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O processo de trabalho na Atenção Primária à Saúde

Quanto ao trabalho em saúde a produção realiza-se, sobretudo, por meio do


trabalho humano no exato momento em que é executado e que determina a produção do
cuidado, mas o trabalho vivo interage todo o tempo com instrumentos, normas,
máquinas, formando assim um processo de trabalho (Merhy, 2005; Santos, et al.,2018).
O debate em torno do processo de trabalho, em especial no contexto da saúde da
família, tem-se mostrado extremamente importante para a compreensão da organização
da assistência à saúde e, fundamentalmente, de sua potência transformadora,
particularmente quando nos debruçamos sobre a micropolítica de organização do
trabalho. Verifica-se que, no modelo médico-hegemônico, a distribuição do trabalho
assistencial é dimensionada para concentrar o fluxo da assistência no profissional
médico. No entanto, observa-se que há um potencial de trabalho de todos os
profissionais que pode ser aproveitado para cuidados diretos com o usuário, elevando
assim a capacidade resolutiva dos serviços. Isso se faz, sobretudo, reestruturando os
processos de trabalho e potencializando o ‘trabalho vivo em ato’ e a valise das relações,
como fontes de energia criativa e criadora de um novo momento na configuração do
modelo de assistência à saúde (Merhy, 2005).
Para isso a Estratégia Saúde da Família (ESF) visa à reorganização da atenção
básica no país, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), é tida
pelo Ministério da Saúde (MS) e gestores como estratégia de expansão, qualificação e
consolidação da atenção básica por favorecer uma reorientação do processo de trabalho
com maior potencial de aprofundar os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção
básica, de ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e
coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade (Brasil,2022).
A atenção básica numa rede de cuidados, quando bem estruturada pode resolver
de 80 a 90% dos problemas de saúde. Uma atenção básica produtiva fornece mais
qualidade de vida e satisfação para os usuários, fomenta o trabalho em equipe e
promove a satisfação profissional. Para isso a ESF requer o conhecimento do território e
a população adscrita, realização de acolhimento, trabalho em equipe, além de uma boa
organização da agenda e planejamento do serviço, portanto conhecer as características e
números dos territórios serão fundamentais para o planejamento e organização do
serviço (Brasil, 2017).
O Ministério da Saúde, através do Guia Prático para os Profissionais da ESF
sobre o Controle da Hanseníase na Atenção Básica, objetiva subsidiar os profissionais
de saúde que atuam na rede de atenção básica, com destaque para os profissionais da
ESF, sobre os mais importantes e atualizados conhecimentos para a abordagem do
paciente de hanseníase, como instrumento de capacitação, esperando que ele possa
contribuir para a eliminação da doença no país e reintegração dos pacientes curados ao
convívio na família e na sociedade (Penna, 2002).
Para isso a ESF desempenha papel fundamental na realização das ações de
controle da hanseníase, seja ela de prevenção ou promoção de saúde. Uma equipe bem
alinhada e treinada é capaz de mudar a realidade da população descrita (Penna, 2002).
O processo de trabalho está diretamente ligado a qualidade do serviço, para isso
uma equipe bem estruturada e treinada é fundamental para atenuar o alcance da doença,
a vigilância dos contatos se torna peça fundamental para controlar o avanço e realizar
diagnóstico precoce, visando a diminuição de incapacidades causada pela Hanseníase
(Merhy, 2005; Santos, et al.,2018).
Hodiernamente, a caracterização do processo protocolado da equipe médica e de
enfermagem da ESF se mantém escassa, tanto em literaturas quanto em pesquisas
científicas, de atribuições específicas no que tange a incumbência de cada profissional
no processo de avaliação de contatos de hanseníase. De acordo com o guia para o
controle de hanseníase, estruturado pelo MS, no que diz respeito a prevenção de
enfermidades, é atribuição do médico, do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do
agente comunitário de saúde realizar medidas de controle de contatos; em relação a
recuperação e reabilitação da saúde, é atribuição do médico, do enfermeiro e do auxiliar
de enfermagem fazer controle de doentes e contatos e é atribuição do agente
comunitário de saúde realizar busca de faltosos e contatos; no que diz respeito ao
acompanhamento e avaliação do cuidado, é atribuição do médico e do enfermeiro
planejar as atividades de busca de casos, busca de faltosos, contatos e abandonos.
Levando em conta estas considerações, entende-se que as atribuições do corpo médico e
de enfermagem se sobrepõem no contexto da avaliação de contatos hansênicos (Brasil,
2002).
Nesse sentido, embora as diretrizes que façam referência às atribuições de cada
profissional sejam arcaicas (realizadas no ano de 2002), são os princípios até hoje
regentes no país, ainda que não haja detalhamentos práticos de conduta mais elaborada.
À vista disso, o livro de Estratégia Nacional para Enfrentamento à Hanseníase 2024-
2030, estruturado também pelo MS, apesar de não abordar diretamente instruções
relacionadas às competências de cada profissional na atuação de avaliação dos contatos
de hanseníase, ele traça medidas de fortalecimento para o diagnóstico oportuno por
meio da busca ativa de contatos, isto é, promover a qualificação dos profissionais para
esta busca ativa através de parcerias com instituições de ensino, cursos de educação à
distância capacitantes, matriciamento ampliado, rotina de ações capacitantes de
profissionais da educação, capacitação dos agentes comunitárias de saúde e entre outros;
promover estratégias para o diagnóstico precoce na população geral, como campanhas
(Brasil,2024).
Para isso entender o processo de trabalho de médicos e enfermeiros da ESF em
Araguaína, Tocantins e identificar pontos de fragilidades a serem trabalhados é de
fundamental importância para melhoria dos indicadores no município, objeto desse
estudo. Assim, o objetivo de estudo é caracterizar o processo de trabalho da equipe de
saúde da família para vigilância de contatos de hanseníase na atenção básica.

Ministério da Saúde (Brasil). Guia de Hanseniase. Brasília, DF: Ministério da Saúde,


2002. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_de_hanseniase.pdf.

Ministério da Saúde (Brasil). Estratégia Nacional para Enfrentamento à Hanseníase


2024-2030. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/hanseniase/
estrategia-nacional-para-enfrentamento-a-hanseniase-2024-2030.

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