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2 Cardoso JR et al.

Introdução institucional e do apoio matricial nos processos


de gestão e de atenção no SUS. Nesses casos ci-
A história das políticas públicas de saúde, em tados, a estratégia do apoio demonstrou as fun-
especial na Atenção Primária no Distrito Fede- ções de promover: ampliação na capacidade de
ral, Brasil, teve, como marcos importantes, os análise e de intervenção das equipes de saúde e
programas Saúde em Casa (1997-1998), Saú- dos gestores de serviços de saúde; qualificação
de da Família (1999-2003) e Família Saudável das intervenções de saúde na capacidade de ges-
(2004-2006). Tais políticas tiveram, em comum, tão do cuidado; inserção de ferramentas de co-
a focalização da oferta de um pacote de servi- ordenação do cuidado e de governança clínica;
ços de Atenção Primária às parcelas populacio- indução de espaços colegiados como dispositi-
nais, em especial às de periferias urbanas. Em vos para cogestão em saúde; ampliação da par-
todo esse transcurso, dois modelos de Atenção ticipação do usuário e sua corresponsabilização;
Primária tiveram que conviver juntos, um ba- conformação da clínica compartilhada entre os
seado em unidades tradicionais não territoria- especialistas e clínicos da Atenção Primária; for-
lizadas e outro baseado na Estratégia Saúde da talecimento da Atenção Primária na consolida-
Família (ESF) 1. ção das diretrizes da Política Nacional de Atenção
De 2006 em diante, o Programa Família Sau- Básica (PNAB) e mudanças no processo vertical
dável passou a ser denominado Estratégia Saúde da transmissão passiva do conhecimento, insti-
da Família, e todas as ações da Atenção Primária tuindo o apoiador como formador em processos
coordenadas pela Diretoria de Atenção Primária. de educação permanente inseridos no cotidiano
Em agosto de 2010, foi criada a Subsecretaria do trabalho.
de Atenção Primária em Saúde 2 encarregada da Conforme a PNAB, no Brasil, a ESF deve ser
Reorganização da Atenção Primária pelo Gover- o contato preferencial dos usuários, a principal
no do Distrito Federal, a partir da expansão e da porta de entrada e o centro de comunicação de
qualificação da ESF. toda a Rede de Atenção à Saúde 14. O SUS já pos-
O Governo do Distrito Federal, em 2012, ela- sui acúmulos para enfrentar os desafios e seus
borou o Plano Distrital de Saúde (2012-2015) 3, problemas para a implementação da rede, e al-
equivalente aos Planos Estaduais de Saúde, com guns dispositivos para o enfrentamento desses
três grandes objetivos: (1) aumento da eficiência desafios foram desenvolvidos e sistematizados
nas intervenções setoriais para a melhoria das em 15: colegiado gestor, programa de formação
condições de saúde da população; (2) aprimo- em saúde do trabalhador e equipe de referência
ramento dos processos de gestão no âmbito da e de apoio matricial. Para agregar intensidade e
Secretaria de Estado da Saúde (SES) e (3) adequa- qualidade a esses dispositivos, investe-se na in-
ção da infraestrutura em saúde às necessidades serção do apoio institucional e matricial como
da população. Para cada um desses objetivos, metodologia potente para ressignificar a com-
foram estabelecidas diretrizes, dentre as quais a preensão dos processos de trabalho em saúde
estruturação do atendimento em Atenção Primá- e gestão.
ria com ênfase na ESF e a inovação das práticas O apoio é um método de intervenção que
de gestão do trabalho e da educação em saúde expressa um modo de fazer em grupalidade,
para a valorização e a qualificação das relações buscando-se redes de coletivos. Os apoiadores
de trabalho dos profissionais da SES do Distrito exercem a função de ampliar a capacidade de as
Federal (SES-DF). pessoas lidarem com o poder, com a circulação
Não obstante os esforços da gestão da de afetos e saber, ao mesmo tempo em que estão
SES-DF para o fortalecimento da Atenção Pri- trabalhando, cumprindo tarefas. Sua potencia-
mária, algumas experiências já acumuladas no lidade está na sua implicação, a partir da inser-
Sistema Único de Saúde (SUS), como as dos Mu- ção no cotidiano de produção de saúde. O apoio
nicípios de Vitória (Espírito Santo), vivenciadas matricial busca enfrentar a tendência à fragmen-
por Cardoso 4 e Oliveira 5; de Campinas (São Pau- tação da atenção à saúde oferecendo tanto reta-
lo), por Campos 6; de São Paulo (São Paulo), por guarda assistencial especializada quanto suporte
Andrade & Castanheira 7; de Natal (Rio Grande técnico-pedagógico 5,16.
do Norte), por Barros & Dimenstein 8; de Capivari Para que o apoiador consiga realizar suas fun-
(São Paulo), por Arona 9; de Maringá (Paraná), ções, é importante que existam espaços coletivos
por Moura & Luzio 10 e Becchi et al. 11; de Araca- ou que esses espaços sejam criados ou reformu-
ju (Sergipe), por Vasconcelos & Morschel 12; do lados com seu apoio. Esses espaços são arranjos
Rio de Janeiro, por Barros et al. 13, demonstram para o trabalho cogestivo e participativo, criando
que, além de unidades, equipes e equipamentos, condições para democratização das relações de
o sistema de saúde pode ser ampliado e qualifi- trabalho e de produção, apostando na ampliação
cado a partir da inserção da estratégia do apoio da autonomia dos sujeitos 16.

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APOIO INSTITUCIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 3

Os desafios e diretrizes da gestão do Governo Diretoria Regional de Atenção Primária à Saúde


do Distrito Federal, anteriormente apresentados (DIRAPS) do Recanto das Emas e correlacioná-
para a implantação e implementação da Atenção las com as prioridades da gestão do SUS no
Primária, justificaram e constituíram ponto de Distrito Federal.
partida para a realização da pesquisa Cartogra-
fia do Apoio Institucional e Matricial no SUS do
Distrito Federal: Áreas Prioritárias da Atenção e Caminho metodológico
Gestão em Saúde e a Formação de Apoiadores na
Atenção Primária em Saúde pelos professores e Este trabalho é uma pesquisa-intervenção, sob
pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) referencial qualitativo, que utiliza métodos parti-
e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os quais cipativos para a produção de dados. A estratégia
propuseram à SES a implementação do projeto do apoio institucional colocou, em relação, nove
de pesquisa, com método de pesquisa-interven- pesquisadores, 14 gestores e oito trabalhadores
ção participativa. Disparou-se daí a experimen- (Universidade, Governo, Estruturas de Estado,
tação do apoio institucional para a formação de Território, Serviços, Grupos de Interesse) para a
trabalhadores a partir de intervenção com o SUS conformação do plano de intervenção, a partir
local e regional, sustentada por escolhas meto- do Método da Roda, de acordo com Campos 16.
dológicas e posicionamentos éticos, estéticos e O conceito de intervenção aqui colocado é
políticos acerca do entendimento do papel da derivado da Socioanálise e da Análise Institu-
universidade pública no desenvolvimento insti- cional 20, destacando-se que a potência inter-
tucional do SUS regional 17. ventiva é a alteração do estado de coisas, que
A partir de fevereiro de 2013, foram reali- é diretamente relacionada com a possibilidade
zadas reuniões estratégicas de pactuação e de- das estratégias e táticas utilizadas pelos coletivos
lineamento do objeto de intervenção junto à “intervindos” propiciarem a ação instituinte, de
Subsecretaria de Atenção Primária em Saúde, forma plena e continuada no interior das insti-
nas quais foram explicitados interesses em mu- tuições, suas organizações e equipamentos 18.
danças no modelo de gestão, almejando o esta- Nesse contexto, utilizamos, como método de
belecimento de um contato direto da equipe do pesquisa, a cartografia, que se “faz por pistas que
nível central com as regionais de saúde a partir orientam o percurso da pesquisa sempre conside-
da estratégia do apoio institucional. A partir de rando os efeitos do processo do pesquisador sobre
um diagnóstico situacional inicial, construído o objeto da pesquisa, o pesquisador e seus resulta-
juntamente com os gestores da Subsecretaria de dos” 21 (p. 17).
Atenção Primária em Saúde, identificou-se bai- Para fazer o plano interventivo precipitar os
xa capacidade dos gestores regionais e da gestão dados de pesquisa propriamente ditos, foi neces-
central na qualificação das práticas em saúde e sário constituir procedimentos coerentes com o
uma fragmentação da relação institucional entre referencial democrático de produção de conhe-
a subsecretaria e as regionais. Os gestores mani- cimento, de pesquisa participativa 22, que per-
festaram interesse em iniciar uma intervenção mitissem um alto grau de coletivização da pró-
nas regionais Gama e Recanto das Emas, devido pria delimitação e interpretação dos achados de
à implantação da ESF e dos Núcleos de Apoio à pesquisa a partir dos acontecimentos que emer-
Saúde da Família e a construção de um modelo giam do plano interventivo. As técnicas de inves-
de gestão participativo. tigação utilizadas desse modo foram: os grupos
No presente estudo, a Regional de Saúde focais, as entrevistas individuais, os diários de
do Recanto das Emas foi nosso campo de pes- campo de pesquisa e as memórias de encontros;
quisa, uma vez que nela se constituiu o “cam- que produziram narrativas coletivas que foram
po de intervenção”, espaço-tempo de encontro validadas no percurso da pesquisa.
dos coletivos intervindos 18, por ser uma regio- Desde o primeiro encontro do grupo de pes-
nal que possui população estimada de 135 mil quisa, na medida em que esse ia se articulando
habitantes, com 84,1% da população dependen- e incluindo os sujeitos no plano interventivo, a
te do SUS, não possui equipamento hospitalar discussão metodológica em grupo, a composição
público ou privado e que estava implantando de narrativas coletivas dos encontros e a análise
mudanças do modelo de Atenção Primária tradi- das situações vivenciadas, registradas e valida-
cional para ESF 19. das, em ciclos sucessivos de espaços coletivos,
Diante disso, assumimos, como atividade de foram constituindo o material de pesquisa sob
pesquisa, a partir da experimentação do apoio uma perspectiva coletiva e participativa 17. As
na relação entre a universidade e o SUS, o obje- narrativas, produzidas a partir das memórias de
tivo de cartografar as práticas de apoio da Sub- encontros e grupos focais, foram validadas em
secretaria de Atenção Primária em Saúde e da ciclos hermenêuticos, conforme proposto por

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Gadamer 23. Dessa forma, as categorias analíti- e quatro grupos focais, que produziram pro-
cas destacadas emergiram na intersecção entre cessos de formação e intervenção, de acordo
os movimentos de narratividade, a partir dos com a Tabela 2, no Recanto das Emas, e duas
acontecimentos do plano interventivo. Portanto, entrevistas individuais.
a cartografia das práticas de apoio se constituiu Com esse arranjo, a intervenção não poderia
nesse mapeamento dos movimentos de mudan- ser olhada de forma isolada, com foco em um
ça dos e nos sujeitos participantes, disparados serviço, uma regional ou uma reunião, portanto,
pelos processos de apoio e expressos pelas cate- ficou configurada, no desenho, entre os diversos
gorias analíticas validadas coletivamente 17. espaços coletivos intercessores 5,24, uma influên-
Em abril de 2013, iniciou-se a conformação cia mútua, compondo o desenho cartográfico 17
do desenho de intervenção do apoio com a cons- (Figura 1).
trução de oito espaços coletivos (Tabela 1). Durante o mês de fevereiro de 2014, foram
No período de abril de 2013 a dezembro realizadas entrevistas com gestores da Sub-
de 2014, foram realizadas 77 rodas de apoio secretaria de Atenção Primária em Saúde e da

Tabela 1

Tabela de constituição dos grupos de intervenção do apoio.

Componentes Grupo Supervisão Grupão Colegiado Grupo Grupo de Colegiado Colegiado de


de Subsecretaria de Gestor de de apoio à de Coordenadores
pesquisa de Atenção Gama e Recanto cogestão Gerência cogestão de Programas
Primária em Recanto das Emas * de da Clínica ***
Saúde das Política e da Família
Emas Programas 1 **
*

Pesquisadores da UnB,
da Fiocruz e alunos da
Graduação e Pós-graduação
da UnB
Apoiadores FEPECS

Apoiadores da Subsecretaria
de Atenção Primária em
Saúde
Apoiadores do Recanto das
Emas

Apoiadores da Gama

Profissionais da Clínica da
Família 1 do Recando das
Emas
Coordenadores de
Programas do Recanto das
Emas

FEPECS: Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde; Fiocruz: Fundação Oswaldo Cruz; UnB: Universidade de Brasília.
* Grupo criado a partir do Colegiado Gestor de Recanto das Emas;
** Grupo criado a partir do grupo de cogestão;
*** Grupo criado a partir do grupo de apoio à Gerência de Políticas e Programas.

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Tabela 2

Quantidades de encontros por grupos de intervenção do apoio.

Espaços de intervenção do apoio Quantidade de rodas de apoio Quantidade de grupos focais

Grupo de pesquisa 13 -
Supervisão Subsecretaria de Atenção Primária em Saúde 5 -
Grupão Gama e Recanto das Emas 18 -
Colegiado Gestor de Recanto das Emas 15 2
Grupo de cogestão 4 -
Grupo de apoio à Gerência de Políticas e Programas 3 -
Colegiado de cogestão da Clínica da Família 1 do Recanto das Emas 3 -
Colegiado de Coordenadores de Programas do Recanto das Emas 16 2

Figura 1

Diagrama de intervenção dos espaços coletivos.

Coordenação Geral de Saúde do Recanto das do apoio para o seu alcance, assim como os pro-
Emas, com o objetivo de identificar as prioridades cessos de apoio instituídos. As segundas rodadas
da gestão para a Atenção Primária e suas percep- foram realizadas três meses depois e foram divi-
ções sobre a contribuição do apoio para o alcance didas em dois momentos: o primeiro para apre-
dessas prioridades. sentação da construção da narrativa para o gru-
Nos meses de maio e agosto de 2014 (Cole- po corrigi-la, discuti-la e validá-la, e o segundo
giado Gestor do Recanto das Emas) e de junho para a atualização da narrativa e a rediscussão
e setembro de 2014 (Colegiado dos Coordena- de alguns temas destacados pelo coletivo para o
dores de Programas), respectivamente, foram processo de análise e intervenção do apoio.
realizados dois ciclos de grupos focais narrati- Esses encontros, grupos focais e entrevistas
vos. Nesses ciclos, as primeiras rodadas tiveram individuais, foram realizados mediante consen-
como objetivos analisar as prioridades da gestão timento livre e esclarecido dos sujeitos e regis-
regional para a Atenção Primária e a contribuição trados em áudio e transcritos posteriormente.

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Durante a realização dos grupos focais, obser- promover a mudança do modelo de Atenção Pri-
vadores captaram e registraram informações mária tradicional para a ESF, de forma que os
não-verbais expressas pelos participantes. Os profissionais não entendam como sendo um mo-
pesquisadores elaboraram diários de campo que vimento verticalizado e imposto, e sim horizon-
buscaram fazer rupturas e religações, encadean- talizado e participativo” (narrativa Colegiado
do acontecimentos, histórias e linhas argumen- Gestor do Recanto das Emas).
tativas em um trabalho de interpretação em suas Foram percebidas dificuldades no processo
dimensões de análise e de construção 25,26,27. As de gestão e a necessidade de entendimento sobre
narrativas foram construídas reunindo-se infor- como os atores se percebem nesse processo, e,
mações das transcrições, das anotações dos ob- para isso, foi sugerido que cada gestor constru-
servadores e do diário de campo, construindo-se ísse um diário de campo, durante uma semana,
enredos próprios dos sujeitos de interesse. A lei- para registro de suas atividades, com o objetivo
tura e a validação das narrativas fizeram emergir de identificar se o seu trabalho era condizente ou
as categorias de análise e o desfecho interpretati- não com o estabelecido para a sua função. Com
vo dos achados de pesquisa. isso, foi possível identificar que os gestores não
Diante do encerramento das atividades de tinham momentos para refletirem sobre o seu
pesquisa, foi realizada uma roda final de avalia- processo de trabalho, e isso vinha prejudicando
ção, em novembro de 2014, com a participação o planejamento de suas atividades.
de todos os grupos de interesse para comparti- A segunda atividade realizada pelo Colegiado
lhamento da análise das experiências vivencia- Gestor do Recanto das Emas foi a construção de
das e dos materiais de pesquisa produzidos. Esse um organograma “relacional”, identificando as
espaço proporcionou entendimento e explicita- relações institucionais, pessoais e fluxos inventa-
ção coletiva dos acúmulos produzidos durante dos para gestão cotidiana, contrapondo o enges-
o processo e dos resultados para os sujeitos e samento de um organograma verticalizado e que
instituições envolvidas, em especial do papel da distancia as funções de gestor e trabalhador. A
universidade pública no desenvolvimento insti- partir disso, o grupo propôs a realização de uma
tucional do SUS do Distrito Federal. oficina para identificação de problemas (relacio-
Esta pesquisa foi aprovada pelos Comitês nados na Figura 2) e respectivos eixos de inter-
de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde da venção: a criação de espaços compartilhados de
UnB (parecer no 191.003) e da Fundação de Ensi- gestão e cogestão nas unidades básicas de saúde;
no e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS/ e a reorganização das atribuições e competên-
SES-DF (parecer no 453.476). cias dos coordenadores de programas, vincula-
dos à Gerência de Políticas e Programas, sobre os
quais o apoio atuaria visando a uma mudança do
Resultados e discussão modelo de gestão.
A partir dos dois eixos de intervenção, fo-
Na primeira roda de apoio, em abril de 2013, ram criados dois subgrupos de apoio, com en-
identificou-se a existência de um colegiado ges- contros mensais, para promover a intervenção:
tor que se reunia mensalmente. Essas reuniões Grupo de Cogestão e Grupo de Apoio à Gerên-
seriam o espaço de intervenção do apoio, deno- cia de Políticas e Programas. A permanência
minado Colegiado Gestor do Recanto das Emas, do Colegiado Gestor do Recanto das Emas foi
a partir da construção de relações de compro- mantida, também com rodas de apoio mensais,
missos firmados entre as instituições e os sujeitos como um espaço de formação e supervisão pa-
participantes do projeto. ra os apoiadores compartilharem e analisarem
“Nós estamos tentando construir uma ges- seus processos de trabalho desenvolvidos nos
tão mais participativa. Temos um colegiado ges- dois subgrupos, ao mesmo tempo em que eram
tor, mas não temos um método que nos ajude a provocados a refletirem sobre o exercício do
fazer com que esse espaço seja de cogestão, que apoio institucional.
nos ajude a mudar os nossos processos de traba-
lho. Não conseguimos implantar os colegiados
nas unidades de saúde e hoje não conseguimos Espaços de intervenção do apoio:
exercer o papel de gerentes. Os profissionais apre- Grupo de Cogestão
sentam resistência para a implementação das
ações e as veem com uma tarefa adicional e não Em julho de 2013, o Grupo de Cogestão realizou
compreendem que as ações propostas visam à a sua primeira roda de apoio para a constru-
melhoraria da atenção à saúde. Com a propos- ção da matriz de intervenção do apoio. Nessa
ta do apoio, temos como expectativa aprender ocasião, algumas propostas foram discutidas:
uma nova forma de gerenciar que nos ajude a apoiar individualmente cada equipe; formar

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Figura 2

Problemas organizacionais identificados pelo Colegiado Gestor do Recanto das Emas.

RH: recursos humanos.

colegiados em todas as unidades de saúde da cada equipe, com equilíbrio de representação


regional; ou intervir em uma única unidade de de todas as classes profissionais. Após a roda, o
saúde. Por consenso, definiu-se que as ativida- grupo de apoio à cogestão concluiu que o encon-
des de apoio seriam iniciadas em uma unidade tro foi tenso, e, apesar de não estarem previstas
de saúde com o propósito de gerar experiência, ocorrências de determinados embates, ele serviu
permitindo que os outros gerentes construís- de aprendizado para o processo de formação do
sem um colegiado de cogestão nas suas uni- exercício do apoio institucional.
dades de saúde a partir desse aprendizado. A O segundo encontro do colegiado da Clínica
Clínica da Família 1 foi a unidade escolhida em da Família 1 ocorreu em novembro de 2013 e te-
função de ter sido a primeira unidade a alocar ve, como tema, a matriz de problemas que eles
sete equipes de saúde da família sem a devida haviam construído no início de 2013. Os profis-
capacitação e estruturação para seu funciona- sionais dividiram os problemas entre: de gestão e
mento, de acordo com as diretrizes propostas de estrutura; e, a partir daí, foi possível identificar
pela PNAB. Apesar da Clínica da Família 1 ter avanços e resoluções desses problemas. Novos
um espaço para reuniões dos profissionais, problemas foram pontuados e elencados como
eles não conseguiam realizá-las de forma sis- temas que precisavam ser discutidos, como, por
temática e efetiva. O grupo elegeu o colegiado exemplo, demanda espontânea e definição dos
de cogestão de apoio como espaço de encon- fluxos assistenciais.
tro dos profissionais, pois entendeu que era Depois de dez meses da realização do pri-
preciso ativá-lo. meiro colegiado de cogestão da Clínica da
A primeira roda do grupo de apoio à coges- Família 1, foi realizado o grupo focal com os
tão com os profissionais da Clínica da Família 1 apoiadores que compunham o colegiado gestor
foi realizada em agosto de 2013, para a qual fo- do Recanto das Emas para, dentre outras coi-
ram convidados todos profissionais das equipes, sas, analisar o processo realizado na Clínica da
incluindo-se pessoas que trabalhavam com ser- Família 1.
viços gerais. Nessa roda, foi apresentada a pro- “Entendemos que a implementação dos gru-
posta de construção do espaço colegiado, com pos de cogestão nas unidades básicas de saúde es-
periodicidade mensal e com representantes de tá sendo difícil porque, no momento, priorizamos

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a organização dos processos de trabalho das equi- Espaços de intervenção do apoio: Grupo
pes. Nesse sentido, nossa proposta é ter mais pesso- de Apoio à Gerência de Políticas
as discutindo as atividades diárias com as equipes e Programas
contribuindo, de forma mais direta, para a me-
lhoria da assistência e da gestão. Nós entendemos O Grupo de Apoio à Gerência de Políticas e Pro-
que, com o avançar dessas discussões, as equipes gramas realizou dois encontros, em julho e agos-
vão sentir a necessidade de pactuar suas ações e to de 2013, para planejar a primeira roda de apoio
conversar sobre elas em um espaço de cogestão, com os coordenadores de programas. De agos-
pois essa organização é fundamental” (narrativa to de 2013 a fevereiro de 2014, foram realizadas
Colegiado Gestor do Recanto das Emas). cinco rodas de apoio com os coordenadores de
Nesse processo coletivo de construção, inter- programas, com o propósito de se repensar os
venção e avaliação das ofertas e das demandas processos de trabalho.
dos coletivos, foi feita uma avaliação de que era Em agosto de 2013, foi realizada a primeira
preciso rever a estratégia de priorização da Clíni- roda de apoio com o objetivo de conhecer e en-
ca da Família 1. tender como os coordenadores de programas se
“A estratégia da priorização da Clínica da Fa- organizavam no Recanto das Emas.
mília 1 para implantação do colegiado de coges- “Não sabemos o que a Gerência de Políticas
tão não foi boa porque nem todos os gerentes con- e Programas espera do nosso trabalho por não
seguiram realizar a implementação do colegiado existir objetivos concretos, temos dúvidas de co-
nas demais unidades básicas de saúde, e o grupo mo conduzir as ações. Trabalhamos com temas
de apoio à gestão focou as discussões na Clínica específicos e não conseguimos atender as 23 ESF
da Família 1, gerando um vazio de discussões com na carga horária disponível e, com isso, íamos
relação aos processos de trabalho das outras uni- para as equipes quando era possível e falávamos
dades de saúde. Um de nós traz a proposta de di- de coisas consideradas irrelevantes para elas, mas
vidir os apoiadores em duplas para participarem que eram necessárias para prestar conta para as
e ajudarem na implementação dos colegiados nas nossas chefias” (narrativa do Grupo de Coorde-
outras unidades de saúde” (narrativa Colegiado nadores de Programas).
Gestor do Recanto das Emas). Nesse encontro, a Gerência de Políticas e
As mudanças nas práticas de gestão acon- Programas não foi reconhecida como unidade
teceram mesmo sem a institucionalização gestora de referência e não havia um espaço de
dos colegiados. encontro para compartilhamento de atividades
“Concordamos que houve mudanças no pro- e agendas.
cesso de trabalho em função do apoio e, para um “Precisamos construir espaços de conversas
de nós, é visível a mudança do modelo de gestão, para integrarmos nosso trabalho, para comparti-
pois hoje a nossa gestão é participativa, todos são lharmos nossas agendas, para não ficar cada dia
responsabilizados e temos espaços coletivos deli- uma pessoa diferente na unidade atrapalhando o
berativos. O gestor tem a responsabilidade neste profissional no seu atendimento. Porque se outro
processo, mas o apoio foi o precursor da mudança coordenador já vai à unidade e eu preciso apenas
do modo de conduzir a gestão. Na opinião de al- buscar tal dado, por que ele não pode fazer isso
guns, ocorreram mudanças com relação à postu- para mim?” (narrativa do Grupo de Coordenado-
ra que era autoritária e verticalizada perante as res de programas).
equipes de saúde, e hoje buscamos compartilhar Na segunda roda de apoio, realizada em ou-
as responsabilidades com todos os profissionais, tubro de 2013, o Grupo de Apoio à Gerência de
ampliamos nossos espaços de discussões e pedi- Políticas e Programas preparou uma dinâmica
mos aos profissionais que tragam as sugestões que pudesse problematizar e promover reflexões
para os problemas apontados” (narrativa Cole- sobre a integralidade do cuidado, e, diante dessas
giado Gestor do Recanto das Emas). reflexões, os temas apoio institucional e apoio
As mudanças da gestão e das práticas profis- matricial foram inseridos na discussão.
sionais modificaram também os sujeitos e os pa- “Precisamos sair das ‛caixinhas’ e trabalhar-
drões dominantes da subjetividade, e, para esses mos integrados porque não temos como continuar
movimentos construídos, foi possível perceber trabalhando com uma temática específica se as
que as mudanças possibilitaram a coprodução outras temáticas são transversais para a produção
de autonomia, ampliação da capacidade de aná- do cuidado, mas também é papel do coordenador,
lise e de cogestão das pessoas 6. em alguns momentos, discutir algumas especifici-
dades para que possam ajudar as ESF” (narrativa
do grupo coordenadores de programas).
Na roda de apoio de fevereiro de 2014, após
sete meses de encontros do Colegiado dos

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APOIO INSTITUCIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 9

Coordenadores de Programas e depois da dis- assistenciais” (narrativa Colegiado de Coordena-


cussão do tema produção do cuidado, foi pro- dores de Programas).
blematizada a reorganização do trabalho da A reorganização dos processos de trabalho
Gerência de Políticas e Programas, com a cons- dos coordenadores de programas conseguiu des-
tituição de apoiadores institucionais que fa- construir processos instituídos e parte da cultura
riam apoio para um número específico de ESF institucional verticalizada, o que confirma Cam-
conforme proposto pelo Colegiado Gestor do pos 6 (p. 12): “Quando se descontrói algo, põe-se
Recanto das Emas e, ao mesmo tempo, conti- algo no lugar ainda que não de maneira explíci-
nuariam sendo referência para as áreas temá- ta” . Esse algo que foi colocado no lugar do an-
ticas, compartilhando o saber com os outros tigo trouxe reflexões com relação à constituição
apoiadores e, em casos específicos, realizando dos sujeitos e da democracia organizacional que
o apoio matricial. Nos encontros semanais do “todo pensamento comprometido com algum ti-
Colegiado dos Coordenadores de Programas, po de prática (política, clínica, sanitária, profis-
ocorridos no mês de abril de 2014, o grupo sional) está obrigado a reconstruir depois de des-
compreendeu o papel do apoiador e reorga- construir. Sendo a saúde um campo comprometi-
nizou a Gerência de Políticas e Programas em do com a prática” 6 (p. 11), o plano interventivo
Unidade de Produção que, de acordo com Cam- foi fundamental nesses processos de mudança.
pos 28 (p. 865), “[...] um novo modelo de fazer
gestão em que todos os profissionais envolvidos As prioridades da gestão e o apoio
com um mesmo tipo de trabalho, com um de- institucional
terminado produto ou objetivo identificável,
passariam a compor uma Unidade de Produ- Pela análise de informações e documentos cons-
ção, ou seja, cada um desses novos departamen- truídos pelo grupo dirigente para inclusão de
tos ou serviços seria composto por uma Equipe metas e prioridades do Recanto das Emas no
multiprofissional [...]”. Plano Distrital de Saúde 2012 a 2015 3 do Distrito
A nova conformação da Gerência de Políticas Federal, ocorrida nas rodas de apoio, verificou-se
e Programas ficou organizada com uma coorde- que os mesmos não foram considerados pelos
nadora e oito apoiadores, que ganharam a deno- gestores e nem pelos coordenadores de progra-
minação de “assessores técnicos”, sendo consti- ma para elaboração de planejamento de suas
tuída dos seguintes profissionais: quatro médi- ações, mesmo tendo participado de discussões
cos, dois enfermeiros, um dentista e um agen- de temáticas específicas durante a construção do
te comunitário de saúde. O Recanto das Emas plano de saúde, no âmbito do Recanto das Emas.
estava com 23 ESF, e o número de equipes para Os problemas evidenciados nesses instrumentos
cada assessor técnico foi definido de acordo com de gestão foram os mesmos problematizados pe-
a disponibilidade de carga horária para exerce- los gestores e coordenadores nas rodas de apoio,
rem essa função. A escolha de qual equipe ficaria que também identificaram a necessidade de or-
com qual assessor técnico foi determinada pelo ganizar as redes de atenção para além da Atenção
coletivo, fazendo-se análise do contexto de cada Primária. Além disso, os planos não apresentam,
equipe, levando-se, em conta, sua organização, com clareza, as ações a serem promovidas para
seu processo de trabalho e envolvimento do ge- o alcance das prioridades apresentadas no eixo
rente com a equipe. da gestão.
Nas rodas de apoio do Colegiado dos Co- Com a proposta do apoio institucional, os
ordenadores de Programa, foram mapeadas as gestores buscaram implementar um novo mode-
ESF que não realizavam as reuniões de equipe, e lo de gestão com a criação de espaços colegiados
foram iniciados movimentos de conversas com para possibilitar a ampliação da capacidade de
os profissionais e com os gerentes para apoiar análise e de ação cogestiva.
a implantação dessas reuniões. Essas se torna- “Os encontros do grupo de apoio têm nos
ram o espaço de inserção do assessor técnico no estimulado a refletir sobre formas de melhorar
território das ESF. Depois de sete meses, o grupo as práticas de gestão, na medida em que é me-
trouxe algumas reflexões, avaliações e resulta- lhor ter várias competências trabalhando juntas
dos: “Avaliamos que nossos objetivos estão sendo do que isoladamente. A participação dos chefes
alcançados, tais como a institucionalização das está sendo fundamental para se fazer uma ges-
reuniões de equipe, a receptividade com relação tão democrática e participativa, além de empo-
à nossa presença nas reuniões das equipes, o for- derar os demais participantes, pois, quando a
talecimento das reuniões de equipes existentes e a gestão trabalha de cima para baixo e você não dá
percepção dos profissionais sobre o trabalho com- oportunidade para o trabalhador se sentar com
partilhado da gestão e da assistência. Algumas a gestão e compartilhar as dificuldades, eles se
equipes já estão conseguindo ampliar as ofertas sentem muito sozinhos, desamparados, soltos e

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10 Cardoso JR et al.

excluídos. Quando se trabalha nessa perspectiva Devolutiva da pesquisa: oportunizando va-


(apoio), as pessoas acabam se sentindo mais pró- lidação de categorias de análise e efetivando
ximas, acolhidas, e isso faz total diferença para os processos participativos junto aos sujeitos
dar encaminhamento às coisas. Criamos vínculo interessados
com as pessoas, nos tornamos mais fortalecidos, e A avaliação constante e permanente da pes-
todos se sentem corresponsáveis. Quando a gestão quisa buscou compartilhamento das experiên-
e a assistência trabalham juntas, há uma concor- cias vivenciadas e dos materiais produzidos em
dância que o outro também sabe fazer” (narrativa grupos focais e narrativas do processo, oportuni-
Colegiado Gestor do Recanto das Emas). zando a validação de categorias de análise no que
Pelas entrevistas com gestores da Sub- se refere à incorporação das práticas de apoio,
secretaria de Atenção Primária à Saúde e da sua institucionalidade e institucionalização, para
Coordenação Geral de Saúde do Recanto das a constituição de novas formas de organização
Emas, foi possível identificar convergências das da gestão, efetivando os processos participativos
suas percepções de prioridade para a Atenção junto aos sujeitos interessados.
Primária com as prioridades descritas nos pla- No encontro final de avaliação, foram proble-
nos de saúde do Distrito Federal e do Recanto das matizadas três questões para os participantes:
Emas: o aumento da cobertura ESF como impor- a primeira: “onde me vejo apoiando ou sendo
tante fator para o fortalecimento e a qualificação apoiado?”, a segunda: “em que espaços de traba-
dos profissionais para trabalharem com a com- lho/gestão vejo as práticas de apoio acontecen-
plexidade da Atenção Primária. do?” e a terceira: “que indicativos de efeitos ou
Para os assessores técnicos, as prioridades resultados você identifica como relacionados à
da Atenção Primária para o Recanto das Emas incorporação das práticas de apoio no trabalho
decorrem das demandas apresentadas pelas e na gestão?”. Os participantes registraram suas
equipes e das ofertas apresentadas pelos gesto- percepções e experiências em tarjetas que foram
res. Isso, sob o ponto de vista da cogestão, é um agrupadas por similaridade de ideias e dispostas
indicativo de que o coletivo está operando sobre em um mural de forma organizada.
a realidade na busca de sentido e significado, in- Foram constituídos os seguintes espaços de
corporando as vivências cotidianas dos proces- intervenção no Recanto das Emas a partir das
sos de trabalho 16. práticas de apoio: Colegiado Gestor do Recan-
“Entendemos que a Atenção Primária é pri- to das Emas, Colegiado da Diretoria Regional de
mordial e que a proposta política é migrar do Atenção Primária à Saúde, Colegiado dos Coor-
modelo tradicional, baseado em centro de saúde, denadores de Programas, Colegiado da Clínica
para ESF. Para nós, a prioridade para a Atenção da Família 1, Colegiado do Centro de Saúde 2,
Primária está sendo a mortalidade materna e in- Reuniões das Equipes e Colegiado dos Coorde-
fantil que foi um tema que a gestão do Recanto nadores das ESF; nos quais o apoio vem sendo
das Emas apresentou para nós como prioritária, exercido pelos apoiadores da Subsecretaria de
antes mesmo de iniciarmos as idas às equipes. Atenção Primária em Saúde, apoiadores da Re-
Analisando os indicadores de saúde, entendemos gional de Saúde do Recanto das Emas, alunos
como sendo prioridade também a hipertensão da graduação e pós-graduação e professores da
e o diabetes, apesar de não gerar angústias às UnB, além de professores da Fiocruz.
equipes como ocorre com o tema saúde mental, A incorporação das práticas de apoio no tra-
que faz com que as equipes se sintam paralisa- balho e na gestão na Regional de Saúde do Re-
das, sem saber como trabalhar com essa temá- canto das Emas proporcionou a conversão da
tica” (narrativa Colegiado de Coordenadores Gerência de Políticas e Programas em Unidade
de Programas). de Produção 28, mudança da forma de apoio
Apesar das convergências de algumas ações do Comitê de Óbito Materno Infantil às ESF e
presentes nos planos de saúde, os gestores e a construção, o fortalecimento e a qualifica-
profissionais não os utilizam como métodos de ção de espaços coletivos recém construídos e
gestão, seja por motivos políticos, organizacio- preexistentes, tornando-os espaços de cogestão.
nais ou circunstanciais. Os planos poderiam ser Esses movimentos não foram identificados na
instrumentos facilitadores para os processos de estrutura da Subsecretarias de Atenção Primária
priorização e de tomada de decisões de forma em Saúde nem na FEPECS. Para a UnB, serviu
convergente e coesa no âmbito da assistência e de parâmetro para mudanças significativas nas
da gestão de saúde do território. Entretanto, o relações da universidade com o SUS do Distrito
apoio institucional, com a institucionalidade Federal pela inserção dos alunos de graduação
dos espaços de cogestão, tem propiciado o pro- e pós graduação como apoiadores, sustentados
cesso de qualificação das ações institucionais por uma relação de contrato ético entre a univer-
de gestão. sidade e o SUS.

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APOIO INSTITUCIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 11

Considerações finais O objetivo de cartografar as práticas de apoio


da Subsecretaria de Atenção primária em Saú-
Concluímos que a experimentação do apoio pro- de e da Diretoria Regional de Atenção Primária
piciou: mudança no cotidiano dos processos de à Saúde e correlacioná-las com as prioridades
trabalho; humanização e melhoria das relações da gestão do SUS do Distrito Federal foi alcan-
de trabalho; implantação de colegiados gesto- çado, entretanto, este trabalho não está encer-
res; ativação de redes de coletivos preocupados rado e ambiciona um movimento instituinte no
com a qualificação da assistência e da gestão; qual o conhecimento seja operado e produzido
mudança do modelo de atenção e de gestão e de pelo coletivo de trabalhadores e pesquisadores
seus processos de trabalho sem distanciamen- na perspectiva da ética democrática, com a pes-
to das suas atividades; intervenção nas práticas quisa acadêmica promovendo intervenção nos
cotidianas dos serviços da Atenção Primária; processos de produção da realidade em que ela
perturbação de tendências tecnocráticas au- se instala.
toritárias e apropriação das práticas de gestão
pelos trabalhadores.

Colaboradores Agradecimentos

J. R. Cardoso participou da concepção, projeto, análise Aos gestores e trabalhadores da Subsecretaria de Aten-
e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão ção Primária à Saúde, Distrito Federal e da Regional de
crítica relevante do conteúdo intelectual e foi respon- Saúde do Recanto das Emas, Distrito Federal, pela cons-
sável por todos os aspectos do trabalho na garantia da trução deste trabalho e do SUS. Aos pesquisadores da
exatidão e da integridade de qualquer parte da obra. Fundação Oswaldo Cruz e aos alunos de graduação da
G. N. Oliveira e P. G. Furlan participaram da concep- UnB pelo apoio ao longo de toda a pesquisa. A Eder Luiz
ção, projeto, redação do artigo, revisão crítica relevan- Menezes de Faria pelas contribuições com a edição, a
te do conteúdo intelectual e aprovação da versão a revisão e a diagramação deste trabalho.
ser publicada.

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