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DOI: 10.1590/1413-812320141911.

07732014 4301

A implementação das prioridades da Política Nacional

artigo article
de Promoção da Saúde, um balanço, 2006 a 2014

The implementation of the priorities of the National Health


Promotion Policy, an assessment, 2006-2014

Deborah Carvalho Malta 1,2


Marta Maria Alves da Silva 1
Geórgia Maria Albuquerque 1
Cheila Maria de Lima 1
Tania Cavalcante 3
Patrícia Constante Jaime 4,5
Jarbas Barbosa da Silva Júnior 6

Abstract The scope of this article is to analyze Resumo O objetivo deste artigo é analisar a Po-
the National Health Promotion Policy with res- lítica Nacional de Promoção da Saúde (PNPS)
pect to the implementation of core management quanto à implementação de eixos prioritários de
priorities. Information contained in institutional gestão. Foram consultadas informações contidas
documents, websites, books and published articles em portarias, documentos institucionais, sites, li-
was consulted in order to analyze the actions im- vros e artigos publicados visando analisar as ações
plemented. There were advances in management, implementadas. Houve avanços na gestão como
such as the creation of a specific budget line, inser- a criação de linha orçamentária específica, a in-
tion of the promotion in the Multi-Year Plan, mo- serção da promoção no Plano Plurianual, moni-
nitoring of indicators of health promotion in the toramento de indicadores da Promoção da Saúde
federal pacts, financing of health promotion pro- nos pactos federativos, o financiamento de projetos
1
Departamento de
jects in municipalities and the creation of health de Promoção da Saúde em municípios e a cria-
Vigilância de Doenças e
Agravos Não Transmissíveis promotion programs. Evaluation of physical acti- ção de programas de Promoção da Saúde. Foram
e Promoção da Saúde, vity programs was conducted that revealed the ef- realizadas avaliações de programas de atividade
Secretaria de Vigilância em
fectiveness of the programs. Intersectorial actions física que apontaram a efetividade dos programas.
Saúde, Ministério da Saúde
(MS). SAF Sul, Trecho 2, taken were relevant, in particular coordination Ações intersetoriais implementadas foram rele-
Lote 5/6, Torre I, Edifício with the Education, Justice, Cities, Human Ri- vantes, em especial a articulação com os setores
Premium Sala 14/térreo.
ghts, Social Development, Sports and Leisure sec- de Educação, Justiça, Cidades, Direitos Humanos,
70070-600 Brasília DF
Brasil. deborah.malta@ tors, among others. Regulatory actions have been Desenvolvimento Social, Esporte e Lazer, dentre
saude.gov.br implemented such as the Drink and Drive ban outros. Ações regulatórias foram implementadas,
2
Universidade Federal de
and no smoking environments. Advances were como a Lei “Seca” e a lei de ambientes livres de
Minas Gerais.
3
Secretaria Executiva observed, especially greater emphasis on health tabaco. Foram observados avanços e pontuamos o
da Comissão Nacional promotion in the health sector agenda as well as fortalecimento da Promoção da Saúde na agenda
para Implementação
partnerships as intersectorial actions, identifying do setor saúde, aprofundamento nas parcerias e
da Convenção Quadro
para Controle do Tabaco inequities in the area seeking reduction thereof, in nas ações intersetoriais, a identificação das ini-
Instituto Nacional do addition to the sustainability of health promotion quidades no território visando sua redução, bem
Câncer, MS.
actions. como a sustentabilidade das ações de Promoção
4
Departamento de Atenção
Básica, Secretaria de Key words Health, Health promotion, Intersec- da Saúde.
Assistência a Saúde, MS. toriality, Planning, Management, Public policy Palavras-chave Saúde, Promoção da saúde, In-
5
Universidade de São Paulo.
tersetorialidade, Planejamento, Gestão, Políticas
6
Secretaria de Vigilância em
Saúde, MS. públicas
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Malta DC et al.

Introdução estímulo à cultura de paz e promoção do desen-


volvimento sustentável. Estas ações prioritárias
A Promoção da Saúde tem como referencial teó­ apontadas na PNPS serviram como dispositivo
rico a Carta de Ottawa1 e a busca da redução das indutor para o fortalecimento de ações de pro-
iniquidades em saúde, visando o empoderamen- moção em todos as esferas do SUS5 e a melhoria
to dos indivíduos ou grupos2. A Promoção tem da articulação entre diferentes áreas técnicas e de
como finalidade ampliar as possibilidades de in- programas e políticas a partir da abordagem da
divíduos e comunidades atuarem sobre fatores Promoção da Saúde5.
que afetam sua saúde e qualidade de vida, com A inclusão destes temas passou pelos critérios
maior participação no controle deste processo3,4. do quadro de magnitude da morbimortalidade,
Os princípios da Promoção da Saúde foram transcendência, atuação intersetorial, efetividade
incorporados pelo Movimento da Reforma Sani- das práticas de Promoção da Saúde na resposta
tária na Constituição Federal de 1988 e no Sis- aos temas prioritários nos três níveis de gestão9-14.
tema Único de Saúde (SUS), e sua efetiva insti­ Existem evidências sobre os benefícios de
tucionalização ocorreu em 2006, com a aprova- programas populacionais voltados para o incen-
ção da Política Nacional de Promoção da Saúde tivo à atividade física e alimentação saudável em
(PNPS) pela Comissão Intergestores Tripartite5,6. âmbito comunitário e na escola11,14-17. As políticas
A publicação da PNPS representa um marco na públicas na área de urbanização e ambiente têm
consolidação do SUS, uma vez que reafirma o de- grande potencial para reduzir morbimortalidade
bate dos condicionantes e determinantes sociais por acidentes de trânsito, aumentar os níveis de
da saúde no processo saúde-doença. A PNPS es- atividade física da população, como por exemplo:
tabelece como objetivo promover a qualidade de mobilidade e espaços urbanos que propiciem a
vida e reduzir vulnerabilidades e riscos à saúde re- prática de caminhadas, ciclismo, e o transporte
lacionados aos seus determinantes e condicionantes ativo de forma acessível e segura. Estudos apon-
– modos de viver, condições de trabalho, habitação, tam evidências nos benefícios de programas de
ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens promoção de alimentação saudável e atividade
e serviços essenciais. Suas diretrizes preconizam física nas escolas12,14, além de inúmeras evidên-
atitudes baseadas na cooperação e no respeito cias dos benefícios das ações de regulação de am-
às singularidades, como: estímulo à interseto- bientes livres de tabaco12, proibição da propagan-
rialidade, compromisso com a integralidade do da do fumo12,13, legislação relativa à proteção das
cuidado, fortalecimento da participação social e populações em relação aos limites de álcool e di-
estabelecimento de mecanismos de cogestão no reção11,18, restrição à propaganda de alimentos na
processo de trabalho em equipe5,6. infância, rotulagem de alimentos12, programas de
Como forma de operar a transversalidade apoio às famílias e proteção das vítimas de vio-
da PNPS no SUS e construir mecanismos de lência19,20, dentre outros, mostrando a importân-
corresponsabilização e cogestão, foi criado pelo cia destas ações na proteção da população, bem
Ministério da Saúde, ainda em 2005, o Comi- como a articulação intersetorial e a mobilização
tê Gestor da PNPS, para coordenar as ações de de parceiros visando respostas mais efetivas e in-
Promoção da Saúde. O Comitê Gestor da PNPS tegradas5,12.
- CGPNPS envolve diferentes secretarias e áreas O objetivo deste artigo é analisar a Política
do Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) quanto
Secretários Estaduais de Saúde (Conass), Conse- à implementação de sua agenda prioritária.
lho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
(Conasems) e da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco)7,8. Durante estes anos, a atua- Metodologia
ção do Comitê Gestor da PNPS foi fundamental
na coordenação das ações intra e intersetoriais da Trata-se de estudo de revisão que buscou res-
Promoção da Saúde. ponder o alcance ou não das ações/atividades
O texto da PNPS aponta como prioridade de inscritas na PNPS, quanto aos temas definidos
ação temas como: alimentação saudável, prática como prioritários em 2006. Foram consultadas
corporal e atividade física, prevenção e contro- informações contidas em portarias do governo
le do tabagismo, redução da morbimortalidade Federal entre 2005 a 2013, documentos e pu-
em decorrência do uso abusivo de álcool e ou- blicações institucionais do Ministério da Saúde,
tras drogas, redução da morbimortalidade por consultas ao site do Ministério da Saúde, livros e
acidentes de trânsito, prevenção da violência e artigos científicos referenciados no site, relacio-
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nados ao tema da Política de Promoção da Saúde 2011, no Contrato Organizativo de Ação Pública
e suas prioridades. Foram ainda realizadas pes- (COAP), também foram inseridos indicadores de
quisas bibliográficas na base da Bireme com os Promoção da Saúde, como notificação de violên-
descritores Promoção da Saúde, política, Brasil e cia doméstica, sexual e/ou outras violências, im-
atividade física, sendo identificados quinze (15) plementação do Programa Academia da Saúde,
artigos; e, subsequentemente, foram pesquisados entre outros.
os três primeiros descritores e os demais temas Dentre os programa de governo destacam-
prioritários da PNPS, tendo sido identificados se o “Mais Saúde”, entre 2008 e 2010, inserindo
em relação à alimentação saudável (14), artigos, no monitoramento ações de Promoção da Saúde
prevenção de violência (20), tabagismo (3), trân- como as reuniões do Comitê Gestor da PNPS;
sito (1) e ambiente sustentável (7). Quando todos repasses financeiros para programas de Promo-
os descritores eram pesquisados em conjunto, ção da Saúde, como os de promoção de atividade
nenhum artigo foi localizado. Foram excluídos física e alimentação saudável, prevenção do taba-
os artigos que tinham abordagem de programas gismo, implementação de núcleos de prevenção
locais, ou que analisaram outros temas da Pro- de violência, vigilênciavigilância e prevenção de
moção da Saúde não relacionados às prioridades, lesões e mortes no trânsito. Estas ações também
cerca de 10 artigos foram analisados, além dos foram inseridas em 2011 no Plano Nacional de
documentos institucionais acima descritos. Saúde (2011-2015) e no Planejamento Estratégi-
Para sistematizar o balanço foram definidos co do Ministério da Saúde (2011-2015). Desta-
alguns temas transversais que foram tomados cando-se a implantação do Programa Academia
como analisadores das diferentes prioridades da Saúde, a expansão do Programa Saúde na Es-
aqui incluídas como objeto de estudo como: 1) cola e o Projeto Vida no Trânsito21-23.
Fortalecimento da Promoção da Saúde no SUS Em 2011, no Plano de Enfrentamento das
(gestão, financiamento, organização da informa- DCNT (2011-2022), foram priorizados os quatro
ção e vigilância; qualificação da força de trabalho, principais fatores de risco modificáveis (tabagis-
regulação e controle); 2) Ações de mobilização mo, alimentação inadequada, inatividade física,
social e divulgação; 3) Articulação intersetorial consumo abusivo de bebidas alcoólicas)15,16. Fo-
e parcerias; 4) Promoção de ações no território, ram ainda estabelecidas metas para monitora-
5) Avaliação e monitoramento. Por fim, na dis- mento do Plano, como redução de fatores de risco
cussão, incluímos uma reflexão sobre os desafios através de inatividade física, alimentação inade-
futuros na implementação do da Promoção da quada, tabaco e álcool, o que apoiou a prioridade
Saúde. da Promoção da Saúde na agenda do SUS15,16.

Financiamento
Resultados Desde 2005, o Ministério da Saúde tem finan-
ciado entes federados na realização de programas
Fortalecimento da Promoção da Saúde de Promoção da Saúde. Tal iniciativa, iniciada
no SUS com as capitais dos Estados e Distrito Fede-
ral, evoluiu de forma acentuada e, entre 2006 e
Gestão 2010, foram repassados cerca de R$ 171 milhões
Em 2006 foram dados importantes passos na às Secretarias Estaduais e em torno de 1.500 Se-
institucionalização da Política Nacional de Pro- cretarias Municipais de Saúde de todas as regi-
moção da Saúde no SUS, como a sua aprovação ões do país, que integraram a Rede Nacional de
na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), a Promoção da Saúde. Nestes anos iniciais, 2005 a
criação de linha de programação orçamentária 2010, foi pactuada na Comissão Intergestora Tri-
específica para Promoção da Saúde, com inser- partite (CIT) a estratégia de seleção por meio de
ção no Plano Plurianual e no Plano Nacional de editais ou portarias públicas, com envio de pro-
Saúde6. jetos pelos municípios, que eram avaliados e se-
Entre 2008 e 2011, a PNPS foi incluída na lecionados segundo a disponibilidade orçamen-
agenda Interfederativa, por meio do Pacto Pela tária. Com esses recursos, os gestores públicos
Vida; ocorreram, ainda, a introdução de indi- desenvolveram projetos de Promoção da Saúde,
cadores de monitoramento, como a redução da contemplando, em sua maioria, ações de promo-
prevalência de sedentarismo e tabagismo nas ca- ção da atividade física, prevenção de violência e
pitais, e a implantação dos núcleos de prevenção cultura da paz, e redução da morbimortalidade
de violências e promoção da saúde6. A partir de por trânsito. Entre 2008 e 2010, também foram
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financiados programas para as demais priorida- da Saúde, dando sustentabilidade ao tema e re-
des da PNPS6,17. afirmando os compromissos do SUS de maneira
A partir de 2011 foram definidas novas mo- interfederativa24.
dalidades de repasse de recurso, buscando ações A Rede Nacional de Prevenção das Violências
continuadas, sustentáveis e universais. No caso e Promoção da Saúde foi criada em mais de 1.300
da promoção de atividades físicas e práticas cor- municípios, em conformidade com a Política
porais, definiu-se pela implantação do Programa Nacional de Redução da Morbimortalidade por
Academia da Saúde17,21,22, com recursos financei- Acidentes e Violências e visa à atenção integral e
ros provenientes do Piso Variável em Vigilância e proteção às pessoas e suas famílias em situação de
Promoção da Saúde (PVPVS), e do Piso de Aten- violências. Entre 2006 a 2012 foram financiados
ção Básica Variável – PAB Variável – da Secretaria cerca de 1300 municípios contendo ações de pre-
de Atenção da venção de violência e acidentes e cultura da paz.
Saúde21,22, para construção dos polos do pro-
grama e custeio de suas atividades. Esses recursos Organização da Informação e da Vigilância
se destinam a apoiar a construção de estruturas Visando estruturar informações para apoio
físicas e custear as ações nesses espaços, bem à gestão, o Ministério da Saúde tem implemen-
como ao custeio de iniciativas municipais e es- tado um sistema contínuo de vigilância de fato-
taduais sob gestão do setor saúde, reconhecidas res de risco e proteção para Doenças e Agravos
pelo Ministério da Saúde como similares ao Pro- Não Transmissíveis (DCNT) e Promoção da
grama Academia da Saúde. Saúde25-29. Atualmente, este sistema é composto
O Programa Saúde na Escola (PSE) foi cria- pelo: 1) Sistema de Vigilância de Fatores de Risco
do por meio de decreto Presidencial em 2007, e e Proteção para DCNT, Vigitel, que constitui um
articula ações no ambiente escolar entre a saúde inquérito telefônico realizado anualmente nas 26
e a educação, e atualmente está implantado em capitais brasileiras e no Distrito Federal26; 2) Pes-
cerca de 87% dos municípios brasileiros. O PSE quisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE)27,
apresenta cinco componentes, dentre eles o de realizada a cada 3 anos, junto aos escolares do
Promoção da Saúde e prevenção de agravos, que 9º ano do ensino fundamental do Brasil, já ten-
inclui ações de alimentação saudável, atividade do sido realizadas duas edições, em 2009 e 2012;
física, prevenção de violência e acidentes, pre- 3) Inquéritos domiciliares a cada 5 anos, como a
venção de DST/AIDS, tabagismo, álcool, dentre Pesquisa Nacional de Saúde em 2013, realizada
outras. Esta ação não estava prevista na primei- em cerca de 80 mil domicílios, incluindo entre-
ra versão da PNPS, em 2006, mas passou a ser o vistas e medidas físicas como aferição de pressão
principal programa de Promoção da Saúde para arterial, peso, altura e circunferência abdominal e,
o público escolar a partir de 2008. Com a amplia- em uma subamostra a coleta de material biológi-
ção dos critérios para adesão ao Programa, o PSE co (sangue e urina)28; 4) Vigilância de Violências
passou de 1,9 milhões de educandos beneficiados e Acidentes (VIVA), em seus dois componentes:
em 2008, para 18,7 milhões em 2013, com adesão inquéritos periódicos em Unidades de Urgências
de 4.864 municípios. Para 2014, está previsto o e Emergências, com o objetivo de identificar o
repasse financeiro de R$ 71 milhões; um aumen- perfil das violências nos hospitais de urgências
to de aproximadamente 100%, comparado ao fi- localizados nos municípios selecionados; e a vi-
nanciamento inicial de R$ 36,5 milhões. gilância contínua de violência, que capta dados
Em relação aos programas de redução de de violência doméstica, sexual e/ou outras vio-
morbimortalidade no trânsito, a partir de 2006 lências em serviços de saúde, sendo universali-
foram repassados recursos, inicialmente para 16 zada em território nacional em 2011, por meio
capitais, e progressivamente expandindo para as de módulo do Sistema de Informação de Agravos
demais capitais e cidades com população acima de Notificação (Sinan), a partir de 200929; 5) Pes-
de 1 milhão de habitantes. Em 2010, foi criado o quisa de Orçamentos Familiares (Pof), iniciada
Projeto Vida no Trânsito (PVT)23, ampliando par- no final da década de 80 e inclui medidas antro-
cerias, incluindo novas metodologias para defi- pométricas, inquérito sobre consumo alimentar,
nição e seleção de fatores de riscos, definição dos sendo um importante instrumento para moni-
planos intersetoriais locais, e de grupo interseto- toramento do estado nutricional e do consumo
rial de condução local e nacional23. Assim entre alimentar da população brasileira25. Os dados
2006 e 2013 cerca de 50 milhões de reais foram de 2008 foram fundamentais para o monitora-
repassados aos municípios. Em 2013, o PVT en- mento da políticas de alimentação e nutrição; 6)
trou no Piso Variável de Vigilância e Promoção Sistema de Informações de Vigilância Alimentar
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e Nutricional (Sisvan), no acompanhamento das participação social no processo de revisão, a nova
condicionalidades do bolsa família. versão do Guia Alimentar ficou disponível para
consulta pública durante 90 dias em 201432.
Qualificação da Força de Trabalho Foram realizadas também oficinas estaduais
Nestes oito anos da PNPS foram organiza- com profissionais de saúde que atuam na rede e
dos vários seminários, debates, reuniões técnicas, gestores, além de profissionais de outros setores e
capacitações sobre os diferentes temas, visando representantes da sociedade civil, e tiveram como
ampliar a compreensão do tema da promoção objetivos apresentar a nova versão do documento
da saúde no SUS. Dentre os eventos, destaca-se e fomentar a discussão, garantindo um processo
o I, II e III Seminário Nacional sobre a Política amplo, participativo e intersetorial de construção
Nacional de Promoção da Saúde, em 2007, 2010 de seu conteúdo.
e 2014, respectivamente, com a participação de
profissionais e gestores do SUS de estados e mu- Regulação e controle
nicípios, e representantes de instituições de ensi- Medidas regulatórias podem ser efetivas para
no e pesquisa. o enfrentamento da elevação das mortes e feri-
A estratégia de realização de cursos presen- mentos no trânsito e, por isso, o Ministério da
ciais para a qualificação da força de trabalho do Saúde vem assumindo o protagonismo nas ar-
SUS se mostrou insuficiente e foram organizados ticulações e advocacy em relação à aprovação de
cursos à distância que têm cumprido o papel de Leis que restringem o consumo de bebidas alcoó-
ofertar conteúdos que possam apoiar a qualifica- licas para motoristas, como a Lei n° 11.705/2008,
ção de gestores e profissionais de saúde no tema popularmente conhecida como “Lei Seca”, e a Lei
da Promoção da Saúde. Nos últimos anos, foram 12.760/2012, que fortaleceu as ações do agente de
realizados cinco edições do Curso de Educação trânsito na aplicação de medidas que favoreçam
à Distância (EAD) em Promoção da Saúde, uma a proteção à vida e a prevenção de acidentes de
Parceria com a Universidade de Brasília30 e cinco trânsito em relação ao fator álcool e direção vei-
edições do curso de capacitação de prevenção de cular. Além disto, destaca-se o aumento do con-
violências e acidentes em parceria com Centro trole e fiscalização no fornecimento de bebidas
Latino Americano de Estudos sobre Violência e para menores de dezoito anos.
Saúde Jorge Careli/Claves, da Fundação Oswaldo A política de regulação dos produtos do taba-
Cruz para o desenvolvimento do curso a distân- co é considerada das mais avançadas do mundo,
cia Impactos da Violência na Saúde. Foram ofer- e já desde a década de oitenta avanços na regu-
tadas cerca de 4.000 vagas, em média 400 por edi- lação dos ambientes livres, proibição da propa-
ção, nestas dez edições de cursos de EAD. Além ganda do cigarro, introdução das mensagens de
disto, foram disponibilizados livros, materiais advertência nos maços. Em dezembro de 2011,
educativos em sites, artigos31. foi sancionada a Lei no 12.546, que proíbe o ato
Outro exemplo de material educativo para de fumar em recintos coletivos, aumenta a taxa-
formação dos profissionais em saúde e também ção dos cigarros para 85% e define preço mínimo
para o processo de comunicação social e de di- para a venda do cigarro, visando o enfrentamen-
fusão de informação para a população, consiste to da venda de produtos contrabandeados. A Lei
no Guia Alimentar para a População Brasileira. também aumentou o espaço de advertências dos
Em sua versão de 2006, consistiu nas primeiras cigarros, sendo 100% em uma das faces frontais,
diretrizes oficiais para a promoção da alimenta- 100% em uma das faces laterais, e ampliou até
ção adequada e saudável, sendo um instrumento 2015 para mais 30% na outra face frontal. A re-
estratégico de educação alimentar e nutricional. gulamentação dessa lei se deu pelo Decreto da
Diante da necessidade de revisão periódica de seu Presidência da República nº 8.262, de 31 de maio
conteúdo, a versão atualizada, a ser lançada em de 2014, que estendeu a sua abrangência para
2014, traz novos paradigmas sobre a necessidade ambientes parcialmente fechados por uma pare-
de compreensão das práticas alimentares no con- de, divisórias, teto ou até toldo. O Decreto tam-
texto do sistema alimentar e de forma coerente bém definiu como responsáveis pela fiscalização
com atual estágio da transição nutricional32. O as vigilâncias sanitárias de estados e municípios,
processo de reestruturação teve início em 2011 assim como as penalidades para a infração33. A
com a realização da 1ª Oficina de escuta para regulamentação do preço mínimo do cigarro
orientar a revisão, e em agosto de 2013 aconteceu foi realizada pelo Decreto 7.555/2011. Ainda em
a 2ª Oficina de avaliação técnica de seu conteúdo. 2011, a Anvisa proibiu o uso de aditivos nos ci-
Com o intuito de garantir transparência e ampla garros, mas esta medida está com efeito suspen-
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sivo pelo Supremo Tribunal Federal. Em agosto podendo contribuir para ações de mobilização
2012, a Anvisa abriu o Laboratório de Toxicolo- social. Alguns dos dados divulgados referem-se,
gia do Tabaco para apoiar as medidas de fiscaliza- por exemplo, ao aumento da obesidade no país e
ção do setor34. Em abril de 2013, o Ministério da a programas para incentivar a prática da ativida-
Saúde publicou a Portaria 571, sobre a ampliação de física17 e alimentação saudável34,35 aos acordos
do tratamento dos tabagistas nas unidades do para redução do sal36, divulgação sobre dados de
SUS, inclusive com o acesso aos medicamentos e violência e acidentes de trânsito, dados sobre a
acompanhamento34. redução da prevalência do tabagismo e a ações de
A regulação da publicidade de alimentos foi ambientes livres do tabaco.
regulada em RDC n° 24/2010, pela Agência de Uma das ações contínuas foi a celebração
Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo posterior- dos dias Mundiais da Atividade Física e da Saú-
mente suspensa pelo Poder Judiciário. A retoma- de, anualmente, sempre na primeira semana de
da desta discussão, principalmente para crianças abril. Foram vários lemas como: Pratique Saúde
e jovens, se deu em 2013, no âmbito do Comitê (2007); Entre para o time onde a saúde e o meio
Gestor da PNPS, com a criação de um Grupo de ambiente jogam juntos (2008), articulando o tema
Trabalho no âmbito do Comitê Gestor da PNPS, da intersetorialidade; Praticar atividade física é
bem como de um GT interno ao Conselho Na- tão simples que você faz brincando (2009), Saúde e
cional de Segurança Alimentar e Nutricional Qualidade de Vida (2010); Viver com Saúde é uma
(Consea). Grande Vitória (2013), Quem busca Qualidade
Ao final de 2013, a Anvisa discutiu a revo- de Vida Não pode ficar parado (2014), estes últi-
gação/revisão da RDC n° 24/2010, como parte mos chamando atenção para os grandes eventos
da agenda regulatória 2013/2014. Os próximos esportivos, a importância da atividade física na
encaminhamentos serão definidos a partir de qualidade de vida; dentre outros temas.
um chamamento público proposto para que os
interessados se manifestem à respeito do futuro Articulação intersetorial e parcerias
dessas RDC. As alternativas propostas são a ela-
boração de um Projeto de Lei (PL) de inciativa A promoção da saúde deve articular o con-
do Poder Executivo, a inserção de um dispositivo junto das políticas públicas visando influenciar
em Medida Provisória ou o investimento em mo- na melhoria da qualidade de vida3. A interseto-
dificações da própria RDC. rialidade consiste em processos sistemáticos de
Concomitantemente, continua o acompa- articulações, atuações, planejamento e coopera-
nhamento do trâmite dos Projetos de Lei que tra- ção entre as políticas públicas e os diferentes se-
tam de regulação da publicidade de alimentos no tores da sociedade. Constitui-se em uma estraté-
Congresso Nacional. Importante vitória alcança- gia, articulada entre saberes e práticas, que busca
da em 2014 foi a resolução do Conselho Nacional a convergência de recursos humanos, financeiros,
dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligado políticos e organizacionais37.
à Secretaria de Direitos Humanos da Presidên- No âmbito da Promoção da Saúde, a articula-
cia da República, que aponta como abusiva a ção intersetorial tem como objetivo promover a
publicidade que incentive a criança a consumir gestão compartilhada entre usuários, movimen-
determinado produto ou serviço fazendo uso de tos sociais, trabalhadores do setor sanitário e de
linguagem, efeitos ou brindes com apelo. outros setores, produzindo autonomia e corres-
ponsabilidades5. As ações intersetoriais avançam
Ações de mobilização social e divulgação em relação à cultura institucional pautada por
ações isoladas, setorializadas, procurado harmo-
Um balanço inicial das ações de comunica- nizá-los com as diversas políticas que promovem
ção e mobilização aponta que foram utilizadas o avanço na efetivação dos princípios do SUS e na
em especial formas de comunicação alternativas, inclusão e justiça social, repercutindo nas diver-
como redes sociais, com destaque para as mídias sas políticas no âmbito da saúde e setores afins.
espontâneas, organizações de sites e mobilização No que se refere às ações intersetoriais de
comunitária. prevenção de violência destacam-se marcos le-
A divulgação dos resultados dos inquéritos gais como: Plano de Ação para o Enfretamento
(Vigitel, Viva, PeNSE, PNAD) foi feita nas rádios, da Violência Contra a Pessoa Idosa (2005); Po-
na TV, em jornais e revistas, dando visibilidade às lítica Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
informações sobre Promoção da Saúde e preven- Pessoas (Decreto nº 5.948, de 26/10/2006); Lei
ção de doenças crônicas e acidentes e violências, Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 7/8/2006), Po-
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lítica Nacional de Saúde Integral da População para Controle do Tabaco (CONICQ), criada por
Negra (Portaria MS/GM n° 992, de 13/5/2009); Decreto Presidencial38, tem caráter interministe-
Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, rial e representa o fórum governamental respon-
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT sável por implementar as medidas da CQCT no
(2008), Política de Atenção Integral à Saúde da país. Esta Comissão é integrada hoje por 18 áreas
Mulher, Linha de Cuidado para a Atenção à Saú- do governo. A presidência da CONICQ cabe ao
de de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Ministro da Saúde, e o INCA é responsável pela
Situação de Violências, entre outros. sua Secretaria-Executiva. Para maiores detalhes,
O Projeto Vida no Trânsito conta com ampla acessar o Observatório da Política Nacional de
parceria envolvendo instituições nacionais, inter- Controle do Tabaco.
nacionais e locais, na laboração de um plano de Destacamos as parcerias com o Ministério da
ações integradas e intersetoriais de segurança no Educação, na implementação de ações do Progra-
trânsito, visando reduzir este quadro de morbi- ma Saúde na Escola, e com o Ministério do Es-
mortalidade. Foi implantado em 2010, em cin- porte, apoiando o Programa Academia da Saúde.
co capitais brasileiras: Belo Horizonte, Curitiba,
Teresina, Palmas, Campo Grande, e, após 2012, Promoção da Saúde no território
expandido para todas as capitais e cidades acima
de 1 milhão de habitantes. O PVT utiliza como Dentre as ações no território, destacamos
ferramenta as informações obtidas a partir das a Rede Nacional de Prevenção das Violências e
análises feitas pelas Comissões Locais de Dados, Promoção da Saúde, que conta com rede capila-
que orientam as intervenções integradas e inter- rizada e que tem avançado na identificação e no-
setoriais nos territórios de maior necessidade. tificação das violências no território e integrado
São articuladas ações integradas de educação, com as ações intersetoriais na rede de atenção e
engenharia de trânsito, fiscalização, pesquisa e de proteção às vítimas de violências. Destacamos
comunicação social. As intervenções são defini- ainda o Projeto Vida no Trânsito, sua articulação
das em parceria e as ações executadas segundo as intersetorial, bem como a integração das redes de
responsabilidades e especificidades de cada ins- urgência e emergência do território, na produção
tituição. São exemplos as fiscalizações, como as do cuidado e na redução da morbimortalidade
blitzes, para checagem de consumo de álcool em no trânsito.
condutores, em que o planejamento e execução No território escolar, o Programa Saúde na
se dá de forma integrada entre a Polícia Militar, Escola se configura como importante espaço para
Órgão Municipal de Trânsito, Polícia Rodoviária articulação das equipes de atenção básica com os
Estadual, Polícia Rodoviária Federal, Detran, o profissionais de educação, proporcionando a sus-
que potencializa o impacto da operação23. tentabilidade das ações a partir da conformação
Na área de desenvolvimento sustentável fo- de redes de responsabilidade compartilhada so-
ram construídas diversas parcerias com Minis- bre o território. As ações de Promoção da Saúde
térios do Meio Ambiente, Integração, Cidades, e prevenção de doenças e agravos realizadas no
Casa Civil, Secretarias Estaduais de Saúde e Se- PSE visam garantir oportunidade a todos os edu-
cretarias Municipais de Saúde, para a realização candos de fazerem escolhas mais saudáveis e de
de Planos de Desenvolvimento Sustentável em serem protagonistas do processo de produção da
áreas como a Região Turística do Meio Norte própria saúde. O PSE procura fomentar uma ges-
(Piauí, Maranhão e Ceará); Plano de Desenvol- tão coletiva e participativa das ações, buscando
vimento Regional Sustentável do Xingu, dentre garantir educação e saúde integrais, a partir da
outros. Cita-se ainda a criação da Câmara Técni- participação dos profissionais, dos educandos e
ca de Saúde em Apoio a Política Nacional de De- da comunidade.
senvolvimento Regional (Portaria MS Nº 1.987, Destacamos ainda ações relativas à alimen-
de 12 de setembro de 2012), a Criação do Grupo tação saudável e a articulação com as redes de
Técnico Saúde e Licenciamento Ambiental, Por- atenção do território e a produção do cuida-
taria GM nº2241 de 25 de setembro de 2009, bem do, previstas tanto na PNAN, quanto na PNPS.
como o desenvolvimento de Programa Cidades A organização dessas ações deve considerar as
Sustentáveis – Brasil + 20 – políticas públicas vol- necessidades de cada território, a partir da arti-
tadas à gestão ambiental urbana. culação transversal dos diversos equipamentos
No que se refere à governança da Política Na- sociais disponíveis e buscando a autonomia dos
cional de Controle do Tabaco, a Comissão Na- indivíduos e das comunidades, de forma ampla
cional de Implementação da Convenção-Quadro e intersetorial5.
4308
Malta DC et al.

O Programa Academia da Saúde constitui um de Saint Louis, além de universidades nacionais,


modelo de intervenção nacional em Promoção como a Universidade Federal de Pelotas, Univer-
da Saúde, visando contribuir para a equidade no sidade Federal de São Paulo, a Pontifícia Univer-
acesso a ações voltadas à produção do cuidado sidade Católica do Paraná, a Universidade Fede-
e modos de vida saudáveis em espaços qualifica- ral de Minas Gerais, e a Universidade Federal de
dos, constituindo-se equipamentos da atenção Sergipe40,41.
básica em saúde. O Programa Academia da Saúde Para a realização do Projeto GUIA de avalia-
tem as práticas corporais e atividade física como ção dos programas de atividade física foram ado-
um eixo central de suas ações, e também incluin- tadas diferentes estratégias metodológicas, como:
do as demais ações de Promoção da Saúde no seu análise histórica da implantação dos programas
escopo, como alimentação saudável, prevenção em nível local, identificação do modelo lógico
de violência, prevenção de tabaco, álcool e drogas de cada programa, observação sistemática das
e outras21. atividades realizadas no espaço urbano, coleta
de dados qualitativos dos profissionais e gestores
Avaliação e monitoramento envolvidos, estudos quantitativos junto aos usuá-
rios, bem como realização de estudos por inqué-
A avaliação é conceituada como Processo de rito telefônico e domiciliar40-42.
determinação, sistemática e objetiva, da relevân- Dentre os principais resultados, estas avalia-
cia, efetividade, eficiência e impacto de atividades ções e monitoramentos demonstraram interven-
fundamentadas em seus objetivos. É um processo ções, que, como projetos comunitários, incluem
organizacional para implementação de atividades atividade física; políticas públicas e planejamen-
e para colaborar no planejamento, programação e tos que envolvam a comunidade e prática de ati-
tomada de decisão37. O processo de avaliação dos vidade física na escola são estratégias eficientes
programas e estratégias implementadas é essen- para o incremento dos níveis de atividades físicas
cial para se determinar a efetividade das interven- populacionais40-42.
ções sobre a saúde da população e sua adequação
quanto a acesso da população alvo, qualidade das
ações executadas, entre outros37,39. Discussão
Partindo-se deste pressuposto, o Ministério
da Saúde tem adotado diversas medidas com o Nestes oito anos desde a sua publicação, a PNPS
objetivo de avaliar a efetividade das ações de Pro- apresentou diversos avanços e importantes desa-
moção da Saúde, dentre elas destacamos: fios. A agenda de prioridades 2006 a 2007 acabou
a) A avaliação do Projeto Vida no Trânsito por ser cumprida, mas também foram inseridas
em cinco cidades, piloto do projeto, apontou ele- na prática novas ações, que não constavam no
vado percentual de cumprimento das metas de texto original. Na que se refere à gestão, foram
desempenho dos dois programas; aumento da financiados projetos de promoção da saúde em
fiscalização de velocidade; aumento da realização municípios, criação de programas de Promoção
de blitzes de checagem de álcool, com aumento da Saúde como: Vida no Trânsito, Academia da
do número de testes e redução do percentual de Saúde, Núcleos de Prevenção de Violências e Pro-
positividade dos mesmos; redução das taxas de moção da Saúde, Saúde na Escola, dentre outros.
mortalidade por 100 mil habitantes em Palmas, Foram realizadas avaliação de programas de ati-
Teresina, Belo Horizonte e redução da razão por vidade física e do programa Academia da Saúde,
10 mil veículos nas cinco capitais; tendência de que mostraram sua efetividade. Ações interseto-
redução dos riscos de morte nas capitais de maior riais foram relevantes, em especial a articulação
magnitude que nos seus respectivos estados23. com os setores de Educação, Justiça, Cidades, Di-
b) Avaliações dos programas de prática de reitos Humanos, Desenvolvimento Social, Espor-
atividade física existentes nos municípios do te/Lazer, dentre outros. Ações regulatórias foram
Brasil, como Recife, Curitiba, Belo Horizonte, implementadas, com destaque para a Lei “Seca”
Aracaju e Vitória; e na América Latina, por meio e lei de ambientes livres de tabaco. A prevalência
do Projeto Guia Útil de Avaliação em Atividade do tabagismo tem reduzido de maneira expressi-
Física (Guia), que conta com a participação e va nos últimos oito anos.
parcerias entre o Ministério da Saúde do Brasil, Nos últimos anos, foram assumidas novas
Organização Pan Americana de Saúde, Centro demandas e compromissos nacionais, como as
de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados agendas sociais coordenadas pela Casa Civil da
Unidos (CDC), Centro de Pesquisa e Prevenção Presidência da República, como o programa de
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Ciência & Saúde Coletiva, 19(11):4301-4311, 2014


enfrentamento da pobreza, segurança viária, den- Constitui-se um desafio a necessidade de
tre outros; agendas internacionais como a Con- avançar na ação intersetorial, buscando articu-
ferência de Alto Nível ONU – DCNT (2011), a lar ações destinadas a públicos específicos como
Conferência Mundial dos Determinantes Sociais a Promoção da Saúde no ambiente do trabalho,
da Saúde (2011), a Conferência Rio + 20 (2012), a na comunidade, buscando avançar em projetos
8ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde - destinados à melhoria da mobilidade urbana e na
Saúde em todas Políticas (Finlândia, 2013), dentre inclusão de pessoas com deficiência e idosos.
outras. Assim, o Ministério da Saúde optou pela Outro desafio consiste em avançar nas ações
revisão ampla, participativa e inclusiva da PNPS, intersetoriais referentes ao planejamento urbano,
quanto aos seus objetivos, diretrizes e ações prio- remodelação do espaço físico urbano, e definição
ritárias. Nesta revisão, a Abrasco participou de de políticas públicas voltadas para o ambiente
forma ativa na coordenação técnica e metodoló- urbano. Estas ações tem grande impacto nos ní-
gica da revisão, visando garantir a ampla parti- veis de atividade física populacionais, visando à
cipação de diferentes setores. Cabe ressaltar, que construção de espaços urbanos saudáveis e que
nesse amplo processo participativo, a maioria das visem à redução de iniquidades sociais, possibili-
ações foram mantidas como prioritárias. tando o acesso a espaços seguros e saudáveis pela
A Promoção da Saúde, entendida como estra- população de baixa renda. Estas ações cabem a
tégia de produção social de saúde, deve articular diversos setores, incluindo o Ministério das Ci-
o conjunto das políticas públicas que influenciem dades, Ministério do Transporte, Planejamento
o futuro da qualidade de vida urbana. Assim, as Urbano, dentre outros.
políticas públicas devem considerar a como seu Destacamos avanços na inserção de progra-
objeto fundamental de atuação a melhoria nas mas de Promoção da Saúde na programação
condições de vida, de trabalho, da cultura, esta- orçamentária; financiamentos destinados aos
belecendo uma relação harmoniosa com o meio municípios e estados para projetos de atividade
ambiente, fomentando a participação social3. Se- física e práticas corporais; avanços expressivos
gundo Moretti et al.3 a Promoção da Saúde envol- na vigilância da morbimortalidade e dos fato-
ve arranjos intersetoriais na gestão pública, o em- res de risco e proteção das DCNT; e avanços na
poderamento da população, o desenvolvimento avaliação dos projetos, nas parcerias, na capaci-
de competências e habilidades, capacitação, aces- tação de recursos humanos e na mobilização so-
so à informação, estímulo à cidadania ativa, en- cial. O campo da promoção está em processo de
tre outros, para que a população reconheça seus construção e ainda temos um grande caminho a
problemas e suas causas, a fim de que ela possa percorrer, mas estão dados os passos para a sua
advogar por políticas públicas saudáveis. institucionalização e fortalecimento.

Colaboradores

DC Malta, MMA Silva, GM Albuquerque, CM


Lima, T Cavalcante, PC Jaime e JB Silva Júnior
participaram igualmente de todas as etapas de
elaboração do artigo.
4310
Malta DC et al.

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Artigo apresentado em 16/07/2014


Aprovado em 08/08/2014
Versão final apresentada em 09/08/2014

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