Atributos essenciais da Atenção Primária e a Estratégia Saúde da Família
(Maria Amélia de Campos Oliveira, Iara Cristina Pereira)
O artigo discute os atributos essenciais da Atenção Primária à Saúde (APS) e sua
presença na Estratégia Saúde da Família (ESF) no Brasil. As autoras trazem como atributos essenciais da APS atenção no primeiro contato, longitudinalidade envolve ter acesso a uma fonte constante de atenção e utilizá-la continuamente ao longo do tempo, independentemente da presença de problemas de saúde específicos ou da natureza desses problemas. A integralidade compreende quatro dimensões cruciais: prioridade para ações de promoção e prevenção, atenção nos três níveis de complexidade da assistência médica, integração das ações de promoção, proteção e prevenção, e abordagem abrangente tanto do indivíduo quanto das famílias. E coordenação refere-se à harmonização entre vários serviços e iniciativas de saúde, garantindo que operem de maneira coordenada para alcançar um objetivo comum, independentemente do local de prestação. Seu propósito é proporcionar aos usuários um conjunto integrado de serviços e informações que atendam às suas necessidades de saúde, utilizando diversos pontos na rede de atenção à saúde. E como atributos derivados orientação familiar e comunitária e competência cultural. A Estratégia Saúde da Família (ESF) é uma proposta do Ministério da Saúde para reorganizar o modelo de atenção à saúde no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo a família como objeto de atenção, organiza os serviços de APS com foco em ações abrangentes de promoção, proteção e recuperação da saúde de forma contínua. Sua expansão nacional visa ir além da assistência médica, centrando-se nas necessidades da população através do estabelecimento de vínculos entre usuários e profissionais de saúde, que mantêm contato permanente com o território. Ao considerar a família como objeto de atenção, a ESF incorpora dois atributos fundamentais da APS: a abordagem familiar/comunitária e a competência cultural. Isso implica no reconhecimento das necessidades familiares em função do contexto físico, econômico e cultural, reforçando a importância da atenção integral e contextualizada na prestação de serviços de saúde. Além disso, as autoras abordam no artigo uma análise dos desafios e as possibilidades de implementar os atributos da APS na ESF, considerando as políticas, as diretrizes, as avaliações e as iniciativas governamentais relacionadas como Política Nacional de Regulação do SUS. instituída em 2008, reflete a abordagem integradora do Ministério da Saúde, visando garantir acesso aos serviços de saúde, planejamento eficiente e adequação da oferta às necessidades identificadas. O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica foi lançado para induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade na APS, com avaliação em curso no país, esta portaria institui o programa que tem como objetivo induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica, por meio de um conjunto de estratégias que envolvem avaliação externa, autoavaliação, monitoramento, educação permanente e incentivo financeiro. Dessa forma, o texto destaca os desafios enfrentados pela Atenção Primária à Saúde no Brasil, ressaltando questões como a falta de infraestrutura, baixa tecnologia, gestão inadequada, ausência de equipes multiprofissionais, precarização nas relações de trabalho e subfinanciamento. Esses desafios são atribuídos, em parte, a reformas econômicas nas décadas de 90, refletindo-se em baixo financiamento, segmentação no sistema de saúde e precarização do trabalho. Apesar desses obstáculos, o governo brasileiro adotou a Estratégia Saúde da Família como uma proposta de reorganização do sistema de saúde, visando à implementação de uma APS abrangente. A efetividade dessa política depende não apenas de diretrizes institucionais, mas também da assertiva defesa de um sistema público de saúde superior aos modelos liberal e médico tradicional. A superação desses desafios requer orientação clara, governança firme e ações que promovam a saúde para todos, conforme preconizado na Declaração de Alma-Ata.