perderam a opor- nas orientações.
tunidade de serem vacinadas)
Fonte: <http://portalsaude.saude.gov.br/index. 2.1 BCG – (Bacilo Calmette-
php/cidadao/principal/agencia-saude/21518-mi-
nisterio-da-saude-realiza-mudancas-no-calen- -Guérin)
dario-de-vacinacao>. Acesso em: 4 set. 2017.
A BCG é uma vacina que previne as formas
mais graves da tuberculose (miliar, menín-
38/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais
gea) e a hanseníase (os comunicantes in-
tradomiciliar de hanseníase devem rece-
ber uma segunda dose). A via de aplicação
é intradérmica no deltoide direito (BRASIL,
2014).

Para saber mais


A orientação pós-vacinal da BCG é muito impor-
tante. Em até 4 semanas, surge um nódulo no lo-
cal e evolui para uma pústula (ferida com pus).
Não se deve espremer. Em seguida, forma-se
uma úlcera (ferida aberta) e inicia-se a formação
de uma crosta, que somente deve ser limpa com
água e sabão. A formação da cicatriz deve ocorrer
em até 6 meses. Se a criança não apresentar a ci-
catriz vacinal, será revacinada com o mínimo de 6
meses após a primeira dose.

39/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


2.2. Hepatite B 2.4. VIP – vacina inativada Po-
liomielite
É indicada para proteção contra a infecção
do vírus da Hepatite B. A via de aplicação é É indicada para a proteção contra a polio-
a intramuscular (vasto lateral da coxa em mielite causada por vírus dos tipos 1, 2 e 3.
crianças até 2 anos e músculo deltoide em A via de aplicação é a intramuscular (vas-
adultos) (BRASIL, 2014). to lateral da coxa em crianças até 2 anos)
(BRASIL, 2014).
2.3. Pentavalente – DTP/Hib/
Hep B 2.5. VOP – vacina oral contra a
Pólio
É indicada para a proteção contra a difte-
ria, o tétano, a coqueluche, a hepatite B e É indicada para a proteção contra a polio-
as infecções causadas pelo Haemophilus in- mielite causada por vírus dos tipos 1 e 3.
fluenzae b. A via de aplicação é a intramus- A via de administração é a oral (2 gotas).
cular (vasto lateral da coxa em crianças até (BRASIL, 2014).
2 anos) (BRASIL, 2014).

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2.6. VORH – vacinal oral de Ro- causadas pelos 10 sorotipos de Streptococ-
tavírus Humano cus pneumoniae. A via de aplicação é a intra-
muscular (vasto lateral da coxa em crianças
É indicada para a prevenção de gastroente- até 2 anos) (BRASIL, 2014).
rites causadas por rotavírus dos sorotipos
G1 em crianças menores de 1 ano de idade. 2.8. Vacina contra a febre ama-
Embora seja monovalente, a vacina oferece rela
proteção cruzada contra outros sorotipos
de rotavírus que não sejam G1 (G2, G3, G4, É indicada para prevenir contra a febre
G9). A via é a oral e o volume a ser adminis- amarela. A vacinação é realizada em áreas
trado é de 1,5 ml. (BRASIL, 2014). endêmicas e para quem for viajar para esses
locais. A via de aplicação é a subcutânea na
2.7. Vacina Pneumocócica 10 parte posterior do braço (BRASIL, 2014).
valente.

É indicada para prevenir contra infecções


invasivas (sepse, meningite, pneumonia
e bacteremia) e otite média aguda (OMA)

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2.9. Tríplice viral – sarampo, ru-
béola e caxumba

Para saber mais É indicada para a proteção do sarampo, da


caxumba e da rubéola. A gestante não deve
A vacina da febre amarela não deve ser adminis-
ser vacinada para evitar a associação entre
trada simultaneamente com a vacina tríplice viral
a vacinação e possíveis complicações da
e/ou varicela. O intervalo mínimo é de 30 dias. Se
gestação, incluindo aborto espontâneo ou
as vacinas forem administradas com menos de 30
malformação congênita no recém-nascido
dias de diferença, pode ocorrer interferência na
por outras causas não associadas à vacina.
resposta imunológica. Em situações que impos-
A via de aplicação é a subcutânea na parte
sibilitem manter o intervalo indicado, pode-se
posterior do braço (BRASIL, 2014).
realizar a vacina desde que seja informado ao pa-
ciente e anotado em prontuário. Outra particula-
2.10. DTP (tríplice bacteriana) –
ridade da vacina é que ela deve ser administrada
10 dias antes da viagem.
difteria, tétano e coqueluche

É indicada para a proteção contra a difteria,


o tétano e a coqueluche. A via de aplicação

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é a intramuscular (vasto lateral da coxa em 2.13. Varicela
crianças até 2 anos e no deltoide em maio-
res de 2 anos) (BRASIL, 2014). É indicada para a prevenção de varicela (ca-
tapora). Somente será vacinada com a vari-
2.11. Vacina meningocócica cela a criança que tenha recebido uma dose
conjugada tipo C – meningite da vacina tríplice viral anterior. A vacina é
administrada por via subcutânea. (BRASIL,
É indicada para a prevenção da doença sis- 2014).
têmica causada pela Neisseria meningitidis
do sorogrupo C. A via de administração é ex- 2.14. Hepatite A
clusivamente intramuscular (BRASIL, 2014).
É indicada para a prevenção da infecção
2.12. Influenza causada pelo vírus da hepatite A. A via é
intramuscular, no vasto lateral da coxa em
É indicada para proteger contra o vírus da crianças menores de dois anos de idade, ou
influenza e contra as complicações da do- na região deltoide acima desta faixa etária
ença, principalmente as pneumonias bacte- (BRASIL, 2014).
rianas secundárias. Via intramuscular (BRA-
SIL, 2014).
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2.15. HPV – Papilomavírus hu- sétima (27ª) semana, preferencialmente,
mano até a trigésima sexta (36ª) semana de ges-
tação. Entretanto, se a gestante comparecer
É indicada para jovens do sexo feminino de à sala de vacina após esse período e ainda
9 a 14 anos e de 12 a 13 anos para jovens não tiver recebido a vacina, pode-se admi-
do sexo masculino, para a imunização ativa nistrá-la até o fim da gestação (SÃO PAULO,
contra os tipos de HPV 6, 11, 16 e 18, a fim 2016).
de prevenir contra câncer do colo do útero,
vulvar, vaginal e anal, lesões pré-cancerosas 2.17. DT (Dupla tipo adulto) – té-
ou displásicas, verrugas genitais e infecções tano e difteria
causadas pelo HPV. A via de administração é
a intramuscular. (BRASIL, 2017). É indicada para prevenir contra o tétano e
a difteria. A vacina dT é administrada após
2.16. dTpa (gestantes) – difteria, completar 7 anos de idade para os reforços
tétano e coqueluche ou usuários com as doses da vacina incom-
pletas ou não vacinados. Em todos os casos,
É indicada contra a difteria, o tétano e a co- após completar as doses estabelecidas, é
queluche em gestantes a partir da vigésima necessário administrar uma dose de reforço

44/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


a cada 10 anos. A via de aplicação é a intra- do constantemente em reunião de equipe.
muscular no deltoide. O acompanhamento das vacinas é uma das
atribuições dos ACS durante as visitas do-
miciliares ou nos grupos de atendimento.
3. Trabalhando com Vacinas na Os médicos, enfermeiros e dentistas sem-
Estratégia de Saúde da Família – pre avaliam as vacinas nas consultas. O téc-
Busca ativa de faltosos nico de enfermagem da sala de vacina deve
ter boa comunicação com as equipes para
As equipes de Estratégia de Saúde da famí-
informar os faltosos.
lia têm um papel fundamental no proces-
so de trabalho sobre a vacinação, desen- Qual estratégia deve ser realizada na busca
volvendo ações de promoção à saúde e de de faltosos? Toda a equipe deve estar mobi-
prevenção às doenças. A equipe verifica as lizada para essa tarefa, vamos demonstrar
carteirinhas de vacina e encaminha para a esse trabalho em equipe.
UBS para completar ou iniciar o esquema
vacinal.
O Agente Comunitário de Saúde (ACS) deve
ser treinado e o tema de vacina ser discuti-

45/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


1. O auxiliar/técnico de enfermagem carteiras atualizadas.
deve ter o controle dos registros de 4. Caso as ações anteriores não tenham
informação sobre as famílias que es- atingido o objetivo, a equipe de enfer-
tão em atraso vacinal. Fazer o levanta- magem realiza a vacina no domicílio.
mento diário e iniciar uma comunica- Isso só deve ser feito após todas as
ção com essa família (por telefone ou tentativas sem sucesso. Priorizamos
pelo ACS). os menores de um ano ou as famílias
2. Caso a família não compareça em que vivem em condições de vulnera-
no máximo três dias, faz-se o mes- bilidade, também realizamos vacina
mo procedimento. Nesse momento o nos acamados que têm dificuldades
técnico/auxiliar de enfermagem deve de ir até a UBS.
passar em reunião de equipe as famí- 5. Se todas as ações anteriores não de-
lias faltosas. rem resultados, faz-se uma discussão
3. Se ainda a família não comparecer, o em reunião com o Nasf e avalia-se a
técnico de enfermagem ou o enfer- necessidade de comunicar outras se-
meiro realiza uma visita no intuito de cretarias.
verificar as condições dessa família e 6. Também não se esqueça de informar a
orientar a importância de manter as vigilância epidemiológica sobre esses
46/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais
casos difíceis e registre todas as ações em prontuário.

4. Campanhas de Vacina

Você já deve ter ouvido falar sobre a varíola que foi erradicada no Brasil em 1971 e no mundo
em 1977. Só foi possível erradicar a varíola por meio das campanhas de vacina. Por isso é muito
importante que as equipes de saúde divulguem as campanhas vacinais no seu território para
conseguir que o maior número de pessoas seja vacinado.
As campanhas de vacina têm como objetivo o controle de uma doença e atualizar as carteiras
de vacina da população. As campanhas acontecem em um tempo determinado (geralmente na
mesma época em todos os anos) e têm uma meta de vacinação da população alvo. Exemplo: A
campanha de vacinação contra a poliomielite para menores de 5 anos tem uma meta de vaci-
nar 95% das crianças.
Lembrando que quanto maior for o número de pessoas vacinadas, mais o território estará pro-
tegido, mesmo para aqueles que não foram vacinados.

47/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


Glossário
BCG: Bacilo Calmette-Guérin.
DTP: difteria, tétano e coqueluche.
OMS: Organização Mundial da Saúde.
SCR: sarampo, caxumba e rubéola.

48/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


?
Questão
para
reflexão

O que a equipe de saúde deve fazer quando uma família


não quer realizar a vacinação na sua criança?
E você está com sua carteirinha de vacina atualizada?

49/242
Considerações Finais

• O Brasil é referência mundial em vacinação e o Sistema Único de Saúde ga-


rante à população brasileira acesso gratuito a todas as vacinas recomenda-
das pela Organização Mundial da Saúde.
• O profissional atuante na Atenção Básica tem papel fundamental na imu-
nização das comunidades por meio de seu processo de trabalho, como aco-
lhimento, busca ativa e grupos na comunidade.
• As campanhas nacionais de vacina são importantes, pois reduzem a morbi-
dade e mortalidade causadas por doenças imunopreveníveis, além da con-
tribuição para o processo de erradicação das doenças no país.

50/242
Referências

BRASIL. Capacitação de pessoal em sala de vacinação: manual do treinando. 2. ed. Brasília: Mi-
nistério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2001. 154 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. SIPNI – Sistema de Informações do Programa Nacional de Imuni-
zações. Datasus. Disponível em: <http://sipni.datasus.gov.br/si-pni-web/faces/apresentacaoSite.
jsf>. Acesso em: 4 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das


Doenças Transmissíveis. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. Brasília: Minis-
tério da Saúde, 2014. 176 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epi-
demiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília: Mi-
nistério da Saúde, 2006. 188 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde amplia vacinação em
todas as faixas etárias. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/
marco/03/Novo-calendario-vacinal-de-2017.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Centro Cultural da Saúde. Dois Séculos de Vacina no Brasil. Revista
da Vacina, S.l., s.d. Disponível em: <http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/ltempo.html>. Acesso
em: 4 set. 2017.
51/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais
DURANTE, Ana Luísa Teixeira da Costa; POZ, Mario Roberto Dal. Saúde global e responsabilidade
sanitária brasileira: o caso da erradicação da poliomielite. Saúde em Debate, v. 38, nº 100, Rio de
Janeiro, jan./mar. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0103-11042014000100129>. Acesso em: 4 set. 2017.

NASCIMENTO, Dilene Raimundo (Org.). Projeto a história da Poliomielite e de sua erradicação


no Brasil: Seminários. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2004. 184 p.
SÃO PAULO. Secretaria da Saúde. Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações.
Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vigilância Epidemiológica. Norma Técnica do
Programa de Imunização. São Paulo: SES-SP, 2016. 85 p.
TOSCANO, Cristiana. Cartilha de vacinas: para quem quer mesmo saber das coisas. Brasília: Or-
ganização Pan-Americana da Saúde, 2003. 40 p.

52/242 Unidade 2 • Calendário Vacinal e Campanhas Vacinais


Questão 1
1. Sobre a vacina da BCG, é correto afirmar:

I. Previne contra as formas mais graves da meningite.


II. Deve-se revacinar a criança somente após a comprovação da 1º dose em um intervalo maior
que 6 meses.
III. A via de aplicação é intradérmica na região do deltoide direito.
IV. É uma vacina que tem em sua composição a bactéria atenuada.
Responda se as afirmações são verdadeiras ou falsas na sequência apresentada:
a) V, V, V, F.
b) F, V, V, V.
c) F, F, V, V.
d) V, F, V, F.
e) F,F,F,F.

53/242
Questão 2
2. Sobre a vacinação no Brasil, é correto afirmar que:

a) O Brasil tem o calendário vacinal baseado nos países europeus e apresenta vacinas não re-
comendadas pela Organização Mundial da Saúde.
b) O Brasil não apresenta muito investimento em vacinas e muitas delas não são distribuídas
pelo Sistema Único de Saúde gratuitamente.
c) O Brasil é referência mundial em vacinas e todas elas são distribuídas gratuitamente no Sis-
tema Único de Saúde para toda a população.
d) No Brasil, nem todas as pessoas têm acesso à vacinação, principalmente aquelas que vivem
nas ribeirinhas e os povos indígenas.
e) No Brasil, houve a revolta da vacina, isso aconteceu porque a população reivindicava a vaci-
nação no país.

54/242
Questão 3
3. Sobre a busca ativa de faltosos, é correto afirmar que:

a) A busca de faltosos deve ser realizada somente pela equipe de vacinação na UBS.
b) A equipe de Saúde da Família não tem controle da vacinação da população no seu território.
c) O controle dos faltosos não faz parte do processo de trabalho das equipes de Saúde da Fa-
mília.
d) A busca ativa de faltosos é responsabilidade de todos os integrantes da equipe de Saúde da
Família.
e) Não é responsabilidade do Agente Comunitário de Saúde a busca ativa de vacina.

55/242
Questão 4
4. Nas Campanhas Nacionais de Imunização da Influenza, o principal objetivo é
o controle da gripe nos grupos prioritários Assinale a alternativa correta:

a) O Ministério da Saúde não estabelece uma meta de vacinação .


b) As UBS não precisam passar as informações no decorrer da campanha.
c) Os grupos prioritários para a Campanha da Influenza são:idosos, gestantes, pessoas porta-
doras de doenças crônicas e crianças menores de 5 anos.
d) A campanha da Influenza não possui grupo prioritário.
e) Os grupos prioritários para a Campanha da Influenza são:idosos, adolescentes e mulheres
em idade fértil.

56/242
Questão 5
5. Sobre a vacinação em menores de um ano, é correto afirmar que:

a) A BCG e a HIB devem ser aplicadas ao nascer.


b) Aos 2 meses, a criança recebe as vacinas pentavalente, rotavírus, pneumocócica 10 e VIP.
c) Aos 3 meses e aos 5 meses, a criança recebe a vacina da meningocócica C e rotavírus.
d) Aos 4 meses, a criança recebe as vacinas pentavalente, rotavírus, pneumocócica 10 e VOP.
e) Aos 9 meses a criança recebe a vacina da hepatite A e o reforço da febre amarela.

57/242
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: C.

Somente deve revacinar a criança após a Os grupos prioritários para a Camapnha


confirmação da primeira dose com um in- da Influenza são: os idosos, as gestantes,as
tervalo maior que 6 meses. pessoas portadoras de doenças crônicas e
as crianças menores de 5 anos
2. Resposta: C.
5. Resposta: B.
O Brasil é referência mundial, apesar de ser
um país continental, as equipes de saúde Aos 2 meses, a criança recebe as vacinas:
chegam até os locais de mais difícil acesso e pentavalente, rotavírus, pneumocócica 10
todas as vacinas são gratuitas. e VIP.

3. Resposta: D.

É de responsabilidade de todos da equipe a


busca ativa de faltosos.

58/242
Unidade 3
O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família

Objetivos

1. Apresentar a proposta da Política na-


cional de Humanização – PNH – Hu-
manizaSUS.
2. Discutir o acolhimento da equipe de
Saúde da Família na Atenção Básica.
3. Refletir sobre as necessidades de aco-
lhimento na gestão, de trabalhadores
da saúde e da comunidade.

59/242
Introdução

A proposta de mudança do modelo assis- unidades de saúde, favorecendo a cons-


tencial vem sendo realizada desde 1994 trução de vínculos e compromissos entre
com o início da Estratégia de Saúde da Fa- usuários e as equipes dos serviços de saú-
mília, em que o modelo tradicional focado de, contribuindo para a promoção da cultu-
nas ações curativas passa a realizar ações ra de solidariedade e para a legitimação do
mais preventivas, com visão mais ampla e sistema público de saúde (Brasil, 2010).
não fragmentada. O sistema de saúde público brasileiro tem
A política de humanização HumanizaSUS um orçamento previsto de R$110, 2 bilhões
vem também para agregar essa mudança para este ano (BRASIL, 2016). No setor fi-
de modelo assistencial, agora na gestão das nanceiro, os gestores devem administrar
práticas de saúde, reafirmando os princí- com qualidade e responsabilidade para que
pios do Sistema Único de Saúde (SUS) com não haja falta de materiais e insumos nas
atendimento de qualidade e com uma ges- instituições de saúde e fazer investimento
tão mais participativa entre os gestores de em locais de maior necessidade. A mudança
saúde, os trabalhadores da saúde e a comu- do modelo assistencial não é somente uma
nidade (BRASIL, 2006). questão de aspecto financeiro, mas sim com
O acolhimento é definido como postura e o comportamento das equipes de saúde di-
prática nas ações de atenção e gestão nas recionado aos usuários do SUS. Observa-
60/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
mos atendimentos desumanizados, isto é, É preciso restabelecer no sistema de saúde
em que o profissional de saúde não olha o os princípios do SUS relacionados ao acesso
paciente como indivíduo, uma pessoa com à saúde. No cotidiano dos serviços de saúde,
personalidade e necessidades particulares. muitos trabalhadores atribuem diretrizes
Um exemplo de atendimento desumaniza- próprias, o que ocasiona falha no proces-
do é quando um paciente com doença gra- so de trabalho estabelecido pela gestão lo-
ve fica esperando uma vaga com especialis- cal. Encontram-se situações na qual alguns
ta por meses sem uma classificação de risco profissionais da saúde se comportam como
definida. Esses fatos acontecem em razão se estivessem fazendo um favor para o usu-
de as equipes de saúde não entenderem ário, no entanto é um direito do paciente ter
o próprio sistema de saúde em que traba- seu problema resolvido no estabelecimento
lham. Lembramos que o SUS trabalha com de saúde.
o princípio da equidade e, portanto, quem
Existe a crença, por parte de alguns integran-
precisa mais deve ter atendimento prioritá-
tes da equipe, de que o usuário não deveria
rio. Um exemplo disso é que um usuário que
reclamar do atendimento do SUS, pois, além
tem uma suspeita de câncer não pode espe-
de ser um sistema público, os profissionais
rar o mesmo tempo numa fila do que as pes-
de saúde se esforçam ao máximo para re-
soas que vão realizar um exame de rotina.
solver o problema do paciente. Há casos de
61/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
usuários que se alteram na recepção quan- de saúde, encontramos uma agenda en-
do buscam um atendimento nos serviços gessada, na qual gestantes só podem ser
de saúde, no entanto, o acolhimento desses atendidas de quinta-feira, o hipertenso na
pacientes ainda deve ser mais intenso, pois segunda, não tem vaga para atendimento
somente acontecem esses conflitos quando imediato e nem vaga para pacientes que
o usuário não tem a resposta adequada (ou necessitam de uma avaliação mais próxima.
de maneira apropriada) para a solução do Geralmente a recepção fica designada a
seu problema. A criação do vínculo é mui- barrar o atendimento no estabelecimento
to importante para diminuir os conflitos. A de saúde. Esses profissionais recebem uma
organização dos processos de trabalho e do carga alta de estresse e muitos desenvolvem
agendamento é muito importante para au- doenças ocupacionais. A recepção nunca
mentar o acesso dos usuários ao sistema. deve dispensar o paciente que apresenta
Observamos também que muitos funcioná- sintomas, ela não tem preparo profissional
rios estabelecem normas e rotinas para be- para realizar esse tipo de procedimento,
nefício próprio, para facilitar o processo de devendo encaminhar o paciente para um
trabalho deles, e não é avaliada se a decisão técnico de saúde que fará uma classifica-
tomada é também favorável ao paciente. ção de risco. A recepção existe para pres-
Isso é muito comum nos estabelecimentos tar informações sobre o funcionamento da
62/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
UBS, discutir com a equipe técnica sobre os fissional para avaliar os problemas da comu-
casos dos pacientes que necessitam de um nidade, mais disponibilidade para reunião e
agendamento mais próximo (possibilidade para propor mudanças no processo de tra-
de encaixe quando necessário), dar orien- balho e maior vínculo com a comunidade.
tações diversas e acolher os usuários, ofer- Uma questão importante é que não pode-
tando os serviços de saúde do estabeleci- mos associar acolhimento com triagem, que
mento. é uma ação de inclusão que não se esgota
na etapa da recepção, mas que deve ocorrer
1. Acolhimento na Estratégia de em todos os locais e momentos do serviço
Saúde da Família de saúde (BRASIL, 2009). O usuário, ao che-
gar à instituição de saúde, é direcionado ao
O modelo assistencial de Atenção Básica
setor que necessita para resolver seu pro-
com Estratégia de Saúde da Família vem
blema ou sanar sua dúvida.
para diminuir esses problemas de falha no
atendimento, pois há uma equipe multipro- Na Estratégia de Saúde da Família, o mode-
lo de gestão não pode ser mais centralizado
e vertical, no qual o trabalhador não sinta
que faz parte do seu próprio processo de
trabalho. Todo o procedimento de trabalho
63/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
é construído de forma participativa e não garantir o acesso qualificado e caso neces-
somente como o gestor quer. As discussões sário ser referenciado aos demais níveis de
sobre o processo de trabalho do acolhimen- assistência. As instituições têm que ter defi-
to em uma UBS devem estar na pauta cons- nidos os protocolos clínicos para apresentar
tantemente. um serviço de qualidade, evitando proce-
O acolhimento não significa ter uma sala no dimento desnecessário. A classificação de
serviço de saúde, é um procedimento de es- risco se dará nos seguintes níveis, segundo
cuta qualificada que é para ser realizada de Brasil (2009):
modo universal e sem exclusões pelos pro- a) Vermelho: prioridade zero – emergên-
fissionais de saúde. É também um local para cia, necessidade de atendimento ime-
construção de vínculos e orientações de diato.
como a rede de saúde funciona (SÃO PAU- b) Amarelo: prioridade 1 – urgência,
LO, 2015). atendimento o mais rápido possível.
Uma das recomendações do Ministério da c) Verdes: prioridade 2 – prioridade não
Saúde é que o usuário que chega com sin- urgente.
tomas de doença nos serviços de saúde te- d) Azuis: prioridade 3 – consultas de bai-
nha um acolhimento com classificação de xa complexidade – atendimento de
risco. O objetivo da classificação de risco é
64/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
acordo com o horário de chegada. As equipes devem realizar constantemente
avaliações dos seus pacientes encaminha-
dos; uma planilha de controle deve estar
2. Acolhimento na Central de sempre nas reuniões de equipe para aná-
Regulação lise. Lembramos que os profissionais que
realizam encaminhamentos devem classifi-
A central de regulação ou central de vagas cá-los como de urgência ou de rotina, pois
é um setor que recebe todos os encaminha- geralmente quem faz a marcação dessas
mentos para outros serviços de saúde de consultas não tem capacidade técnica para
maior complexidade. Nesse setor o acolhi- realizar esse tipo de classificação.
mento e a organização do trabalho são fun- O monitoramento dos encaminhamentos
damentais para que não ocorram falhas no da central de regulação é importante que
sistema de saúde. É um serviço em que se seja realizado pela gestão local de saúde,
realiza o princípio da equidade, quem ne- pois por meio dele pode-se levantar as ne-
cessita de uma avaliação mais urgente tem cessidades de implantação de novos servi-
que ser atendido primeiro e não se confi- ços de saúde e/ou aditamento de contratos
gurar como critério as fichas por ordem de (contratação de novos especialistas para o
chegada. município ou compra de serviços) para di-
65/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
minuir as filas geradas pela falta de oferta A área da saúde não é a única responsável
dos serviços solicitados. pelo acolhimento das situações de violên-
cia, porém, dentro da saúde, é na atenção
3. Acolhimento em Situação de básica que as equipes de saúde têm mais
Violência oportunidade de elaborarem estratégias
de prevenção e promoção da saúde, assim
Uma das situações mais delicadas que o como trabalhar intersetorialmente.
trabalhador de saúde tem no seu dia a dia
É responsabilidade do profissional de saúde
de trabalho é o atendimento de usuários
estar atento aos sinais de alerta de violência
com suspeita de violência. Quando ocorre
confirmação ou mesmo a suspeita de que (vítima ou agressor). A criação de vínculo e a
um paciente está sofrendo violência, o pro- escuta qualificada são fundamentais nessas
fissional deve realizar a notificação e discu- questões, sendo que o profissional de saúde
tir urgentemente com os demais da equipe deve deixar os julgamentos pessoais para
para uma atitude imediata. prestar atendimento adequado. Um profis-
sional importante de investigação no terri-
tório é o Agente Comunitário de Saúde, que
geralmente sabe dos casos de violência que
ocorrem dentro da sua microárea.
66/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
Segundo Brasil (2004), os sinais de alertas
de violência que as equipes podem obser- Em muitos casos, a vítima não quer deixar o
var são: lesões físicas para as quais não se agressor, porém é importante que, se o usu-
apresenta explicação plausível, medo claro ário estiver sofrendo violência doméstica,
na presença do(a) parceiro(a) ou quando o ele possa reconhecer esse ciclo:
nome do(a) parceiro(a) é referido por ou-
trem, afastamento em relação aos amigos, 1. O agressor lhe ameaça, dizendo que
recusa ou desinteresse por atividades ante- será violento com você.
riormente apreciadas, piora no rendimento 2. Ele se torna fisicamente violento.
escolar, doenças sexualmente transmissí- 3. Ele pede desculpas.
veis, quando repentinamente deixa de ter 4. O ciclo se repete.
vida social, as ausências no trabalho tor-
nam-se mais frequentes, quedas frequen-
tes, recusa do cuidador em deixar o idoso
sozinho com outras pessoas etc.

67/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família


Figura 3. Representação do ciclo de violência

Fonte: <http://s2.glbimg.com/RTiFlZwLkm3aye2PRA1mLUdnBGM=/s.glbimg.com/jo/g1/f/ori-
ginal/2016/03/08/violencia_mulher-01.png>. Acesso em: 4 set. 2017.

68/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família


É importante esse ciclo ser discutido nos grupos e nas visitas domiciliares, pois o primeiro
passo para a quebra do ciclo é contar para alguém sobre a violência que está ocorrendo na
família e assim, juntamente com a equipe, elaborar um plano de ação. O trabalho interse-
torial é fundamental nesses casos, uma visita ou consulta compartilhada com o Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) e com o Centro de Referência Especializado de Assis-
tência Social (CREAS) faz com que se tenha um melhor resultado das ações.
As equipes devem receber treinamento para o atendimento desses casos e realizar grupos
de orientação na comunidade. As vítimas às vezes vivem em um alto grau de vulnerabilidade
social, em que pode ser assustador fazer denúncias porque o usuário pode ter medo de per-
der a vida. Mas essa é uma forma de evitar violência futura e se certificar de que seu agressor
encare a justiça nos casos necessários. Devido à complexidade do assunto, é aconselhável
montar uma comissão ou um grupo técnico nas Unidades Básicas de Saúde para ampliar a
discussão desse tema.

69/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família


4. Acolhimento em Saúde Men- muitas doenças do nosso território foram
tal na Atenção Básica desenvolvidas pela falta de uma interven-
ção apropriada. A saúde mental é complexa
O que chama a atenção, mesmo na Estra- e ainda necessitamos descobrir muito sobre
tégia de Saúde da Família, é o despreparo ela, que não se trata apenas de um trata-
das equipes em lidar com situações de saú- mento medicamentoso, mas que vai muito
de mental nas UBS. A demanda do cuidado além disso. Outra situação que aprendemos
em saúde mental na Atenção Básica é gran- na prática é que os casos de saúde mental
de e, em razão da facilidade de acesso das atingem toda a família, pois interfere na di-
equipes aos usuários, é frequente que os nâmica familiar.
profissionais de saúde se encontrem a todo
o momento com pacientes em situação de A equipe deve mapear os casos de saúde
sofrimento psíquico. mental que utilizam medicamento e aque-
les que estão no início. Isso pode ser feito
Na fase acadêmica, aprendemos muito bem também com ampla divulgação no territó-
a lidar com a dor física, porém falhamos em rio e nos grupos da UBS.
lidar com o sofrimento psíquico das pessoas.
Aprendemos na prática que a saúde men- O acolhimento com a equipe Nasf é funda-
mental para o desenvolvimento das ações
tal não está separada da saúde geral e que
de saúde mental no território. A responsa-
70/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
bilização compartilhada entre a equipe do 5. Acolhimento dos Trabalhado-
Nasf e as equipes de Saúde da Família busca res de Saúde
contribuir para a integralidade do cuidado
aos usuários do SUS, principalmente por in- O acolhimento dos trabalhadores da saú-
termédio da ampliação da clínica, auxilian- de também faz parte do nosso dia a dia.
do no aumento da capacidade de análise e Cada profissional é também uma pessoa e
de intervenção sobre problemas e necessi- os acontecimentos que ocorrem na comu-
dades de saúde, tanto em termos clínicos nidade onde ele trabalha podem afetá-lo.
quanto sanitários. É importante também
Situações de violência, problemas financei-
ter preceptoria com os especialistas de saú-
ros, problemas familiares e doenças podem
de mental, a equipe do Centro de Atenção
atingir qualquer pessoa, por isso é muito
Psicossocial (CAPS) e a do Centro de Aten-
importante observar as mudanças de com-
ção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAP-
S-AD) para que a atenção básica assuma os portamento de nossos colegas.
casos mais simples, os pacientes sejam es- Outra forma de acolhimento para os traba-
tabilizados e sejam encaminhados os casos lhadores do SUS é a gestão participativa e
mais complexos. não verticalizada, isto é, que permite o en-
volvimento regular e significativo dos tra-
balhadores na tomada de decisão. As mu-
71/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
danças nas políticas públicas são necessárias e a participação dos funcionários, sobre como
realizar essa mudança, é primordial. Para essa mudança, é essencial a educação permanente,
pois somente deixamos de fazer o mesmo quando adquirimos novos conceitos e novas pro-
postas de mudança.
As rodas de conversas são espaços essenciais para discussão dos processos de trabalho e
para ouvir as opiniões dos funcionários. É importante que essas discussões não virem so-
mente lamentações dos problemas diários, mas que sejam discutidas as atividades de suces-
so.
Outro espaço importante para discussão é a reunião geral, na qual todas as categorias po-
dem sugerir ou relatar fatos que contribuam para a melhora nos processos de trabalho.

72/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família


Glossário
CAPS: Centro de Atenção Psicossocial.
CAPS-AD: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas.
CRAS: Centro de Referência de Assistência Social.
CREAS: Centro de Referência Especializado de Assistência Social.
Nasf: Núcleo de Apoio de Saúde da Família.
PNH: Política Nacional de Humanização.
SUAS: Sistema Único de Assistência Social.

73/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família


?
Questão
para
reflexão

A senhora Elisa procura o seu Agente Comunitário na comuni-


dade (área de alta vulnerabilidade social), referindo dores ab-
dominais fortes devido a golpes que sofreu durante a noite de
seu marido que estava alcoolizado. Referiu também que isso
está acontecendo com frequência, porém não quer fazer de-
núncia, pois quando o marido não ingere bebida alcoólica ele
é um bom marido. A ACS a levou até a UBS para o acolhimento.
Como a equipe de Estratégia de Saúde da Família pode ajudar
nesse caso? Como se pode alterar esse ciclo de violência?
74/242
Considerações Finais (1/2)

• A Política de Humanização Nacional tem como proposta a mudança de mo-


delo assistencial, na gestão das práticas de saúde, reafirmando os princípios
do Sistema Único de Saúde.
• O acolhimento é uma política pública que vem reforçar a mudança do mo-
delo assistencial por meio da escuta qualificada e da classificação de risco.
• Todos os profissionais devem ter postura e atuação amistosas com os pa-
cientes e usuários do sistema de saúde, acolhendo-os em suas necessida-
des e conferindo-lhes as informações e os encaminhamentos pertinentes à
suas necessidades.
• A saúde mental não difere da saúde em geral e os pacientes com sofrimento
psíquico devem ser acolhidos na atenção básica e encaminhados, se neces-
sário, para instituições de saúde de maior nível de complexidade.

75/242
Considerações Finais (2/2)
• Os trabalhadores da saúde também precisam ser acolhidos nas suas neces-
sidades e a educação permanente é primordial para a mudança nos proces-
sos de trabalho.

76/242
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização


da Atenção e Gestão do SUS. Acolhimento e classificação de risco nos serviços de urgência.
Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Assistência Social. Disponível em: <http://mds.
gov.br/central-de-conteudo/assistencia-social>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Diretrizes do Nasf: Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Dis-
ponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_do_nasf_nucleo.pdf>. Aces-
so em: 6 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ficha de Notificação/Investiga-
ção Individual: violência doméstica, sexual e/ou outras violências interpessoais. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_notificacao_violencia_domestica.pdf>. Acesso em:
6 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional
de Humanização. HumanizaSUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 3. ed.
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. 52 p.

77/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família


BRASIL. CAPS – Centro de Atenção Psicossocial. Portal da Saúde, 7 maio 2014. Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/803-sas-raiz/da-
et-raiz/saude-mental/l2-saude-mental/12609-caps>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Palácio do Planalto. Presidência da República. Governo eleva orçamento de 2017 para
saúde e educação. Portal Planalto, 6 set. 2016. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/
acompanhe-planalto/noticias/2016/09/governo-eleva-orcamento-de-2017-para-saude-e-edu-
cacao>. Acesso em: 1 ago. 2017.

BRASIL. SUS de A a Z. Pense SUS. Disponível em: <https://pensesus.fiocruz.br/search/site/princi-


pios%20dos%20sus>. Acesso em: 6 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 176 p. (Cadernos de Atenção Básica; nº 34)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orien-
tações para a prática em serviço. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 96 p. (Série Cadernos de
Atenção Básica; nº 8) – (Série A. Normas e Manuais Técnicos; nº 131)
SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde. Unidade Básica de Saúde. Diretrizes Operacionais.
São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, 2015. Disponível em: <http://www.pucsp.br/prosaude/
downloads/bibliografia/Diretrizes%20operacionais_AB_2015.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2017.
78/242 Unidade 3 • O Acolhimento na Estratégia de Saúde da Família
Questão 1
1. Sobre o acolhimento na atenção básica é correto afirmar:

I. A recepção deve realizar o acolhimento e quando já ultrapassaram as consultas de deman-


da espontânea do dia ela pode dispensá-los.
II. Nas Unidades Básicas de Saúde, o acolhimento é garantido a todos os usuários. Para aque-
les que referem algum sintoma, o profissional de saúde deve realizar a classificação de risco
e a avaliação de vulnerabilidade.
III. O auxiliar/técnico de enfermagem, após a verificação dos sinais vitais e a constatação de
que estão normais, pode dispensar o paciente que está referindo uma dor aguda.
IV. Na Política de Humanização à Saúde, o acolhimento significa ter uma sala onde se realiza
a escuta qualificada.
As afirmativas são, respectivamente:
a) V,V,V,V.
b) F,F,V,V.
c) F,V,F,F.
d) V,V,F,F.
e) F,F,F,F.
79/242
Questão 2
2. A Política Nacional de Humanização instituiu critérios para a classificação
de risco com o objetivo de melhorar o acesso e diminuir o tempo de espera
do paciente no serviço de saúde. É correto afirmar que:

a) Todo o atendimento deve ser realizado de acordo com o horário de chegada.


b) A cor vermelha prioriza atendimento de emergência, o mais rápido possível.
c) A cor verde prioriza o atendimento de emergência, com necessidade de atendimento ime-
diato.
d) A cor amarela prioriza o atendimento de urgência, que deve ser o mais rápido possível.
e) A cor azul realiza o atendimento de consultas de baixa complexidade com atendimento de
prioridade não urgente.

80/242
Questão 3
3. Sobre o acolhimento em saúde mental, podemos afirmar que:

a) As equipes de saúde têm uma formação acadêmica adequada ao atendimento dos casos de
saúde mental.
b) O atendimento de saúde mental deve ser feito pelas equipes de atenção básica e encami-
nhado para níveis de maior complexidade quando necessário.
c) O atendimento de saúde mental deve ser realizado somente por especialista e não por pro-
fissionais de atenção básica.
d) Todo acolhimento de casos de saúde mental na UBS deve ser encaminhado para o CAPS de
referência garantindo o princípio da integralidade.
e) O atendimento de saúde mental não deve ser feito pelas equipes de atenção básica, os pa-
cientes devem se direcionar ao CAPS que operacionaliza com porta aberta (sem agenda-
mentos).

81/242
Questão 4
4. Sobre o acolhimento na Atenção Básica:

a) O acolhimento nas unidades com Estratégia de Saúde da Família somente será realizado
para a população adscrita do território.
b) Os usuários que não forem da área de abrangência serão encaminhados para sua respectiva
UBS.
c) Não é responsabilidade da Atenção Básica realizar acolhimento.
d) As UBS realizam o acolhimento sem distinção de território e somente após a avaliação e a
classificação de risco o usuário pode ser encaminhado para outros serviços de saúde.
e) Na Atenção Básica não é recomendado a classificação de risco, somente para Unidades de
Pronto Atendimento.

82/242
Questão 5
5. O profissional de saúde, ao atender um adolescente, tem a suspeita deste
estar sofrendo violência doméstica. São sinais de alerta para violência do-
méstica:

a) Bom rendimento escolar.


b) Doenças não transmissíveis.
c) Hematomas na pele, olhos roxos, ferimentos explicados.
d) Procura de serviços de emergência com pouca frequência.
e) Gosta de receber visitas com frequência.

83/242
Gabarito
1. Resposta: C. necessitar de atendimento de maior com-
plexidade a equipe encaminhará aos servi-
Todos os usuários devem ser acolhidos e, ços correspondentes.
se estiver apresentando sintomas, deve ser
classificado quanto ao risco. Somente pode 4. Resposta: D.
ser dispensado ou encaminhado para outro
As UBS realizam o acolhimento sem dis-
serviço de saúde por um profissional de ní-
tinção de território e somente após a ava-
vel superior.
liação e a classificação de risco o usuário
pode ser encaminhado para outros servi-
2. Resposta: D.
ços de saúde.
A cor amarela significa que o paciente pre-
cisa de um atendimento de urgência e deve 5. Resposta: C.
ser atendido o mais breve possível.
Sinais de hematomas, falta de rendimento
escolar, isolamento social, DSTs e muita fre-
3. Resposta: B.
quência aos serviços de pronto atendimen-
O atendimento de saúde mental também to são sinais de alerta para violência.
pertence à atenção básica e se o paciente
84/242
Unidade 4
Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família

Objetivos

1. Apresentar as Políticas Públicas da


Promoção à Saúde da Atenção Básica.
2. Discutir o trabalho intersetorial das
equipes de Saúde da Família no pro-
cesso de trabalho da promoção à
saúde.
3. Refletir sobre as mudanças comporta-
mentais dos trabalhadores de saúde
como também dos usuários é impor-
tante para realizar a mudança do mo-
delo assistencial.

85/242
Introdução

A Estratégia de Saúde da Família tem como programas municipais são pautas cada vez
proposta a mudança do modelo assistencial mais frequentes. Ao trabalharmos o mesmo
e é a promoção à saúde um dos processos de tema em diversas secretarias, temos resul-
trabalho que as equipes devem desenvol- tados mais efetivos e o reforço nos cuidados
ver. Os municípios, ao aderirem às políticas da mudança do estilo de vida fica cada vez
públicas de promoção à saúde, promovem mais presente nas discussões familiares. Um
o fortalecimento à mudança da visão assis- exemplo de trabalho em conjunto é o tema
tencial da forma curativa para a preventiva, da prevenção de gravidez na adolescência.
do foco individual para a família e do traba- As secretarias envolvidas seriam Educação,
lho individual para o multiprofissional. Saúde, Esporte, Cultura e Assistência Social.
As condições socioeconômicas, culturais e Cada uma desenvolveria o tema proposto,
ambientais devem ser levadas em conside- porém sempre interligadas. As avaliações
ração para o processo de diagnóstico da po- também são fundamentais nesse processo
pulação do território. Os determinantes so- de construção da metodologia transversal.
ciais são responsáveis por diversas doenças As fragmentações das ações devem cada
e os trabalhos compartilhados com as de- vez menos fazer parte dos processos de tra-
mais secretarias são de extrema importân- balho tanto na área da saúde como nas de-
cia. As transversalidades na construção dos mais secretarias.

86/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


A seguir está representado o modelo da determinação social da saúde:
Figura 4. Modelo da Determinação Social da Saúde de Dahlgren e Whitehead

Fonte: MENDES, Eugênio Vilaça. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da con-
solidação da estratégia da saúde da família. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2012.

Para desenvolver atividades de promoção à saúde e estimular os usuários e a família no seu au-
87/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
tocuidado, a equipe tem que ter o conheci- metas que foram anunciadas demonstra-
mento da população e seu território; para ram a escala e a ambição desta nova agenda
isso, após o processo de territorialização universal até 2030. Eles foram construídos
e o cadastramento das famílias, as equi- sobre o legado dos Objetivos de Desenvol-
pes devem classificar famílias por níveis de vimento do Milênio e concluirão o que es-
complexidade. Por meio do diagnóstico dos tes não conseguiram alcançar. Eles buscam
fatores de risco, as equipes planejam as ati- concretizar os direitos humanos de todos e
vidades a serem desenvolvidas, tais como alcançar a igualdade de gênero e o empode-
programa de reeducação alimentar, progra- ramento das mulheres e meninas. Eles são
ma de atividade física, programa de contro- integrados e indivisíveis e equilibram as três
le de álcool, programa de controle do taba- dimensões do desenvolvimento sustentá-
gismo e outros (MENDES, 2012). vel: a econômica, a social e a ambiental.
As políticas públicas de promoção e pre-
venção à saúde têm uma base nos objetivos
dos desenvolvimentos sustentáveis, em que
o Brasil é parceiro. Segundo a Organização
das Nações Unidas (2015), os 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável e as 169
88/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
1. A Promoção de Saúde na Es- no atendimento individual. As agendas de-
tratégia de Saúde da Família vem conter espaços para atendimentos co-
letivos, visitas domiciliares, educação per-
O modelo tradicional tem como base a es- manente, reuniões de equipe e consultas
pecialidade, centrada na doença e no tra- compartilhadas com a equipe multiprofis-
tamento medicamentoso, com maior ênfa- sional.
se no atendimento de casos agudos e nas O diagnóstico local tem que ter espaço para
doenças transmissíveis (MENDES, 2012). A discussão em equipe. É pelo levantamento
cada dia observamos que as equipes de Saú- dos fatores de risco ou das famílias prio-
de da Família estão mudando o fazer saúde, ritárias que se realiza o planejamento das
focando mais as ações para atendimento de ações de saúde. A Identificação do proble-
casos crônicos, visando programas de me- ma é o primeiro e mais importante passo
lhoria de qualidade de vida e mudanças de no processo de planejamento. As definições
hábitos diários. das opções (o que fazer) e o executar da op-
A gestão da promoção da saúde começa na ção escolhida (como fazer) são os próximos
confecção das agendas dos profissionais, passos. Nessa fase, o comprometimento da
pois se o propósito é a mudança, não pode equipe é muito importante. A avaliação e o
monitoramento das ações realizadas tam-
ter o mesmo formato de agenda centrada
89/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
bém fazem parte da agenda do profissional. frustrar quando a mudança não ocorrer.
As ações que não foram eficazes ou que não
A equipe do Nasf (Núcleo de Apoio de Saúde
tiveram resultados esperados por motivos
da Família) é fundamental na participação
diversos devem ser discutidas e reformula-
do processo de promoção à saúde. Lembra-
das (BRASIL, 2007).
mos também que os profissionais de saúde
O trabalho focado no tratamento longitudi- devem estabelecer metas de tratamento
nal, isto é, no acompanhamento do pacien- juntamente com o paciente. A avaliação dos
te ao longo do tempo por profissionais da resultados é muito significativa para ambos
equipe de atenção básica, com mudanças (profissional e usuário), as conquistas al-
de hábitos de estilo de vida, também é no- cançadas pela mudança de hábitos devem
vidade para os usuários (CUNHA, 2011). ser enfatizadas, como também as reavalia-
A crença de que a maior parte do processo ções da conduta prescrita quando o resul-
de cura das doenças vem do profissional da tado não foi alcançado.
saúde e de que a situação atual vai melhorar
por “fórmulas mágicas” dificultam o pro-
cesso de mudança da visão do autocuidado.
Deixar os velhos hábitos, às vezes, leva anos,
por isso o profissional da saúde não deve se
90/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
2. Programa Saúde na Escola flúor; a verificação e atualização da situ-
(PSE) ação vacinal; a promoção da alimentação
saudável e a prevenção da obesidade infan-
O Programa Saúde na Escola (PSE) é uma til; a promoção da saúde auditiva e a iden-
política pública intersetorial da Saúde e da tificação de educandos com possíveis sinais
Educação para promover saúde e educação de alteração; o direito sexual e reprodutivo
integral para estudantes da Educação Bási- e a prevenção de DST/Aids; e a promoção da
ca. Tem como objetivos realizar as ações de saúde ocular e a identificação de educan-
combate ao mosquito Aedes aegypti; a pro- dos com possíveis sinais de alteração (BRA-
moção das práticas corporais, da atividade SIL, 2017).
física e do lazer nas escolas; a prevenção ao As ações requerem um cronograma anual,
uso de álcool, tabaco, crack e outras drogas; no qual toda equipe da ESF como a equipe
a promoção da cultura de paz, cidadania e Nasf possam desenvolver as atividades. É
direitos humanos; a prevenção das violên- importante que essas ações não sejam so-
cias e dos acidentes; a identificação de edu- mente um levantamento de dados esta-
candos com possíveis sinais de agravos de tísticos, elas devem ser ações resolutivas e
doenças em eliminação; a promoção e ava- longitudinais, se necessário (acompanha-
liação de saúde bucal e aplicação tópica de mento do paciente a longo prazo).
91/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
3. Grupos As políticas públicas da atenção básica têm
como objetivo a realização das atividades
O que chama a atenção, mesmo na Estraté- em grupo, infelizmente o que vemos nas
gia de Saúde da Família, é o despreparo das práticas de saúde são mais ações voltadas
equipes em realizar atividades de grupo nas para a atenção individual do que para ações
UBS. As profissões que não centram suas coletivas.
terapêuticas em medicações: terapeutas
Como acontece na formação dos grupos
ocupacionais, psicólogos, fisioterapeutas,
das redes sociais, as equipes de saúde, para
nutricionistas, enfermeiros; desde a forma-
planejar uma atividade em grupo, precisam
ção na graduação, teriam que saber como
definir a população alvo com objetivos em
trabalhar com grupos, porém, ao olharmos
comum. Além disso, a escolha da metodo-
o currículo universitário dessas carreiras,
logia para realizar esse grupo é fundamen-
veremos que poucos possuem uma confi-
tal, geralmente o formato utilizado para o
guração dos cursos voltada para tal habili-
grupo é o de palestra. Verificamos que o for-
dade (BRASIL, 2010).

92/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


mato de palestra não atinge o resultado es- propostas para os grupos (MENDES, 2012).
perado para mudança de comportamento, Em muitas UBS, os ACS não querem coorde-
já o formato de roda de conversa, em que as nar grupos, pois acreditam que a população
pessoas podem se expressar, discutir, con- não tem tanto interesse como se fosse co-
tribuir com os demais integrantes do grupo ordenado pela equipe técnica. Essa insegu-
sobre o assunto proposto, tem um melhor rança deve ser quebrada por meio de edu-
resultado. A roda de conversa promove a cação permanente, pois existem diversos
construção dos saberes, enquanto no for- trabalhos exitosos que tem a participação
mato de palestra o usuário fica no papel de dos ACS na coordenação de grupos.
ouvinte (SAMPAIO, 2014). Os grupos devem abranger crianças, adul-
A participação de agentes de saúde nas tos, adolescentes, mulheres, homens, con-
equipes de coordenação de grupos pode forme a necessidade da área. Os grupos de
facilitar o conhecimento dos usuários do atividade física, como caminhada, dança e
grupo, assim como a história daquela co- alongamento, também devem ser incen-
munidade e o modo como eles lidam com tivados. Para os idosos, podem-se reali-
as relações na vida. O fato de morarem no zar grupos terapêuticos e artesanatos, por
bairro da unidade de saúde pode promo- exemplo. Já para o incentivo de mudança de
ver a vinculação da população às atividades hábitos, devem ser realizados os grupos de
93/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
tabagismo, hipertensão, diabetes, reeduca- Tem como objetivo: fortalecer a promoção
ção alimentar etc. da saúde como estratégia de produção de
saúde; desenvolver a atenção à saúde nas
4. Academia da Saúde linhas de cuidado, a fim de promover o cui-
dado integral; promover práticas de educa-
A Academia da Saúde é um programa para ção em saúde; promover ações interseto-
a promoção da saúde da população a partir riais com outros pontos de atenção da Rede
da implantação de polos com infraestrutu- de Atenção à Saúde e outros equipamentos
ra, equipamentos e quadro de pessoal qua- sociais do território; promover a convergên-
lificado para a orientação de práticas cor- cia de projetos ou programas nos âmbitos
porais e de atividade física e de lazer e mo- da saúde, educação, cultura, assistência
dos de vida saudáveis, focando a atenção social, esporte e lazer; ampliar a autonomia
nas doenças crônicas não transmissíveis dos indivíduos sobre as escolhas de modos
(BRASIL, 2015). de vida mais saudáveis; aumentar o nível
de atividade física da população; promover
hábitos alimentares saudáveis; promover
mobilização comunitária com a constitui-
ção de redes sociais de apoio e ambientes
de convivência e solidariedade.
94/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família
5. Ambiente de de São Paulo tem um programa chama-
do PAVS – Programa Ambientes Verdes e
A preocupação ambiental vem sendo trata- Saudáveis, do município de São Paulo. O
da no âmbito internacional desde a realiza- PAVS tem como objetivo contribuir para a
ção da Conferência de Estocolmo, em 1972, construção das políticas públicas integra-
ganhando destaque na Conferência das das no município de São Paulo por meio de
Nações Unidas para o Meio Ambiente e De- uma agenda de ações integradas com en-
senvolvimento (RIO 92), na qual a proposta foque para o desenvolvimento de políticas
da sustentabilidade foi consolidada como de saúde ambiental no âmbito da Estraté-
diretriz para a mudança de rumo no desen- gia de Saúde da Família, visando fomentar
volvimento, com a aprovação da Agenda 21. o desenvolvimento de uma nova prática de
Desde então, o conceito de desenvolvimen- saúde que se traduz em valores de respon-
to sustentável passou a ser um referencial sabilidade cidadã em torno da defesa da
para todos os países (BRASIL, 2009). vida e da proteção ambiental e tendo como
Um dos processos de trabalho da Estratégia eixos norteadores o fortalecimento da atu-
de Saúde da Família é a realização de ações ação intersecretarial e intersetorial, a sus-
ambientais. A Secretaria Municipal da Saú- tentabilidade das intervenções no território
e o empoderamento e a efetiva participação

95/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


da comunidade. 6. Vigilância em Saúde
As UBS com Saúde da Família têm um pro-
A vigilância em saúde tem por objetivo a ob-
fissional ambiental, Agente de Promoção
servação e a análise permanentes da situa-
Ambiental (APA), que participa dos gru-
ção de saúde da população, articulando-se
pos auxiliando a equipe de ESF, apoia nos
em um conjunto de ações destinadas a con-
eventos culturais e desenvolve a agenda
trolar determinantes, riscos e danos à saúde
A3P (Agenda Ambiental na Administração
de populações que vivem em determinados
Pública) na instituição de saúde. Também
territórios, garantindo a integralidade da
auxilia na produção de hortas verticais nos
atenção, o que inclui tanto a abordagem in-
centros urbanos, na prevenção da dengue,
dividual como a coletiva dos problemas de
na prevenção de acúmulo de lixo etc.
saúde (BRASIL, 2010).

96/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


A territorialização é a base do trabalho das dade infantil e da mortalidade materna, as
equipes de Estratégia de Saúde da Família equipes têm participação fundamental. O
para a prática da vigilância em saúde, carac- comitê de mortalidade infantil sugere, jun-
terizando-se por um conjunto de ações, no tamente com os gestores de saúde, formas
âmbito individual e coletivo, que abrange a de melhorar os processos de trabalho que
promoção e a proteção da saúde, a preven- influenciam nos casos das mortalidades
ção de agravos, o diagnóstico, o tratamen- ocorridas naquele município.
to, a reabilitação e a manutenção da saúde As equipes de Saúde da Família fazem ações
(BRASIL, 2010). de saúde para a prevenção das doenças sa-
São de responsabilidade das equipes de zonais, como também o acompanhamento
Saúde da Família a busca ativa de casos dos demais agravos de saúde que são diag-
suspeitos de doenças transmissíveis indivi- nosticados localmente ou em outras insti-
duais e coletivos e a busca ativa e o acom- tuições de saúde. São exemplos de agravos:
panhamento dos casos crônicos não trans- as DST (Doenças Sexualmente Transmissí-
missíveis. Nas estratégias estabelecidas veis), sífilis congênita, tuberculose, dengue,
pelo município para redução da mortali- H1N1, influenza etc.

97/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


7. Promovendo a Cultura de Paz

Considerando que a saúde e a segurança são necessidades que precisam ser satisfeitas para
que as pessoas vivam com dignidade, os ministérios da Justiça e da Saúde assinaram, no ano de
2008, um Acordo de Cooperação Técnica. Esse acordo visa ao desenvolvimento de ações con-
juntas e coordenadas da Estratégia de Saúde da Família e do Programa Nacional de Segurança
Pública com Cidadania (Pronasci) na prevenção da violência e na promoção da segurança pú-
blica nas áreas de abrangência das equipes de Saúde da Família (BRASIL, 2009).
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu cultura da paz como um conjunto de valores,
atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida de pessoas, grupos e nações baseados
no respeito pleno à vida e na promoção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais,
na prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação, podendo ser
uma estratégia política para a transformação da realidade social. (BRASIL, 2009).

98/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


O Brasil já vem discutindo sobre a questão do racismo, da homofobia, da violência contra a
mulher, do suicídio e mais recentemente da xenofobia (temor ou antipatia por pessoas es-
tranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país) e está
desenvolvendo políticas públicas para a promoção da cultura de paz.
Os profissionais de saúde da Atenção Básica, para trabalhar com a cultura de paz nas comu-
nidades, necessitam de investimento na educação permanente, suporte multiprofissional e
trabalho intersetorial.

99/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


Glossário
APA: Agente de Promoção Ambiental.
Nasf: Núcleo de Apoio de Saúde da Família.
ONU: Organização das Nações Unidas.
PAVS: Programa Ambientes Verdes e Saudáveis.
PSE: Programa Saúde na Escola.
Xenofobia: temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo
que é incomum ou vem de fora do país.

100/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


?
Questão
para
reflexão

Todas as portarias do Ministério da Saúde da Atenção


Básica colocam que as equipes de saúde devem realizar
mais ações de promoção à saúde por meio das ativida-
des em grupo. Por que você acha que após todos esses
anos de implantação das ESF ainda os profissionais de
saúde têm dificuldades de trabalhar com esse tipo de
atividade?

101/242
Considerações Finais
• As Políticas Públicas de Promoção á Saúde têm como proposta de mudança
de modelo assistencial do atendimento do agudo para o atendimento às
doenças crônicas não transmissíveis, reafirmando os princípios do Sistema
Único de Saúde.
• As atividades de promoção à saúde devem estar contempladas nas agendas
de todos os profissionais de saúde.
• A gestão deve acompanhar as dificuldades que os profissionais apresentam
no processo de trabalho de promoção e prevenção à saúde e apoiá-los por
meio de educação permanente.
• No processo de trabalho da promoção e prevenção à saúde, o modo de fazer
saúde não é somente para os trabalhadores da saúde, mas também para o
paciente que deixa de ser um agente passivo e passa a ser responsável pelo
seu tratamento com mudanças de hábitos e de estilos de vida.

102/242
Referências

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vel em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/academia_saude_cartilha.pdf>. Acesso em:
6 set. 2017.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Am-
biental. Departamento de Cidadania e Responsabilidade Socioambiental. Agenda Ambiental
na Administração Pública. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2009. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/estruturas/a3p/_arquivos/cartilha_a3p_36.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional
de Humanização. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. 2. ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 60 p. (Série B. Textos Básicos de Saúde)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização.
Atenção Básica. Cadernos HumanizaSUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 256 p. (Série B.
Textos Básicos de Saúde) (Cadernos HumanizaSUS; v. 2)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 108 p. (Série F.
Comunicação e Educação em Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006; v. 13)

103/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Por uma cultura da paz, a promoção da saúde e a prevenção da violência. Brasília: Ministério
da Saúde, 2009. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cultura_paz_sau-
de_prevencao_violencia.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Redefine as regras e os critérios para adesão ao Programa Saúde na Escola – PSE por
estados, Distrito Federal e municípios e dispõe sobre o respectivo incentivo financeiro para
custeio de ações. Portaria Interministerial nº 1055, de 25 de abril de 2017. Disponível em:
<http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/prt_1055_25_5_2017.pdf>. Acesso em:
4 set. 2017.
CUNHA, Elenice Machado da; GIOVANELLA, Ligia. Longitudinalidade/continuidade do cuida-
do: identificando dimensões e variáveis para a avaliação da Atenção Primária no contexto do
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1029-1042, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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104/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


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SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde. Programa Ambientes Verdes e Saudáveis – PAVS.
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TRANSFORMANDO nosso mundo: a agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. ONU-


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Acesso em: 6 set. 2017.

105/242 Unidade 4 • Estratégias de Prevenção e Promoção da Saúde na Estratégia de Saúde da Família


Questão 1
1. Sobre a promoção à saúde, é correto afirmar:

I. As ações de promoção e prevenção à saúde estão focadas no atendimento ao acolhimento


com classificação de risco e grupos na comunidade.
II. Nas Unidades Básica de Saúde, as promoções e prevenções à saúde são somente para usu-
ários que pertençam às famílias com avaliação de vulnerabilidade social.
III. A promoção de saúde na atenção básica corresponde ao atendimento focado nas doenças
crônicas não transmissíveis, com mudanças de estilo de vida e um tratamento longitudinal
para prevenção do agravo dessas doenças.
IV. As políticas públicas de promoção e prevenção à saúde na Atenção Básica correspondem
ao Programa Saúde na Escola, à Academia de Saúde, aos grupos na comunidade e aos pro-
gramas de ambientes sustentáveis.

106/242
Questão 1
As afirmativas são respectivamente:
a) V,V,V,V.
b) F,F,V,V.
c) F,V,F,F.
d) V,V,F,F.
e) F,F,F,F.

107/242
Questão 2
2. Sobre a gestão da promoção e prevenção à saúde, é correto afirmar que:

a) O planejamento da gestão de saúde está voltado somente para ações internas nas Unidades
Básicas de Saúde.
b) Os profissionais da equipe Nasf (Núcleo de Apoio em Saúde da Família) não têm uma gestão
de agenda para trabalho de promoção e prevenção da saúde.
c) As agendas dos profissionais da saúde devem ser planejadas com atividades de atendimen-
to de grupos, educação permanente e consultas compartilhadas para realizar a promoção à
saúde no território de sua responsabilidade.
d) Para o profissional de saúde médico não é necessário ter espaços na agenda para realização
de grupo, somente para os demais profissionais não prescritivos.
e) As agendas dos profissionais devem ser planejadas com mais atividades de atendimento de
demanda espontânea.

108/242
Questão 3
3. A equipe da Estratégia de Saúde da Família tem um papel fundamen-
tal nas ações de vigilância em saúde no território adscrito para prevenir
novos casos de doenças e acompanhar os casos que foram notificados. É
correto afirmar que:

a) As ações de vigilância em saúde estão mais voltadas à promoção e à prevenção da saúde no


individual e no meio ambiente.
b) A busca ativa de casos suspeitos de doenças transmissíveis ou agravos à saúde individual
não é responsabilidade da equipe, somente quando for um agravo coletivo.
c) A busca ativa de casos suspeitos de doenças transmissíveis individuais e coletivos e a busca
ativa e o acompanhamento dos casos crônicos não transmissíveis são responsabilidade das
equipes de Saúde da Família.
d) Acompanhamento do estado vacinal de cada usuário, intervindo de acordo com sua neces-
sidade, desconsiderando o calendário vacinal.
e) Não é responsabilidade do Agente Comunitário de Saúde realizar Vigilância em Saúde.

109/242
Questão 4
4. Sobre os objetivos do Programa Saúde na Escola, é correto:

a) Realizar os dados antropométricos de peso e altura, avaliar o Índice de Massa Corporal (IMC)
de alunos para busca ativa de obesidade infantil.
b) Fazer as ações com o intuito de levantamento de dados estatísticos.
c) Monitorar, notificar e orientar os escolares, diante de efeitos adversos vacinais.
d) Realizar palestras educativas com definições dos temas planejados em parceria com os pro-
fessores.
e) Monitorar a evasão escolar e suas causas psicológicas.

110/242
Questão 5
5. Sobre os objetivos da Academia de Saúde na Atenção Básica, é correto:

a) Controlar as doenças sexualmente transmissíveis, com a implantação de atividades educa-


tivas na escola.
b) A busca ativa de vacina atrasadas.
c) Ampliar as atividades lúdicas para crianças e adolescentes.
d) Promoção da saúde, com ênfase na atividade física regular e na alimentação saudável.
e) Fazer busca ativa de faltosos das consultas de puericultura.

111/242
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: C.

A promoção à saúde tem foco nas ações de As equipes de Estratégia de Saúde da Famí-
doenças crônicas não transmissíveis, com lia realizam a busca ativa de doenças trans-
ações para mudanças de estilo de vida. As missíveis e a busca ativa e o monitoramen-
ações devem ser diversas e planejadas a tos das doenças não transmissíveis.
partir dos fatores de risco levantados após o
diagnóstico local. 4. Resposta: A.
As ações do PSE não são meramente para
2. Resposta: C. dados estatísticos, após a detecção de al-
gum agravo, o estudando deve ser encami-
As agendas de todos os profissionais de
nhado para acompanhamento.
saúde da Estratégia de Saúde da Família de-
vem ser confeccionadas com atividades de
5. Resposta: D.
promoção e prevenção à saúde.
A Academia da Saúde visa à promoção da
saúde multiprofissional, com ênfase na ati-
vidade física regular e na alimentação sau-
dável.
112/242
Unidade 5
Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência

Objetivos

1. Apresentar as políticas públicas da


atenção domiciliar e seus níveis de
complexidade.
2. Refletir sobre a importância da visita
domiciliar pela equipe de Saúde da Fa-
mília e pela equipe multiprofissional.
3. Apresentar o sistema de referência e
contrarreferência no Sistema Único
de Saúde.

113/242
Introdução

A atenção básica caracteriza-se por um no qual predomina uma postura profissio-


conjunto de ações de saúde, no âmbito in- nal tecnocrática e de pouca interação com
dividual e coletivo, que abrange a promo- o usuário, voltando-se à nova proposta de
ção e a proteção da saúde, a prevenção de atendimento integral e humanizado do in-
agravos, o diagnóstico, o tratamento, a rea- divíduo inserido em seu contexto familiar
bilitação, a redução de danos e a manuten- (CUNHA, 2007).
ção da saúde, com o objetivo de desenvol- O destaque do processo de trabalho da visita
ver uma atenção integral que impacte na domiciliar é o acesso dado a usuários que an-
situação de saúde e na autonomia das pes- tes não tinham nenhum tipo de assistência à
soas e nos determinantes e condicionantes saúde. Com a Estratégia de Saúde da Família,
de saúde das coletividades (BRASIL, 2011). se o indivíduo não comparecer à UBS na qual
Visita domiciliar é uma técnica de interação está cadastrado, o profissional da saúde irá
no cuidado à saúde, sendo de fundamental até ele, esse é o diferencial do novo modelo
importância quando adotada pela equipe assistencial da Atenção Básica.
de saúde no conhecimento das condições Para a equipe ter domínio da área de abran-
de vida e saúde das famílias sob sua res- gência, a reunião de equipe deve proporcio-
ponsabilidade. Estabelece o rompimento do nar a troca de saberes, a educação perma-
modelo hegemônico, centrado na doença,
114/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
nente e discussões de famílias que necessi- maior complexidade, por meio de encami-
tam ser avaliadas em visita domiciliar. nhamento classificado, efetivando a inte-
Dentro do território adscrito, todas as famí- gralidade da assistência à saúde. Para isso,
lias devem ser visitadas mensalmente pelo é fundamental que a AB tenha alta resolu-
Agente Comunitário de Saúde e não so- tividade, o que, por sua vez, depende da ca-
mente aquelas que possuem famílias prio- pacidade clínica e de cuidado de suas equi-
ritárias (hipertensos, diabéticos, gestantes pes, do grau de incorporação de tecnologias
etc.). Como o diagnóstico local é dinâmico, diagnósticas e terapêuticas, da articulação
as famílias podem mudar seu perfil entre da Atenção Básica com outros pontos da
as visitas realizadas e necessitarem de um rede de saúde e da intersetorialidade. (BRA-
acompanhamento mais próximo da equipe SIL, 2015).
de saúde da família (BRASIL, 2011).
A Atenção Básica (AB) é caracterizada como
a porta de entrada preferencial do SUS e
como a principal função da gestão do cui-
dado dos usuários. É a base para o orde-
namento dos pacientes para os níveis de

115/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


pe, na qual são apontadas, em razão das
Para saber mais necessidades levantadas, quais as famílias
que receberão a visita na semana.
Em 2011 foi aprovada a Política Nacional de Aten-
ção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes As visitas domiciliares são distribuídas para
e normas para a organização da Atenção Básica, cada profissional conforme o nível de com-
para a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e para plexidade e é realizado um cronograma se-
o Programa de Agentes Comunitários de Saúde manal. Cada profissional deve ter o seu pró-
(Pacs). Acesse o site: Disponível em: <http://bvs- prio controle das famílias visitadas, em uma
ms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/ planilha ou impresso, desenvolvido pelo
prt2488_21_10_2011.html>. Acesso em: 5 set. gestor local. O ideal é que todos os profis-
2017. sionais possam fazer uma visita domiciliar
para cada família no ano. O conhecimento
1. Visita Domiciliar na Estratégia do território pelas equipes é muito impor-
de Saúde da Família tante para o desenvolvimento das políticas
públicas, pois é por meio delas que podemos
A visita domiciliar realizada pelos profissio- contribuir para a melhoria da qualidade de
nais de Estratégia de Saúde da Família ini- vida da comunidade em que trabalhamos.
cia-se já nas discussões de reunião de equi-
116/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
Para o planejamento das visitas técnicas
Para saber mais domiciliares (médico, enfermeiro, auxiliar
de enfermagem, dentista e compartilhada
Você sabe a diferença de política pública e polí-
com o Nasf), a equipe utiliza o critério da
tica partidária? Políticas públicas: são conjuntos
equidade, ou seja, as famílias que têm maior
de programas, ações e atividades desenvolvidas
necessidade de acompanhamento serão
pelo Estado diretamente ou indiretamente, com
avaliadas antes. Lembramos que a equi-
a participação de entes públicos ou privados, que
pe deve ser flexível, pois mesmo já estando
visam assegurar determinado direito de cidada-
planejadas as visitas, é fundamental que se
nia, de forma difusa ou para determinado segui-
realize o acolhimento dos recém-nascidos
mento social, cultural, étnico ou econômico. Polí-
para orientação da amamentação e de pes-
tica partidária: é o exercício da política por meio
soas que voltaram de processo cirúrgico ou
de filiação a um partido político. De um modo ge-
internação. No cronograma, também é pla-
ral, todos nós praticamos política, contudo, para
nejada a assistência para aquelas famílias
que esta prática seja de modo válido, precisamos
que têm necessidade de ser visitadas mais
de uma filiação partidária. Em geral as pessoas
que uma vez no mês para que não ocorra
dizem que é quando seu discurso, ou ideologia,
piora da saúde do indivíduo. Todos os crité-
está vinculado a um partido.
rios para o agendamento da visita domiciliar

117/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


devem ser avaliados em reunião de equipe e uma adolescente que realizou um aborto
estar baseados nos princípios do SUS. espontâneo e teve complicações; visita de
Quando avaliamos a necessidade de uma um ex-presidiário; visita de domicílios com
família, devemos observar todos os aspec- casal homoafetivo; visitas de imigrantes
tos que a envolvem. Todo critério de avalia- que não têm boa comunicação. A consciên-
ção não deve ter interferência sobre o con- cia da moral é definida pela área mais ínti-
ceito de vida de cada um, a equipe não pode ma da pessoa, ou seja, somente ela é capaz
tomar decisões baseadas somente nos pró- de conhecer seus atos e motivos que a le-
prios conceitos de vida e sim nos direitos varam ou levam a agir de certa maneira. Às
das pessoas e nos princípios do SUS. vezes, em relação ao estilo de vida escolhi-
do, o que é certo para você, é errado para o
Como discutir um assunto familiar sem um outro e vice-versa.
pré-julgamento? Às vezes, a equipe de saú-
de encontra situações familiares que não Como as equipes podem trabalhar as per-
são comuns ao seu estilo de vida, esse fato cepções? Quando um ACS traz um proble-
não pode interferir no critério de avaliação ma complexo de uma família de sua microá-
e na conduta do profissional, o julgamento rea para ser discutido em reunião de equipe,
das situações pode acarretar atitudes in- não podemos ter uma conclusão somente
coerentes. Veja alguns exemplos: visita de dessa descrição. É importante que seja rea-
118/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
lizado o matriciamento desses casos complexos, que toda equipe esteja envolvida na discussão.
Veja um exemplo de percepção na figura a seguir.
O que você observa nesta figura?
Figura 5 . Imagem Ambígua

Fonte: <http://www.oqueeoquee.com/imagens-ambiguas/>. Acesso em: 5 set. 2017.

119/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


Quando você observa essa figura, o seu cé- pois a principal base das análises é a experi-
rebro apenas consegue enxergar alguns de- ência que cada profissional possui. Só a par-
talhes. Agora se você voltar a ver a figura tir dessa discusão ampliada é que a equipe
mais tarde, com mais tempo, você vai obse- deve realizar o planejamento da ação de
var outros detalhes que não tinha observa- saúde.
do anteriormente. Se você observar a figura A relação de confiança entre a família e os
em recortes, encontrará outros detalhes. profissionais de saúde é importante para a
E mais, se você pedir para outras pessoas reorganização do processo de trabalho. Em
analisarem a figura, elas vão observar ou- muitos casos, para ter suas necessidades de
tros detalhes que você não conseguiu per- saúde atendidas, a família é chamada para
ceber sozinho. a discussão do planejamento de saúde em
O exemplo da figura acima corresponde conjunto com a equipe.
ao mesmo que acontece quando a equipe O monitoramento do processo saúde-do-
discute um caso complexo, temos que ter a ença não pode ser uma prática controladora
participação de uma equipe multiprofissio- sobre a vida e os comportamentos em saú-
nal, pois vários olhares podem trazer visões de das famílias, pois a decisão e a autono-
e fatos diferentes. O apoio matricial é ne- mia são decisões que competem somente
cessário nos casos de maior complexidade, ao indivíduo; às vezes, a equipe realiza um
120/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
plano de assistência o qual o paciente não está ainda preparado para realizar. A equipe não pode
desistir desse paciente somente porque ele não aderiu à prescrição, ela deve novamente reorga-
nizar seu processo de trabalho.
A visita domiciliar ou domiciliária é um espaço para o diálogo e a troca de saberes. A educação
permanente nessa temática deve estar presente constantemente na agenda dos profissionais,
já que o cuidado familiar foi focado na formação dos profissionais de saúde em relação a ações
de vigilância epidemiológica e não de uma assistência integral.

121/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


2. As Relações Familiares ambos. Muitas vezes, nesses casos, os avós
assumem a responsabilidade em cuidar da
A família é a primeira e mais importante família (BRASIL, 2009).
influência na vida das pessoas. É na famí-
No espaço familiar, são definidas muitas
lia que adquirimos os valores, os usos e os
práticas do cotidiano e é onde muitas es-
costumes que formarão nossa personalida-
colhas acontecem ou deixam de acontecer.
de e bagagem emocional. Podemos chamar
Das decisões que são tomadas nessas rela-
de família um grupo de pessoas com víncu-
ções familiares (conjunto das escolhas que
los afetivos, de consanguinidade e de con-
cada um faz), nasce o conflito familiar. Mui-
vivência. As famílias vêm se transforman-
tas famílias vivem em desarmonia por anos,
do ao longo do tempo, acompanhando as
apresentam cargas intensas (conflitos,
mudanças religiosas, econômicas, sociais
ódio, rancor e ressentimentos). Esses con-
e culturais. Hoje existem várias formas de
flitos devem ser avaliados na prescrição do
organização familiar, como famílias com
cuidado, pois as relações de poder que um
uniões estáveis, reconstituídas, de casais
familiar exerce no outro podem interferir no
do mesmo sexo, de casais que moram em
processo terapêutico.
casas separadas etc. Há ainda famílias que
não têm a presença da mãe, do pai ou de

122/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


3. A Visita Domiciliar do Agente Também devem estar contempladas na
Comunitário de Saúde agenda a reunião de equipe, a educação
permanente, a participação de grupos ou
No processo de fortalecimento do Sistema atividades educativas.
Único de Saúde (SUS), o Agente Comunitá- Um roteiro de visita domiciliar para o ACS é
rio de Saúde (ACS) tem sido um personagem fundamental para facilitar o acompanha-
muito importante realizando a integração mento das famílias, principalmente das fa-
dos serviços de saúde da Atenção Primária mílias que são consideradas prioritárias. Na
à Saúde com a comunidade (BRASIL, 2009). visita domiciliar, o ACS deve investigar mu-
Os ACS têm uma agenda mensal, nela deve danças na dinâmica familiar (casamento ou
conter um cronograma de visitas domicilia- divórcio, por exemplo), solicitar se houve al-
res. O cálculo de visitas diárias se faz a par- teração de diagnóstico de saúde e observar
tir do número total de famílias na microárea se houve uma evolução das orientações da-
do ACS dividido pelo número de dias úteis das na visita anterior.
no mês. O ACS, ao finalizar a visita, deve fazer um re-
Ou seja: Número total de famílias latório contendo todas as informações ob-
Número de dias úteis do mês servadas e as orientações realizadas para
cada família. Geralmente, observam-se nos
123/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
prontuários as mesmas anotações com as mesmas orientações na maioria das visitas. A equipe
deve estar atenta para esse fato e realizar educação continuada para mudanças nas abordagens
das famílias e nas anotações em prontuário,
Na reunião de equipe, o ACS realiza a discussão das famílias visitadas. A equipe classifica aquelas
famílias que apresentam necessidade de intervenção e as direcionam para as atividades de saú-
de, podendo ser o agendamento de consultas, as visitas domiciliares, a participação de grupos.
O ACS é considerado um líder comunitário, é uma ponte entre a comunidade e o serviço de saúde.
Esse profissional tem uma motivação, um senso de missão para ajudar na melhoria da qualidade
de vida da população do seu território.

124/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


4. Atenção Domiciliar: Melhor classificados em AD2 ou AD3. Após a esta-
em casa bilização do paciente, ele volta a ser refe-
renciado para a equipe de atenção básica.
Atenção Domiciliar (AD) é a modalidade de O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) é
atenção à saúde integrada, caracterizada um serviço complementar aos cuidados re-
por um conjunto de ações de prevenção e alizados na atenção básica e em serviços de
tratamento de doenças, reabilitação, pa- urgência, substitutivo ou complementar à
liação e promoção à saúde, prestadas em internação hospitalar, responsável pelo ge-
domicílio, garantindo continuidade de cui- renciamento e pela operacionalização das
dados. A Atenção Domiciliar será organi- Equipes Multiprofissionais de Atenção
zada em três modalidades: Atenção Domi- Domiciliar (EMAD) e das Equipes Multi-
ciliar tipo 1 (AD1); Atenção Domiciliar tipo profissionais de Apoio (EMAP). O Serviço
2 (AD2) e Atenção Domiciliar tipo 3 (AD3) de Atenção Domiciliar tem como objetivos
(BRASIL, 2013). a redução da demanda por atendimento
A Estratégia de Saúde da Família trabalha hospitalar; a redução do período de perma-
em conjunto com as equipes de saúde da nência de usuários internados; a humaniza-
atenção domiciliar encaminhando pacien- ção da atenção à saúde, com a ampliação
tes que não estão estáveis e que estejam da autonomia dos usuários; e a desinstitu-
125/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
cionalização e a otimização dos recursos fi- Após os encaminhamentos, a equipe da
nanceiros e estruturais das Redes de Aten- regulação vai agendar conforme as vagas
ção à Saúde (RAS). (BRASIL, 2011). disponíveis no sistema. Os municípios que
são de médio e grande porte geralmente
5. Sistema de Referência e Con- trabalham com 2 sistemas de agendamen-
trarreferência na Atenção Básica to, o municipal e o estadual (que distribui as
vagas conforme as pactuações dos muni-
A organização de Redes de Atenção à Saú- cípios). As vagas que não foram preenchi-
de (RAS) é uma estratégia para um cuidado das o sistema deixa de bolsões, e qualquer
integral e direcionado às necessidades de município pode agendar essas vagas. Cada
saúde da população; são ações e serviços de município tem um sistema regulador, con-
saúde com diferentes configurações tecno- forme o nível de complexidade. Os hospitais
lógicas e missões assistenciais, articulados também utilizam o sistema regulador para
de forma complementar e com base territo- leitos de internação e UTI (Unidade de Te-
rial (BRASIL, 2008). rapia Intensiva).
Na Atenção Básica, devem ser resolvidos Os objetivos da referência e contrarrefe-
cerca de 80% dos casos, somente 20% de- rência são: garantir o acesso aos serviços
vem ser encaminhados para outros níveis. de saúde de forma adequada; garantir os
126/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
princípios da equidade e da integralidade; utilizar o critério de urgência conforme os
fomentar o uso e a qualificação das infor- princípios de equidade e integralidade e
mações dos cadastros de usuários, estabe- não o critério de chegada do encaminham-
lecimentos e profissionais de saúde; elabo- ento. A equipe de atenção básica deve in-
rar, disseminar e implantar protocolos de formar no encaminhamento a classificação
regulação; diagnosticar, adequar e orientar de risco e seguir os protocolos realizados
os fluxos da assistência; construir e viabilizar nas secretarias municipais de saúde do seu
as grades de referência e contrarreferência; município.
capacitar de forma permanente as equipes
que atuarão nas unidades de saúde; sub-
sidiar as ações de planejamento, controle,
avaliação e auditoria em saúde; subsidiar o
processamento das informações de produ-
ção; e subsidiar a programação pactuada e
integrada (BRASIL, 2008).
É importante ressaltar que nesse setor não
ocorre apenas um preenchimento de va-
gas do sistema mecanicamente, ele deve
127/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência
Glossário
AD: Atenção Domiciliar.
EMAD: Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar.
EMAP: Equipes Multiprofissionais de Apoio.
RAS: Rede de Atenção à Saúde.
SAD: Serviço de Atenção Domiciliar.
UTI: Unidade de Terapia Intensiva.

128/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


?
Questão
para
reflexão

As visitas domiciliares dos Agentes Comunitários de


Saúde são consideradas uma estratégia muito impor-
tante para a mudança do modelo assistencial. O ACS
passa a maior parte do tempo no seu território fazendo
as visitas domiciliares. O que a equipe deve fazer quan-
do tem a suspeita de que o ACS realiza outras atividades
no horário de trabalho?

129/242
Considerações Finais

• A implantação de um sistema de referência e contrarreferência corresponde


ao encaminhamento dos serviços de menor complexidade para os de maior
complexidade, em que a Atenção Básica tem a responsabilidade de resolver
até 80% dos casos atendidos.
• A visita domiciliar na Estratégia de Saúde da Família é um dos instrumentos
que potencializa as condições de conhecimento do cotidiano das famílias.
Tem como objetivo levar saúde para aqueles que não tem acesso ao serviço
de saúde, como também realizar promoção à saúde e prevenção de agravos
da doença.
• O Serviço de Atenção Domiciliar tem como objetivos: a redução da deman-
da por atendimento hospitalar; a redução do período de permanência de
usuários internados; a humanização da atenção à saúde, com a ampliação
da autonomia dos usuários; a a desinstitucionalização e a otimização dos
recursos financeiros e estruturais da Rede de Atenção à Saúde (RAS).

130/242
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a re-
visão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da
Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Portaria nº 2488, de 21
de outubro de 2011. Brasília, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2011/prt2488_21_10_2011.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Caderno de atenção domiciliar. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 2 v.
BRASIL. Ministério da Saúde. Endocrinologia e nefrologia. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
20 p. (Protocolos de encaminhamento da atenção básica para a atenção especializada; v. 1)
BRASIL. Ficha de visita domiciliar. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/
documentos/ficha_de_visitas_domiciliar.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Guia prático do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 260 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saú-
de - SUS. Portaria nº 1559, de 1 de agosto de 2008. Brasília, 2008. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt1559_01_08_2008.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

131/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. O
trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em:
<http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/manual_acs.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.
CUNHA, C. L. F.; GAMA, M. E. A. A visita domiciliar no âmbito da atenção primária em saúde. [S.l.:
s.n.], 2007. Disponível em: <http://www.uff.br/tcs2/images/stories/Arquivos/textos_gerais/A_VIS-
ITA_DOMICILIAR_NO_MBITO_DA_ATENO_PRIMRIA_EM_SADE.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2017.

GIACOMOZZI, Clélia Mozara; LACERDA, Maria Ribeiro. A prática da assistência domiciliar dos
profissionais da estratégia de saúde da família. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, 2006
Out-Dez, 15(4), p. 645-653.

132/242 Unidade 5 • Atendimento e Visitas Domiciliares. Referência e Contrarreferência


Questão 1
1. Considerando que a visita domiciliar tem por objetivo prestar assistência
ao indivíduo no próprio domicílio, os profissionais da equipe de Saúde da
Família devem:

I. Na primeira visita para um indivíduo que necessita de cuidados domiciliares, o profissional,


além dos cuidados específicos, investiga como são as relações familiares e os determinan-
tes da saúde daquela família.
II. Somente realizar a investigação específica e passar a responsabilidade para o Agente Co-
munitário de Saúde realizar a prescrição recomendada.
III. Em todas as visitas domiciliares, os profissionais devem anotar os procedimentos ou a in-
vestigação em prontuário, como também na sua ficha de produtividade.
IV. Todas as alternativas estão corretas

133/242
Questão 1
Assinale a sequência correta.
a) V,V,V,V.
b) V,F,V, F.
c) V,V.F,F.
d) F,F,V, F.
e) F,F,F,F.

134/242
Questão 2
2. A visita domiciliar é um importante instrumento de compreensão da
realidade social.

Assinale a alternativa correta, em relação ao assunto.


a) A visita domiciliar avalia as condições reais de vida da população assistida, como alimenta-
ção, moradia, saneamento, e pode intervir junto à comunidade e propor soluções coletivas
também para gestão do município.
b) A visita domiciliária contribui para diminuir os riscos de infecções hospitalares.
c) A visita domiciliar é somente para aqueles que não têm condições de vir até a UBS, como nos
casos de acamados e idosos com dificuldade de locomoção.
d) A visita domiciliar tem como sua principal função a busca ativa das doenças de notificação
compulsória.
e) A visita domiciliária não contribui para diminuir os riscos doenças transmissíveis.

135/242
Questão 3
3. A visita domiciliar constitui-se em um instrumento de intervenção fun-
damental da Estratégia de Saúde da Família. É correto afirmar que:

I. A visita domiciliar contribui para o reconhecimento da dinâmica familiar e facilita o plane-


jamento da assistência pelos profissionais de saúde.
II. Toda visita domiciliar deve ser planejada anteriormente e deve estar pautada nos princí-
pios do Sistema Único de Saúde.
III. Para realizar a visita domiciliar, a equipe efetua os processos de trabalho na seguinte sequ-
ência: planejamento, execução, registro de dados e avaliação do processo.
Assinale a sequência correta.
a) V,V,V,.
b) V,F,V, .
c) V,V.F,.
d) F,F,V, .
e) F,F,F,.

136/242
Questão 4
4. Sobre a visita Domiciliar:

I. A visita domiciliar na Estratégia de Saúde da Família é um dos instrumentos que potencia-


liza as condições de conhecimento do cotidiano das famílias.
II. Tem como objetivo levar saúde para aqueles que não têm acesso ao serviço de saúde.
III. Realiza promoção à saúde e prevenção de agravos da doença.
Assinale a sequência correta.
a) V,V,V,.
b) V,F,V, .
c) V,V.F,.
d) F,F,V, .
e) F,F,F,.

137/242
Questão 5
5. Um paciente cadastrado que é hipertenso recebe uma visita domiciliar
da técnica de enfermagem e do ACS. Ao aferir a pressão, constatou-se que
o o paciente estava com uma PA de 180/110 após ter tomado o medica-
mento. A técnica de enfermagem o acompanha até a UBS e o encaminha
ao acolhimento técnico. Essa conduta traduz o seguinte princípio do Sis-
tema Único de Saúde:

a) Universalidade.
b) Descentralização.
c) Intersetorialidade.
d) Integralidade.
e) Hierarquização.

138/242
Gabarito
1. Resposta: B. princípios do Sistema Único de Saúde e a
sequência dos processos de trabalho estão
O profissional da saúde em uma visita do- corretas.
miciliar avalia a família com um todo e reali-
za as anotações em prontuário dos procedi- 4. Resposta: A.
mentos e das observações.
A Visita domiciliar é um dos instrumentos
2. Resposta: A. que potencializa as condições de conheci-
mento do cotidiano das famílias. Tem como
A visita domiciliar é um processo de traba- objetivo levar saúde para aqueles que não
lho que faz o diagnóstico local e a partir dele têm acesso ao serviço de saúde e realiza
pode apresentar sugestões de melhoria dos promoção à saúde e prevenção de agravos
serviços de saúde para a gestão. da doença

3. Resposta: A. 5. Resposta: D.
A visita domiciliar é para o reconhecimen- A integralidade é o atendimento às deman-
to da dinâmica familiar ,deve ser planeja- das e necessidades do usuário (visão inte-
da anteriormente e deve estar pautada nos gral do indivíduo), podendo ser um enca-
139/242
Gabarito
minhamento para um profissional dentro
dos diversos níveis de complexidade como
também para outros setores que não sejam
a área da saúde.

140/242
Unidade 6
Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia

Objetivos

1. Apresentar as políticas públicas de


tuberculose, saúde bucal e o progra-
ma do Hiperdia.
2. Discutir sobre a mudança do per-
fil epidemiológico de mortalidade na
população brasileira.
3. Refletir sobre a adequação dos ser-
viços de saúde para mudar o foco do
atendimento de doenças agudas para
atendimento de doenças crônicas

141/242
Introdução

Nas últimas décadas, a população brasileira impõem ao setor de saúde um cenário com
experimentou importantes mudanças em novos e grandes desafios (BRASIL, 2007)
seu padrão demográfico e epidemiológico. Convivemos com riscos e doenças dos sé-
Queda importante da fecundidade aliada culos IXX e XX que são doenças infecciosas
ao grande incremento da expectativa de e parasitárias e com os novos desafios em
vida e o aumento da relevância das doen- saúde do século XXI, que são as doenças
ças crônicas não transmissíveis e das cau- não transmissíveis (aumento do perfil da
sas externas são manifestações contempo- mortalidade da população brasileira), sen-
râneas dessas mudanças. Por outro lado, a do elas as neoplasias, causas externas, do-
persistência de antigos problemas de saúde enças ocupacionais e doenças do aparelho
pública e o aparecimento de novas formas circulatório.
de adoecer e morrer por doenças transmis-
síveis emergentes e reemergentes (doenças Superar o desafio das políticas públicas de
que já não eram mais consideradas proble- desenvolverem mais saúde do que doen-
ma de saúde pública por sua baixa incidên- ças em um país de grande extensão terri-
cia, mas que voltaram a apresentar altos torial, com uma população de mais de 210
números na população) adicionam comple- milhões de habitantes, com um sistema de
xidade a essa realidade. Todos esses fatos saúde universal e a diversidade cultural, só
é possível com uma Atenção Básica fortale-
142/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
cida e com gestores e profissionais da saúde Outro tópico que você verá nessa aula é a
comprometidos com o SUS (no nível muni- Política Nacional de Saúde Bucal. A saúde
cipal, estadual e federal). bucal esteve à margem das políticas públi-
Podemos ver que a tuberculose é uma do- cas de saúde e o acesso dos usuários era
ença milenar e que, ainda hoje, constitui limitado, fazendo com que as pessoas se
grave problema de saúde pública em todo o acostumassem a só procurar atendimen-
mundo, principalmente nos países de baixa to odontológico em casos de dor. A pouca
escolaridade e baixas condições sanitárias. oferta de serviços de saúde bucal e a pro-
Com o advento do HIV/Aids e as imigrações cura somente para atendimento de emer-
(refugiados), países de melhor renda, que gência refletiu que o principal tratamento
estavam com a doença controlada, pas- oferecido pela rede pública fosse a extração
saram a ter uma doença reemergente. No dentária, perpetuando a visão de mutilação,
Brasil, a proposta de descentralização das sem prevenção e promoção da saúde bucal
ações de controle da doença vem ocorren- (BRASIL, 2016).
do e evidenciando os Programas de Agentes
Comunitários de Saúde e Saúde da Família Também visando às mudanças epidemioló-
como estratégia capaz de contribuir para o gicas e ao avanço do Sistema Único de Saú-
controle da endemia de tuberculose no país de, o acompanhamento longitudinal das fa-
(FREGONA, 2008). mílias prioritárias na Estratégia de Saúde da
143/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
Família vem sendo cada vez mais uma prá- 1. Tratamento Supervisionado
tica. O Hiperdia é um sistema de cadastra- da Tuberculose pela Estratégia
mento e acompanhamento do hipertenso de Saúde da Família
e do diabético. Hoje, com as alterações de
sistema para municípios informatizados, já A tuberculose foi uma doença negligencia-
está inserido no e-SUS. da devido a ser mais frequenteem países de
baixa renda, onde não se favorece um alto
lucro das empresas farmacêuticas. A falta
de investimento para a erradicação da do-
ença contribui para o aumento da incidên-
cia no mundo e somente foi destaque de
discussão após a mobilização da Organiza-
ção Mundial da Saúde (Wanderley, 2010).
No plano político, o Ministério da Saúde tem
tido decisiva atuação desde que, em 2003,
elegeu a tuberculose como problema prio-
ritário de saúde pública a ser combatido. As
melhores medidas de prevenção e de con-
144/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
trole da tuberculose são o diagnóstico pre- de pesquisadores na elaboração de novas
coce e o tratamento do paciente até a cura. estratégias e tecnologias e reforço das já
Outras medidas de prevenção importantes existentes e que apresentam bons resulta-
incluem a vacinação Bacilo Calmette-Gué- dos para o controle da tuberculose (BRASIL,
rin (BCG), o tratamento da infecção laten- 2017).
te pelo M. tuberculosis (ILTB) e o controle de
contatos ou comunicantes (BRASIL, 2011). 1.1. Sobre a Tuberculose
A Estratégia pelo Fim da Tuberculose, apro-
A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa
vada em 2014 na Assembleia Mundial de
e transmissível que afeta prioritariamente
Saúde, tem como objetivo o fim da epidemia
os pulmões, mas pode acometer diversas
global da tuberculose. As metas para cum-
partes do organismo, neste caso sendo cha-
primento desse objetivo até o ano de 2035
mada de tuberculose extrapulmonar (exem-
são: reduzir o coeficiente de incidência para
plo: tuberculose cerebral), que é a forma
menos de 10 casos por 100 mil habitantes e
mais grave. Os sintomas mais comuns da TB
reduzir o número de óbitos por tuberculose
pulmonar são: tosse persistente produtiva
em 95%. Para alcançarmos esses objetivos,
(muco e eventualmente sangue) ou não, fe-
são necessários empenho de gestores, de
bre, sudorese noturna e emagrecimento.
profissionais de saúde, da sociedade civil e
145/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
Anualmente, são notificados cerca de 10 a ficha de investigação epidemiológica da
milhões de novos casos em todo o mun- tuberculose, em que o profissional de saúde
do, levando mais de um milhão de pessoas realiza visita domiciliar para busca de co-
a óbito. O surgimento da Aids e o apareci- municantes (isto é, toda pessoa que convi-
mento de focos de tuberculose resisten- ve no mesmo ambiente com o caso índice
te aos medicamentos agravam ainda mais no momento do diagnóstico da TB) e re-
esse cenário (BRASIL, 2017). forçar a adesão do paciente ao tratamento.
Após o diagnóstico confirmado, a família
passa a ser prioritária e o acompanhamento
dela passa a ser mais próximo pelo Agente
Comunitário de Saúde e pelos demais inte-
grantes da equipe.
Para a notificação compulsória da tuber-
culose é necessário utilizar um impresso
próprio para ser enviado à Vigilância Epi-
demiológica Municipal. A ficha Sinan deve
ser aberta e após isso deve ser preenchida

146/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


Figura 6. Condições sanitárias e de moradia que propiciam a transmissão de tuberculose

Fonte: <http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/11/09/epidemia-de-tuberculose-no-
-bairro-da-rocinha-preocupa-as-autoridades/>. Acesso em: 5 set. 2017.

147/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


1.2 Controle dos Contatos ou Comunicantes
A visita domiciliar para a busca de comunicantes é uma atividade do programa da tuberculose
para prevenir o adoecimento e diagnosticar precocemente casos novos de doença. Na visita do-
miciliar, o profissional de saúde deve investigar se o domicílio é arejado e as condições de higie-
ne, avaliar as carteiras vacinais (busca da BCG) e fazer a busca de sintomáticos respiratórios no
domicílio ou demais espaços de convivência do doente.
Todos os comunicantes devem ser convocados para a consulta e realizar o exame de bacilosco-
pia (exame de escarro) e RX. A família é orientada sobre a importância do controle da doença.

Para saber mais


Contato ou comunicantes é definido como toda
pessoa que convive no mesmo ambiente com o
caso índice no momento do diagnóstico da TB.
Esse convívio pode se dar em casa, em ambientes
de trabalho, instituições de longa permanência,
escola ou pré-escola (BRASIL, 2011).

148/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


1.3 Tratamento medicamentos, duração e regime de trata-
mento, benefícios do uso regular dos medi-
A tuberculose é uma doença curável, desde
camentos, possíveis consequências do uso
que sejam obedecidos os princípios básicos
irregular dos remédios e eventos adversos
da terapia medicamentosa (associação me-
(BRASIL, 2017).
dicamentosa adequada, doses corretas e
uso por tempo suficiente) e que haja a ade- A seguir veja o esquema básico para casos
quada operacionalização do tratamento. novos de tuberculose.
O tratamento da tuberculose é oferecido
gratuitamente pelo Sistema Único de Saú-
de e dura no mínimo seis meses e, nesse
período, o estabelecimento de vínculo en-
tre profissional de saúde e usuário é funda-
mental para que haja adesão do paciente
ao tratamento e assim se reduzam as chan-
ces de abandono para se alcançar a cura. O
paciente deve ser orientado, de forma cla-
ra, quanto às características da tuberculo-
se e do tratamento a que será submetido:
149/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
Tabela 2. Esquema básico de tratamento de tuberculose

Fonte: <https://pt.slideshare.net/psfvilarvilarcarioca/tuberculose-dots-16049920>. Acesso em: 5 set. 2017.

150/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


1.2 Tratamento Diretamente tamento; interromper a transmissão da do-
Observado – TDO ença; reduzir a mortalidade e realizar uma
educação em saúde mais efetiva para o in-
O Tratamento Diretamente Observado da divíduo e para a família (BRASIL, 2011).
tuberculose é um processo de trabalho que É necessária uma organização dos registros
supervisiona a ingestão da medicação pelo e das informações dos usuários sob inves-
paciente de segunda a sexta-feira. A super- tigação e em tratamento da tuberculose.
visão pode ser realizada pelos profissionais: Para o acompanhamento do TDO, existe
enfermeiro, técnico e auxiliar de enferma- uma ficha que deve ser preenchida diaria-
gem e agente comunitário de saúde. Nos mente após a ingestão do medicamento.
finais de semana, não é necessário realizar Todos os impressos da tuberculose devem
a supervisão, fica à responsabilidade do pa- ser registrados apropriadamente e todas as
ciente e/ou família. A supervisão pode ser ações realizadas devem constar em pron-
realizada na UBS mais próxima, no trabalho tuário (os motivos das ausências também
e também no domicílio. devem ser informados). As consultas devem
Objetivos do TDO: acolhimento humani- ser garantidas na agenda dos profissionais,
zado; garantir a adesão do tratamento e a por ser uma prioridade.
cura da doença; reduzir o abandono do tra- A Vigilância Epidemiológica Municipal tam-
151/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
bém tem um papel fundamental de apoia- Sintomático Respiratório, visando à des-
dor na Atenção Básica, pois realiza super- coberta de novos casos de tuberculose. A
visões para a melhoria da qualidade do busca ativa do Sintomático Respiratório
acompanhamento e das informações so- (SR) tem sido uma estratégia recomenda-
bre a doença. da internacionalmente e deve ser realizada
Os pacientes que cumprirem o esquema de permanentemente pelos serviços de saúde
tratamento de TDO e que estiverem dentro (BRASIL, 2011).
do critério do programa social podem rece-
ber uma cesta básica para o auxílio alimen-
tar (BRASIL, 2014).

1.3 Busca Ativa de Sintomáticos


Respiratórios

Trata-se de uma atividade de saúde públi-


ca orientada para identificar precocemente
pessoas com tosse por tempo igual ou su-
perior a três semanas, correspondendo ao
152/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
Nos serviços de Estratégia de Saúde da Família, o ACS realiza a investigação de Sintomáticos
Respiratórios nas visitas mensais. Também realizam mutirões nos parques, nos locais que te-
nham perfil epidemiológico para encontrar novos casos, como canteiro de obras.

1.4 Educação Permanente e Campanhas de Combate à Tuberculose

A Capacitação dos profissionais de saúde sobre o programa de controle da Tuberculose na sua


admissão e periodicamente é fundamental para o controle da doença.

153/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


Figura 7. Folheto de divulgação para prevenção e diagnóstico da tuberculose.

Fonte: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_sau-
de/pecas_graficas/index.php?p=6755>. Acesso em: 5 set. 2017.

154/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


Todos os anos, o Ministério da Saúde realiza As principais ações do “Brasil Sorridente”
uma campanha de combate da tuberculose são: a implantação das Equipes de Saúde
para alertar a importância de aderir e com- Bucal (ESB) na Estratégia de Saúde da Famí-
pletar o tratamento contra a doença, que lia e a implantação de Centros de Especiali-
tem duração de pelo menos seis meses. A dades Odontológicas (CEO) e de Laborató-
campanha enfatiza que a responsabilidade rios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD).
do tratamento deve ser compartilhada por
paciente, equipe de saúde, família e amigos.

2. Programa de Saúde Bucal

A política nacional da saúde bucal, chama-


da de “Brasil Sorridente”, tem mudado a
Atenção da Saúde Bucal no Brasil, com am-
pliação do acesso gratuito ao tratamento
odontológico pelo SUS, garantindo ações
de promoção, prevenção e recuperação da
saúde bucal da população brasileira (BRA-
SIL, 2017).
155/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
A Equipe de Saúde Bucal na Estratégia DE Existem duas modalidades de saúde bucal
Saúde da Família é um espaço de práticas na ESF segundo Brasil (2012): ESB Modali-
e relações a serem construídas para a reo- dade I: composta por cirurgião-dentista
rientação do processo de trabalho e para a (CD) e auxiliar de consultório dentário (ACD)
própria atuação da saúde bucal no âmbito e ESB Modalidade II: composta por CD, ACD
dos serviços de saúde. O processo de traba- (Auxiliar de Consultório Dentário) e Téc-
lho das ESB fundamenta-se nos princípios nico em Higiene Dental (THD). As equipes
da universalidade, da equidade, da integra- da ESB Modalidade I e II podem desenvol-
lidade da atenção, do trabalho em equipe ver parte de suas atividades em Unidade
e interdisciplinar, do foco de atuação cen- Odontológica Móvel (UOM).
trado no território-família-comunidade, da
humanização da atenção, da responsabili-
zação e do vínculo (BRASIL, 2017).

156/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


A ESB faz parte da equipe da Estratégia de Nas agendas devem estar garantidas as va-
Saúde da Família e, portanto, as ações de gas de gestantes de primeira consulta e dos
promoção à saúde dentro da comunidade, pacientes prioritários (hipertensos, diabé-
da escola e de creches, por exemplo, devem ticos, crianças menores de 1 ano), a parti-
ser planejadas nas reuniões de equipe. A cipação da reunião com a equipe Nasf( Nú-
principal porta de entrada do usuário para cleo de Apoio da Saúde da Família), a parti-
o atendimento de saúde bucal é a triagem cipação de grupos educativos em conjunto
familiar, ou seja, são convocados todos os com os demais profissionais da saúde nos
membros de uma família para serem ava- grupos de gestantes, crianças, saúde men-
liados. tal etc.
Para os pacientes que só comparecem nos
atendimentos de urgência, é realizada uma
visita domiciliar para explicar o fluxo de saú-
de bucal. Devido ao alto número de absen-
teísmo, a equipe da ESF realiza orientações
na comunidade para diminuir as faltas nas
consultas odontológicas.

157/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


Figura 8. Atividade de Saúde Bucal na escola

Fonte: <http://saude.to.gov.br/noticia/2015/9/10/acoes-de-escovacao-dental-supervisio-
nada-estao-em-133-municipios-tocantinenses/>. Acesso em: 5 set. 2017.

As campanhas de prevenção de câncer de saúde bucal acontecem anualmente. A saúde bucal


trabalha com a integralidade dos casos mais complexos e na reabilitação protética na Atenção
Básica, principalmente para a avaliação de necessidade de prótese para idosos.
158/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
É imprescindível que a equipe de saúde bu- 3. Hiperdia
cal não esteja restrita ao consultório, eles
devem realizar atividades extramuros e vi- O Hiperdia destina-se ao cadastramento e
sita domiciliares. ao acompanhamento de portadores de hi-
pertensão arterial e/ou diabetes mellitus
As crianças em idade escolar realizam a tria-
atendidos na rede ambulatorial do Sistema
gem na escola e os técnicos de saúde bucal
Único de Saúde, permitindo gerar informa-
e dentistas realizam escovação supervisio-
ção para aquisição, dispensação e distri-
nada e aplicação de flúor.
buição de medicamentos de forma regular
e sistemática a todos os pacientes cadas-
trados. O sistema envia dados para o Car-
tão Nacional de Saúde, funcionalidade que
garante a identificação única do usuário do
Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2017).
Uma das ações da Estratégia de Saúde da
Família para pacientes hipertensos e diabé-
ticos é a avaliação dos riscos cardiovascu-
lares. Um dos cálculos utilizados pelos pro-
159/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
fissionais de saúde para a avaliação de risco cardiovascular é o escore de risco de Framingham.
O cálculo é diferenciado para homens e mulheres. A seguir a figura representa os dados neces-
sários para avaliação.
Tabela 3. Avaliação de risco cardiovascular

Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/285424/>. Acesso em: 5 set. 2017.


160/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia
Utilizando o escore de Framingham, os profissionais da saúde podem definir quais são os pa-
cientes que necessitam de maior atenção por parte da equipe de saúde (risco baixo, moderado
e alto de doença cardiovascular).
Não se esquecer de avaliar as crianças, os adolescentes, as gestantes e os portadores de hi-
pertensão arterial e/ou diabetes.
Outras ações de saúde que as equipes podem realizar no desenvolvimento do projeto Hiperdia
são: os grupos terapêuticos, as atividades físicas em grupo (caminhadas, grupo de danças e
alongamentos), os trabalhos na comunidade de orientação em saúde (em igrejas, centros co-
munitários e escolas) e as ações para uma alimentação saudável.

161/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


Glossário
ACD: Auxiliar de Consultório Dentário.
CD: Cirurgião Dentista.
ESB: Equipe de Saúde Bucal.Hiperdia: é um sistema de cadastramento de hipertensos e diabéti-
cos.
Sinan: Sistema de Informação de Agravos e Notificações.
TDO: Tratamento Diretamente Observado.
THD: Técnico em Higiene Dental.
UOM: Unidade Odontológica Móvel.

162/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


?
Questão
para
reflexão

A tuberculose é uma doença milenar, com tratamento


curável. Por que você acha que essa doença ainda não
foi erradica?

163/242
Considerações Finais

• O desafio das políticas públicas em desenvolver mais saúde do que doenças


em um país de grande extensão territorial, com uma população de mais de
210 milhões de habitantes, com um sistema de saúde universal e diversida-
de cultural, só é possível com uma Atenção Básica fortalecida e com gesto-
res e profissionais da saúde comprometidos com o SUS (no nível municipal,
estadual e federal).
• A saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família tem uma proposta volta-
da para ações de promoção e proteção de saúde, prevenção e controle de
câncer bucal, ações de recuperação, atendimento de urgência por meio do
acolhimento; também trabalham a integralidade nos casos mais complexos
e a reabilitação protética na Atenção Básica.
• Os objetivos do TDO são: o acolhimento humanizado; garantir a adesão ao
tratamento e a cura da doença; reduzir o abandono do tratamento; inter-
romper a transmissão da doença; reduzir a mortalidade e realizar educação
em saúde mais efetiva para o indivíduo e a família.
164/242
Considerações Finais (2/2)
• Umas das ações da Estratégia de Saúde da Família para pacientes hiperten-
sos e diabéticos são avaliar os riscos cardiovasculares pelo método de esco-
re de risco de Framingham e o cadastramento no Hiperdia/e-SUS.

165/242
Referências

BRASIL. Departamento de Atenção Básica. Brasil sorridente. Portal da Saúde, Brasília, 2017.
Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_brasil_sorridente.php>. Acesso em: 4
ago. 2017.
BRASIL. Tuberculose. Portal da Saúde, Brasília, 2017. Disponível em: <http://portalsaude.saude.
gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/tuberculose>. Acesso em: 3 ago. 2017.

BRASIL. Vacinação: tuberculose. Portal da Saúde, 9 abr. 2014. Disponível em: <http://portalsaude.
saude.gov.br/index.php/portarias-esclarecimentos/743-o-ministerio/o-ministerio-principal/sec-
retaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/tuberculose/l2-tuberculose>. Acesso em: 11 ago. 2017.

BRASIL. Entenda melhor o sistema e-SUS AB. Portal da Saúde. Disponível em: <http://dab.saude.
gov.br/portaldab/esus.php?conteudo=o_sistema>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Tuberculose. Portal SINAN. Disponível em: <http://portalsinan.saude.gov.br/tubercu-


lose>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Passo a passo das ações de Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília: Ministério da
Saúde, 2016. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/passo_a_
passo_ceo.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2017.

166/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Prevenção clínica de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. Brasília: Ministério
da Saúde, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad14.pdf>. Aces-
so em: 6 set. 2017.
BRASIL. Redefine a composição das Equipes de Saúde Bucal da Estratégia Saúde da Família con-
stante na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Portaria nº 3012, de 26 de dezembro de
2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt3012_26_12_2012.
html>. Acesso em: 4 ago. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/
docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad24.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Ep-


idemiológica. Tratamento diretamente observado (TDO) da tuberculose na atenção básica:
protocolo de enfermagem. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. 168 p. (Série F. Comunicação e
Educação em Saúde). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/tratamento_
diretamente_observado_tuberculose.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

167/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Vigilância em Saúde. Brasília: CONASS,
2007.
FREGONA, Geisa. Contribuição da Estratégia Saúde da Família para o Controle da Tuberculose
no Espírito Santo. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2008/gei-
sa_fregona.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2017.

SOUZA, Wanderly de (Coord.). Doenças negligenciadas. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de


Ciências, 2010. Disponível em: <https://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-199.pdf>. Acesso em: 4
ago. 2017.

168/242 Unidade 6 • Tratamento Supervisionado da Tuberculose. Saúde Bucal. Hiperdia


Questão 1
1. A notificação compulsória de um caso novo de tuberculose é responsabi-
lidade:

a) Exclusiva dos enfermeiros.


b) Exclusiva dos médicos e enfermeiros.
c) Exclusiva dos médicos, enfermeiros e dentistas.
d) Qualquer profissional de saúde pode realizar.
e) Exclusiva do técnico de enfermagem.

169/242
Questão 2
2. Um usuário do sexo masculino, de 46 anos, trabalha como pedreiro, faz
uso de álcool e de uma alimentação inadequada; recebeu diagnóstico re-
cente de tuberculose pulmonar. São atribuições da equipe de ESF no aten-
dimento ao paciente com tuberculose:

I. Realizar o acolhimento do paciente, garantindo o acesso ao tratamento de tuberculose na


UBS mais próxima de sua residência.
II. O Tratamento Diretamente Observado (TDO) são para os pacientes que apresentam di-
ficuldades físicas e mentais e necessitam da supervisão do profissional de saúde para a
ingestão do medicamento.
III. A equipe deve realizar visita domiciliar para a busca ativa de comunicantes e investigar
todos os locais onde o doente convive para realizar a busca de Sintomáticos Respiratórios.
IV. A alta por cura de tuberculose pulmonar é dada pela avaliação clínica do paciente, sem
necessidade de controle de exames.

170/242
Questão 2
Sobre as afirmações acima, a sequência correta das respostas é:
a) V,V,V,V.
b) V,F,V,F
c) V,V,F,F.
d) F,F,V,V.
e) F,F,F,F.

171/242
Questão 3
3. A tuberculose é uma doença infectocontagiosa em que os órgãos mais
afetados são os pulmões, mas pode acometer ainda os rins, a pele, os os-
sos e os gânglios (forma grave da doença). A vacina que previne a tuber-
culose é:

a) SCR.
b) MMR.
c) VOP.
d) DTP.
e) BCG.

172/242
Questão 4
4. Sobre a saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família:

I. Tem uma proposta voltada para ações de promoção e proteção de saúde, prevenção e con-
trole de câncer bucal, ações de recuperação.
II. Realiza o atendimento de urgência por meio do acolhimento.
III. Realiza o trabalho da integralidade nos casos mais complexos e a reabilitação protética na
Atenção Básica, sem a necessidade de estabelecer um vínculo territorial.
Assinale a sequência correta:
a) V,V,V.
b) V,F,V.
c) V,V.F.
d) F,F,V.
e) F,F,F.

173/242
Questão 5
5. Sobre a prevenção primária da Hipertensão Arterial Sistêmica:

I. Pode ser feita mediante controle de seus fatores de risco, como sobrecarga na ingestão de
sal, excesso de adiposidade, especialmente na cintura abdominal.
II. Pode ser feita através de atividades físicas regulares.
III. O cigarro não é um fator de risco para hipertensão arterial.
Assinale a sequência correta:
a) V,V,V.
b) V,F,V.
c) V,V.F.
d) F,F,V.
e) F,F,F.

174/242
Gabarito
1. Resposta: D. 4. Resposta: C.
Todos os profissionais da saúde podem rea- A equipe de saúde bucal tem um território
lizar a notificação. definido.

2. Resposta: B. 5. Resposta: C.
O TDO é para todos os pacientes e a alta por A afirmação está correta, pois a prevenção
cura será dada se, durante o tratamento, o primária da Hipertensão Arterial Sistêmica
paciente apresentar duas baciloscopias ne- (HAS) pode ser feita mediante controle de
gativas: uma na fase de acompanhamento e seus fatores de risco, como sobrecarga na
outra no final do tratamento (cura). ingestão de sal, excesso de adiposidade, es-
pecialmente na cintura abdominal, abuso
3. Resposta: E. de álcool, entre outros. O cigarro é fato de
risco para hipertensão.
A vacina BCG previne contra a tuberculose.

175/242
Unidade 7
Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família

Objetivos

1. Apresentar as políticas públicas, para me-


lhorar o acesso à saúde na Atenção Bási-
ca, formuladas a partir dos indicadores de
saúde levantados.
2. Apresentar os sistemas de informação que
geram indicadores para o planejamento
de ações de saúde.
3. Descrever sobre os indicadores da Estra-
tégia de Saúde da Família.
4. Refletir sobre a importância do controle
social e da comunicação entre o usuário e
a gestão por meio do sistema de ouvidoria.
176/242
Introdução
Um dos grandes desafios de um país de controle do câncer de colo de útero e de
grande extensão territorial com uma popu- mama; redução da mortalidade infantil e
lação de mais de 210 milhões de habitantes materna; fortalecimento da capacidade de
é levar saúde para todos os municípios do respostas às doenças emergentes e ende-
país. É um desafio que vem sendo superado mias, com ênfase na dengue, hanseníase,
a cada década. Com os indicadores epide- tuberculose, malária, influenza, hepatite e
miológicos e determinantes sociais, o Mi- aids; promoção da saúde; fortalecimento da
nistério da Saúde realiza ações estratégicas atenção básica; saúde do trabalhador; saú-
muito significativas, levando saúde aos que de mental; fortalecimento da capacidade
mais necessitam. de resposta do sistema de saúde às pessoas
Por meio dos dados de saúde da realidade com deficiência; atenção integral às pesso-
brasileira, em 2006 foi formulado o pacto as em situação ou risco de violência e saúde
pela vida. O pacto pela vida foi um compro- do homem (BRASIL,2008).
misso entre os gestores do SUS em torno de
prioridades que apresentam impacto sobre
a situação de saúde da população brasilei-
ra. Em 2008, foram ampliadas as priorida-
des pactuadas: atenção à saúde do idoso;

177/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


No ano de 2017, os indicadores de vigilância em saúde, relacionados a diretrizes nacionais, são
compostos por 11 indicadores universais (de pactuação comum e obrigatória) e 1 indicador es-
pecífico (de pactuação obrigatória quando forem observadas as especificidades no território). As
fichas de qualificação dos indicadores estão padronizadas e elaboradas para cada um dos indi-
cadores de vigilância.
Toda gestão, mesmo sendo local, segue as diretrizes pactuadas no município. No caso da Aten-
ção Básica com Estratégia de Saúde da Família, ela ainda pode ser ampliada. As equipes da ESF
são os agentes de mudança no seu território, pois conhecem as necessidades dos usuários e en-
tendem o contexto em que atuam, sendo ideal para ajudar a transformar a realidade local.

1. Políticas Públicas para Acesso à Saúde

O Estado só age por meio das políticas públicas. As políticas públicas são idealizadas e realizadas
por intermédio da gestão dos indicadores, por eles é que os departamentos estabelecem suas
prioridades de ação de saúde. As gestões dos indicadores podem ir além de um departamento,
ou seja, a utilização transversal dos dados, em que várias secretarias se reúnem para discutir o
mesmo tema.

178/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


1.1 UBS Fluviais to a outros profissionais. (BRASIL, 2017).

As UBS Fluviais (UBSF) foram idealizadas 1.2. Programa Mais Médicos


para a população ribeirinha que tem apenas
as vias fluviais de transporte como aces- O programa Mais Médicos surgiu pela defi-
so. Avaliou-se a necessidade de ampliar às ciência de alocar médicos em locais de difí-
ações e serviços de Atenção Básica e quali- cil acesso e de extrema pobreza. Em apenas
ficar o acesso dessas populações, dispersas dois anos, toda a demanda das prefeituras
e distantes no território brasileiro. que aderiram ao Programa foi atendida e,
com isso, 63 milhões de brasileiros e bra-
As UBSF funcionam 20 dias por mês em área
sileiras foram beneficiados com a presença
delimitada para atuação, compreendendo
dos médicos em 4.058 municípios do Brasil.
o deslocamento fluvial até as comunidades
O Ministério da Saúde estima que, até o fi-
e o atendimento direto à população ribeiri-
nal de 2018, serão 70 milhões de brasileiros
nha. Nos outros dias, a embarcação fica an-
e brasileiras atendidos pelo Mais Médicos
corada em solo, na sede do município, para
(BRASIL, 2015).
que as equipes possam fazer atividades de
planejamento e educação permanente jun-

179/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


1.3. Tratamento à População em parceria com as equipes das Unidades Bá-
Situação de Rua sicas de Saúde do território (BRASIL, 2017).
Na Estratégia de Saúde da Família, os mo-
A estratégia Consultório na Rua foi instituí-
radores de rua do território também fazem
da pela Política Nacional de Atenção Básica,
parte da população e devem estar integra-
em 2011, e visa ampliar o acesso da popula-
dos ao atendimento de portadores de do-
ção em situação de rua aos serviços de saú-
enças agudas e crônicas.
de, ofertando, de maneira mais oportuna,
atenção integral à saúde para esse grupo
2. Gestão de Indicadores por
populacional, o qual se encontra em con-
dições de vulnerabilidade e com os vínculos meio do Sistema de Informação
familiares interrompidos ou fragilizados. de Saúde
Chamamos de Consultório na Rua as equi-
Os indicadores são medidas-síntese que
pes multiprofissionais que desenvolvem
contêm informação relevante sobre deter-
ações integrais de saúde diante das neces-
minados atributos e dimensões do estado
sidades dessa população. Elas devem rea-
de saúde, bem como do desempenho do
lizar suas atividades de forma itinerante e,
sistema de saúde. Vistos em conjunto, de-
quando necessário, desenvolver ações em
vem refletir a situação sanitária de uma po-
180/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família
pulação e servir para a vigilância das condi- cessos de formulação, gestão e avaliação
ções de saúde. A construção de um indica- de políticas e ações públicas de importância
dor é um processo cuja complexidade pode estratégica para o sistema de saúde brasi-
variar desde a simples contagem direta de leiro (BRASIL, 2012).
casos de determinada doença até o cálculo Os indicadores utilizados são: os demográ-
de proporções, razões, taxas ou índices mais ficos, os socioeconômicos, a mortalidade, a
sofisticados, como a esperança de vida ao morbidade e o fator de risco, os recursos e a
nascer (BRASIL, 2008). cobertura (BRASIL, 2008).
A Rede Interagencial de Informações para Existem diversos sistemas de informações
a Saúde (Ripsa) foi criada pela iniciativa do de saúde em que é obrigatório o preenchi-
Ministério da Saúde e da Organização Pan- mento nos municípios, os principais são:
-Americana de Saúde, que reúne institui-
ções representativas dos segmentos téc- Sinasc – O Sistema de Informação sobre
nico-científicos diretamente envolvidos na Nascidos Vivos tem por objetivo reunir in-
produção e análise de dados de interesse formações relativas aos nascimentos ocor-
para a saúde no país. Seu propósito é sub- ridos em todo o território nacional.
sidiar, com informações relevantes, os pro-

181/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


SIM – O Sistema de Informações sobre Mor- e-SUS AB – O e-SUS AB tem por objetivos
talidade é um sistema de vigilância epide- reestruturar e integrar as informações da
miológica nacional, cujo objetivo é captar Atenção Básica em nível nacional. As pos-
dados sobre os óbitos do país a fim de for- sibilidades de utilização da estratégia se
necer informações sobre mortalidade para adaptam à realidade dos municípios, espe-
todas as instâncias do sistema de saúde. O cialmente no que diz respeito à informati-
documento de entrada do sistema é a De- zação e à conectividade das Unidades Bási-
claração de Óbito (DO), padronizada em cas de Saúde.
todo o território nacional. Sispacto – O Sispacto é o sistema que per-
Sinan – O Sinan tem por objetivos o registro mite o registro de metas pactuadas por mu-
e o processamento dos dados sobre agravos nicípios, regiões de saúde, estados e o Dis-
de notificação em todo o território nacional, trito Federal.
fornecendo informações para a análise do O Ministério da Saúde necessita de que es-
perfil da morbidade e contribuindo, desta ses sistemas sejam alimentados para o pla-
forma, para a tomada de decisões em nível nejamento das ações futuras e para apre-
municipal, estadual e federal. sentar novas propostas de políticas públicas
ou mesmo para alterar as existentes.

182/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


3. Gestão de Indicadores da Saú- Adulto: hipertensão arterial, diabetes melli-
de na Estratégia de Saúde da Fa- tus, tuberculose, hanseníase e óbito por vio-
mília lência.
O cadastro familiar é uma ferramenta fun-
Na Estratégia de Saúde da Família, as equi- damental para a avaliação dos indicadores
pes devem avaliar os seguintes indicadores, de saúde, pois é por meio dele que as equi-
segundo Brasil (2004): pes podem ter a definição da população da
Criança: desnutrição, doenças diarreicas, área adscrita, saber como as famílias estão
infecções respiratórias agudas, óbito em organizadas socialmente e o fortalecimento
menores de 28 dias, óbito em menores de do vínculo.
1 ano, óbito por doença diarreica, óbito por As secretarias municipais de saúde ou a
infecção respiratória aguda, hospitaliza- própria equipe desenvolvem planilhas para
ções por desidratação e hospitalizações por facilitar o acompanhamento das famílias.
pneumonia. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
Mulher: gestação de risco, câncer de colo de apresentam as listagens dos usuários con-
útero e óbitos de mulheres em idade fértil. forme as prioridades em que eles estão ca-

183/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


dastrados. A planilha contém os nomes dos dados ainda com mais detalhes. Os demais
usuários, o número da família e as demais programas (Siab, Hiperdia, SISPré-Natal)
informações que são necessárias conforme serão inseridos e substituídos no e-SUS AB.
a prioridade (hipertensos, diabéticos, ges- Assim, essa modalidade também contribui
tantes, obesos, com problemas na saúde para desburocratizar e dar maior agilidade
mental, acamados etc.). A equipe pode de- ao atendimento na AB, pois o profissional
senvolver a planilha que se adequar ao seu precisará preencher menos fichas.
município, que deve ser monitorada men- O Programa de Melhoria do Acesso e da
salmente. Cada ACS deve ter os números Qualidade (Pmaq) tem como objetivo in-
das prioridades e conhecer todas. centivar os gestores e as equipes a melho-
Outro modo de realizar o acompanhamen- rar a qualidade dos serviços de saúde ofe-
to das prioridades é por meio do sistema recidos aos cidadãos do território. Para isso,
de informação. O e-SUS Atenção Básica propõe um conjunto de estratégias de qua-
(AB) é o novo sistema da AB que substitui lificação, acompanhamento e avaliação do
o Siab. Esse sistema ainda não está forne- trabalho das equipes de saúde. As equipes,
cendo relatórios como o sistema Siab for- ao aderirem ao programa, realizam uma
necia, porém já estão realizando os ajustes discussão ampla sobre os processos de tra-
para que em breve esse sistema forneça os balho e fazem o planejamento, fato que faz
184/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família
sentido para a equipe e enriquece muito os do, deliberativo e permanente do Sistema
resultados (BRASIL, 2012). Único de Saúde (SUS) em cada esfera de
governo. O conselho realiza a fiscalização
O programa eleva o repasse de recursos do
das ações dos serviços de saúde e dos con-
incentivo federal para os municípios parti-
tratos de gestão realizados nos municípios,
cipantes que atingirem melhora no padrão
como também avaliam o orçamento anual e
de qualidade no atendimento. a prestação de contas a cada trimestre para
A devolutiva dos indicadores de saúde é serem aprovados ou rejeitados. Eles avaliam
muito importante para as equipes, pois so- também se o município está cumprindo as
mente o fornecimento dos dados para ali- metas dos indicadores de saúde que foram
mentar o sistema fica sem sentido para o pactuados.
profissional de saúde. As devolutivas podem Os representantes são do segmento da ges-
ser realizadas nas reuniões gerais de discus- tão, dos usuários, dos profissionais de saúde
são da produção e dos indicadores de saúde. e dos prestadores de serviço. O segmento
dos usuários deve ser paritário com os de-
4. Controle Social – Participação mais segmentos. Isso quer dizer que 50%
Popular dos integrantes do conselho de saúde têm
que ser usuários, 25% devem ser profissio-
O conselho de saúde é um órgão colegia-
185/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família
nais de saúde e os outros 25% devem ser 5. Ouvidoria SUS
gestores e prestadores de serviço (BRASIL,
2012). Outro indicador de saúde, agora relaciona-
do à satisfação dos usuários, é a ouvidoria
É muito importante que os usuários do SUS
SUS. A Ouvidoria em Saúde constitui-se
participem do conselho local (conselho
num espaço estratégico e democrático de
gestor) e municipal (conselho municipal da
comunicação entre o cidadão e os gestores
saúde). A estratégia de saúde da família tem
do Sistema Único de Saúde, relativo aos ser-
um papel fundamental para realizar o con-
viços prestados. A Ouvidoria, como compo-
vite e a explicação nos domicílios da impor-
nente da Política Nacional de Gestão Estra-
tância desses conselhos serem atuantes.
tégica e Participativa, visa fortalecer os me-
O trabalhador da saúde também deve par- canismos de participação social e qualificar
ticipar do conselho de saúde para melhorar a gestão participativa do Sistema Único de
os processos de trabalho realizados no seu Saúde (SUS).
município.

186/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


Glossário
DO: Declaração de Óbito.
e-SUS AB: Sistema de Informação da Atenção Básica.
SIM: Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Sinasc: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.
Sinan: Sistema de Informação de Agravos de Notificações.
Sispacto: sistema que permite o registro de metas pactuadas por municípios, regiões de saúde,
estados e o Distrito Federal.
Pmaq: Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade.

187/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


?
Questão
para
reflexão

Como sabemos, é fundamental a devolutiva, para os pro-


fissionais da saúde, dos resultados da produção e das
metas atingidas ou não dos indicadores pactuados pelo
município. Essa devolutiva não acontece em todos os
municípios brasileiros, você pode sugerir o porquê? Como
os profissionais poderiam solicitar essa nova forma de
discutir saúde?

188/242
Considerações Finais

• O principal desafio do Brasil é levar saúde para todos os municípios do nosso


país, sendo um país de grande extensão territorial com uma população de
mais de 210 milhões de habitantes e com um sistema universal.
• As políticas públicas são idealizadas e realizadas por meio da gestão dos
indicadores, pois é por eles que os departamentos estabelecem suas priori-
dades de ação de saúde.
• Para ampliar o acesso à saúde no país, foram implantadas as seguintes po-
líticas públicas: UBS Fluviais, Programa Mais Médicos e Consultório de Rua.
• A gestão dos indicadores da Atenção Básica e da Estratégia de Saúde da
Família deve ser pactuada no município, mas pode ser ampliada conforme a
realidade local.
• A importância da participação popular e da ouvidoria para melhorar a qua-
lidade da assistência à saúde.

189/242
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselhos de saúde: a responsabilidade do controle social demo-


crático do SUS. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 28 p.
BRASIL. Indicadores e Dados Básicos – Brasil – 2012. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.
br/cgi/idb2012/matriz.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Lei 8.142 de 28/12/1990. Disponível
em: <http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8142_281290.htm>. Acesso em: 6 set. 2017.
BRASIL. Entenda melhor o sistema e-SUS AB. Portal da Saúde. Disponível em: <http://dab.saude.
gov.br/portaldab/esus.php?conteudo=o_sistema>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. UBS Fluvial. Portal da Saúde. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_


ubsf.php>. Acesso em: 7 ago. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Pro-


grama mais médicos – dois anos: mais saúde para os brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde,
2015. 128 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ): manu-
al instrutivo. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 62 p.

190/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


BRASIL. Estabelece prioridades, objetivos e metas do Pacto pela Vida para 2008, os indicadores
de monitoramento e avaliação do Pacto pela Saúde e as orientações, prazos e diretrizes para a
sua pactuação. Portaria nº 325, de 21 de fevereiro de 2008. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt0325_21_02_2008.html>. Acesso em: 5 ago. 2017.

BRASIL. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacio-
nais do Referido Pacto. Portaria nº 399, de 22 de fevereiro de 2006. Disponível em: <http://bvs-
ms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0399_22_02_2006.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Institui o Componente Construção de Unidades Básicas de Saúde Fluviais no âmbito do


Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde (UBS) aos Estados e aos Municípios da
Amazônia Legal e Pantanal Sul Matogrossense. Portaria nº 290, de 28 de fevereiro de 2013. Dis-
ponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0290_28_02_2013.html>.
Acesso em: 6 set. 2017.
BRASIL. Dispõe sobre a implementação do Projeto Mais Médicos para o Brasil. Portaria Intermi-
nisterial nº 1369, de 8 de julho de 2013. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudele-
gis/gm/2013/pri1369_08_07_2013.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

191/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


BRASIL. Define as diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua.
Portaria Interministerial nº 122, de 25 de janeiro de 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0122_25_01_2012.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

Brasil. Resolução nº 453, de 10 de maio de 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/


saudelegis/cns/2012/res0453_10_05_2012.html>. Acesso em: 5 ago. 2017.

BRASIL. II Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família. Avaliação da Atenção Básica: en-
contrando caminhos para a institucionalização. Brasília: s.n., jun. 2004. Disponível em: <http://
dab.saude.gov.br/docs/geral/apres_ii_mostra.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2017.
REDE Interagencial de Informação para a Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil:
conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008. 349 p.
SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo. Coordenadoria de Controle
de Doenças. Pactuação Interfederativa. Versão estadual. Fichas de Indicadores de Vigilância. [S.l.:
s.n.], 2017. Disponível em: <http://www.saude.sp.gov.br/resources/ccd/homepage/acesso-rapi-
do/sispacto/2017/ficha_ind_estadual_21_03_2017_versao_pdf.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

192/242 Unidade 7 • Gestão de Indicadores na Estratégia de Saúde da Família


Questão 1
1. O Pacto pela Vida é o compromisso entre os gestores do Sistema Único de
Saúde em torno de prioridades que apresentam impacto sobre a situação de
saúde da população brasileira. Estão entre as prioridades pactuadas, EXCETO:

a) Saúde do idoso.
b) Controle da leptospirose.
c) Redução da mortalidade infantil e materna.
d) Promoção da saúde.
e) Fortalecimento da atenção básica.

193/242
Questão 2
2. Avaliar a qualidade dos serviços prestados na atenção básica e receber
um incentivo financeiro para as equipes aderirem a este programa corres-
ponde ao objetivo do:

a) Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (Pmaq).


b) Programa Saúde na Escola (PSE).
c) Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs).
d) Núcleo de Apoio a Saúde da Família (Nasf).
e) Programa Mais Médicos.

194/242
Questão 3
3. Sobre o conjunto de sistemas de informação Sinasc, SIM, e-SUS e Sinan:

I. podem definir as estratégias básicas para intervenção e promoção da atenção integral à


saúde da criança.
II. podem definir as estratégias básicas para intervenção e promoção da atenção integral à
saúde do adulto.
III. podem definir as estratégias básicas para intervenção e promoção da atenção integral à
saúde do idoso.
É correto afirmar que:
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas a I está correta.
c) Apenas a II está correta.
d) II e III estão corretas.
e) Apenas a III está correta

195/242
Questão 4
4. Sobre a Lei 8142/90 do SUS, assinale a alternativa correta:

I. Trata-se de uma lei que amplia o acesso à saúde por meio da construção de UBS Fluviais.
II. Dispõe sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da
saúde.
III. É uma lei que define a participação social no SUS.
É correto afirmar que:
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas a I está correta.
c) Apenas a II está correta.
d) II e III estão corretas.
e) Apenas a III está correta

196/242
Questão 5
5. Sobre a ouvidoria:

I. A ouvidoria é um instrumento controlado pela gestão e tem o objetivo de acolher as recla-


mações dos trabalhadores do SUS sobre os processos de trabalho.
II. A ouvidoria é um instrumento controlado pela gestão e tem o objetivo de acolher as recla-
mações dos usuários sobre os serviços prestados.
III. A ouvidoria é um sistema municipal para acolher pessoas em situações de vulnerabilidades
sociais.
É correto afirmar que:
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas a I está correta.
c) Apenas a II está correta.
d) II e III estão corretas.
e) Apenas a III está correta

197/242
Gabarito
1. Resposta: B. 4. Resposta: D.
Não está pactuado o controle da leptospi- A Lei Nº 8142 de dezembro de 1990 dis-
rose. põe sobre a participação da comunidade na
gestão do Sistema Único de Saúde e sobre
2. Resposta: A. as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde e dá
O Pmaq tem o objetivo de melhorar o aces- outras providências.
so e a qualidade da Atenção Básica.
5. Resposta: C.
3. Resposta: A.
A ouvidoria é um instrumento controlado
Os sistemas de informação Sinasq, SIM, pela gestão e tem o objetivo de acolher as
e-SUS e Sinan podem definir as estratégias reclamações dos usuários.
básicas para intervenção e promoção da
atenção integral à saúde da criança.

198/242
Unidade 8
Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular

Objetivos

1. Apresentar as políticas públicas de


doenças crônicas.
2. Apresentar o cuidado multidisciplinar
para pacientes crônicos.
3. Apresentar o plano terapêutico sin-
gular desenvolvido pelas equipes de
Estratégia de Saúde da Família.

199/242
Introdução

As políticas públicas de doenças crônicas dade física, ao consumo de álcool, tabaco


são importantes temas que devem estar nas e alimentação inadequada, os dados refor-
pautas dos gestores de saúde, pois além da çam que o brasileiro deve investir na mu-
alta taxa de mortalidade, as sequelas dessas dança de hábitos e buscar, por exemplo, pa-
doenças podem ser irreparáveis. O tornar- rar de fumar, consumir alimentos saudáveis
-se deficiente físico (por uma amputação de como frutas, legumes e verduras, praticar
pé diabético, por exemplo) ou ficar acamado atividade física regularmente e diagnos-
e a perda de um rim (em que o usuário espe- ticar e controlar a hipertensão arterial e a
ra por um transplante fazendo hemodiálise) diabetes. (CEBES, 2010).
são consequências que podem ser evitadas
ou pelo menos ter os danos reduzidos.
As doenças da modernidade são as que mais
matam no Brasil. O perfil da mortalidade no
país mudou ao longo dos anos, acompa-
nhando a tendência mundial de mais mor-
tes por doenças crônicas e violentas. Como
as doenças crônicas estão ligadas à inativi-

200/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


O processo de mudança das ações na Aten-
Para saber mais ção Básica ainda não aconteceu em muitos
municípios brasileiros, pois mesmo os pro-
As doenças modernas e suas causas de morte po-
fissionais de saúde da Estratégia de Saú-
dem ser agrupadas em grandes grupos (circulató-
de da Família concentram suas principais
rias, respiratórias, neoplasias, causas externas) ou
ações nas consultas médicas e de enferma-
categorizadas por causas específicas. Em primei-
gem individuais focadas na medicalização.
ro lugar de causa de morte está o acidente vascu-
Quando ocorrem atividades em grupos, são
lar cerebral, vindo na sequência o infarto agudo
realizadas na maioria das vezes de forma
do miocárdio, a pneumonia, a diabetes, o homicí-
tradicional, sob a forma de palestras para
dio por armas de fogo, as doenças hipertensivas,
um conjunto de usuários (MENDES, 2012).
as bronquites (enfisemas e asma), o acidente de
transporte terrestre, a insuficiência cardíaca e o O matriciamento realizado pela equipe
câncer de pulmão. A depressão também é uma multiprofissional do Nasf é uma das formas
doença moderna e tem aumentado em grande de mudar o modo como as equipes devem
escala causando problemas secundários (como trabalhar com os usuários portadores de
embotamento social, nenhuma prática de ativi- doenças crônicas. O foco para prevenção
dades físicas), sendo já considerada uma doença das complicações dessas doenças, para
incapacitante. aqueles que estão no início da doença ou
201/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular
mesmo para os que não apresentam sinto- escolar. Não é somente a área da saúde que
mas, é fundamental. A mudança de com- deve ser responsável por criar essa mudan-
portamento pode não ter significado para ça do estilo de vida, as áreas da educação,
esses doentes, já que o ato de se alimentar, do esporte e da cultura também devem re-
de ingerir bebidas alcoólicas e o tabagismo alizar ações para prevenção dessas doenças
trazem muitos prazeres imediatos. A mu- por meio do incentivo à alimentação saudá-
dança do estilo de vida vai acontecendo aos vel e à eliminação do sedentarismo.
poucos, com muitas discussões multiprofis-
sionais, já para os usuários com maior resis- 1. Modelos de Atenção de Saú-
tência, o plano de intervenção deve ser mais de para Pacientes com Doenças
prolongado e sempre discutido com metas Crônicas e o Cuidado Multidisci-
alcançáveis. plinar
As políticas públicas de doenças crônicas
devem ser discutidas intersetorialmente, A mudança do cuidado por meio das equipes
isto é, vários setores se reúnem para achar de Estratégia de Saúde da Família já trouxe
estratégias que auxiliem na mudança do es- mudanças significativas nos indicadores de
tilo de vida, iniciando antes mesmo da fase saúde, e com a introdução das equipes mul-

202/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


tiprofissionais Nasf com matriciamento de 1.1 Modelo de Atenção às Con-
casos crônicos é possível alcançar resulta- dições Crônicas (Macc)
dos ainda melhores (MENDES, 2012).
As condições crônicas constituem proble-
A primeira atitude do gestor de saúde é a
mas complexos, portanto seu enfrenta-
criação de uma agenda para os profissio-
mento exige solução sistêmica. O Modelo
nais que promovam ações de promoção da
de Atenção às Condições Crônicas (Macc)
saúde e que haja vagas reservadas para as
foi desenvolvido a partir da integração dos
prioridades. As agendas devem conter es-
princípios de três modelos: o Modelo de
paços para atendimentos coletivos, visitas
Atenção Crônica proposto pelo MacColl Ins-
domiciliares, educação permanente, reuni-
titute for Health Care Innovation, o Modelo
ões de equipe e consultas compartilhadas
da Pirâmide de Riscos proposto pela Kaiser
com a equipe multiprofissional.
Permanente, e o Modelo da Determinação
Social da Saúde de Dahlgren e Whitehead
(MENDES, 2012).

203/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


Figura 8. O modelo de Atenção às condições crônicas

Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/1234173/>. Acesso em: 5 set. 2017.

204/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


Observe: na sequência da esquerda para a São fatores de risco modificáveis. As inter-
direita, das imagens abaixo do nível 1 da pi- venções assistenciais do campo da clínica
râmide Macc, estão as seguintes teorias: o relativas a esses fatores de risco são: pro-
Modelo da Pirâmide de Riscos, o Modelo de grama de reeducação alimentar, programa
Atenção Crônica e o Modelo da Determina- de atividade física, programa de controle de
ção Social da Saúde. álcool, programa de controle do tabagismo
Nível 1: incorpora as intervenções de pro- e outros (MENDES, 2012).
moção da saúde, na população total, em Nível 3: sobre fatores de risco individuais
relação aos determinantes sociais interme- biopsicológicos e condições crônicas me-
diários da saúde; as intervenções são rea- nos complexas: vacinação, rastreamento de
lizadas por meio de projetos intersetoriais condições de saúde, controle da hiperten-
(MENDES, 2012). são arterial, controle glicêmico, controle do
Nível 2: incorpora as intervenções de pre- colesterol, controle do sobrepeso/obesida-
venção das condições de saúde, em subpo- de, controle da depressão, prevenção qua-
pulações de risco em relação aos determi- ternária (MENDES, 2012).
nantes sociais proximais da saúde relativos Nível 4: sobre condições crônicas mais com-
aos comportamentos e aos estilos de vida. plexas; no nível 4, opera-se equilibradamen-

205/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


te entre o autocuidado apoiado e o cuidado 1.2. O Cuidado Compartilhado
profissional e, nesse nível, é que se neces- (Cuco)
sita de uma atenção cooperativa dos gene-
ralistas da ESF e dos especialistas (MENDES, O Cuidado Compartilhado (Cuco) é uma
2012). ferramenta de trabalho da APS voltada para
Nível 5: sobre as condições muito com- a mudança de comportamento e para au-
plexas, que são aquelas previstas na lei da mentar a qualidade da atenção à população
concentração dos gastos e da severidade com doenças crônicas. É uma tecnologia de
das condições de saúde que demonstra que atenção à saúde que engloba a avaliação e
uma parte pequena de uma população, em o monitoramento de pessoas portadoras de
função da gravidade de suas condições de doenças crônicas como depressão, diabetes
saúde, determina os maiores dispêndios dos e hipertensão, por uma equipe multiprofis-
sistemas de atenção à saúde. Além disso, sional de saúde, num processo coletivo, fo-
são as pessoas que mais sofrem. Por isso, as cada nas metas do cuidado (MOYSES, 2012).
necessidades desses indivíduos convocam A dimensão da atenção multiprofissional
uma tecnologia específica de gestão da clí- engloba um atendimento conjunto de pes-
nica, a gestão de caso (MENDES, 2012). soas com condições crônicas cujas equipes

206/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


de saúde facilitam o processo de atenção à saúde, que vai além das necessidades orgânicas
de cada indivíduo, envolvendo aspectos educacionais, sociais e psicológicos.
O Cuco facilita às pessoas:
• Apropriarem-se de novas informações sobre sua condição crônica.
• Compartilharem experiências e estreitarem os laços de amizade entre os participan-
tes.
• Fortalecerem o vínculo com a equipe multiprofissional, tornando o ambiente propício
e oportuno para fazer questionamentos sobre a condição de saúde dos membros do
grupo.

207/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


1.3. Equipe Nasf na Atenção Pri- 1.4. Assistência Farmacêutica
mária à Saúde no SUS

A equipe do Nasf (Núcleo de Apoio de Saú- A Assistência Farmacêutica visa assegurar


de da Família) é fundamental na participa- o acesso da população aos medicamentos
ção do processo de promoção à saúde para a partir da promoção do uso correto des-
pacientes portadores de doenças crônicas. tes, garantindo a integralidade do cuidado
Lembramos também que os profissionais de e a resolutividade das ações em saúde. A
saúde devem estabelecer metas de trata- Assistência Farmacêutica tem papel funda-
mento juntamente com o paciente. A ava- mental no controle das doenças crônicas,
liação dos resultados é muito significativa a equipe de Estratégia de Saúde da Família
para ambos (profissional e usuário), as con- pode desenvolver ações em conjunto com
quistas alcançadas pela mudança de hábi- o profissional farmacêutico, pois ele terá o
tos devem ser enfatizadas, como também controle da retirada dos medicamentos e
as reavaliações da conduta prescrita quan- também pode ajudar na mudança de estilo
do o resultado não foi alcançado. de vida reforçando as orientações de uma
alimentação saudável, do controle do taba-
gismo, da atividade física e do uso correto

208/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


dos medicamentos nas consultas individu- 2.1. Obesidade
ais e nos grupos.
A obesidade deve ser trabalhada desde a
2. Grupos e Acompanhamento puericultura. Nos grupos de crianças, deve-
de Crônicos na Atenção Básica -se incentivar a alimentação saudável, des-
de o início da primeira papinha. No progra-
Para o tratamento longitudinal, os usuários ma Saúde na Escola, também é incentivada
devem participar de grupos no formato de a busca ativa da obesidade infantil.
rodas de conversa. É importante que nos
grupos esteja presente a equipe da ESF com 2.2 Hipertensão Arterial e Dia-
os profissionais do Nasf, referente ao tema betes
proposto. O grupo será um apoio ao trata-
mento dos pacientes crônicos. Não pode ser Para os pacientes hipertensos, diabéticos e
apenas um encontro, deve ser uma forma com dislipidemias, além do grupo, deve-se
de realizar a educação em saúde e melhorar elaborar um acompanhamento com me-
a qualidade de vida. tas e resultados esperados. As equipes não
podem deixar de avaliar as crianças, temos
casos subnotificados, isto é, gerando índi-

209/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


ce abaixo da realidade de hipertensão em 2.4. Combate ao Tabagismo
crianças.
O tabagismo é, reconhecidamente, uma do-
ença crônica, resultante da dependência à
2.3. Doença Pulmonar Obstruti- droga nicotina, e um fator de risco para cer-
va Crônica (DPOC) ca de 50 doenças, dentre elas câncer, asma,
DPOC, infecções respiratórias e doenças
Para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crôni- cardiovasculares. Sua prevalência vem se
ca, dependendo do grau da doença, a equipe reduzindo progressivamente, entretanto
deve avaliar a forma ideal para acompanhar ainda mostra‐se expressiva em algumas re-
esses pacientes. Para aqueles que utilizam giões e grupos populacionais.
de oxigenoterapia domiciliar, é imprescin-
dível receberem mensalmente a visita do
enfermeiro e da equipe multidisciplinar.

210/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


Acompanhamento de Idosos

Os idosos devem ser avaliados e acompanhados pelas equipes de saúde da família, pois po-
dem ter comorbidades que exigem cuidados e atenção especial. Uma ação importante é a
Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa na Atenção Básica (AMPI-AB) nas unidades de
saúde da Atenção Básica, como também o preenchimento adequado e a utilização correta
da Carteirinha de Saúde do Idoso, ferramenta importante para o acompanhamento da saú-
de do idoso, da história clínica, das internações, das comorbidades, dos tratamentos atuais
e da equipe de saúde responsável por seu cuidado.

211/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


Figura 9. Modelo de carteira do Idoso

Fonte: <http://campos24horas.com.br/portal/wp-content/uploads/2017/02/caderneta-do-idoso.jpg>. Acesso em: 5 set. 2017.

212/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


2.5. Alimentação Saudável 2.6. Farmácia Popular

As principais doenças que atualmente aco- O Programa Farmácia Popular do Brasil tem
metem os brasileiros deixaram de ser agu- como um dos seus principais objetivos a
das e passaram a ser crônicas. Apesar da in- ampliação do acesso da população aos me-
tensa redução da desnutrição em crianças, dicamentos básicos e essenciais, diminuin-
as deficiências de micronutrientes e a des- do, assim, o impacto do preço dos remédios
nutrição crônica ainda são prevalentes em no orçamento familiar. Para hipertensos,
grupos vulneráveis da população, como em diabéticos e asmáticos, tem uma lista de
indígenas, quilombolas e crianças e mulhe- medicamentos gratuitos, outros medica-
res que vivem em áreas vulneráveis. Simul- mentos chegam a até 90% de desconto.
taneamente, o Brasil vem enfrentando au- Para os idosos com incontinência urinária e
mento expressivo do sobrepeso e da obesi- deficientes físicos, pode-se retirar fraldas a
dade em todas as faixas etárias, e as doen- cada 10 dias, porém não é totalmente gra-
ças crônicas são a principal causa de morte tuito (tem 90% de desconto) na farmácia
entre adultos. O excesso de peso acomete popular.
um em cada dois adultos e uma em cada
três crianças brasileiras (BRASIL,2014).

213/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


3. Projeto Terapêutico Singular

O projeto terapêutico é um plano de ação compartilhado, composto por um conjunto de inter-


venções que seguem uma intencionalidade de cuidado integral à pessoa. Nesse projeto, tratar
das doenças não é menos importante, mas é apenas uma das ações que visam ao cuidado inte-
gral. Um Projeto Terapêutico Singular deve ser elaborado com o usuário, a partir de uma primeira
análise do profissional sobre as múltiplas dimensões do sujeito. Cabe ressaltar que esse é um pro-
cesso dinâmico, devendo manter sempre no seu horizonte o caráter provisório dessa construção,
uma vez que a própria relação entre o profissional e o usuário está em constante transformação.
A equipe deve estabelecer suas prioridades sem juízos de valores individuais e resistir à tendên-
cia de simplificações e à adoção de fórmulas mágicas. A prática é complexa e a equipe pode ter
dúvida e angústia por não saber lidar com situações novas. Todo plano terapêutico deve ser dis-
cutido em reunião de equipe de forma compartilhada com a equipe Nasf (BRASIL, 2009).

214/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


3.1. Genograma ciam a dinâmica familiar, relações interpes-
soais, conflitos familiares e problemas de
O genograma ou árvore de família é uma comunicação.
metodologia de coleta, armazenamento e
Veja a seguir exemplos de genograma.
processamento de informações construí-
da por símbolos gráficos e outros símbolos,
como o dia de nascimento, eventos signi-
ficativos, nomes e condições de saúde. Na
representação simbólica, as figuras geomé-
tricas são as pessoas e as linhas conectoras,
as suas relações. A pessoa que ocupa papel
central no genograma é, em geral, aquela
que gerou o desenho desse instrumento e
se torna estruturante do problema e da re-
presentação familiar. O genograma deve
captar informações sobre estilos de vida,
condições de saúde, uso de medicamentos,
dados culturais e econômicos que influen-

215/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


Figura 10. Exemplo de genograma

Fonte: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712008000300013>. Acesso em: 5 set. 2017.

Não é necessário fazer um genograma para todas as famílias, somente para aquelas em que for
realizado o plano terapêutico, ou seja, para os casos mais complexos.

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Glossário
Cuco: Cuidado Compartilhado.
DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.
Macc: Modelo de Atenção às Condições Crônicas.

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?
Questão
para
reflexão

“OS SISTEMAS DE SAÚDE PREDOMINANTES EM TODO


O MUNDO ESTÃO FALHANDO, POIS NÃO ESTÃO CON-
SEGUINDO ACOMPANHAR A TENDÊNCIA DE DECLÍ-
NIO DOS PROBLEMAS AGUDOS E DE ASCENSÃO DAS
CONDIÇÕES CRÔNICAS. QUANDO OS PROBLEMAS
SÃO CRÔNICOS, O MODELO DE TRATAMENTO AGU-
DO NÃO FUNCIONA.” (OMS/OPS, 2015)
Você como especialista em Saúde da Família, ao chegar a um local
onde a mudança do estilo de atendimento não ocorreu, qual seria
seu primeiro passo para iniciá-la?
218/242
Considerações Finais
• As doenças crônicas estão ligadas à inatividade física, ao consumo de álco-
ol, tabaco e à alimentação inadequada; os dados reforçam que o brasileiro
deve investir na mudança de hábitos.
• O Projeto Terapêutico Singular é um plano de ação compartilhado compos-
to por um conjunto de intervenções que seguem uma intencionalidade de
cuidado integral à pessoa; é utilizado o genograma para facilitar o entendi-
mento da dinâmica familiar.

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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Diretrizes do Nasf: Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Dis-
ponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_do_nasf_nucleo.pdf>. Aces-
so em: 6 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 70 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 156 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Redefine as diretrizes para a organização da prevenção e do trata-
mento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária da Rede de Atenção à Saúde
das Pessoas com Doenças Crônicas. Portaria nº 424, de 19 de março de 2013. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0424_19_03_2013_rep.html>. Acesso
em: 6 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Portaria nº
2528, de 19 de outubro de 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2006/prt2528_19_10_2006.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

220/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


BRASIL. Ministério da Saúde. Torna pública a decisão de incorporar os medicamentos Budesoni-
da, Beclometasona, Fenoterol, Salbutamol, Formoterol e Salmeterol; a Vacina contra Influenza; a
Oxigenoterapia domiciliar e os Exames Diagnósticos para Deficiência de Alfa-1 Antitripsina para
o tratamento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica no Sistema Único de Saúde (SUS). Portaria
nº 29, de 25 de setembro de 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
sctie/2012/prt0029_25_09_2012.html>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova
as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Portaria nº 399, de 22 de fevereiro de 2006. Dis-
ponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0399_22_02_2006.html>.
Acesso em: 6 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Altera a Portaria nº 111/GM/MS, de 28 de janeiro de 2016, que
dispõe sobre o Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB), para ampliar a cobertura de fraldas
geriá- tricas às pessoas com deficiência. Portaria nº 937, de 7 de abril de 2017. Disponível em:
<http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/abril/12/PORTARIA-N---937-DE-7-DE-
ABRIL-DE-2017.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 160 p.

221/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departa-
mento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Serviços farmacêuticos na atenção
básica à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/publicacoes/servicos_farmaceuticos_atencao_basica_saude.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

CENTRO Brasileiro de Estudo em Saúde. Estudo do Ministério da Saúde aponta perfil da morta-
lidade do brasileiro. Cebes, 8 fev. 2010. Disponível em: <http://cebes.org.br/publicacao/estudo-
-do-ministerio-da-saude-aponta-perfil-da-mortalidade-do-brasileiro/>. Acesso em: 2 fev. 2017.

FARMÁCIA Popular do Brasil. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/


pdf/2014/abril/23/manual-basico-fp1170511.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

LANÇADOS novos cadernos de atenção básica Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistê-
mica. Estilo de Vida Saudável. Disponível em: <http://www.saude.br/index.php/articles/articles/
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MENDES, Eugênio Vilaça. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o
imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família. Brasília: Organização Pan-Ameri-
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do_condicoes_atencao_primaria_saude.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.
222/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular
MOYSÉS, Simone Tetu; SILVEIRA FILHO, Antonio Dercy; MOYSÉS, Samuel Jorge (Org.). Laboratório
de inovações no cuidado das condições crônicas na APS: a implantação do Modelo de Atenção
às Condições Crônicas na UBS Alvorada em Curitiba, Paraná. Brasília: Organização Pan-Ameri-
cana da Saúde: Conselho Nacional de Secretários de Saúde, 2012. Disponível em: <http://www.
saude.curitiba.pr.gov.br/images/programas/livor_estudo-de-caso-alvorada.pdf>. Acesso em: 6
set. 2017.
ORGANIZAÇÃO Pan-Americana da Saúde. Cuidados inovadores para condições crônicas: or-
ganização e prestação de atenção de alta qualidade às doenças crônicas não transmissíveis nas
Américas. Washington, DC: OPAS, 2015.
PROGRAMA Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) – Tratamento do Tabagismo. Disponível
em: <http://dabsistemas.saude.gov.br/docs/sistemas/pmaq/tire_duvidas_PNCT.pdf>. Acesso em:
6 set. 2017.
SÃO PAULO. Coordenação da Atenção Básica/SMS – G. Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa.
Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/atencao_basica/pes-
soa_idosa/index.php?p=5432>. Acesso em: 6 set. 2017.

223/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Coordenação da Atenção Básica. Área
Técnica de Saúde da Pessoa Idosa. Documento Norteador. Unidade De Referência à Saúde Do
Idoso. Ursi: anexos. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, 2016. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/ANEXOSDOCNOR-
TURSI21122016.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

SÍMBOLOS e linhas utilizados no Genograma. Disponível em: <https://cursos.atencaobasica.org.


br/sites/default/files/aula5_simbolosrepresentacoesdogenograma.pdf>. Acesso em: 6 set. 2017.

224/242 Unidade 8 • Cuidado Multidisciplinar de Pacientes Crônicos e Plano Terapêutico Singular


Questão 1
1. O Projeto Terapêutico Singular é um plano de ação compartilhado com-
posto por um conjunto de intervenções que seguem uma intencionalidade
de cuidado integral à pessoa. É correto afirmar que:

a) São propostas terapêuticas elaboradas individualmente pelos membros da equipe de saúde.


b) São propostas terapêuticas realizadas em reunião de equipe com o propósito de o paciente
aceitar melhor a medicação.
c) São propostas terapêuticas realizadas em reunião de equipe podendo ser para um usuário
ou uma família, resultantes das informações colhidas com o paciente e da discussão entre a
equipe multiprofissional de saúde.
d) São propostas terapêuticas realizadas por meio das visitas domiciliares para pessoas aca-
madas.
e) São propostas terapêuticas realizadas por meio da educação permanente dos Agentes Co-
munitários de Saúde.

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Questão 2
2. Acerca das ações e dos programas de doenças crônicas do SUS, assinale
a opção correta.

a) O Programa Farmácia Popular do Brasil foi criado com o objetivo de auxiliar o acesso aos
medicamentos para o tratamento das doenças infectocontagiosas mais comuns no Brasil.
b) O Guia de Alimentação Saudável foi considerado um dos melhores do mundo e é mais reco-
mendado para evitar a desnutrição nas comunidades de grandes centros urbanos.
c) O Programa de Tabagismo não está tendo o efeito esperado, pois existe uma alta taxa de
mortalidade por câncer de pulmão.
d) O Programa para as Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas tem como prevenção do
agravo da doença a vacina contra influenza e a oxigenoterapia domiciliar quando necessária.
e) O Programa de hipertensão e diabetes tem como objetivo principal a compra de medica-
mentos.

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Questão 3
3. Sobre as doenças modernas:

I. As causas de morte podem ser agrupadas em grandes grupos (circulatórias, respiratórias,


neoplasias, causas externas) ou categorizadas por causas específicas.
II. Em primeiro lugar de causa morte está o acidente vascular cerebral.
III. Em primeiro lugar de causa morte está a tuberculose.
É correto afirmar que:
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas a I está correta.
c) Apenas a II está correta.
d) I e II estão corretas.
e) Apenas a III está correta

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Questão 4
4. Sobre as doenças crônicas:

I. A maior causa de morte no Brasil se dá pelas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).
Um conjunto de ações nacionais compõe o combate ao sedentarismo, a alimentação sau-
dável e o combate ao tabagismo.
II. Os grupos mais vulneráveis de obesidade são encontrados nas comunidades de quilombo-
las e indígenas.
III. O consumo do tabaco por gestantes e a exposição à fumaça do cigarro provocam efeitos
adversos à saúde e ao desenvolvimento dos fetos.
IV. A atividade física do idoso não é recomendada devido às possibilidades de quedas e à di-
minuição da visão.
A sequência correta é:
a) V,V,V,V.
b) V,F,V,F.
c) V,V,V,F.
d) F,F,V,V.

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Questão 5
5. Sobre o tabagismo:

I. É um estilo de vida, não é reconhecido como uma doença.


II. É causador de dependência química à droga nicotina, similar à dependência de outras dro-
gas, como álcool, cocaína ou heroína.
III. É um fator de risco para cerca de 50 doenças, dentre elas câncer, asma, DPOC, infecções
respiratórias e doenças cardiovasculares.
IV. O combate ao tabagismo proposto pelo Ministério da Saúde não é efetivo.
A sequência correta é:
a) V,V,V,V.
b) V,F,V,F.
c) V,V,V,F.
d) F,V,V,F.
e) F,F,F,F.

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Gabarito
1. Resposta: C. 3. Resposta: D.
O Programa Terapêutico Singular é para Em primeiro lugar de causa de morte está
pessoas que necessitam de maior atenção o acidente vascular cerebral, vindo na sequ-
da equipe multiprofissional, porém deve ser ência o infarto agudo do miocárdio, a pneu-
realizado pelas discussões nas reuniões de monia e a diabetes.
equipe a partir das informações colhidas
com o paciente. 4. Resposta: B.

2. Resposta: D. A comunidade quilombolas e indígenas é


mais vulnerável à desnutrição. A atividade
O Programa para as Doenças Pulmonares do idoso deve ser incentivada após avalia-
Obstrutivas Crônicas tem a vacina contra ção do educador físico.
influenza fornecida como ação preventiva,
como também a oxigenoterapia domiciliar, 5. Resposta: D.
outros exames e medicamentos.
O tabagismo é considerado uma doença e
tem um programa efetivo.

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