Você está na página 1de 9

538 Sarti TD et al.

da população requer dos profissionais de saúde ção da atenção primária à saúde, a escolha pelo
da ESF um olhar qualificado para a identifica- AMQ-ESF se deu por este ser um instrumento
ção destes problemas e exige a utilização de um desenvolvido e validado para utilização na ESF
conjunto de tecnologias adequadas para se lidar de forma a possibilitar a análise de processos de
com eles. trabalho específicos do modelo brasileiro, bem
Os avanços obtidos com a implantação e ex- como pela já apontada carência de estudos com
pansão da ESF nos municípios brasileiros são este desenho. Diante do exposto, o objetivo des-
muitos, incluindo a expansão do acesso da po- te estudo foi avaliar a implementação de ações
pulação aos serviços de saúde 8,9, a promoção da e ferramentas essenciais para o planejamento
equidade em saúde 10,11,12, a redução das taxas local pelas equipes de saúde da família do Espí-
de mortalidade infantil 10,13,14 e de internações rito Santo, Brasil, com base nos indicadores do
por condições sensíveis à atenção primária à AMQ-ESF.
saúde 15, uma melhor avaliação da ESF por parte
dos usuários quando comparada com serviços
tradicionais de atenção primária à saúde 16,17, Metodologia
a melhoria do cuidado a diversas condições de
saúde 12,18,19,20 e uma maior participação da po- Trata-se de um estudo ecológico, retrospectivo de
pulação na gestão dos serviços de saúde 21,22. análise de dados secundários, onde foram utiliza-
Contudo, estudos mostram que, apesar dos dos os dados disponíveis de 46 dos 64 municípios
avanços, a participação da população no coti- que aderiram ao processo AMQ-ESF no Espírito
diano dos serviços pouco tem influenciado na Santo até dezembro de 2007. Esta data refere-se
sua organização e na formulação de projetos e ao fechamento do primeiro momento avaliativo
ações atrelados às necessidades da comunida- do AMQ-ESF realizado pelos municípios estu-
de 23,24. Outros autores encontraram uma carên- dados, tal como preconizado pelo Ministério da
cia de iniciativas para o planejamento das ações Saúde, sendo, portanto, a linha de base avaliativa
de saúde, resultando em um processo de traba- da ESF nos locais estudados. O Espírito Santo é
lho parcelar, pouco reflexivo e ancorado na reso- o estado da Federação com o maior grau de ade-
lução de problemas imediatos surgidos princi- são e utilização da AMQ-ESF no país, sendo que
palmente do contato da equipe com os usuários 48% (n = 241) das equipes de saúde da família
que demandam por atendimentos clínicos não implantadas em 2007 neste estado responderam
programados 25,26,27,28. os questionários de autoavaliação.
Por outro lado, há evidências que mostram O projeto AMQ-ESF foi lançado pelo Minis-
dificuldades no trabalho em equipe no âmbito tério da Saúde em 2005, como parte da Política
da ESF tanto na interação dos profissionais en- Nacional de Avaliação da Atenção Básica, con-
tre si e com os usuários quanto na integração sistindo de cinco cadernos de autoavaliação nor-
das ações 29,30; no estabelecimento de ações que mativa e participativa da ESF. Estes cadernos são
incidam sobre os principais problemas de saú- formados por padrões de qualidade destinados
de da população adscrita 23,28; na utilização de a verificar a adequação das estruturas e proces-
informações para o planejamento, oriundas do sos de trabalho de gestores e profissionais das
Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) equipes de saúde vinculados à ESF, de forma a
e outros sistemas de informação 31; no estabe- fornecer aos atores locais uma descrição por-
lecimento de vínculos com a população 32; e na menorizada do que se considera desejável pa-
articulação de intervenções intersetoriais, que ra uma atenção primária à saúde 34. Os padrões
em geral são incipientes 33. Ou seja, ocorre a per- são variáveis categóricas nominais dicotômicas
sistência de um modo de organizar serviços e de resposta “sim” para as estruturas e processos
processos de trabalho que se distancia do ideá- adequadamente implantados e “não” no caso
rio da ESF, embora mudanças concretas tenham de implementação incompleta ou inexistente,
sido sinalizadas no decorrer de sua implemen- sendo que os mesmos são acompanhados por
tação no país. orientações básicas que padronizam o processo
No entanto, poucos trabalhos se destina- de resposta dos gestores e profissionais a respeito
ram a avaliar a ESF no que toca à utilização de do que está sendo avaliado 34.
dispositivos e processos específicos de planeja- O conteúdo dos cadernos que compõem o
mento pelas equipes de saúde, sendo que não AMQ-ESF foi desenvolvido por um painel de es-
há estudos com tal recorte que utilize indicado- pecialistas coordenado pelo Ministério da Saúde
res de processo dispostos na Avaliação para a no ano de 2004. Este painel agregava as diver-
Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da sas áreas técnicas do Ministério da Saúde que
Família (AMQ-ESF). É importante salientar que, tinham alguma interface com a ESF, bem como
embora existam outros instrumentos de avalia- representantes da Organização Pan-Americana

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM SAÚDE 539

da Saúde (OPAS), Banco Mundial, Universida- O coordenador local do processo de valida-


de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Conselho ção do AMQ-ESF organizava reuniões com os
Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), atores selecionados, sendo que nestes encon-
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de tros os instrumentos de autoavaliação eram
Saúde (CONASEMS) e Secretarias Estaduais de preenchidos e avaliados quanto a sua clareza,
Saúde da Bahia, Ceará, Espírito Santo e Minas pertinência e validade interna por meio de um
Gerais, sendo que o pré-teste do produto deste questionário específico para este fim. As críticas
trabalho foi realizado nos municípios de Olinda e sugestões eram registradas pelo coordenador e
(Pernambuco) e Petrópolis (Rio de Janeiro). Os todo o material proveniente das reuniões era en-
critérios para a seleção destes municípios foram caminhado ao Ministério da Saúde para análise
a facilidade de negociação das etapas do pré- e categorização. Após este momento, um mem-
teste com os gestores e profissionais e a possibi- bro do painel de especialistas visitava o municí-
lidade de se aplicar os instrumentos em realida- pio com o intuito de avaliar todo o processo de
des distintas de implantação da ESF (Nordeste distribuição dos questionários, coleta de dados
e Sudeste do país). A partir das análises deste e armazenamento e transmissão do material.
momento, procedeu-se à revisão dos padrões de Estas informações foram então utilizadas para
qualidade e sua distribuição inicial entre os ca- modificar os instrumentos de autoavaliação e
dernos de autoavaliação 34. consolidar os cinco cadernos que compõem a
A validação dos instrumentos ocorreu por versão final do AMQ-ESF 34.
meio de um trabalho de campo que envolveu A metodologia utilizada para o preenchimen-
gestores e cerca de 500 equipes de saúde da famí- to dos instrumentos de autoavaliação no proces-
lia distribuídas em 25 municípios pertencentes a so de validação do AMQ-ESF foi mantida como
21 estados da Federação. Os critérios utilizados orientação básica a partir de sua implantação
para a seleção destes municípios foram: tempo oficial. Os padrões de qualidade são apresenta-
de implantação da ESF (< 1 ano; entre 1 e 3 anos; dos com uma descrição básica do que se almeja
entre 5 e 7 anos; e 10 anos ou mais); cobertura avaliar em termos de estrutura e processos de
populacional da ESF (< 30%; entre 30% e 50%; trabalho na ESF, estando em anexo um detalha-
entre 50% e 70%; e > 70%); porte populacional do mento do que é necessário considerar para que
município (< 20 mil habitantes; entre 20 e 50 mil; se responda afirmativamente ao mesmo. A ideia
entre 50 e 100 mil; e > 100 mil habitantes); repre- geral do AMQ-ESF é apontar âmbitos da gestão
sentatividade regional (municípios das cinco re- e do cotidiano das equipes que são passíveis de
giões do país); continuidade da gestão municipal melhorias. Sendo assim, os atores são orienta-
em relação à eleição de 2002 (manutenção e não dos a responder “sim” apenas no caso de cumprir
manutenção da gestão); existência e modalidade com todos os critérios apontados no anexo de ca-
de equipes de saúde bucal (municípios com e da padrão de qualidade. Em caso de implantação
sem equipes de saúde bucal, contemplando suas incompleta de algum processo de trabalho ou
duas modalidades); e concordância com a par- estrutura, a resposta deveria ser “não”, possibi-
ticipação no processo. Desta forma, buscou-se litando o surgimento de um processo reflexivo e
contemplar as várias possibilidades de implanta- a respeito destas insuficiências. Desta forma, as-
ção da ESF de forma a garantir a validade externa segura-se a homogeneidade dos procedimentos
dos instrumentos 34. de coleta de dados. Além disso, como a equipe, a
Em cada município eleito para participar coordenação do serviço e a gestão do sistema lo-
da validação do AMQ-ESF, um coordenador cal de saúde preenchem apenas um questionário
local era designado e capacitado, sendo este o para cada um destes níveis de prática, a resposta
responsável por todas as fases de aplicação dos final para cada padrão de qualidade era obtida
instrumentos com os gestores e profissionais. A por consenso 34.
seleção das equipes de saúde era feita de forma No presente trabalho, para se avaliar o grau de
aleatória, respeitando o quantitativo estabeleci- implantação de estruturas e processos relaciona-
do no protocolo de pesquisa calculado com base dos ao planejamento local em saúde, utilizou-se
no número total de equipes de saúde da família dos padrões do caderno 4 de autoavaliação do
do município: até 19 equipes – 100% participa- AMQ-ESF, que é aquele destinado à autoavalia-
riam da validação; 20 a 39 equipes – 80%; 40 a 69 ção das equipes de saúde da família, que esti-
equipes – 60%; 70 a 99 equipes – 40%; acima de vessem relacionados a algumas das etapas gerais
100 equipes – 25%. Os secretários de saúde, os de um processo de planejamento: identificar e
coordenadores da atenção primária e os gestores descrever os problemas; propor mudanças e de-
das unidades de saúde às quais pertenciam as finir as intervenções; e avaliar os resultados das
equipes também participaram da validação dos intervenções 5,35. A análise dos dados foi feita por
respectivos instrumentos 34. meio de uma estatística descritiva composta de

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


540 Sarti TD et al.

média de percentual de respostas “sim” aos pa- nal da ESF, utilizou-se o teste ANOVA e o teste a
drões de qualidade e desvio padrão, sendo que a posteriori de Duncan (Duncan’s post-hoc test), a
unidade de análise foi o agrupamento das equi- um nível de 5% de significância. A hipótese de
pes de saúde por município estudado. Para tal, trabalho nesta análise estratificada é o grau de
utilizou-se o pacote estatístico SPSS 15.0 (SPSS implantação dos padrões de qualidade preconi-
Inc., Chicago, Estados Unidos) após reorganiza- zados pelo AMQ-ESF ser diretamente proporcio-
ção das planilhas a partir do banco original de nal ao tempo de implantação e cobertura popu-
dados disponibilizado pela Coordenação da Ava- lacional da ESF e inversamente proporcional ao
liação e Acompanhamento do Departamento de porte populacional do município.
Atenção Básica do Ministério da Saúde. Todas as diretrizes e normas regulamentado-
Um dos aspectos fundamentais do AMQ- ras de pesquisas envolvendo seres humanos pre-
ESF é a lógica incremental de seus padrões de vistas na Declaração de Helsinki e na Resolução
qualidade 34. São descritos cinco estágios de nº. 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pes-
qualidade, nos quais são dispostos os padrões quisa (CONEP) foram rigorosamente seguidas,
de qualidade de acordo com sua complexidade sendo o trabalho aprovado em Comitê de Ética
teórica de implementação. Definiram-se pontos em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do
de corte para análise das médias de percentual Espírito Santo (UFES) (com o parecer nº. 035/08).
de respostas “sim” aos padrões de qualidade de Um requisito do AMQ-ESF para utilização dos
acordo com os estágios de qualidade definidos dados é o sigilo quanto à identidade de todos os
pelo AMQ-ESF. Desta forma, o critério de aná- participantes do processo de avaliação, o qual
lise das variáveis quanto a sua adequação de foi seguido irrestritamente no desenvolvimento
implantação será: estágio elementar (E) – 80% desta pesquisa.
ou mais; estágio desenvolvimento (D) – 60% a
79,9%; estágio consolidado (C) – 40% a 59,9%;
estágio bom – 20% a 39,9%; e estágio avançado Resultados
(A) – 10% a 19,9%. 36.
Também se realizou uma análise estratificada A distribuição dos municípios pertencentes à
dos padrões de qualidade selecionados a partir amostra em termos populacionais está descrita
de características dos municípios componentes na Tabela 2. Observa-se que a amostra, quando
da amostra. Para tal, utilizaram-se cortes relacio- comparada com o perfil dos municípios do Espí-
nados ao tempo de implantação da ESF no muni- rito Santo, possui um percentual menor de muni-
cípio, à cobertura populacional da ESF e ao porte cípios com até 20 mil habitantes. Outras caracte-
populacional do município 36, conforme descrito rísticas destes municípios é que no geral o Índice
na Tabela 1. Para a análise estratificada para tem- de Desenvolvimento Humano (IDH) destes está
po de implantação da ESF e porte populacional abaixo da média estadual, assim como a taxa de
do município, utilizou-se o teste estatístico t com urbanização, por serem municípios pequenos do
nível de 5% de significância e para a análise es- interior do estado.
tratificada com relação à cobertura populacio-

Tabela 1

Critérios de avaliação dos padrões de resposta das equipes de saúde da família à Avaliação para a Melhoria da Qualidade da
Estratégia Saúde da Família (AMQ-ESF). Espírito Santo, Brasil, 2007 12.

Variável Estratificação Critérios

Tempo de Implantação da ESF 1 2 anos


2 4 anos
3 6 anos
Cobertura populacional 4 P25 = 44% de cobertura
5 P50 = 95% de cobertura
6 P75 = 100% de cobertura
7 < P25/P25 – P50/> P50
Porte populacional 8 < 100 mil habitantes/
≥ 100 mil habitantes

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM SAÚDE 541

Tabela 2

Estratificação dos municípios conforme tamanho da população. Espírito Santo, Brasil, 2007.

Amostra Espírito Santo


Tamanho populacional
n % n %

Até 20 mil habitantes 24 52,17 47 60,26


20-100 mil habitantes 14 30,43 23 29,49
Superior a 100 mil habitantes 8 17,39 8 10,26
Total 46 100,0 78 100,0

Os padrões de qualidade utilizados como va- panham as ações na sua área de atuação em par-
riáveis neste estudo, seus respectivos estágios de ceria e/ou articulação informal com ONG, asso-
qualidade na estratégia AMQ e suas médias de ciações, conselhos, igrejas e movimentos sociais.
percentual de respostas “sim” estão dispostos na Contudo, apenas 8,4% das equipes elaboram
Tabela 3. No geral, as ações de planejamento e estratégias para o enfrentamento dos principais
programação em saúde elencadas neste trabalho problemas sociais de seus territórios adscritos
se mostraram parcialmente implementadas nas e 8,5% inserem representantes de movimentos
equipes de saúde da família estudadas. sociais em seu planejamento cotidiano de forma
Com relação à etapa “identificar e descrever a ampliar a compreensão das necessidades de
os problemas”, algumas potencialidades e limites saúde da população, ambos abaixo do esperado.
das equipes de saúde foram encontrados. Quanto Por último, na etapa “avaliar o resultado das
à organização das fontes de informação, a maio- intervenções”, observa-se que 42,6% das equipes
ria das equipes (72,2%) organiza seus prontuá- realizam reuniões semanais com todos os seus
rios por núcleo familiar, embora um percentual membros para discutir casos, resolver conflitos,
menor das equipes (65,7%) atualiza os cadastros planejar as ações e compartilhar saberes, 18,5%
familiares mensalmente. Quanto ao diagnóstico avaliam suas ações ao menos semestralmente e
da situação de saúde da população, 42,5% das 24,3% delas participam da maior parte das reu-
equipes o realizam e 36,1% possuem registros niões do conselho municipal de saúde. Entretan-
de aspectos variados do território (aspectos de- to, 38,5% das equipes realizam avaliações mais
mográficos, socioeconômicos, étnicos, culturais, frequentes, ao menos mensal, e planejam a con-
ambientais e sanitários da área adscrita). tinuidade de suas ações; 24,5% das equipes dis-
Ainda nesta etapa, 55,8% das equipes tra- ponibilizam recursos para registro de sugestões
balham com mapa de sua área de abrangência, e reclamações dos usuários; e 7,1% reúnem-se
21,4% identificam situações dinâmicas do ter- com a comunidade trimestralmente para deba-
ritório e 11,8% organizam painéis de situação. ter os problemas locais de saúde, a assistência
Quanto ao monitoramento dos processos de prestada e os resultados alcançados. Quanto à
trabalho, 28,1% das equipes monitoram as refe- análise estratificada, observa-se que alguns pa-
rências para outros níveis de atenção e 36,3% as drões de qualidade alcançaram significância es-
solicitações de exames diagnósticos. Os percen- tatística em alguns estratos, conforme pode ser
tuais de equipes que monitoram o tipo de soli- visualizado na Tabela 4.
citação pelo serviço (por exemplo, consultas de
crianças, mulheres, hipertensos, idosos, exames
e procedimentos, comparando-os com a deman- Discussão
da total pelas ações da equipe) e o tempo médio
de espera por estes são, respectivamente, 33,2% Os resultados deste trabalho mostram uma he-
e 36,3%. terogeneidade e uma incompletude na implan-
Na etapa “propor mudanças e definir as in- tação de processos de trabalho e ferramentas de
tervenções”, observou-se que 57,8% das equipes planejamento pelas equipes de saúde da família
utilizam o SIAB para planejar suas ações e 28,5% dos municípios do Espírito Santo. Como poten-
das equipes diagnosticam os problemas, plane- cialidades, essas equipes organizam o registro
jam as intervenções e realizam as ações de ma- clínico por núcleo familiar e dispõem de mapas
neira integrada. Por outro lado, observou-se que do território com informações abrangentes e re-
26,2% das equipes, planejam, executam e acom- levantes, monitoram alguns processos e fluxos de

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


542 Sarti TD et al.

Tabela 3

Ações de planejamento local em saúde na Estratégia Saúde da Família (ESF). Espírito Santo, Brasil, 2007.

Número do padrão de Estágio de qualidade * Descrição do padrão de qualidade Média ** DP


qualidade

Identificar e descrever os
problemas
4.1 E (80,0%-100,0%) O cadastramento das famílias é atualizado mensalmente. 65,7 39,0
4.9 D (60,0%-79,9%) Os prontuários estão organizados por núcleos familiares, 72,2 33,6
fortalecendo o modelo de atenção da saúde da família.
4.7 D (60,0%-79,9%) A equipe realiza diagnóstico da situação de saúde da 42,5 34,5
população, identificando os problemas mais frequentes.
4.6 D (60,0%-79,9%) A ESF trabalha com mapa da sua área de atuação no qual estão 55,8 33,9
discriminadas as microáreas de responsabilidade dos agentes
comunitários de saúde.
4.10 C (40,0%-59,9%) A ESF possui registros de aspectos variados do território e sua 36,1 35,7
população.
4.12 C (40,0%-59,9%) A ESF registra e monitora as referências para outros níveis de 28,1 32,1
atenção.
4.13 C (40,0%-59,9%) A ESF registra e monitora as solicitações de exames 36,3 34,6
diagnósticos.
4.17 B (20,0%-39,9%) A ESF monitora a procura pelo serviço quanto ao tipo de 33,2 31,6
solicitação, verificando o percentual de atendimento.
4.31 B (20,0%-39,9%) Existe monitoramento do tempo médio de espera pelos 36,3 31,9
serviços.
4.18 B (20,0%-39,9%) Os mapas de trabalho da equipe estão atualizados e apontam 21,4 29,5
situações dinâmicas do território e sua população.
4.20 A (10,0%-19,9%) A ESF organiza “painel de situação” com os mapas, dados e 11,8 19,9
informações de saúde do território.
Propor mudanças e definir
as intervenções
4.5 D (60,0%-79,9%) A ESF utiliza as informações do SIAB para o planejamento do 57,8 37,8
trabalho.
4.36 D (60,0%-79,9%) São elaboradas com a população estratégias para o 8,4 18,8
enfrentamento dos problemas sociais de maior expressão local.
4.19 B (20,0%-39,9%) A ESF trabalha o diagnóstico, o planejamento e a realização das 28,5 30,0
ações para o território de maneira integrada.
4.48 B (20,0%-39,9%) A equipe planeja, executa e acompanha as ações na sua área 26,2 26,1
de atuação em parceria e/ou articulação informal com ONG,
associações, conselhos, igrejas e movimentos sociais.
4.58 A (10,0%-19,9%) Existe participação de representantes de movimentos sociais e 8,5 18,0
usuários no processo de planejamento do trabalho das ESF.

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM SAÚDE 543

Tabela 3 (continuação)

Número do padrão de Estágio de qualidade * Descrição do padrão de qualidade Média ** DP


qualidade

Avaliar o resultado das


intervenções
4.26 D (60,0%-79,9%) Recursos para registro de sugestões e reclamações estão ao 24,5 32,6
alcance dos usuários.
4.16 C (40,0%-59,9%) A ESF dedica uma reunião mensal à avaliação dos resultados 38,5 31,9
alcançados e planejamento da continuidade das ações.
4.56 C (40,0%-59,9%) A ESF reúne-se com a comunidade trimestralmente para 7,1 18,8
debater os problemas locais de saúde, a assistência prestada e
os resultados alcançados.
4.15 C (40,0%-59,9%) A ESF dedica um período da semana para reunião de equipe. 42,6 39,1
4.57 B (20,0%-39,9%) A ESF participa de reuniões com conselhos de saúde. 24,3 28,1
4.21 A (10,0%-19,9%) A ESF realiza avaliação semestral dos resultados alcançados. 18,5 29,2

DP: desvio-padrão; SIAB: Sistema de Informação da Atenção Básica.


* As letras referem-se ao estágio de qualidade ao qual o padrão pertence: E: elementar; D: desenvolvimento; C: consolidado; B: bom; A: avançado;
** Média de percentual de respostas “sim” aos padrões de qualidade do projeto Avaliação para a Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família
(AMQ-ESF).

Tabela 4

Padrões de resposta das equipes de saúde da família à Avaliação para a Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família (AMQ-ESF) com significância
estatística, estratificados por tempo de implantação e cobertura populacional da ESF e porte populacional do município. Espírito Santo, Brasil, 2007.

Variável Descrição Estrato Média ** DP Valor de p ***

Estratificação 1: tempo de
implantação da ESF (ponto
de corte = 2 anos)
4.36 D São elaboradas com a população estratégias para o > 2 anos 2,1 4,8 0,036
enfrentamento dos problemas sociais de maior expressão < 2 anos 10,3 21,1
local.
4.48 B A equipe planeja, executa e acompanha as ações na sua > 2 anos 13,3 17,6 0,023
área de atuação em parceria e/ou articulação informal < 2 anos 30,3 27,3
com ONG, associações, conselhos, igrejas e movimentos
sociais.
Estratificação 2: tempo de
implantação da ESF (ponto
de corte = 4 anos)
4.5 D A ESF utiliza as informações do SIAB para o planejamento > 4 anos 54,4 38,7 0,030
do trabalho. < 4 anos 81,0 21,4
4.20 A A ESF organiza “painel de situação” com os mapas, dados > 4 anos 13,2 21,0 0,009
e informações de saúde do território. < 4 anos 2,7 4,6
Estratificação 4: cobertura
populacional da ESF
(P25 = 44%)
4.6 D A ESF trabalha com mapa da sua área de atuação no qual < 44,0% 76,9 20,7 0,003
estão discriminadas as microáreas de responsabilidade dos > 44,0% 49,1 34,8
agentes comunitários de saúde.

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


544 Sarti TD et al.

Tabela 4 (continuação)

Variável Descrição Estrato Média ** DP Valor de p ***

4.20 A A ESF organiza “painel de situação” com os mapas, dados < 44,0% 3,8 7,9 0,020
e informações de saúde do território.. > 44,0% 14,3 21,9
4.21 A A ESF realiza avaliação semestral dos resultados < 44,0% 5,0 9,2 0,005
alcançados. > 44,0% 22,7 32,0
Estratificação 7: cobertura
populacional da ESF
(< P25/P25-P50/> P50)
4.6 D A ESF trabalha com mapa da sua área de atuação no qual < P25 79,7 21,4 0,040
estão discriminadas as microáreas de responsabilidade dos P25-P50 75,2 20,2
agentes comunitários de saúde. > P50 48,4 35,0
4.14 C A ESF notifica os usuários sobre a marcação de consultas < P25 68,9 46,3 0,019
especializadas e ou exames. P25-P50 80,2 21,0
> P50 93,9 13,1
4.19 D A ESF trabalha o diagnóstico, o planejamento e a < P25 33,6 22,8 0,030
realização das ações para o território de maneira P25-P50 52,5 34,4
integrada. > P50 22,3 27,3
Estratificação 8: porte
populacional do município
4.13 C A ESF registra e monitora as solicitações de exames + 100 mil 15,86 17,17 0,007
diagnósticos. habitantes
- 100 mil 40,65 35,87
habitantes
4.21 A A ESF realiza avaliação semestral dos resultados + 100 mil 5,38 7,89 0,008
alcançados. habitantes
- 100 mil 21,27 31,26
habitantes

DP: desvio-padrão; SIAB: Sistema de Informação da Atenção Básica.


* As letras que seguem o número do padrão de qualidade referem-se ao estágio de qualidade ao qual o padrão pertence: E: elementar; D: desenvolvimento;
C: consolidado; B: bom; A: avançado;
** Média de percentual de respostas “sim” aos padrões de qualidade do AMQ-ESF;
*** Nível de significância para o teste t e ANOVA, quando pertinentes.

trabalho no serviço, realizam reuniões de equipe mesmo este padrão ficou com uma média abai-
com frequência e, em certa medida, se articulam xo do esperado.
com os movimentos organizados da comunida- Corroborando alguns resultados deste estu-
de para o planejamento das ações. do, Kawata et al. 26 mostram que, contrário às
Contudo, tomadas em sua totalidade, as mé- características centrais da ESF enunciadas pe-
dias de respostas “sim” aos padrões de qualidade los documentos oficiais do Ministério da Saúde,
selecionados do caderno 4 de autoavaliação do as equipes de saúde raramente planejam suas
AMQ-ESF são baixas e mostram as dificuldades ações em conjunto com a comunidade e outros
de se articularem ferramentas e ações coletivas trabalhadores dos serviços, sendo que as ações
para o planejamento e monitoramento das in- de planejamento são geralmente desenvolvi-
tervenções no contexto local. Quanto a isto, uma das de forma centralizada e pouco participati-
das questões a serem levantadas é a comple- va. Por outro lado, tanto neste estudo como em
xidade dos padrões de qualidade destinados à Mishima 27, não foram identificados processos
normatização das ações de diagnóstico local e sistemáticos de avaliação e monitoramento das
planejamento das intervenções propostos pelo ações.
AMQ-ESF. O único padrão de qualidade selecio- Também se pode aventar a resistência em se
nado que pertence ao estágio de qualidade ele- reorientar o modelo biomédico na atenção pri-
mentar (E) é o que se refere à atualização mensal mária à saúde, ainda persistindo na ESF proces-
do cadastramento das famílias do território, e sos centrados em procedimentos e na atenção

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM SAÚDE 545

individual curativa 37, sendo a formação aca- Quanto ao porte populacional dos municí-
dêmica dos profissionais de saúde inadequada pios, também se observou pouca influência desta
para este cenário assistencial um dos fatores variável nos padrões de qualidade do AMQ-ESF,
relacionados. Um discurso muito comum é que embora exista farta literatura mostrando as difi-
a demanda por consultas individuais sufoca as culdades dos grandes municípios em implantar
equipes, deixando pouco tempo para a execução eficazmente a ESF em seu território 40,41,42. Não
de outros processos de trabalho fundamentais é possível dizer se os aparatos institucionais de
na atenção primária à saúde, embora a resolu- apoio às equipes – como educação permanente
ção deste problema passe exatamente por um e gestão do trabalho, incluindo aí vínculos em-
planejamento e programação dos processos de pregatícios – e a infraestrutura das unidades de
trabalho de forma adequada 25. saúde se diferenciam entre os municípios, o que
Além disso, esta realidade não sofre grande poderia explicar possíveis diferenças entre o nível
influência do tempo de implantação e cobertu- de implementação dos processos de trabalho das
ra populacional da ESF. Portanto, não se pode equipes de saúde. Contudo, parece haver relação,
afirmar que um maior tempo de implantação e mesmo que mínima, entre processos de monito-
uma maior cobertura populacional da ESF in- ramento e avaliação em favor de pequenos mu-
dicariam uma maior maturidade municipal em nicípios, possivelmente explicados em decorrên-
termos de organização de seus sistemas locais cia da menor sobrecarga do sistema municipal
de saúde e significariam uma maior probabili- com referências a outros níveis de atenção e com
dade de adequação dos processos de trabalho solicitações de exames propedêuticos. De qual-
das equipes de saúde aos padrões de qualidade quer forma o fraco desempenho das funções e de
do AMQ-ESF. ações ligadas ao planejamento, observados no
Quanto a isto, a adoção da saúde da família conjunto dos municípios indicam a necessidade
como estratégia prioritária para a organização de avaliar as falhas existentes nos processos de
da atenção básica municipal tem mostrado re- educação permanente das equipes e questionar
sultados conflitantes segundo alguns estudos. a prioridade dada pelas instâncias gestoras a esta
Elias et al. 16, Machado et al. 38 e Escorel et al. 39 premissa básica da ESF.
encontraram que a prioridade dada à ESF está re- É importante também frisar algumas limita-
lacionada com uma melhor avaliação da atenção ções deste estudo. Um primeiro aspecto decorre
básica municipal, levando-se em consideração de seu desenho metodológico. As principais limi-
princípios como acessibilidade, cuidado com en- tações dos estudos ecológicos são a dificuldade
foque familiar e orientação comunitária. Por sua de controlar os efeitos de potenciais fatores de
vez, Viana et al. 9 mostram que a integralidade e confundimento, a multiplicidade de fontes de
o acesso universal estão relacionados com a cen- dados com qualidade variável e frequentemente
tralidade da atenção básica no município. Con- não controlável e as dificuldades de se generali-
tudo, Ibañez et al. 17, utilizando as mesmas ca- zar os resultados e as soluções encontradas para
tegorias de análise da atenção primária à saúde contextos locais distintos 43. Outro ponto de rele-
para os municípios de São Paulo, não encontra- vância é o caráter autoaplicado e autoavaliativo
ram relação entre estes atributos e a proporção do AMQ-ESF. As equipes de saúde respondem
de produção ambulatorial municipal, estando aos padrões de qualidade conforme seu próprio
aqueles mais relacionados com os indicadores juízo de valor, a partir de discussões em grupo
sociais dos municípios. com vistas à obtenção de consenso na resposta
Por outro lado, uma série de trabalhos vem que melhor atende ao que está preconizado no
mostrando o impacto da ESF em indicadores de instrumento de autoavaliação, não sendo possí-
mortalidade infantil, mostrando que maiores vel afirmar categoricamente que os processos in-
taxas de cobertura populacional e maior tempo dicados como sendo feitos são de fato praticados,
de implantação estão relacionados a reduções pois não foram utilizadas técnicas de observação
significativas destes indicadores, principalmente direta neste trabalho, sendo esta uma importante
nas regiões com piores indicadores socioeconô- limitação do estudo.
micos e de mortalidade infantil 10,13,14. Contudo, Além disso, deve-se destacar a insuficiência
não há evidências consistentes que comprovem a dos procedimentos de validação do AMQ-ESF
relação entre o tempo de implantação e cobertu- quando de sua proposição. Embora este seja o
ra populacional da ESF e o processo de trabalho primeiro instrumento de avaliação da qualidade
das equipes de saúde da família. E os resultados desenhado especificamente para a ESF, são ne-
deste trabalho mostram que estas variáveis inde- cessários novos estudos que o comparem com
pendentes não tiveram uma influência substan- outros instrumentos de avaliação da qualidade
cial nos processos autorreferidos de trabalho das da atenção primária à saúde, estimando sua ca-
equipes de saúde. pacidade de mensurar e apontar problemas na

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012


546 Sarti TD et al.

organização da ESF. Da mesma forma, serão per- qualquer processo de inovação em saúde, seja de
tinentes análises que verifiquem a relação dos iniciativa governamental, industrial ou acadêmi-
processos de trabalho elencados nos cadernos ca, como consta da Política Nacional de Ciência,
de autoavaliação com resultados em termos de Tecnologia e Inovação em Saúde 44.
melhoria da assistência prestada e da situação Por fim, dada a carência de estudos que se
de saúde da população, bem como trabalhos utilizam de abordagens quantitativas para avaliar
que avaliem a concordância das respostas da- as ações de planejamento em saúde no contexto
das pelas equipes a cada indicador com o que da ESF, os resultados aqui apresentados podem
de fato é feito pelos profissionais. Neste sentido, ser de grande utilidade para gestores, profissio-
os resultados deste trabalho relacionam-se à im- nais e acadêmicos, que de alguma forma estejam
plantação de processos de planejamento local no relacionados à atenção primária à saúde. Tendo
cotidiano das equipes de saúde, conforme preco- em vista o grande número de equipes analisa-
nizado oficialmente pelos órgãos governamen- das, conferindo uma boa representatividade de
tais responsáveis pela condução das políticas seus resultados, algumas potencialidades e fra-
de saúde no país, sendo importante que outros gilidades dos processos de trabalho das equipes
estudos problematizem estes processos e seu de saúde da família que atuam nos municípios
impacto na melhoria da qualidade da atenção do Espírito Santo podem indicar a realidade da
primária à saúde e da saúde da população. De ESF no Brasil, exigindo esforços para a mudança
uma forma geral, estas limitações apontam para desta realidade frente à importância da temática
a necessidade de se garantir a realização de todos para a organização de serviços adequados para a
os procedimentos metodológicos pertinentes em população.

Resumo Colaboradores

Ações de planejamento em saúde adaptadas ao con- T. D. Sarti, C. E. A. Campos, E. Zandonade, G. E. C. Rus-


texto local são fundamentais no cotidiano da Es- chi e E. L. N. Maciel participaram da concepção e coor-
tratégia Saúde da Família (ESF). Este trabalho visa denação do estudo em todas as suas etapas, incluindo
avaliar as práticas de planejamento empreendidas análise dos dados e redação do artigo.
pelas equipes de saúde da família do Espírito Santo,
Brasil. Trata-se de um estudo ecológico com análise
dos dados secundários de 241 equipes de saúde de Agradecimentos
46 municípios deste estado que utilizam a Avaliação
para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde Os autores agradecem a Iracema Benevides pelas con-
da Família (AMQ-ESF). Foram estabelecidos crité- tribuições feitas na descrição do processo de validação
rios de avaliação das respostas dos profissionais de dos instrumentos de coleta de dados.
saúde aos padrões de qualidade dos instrumentos
do AMQ-ESF e elencados os indicadores que versam
sobre planejamento em saúde. As respostas foram
estratificadas por porte populacional do município,
tempo de implantação e cobertura populacional da
ESF. Encontraram-se no geral baixas médias de ade-
quação dos processos de trabalho das equipes aos
padrões de qualidade do AMQ, sendo que não houve
influência das variáveis de estratificação nas prá-
ticas de planejamento local. Ações específicas neste
campo são necessárias para a qualificação do traba-
lho da ESF.

Saúde da Família; Planejamento em Saúde; Avalia-


ção em Saúde; Qualidade da Assistência à Saúde

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(3):537-548, mar, 2012

Você também pode gostar