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Créditos

Professora-autora
Anahi Guedes de Mello

Validadoras Técnicas
Ângela Pinto dos Santos
Coordenação–Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência - DAET/
SAES/MS
Bethânia Ramos Meireles
Coordenação–Geral de Ações Estratégicas, Inovação e Avaliação
da Educação em Saúde
Marly Maria Lopes Veiga
Coordenação–Geral de Ações Estratégicas, Inovação e Avaliação
da Educação em Saúde
Melquia Cunha Lima
Coordenação–Geral de Garantia dos Atributos da Atenção Primária
– DSF/SAPS

Validadora Pedagógica
Isabelle Aguiar Prado

Designer Instrucional
Karoline Corrêa Trindade

Designer Gráfico
Juliana Santos Aires de Oliveira

Revisora Textual
Fabiana Serra Pereira

Como citar este material:


MELLO, Anahi Guedes de. Intersetorialidade e
interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência
na vida adulta. São Luís: Universidade Federal do
Maranhão. UNA-SUS/UFMA, 2019.
Professora-autora
Anahi Guedes de Mello
Mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela mesma
universidade. Nos anos 2011 a 2019, foi pesquisadora vinculada ao Núcleo
de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS), do Departamento de
Antropologia da UFSC. Atualmente, é pesquisadora colaboradora vinculada ao
Núcleo de Estudos sobre Deficiência (NED), do Departamento de Psicologia da
mesma universidade. É também pesquisadora associada da Anis - Instituto de
Bioética, com sede em Brasília. Tem experiência em Estudos sobre Deficiência
de matriz feminista (Feminist Disability Studies), desenvolvendo pesquisas
em torno dos seguintes temas: modelo social da deficiência no Brasil, gênero;
sexualidade e deficiência; políticas públicas e deficiência; violências contra
mulheres com deficiência; teoria crip; método etnográfico e sua relação com os
sentidos; e acessibilidade na comunicação.
Apresentação

Olá, aluno(a)!
Para conseguir atender às necessidades
do usuário com deficiência, é preciso que o
sistema de saúde saiba ouvi-lo e consiga
entender sua necessidade, assim como o
contexto social ao qual está inserido.
Para que isso aconteça, é preciso que
exista a intersetorialidade, que visa a promoção
da saúde e melhora da qualidade de vida
desse usuário,e a interdisciplinaridade, que
caracteriza-se pela construção de um nível
avançado de trocas e de cooperação entre as
diversas
áreas profissionais.
A partir de agora, você irá entender como
é possível incluí-las no cuidado com a pessoa
com deficiência na atenção primária.
Bons estudos!

Bons estudos!

Objetivo educacional

Conhecer os aspectos inerentes à interdisciplinaridade e à


intersetorialidade no cuidado à pessoa com deficiência na
vida adulta e sua família.

A Política Nacional de Atenção Básica (2017) considera os termos Atenção Básica (AB)
e Atenção Primária à Saúde (APS) como termos equivalentes, de forma a associar a ambas os
princípios e as diretrizes definidas neste documento.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

Intersetorialidade e interdisciplinaridade no
cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta
Um sistema de saúde baseado na atenção primária em saúde
deve ser capaz de maximizar a equidade e a solidariedade, respondendo
às necessidades de saúde da população a partir de práticas de saúde
baseadas em evidências, responsabilidade governamental, justiça social,
sustentabilidade, participação social e intersetorialidade.
Deve ter elementos funcionais que promovam e garantam a cobertura
universal, o acesso gratuito a serviços de saúde aceitáveis, ofereçam cuidado
abrangente integrado e apropriado ao longo do tempo, com ênfase na
promoção da saúde e prevenção de doenças, assegurando, ainda, a atenção
primária já no primeiro contato.
Outra característica dos serviços de saúde na atenção primária é que a
família e a comunidade são suas bases de planejamento e ação¹, 2.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

A integralidade se baseia nos processos cotidianos de trabalho em torno


de alguns eixos³:

Em 17 de novembro de 2011, por meio do Decreto nº 7.612, instituiu-se o


Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, mais conhecido como
“Plano Viver Sem Limites”. Este plano objetiva implantar novas iniciativas e
intensificar ações em benefício das pessoas com deficiência, melhorando o
acesso destas aos direitos básicos como a educação, trabalho, transporte,
moradia e saúde.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

Estruturado em quatro eixos de atuação


como o acesso à educação, a inclusão social,
a acessibilidade e a atenção à saúde, o plano
se constituiu no maior programa integrado
para a promoção e a garantia de direitos das
pessoas com deficiência que o país já teve.

Trata-se de um plano interministerial, coordenado pela Secretaria de


Direitos Humanos da Presidência da República, com a participação conjunta
de mais de 15 ministérios.
No tocante ao eixo da atenção à saúde da pessoa com deficiência,
aponta-se para alguns pontos específicos das disposições gerais (capítulo
I) e componentes (capítulo II) previstos na Rede de Cuidados à Pessoa com
Deficiência no Âmbito do Sistema Único de Saúde, instituída pelo Ministério da
Saúde através da Portaria nº 793, de 24 de abril de 2012.
Alguns dos elementos apontados por essa política são: a organização
do processo de trabalho, a estrutura física dos serviços de saúde e a
capacidade dos profissionais em promover uma saúde que considere a
plena e efetiva inclusão das pessoas com deficiência e suas famílias, sem
discriminação e com respeito às limitações e potencialidades de cada um.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

Seus objetivos gerais são:

Ampliar o acesso e qualificar o atendimento às pessoas

1
com deficiência no âmbito do SUS, com foco na
organização em rede e na atenção integral à saúde,
contemplando as áreas da deficiência auditiva, física,
visual, intelectual, ostomias e múltiplas;

Garantir a articulação e a ampliação dos serviços

2
de reabilitação com as redes de atenção primária à
saúde e outros pontos de atenção especializada, com
a participação das pessoas com deficiência e suas
famílias.

Ao oferecer alguns norteadores para a organização de uma rede de


cuidados para as pessoas com deficiência, o programa pretende ser uma
resposta às necessidades das pessoas com deficiência e suas famílias, em
especial aquelas mais pobres, o que revela a importância da dimensão de
classe.
Isso porque uma pessoa com deficiência em situação de intensa
dependência, sem apoio e sem condições financeiras, dificilmente vai
conseguir o acordo das “relações bem ajustadas”⁴ com sua família para o
provimento de cuidado, correndo o risco de viver situações hostis de violência
intrafamiliar.

É por isso que para muitas pessoas com


deficiência é importante ter a família
por perto para que a rede de cuidadores
funcione. Somente uma família
emocionalmente bem estruturada é
capaz de lidar com situações adversas,
buscando reestruturar e redimensionar
funções e papéis nas práticas de
cuidado à pessoa com deficiência⁵.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

A sobrecarga de trabalho decorrente da tarefa contínua de cuidado


levantou a importância de se contar com o apoio de cuidadores profissionais
no cuidado integral à pessoa com deficiência. Isto minimiza o stress entre
a pessoa que cuida, geralmente mães, e a pessoa com deficiência cuidada,
permitindo que a cuidadora ou cuidador equilibre o uso do tempo para
atividades como trabalho, esportes e lazer.
Se levarmos em conta que os filhos com deficiência crescem e se
tornam adultos, muitas vezes vivendo em ambientes inacessíveis e com
falta de transporte adaptado, lidar com seus agravos à saúde se torna mais
complicado, especialmente devido ao seu tamanho, peso e força física. Para a
pessoa cuidadora, esta tarefa pode ser melhor distribuída ou mesmo aliviada
se ela puder contar com o apoio de cuidadores profissionais6 no domicílio, a
exemplo daqueles com as atribuições legais da formação em enfermagem e
fisioterapia.

Dentre os objetivos específicos do Plano Viver sem Limites, cita-


se o desenvolvimento de ações de prevenção e identificação precoce de
deficiências na infância e vida adulta, a promoção de mecanismos de
formação permanente para profissionais da saúde, incluindo a oferta de
informações sobre os direitos das pessoas com deficiência, sobre as medidas
de prevenção e cuidado, bem como sobre os serviços disponíveis, a serem
disponibilizadas por meio de cadernos, cartilhas e manuais.
Também encontramos algumas diretrizes significativas, a saber:

1
Ampliação e qualificação da rede de atenção à
saúde da pessoa com deficiência no território, em
especial os serviços de habilitação e reabilitação;

2 Ampliação do acesso das pessoas com deficiência à


habitação adaptável e com recursos de acessibilidade;

3 Promoção do acesso, do desenvolvimento e da


inovação em tecnologia assistiva.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

Ao primar pela diversificação das estratégias de cuidado como


uma de suas diretrizes, a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência
trouxe o diferencial da componente atenção primária à saúde da pessoa
com deficiência. A proposta é operar em um contexto de humanização do
atendimento, afastando-se da lógica da racionalização que costuma ser
marcante na relação entre profissionais da saúde e usuários na maioria dos
asilos, hospitais, clínicas privadas e centros de reabilitação.
O programa foi desenhado para estimular a organização de serviços
e equipamentos de saúde a partir de uma perspectiva baseada na
intersetorialidade e interdisciplinaridade, especialmente em localidades que
ainda não apresentam uma estrutura adequada para atender a população com
deficiência.
Isto pode ser percebido na oferta de serviços de cuidado a partir de
ações integradas com a área da assistência social, no “acompanhamento
e cuidado à saúde das pessoas com deficiência na atenção domiciliar”,
no “apoio e orientações às famílias e aos acompanhantes” e no “apoio e
orientação, por meio do Programa Saúde na Escola, aos educadores, às
famílias e à comunidade escolar, visando à adequação do ambiente escolar às
especificidades das pessoas com deficiência”7.
Na prática, o que se observa é a grande fragilidade das instituições
a nível municipal em garantir a ampliação da acessibilidade e inclusão
das pessoas com deficiência devido à inadequação da estrutura física dos
serviços de Atenção Primária, ao despreparo dos profissionais para acolher
essa demanda e ainda à escassa assistência especializada a essa população,
dentre outros.

Isso ocorre devido à falta de


implementação ou melhoria na gestão
de protocolos e manuais que orientem
gestores locais e profissionais de
saúde na condução desse trabalho
nos estados e municípios.
Intersetorialidade e interdisciplinaridade no cuidado à pessoa com deficiência na vida adulta

Um exemplo concreto dessa dificuldade é a própria percepção dos


profissionais de saúde da Atenção Primária de que as pessoas com deficiência
teriam suas necessidades de saúde melhor atendidas pelos profissionais
dos serviços especializados da reabilitação (fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos etc.), considerados pelos primeiros
como especialistas de fato nesta ou naquela deficiência.
Por isso, os profissionais de saúde da Atenção Primária tendem a
fazer o encaminhamento das pessoas com deficiência que procuram a
Atenção Primária para os serviços especializados. Um caminho possível
para solucionar esse problema é a realização de capacitações, de modo a
contribuir para a organização de “pontos de atenção à saúde” a partir de uma
perspectiva de rede horizontal e integrada de proteção e manutenção da saúde
das pessoas com deficiência, conformando, portanto, a Rede de Atenção à
Saúde (RAS) articulada no território.
Nesse formato, os profissionais da Atenção Primária atendem a
pessoa com deficiência conforme suas necessidades de saúde previstas
nos pressupostos básicos do cuidado e no processo de reabilitação, desde
a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico,
o tratamento à reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde.
Dessa forma, desenvolve-se uma atenção integral que impacte de modo
positivo na saúde e autonomia das pessoas com deficiência⁷.
Considerações finais
Trabalhar com base na intersetorialidade
e interdisciplinaridade, por meio de articulação
com diversas áreas, permite a solução de
possíveis problemas, e execução de ações que
têm como objetivo beneficiar o usuário que busca
atendimento na Atenção Primária.
Como resultado, é possível ter um trabalho
organizado, que garanta uma ampliação e
inclusão, capaz de acolher a pessoa com
deficiência, proporcionando um serviço de
qualidade
para ela.
Espero que o tema abordado tenha sido
de grande valia para a sua vida profissional. Nos
encontramos em breve, até!
REFERÊNCIAS
[1] ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DE SAÚDE. Renovação da Atenção Primária em Saúde nas Américas:
documento de posicionamento da Organização Pan-Americana da Saúde
/ Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS). Washington: Opas, 2007.
Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_
docman&view=download&category_slug=atencao-primaria-em-saude-
944&alias=737-renovacao-da-atencao-primaria-em-saude-nas-americas-
7&Itemid=965>.

[2] NICOLAU, S.M. Deficiência, gênero e práticas de saúde: estudo sobre a


integralidade em atenção primária. 299p. Tese (Doutorado em Ciências),
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Programa de Medicina
Preventiva, São Paulo, 2011.

[3] AYRES, J. R. C. M. Organização das Ações de Atenção à Saúde: modelos e


práticas. Saúde e Sociedade, v.18, supl. 2, p. 11-22, 2009.

[4] ZELIZER, V. A economia do care. In: HIRATA, Helena; GUIMARÃES, Nadya A.


(Orgs.). Cuidado e cuidadoras: as várias faces do trabalho do care. São Paulo:
Atlas, 2012.

[5] BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento


de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva. 1ª ed., 1ª reimpr.
Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.
br/bvs/publicacoes/saude_sexual_saude_reprodutiva.pdf>.

[6] CRUZ, D. L. Família, deficiência e proteção social: mães cuidadoras e


os serviços do Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Monografia
(Especialização em Gestão de Políticas Públicas de Proteção e
Desenvolvimento Social), Escola Nacional de Administração Pública, Brasília,
2011.
[7] BRASIL. Ministério da Saúde - Gabinete do Ministro. Portaria nº 793, de
24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no
âmbito do Sistema Único de Saúde. 2012. Disponível em: <http://wwww.dados
municipais.org.br/index.php?pg= exibemateria&secao=5&subsecao=20&id
=3747&uid=>.

[8] BRASIL. Ministério da Saúde - Gabinete de Ministro. Portaria nº 2.436,


de 21 de Setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica,
estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica,
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde,
2017. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/
prt2436_22_09_2017.html>.
FICHA TÉCNICA
MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde


Coordenação–Geral de Ações Estratégicas, Inovação e Avaliação da Educação
em Saúde
Equipe Técnica da Coordenação
Bárbara Ferreira Leite
Bethânia Ramos Meireles
Marcos Pelico Ferreira Alves
Marly Maria Lopes Veiga
Revisoras Técnicas
Bethânia Ramos Meireles
Marly Maria Lopes Veiga
Equipe Técnica do Núcleo de Comunicação
Eduardo Pinto Grisoni

Secretaria de Atenção Primária à Saúde


Revisora Técnica - Coordenação Geral de Garantia dos Atributos da Atenção
Primária
Melquia da Cunha Lima
Secretaria de Atenção Especializada à Saúde
Coordenação - Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência
Revisora Técnica - Coordenação - Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência
Ângela Pinto dos Santos
Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal do Maranhão -
UNA-SUS/UFMA
Coordenação Geral
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Gestão de projetos
Katherine Marjorie Mendonça de Assis
Coordenação de Produção Pedagógica
Paola Trindade Garcia
Coordenação de Ofertas Educacionais
Elza Bernardes Ferreira
Coordenação de Tecnologia da Informação
Dilson José Lins Rabêlo Junior
Coordenação de Comunicação
José Henrique Coutinho Pinheiro

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