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Envelhecer é um processo natural que traz transformações biológicas, psicológicas

e sociais. O envelhecimento, quando acompanhado de limitações funcionais,


demanda cuidados de diversos níveis de complexidade, os quais precisam ser
praticados por profissionais habilitados, garantindo melhor qualidade de vida
ao idoso.

Diante desse contexto, a Faculdade Unimed e a Unimed do Brasil, em parceria com


o Ministério Público do Trabalho de Belo Horizonte (MG) e o Núcleo de Geriatria
e Gerontologia da UFMG, desenvolveram o Programa de Formação de Cuidadores
de Idosos, cujo propósito é auxiliar no desenvolvimento pessoal e profissional de
pessoas que cuidam de idosos que necessitam de atenção especial.

Fazem parte do programa o Curso Cuidadores de Idosos e o Kit Cuidador de


Idosos (composto pelo livro Fundamentos do Cuidado ao Idoso Frágil e pelo Guia
de Saúde do Idosos – Dados Mínimos Portáveis para o Idoso). A iniciativa tem o
objetivo de contribuir para a formação e o aperfeiçoamento dos conhecimentos
de cuidadores formais (profissionais já remunerados pela atividade) e informais
(familiares) a realizarem os cuidados diários junto a pacientes crônicos de maneira
segura e assertiva. Cuidadores preparados minimizam intervenções profissionais
de saúde e tornam-se valiosos parceiros, ao serem fontes de informações de valor,
contribuindo com o tratamento e prevenção de complicações.

O Curso Cuidadores de Idosos é gratuito e disponibilizado na modalidade educação


a distância, o que permite maior flexibilidade em sua realização. Com carga horária
de 60 horas, o conteúdo está estruturado em 16 módulos distribuídos em aulas
teóricas e práticas (gravados em instituições que atendem idosos), com temática
abordada por profissionais que atuam na área de saúde, como médico, enfermeiro,
psicólogo e assistente social.

CUIDADORES DE IDOSOS:
OS MELHORES CUIDADOS PARA QUEM ESTÁ NA MELHOR IDADE.

Para mais informações, acesse:


cuidadoresdeidosos.faculdadeunimed.edu.br.
As instituições idealizadoras do projeto Cuidadores de Idosos são compostas por:

Diretoria Fundação Unimed:

Gestão 2013-2017

João Batista Caetano – Presidente

Ary Célio de Oliveira – Diretor de Desenvolvimento e Responsabilidade Social

Luiz Carlos Palmquist – Diretor Administrativo Financeiro

Mauri Aparecido Raphaelli - Diretor de Educação Corporativa

Diretoria Unimed do Brasil:

Gestão 2013-2017

Eudes de Freitas Aquino - Presidente

Orestes Barrozo Medeiros Pullin - Vice-presidente

João Luís Moreira Saad - Diretor Administrativo

Euclides Malta Carpi - Diretor Financeiro

Edevard José de Araujo - Diretor de Marketing e Desenvolvimento

Valdmário Rodrigues Júnior - Diretor de Integração Cooperativista e Mercado

Antonio Cesar Azevedo Neves - Diretor de Tecnologia e Sistemas


Fundamentos do
Cuidado ao Idoso Frágil

Edgar Nunes de Moraes, MD, PHD


Medicina
Professor Associado do Departamento de Clínica Médica da Universidade
Federal de Minas Gerais. Coordenador do Centro de Referência do Idoso do
HC-UFMG. Coordenador do Programa de Residência em Geriatria do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenador do Núcleo
de Geriatria e Gerontologia da UFMG. Mestrado e Doutorado em Medicina
Tropical pela UFMG. Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia. Consultor em Sistemas de Gestão da Saúde do Idoso.
Membro do Comitê Assessor do COSAPI/Ministério da Saúde.

Raquel Souza Azevedo, MD


Enfermagem
Enfermeira do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Minas Gerais. Mestre em Enfermagem pela UFMG. Especialista
em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Especialista em Gerontologia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas
Gerais. Preceptora da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do
HC/UFMG. Membro Titular do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.
Consultora em Sistemas de Gestão da Saúde do Idoso.

Belo Horizonte, 2016


Fundamentos do
Cuidado ao Idoso Frágil
Edgar Nunes de Moares
Raquel Souza Azevedo

Direitos Exclusivos
Copyright © 2016 by Folium Editorial
Folium Editorial • Av. Carandaí, 161 – SL701
30130-060 – Belo Horizonte – MG
Tel. (31) 3287-1960 • folium@folium.com.br • www.folium.com.br
Projeto Gráfico: Gabriel Ruggio
Ilustrações: Ricardo Sá
Revisão Ortográfica: Magda Barbosa Roquette Taranto

Revisão:
Sônia Maria Soares
Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora em Saúde Pública
pela Universidade de São Paulo (2000) com bolsa sandwich na University of California San Francisco nos EUA.
Pós-Doutorado na New York University (2013). Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Cuidado e Desen-
volvimento Humano. Realiza pesquisas com ênfase nos seguintes temas: Saúde do Idoso, envelhecimento e qualidade
de vida, cuidado em saúde e na Enfermagem, especialmente na prevenção de doenças crônicas-não transmissíveis
(diabetes mellitus, hipertensão arterial, doença renal crônica), outros temas relacionados área de Saúde Coletiva.

Moraes, Edgar Nunes


M827f Fundamentos do cuidado ao idoso frágil. / Edgar Nunes
Moraes e Raquel Souza Azevedo. - Belo Horizonte (BR): Folium,2016.
412p. :il.

ISBN: 978-85-8450-012-3

1. Idoso. 2. Saúde do Idoso. 3. Serviços de Saúde para Idosos.


4. Assistência a Idosos. 5. Idoso Fragilizado. I. Azevedo, Raquel
Souza. II. Título.

NLM: WT 100
CDD: 618.97
CDU: 613.9

Ficha elaborada na fonte por: Maria Piedade F. R. Leite - CRB-6/601

Todos os direitos autorais estão reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 19 de


fevereiro de 1998.
É proibida a duplicação ou reprodução desta obra, no todo ou em parte, sob quaisquer
formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia ou outros),
sem a permissão prévia, por escrito, do autor.
Apresentação

O livro Fundamentos do Cuidado ao Idoso Frágil destina-se a todos os


profissionais da saúde, idosos e seus familiares interessados em compreender
melhor o processo de envelhecimento, especialmente quando associado à
fragilidade. A obra esclarece as dúvidas referentes aos problemas de saúde
erroneamente atribuídos ao envelhecimento normal (“da idade”) e discute as
principais formas de prevenção, sobretudo como percebê-las precocemente,
e como intervir para recuperar ou, pelo menos, retardar o declínio funcional
e as complicações advindas do desconhecimento dos principais problemas de
saúde do idoso. Todo o conteúdo do livro foi criteriosamente selecionado e
organizado por equipe interdisciplinar composta por profissionais de saúde
com ampla experiência no atendimento a idosos frágeis. O objetivo principal
da obra é apresentar de forma clara e direta as intervenções que devem ser
oferecidas aos idosos que envelheceram com perda da sua autonomia e/
ou independência e que, portanto, necessitam de cuidados realizados por
outras pessoas. Os cuidados de longa duração que devem ser prestados pe-
los profissionais de saúde (cuidado profissional) e pelos familiares (cuidado
familiar) são amplamente discutidos com o detalhamento necessário para
ser implementado nas tarefas do cotidiano, facilitando a vida do idoso e de
seu cuidador, familiar ou não. O ato de cuidar do outro exige conhecimento,
dedicação e carinho, sendo, portanto, um ato de amor.
O reconhecimento e o registro das informações referentes à saúde do
idoso representam o ponto de partida para o cuidado de longa duração. O
Guia de Saúde do Idoso complementa o livro e foi construído de forma
objetiva para facilitar seu preenchimento e a leitura. É, portanto, um ins-
trumento extremamente útil no atendimento do idoso e na organização
do cuidado, oferecendo subsídios para a construção do plano de cuidados
individualizado. Outra função do guia é auxiliar no referenciamento do ido-
so e na integração entre os vários níveis de complexidade que compõem a
rede de atenção responsável pelo seu acompanhamento longitudinal. É um
bom instrumento para o compartilhamento de informações e para a conti-
nuidade do cuidado. Pode ser considerado um “banco” de dados mínimos
portáveis para o idoso, podendo ser preenchido pelo idoso, cuidador e
pelos profissionais de saúde envolvidos no cuidado.
A sincronização entre o livro Fundamentos do Cuidado ao Idoso
Frágil e o Guia de Saúde do Idoso é feita a partir das Atividades In-
tegradoras, presentes em todos os capítulos do livro. O objetivo é instru-
mentalizar o cuidador na avaliação e no reconhecimento das dimensões da
saúde do idoso que devem ser monitoradas ao longo do tempo para que
os cuidados sejam oferecidos de forma adequada.

Os autores
Prefácio

Nimin parum cone nos aut que pa in plaborio dem arciaecus estet vo-
lum nobitas volores trumenem rem. Ibus dolupta quoditatem qui quaerum
hil mi, culpa quis con ra sincide lestess untent que nimusap icidunt eturibus
nihita quae cusa quam et ati utempore secepe sita pro vit odisimi nullabo
repudi sunt voluptatur rernatenis essimolupti volum quiament min ra volup-
ta nulluptatur, aut velictur ma vent officiet atempore sum ium am apiciissi-
tas sus, comnihi liquatus, imos et occum re erum aut volentes aute litaese
peribust, officiam ereprovid moluptatio tem fuga. Nem adis eium accum
ad moditas pienis maio bla velentia deleserumquo te eruptur aruptatibero
mo berum que pellandi tem et optatia sitiund uciurem quos dolorporro mo
beata veliqui dolorro dem quam, od quo ea solorib uscidem res reptaturero
eatur, samus.
Es repratios a dendam aperibusciet vene nonserrovid quoditibus acea
perum reiunt ea quiandus.
Facea et licto molum evelenducia volorenimil eaquo te ommo ommodit
atiasinctum ius dolo voluptatur?
Et qui officiam, simaio. Ut utas estrum verferc hillor accaborem facepe
officatem quis nos sento molorem cone eatur, sundae. Nam quia nullig-
natiam nullit ene plaborro exerenimus a dolectecest et aut aut evel ma
provid quae dis nihiliati doles dolorecae solore re natem num, consendis
am adici offic to ini delit aut dustem laborrum nimus andi aut latquia volo-
ribust volo berfernatior aut omnis et eatur, aditium laboratiatem doluptur,
volupta temqui doluptus earit eum et quam reped exeriat ataquid elessi ut
eius dent, ut mi, et experch iliqui si dolorum seque nonet laut quam eatur?
Evel molupta isimus aut volorrum vit acea nihil ma pel inctur samusantium,
secto mo et vitiis endente voluptat dolori aut aut ut offictatis exerchil ium
resse parchic totatur?
Ab inus atur molupta consequae nemolluptae. Ut rem essit dus, option-
seque solorest rat qui bea vent alis cusapit quistium faciunt ut vendestrum
ipit, abor mo comnimusae nonsedipient quis aborum conseque nones ali-
ciisi quid ut re volore sanisci psapell aboreptate delectae necab idero etur
ma velloris volorit est aris delenis sam conecta temporrum quosant aut re
liquostis ulpa nonsedis etus, sectata de minusandest aut eum que porunt
fugit aut veris idesto occum rest quuntiorias eatur?
Net aceperum fugiand igentio vendant rat labo. Nam, core as et volo-
rum vollabo. Os et id maximpo repera ad qui ullam, offictempore volessint
minit ped ex explis essi remposandae evella volorpo sapitas excesseribus
aut aditem. Turis magnisq uaspidi gnatem sedi officidus ut explaut ped es
ut doluptatur? Non cum raeperaecto blam Ab inus atur molupta consequae
nemolluptae. Ut rem essit dus, optionseque solorest rat qui bea vent alis
cusapit quistium faciunt ut vendestrum ipit, abor mo comnimusae nonsedi-
pient quis aborum conseque nones aliciisi quid ut re volore sanisci psapell
aboreptate delectae necab idero etur ma velloris volorit est aris delenis sam
conecta temporrum quosant aut re liquostis ulpa nonsedis etus, sectata de
minusandest aut eum que porunt fugit aut veris idesto occum rest quun-
tiorias eatur?
Net aceperum fugiand igentio vendant rat labo. Nam, core as et volo-
rum vollabo. Os et id maximpo repera ad qui ullam, offictempore volessint
minit ped ex explis essi remposandae evella volorpo sapitas excesseribus
aut aditem. Turis magnisq uaspidi gnatem sedi officidus ut explaut.

Ana Amélia Camarano


Sobre o autor do prefácio
Colaboradores
Adriano Max Moreira Reis
Farmácia. Farmacêutico pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo. Membro
Titular do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG

Allana dos Reis Corrêa


Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem
Básica da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre e Doutora em
Enfermagem pela Escola de Enfermagem da UFMG. Especialista em
Enfermagem em Terapia Intensiva.

Andréa Luiza de Moura Santiago


Fisioterapia. Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia, com ênfase em
Ortopedia e Esportes. Fisioterapeuta do NASF pela PBH-MG.

Alcimar Marcelo do Couto


Enfermagem. Enfermeiro do Serviço de Geriatria do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em
Enfermagem pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista
em Gerontologia e Saúde da Família. Membro Titular do Núcleo de
Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Ana Amélia Camarano


Demografia. Pós-doutorado na Nihon University-Tóquio, Japão
(2004/2005) sobre envelhecimento populacional e arranjos familiares.
Doutora em Estudos Populacionais pela London School of Economics
(1995). Mestre em Demografia pela Universidade Federal de Minas
Gerais (1975). Graduada em Economia pela Universidade Federal de
Minas Gerais (1973). Pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas
Sociais (DISOC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e
professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ana Beatriz de Pinho Barroso


Enfermagem. Enfermeira Especialista em Atendimento Integral
ao Portador de Lesão Cutânea e Gerontologia. Mestre em Ensino.
Doutorado em andamento.

Ann Kristine Jansen


Nutrição. Professora Associada do Curso de Nutrição da Universidade
Federal de Minas Gerais. Doutora em Ciências pela Universidade Federal
de São Paulo. Nutricionista pela Universidade Federal de São Carlos.
Membro Titular do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.
Camila Oliveira Alcantara
Medicina. Médica Geriatra do Serviço de Geriatria do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em
Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Residência em Geriatria pelo HC-UFMG. Preceptora da Residência de
Geriatria do HC/UFMG. Residência Médica em Clínica Médica pelo
Hospital Universitário Clemente de Faria-Unimontes. Membro Titular
do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG. Médica da Equipe de
Cuidados Paliativos do HC-UFMG.

Cristina Pereira de Souza Lima


Enfermagem. Pós-Graduação em MBA Executivo em Saúde pela
Fundação Getúlio Vargas. Pós-Graduação em Gerontologia pela
Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

Danielle Nunes Moura Silva


Fonoaudiologia. Especialista em Motricidade Orofacial com Enfoque
em Disfagia e Fono Hospitalar - Fonohosp/CEFAC. Mestre em Ciências
Fonoaudiológicas pela UFMG. Membro Colaborador do Núcleo de
Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Dorotéia Fernandes da Silva


Serviço Social. Assistente Social do Serviço de Geriatria do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrado em
Promoção de Saúde e Prevenção da Violência pela UFMG. Especialista
em Gerontologia pela SBGG. Membro Titular do Núcleo de Geriatria e
Gerontologia da UFMG.

Edgar Nunes de Moraes, MD, PHD


Medicina. Professor Associado do Departamento de Clínica Médica
da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenador do Centro
de Referência do Idoso do HC-UFMG. Coordenador do Programa de
Residência em Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais. Coordenador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia
da UFMG. Mestrado e Doutorado em Medicina Tropical pela UFMG.
Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia. Consultor em Sistemas de Gestão da Saúde do Idoso.
Membro do Comitê Assessor do COSAPI/Ministério da Saúde.

Erika de Oliveira Hansen


Medicina. Médica Geriatra do Serviço de Geriatria do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em
Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Residência em Geriatria pelo HC-UFMG. Preceptora da Residência de
Geriatria do HC/UFMG. Residência Médica em Clínica Médica pelo
Hospital Odilon Behrens. Membro Titular do Núcleo de Geriatria e
Gerontologia da UFMG.
Fernanda Ferreira Monteiro de Souza
Enfermagem. Mestre em Ciências Aplicadas a Saúde do Adulto pela
UFMG. Especialização em Gestão de Saúde e Auditoria em Saúde pela
FIOCRUZ. Gerente de Promoção da Saúde do Usisaúde (Fundação São
Francisco Xavier – FSFX).

Flávia Lanna de Moraes


Medicina. Preceptora da Residência Médica de Geriatria do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista
em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Especialista em Medicina de Família e Comunidade pela SBMFC.
Membro Colaborador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.
Mestre em Medicina Molecular pela UFMG. Médica do Programa Mais
Vida em Casa da PBH/MG. Consultora em Sistemas de Gestão da Saúde
do Idoso.

Isabela Silva Cancio Velloso


Enfermagem. Professora Adjunta da Escola de Enfermagem da UFMG.
Mestre e Doutora em Enfermagem pela UFMG.

Jorge Roberto Afonso de Souza Silva


Cuidador de Idosos. Curso Superior de Cuidador de Idosos pela
Universidade FUMEC. Especialista em Gestão Estratégica de Políticas
Públicas UNICAMP. Presidente da Associação de Cuidadores de Idosos
de Minas Gerais (ACI-MG).

Juliana Santos Neves


Enfermagem. Enfermeira do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Minas Gerais. Enfermeira Especialista
em Saúde do Idoso pela Residência Multiprofissional pelo HC-UFMG.
Especialização em Enfermagem Geriátrica pela Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais/ Faculdade de Ciências Médicas de Minas
Gerais.

Katiúcia Martins Barros


Enfermagem. Mestre em Enfermagem. Enfermeira Intensivista do CTI
Adulto do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte e docente do curso
de graduação da Faculdade Pitágoras de Belo Horizonte e do curso
de pós-graduação latu sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Lucas Moreira Maia


Odontologia. Especialista em Endodontia pela Faculdade de
Odontologia Universidade de Itaúna. Mestrando em Odontologia pela
UFMG.
Luciana de Oliveira Assis
Terapia Ocupacional. Professora Adjunta do Departamento de Terapia
Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em
Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Doutora em Neurociências pela UFMG. Membro Titular do Núcleo de
Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Marcelo Andrade Starling


Medicina. Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia. Especialista em Medicina Física e Reabilitação
pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. Consultor e Coordenador do
Ambulatório de Doenças Osteomusculares do Serviço de Geriatria do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Membro
Colaborador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Márcia Aparecida de Abreu Fonseca


Psicologia. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Doutora em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Federal de
Minas Gerais. Preceptora da Psicologia na Residência Multiprofissional
em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Minas Gerais. Psicóloga do HC/UFMG.

Marco Túlio Gualberto Cintra


Medicina. Médico Geriatra do Serviço de Geriatria do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em
Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Residência em Geriatria pelo HC-UFMG. Mestre em Saúde do Adulto
pela UFMG. Preceptor da Residência de Geriatria do HC/UFMG. Membro
Titular do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Maria Aparecida Camargos Bicalho


Medicina. Professora Adjunta da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais. Preceptora da Residência de
Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais. Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia. Especialista em Medicina intensiva pela SOMITI. Doutora
em Farmacologia Bioquímica e Molecular da UFMG. Vice-coordenadora
do Serviço de Geriatria do HC-UFMG. Membro Titular do Núcleo de
Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Maria da Conceição de Oliveira


Serviço Social. Assistente Social Especialista em Gerontologia pela
Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Docente do Programa
Maior Cuidado da PBH-MG. Docente do Programa Dignaidade
do SERVAS-MG. Membro Colaborador do Núcleo de Geriatria e
Gerontologia da UFMG.
Natália de Cássia Horta
Enfermagem. Professora Adjunto IV do Instituto de Ciências Biológicas
e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Pesquisadora do NUPEPE/UFMG e do PHASE/PUC Minas. Doutora em
Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Raquel Souza Azevedo, MD


Enfermagem. Enfermeira do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Enfermagem
pela UFMG. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia. Especialista em Gerontologia pela Faculdade
de Ciências Médicas de Minas Gerais. Preceptora da Residência
Integrada Multiprofissional em Saúde do HC/UFMG. Membro Titular do
Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG. Consultora em Sistemas
de Gestão da Saúde do Idoso.

Rodrigo Ribeiro dos Santos


Medicina. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais. Preceptor da Residência de Geriatria do HC/
UFMG. Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria
e Gerontologia. Doutor em Farmacologia Bioquímica e Molecular
da UFMG. Membro Titular do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da
UFMG. Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-
seção Minas Gerais.

Rogéria Andrade Werneck


Medicina. Médica Ginecologista do Ambulatório de Ginecologia
Geriátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais. Mestre em Saúde da Mulher pela Faculdade de Medicina da
UFMG. Doutoranda em Saúde da Mulher, pela Faculdade de Medicina
da UFMG. Membro Colaborador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia
da UFMG.

Soraya Coelho Costa Barroso Costa


Farmácia. Farmacêutica do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Ciências da
Saúde (Infectologia e Medicina Tropical) pela Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Minas Gerais. Preceptora da Residência
Multiprofissional em Saúde do Idoso do HC-UFMG. Membro Titular do
Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.

Tatiana Dias Paulucci


Enfermagem. Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal
de Minas Gerais. Especialista em Controle de Infecção Hospitalar pela
Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Coordenadora do
Programa de Gestão de Casos da Abertta Saúde ArcelorMittal.
Tatiane Kelly de Oliveira Linhares
Enfermagem. Enfermeira Especialista em Saúde do Idoso pela
Residência Integrada Multiprofissional do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Minas Gerais. Enfermeira da Equipe
Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD) Cuidados Prolongados
da PBH-MG.

Thiara Joanna Peçanha da Cruz


Enfermagem. Enfermeira do Serviço de Geriatria do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Ciência em
Saúde pela Universidade Federal Fluminense. Especialista em Geriatria e
Gerontologia pela UnATI/ UERJ. Membro Titular do Núcleo de Geriatria
e Gerontologia da UFMG.

Viviane Rodrigues Jardim


Enfermagem. Enfermeira do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em Gerontologia
pela UNIFENAS. Especialização em Saúde da Família pela Faculdade de
Medicina e Faculdade de Odontologia da UFMG. Membro Titular do
Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG.

12
Sumário
1. Saúde e Envelhecimento...........................................................1

2. Legislação e Modalidades de Atenção ao Idoso.....................27

3. Fisiologia do Envelhecimento.................................................41

4. Reconhecendo o Idoso Frágil.................................................67

5. Alterações da Memória, Demência


e Depressão no Idoso: Incapacidade Cognitiva.....................81

6. Problemas da Marcha e Quedas em


Idosos Frágeis: Instabilidade Postural..................................109

7. Imobilidade e Cuidados com a Lesão por Pressão...............125

8. Incontinência Esfincteriana..................................................163

9. Problemas na Comunicação com o


Idoso Frágil: Incapacidade Comunicativa............................179

10. Doenças mais Comuns no Idoso.........................................191

11. Sinais de Alerta e Principais


Urgências no Idoso Frágil.................................................... 253

12. Facilitando o Autocuidado no Idoso Frágil........................273

13. Saúde Bucal no Idoso Frágil................................................303

14. Cuidados com Medicamentos: Iatrogenia.........................317

15. Alimentação e Distúrbios da


Deglutição em Idosos Frágeis.............................................331

16. Resgatando a História do Idoso e seus Anseios................351

17. Violência e Maus-Tratos.........................................................365

18. O Idoso no Fim da Vida......................................................373

19. Cuidando de Quem Cuida..................................................387

Índice Remissivo..................................................................401
Capítulo 1

Saúde e Envelhecimento

Edgar Nunes de Moraes


Raquel Souza Azevedo
Flávia Lanna de Moraes
Demografia e Epidemiologia do Envelhecimento no Brasil
Envelhecimento é o efeito da passagem do tempo. Tudo envelhece, inclusive as
pessoas. Todavia, o conceito de idoso é extremamente variável, dependendo do pon-
to de vista. Cronologicamente, idoso é todo indivíduo com 65 anos ou mais, nos paí-
ses desenvolvidos, ou 60 anos ou mais, nos países em desenvolvimento, como o Bra-
sil, segundo a Organização Mundial da Saúde. A estimativa atual é de que tenhamos
cerca de 27 milhões de idosos no Brasil, o que representa 12% da nossa população.
Em 2050, estima-se que 30% da população será constituídos por pessoas com 60
anos ou mais. Dados atuais mostram que, a cada ano, cerca de 700 mil novos idosos
são incorporados à população brasileira. Nos países desenvolvidos, como França e In-
glaterra, essa transição demográfica demorou aproximadamente 100 anos, enquanto
no Brasil percebe-se o mesmo fenômeno em 30 anos. Dessa forma, o Brasil enve-
lheceu, mas não enriqueceu, impossibilitando o planejamento e a implementação de
políticas públicas específicas para essa população idosa emergente.
O Brasil está envelhecendo de forma acelerada, modificando a distribuição etá-
ria da sua população, que passa a ter expressivo aumento da população idosa,
quando comparada com a população de crianças com até cinco anos de idade,
conforme a Figura 1.1.
Os principais determinantes dessa transição demográfica são descritos abaixo
na figura:

Figura 1.1 Distribuição da população por idade e sexo. Brasil, 1940 e 2010

Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1940 e 2010.

2
• redução da taxa de fecundidade: em 1940, a média de filhos por casal
era de mais de seis filhos por mulher, enquanto que em 2010 houve queda
para 1,8 filho por mulher. Percebe-se, claramente, uma profunda mudança nos
arranjos familiares, com redução do número de filhos e a maior participação
da mulher no mercado de trabalho. Paralelamente, as pessoas estão vivendo
mais e correndo mais riscos de desenvolver incapacidades e dependência nas
atividades de vida diária. Surge então a necessidade da criação de novas mo-
dalidades de atendimento ao idoso, pois a família não terá mais condições de
assumir todo o cuidado com o idoso dependente;
• aumento da expectativa de vida: a expectativa de vida do brasileiro elevou-se
de 34 anos, em 1900, para 68,6 anos, em 2000. Em 2014, essa média ultrapas-
sou 75 anos (Quadro 1.1). Nas regiões mais ricas, a expectativa de vida é seme-
lhante àquela observada em países mais desenvolvidos. Assim, o envelhecimento
pode ser considerado a maior conquista da humanidade. Viver muito tornou-se
relativamente fácil. Tem-se agora que oferecer condições para que as pessoas
possam envelhecer bem, com autonomia e independência. O grupo etário que
mais cresce é constituído por indivíduos com 80 anos ou mais. Enquanto em 1980
essa população representava 8% dos idosos, em 2010 correspondia a 14%;
• redução da mortalidade infantil: a drástica redução da mortalidade infantil
fez com que as pessoas tivessem a oportunidade de envelhecer.

Quadro 1.1 Expectativa de vida no Brasil


Expectativa de vida no Brasil
1900 34 anos
1950 43,3 anos
2000 68,6 anos
2010 73,5 anos
2014 75,2 anos
Fonte: IBGE, 2014.

Outro aspecto demográfico importante é a diferença na expectativa de vida entre


os sexos. As mulheres são mais longevas que os homens, entre cinco e 10 anos. E
no Brasil esse diferencial entre os sexos experimenta ligeiro incremento: em 1991, as
mulheres possuíam vida média ao nascer 7,2 anos superior à dos homens, enquanto
que em 2000 esse diferencial era de 7,8 anos (feminização da velhice).

3
Conviver com idosos, muitos deles com necessidades especiais, passou a fazer
parte do dia a dia, pois atualmente as pessoas vivem mais e observa-se substitui-
ção das causas de morte das doenças infecciosas, causas maternas e perinatais, por
doenças não transmissíveis, como as doenças crônico-degenerativas, que levam a
deformidades, incapacidades, acúmulo de sequelas e são progressivas (osteoartrose,
doença arterial coronariana, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral, doença de
Alzheimer, etc.) e causas externas.

Modelo Multidimensional de Saúde no Idoso


O envelhecimento individual ocorre no corpo e no psiquismo humano. Ambos
resultam do efeito da passagem do tempo. O ciclo da vida é dividido em infância,
adolescência, adultez e velhice. Como visto, cronologicamente a pessoa é conside-
rada idosa quando completa 60 anos de idade. O que isso significa? Simplesmente
que ultrapassamos os 60 anos de idade. Essa informação não agrega qualquer valor
à saúde do indivíduo. Estima-se que o limite máximo da vida esteja por volta dos 120
anos. Assim, aos 60 anos, estamos na metade da potencialidade da expectativa de
vida e não no fim. O homem moderno conquistou a longevidade. Agora temos que
conquistar uma vida melhor, com autonomia e independência e, principalmente, com
sabedoria. A meta passa a ser “viver mais e melhor”.
Sabe-se que, a partir dos 30 anos, ocorre uma redução lenta e progressiva da re-
serva homeostática, que é a capacidade do organismo de se defender das agressões
do meio interno e externo (Figura 1.2). A principal consequência desse fenômeno
biológico é a grande vulnerabilidade que o idoso tem de adoecer e adquirir incapa-
cidades. Todavia, envelhecimento não é sinônimo de incapacidades e dependência.
Além de mais vulnerabilidade, o envelhecimento é caracterizado pela irreversibilidade
e pela heterogeneidade. Quanto mais velho, maior será a diferença entre os indivíduos.
O termo reserva homeostática pode ser compreendido como vitalidade, que é a
capacidade do organismo de se defender das agressões do meio interno e externo. A
redução da vitalidade é inversamente proporcional ao aumento da fragilidade, consi-
derada uma medida da vulnerabilidade do organismo. Quanto mais vitalidade, menos
fragilidade e, consequentemente, menor é o risco de declínio funcional, dependência
e morte (Figura 1.3). O indivíduo pode envelhecer com mais vitalidade ou não, de-
pendendo de fatores de risco como suscetibilidade genética (história familiar), seden-
tarismo, dieta inadequada, tabagismo, fatores ambientais, aparecimento de doenças
não preveníveis e a própria senescência.

4
Figura 1.2 Ciclos de vida

INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA ADULTEZ VELHICE

Crescimento e desenvolvimento Maturidade Senescência

CAPACIDADE HOMEOSTÁTICA
Vitalidade
CONCEPÇÃO

MORTE
TEMPO TEMPO
ENVELHECIMENTO SOMÁTICO
Refere-se aos efeitos de passagem do tempo na capacidade homeostática

Fonte: Moraes, 2016.

Figura 1.3 Vitalidade e fragilidade

FRAGILIDADE
É a medida da vulnerabilidade do organismo
ou da sua incapacidade de se defender das
agressões do meio interno e externo

VITALIDADE
É a medida da reserva homeostática, que é
a capacidade do organismo se defender das
agressões do meio interno e externo

Quanto maior a vitalidade, menor é o risco de declínio funcional e óbito

Quanto maior é a fragilidade, maior é o risco de declínio funcional e óbito


Fonte: Moraes, 2016.

5
A idade pode ser considerada um fator de risco para da redução a vitalidade,
mas não é determinante. Indivíduos da mesma idade podem ter vitalidade abso-
lutamente diferente. A heterogeneidade entre os indivíduos idosos é marcante e
progressiva ao longo do processo de envelhecimento. Nem as rugas podem ser
explicadas exclusivamente pelo envelhecimento, pois sua principal causa é a expo-
sição excessiva ao sol. Por sua vez, doenças podem comprometer a vitalidade, mas
também não podem ser consideradas seu único determinante. Doenças na velhice
constituem mais regra do que exceção. Todavia, a maior parte dos indivíduos com
doenças pode ser considerada saudável, desde que mantenha sua capacidade de
cuidar de suas vidas de forma autônoma e independente. Desse modo, o principal
indicador de saúde é a capacidade funcional. As doenças são mais frequentes
nessa faixa etária, mas nem sempre estão associadas à dependência funcional.
Indivíduos com o mesmo diagnóstico clínico podem ter a capacidade funcional
absolutamente distintas um do outro.
A capacidade funcional pode ser avaliada a partir das atividades de vida diária,
que são as tarefas do cotidiano indispensáveis para os cuidados com o ambiente onde
vivemos (atividades extra e intradomiciliares) e com nosso corpo. Nessa perspectiva,
a saúde no idoso pode ser definida como a capacidade individual de satisfação das
necessidades biopsicossociais, independentemente da idade ou de doenças (Figura
1.4). O declínio funcional não pode ser considerado “normal da idade”. Todo idoso
que perdeu a capacidade de realizar tarefas que sempre fez com facilidade deve ser
amplamente investigado para se definir a causa dessa perda.

Figura 1.4 Saúde e atividades de vida diária

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais,
independentemente da idade ou da presença de doenças

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
Refere-se à capacidade de realizar
comando sobre as ações, estabelecendo
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções

6
ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA – AVD

Controlar o dinheiro Tomar remédios


Preparo das refeições Lavar e passar
ou finanças, gastos e na dose e horário a roupa
pagar as contas corretos

Arrumar a casa e Sair de casa sozinho


Usar o
fazer pequenos Fazer compras para lugares distantes
telefone
trabalhos domésticos

Vestir-se sem ajuda Controle de esfíncter


Tomar banho sozinho (urina e fezes)

Deita-se e sai da cama Alimentar-se


Usar o vaso sanitário sozinho (Transferência) sozinho

7
A portaria que institui a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa considera que
“o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais pela sua condição de
autonomia e independência do que pela presença ou ausência de doença orgânica”.
Bem-estar e funcionalidade são complementares. Representam autonomia (capaci-
dade individual de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as
próprias convicções) e independência (capacidade de realizar algo com os próprios
meios), permitindo que o indivíduo cuide de si e de sua vida. Cabe ressaltar que a
independência e a autonomia estão intimamente relacionadas, mas são conceitos
diferentes. Existem pessoas com dependência física, mas capazes de decidir escolher
com autonomia as atividades de seu interesse. Por outro lado, há pessoas que têm
condições físicas para realizar determinadas tarefas do cotidiano, mas não têm con-
dições de decidir e escolher com segurança sobre como, quando e onde se envolver
nessas atividades. A perda da independência nem sempre vem associada à perda de
autonomia: um idoso com perda da capacidade de deambular pode perfeitamente
gerenciar sua vida com autonomia e participação social. Assim, a funcionalidade glo-
bal é a base do conceito de saúde do idoso. O declínio funcional é a perda da autono-
mia e/ou da independência, pois restringe a participação social do indivíduo. Por sua
vez, a independência e autonomia estão intimamente relacionadas ao funcionamento
integrado e harmonioso dos seguintes sistemas funcionais principais:
• cognição: é o conjunto de habilidades mentais que permitem ao indivíduo
compreender e resolver os problemas do cotidiano;
• humor/comportamento: é a motivação necessária para a realização das ati-
vidades e/ou participação social. Inclui também o comportamento do indiví-
duo, que é afetado pelas outras funções mentais, como a sensopercepção, o
pensamento e o nível de consciência;
• mobilidade: é a capacidade individual de deslocamento e de manipulação do
meio. Por sua vez, a mobilidade depende de quatro subsistemas funcionais: a
capacidade aeróbica e muscular (massa e função); o alcance/preensão/pinça
(membros superiores); a postura, transferência e marcha; e a continência es-
fincteriana, que é também considerada um subsistema da mobilidade, pois a
sua ausência (incontinência esfincteriana) é capaz de interferir na mobilidade,
restringindo a participação social do indivíduo;
• comunicação: é a capacidade de estabelecer um relacionamento produtivo
com o meio, trocar informações, manifestar desejos, ideias e sentimentos. De-
pende de três subsistemas funcionais: visão, audição e produção/motricidade
oral. Este último é representado pela voz, fala e deglutição.

8
Estabelecidos os sistemas funcionais, compreende-se que o comprometimen-
to desses sistemas, revelados pela incapacidade cognitiva, instabilidade postural,
imobilidade, incontinência esfincteriana e a incapacidade comunicativa, resulta em
perda da independência e/ou autonomia. Essa perda, por sua vez, não deve ser
atribuída ao envelhecimento normal, ou seja, o mero avançar da idade, mas sim
a essas incapacidades funcionais, resultantes do acúmulo de condições de saúde
capazes de comprometer tais sistemas. De fato, essas condições crônicas estão
associadas à necessidade de cuidados de longa duração, que exigem uma gestão
diferenciada da saúde, realizada tanto pelos profissionais de saúde, quanto pelos
familiares do idoso. O manejo clínico inadequado resulta em mais riscos de iatro-
genia, definida como todo malefício causado pelo sistema de saúde, representado
por profissionais de saúde, que ainda se encontram despreparados para atender
adequadamente o idoso. Por sua vez, idosos dependentes, portadores de incapa-
cidades únicas ou múltiplas demandam cuidados de longa duração usualmente
realizados pela família, que, na maioria das vezes, não se encontra preparada para
prover os cuidados necessários, condição conhecida como insuficiência familiar que
leva com frequência a iatrogenia. Todas essas incapacidades são conhecidas como
“gigantes da geriatria” ou “grandes síndromes geriátricas” ou “7 Is da Geriatria”
(Figura 1.5). Todas elas têm o envelhecimento como principal fator de risco e apre-
sentam características bem peculiares, como:

• múltipla etiologia;
• necessidade de cuidados de longa duração;
• não constituem risco de morte iminente, mas representam os principais deter-
minantes da perda da autonomia e/ou independência nos idosos;
• ausência de resposta a intervenções terapêuticas simples;
• alta prevalência nos idosos frágeis;
• coexistência simultânea (poli-incapacidade);
• necessidade de abordagem interdisciplinar.

9
Figura 1.5 Grandes síndromes geriátricas

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
comando sobre as ações, estabelecendo Refere-se à capacidade de realizar
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções.

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Alcance Marcha Capacidade Produção /


Preensão Postura aeróbica/ Continência Visão Audição Motricidade
Pinça Transferência muscular esfincteriana orofacial

Incapacidade Instabilidade Incontinência Incapacidade


Imobilidade
Cognitiva Postural Esfincteriana Comunicativa

CUIDADOS DE LONGA DURAÇÃO

Cuidado Profissional Cuidado Familiar

Iatrogenia Insuficiência Familiar

GESTÃO DIFERENCIADA DA SAÚDE


Fonte: Moraes, 2016.

10
Fragilidade Multidimensional
Na tentativa de padronizar o conceito de fragilidade, propõe-se o conceito
de fragilidade multidimensional, definida como a redução da reserva homeostática
e/ou da capacidade de adaptação às agressões biopsicossociais e, consequente-
mente, mais vulnerabilidade ao declínio funcional, institucionalização, hospitaliza-
ção e óbito. Nesse conceito, as condições de saúde associadas a desfechos adver-
sos podem ser agrupadas em dois componentes: clínico-funcional e sociofamiliar
(Figura 1.6). O conceito de saúde do idoso deve, portanto, utilizar informações
sobre os aspectos clínico-funcionais e sociofamiliares, sendo a saúde definida como
o máximo bem-estar biopsicossocial, e não, simplesmente, a ausência de doenças.

Figura 1.6 Fragilidade clínico-funcional e sociofamiliar

FRAGILIDADE MULTIDIMENSIONAL
É a redução da reserva homeostática e/ou da capacidade de adaptação
às agressões biopsicossociais, e, consequentemente
maior vulnerabilidade ao declínio funcional,
hospitalização, institucionalização e óbito

FRAGILIDADE FRAGILIDADE
CLÍNICO-FUNCIONAL SOCIOFAMILIAR

Fonte: Moraes, 2016.

11
Fragilidade Clínico-Funcional
O componente clínico-funcional da fragilidade está mais bem estruturado e inclui
os determinantes biológicos, físicos, cognitivos e psíquicos responsáveis pelo declínio
funcional em idosos. O declínio funcional é o principal marcador de fragilidade e de
complicações capazes de comprometer a autonomia e independência do idoso. Pode
ser iminente ou estabelecido (Figura 1.7).
• declínio funcional iminente: são as condições crônicas preditoras de depen-
dência funcional, representadas por comorbidades múltiplas (polipatologia,
polifarmácia e sarcopenia), sarcopenia ou comprometimento cognitivo leve.
Utiliza-se o termo comorbidade múltipla quando o idoso apresenta cinco ou
mais doenças (polipatologia) ou faz uso regular de cinco ou mais medicamen-
tos por dia (polifarmácia) ou quando tem história de internação recente nos
últimos seis meses. A sarcopenia é a redução da força e/ou da massa muscular,
que pode causar lentificação motora e mais riscos de quedas. E, finalmente,
o comprometimento cognitivo leve é o declínio cognitivo caracterizado por
alterações da memória e/ou demais funções cognitivas, percebidas pelos fami-
liares e pelos testes cognitivos, mas que não são suficientemente graves para
levar a declínio funcional. Essas três condições não são normais da idade e,
quando presentes, devem ser consideradas sinais de alerta, pois são associa-
das à perda da autonomia e independência e merecem atenção diferenciada;
• declínio funcional estabelecido é a incapacidade funcional ou a depen-
dência propriamente dita. Está sempre associado ao envelhecimento patoló-
gico, também conhecido como senilidade. O envelhecimento fisiológico ou
senescência é caracterizado pela redução da vitalidade ou capacidade ho-
meostática, mas não é capaz de, isoladamente, causar incapacidades funcio-
nais. Assim, todo idoso dependente deve ser investigado para incapacidade
cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência esfincteriana e
incapacidade comunicativa, que podem estar presentes de forma isolada ou
associada (poli-incapacidades).

12
Figura 1.7. Declínio funcional iminente e estabelecido

DECLÍNIO FUNCIONAL

IMINENTE ESTABELECIDO

FRAGILIDADE

VITALIDADE

Envelhecimento Fisiológico Envelhecimento Patológico


(Senescência) (Senilidade)

Fragilidade Sociofamiliar
O componente sociofamiliar resgata a importância de outros determinantes da
saúde, como sexo, raça/cor, escolaridade, estado civil, arranjos familiares, viuvez re-
cente, idoso cuidador, participação e apoio social, acesso a serviços e situação laboral
(Quadro 1.2). Segundo Camarano (2010), o cuidado de longa duração é o “apoio
material, instrumental e emocional, formal ou informalmente oferecido por um lon-
go período de tempo às pessoas que o necessitam, independentemente da idade”.
Esses serviços podem ser oferecidos no domicílio, na comunidade ou em instituições
de longa permanência. Habitualmente, esses cuidados são prestados pela família.
Famílias despreparadas para esse cuidado de longa duração podem desencadear ou
perpetuar a perda de autonomia e independência do idoso.
A insuficiência familiar traduz, portanto, a perda da capacidade da família de
prover os cuidados, dar apoio e suporte ao idoso, por ausência de família ou por falta
de condições. Não deve ser confundida com negligência ou abandono, pois, muitas
vezes, a família deseja cuidar do seu idoso frágil ou dependente, mas não reúne as
condições necessárias para esse cuidado. A violência contra a pessoa idosa é, usual-
mente, resultante da fragilidade clínico-funcional e fragilidade sociofamiliar.

13
Quadro 1.2 Principais marcadores de fragilidade sociofamiliar

Os homens apresentam menos sobrevida que as mulheres, por ra-


zões fisiológicas (ausência da proteção do estrógeno) e comporta-
Sexo
mentais (menos uso dos serviços de saúde, autocuidado precário,
mais prevalência de hábitos de vida não saudáveis, entre outros).

O analfabetismo está associado à situação socioeconômica mais


Escolaridade baixa, menos oportunidade de emprego e reduzido acesso às
informações sobre hábitos de vida saudáveis.

A raça preta ou parda está associada a situação socioeconômica


Raça/Cor mais baixa, mais violência, reduzido acesso aos serviços de saúde,
da mesma forma que os indígenas.

Existem muitas evidências sobre a relevância que têm essas condi-


ções para o estado de saúde dos idosos. Nesse sentido, verifica-se
Arranjo que morar sozinho representa uma condição de vulnerabilidade
Familiar mesmo para idosos robustos, pois pode haver quedas no domici-
lio. Já o fato de morar com cônjuge ou companheiro representa,
em principio, um fator de proteção.

A viuvez, especialmente quando é recente, representa um estado


Viuvez Recente de vulnerabilidade que pode levar, por sua vez, à depressão ou
outros agravos de saúde.

A necessidade de cuidar de alguém, independentemente da ida-


de, gera sobrecarga na saúde física e emocional, com mais risco
Idoso Cuidador
de isolamento social, mudanças e insatisfações conjugais, dificul-
dades financeiras, deficiência da saúde física e do autocuidado.

A participação e o contato com amigos e familiares em atividades


Participação
de lazer ajudam no envelhecimento ativo e influenciam as
Social
condições de saúde.

Apoio A ausência de companhia para ir ao serviço de saúde traduz a falta


Social de apoio familiar ou comunitário, sugerindo mais vulnerabilidade.

Informações sobre o acesso do idoso a serviços que facilitam a vida


cotidiana, como farmácias, supermercados, padarias e transportes,
Acesso a
avaliam os recursos disponíveis na comunidade em que o idoso
Serviços
vive, de modo a simplificar o seu dia a dia, evitando o deslocamen-
to para lugares mais distantes, reduzindo o risco de acidentes.

A situação laboral e recebimento de algum dos benefícios das


políticas de assistência social auxiliam na identificação da vulnera-
Situação Laboral bilidade e/ou proteção econômica dos idosos. Assim, aquele idoso
beneficiário do Benefício de Prestação Continuada tem situação
socioeconômica precária e mais riscos de declínio funcional.

14
Classificação Clínico-Funcional dos Idosos
O modelo de classificação clínico-funcional proposto é baseado em uma visão de
saúde pública, fortemente ancorado na multidimensionalidade dos determinantes da
saúde do idoso. Nele, o termo fragilidade é utilizado para representar declínio funcio-
nal iminente e definitivo. A funcionalidade global do indivíduo sempre foi fundamen-
tal para qualquer classificação de idosos. Em 1963, Katz desenvolveu um índice capaz
de estratificar os indivíduos conforme o grau de dependência nas atividades de vida
diária relacionadas ao autocuidado. Com o índice, houve clara distinção entre idosos
independentes e dependentes para as AVDs básicas, associada a uma clara hierarquia
entre os idosos dependentes. Assim, o idoso pode ser classificado em:
• independente: realiza todas as atividades básicas de vida diária de forma in-
dependente;
• semidependente: apresenta comprometimento de uma das funções influencia-
das pela cultura e aprendizado (banhar-se e/ou vestir-se e/ou uso do banheiro);

Vestir-se sem ajuda Usar o vaso sanitário


Tomar banho sozinho

• dependente incompleto: apresenta comprometimento de uma das funções


vegetativas simples (transferência e/ou continência), além de, por decorrência
lógica, ser dependente para banhar-se, vestir-se e usar o banheiro. A inconti-
nência urinária isoladamente não deve ser considerada, pois é uma função e
não uma atividade;

Deitar-se e sair da cama Controlar esfincter


sozinho (transferência) (urina e fezes)

15
• dependente completo: apresenta comprome-
timento de todas as funções influenciadas pela
cultura e aprendizado e, também, das funções
vegetativas simples, incluindo a capacidade de
alimentar-se sozinho. Representa o grau máxi-
mo de dependência funcional.

Alimentar-se sozinho

Posteriormente, em 1969, Lawton e Brody confirmaram a importância da ava-


liação da funcionalidade do indivíduo nas atividades básicas de vida diária, mas
sugeriram a avaliação de competências mais complexas do funcionamento huma-
no, denominadas AVDs instrumentais, relacionadas à automanutenção. Assim, os
idosos podem ser independentes ou dependentes parciais ou totais para as AVDs
instrumentais. Usualmente, o declínio funcional segue uma hierarquia, iniciando-
-se pelas AVDs mais complexas (avançadas e instrumentais) até comprometer o
autocuidado (AVDs básicas). Além disso, pode ser consequência do envolvimento
isolado ou associado de domínios funcionais. A estratificação clínico-funcional do
idoso depende diretamente dessa classificação funcional. Essas escalas são indis-
pensáveis para uma avaliação objetiva do idoso e para formulação, implementação
e avaliação do plano de cuidados.

Usar o telefone
Preparo das refeições Controlar o dinheiro
ou finanças, gastos e
pagar as contas

Arrumar a casa e
fazer pequenos Tomar remédios na
trabalhos domésticos dose e horário corretos Fazer compras

16
Sair de casa sozinho
Lavar e passar a roupa para lugares distantes

O envelhecimento está intimamente associado ao processo de fragilização, mas


não há uma relação de causa e efeito direta, pois não segue um padrão homogê-
neo de evolução, justificando a heterogeneidade presente em indivíduos idosos da
mesma idade. Portanto, como visto, a idade, por si só, não é um bom preditor de
fragilidade. Para expressar de forma mais clara os vários subtipos de idosos, sugere-se
a utilização da Escala Visual de Fragilidade, baseada na funcionalidade e na comple-
xidade clínica dos idosos. Essa escala exibe extremos opostos, que representam o
grau máximo e mínimo de vitalidade (reserva homeostática) e fragilidade (vulnerabi-
lidade). Esses extremos estão ligados por uma linha reta, contínua, mas declinante,
onde pode ser marcado o ponto em que o idoso se encontra. Foram predefinidos 10
estratos ou categorias clínico-funcionais, que são distribuídos em três grandes grupos
de idosos (Figura 1.8 e Quadro 1.3):

• idoso robusto: é aquele cuja condição de saúde é caracterizada pela ausência


de declínio funcional. É capaz de gerenciar sua vida de forma independente
e autônoma e não tem incapacidade funcional ou condição crônica de saúde
associada a mais vulnerabilidade;
• idoso em risco de fragilização: é aquele cuja condição de saúde é caracteri-
zada por declínio funcional iminente. Todavia, ainda é capaz de gerenciar sua
vida de forma independente e autônoma. O risco de dependência funcional é
alto. Apresenta uma ou mais condições crônicas de saúde preditoras de desfe-
chos adversos, como comorbidades múltiplas:

a. evidência de sarcopenia: alterações da massa e da função muscular (força


e desempenho muscular);

b. comorbidades múltiplas (polifarmácia, polipatologia e internação recente);

c. comprometimento cognitivo leve.

• idoso frágil: é aquele com declínio funcional estabelecido e incapaz de ge-


renciar sua vida, em virtude de incapacidades únicas ou múltiplas, como in-

17
capacidade cognitiva (demência, depressão e “doença mental”); instabilidade
postural (história de duas ou mais quedas nos últimos seis meses e/ou dificul-
dades da marcha caracterizada por desequilíbrio e alterações no padrão da
marcha, capazes de restringir a participação social do indivíduo); imobilidade
parcial ou completa; incontinência esfincteriana capaz de restringir a partici-
pação social do indivíduo; incapacidade comunicativa (distúrbios da comuni-
cação oral/escrita, da audição e da visão, capazes de restringir a participação
social do indivíduo). Por sua vez, os idosos frágeis podem ser subdivididos em:

a. idoso frágil de baixa complexidade: são aqueles com baixo potencial de


ganho funcional. O acompanhamento geriátrico-gerontológico especializado
não necessita ser feito de forma intensiva e o objetivo é evitar a piora funcional;
b. idoso frágil de alta complexidade: são aqueles que apresentam elevado
potencial de ganho funcional e/ou de qualidade de vida. Esses idosos são
os que mais se beneficiam do acompanhamento geriátrico-gerontológico
especializado;
c. idoso frágil em fase final de vida: são idosos que apresentam sobrevida
estimada em menos de seis meses. O foco das intervenções é o cuidado
paliativo, baseado no conforto do paciente e de seus familiares.

18
Figura 1.8 Escala Visual de Fragilidade
1
2
3
4 FRAGILIDADE
5
6
7
VITALIDADE 8
9
10

Envelhecimento Fisiológico (Senescência) Envelhecimento Patológico (Senilidade)

DECLÍNIO FUNCIONAL DECLÍNIO FUNCIONAL ESTABELECIDO


IMINENTE
AUSÊNCIA DE DECLÍNIO Sarcopenia AVD INSTRUMENTAL AVD BÁSICA
FUNCIONAL
Comorbidade Múltipla Dependência Dependência Semi- Dependência Dependência
Comprometimento Cognitivo Leve Parcial Completa Dependência Incompleta Completa

Classificação Clínico Funcional


IDOSO EM RISCO DE IDOSO FRÁGIL
IDOSO ROBUSTO FRAGILIZAÇÃO Baixa Complexidade Alta Complexidade Fase Final de Vida

Determinantes do Declínio Funcional Estabelecido


MOBILIDADE COMUNICAÇÃO
HUMOR/ Alcance, Marcha, Capacidade Fala, voz e
COGNIÇÃO Continência
COMPORTAMENTO preensão e postura e aeróbica e Visão Audição motricidade
pinça transferência muscular esfinceriana orofacial

Fonte: Moraes, 2016.

19
Quadro 1.3 Classificação clínico-funcional dos idosos
ESTRATIFICAÇÃO CLÍNICO-FUNCIONAL

São idosos que se encontram no grau máximo de vitalidade. Apresentam independência


para todas as AVDs avançadas, instrumentais e básicas e ausência de doenças ou fato-
Estrato 1
res de risco, exceto a própria idade. São indivíduos que envelheceram livres de doenças
e não apresentam nenhuma outra condição de saúde preditora de desfechos adversos.

São idosos independentes para todas as AVD, mas que apresentam condições de
saúde de baixa complexidade clínica, como a hipertensão arterial não complicada
Ausência Estrato 2
e/ou presença de outros fatores de risco como tabagismo, dislipidemia, osteope-
de Idoso
nia, depressão leve, diabetes mellitus sem lesão de órgão alvo, dentre outros.
declínio Robusto
funcional
São idosos independentes para todas as AVD, mas que apresentam doenças crô-
nico-degenerativas bem estabelecidas e de maior complexidade clínica, como hi-
pertensão arterial complicada, diabetes mellitus com lesão de órgão-alvo, depres-
Estrato 3 são moderada/grave, ataque isquêmico transitório, acidente vascular cerebral sem
sequelas, doença renal crônica, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva
crônica, osteoartrite, doença arterial coronariana com ou sem IAM, doença arterial
periférica e câncer, osteoporose estabelecida, fibrilação atrial, dentre outros.

São idosos independentes para todas as atividades de vida diária, mas que apresentam
uma ou mais condições crônicas preditoras de declínio funcional e mortalidade, como:
• sarcopenia.
Estrato 4 • comprometimento cognitivo leve.

Declínio Idosos em • comorbidade múltipla, definida pela presença de polipatologia (≥ 5 doenças) ou

funcional Risco de polifarmácia (≥ 5 medicamentos/dia) ou internação recente (< 6 meses).


iminente Fragilização
São idosos portadores de condições crônicas preditoras de declínio funcional definidas no
estrato 4, mas que já apresentam limitações em AVDs avançadas, definidas como as ativi-
Estrato 5
dades relacionadas à integração social, atividades produtivas, recreativas e/ou sociais. Não
há declínio em AVDs instrumentais ou básicas.

São os idosos que apresentam declínio funcional parcial nas atividades instrumentais de vida
Estrato 6
diária e são independentes para as AVDs básicas.

São os idosos que apresentam declínio funcional em todas as atividades instrumentais de


Estrato 7
vida diária, mas ainda são independentes para as atividades básicas de vida diária.

São os idosos que apresentam dependência completa nas AVDs instrumentais associa-
Declínio
Estrato 8 da à semi-dependência nas AVDs básicas: comprometimento de uma das funções in-
funcional Idoso
fluenciadas pela cultura e aprendizado (banhar-se e/ou vestir-se e/ou uso do banheiro).
estabele- Frágil
cido
São os idosos que apresentam dependência completa nas AVDs instrumentais e para ba-
Estrato 9 nhar-se, vestir-se, uso do banheiro, continência e transferência. A única AVDs básica preser-
vada é a capacidade de alimentar-se sozinho (dependência incompleta para AVDs básica).

São os idosos que se encontram no grau máximo de fragilidade e, consequentemen-


Estrato 10 te, apresentam o máximo de dependência funcional, necessitando de ajuda, inclusive,
para alimentar-se sozinho (dependência completa).

IDOSO FRÁGIL

Baixa Complexidade Alta Complexidade Fase Final de Vida

São idosos que apresentam


São idosos que apresentam declínio
dependência funcional nas atividades
funcional estabelecido e baixo
de vida diária associada a condições
potencial de reversibilidade clínico- São idosos que apresentam
de saúde de difícil manejo, devido à
funcional. Nestes idosos, o dependência funcional estabelecida e
dúvida diagnóstica ou terapêutica. O
acompanhamento geriátrico- sobrevida estimada menor que seis
termo alta complexidade sugere
gerontológico especializado não meses. O foco das intervenções é o
elevado potencial de ganho funcional
necessita ser feito de forma cuidado paliativo, baseado no conforto
e/ou de qualidade de vida.
intensiva. O objetivo das do paciente e seus familiares.
Estes idosos são aqueles que mais se
intervenções é evitar a piora
beneficiam do acompanhamento
funcional.
geriátrico-gerontológico especializado.

Fonte: Moraes, 2016.

20
Glossário Geriátrico-Gerontológico
Vários termos e conceitos são utilizados rotineiramente em Geriatria e Geronto-
logia, de forma não padronizada e, por vezes, com significados diferentes. Como
tentativa de padronização e uniformização desses termos. Foi elaborado o glossá-
rio a seguir:
• atividades básicas de vida diária (ABVD): referem-se às tarefas necessárias
para o cuidado com o corpo ou autopreservação (autocuidado), como ba-
nhar-se, vestir-se, uso do banheiro, controle esfincteriano, transferência (sair
sozinho da cama para cadeira) e alimentar-se sem ajuda.
• atividades instrumentais de vida diária (AIVD): referem-se às tarefas ne-
cessárias para o cuidado com o domicílio ou atividades domésticas, como pre-
paro das refeições, controle do dinheiro ou finanças (gastos e pagar contas),
tomar remédios na dose e horário corretos, lavar e passar roupa, arrumar a
casa e fazer pequenos trabalhos domésticos, fazer compras e sair sozinho para
lugares distantes.
• atividades avançadas de vida diária (AAVD): referem-se às atividades do
cotidiano mais complexas, como aquelas relacionadas ao trabalho, recreação
e participação social.
• autonomia: é a capacidade individual de decisão e comando sobre as ações
(autogoverno), estabelecendo e seguindo as próprias convicções.
• condição crônica de saúde: o termo engloba as circunstâncias ou condi-
ções na saúde das pessoas que exigem uma resposta dos sistemas de atenção
à saúde, mas que nem sempre são patológicas ou definidas como doenças.
Inclui os sintomas e sinais sem definição diagnóstica (insônia, tontura, consti-
pação, etc.), as doenças propriamente ditas e os achados laboratoriais (hipo-
natremia, deficiências vitamínicas, etc.), entre outros.
• declínio funcional iminente: é a síndrome caracterizada por condições crô-
nicas de saúde preditoras de desfechos clínicos negativos ou adversos (depen-
dência funcional, institucionalização, hospitalização e morte). Essas condições
incluem comorbidade múltipla (polipatologia, polifarmácia, internação recen-
te), sarcopenia e comprometimento cognitivo leve.
• declínio funcional estabelecido: é a incapacidade funcional ou dependên-
cia, e, consequentemente, restrição da participação social.
• dependência ou incapacidade funcional: é a dificuldade para a realização
de tarefas essenciais para uma vida independente, incluindo as atividades de
autocuidado e as domiciliares, com necessidade da ajuda de outra pessoa.

21
• envelhecimento bem-sucedido (successful aging): este termo é utilizado
para identificar idosos que envelheceram livres de comorbidades e sem algum
tipo de declínio funcional na cognição, humor, mobilidade e comunicação. Fato-
res genéticos e ambientais são determinantes do tipo de envelhecimento. Neste
grupo pode-se também acrescentar o envelhecimento ativo, que se refere aos
idosos que têm doenças crônicas, plenamente controladas e capazes de viver
com total independência e autonomia, autorrealização e desempenho de impor-
tantes papéis sociais (idoso robusto). A tendência é incorporar o envelhecimento
ativo dentro do bem-sucedido, ou seja, há os que envelhecem sem doenças e
são bem-sucedidos, mas há também os que envelhecem com doenças crônicas
e são igualmente bem-sucedidos.
• fragilidade multidimensional: redução da reserva homeostática e/ou da
capacidade de adaptação às agressões biopsicossociais e, consequentemente,
mais vulnerabilidade ao declínio funcional. É composta pelo componente clíni-
co-funcional e o sociofamiliar.
• fragilização: é o processo dinâmico de redução da capacidade funcional e
aumento progressivo da vulnerabilidade, culminando com o declínio funcional
estabelecido.
• incapacidade: é um termo utilizado para representar a dependência ou de-
clínio funcional estabelecido. As principais causas de incapacidade nos idosos
são a incapacidade cognitiva, a instabilidade postural, a incontinência urinária,
a imobilidade e a incapacidade comunicativa, também conhecidas como gran-
des síndromes geriátricas, assim definidas:
• instabilidade postural: é a perda da capacidade individual para o desloca-
mento no ambiente de forma eficiente e segura;
• imobilidade: é a perda total ou parcial da capacidade individual de desloca-
mento e de manipulação do meio;
• incapacidade cognitiva: é a perda da capacidade de compreender e resol-
ver os problemas do cotidiano. Pode ter várias causas sindrômicas, como a
demência, a depressão, o delirium e a “doença mental”, que juntos compõem
didaticamente os 4 Ds da incapacidade cognitiva;
• incontinência esfincteriana: é perda involuntária de urina ou fezes;
• incapacidade comunicativa: é a perda da capacidade de estabelecer um re-
lacionamento produtivo com o meio, trocar informações, manifestar desejos,
ideias e sentimentos, por comprometimento da visão, audição ou produção/
motricidade orofacial;

22
• iatrogenia: é o conjunto de intervenções inadequadas realizadas por profis-
sionais da saúde, por desconhecimento das particularidades do processo de
envelhecimento, capazes de prejudicar a saúde do idoso;
• insuficiência familiar: é a perda da capacidade da família de prover os cui-
dados, dar apoio e suporte ao idoso, por ausência de família ou por falta de
condições;
• independência: é a capacidade individual de executar algo com os próprios
meios, sem a ajuda de outra pessoa;
• polifarmácia: uso regular e concomitante de cinco ou mais medicamentos
por dia para condições crônicas diferentes;
• Polipatologia: resume-se em cinco ou mais diagnósticos de condições crôni-
cas de saúde acometendo sistemas fisiológicos diferentes;
• restrição da participação social: é a perda da autonomia e/ou independên-
cia. Segundo a Classificação Internacional da Funcionalidade, são problemas
que um indivíduo pode experimentar no envolvimento em situações reais da
vida (dependência funcional);
• sarcopenia: é uma síndrome clínica caracterizada pela perda progressiva e
generalizada da massa muscular esquelética e da função muscular, represen-
tada pela redução da força muscular e desempenho funcional, com risco de
desfechos adversos como dependência funcional, quedas, hospitalização, ins-
titucionalização e óbito;
• senescência: é o processo de envelhecimento normal (envelhecimento usual);
• senilidade: é o processo de envelhecimento patológico;
• vitalidade: é a capacidade individual de resistência aos agentes agressores
internos e externos, também conhecida como reserva homeostática;
• vulnerabilidade: é a redução da reserva homeostática e o consequente au-
mento do risco de fragilização.

23
Atividade Integradora
Preencher no Guia de Saúde do Idoso os dados pessoais e a avaliação
funcional do idoso.
Em dados pessoais, o item referente à presença de deficiência (visual,
auditiva, física ou outra) refere-se a condições prévias do idoso, não
relacionadas ao envelhecimento, como doenças genéticas, acidentes
na infância ou na vida adulta, etc. (página 1).
Nas páginas 7 e 8 do guia deve ser preenchido se há ou não declínio
funcional em AVDs instrumentais (página 7) ou básicas (página 8). Na
presença de declínio funcional, é importante especificar a duração e
as características principais, como o grau de dificuldade na realização
da atividade, na medida em que é possível que o idoso ainda faça a
AVDs parcialmente ou com muita dificuldade. O importante é ficar
atento ao declínio funcional, mesmo que seja somente qualitativo, ou
seja, o idoso ainda faz a tarefa, mas com pequenas falhas na execução
ou realização incompleta da tarefa. A observação cotidiana do idoso é
fundamental para se ter clareza na capacidade de se realizar ou não a
tarefa. Por vezes, a família não permite que o idoso faça determinada
AVD, o que dificulta a diferenciação entre capacidade potencial (o ido-
so poderia fazer) e real (o idoso não faz mais). Famílias superprotetoras
podem restringir as atividades do idoso sem um real motivo. O inverso
também pode ocorrer, ou seja, o idoso continua fazendo determina-
das tarefas que não tem mais capacidade para realizar.

Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 2.528, de 19 de outubro de
2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. 2006. 19 p. Disponível
em: <http://www.saudeidoso.icict.fiocruz.br/pdf/PoliticaNacionaldeSaudedaPes-
soaIdosa.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2016.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Especializada e Temática. Diretrizes para o cuidado das pessoas ido-
sas no SUS: proposta de Modelo de Atenção Integral. maio de 2014. 42 p.
3. CAMARANO, A. A. Cuidados de longa duração para a população idosa: um
novo risco social a ser assumido? Rio de Janeiro: Ipea, 2010. 350 p.

24
4. FRIED, L. P. et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. The Journals
of Gerontology. Series A, Biological Sciences and Medical Sciences, Wash-
ington, v. 56, n. 3, p. M146-156, mar. 2001.
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measure of biological and psychosocial function. JAMA, United States, v. 185, p.
914-919, sept. 1963.
6. LAWTON, M. P.; BRODY, E. M. Assessment of older people: self-maintaining and
instrumental activities of daily living. The Gerontologist, United States, v. 9, n. 3,
p.179-186, autumn 1969.
7. LINO, V. T. S. et al. Adaptação transcultural da Escala de Independência em Ati-
vidades de Vida Diária (Escala de Katz). Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 24, n. 1, p.103-112, jan. 2008.
8. MORAES, E. N. Atenção à saúde do idoso: aspectos conceituais. Brasília: Orga-
nização Pan-Americana da Saúde, 2012. 98 p.
9. MORAES, E. N. Como preparar o sistema de saúde brasileiro para enfrentar o
envelhecimento, tendo em vista a mudança do perfil demográfico. Revista Con-
sensus, v. 10, p. 40-45, 2014.
10. MORAES, E. N. Envelhecimento, saúde e maturidade. Belo Horizonte: Editora
Folium, 2016.
11. MORAES, E. N. et al. A new proposal for the clinical-functional categorization of
the elderly: Visual Scale of Frailty (VS-Frailty). The Journal of Aging Research &
Clinical Practice, France, v. 5, n. 1, p. 24-30, 2016.
12. MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação multidimensional do idoso. 5. ed.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2016. 248 p.
13. MORAES, E. N.; LANNA, F. M.; LIMA, S. P. P. Características biológicas e psicoló-
gicas do envelhecimento. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v.
20, n. 1, p. 67-73, 2010.
14. MORAES, E. N.; MARINO, M. C. A.; SANTOS, R. R. Principais síndromes geriátri-
cas. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 54-66, jan./
mar. 2010.
15. RAMOS, L. R. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos resi-
dentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cadernos de Saúde Pú-
blica, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 793-798, june 2003.
16. VERAS, R. P. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios
e inovações. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 548-554, may/
june 2009.

25
Capítulo 2

Legislação e Modalidades
de Atenção ao Idoso

Raquel Souza Azevedo


Maria da Conceição de Oliveira
Juliana Santos Neves
Edgar Nunes de Moraes
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “cidadania é a qualida-
de ou estado do cidadão”, e entende-se por cidadão “o indivíduo no gozo dos direitos
civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”. Ser
cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e
a de outras pessoas. O idoso é também um cidadão de direitos e deveres.
O primeiro registro histórico de uma política pública em favor do idoso foi na
época do Brasil Império, a Lei n.º 3.270, também conhecida como Lei dos Sexagená-
rios ou Lei Saraiva-Cotejipe, promulgada em 28 de setembro de 1885, que garantia
liberdade aos escravos a partir de 60 anos de idade, sob determinadas condições,
e efetivamente a partir dos 65 anos de idade. Essa lei sofreu grande resistência por
parte dos senhores de escravos, apesar de sua pouca eficácia; tendo em vista que ape-
nas alguns indivíduos em situação de escravidão conseguiam chegar nessa idade e, os
que chegavam, apresentavam limitações para o trabalho e restrições funcionais graves.
No Brasil, nos anos 70, algumas iniciativas foram destaque em defesa das pessoas
idosas, entre elas a criação de benefícios não contributivos, como a aposentadoria
para os trabalhadores rurais e a renda mensal vitalícia para os necessitados urbanos e
rurais com mais de 70 anos, que não recebiam benefício da Previdência Social. Entre-
tanto, a garantia de uma legislação específica para as pessoas idosas surge a partir da
Constituição de 5 de outubro de 1988 (Constituição Cidadã), por ser a constituição
brasileira que mais avançou no âmbito dos direitos sociais. Esta constituição deixa bem
claro a relação recíproca de proteção do idoso na família:

Art. 229: Os pais tem o dever de assistir, criar e educar os filhos menores,
e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade;
Art. 230: A família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida;
§1º - Os programas de amparo aos idosos serão
executados preferencialmente em seus lares;
§ 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a
gratuidade dos transportes coletivos urbanos.

28
A partir da referida Constituição aprova-se a Lei Orgânica da Assistência So-
cial-LOAS Lei 8.742 de 07 de dezembro de 1993. Traz como destaque em seus obje-
tivos:... a “ proteção à velhice” e “a garantia de um salário mínimo à pessoa com defi-
ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção
ou de tê-la provida por sua família” (Art.2º).
A Política Nacional do Idoso (PNI), expressa na Lei nº 8.842 de 04 de janeiro
de 1994, também é contemplada pela Constituição, e no seu artigo 2º considera
“idoso, para efeitos desta lei, a pessoa maior de sessenta anos de idade”. Além disso,
ela regulamenta o artigo 230 da Constituição: “A família, a sociedade e o Estado tem
o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na sociedade,
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito a vida”. A Política
Nacional do Idoso constitui-se o maior ganho do idoso após a Constituição. O obje-
tivo dessa política é “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.” Além de
estabelecer princípios de incentivo à autonomia, participação e integração social do
idoso, vem regulamentar e fortalecer a responsabilidade conjunta de vários agentes
na implementação e gerenciamento de ações de atenção ao idoso no Brasil.
Outra conquista de toda a sociedade, mas principalmente das pessoas idosas, a
Portaria nº 1.395 de dezembro de 1999, institui a Política Nacional de Saúde do
Idoso, tendo como diretrizes:
• promoção do envelhecimento saudável;
• manutenção da capacidade funcional;
• assistência às necessidades de saúde do idoso;
• reabilitação da capacidade funcional comprometida;
• capacitação de recursos humanos especializados;
• apoio ao desenvolvimento de cuidados informais;
• apoio a estudos e pesquisas.

Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou orientações sobre o


envelhecimento ativo como diretriz para a política de saúde baseada em três pilares
básicos: saúde, participação e segurança. A primeira versão em português foi publi-
cada em 2005, intitulada: Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde, num esforço
conjunto do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/
OMS. O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida sau-
dável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive
as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados especiais.

29
Desde 1º de janeiro de 2004, entrou em vigor a Lei 10.741, o Estatuto do Idoso,
que define os direitos fundamentais da pessoa idosa, estabelece mecanismos de defesa
dos mesmos pelo Ministério Público, estabelece normas para as instituições de abrigo
e sanções a quem ferir esses direitos. O Estatuto do Idoso é a coroação de esforços do
movimento dos idosos, das entidades de defesa dos direitos dos idosos e do Estado e se
constitui instrumento jurídico formal mais completo para a defesa da cidadania do idoso.
Em fevereiro de 2006, foi publicado, por meio da Portaria nº 399/GM, o docu-
mento das Diretrizes do Pacto pela Saúde que contempla o Pacto pela Vida. Neste
documento, a saúde do idoso aparece como uma das seis prioridades pactuadas
entre as três esferas de governo, sendo apresentada uma série de ações que visam,
em última instância, à implementação de algumas das diretrizes da Política Nacional
de Atenção à Saúde do Idoso. A publicação do Pacto pela Vida, particularmente no
que diz respeito à saúde da população idosa, representa, sem sombra de dúvida, um
avanço importante.
Em 28 de dezembro de 2006 é promulgada a Lei nº 11.433, determinando que
o Dia Nacional do Idoso deve ser comemorado em 1º de outubro, de cada ano.
Tradicionalmente esse dia era comemorado em 27 de setembro, sem que houvesse
um consenso do motivo de comemoração nessa data. A mudança foi motivada para
coincidir com a comemoração do Dia Internacional do Idoso, promovido pela ONU
(Organização das Nações Unidas) e comemorado em praticamente todos os seus
países membros. Outro fato histórico recente é a transferência da coordenação da
Política Nacional do Idoso do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome para a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Casa Civil, pelo Decreto nº
6.800, de 18 de março de 2009.

Estatuto do Idoso
O surgimento de políticas em prol do idoso reflete a necessi-
dade de proteção da população com 60 anos ou mais que está
inserida numa sociedade adaptada e, até então, acostumada
apenas com os jovens e que sofreu rapidamente a mudança de
um país de jovens para um país que envelhece.
Com isto, se fez necessária a criação do ESTATUTO DO IDOSO, que é a legislação
que trata da defesa dos direitos dos idosos e suas devidas penalidades (Quadro 2.1 e
2.2). Ele serve para lembrar e exigir da sociedade dentre outras, as seguintes medidas:
• atendimento preferencial do idoso;

30
• direito de acompanhante ao idoso internado;
• responsabilização dos filhos para com subsistência dos pais idosos e a tomada
de decisão em relação aos maus-tratos contra o idoso;
• a regulamentação das casas de repouso, entre outros.

Quadro 2.1 Principais tópicos do Estatuto em relação ao idoso

Assistência prioritária por sua família.

Prioridade no direito à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao


lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.

Pleno exercício de sua liberdade, entendendo-se liberdade como autonomia, como


capacidade de exercer com consciência os seus direitos, sendo dever de todos não per-
mitir que o idoso seja alvo de qualquer tratamento desumano ou constrangedor.

Obrigação alimentar solidária.

Gratuidade de medicamentos, especialmente os de uso contínuo, assim como próteses,


órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação e reabilitação.

Previsão de atendimento domiciliar para os que dele necessitar e esteja impossibilitado


de se locomover.

Desconto de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísti-
cos, culturais, esportivos e de lazer, com acesso preferencial aos respectivos locais.

Vedada a discriminação de limite máximo de idade, para concursos, ressalvados os


casos em que a natureza do cargo exigir.

Data-base para reajuste dos aposentados e pensionista passa a ser o dia 1º de maio.

Benefício mensal de 1 (um) salário mínimo aos idosos a partir de 65 anos que não pos-
suem meios de prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família.

Prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, nos programas habitacionais


públicos ou subsidiados com recursos públicos.

Gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos servi-
ços seletivos e especiais, aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos.

Gratuidade do transporte coletivo interestadual, assegurada a duas vagas por veículo e


o desconto de 50% (cinquenta por cento) no valor da passagem que exceder à reserva
de vagas.

31
Quadro 2.2 Penalidades para crimes específicos contra o idoso

Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,


aos meios de transporte e ao exercício da cidadania (art.96: Reclusão de 6 meses a 1
ano, podendo a pena ser aumentada em 1/3, se a vítima se encontrar sob os cuidados
ou responsabilidade do agente).

Deixar de prestar assistência ao idoso em situação de iminente perigo, ou recusar, re-


tardar ou dificultar sua assistência à saúde ou não pedir socorro de autoridade pública,
quando possível fazê-lo (art. 97: Detenção de 6 meses a 1 ano e multa, podendo a
pena ser aumentada de metade se da omissão resultar em lesão corporal grave e tripli-
cada, se resultar morte).

Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência ou


congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei (art. 98:
Pena de detenção de 6 meses a 3 anos e multa).

Expor a perigo a integridade e a saúde física ou psíquica do idoso, submetendo-o a


condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indis-
pensáveis quando obrigado a fazê-lo (art. 99: Pena de detenção de 2 meses a 1 ano e
multa. Se resultar lesão corporal de natureza grave, a pena passa a ser de reclusão de 1
a 4 anos e se resultar em morte, de 4 a 12 anos).

Se apropriar de bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,


dando-lhes aplicações diversas da de sua finalidade (art. 102: Pena de reclusão de 1 a 4
anos e multa).

Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão


do idoso, bem como qualquer outro documento com o objetivo de assegurar recebi-
mento ou ressarcimento de dívida (art. 104: Pena de detenção de 6 meses a 2 anos e
multa).

Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de
administração de bens ou deles dispor livremente (art. 106: Pena de reclusão de 2 a 4 anos).

Telefones úteis:
Disque Direitos Humanos: 0800-311119
Denúncias de violência: disque 100 (tecle a opção 2
para denúncia de violência contra a pessoa idosa).
Disque-Saúde: 136
Disque-Denúncia: 181
SAMU: 192

32
Modalidades de Atenção ao Idoso
As modalidades de atenção consistem nos diversos equipamentos de saúde e
assistência social que buscam potencializar a autonomia e independência do idoso
conforme seu estrato clínico-funcional (Figura 2.1). Vale ressaltar que a fronteira entre
um “problema de saúde” e um “problema sociofamiliar” é muito estreita no idoso
frágil, na medida em que ambas coexistem com frequência. Assim, o Sistema Único
de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) devem funcionar de
forma integrada e complementar, dependendo de cada situação. Da mesma forma,
a Saúde Suplementar, representada pelas operadoras de saúde ou planos de saúde,
deve oferecer o suporte social e familiar que o idoso frágil necessita, pois, caso con-
trário, o “problema sociofamiliar” transforma-se rapidamente em um “problema de
saúde”, culminando com a piora clínica do idoso e internação hospitalar.

Figura 2.1 Modalidade de atenção ao idoso, conforme o estrato clínico-funcional


1
2 FRAGILIDADE
3
4
5
6
7
8
VITALIDADE 9
10

Envelhecimento Fisiológico Envelhecimento Patológico


(Senescência) (Senilidade)

Ausência de Declínio Declínio Funcional


Declínio Funcional Estabelecido
Funcional Iminente

Idoso em Risco
Idoso Robusto Idoso Frágil
de Fragilização

Casa-Lar Instituição de Longa Permanência para Idosos

República de Idosos

Centro ou Grupo de Convivência Centro-Dia

Atendimento Domiciliar

33
Conforme o Estatuto do Idoso, é dever da família, da comunidade e do Poder
Público, de forma compartilhada, garantir a efetivação dos direitos humanos das pes-
soas idosas. No âmbito das políticas públicas da seguridade social, o Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) “é um sistema público e gratuito, descentralizado e partici-
pativo, que tem por função a gestão e organização da oferta de serviços, programas,
projetos e benefícios da política pública de assistência social em todo o território
nacional”. As ações da proteção social estão divididas em proteção básica e especial:
• proteção básica: responsável pela oferta de ações de cunho preventivo, com
vistas ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários;
• proteção especial: foco na superação de situações de violação de direitos.
Os serviços de acolhimento institucional estão inseridos na Proteção Social
Especial de Alta Complexidade, responsável por garantir atendimento integral
a indivíduos que estejam vivenciando situações de desabrigo.

O artigo 37 do Estatuto do Idoso, referente à habitação, afirma que “o idoso


tem direito à moradia digna, no seio da família natural ou substituta ou desacompa-
nhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública
ou privada. A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência
será prestada quando verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou
carência de recursos financeiros próprios ou da família”. Os serviços de acolhimento
para pessoas idosas visam a assegurar e promover o protagonismo, a qualidade de
vida, o acesso a serviços, o direito a viver em ambiente propício e saudável e a aten-
ção integrada e articulada na perspectiva da complementaridade e integralidade com
as demais políticas sociais e públicas. São definidas três formas de acolhimento para
idosos no Brasil:
• Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI): é uma unidade
institucional da assistência social com característica domiciliar, que atende
idosos com diferentes necessidades e graus de dependência. A Resolução nº
283/2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, estabeleceu o padrão
mínimo de funcionamento das ILPIs, aplicável a toda instituição de longa per-
manência para idosos, governamental ou não governamental, destinada à
moradia coletiva de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou
sem suporte familiar. As normas que regulamentam o funcionamento são das
ILPIs estão agrupadas no Quadro 2.3.

34
Quadro 2.3 Normas brasileiras para ILPIs

Portaria no 810 (22/09/1989) do Ministério da Saúde: define normas de funciona-


mento das ILPIs.

Estatuto do Idoso (2003).

Lei Orgânica da Saúde (Lei no 8080/1990).

Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 50 da ANVISA (21/02/2002): Regulamen-


to Técnico para o planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos
físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.

Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 283 da ANVISA (26/09/2005): obriga toda


ILPI a possuir um responsável técnico (RT) pelo serviço, que responderá pela institui-
ção junto à autoridade sanitária local. A instituição deve realizar atividades de educa-
ção permanente na área de gerontologia, com o objetivo de aprimorar tecnicamente
os recursos humanos envolvidos na prestação de serviços aos idosos.

A RDC 283 traz algumas definições interessantes:


• cuidador de idosos: pessoa capacitada para auxiliar o idoso com limitações
para realizar atividades da vida diária;
• dependência do idoso: condição do indivíduo que requer o auxílio de pes-
soas ou de equipamentos especiais para realização de atividades da vida diária;
• equipamento de autoajuda: qualquer equipamento ou adaptação utilizado
para compensar ou potencializar habilidades funcionais, tais como bengala,
andador, óculos, aparelho auditivo e cadeira de rodas, entre outros com fun-
ção semelhante.

Da mesma forma, define três classificações de idosos, conforme o grau de de-


pendência, que devem ser utilizadas para o planejamento da equipe de saúde e das
dimensões da ILPI:
• grau de dependência I: idosos independentes, mesmo que requeiram uso
de equipamentos de autoajuda;
• grau de dependência II: idosos com dependência em até três atividades de
autocuidado para a vida diária, tais como: alimentação, mobilidade, higiene;
sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada;
• grau de dependência III: idosos com dependência que requeiram assistência
em todas as atividades de autocuidado para a vida diária e/ou com compro-
metimento cognitivo.

35
A ILPI deve atender às seguintes premissas:
• observar os direitos e garantias dos idosos, inclusive o respeito à liberdade de
credo e à liberdade de ir e vir, desde que não exista restrição determinada no
Plano de Atenção à Saúde;
• preservar a identidade e a privacidade do idoso, assegurando um ambiente de
respeito e dignidade;
• promover ambiência acolhedora;
• promover a convivência mista entre os residentes de diversos graus de depen-
dência;
• promover integração dos idosos nas atividades desenvolvidas pela comunida-
de local;
• favorecer o desenvolvimento de atividades conjuntas com pessoas de outras
gerações;
• incentivar e promover a participação da família e da comunidade na atenção
ao idoso residente;
• desenvolver atividades que estimulem a autonomia dos idosos;
• promover condições de lazer para os idosos, tais como: atividades físicas, re-
creativas e culturais;
• desenvolver atividades e rotinas para prevenir e coibir qualquer tipo de violên-
cia e discriminação contra pessoas nela residentes.

Outros serviços de acolhimento a idosos, menos utilizados no Brasil, são:


• casa-lar: instituição mantida por órgãos governamentais e não governamen-
tais, integrada por idosos sob sistema participativo, em caráter residencial com
ou sem suporte familiar, podendo ser gratuito ou não, tendo por objetivo a
promoção do bem-estar e da autonomia do idoso, com capacidade máxima
para 10 residentes. Sistema participativo é o conjunto de atividades e fun-
ções integradas representadas por colaboração mútua, financeira, material,
laboral, entre outras, a serem desempenhadas pelos usuários de instituição
residencial. É uma alternativa de atendimento que proporciona um ambiente
acolhedor, com rotina mais próxima de um ambiente familiar e mais participa-
ção na vida comunitária, além de fortalecer a interação social e autonomia do
idoso. Trata-se de uma modalidade de atendimento que vem romper com as
práticas tutelares e assistencialistas, visando o fortalecimento da participação,
organização e autonomia dos idosos, utilizando sempre que possível a rede de
serviços local. O principal objetivo é propiciar aos idosos condições de moradia

36
de acordo com suas condições econômicas, maximizando sua economia pelo
máximo tempo possível. O público-alvo são idosos independentes e/ou semi-
dependentes com habilidades para a vida em grupo e integração na comuni-
dade, afastados do convívio familiar, sem condições financeiras de arcar com
o ônus integral de sua subsistência. Deve apresentar arquitetura semelhante à
de uma residência privada, deve receber supervisão técnica de uma equipe de
profissionais e localizar-se em áreas residenciais da cidade, seguindo o padrão
socioeconômico da comunidade onde estiverem inseridas;
• serviço de república: é a forma de acolhimento institucional voltado para
idosos independentes, com capacidade de autogestão. É organizado em gru-
pos, conforme o número de usuários, e cofinanciada com recursos da apo-
sentadoria, do benefício de prestação continuada, da renda mensal vitalícia
ou outros rendimentos. Em alguns casos, a república pode ser viabilizada em
sistema de autogestão.

No Brasil, estima-se que menos de 2% dos idoso residam em ILPIs, públicas ou


privadas, mas percebe-se um expressivo crescimento dessas instituições. Porém, cabe
salientar que ainda se prioriza a permanência do idoso em sua família. O atendimento
institucional entra como uma alternativa secundária, que muitas vezes gera insegu-
rança, medo e que se torna muitas vezes de difícil adaptação.
O cuidado integral realizado em instituições de longa permanência não deve ser
interpretado como resultado da negligência da família, muito menos como abando-
no. Pelo contrário, significa oferecer melhores condições de vida, na medida em que
se busca uma residência capaz de oferecer cuidados especializados para aquele idoso
frágil que não consegue mais cuidar de si, para o qual a família não tem mais capaci-
dade de prestar uma assistência adequada.

Outras modalidades não integrais de atendimento ao idoso também podem ser


utilizadas, como:

Institucionalizar não significa abandonar o idoso

37
Centro ou grupo de convivência
É o espaço destinado à coexistência de idosos independentes e seus familiares, prestan-
do atendimentos diários e com horários estipulados, onde são desenvolvidas, planejadas e
sistematizadas ações de atenção ao idoso, de forma a elevar a qualidade de vida, promover
o envelhecimento saudável, a participação, a convivência social, a cidadania e a integração
intergeracional. Consiste no fortalecimento dos vínculos familiares e de atividades associati-
vas, produtivas e promocionais, contribuindo para autonomia, envelhecimento ativo e sau-
dável prevenção do isolamento social, socialização e aumento da renda própria. A interven-
ção social deve ser pautada nas características, interesses e demandas dessa faixa etária e
considerar que a vivência em grupo, as experimentações artísticas, culturais, esportivas e de
lazer e a valorização das experiências vividas constituem formas privilegiadas de expressão,
interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizem suas experiências e que
estimulem e potencialize a condição de escolher e decidir. Essa modalidade de atendimento
é indicada para idosos em situação de vulnerabilidade, em especial:
• idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC);
• idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda;
• idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a programas e
oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, inte-
resses e disponibilidade indiquem a inclusão do serviço.

Centro-dia
O centro-dia são espaços destinados a idosos que possuem limitações para a rea-
lização das atividades de vida diária (AVD), que convivem com suas famílias, porém
não dispõem de atendimento de tempo integral no domicílio. A intervenção será
sempre voltada a diminuir a exclusão social tanto do dependente quanto do cuidador,
a sobrecarga decorrente da situação de dependência/prestação de cuidados prolon-
gados, bem como a interrupção e superação das violações de direitos que fragilizam
a autonomia e intensificam o grau de dependência do idoso.
Podem funcionar em espaço especificamente construído para esse fim, adaptado
ou como um programa de um centro de convivência, desde que disponha de pessoal
qualificado para o atendimento adequado. Proporciona o atendimento das necessida-
des básicas do idoso, mantendo-o junto à família, além de potencializar a autonomia,
bem-estar e a própria socialização do indivíduo. Essa modalidade de atendimento
permite aos idosos permanecer em seu domicílio e próximo dos seus familiares, dimi-
nuindo os custos com o cuidado. Com a proposta de atendimento das necessidades
básicas, atividades e práticas que se constituem em um estímulo, socialização, bem-es-

38
tar e autonomia, podem evitar a solidão, a depressão e o isolamento comunitário. O
atendimento é diurno, realizado por equipe interdisciplinar, feito nas áreas de fisiote-
rapia, fonoaudiologia, psicologia, atividades ocupacionais, lazer e apoio sociofamiliar,
de acordo com as necessidades dos idosos.

Atendimento domiciliar
É a prestação de serviço individualizado, feito no domicílio do idoso que apresenta
algum nível de dependência e que necessita de cuidados especiais visa à promoção
da autonomia, da permanência no próprio domicilio e do reforço dos vínculos familia-
res e de vizinhança. Além de se evitar a institucionalização e melhorar a sua qualidade
de vida. O idoso deverá estar clinicamente estável e necessitar de atendimento de
exigência mais ampla que a modalidade ambulatorial. Sendo assim, além de ser um
atendimento de caráter preventivo, também promove a reabilitação, adaptando o
ambiente de acordo com as necessidades de cada idoso atendido, prevenindo situa-
ções de risco, tais como: risco de quedas e acidentes, higiene, alimentação, transfe-
rências e, principalmente, o incentivando a desenvolver as atividades de vida diárias
com a preservação de sua independência e funcionalidade.

Atividade Integradora
Preencher no Guia de Saúde do Idoso os itens referentes a:
• transição do cuidado (página 16): a continuidade e a coor-
denação do cuidado são fundamentais para que todos os atores
envolvidos na gestão da saúde do idoso possam se comunicar e
trocar informações, evitando-se retrabalhos e sobreposição de in-
tervenções, por vezes iatrogênicas. No final de cada internação ou
atendimento de urgência, deve-se anotar no guia de saúde as in-
formações mais relevantes e as mudanças terapêuticas realizadas;
• agenda de consultas / exames (página 28): informações sobre
consultas e exames ajudam a entender todo o percurso assistencial
que o idoso está fazendo. Tais informações contribuem significativa-
mente para a integralidade do cuidado e prevenir o excesso de inter-
venções ou procedimentos desnecessários (prevenção quaternária);
• lista pessoal de endereços e telefones úteis (página 29):
este campo facilita a busca de telefones e endereços úteis para

39
atendimentos ou prestação de serviços relacionados à saúde do
idoso. Foram inseridos alguns números de telefones de caráter
nacional e reservou-se um espaço para aqueles telefones especí-
ficos de cada região, cidade ou bairro.

Referências
1. ABREU FILHO, H. (Org.). Comentários sobre o Estatuto do Idoso. Secretaria
Especial dos Direitos Humanos, 2004.
2. BRASIL. Resolução no 109. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioas-
sistenciais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 1, de 11 de novembro de 2009.
3. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil,
1988. Brasília, DF: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. 292 p.
4. BRASIL. Lei n. 10.741, de 1 de janeiro de 2004. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 1, out. 2003.
5. BRASIL. Lei n. 8.842, de 5 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do
Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, p. 77, jan. 1994.
6. BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Portaria nº
1.395/GM, de 10 de dezembro de 1999. Aprova a Política Nacional de Saúde do
Idoso. In: ________. Dez anos do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso:
repertórios e implicações de um processo democrático. 2. ed. Brasília: Secretaria
de Direitos Humanos, 2013. p. 347-392.
7. FABRIZZI, A. Centro Dia para idosos frágeis: recursos para a promoção da quali-
dade de vida. Estudos Interdisciplinares em Envelhecimento, Porto Alegre, v.
18, n. 2, p. 227-255, 2013.
8. FARIA, M. M. O idoso na legislação brasileira. In: PAPALÉO NETTO, M. Geron-
tologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Editora
Atheneu, 2002. cap. 7, p. 77-81.
9. FERREIRA, F. P. C.; BANSI, L. O.; PASCHOAL, S. M. P. Serviços de atenção ao idoso
e estratégias de cuidado domiciliares e institucionais. Revista Brasileira de Ge-
riatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 911-926, 2014.  
10. FREITAS, M. P. D.; MORAES, E. N. de. Estrutura da rede de atenção à pessoa idosa.
In: BORGES, A. P. A.; COIMBRA, A. M. C. (Org.). Envelhecimento e saúde da
pessoa idosa. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca/EAD, 2008. p. 291-304.
11. MARTINS, J. J. et al. Políticas públicas de atenção à saúde do idoso: reflexão acerca
da capacitação dos profissionais da saúde para o cuidado com o idoso. Revista Bra-
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12. MORAES, E. N. Atenção à saúde do idoso: aspectos conceituais. Brasília: Orga-
nização Pan-Americana da Saúde, 2012. 98 p.

40
Capítulo 3

Fisiologia do Envelhecimento

Edgar Nunes de Moraes


Raquel Souza Azevedo
Thiara Joanna Peçanha da Cruz
Rodrigo Ribeiro dos Santos
O conceito de envelhecimento é variável, dependendo do enfoque utilizado. É
um fenômeno que não está restrito aos seres vivos. É o ato ou efeito de envelhecer.
Tudo envelhece, objetos, animais, plantas, pessoas, países, fatos, etc. Envelhecer é
tornar-se velho. Por sua vez, velho é tudo que dura muito tempo, antigo, que data
de épocas remotas, idade avançada, que não é novo, que existe há muito tempo,
antigo ou que já tem muitos anos. E, por fim, velhice é a condição ou estado de
velho. Todos esses termos, envelhecimento, envelhecer, velho e velhice seguem a
mesma tendência de referir-se mais ao tempo e não às pessoas. Desta forma, po-
de-se conceituar envelhecimento como uma medida da passagem do tempo.
O envelhecimento humano é um processo inexorável, associado a diversas alte-
rações biológicas, psíquicas e sociais. As alterações fisiológicas que ocorrem com a
passagem do tempo é denominada de senescência. Todos os órgãos ou sistemas
fisiológicos que compõem o indivíduo apresentam modificações ou remodelamento
que acontecem à medida que o tempo passa. O corpo humano é repleto de redun-
dâncias, como, por exemplo, dois pulmões e rins. Portanto, a capacidade de adap-
tação do organismo ao declínio de algumas funções fisiológicas é grande e difícil de
ser definida. Assim, o conceito de envelhecimento normal (senescência) e anormal
(senilidade) é praticamente impossível de ser estabelecido, pois a fronteira entre se-
nescência e senilidade é ainda desconhecida (Figura 3.1).
Percebe-se, portanto, que senescência e velhice não são sinônimos. O conceito
de velhice não é biológico, pois não há algum marcador biológico dessa fase do ciclo
da vida. Velhice é um fenótipo caracterizado pelo embranquecimento dos cabelos,
calvície, enrugamento da pele, mudança nos papéis sociais, netos, perda de amigos
e parentes, aposentadoria, entre outros. É, portanto, uma padronização cronológica
resultante do somatório de aspectos físicos e socioculturais. Nos países desenvolvi-
dos, considera-se velho todo indivíduo com 65 anos ou mais. Já nos países subdesen-
volvidos, adotou-se a idade de 60 anos para demarcar o início da velhice.
O ser humano atinge o máximo das suas funções orgânicas por volta dos 30
anos. A partir daí, há progressivo declínio funcional, com a perda funcional global
de 1% ao ano em praticamente todos os sistemas fisiológicos principais (siste-
ma circulatório, nervoso, respiratório, musculoesquelético, digestivo, reprodutivo,
urinário, endócrino, linfoide, pele e órgãos dos sentidos). Essa desregulação do
funcionamento integrado dos sistemas fisiológicos causa progressivo declínio da
capacidade homeostática do organismo. É extremamente variável entre os indiví-
duos e nos diferentes sistemas fisiológicos (Figura 3.2). Assim, o idoso não pode ser

42
encarado apenas como uma continuação do adulto, mas sim com alguém que tem
um organismo mais vulnerável às agressões.

Figura 3.1 Fronteira entre senescência e senilidade

FRAGILIDADE

VITALIDADE

SENESCÊNCIA SENILIDADE
Envelhecimento Fisiológico Envelhecimento Patológico

FRONTEIRA
A fronteira entre senescência e senilidade ainda é desconhecida

O idoso não é um adulto com mais idade e com


mais cabelos brancos.

A senescência é um fenômeno progressivo, cumulativo, individual, multifato-


rial, sistêmico, deletério e relativamente recente, próprio do ser humano. Os de-
mais seres vivos não têm a oportunidade de sobreviver até idades mais avançadas.
O declínio associado à senescência limita a luta pela sobrevivência, encurtando o
ciclo da vida. O organismo humano nasce com um potencial de sobrevivência bem
superior ao necessário para completar a exigência filogenética do sucesso reprodu-
tivo, como garantia da preservação da espécie humana. A máxima expectativa de
vida permitida por essa “capacidade fisiológica redundante” ou “reserva fisiológi-
ca” situa-se por volta dos 120-130 anos e não se modificou nos últimos 100.000
anos. A melhoria das condições de vida das pessoas, a eliminação de algumas

43
doenças infecciosas, as medidas higiênicas e de saúde coletiva, a imunização e o
desenvolvimento de novas tecnologias médicas de diagnóstico e tratamento estão
permitindo o alcance progressivo desse limite. Até o último século, a expectativa
de vida pouco variou ao longo do tempo, permanecendo por volta dos 25 a 30
anos. A partir daí, o ser humano está conquistando a longevidade rapidamente.
Em alguns países, como o Japão, a expectativa de vida média da população é de 80
anos, com tendência crescente. Nunca existiu tanta chance de envelhecer como na
atualidade. Já se tem relato de indivíduos que atingiram o limite máximo da vida,
como foi o caso da francesa Jeanne Lousiane Calment, que viveu até os 122 anos.

Figura 3.2 Fenótipos ou tipos de envelhecimento somático e seus principais determinantes

A senescência é um processo intracelular e é caracterizada pelo acúmulo de


danos nos diversos componentes celulares, como a membrana celular, as pro-
teínas e o DNA. Tais danos prejudicam a atividade das enzimas intracelulares,
a fluidez da membrana celular e a atividade das organelas, comprometendo a
função celular. Essa senescência celular e a apoptose (morte celular programada)
são mecanismos de proteção do organismo, evitando o aparecimento de células
anormais e/ou atípicas (células neoplásicas). Existem várias teorias que tentam
explicar a senescência. Todavia, ainda estamos distantes de conhecer todos os
mecanismos envolvidos na sua gênese.

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Esse aumento da vulnerabilidade ou da suscetibilidade do idoso é consequência
de algumas alterações que ocorrem no organismo, que não são suficientes para gerar
doenças e/ou incapacidades. Portanto, pode-se afirmar que:

Velhice não é doença nem incapacidade.

Composição Corporal
As mudanças no metabolismo hidroeletrolítico são responsáveis pela maior ten-
dência à desidratação, hipotensão ortostática, hipercalemia (aumento dos níveis sé-
ricos de potássio) e hiponatremia (redução dos níveis séricos de sódio). A água é o
principal componente da composição corporal na criança, correspondendo a 70% do
seu peso. Com o envelhecimento, há redução de 20 a 30% da água corporal total
e 8 a 10% do volume plasmático. A redução é maior no conteúdo intracelular. Essa
“desidratação crônica” é agravada pela pouca sensação de sede, tornando-o mais
vulnerável à desidratação aguda e aos efeitos colaterais de vários medicamentos. O
diagnóstico de desidratação também é mais difícil, pelas alterações do envelhecimen-
to cutâneo, como a enoftalmia (“olho fundo”), redução do turgor e elasticidade da
pele e ressecamento da mucosa oral.
Além da redução da água corporal, o envelhecimento provoca diminuição de 20 a
30% da massa muscular (sarcopenia) e massa óssea (osteopenia/osteoporose), cau-
sados, em parte, por alterações na produção de alguns hormônios, como hormônio
de crescimento, estrógeno, testosterona, entre outros. A sarcopenia contribui para as
seguintes alterações no idoso:
• mais tendência à redução do peso corporal da maioria dos órgãos;
• redução na força muscular, mobilidade, equilíbrio, tolerância ao exercício, pre-
dispondo a quedas e imobilidade;
• redução dos tecidos metabolicamente ativos, levando à diminuição do meta-
bolismo basal (100 Kcal/ década) que, por sua vez, causa anorexia e conse-
quente redução da ingestão alimentar, agravando mais ainda o quadro, po-
dendo causar subnutrição proteico-calórica e deficiência de micronutrientes,
como vitamina D, magnésio, cálcio e zinco;
• diminuição da sensibilidade à insulina: intolerância à glicose;
• comprometimento da resposta imunológica.

45
Ocorre aumento de 20 a 30% na gordura corporal total (2 a 5%/década, após os 40
anos) e modificação da sua distribuição, tendendo à localização mais central, abdominal
e visceral. No sexo feminino, a gordura deposita-se mais na região nas nádegas e coxas
(aparência de “pera”) e nos homens localiza-se mais na região abdominal (aparência de
“maçã”). A principal complicação é o aumento da meia-vida das drogas lipossolúveis,
como os benzodiazepínicos (diazepam), aumentando o risco de toxicidade.

Peso e Índice de Massa Corporal (IMC)


O índice de massa corporal (índice de Quetelet = peso em quilogramas dividido
pela estatura em metros e elevado ao quadrado) tende a elevar-se com o envelhe-
cimento, provavelmente pelo aumento progressivo da massa de gordura corporal,
redução da atividade física, mudanças dos hábitos alimentares e alterações endócri-
nas. Nos idosos, os pontos de corte do IMC diferem daqueles sugeridos pela OMS
em 1995 para a população adulta, segundo os quais os limites da eutrofia situam-se
entre 18,5 kg/m2 e 25 kg/m2. Utilizam-se os pontos de corte (Quadro 3.1):

Quadro 3.1 Índice de massa corporal adotado em idosos

IMC

Diagnóstico IMC (kg/m2)

Eutrofia 22- 27

Subnutrição < 22

Obesidade > 27

Imunossenescência
O envelhecimento está associado a várias alterações na imunidade, que predispõe
a alta incidência de doenças infecciosas, autoimunes e neoplásicas. Tais alterações
são listadas no Quadro 3.2. Daí a importância da vacinação contra várias doenças
como influenza, pneumonia, entre outras.

46
Quadro 3.2 Imunossenescência

Imunidade Celular
- Hipotrofia do timo, responsável pelo desenvolvimento, matu-
ração e seleção de linfócitos T circulantes, que reduzem entre
20 e 30%;
- Declínio da resposta celular;
- Redução da “memória imunológica”. Infecção

Não há redução quantitativa ou qualitativa na função dos Autoimunidade


leucócitos polimorfonucleares.
Neoplasia
Imunidade Humoral
- Não há mudanças no número de linfócitos B circulantes;
- Redução na produção e no funcionamento dos anticorpos;
- Aumento na produção de autoanticorpos (anticorpos contra
o corpo da própria pessoa).

Órgãos dos Sentidos

Visão/olhos
As alterações anatômicas mais comuns nos olhos são a enoftalmia (“olho fun-
do”), edema de pálpebra inferior, ptose (queda da pálpebra), lacrimejamento, halo
senil, pterigium e conjuntiva mais fina e friável (“sensação de areia nos olhos”). Do
ponto de vista funcional, observa-se a presbiopia (diminuição da acomodação para
objetos próximos), miose senil (redução da visão noturna e da acomodação aos cla-
rões), alto risco de descolamento de retina e redução da visão periférica e central,
comprometendo a visão espacial e aumentando o risco de quedas. O Quadro 3.3
mostra as principais alterações dos olhos e da visão com o envelhecimento.

Quadro 3.3 Alterações dos olhos e da visão com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Diminuição da produção de lágrima. Aumento de irritação nos olhos.

Detalhes podem passar despercebidos,


Diminuição da capacidade de enxergar
como degraus, objetos no chão, etc.
com nitidez, principalmente de perto
Há dificuldade com letras pequenas,
(presbiopia).
cortar unhas, cozinhar, etc.

Tendência a esbarrar em objetos,


Diminuição do campo visual.
como quinas de mesa e poltronas.
Continua...

47
... continuação

Quadro 3.3 Alterações dos olhos e da visão com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

A visão leva mais tempo para se ajustar


Há dificuldade para ir ao banheiro
do escuro para a luz, e vice-versa.
durante a noite. Deve-se evitar acender a
Redução da acuidade visual em
luz rapidamente, para não piorar a visão.
situações com pouco contraste.

Diminuição da capacidade de focar os


Dificuldade para ler letras e números
objetos independentemente da distância
pequenos.
em que se encontram.

Dificuldade com pisos desenhados, dificul-


Diminuição da noção de profundidade e da
dade em distinguir o que está à frente ou ao
capacidade de prever objetos e obstáculos.
fundo, quando não há cores contrastantes.

Diminuição da discriminação de cores, Dificuldade em ambientes com monoto-


principalmente no espectro azul-verde. nia de cores.

Diminuição da capacidade de lidar com Dificuldade em dias com muito sol,


ofuscamento: quando a luz incide em refletindo em pisos, objetos e mesmo em
superfícies polidas e reflete. lâminas d'água.

Diante dessas alterações, recomendam-se os seguintes cuidados:

• todas as medidas devem ser individualizadas, respeitando-


se as particularidades, necessidades e preferências do idoso;
• estimular o uso regular de lágrima artificial para ajudar a
reduzir a irritação nos olhos, prescrita por oftalmologista;
• o ambiente deve ser sempre iluminado e bem sinalizado;
• à noite, manter sempre uma luz acesa, como por exemplo,
luz do corredor para diminuir a dificuldade do idoso de ir
até o banheiro, além de barras de apoio no box e ao redor
do vaso sanitário;
• incentivar o uso do urinol;
• não deve haver obstáculos nos locais onde o idoso circula, tais como:
excesso de móveis, objetos pelo chão, pisos escorregadios, ausência de
barras de apoio, etc;
• cuidado com os tapetes. Se não for possível retirá-los, mantenha-os presos
embaixo do móvel ou substitui-los por tapetes com antiderrapantes;
• os degraus do início e do final das escadas devem ser sinalizados com
fita antiderrapante e de cor contrastante e as escadas devem sempre ter
corrimão para aumentar o apoio e segurança do idoso;
• os objetos utilizados para lazer, como cartas, jogos, etc., devem ter os
números e letras de tamanho maior;

48
• os calendário e relógios devem ser grandes;
• procurar manter os objetos sempre no mesmo lugar, evitando mudanças
desnecessárias;
• se fizer uso de óculos, deverá ser incentivado a usá-los sempre (para leitura,
à distância e para dirigir);
• o idoso deve fazer uma avaliação oftalmológica uma vez por ano.

Audição/orelhas

Com o envelhecimento ocorre crescimento relativo das orelhas e do nariz. Os pelos da


orelha tornam-se mais grossos, mais compridos e proeminentes. Os principais sintomas
auditivos associados ao envelhecimento são a disfunção auditiva, prurido e os zumbidos
nos ouvidos. A disfunção auditiva pode ser neurossensorial ou condutiva. A hipoacusia
neurossensorial caracteriza-se por perda bilateral lenta e progressiva da audição para tons
de alta frequência. Portanto, não se recomenda gritar com o paciente, para não agravar
mais ainda o discernimento das palavras. A otoscopia é fundamental para se afastar a
hipoacusia condutiva por impactação de cera. Prurido é queixa comum, secundário à
atrofia da pele e ressecamento. Zumbido no ouvido, uni ou bilateral, é sintoma comum e
multifatorial. A Quadro 3.4 apresenta as principais alterações da audição no idoso.

Quadro 3.4 Alterações da audição com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Diminuição da capacidade de escutar Dificuldade para ouvir, principalmente dificul-


sons agudos (presbiacusia). dade em perceber sons em alta intensidade
Aumento da impactação de cerúmen (fortes), necessitando aumentar o volume da
(cera no ouvido). televisão, rádio, etc.

Dificuldade na compreensão verbal de sons


como “s”, “t”, “f”, “g”, “ch”.
Dificuldade em entender uma conversação em
ambiente ruidoso.
Dificuldade em entender uma conversação
muito rápida.
Diminuição da discriminação de sons. Problemas de alerta e defesa, devido à difi-
Redução da percepção da fala. culdade de ouvir pessoas, veículos, alarmes e
anúncios de emergências.
Depressão, frustração, raiva, medo, isolamen-
to social causados pelas incapacidades de
comunicação.
Problemas de comunicação com médicos e
outros profissionais.

49
Na presença de alterações na audição, recomendam-se as seguintes medidas:

• articular claramente as palavras, mas sem exageros;


• quando houver necessidade, repetir a mensagem;
• utilizar vocabulário simples e familiar;
• evitar frases longas;
• voz audível, não gritar, pois os idosos têm dificuldades com os sons muito
agudos, além de aumentar a tensão entre os falantes;
• falar devagar e sem omitir palavras, letras ou sílabas;
• conversar diante do idoso, deixando o rosto descoberto e iluminado;
• sempre que houver necessidade, altere a sentença, respeite as pausas e a
variação da entonação da fala;
• caso seja necessário, usar gestos;
• evitar conversar em ambientes muito barulhentos e sempre que possível
reduzir as fontes de ruído (rádio, TV, etc.). Quando existir mais de duas
pessoas falando, certamente haverá dificuldade na conversação;
• falar próximo e de frente para o idoso;
• incentivar o idoso a fazer lavagem de ouvido periodicamente, pois o acúmulo
de cerúmen (cera) pode ocasionar déficit auditivo;
• é proibido o uso de cotonetes para limpeza dentro do ouvido, pois o
cotonete empurra o cerúmen para dentro do ouvido e
facilita sua impactação;
• se houver necessidade do uso de aparelhos de
amplificação sonora individual, incentivar o seu uso
pelo idoso. Ter paciência, pois o período de adaptação
do aparelho pode ser trabalhoso.

Sistema vestibular/labirinto e equilíbrio


O sistema vestibular é composto pelo labirinto, que é responsável pela manuten-
ção do equilíbrio juntamente com a visão e a propriocepção. O Quadro 3.5 descreve
as principais alterações do equilíbrio.

Quadro 3.5 Alterações do equilíbrio com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Dificuldade em tarefas que exijam bom


Diminuição da habilidade de se sustentar.
controle do equilíbrio e da postura.

Dificuldade na resposta do ajuste postural. Risco de queda.


Continua...

50
... continuação

Quadro 3.5 Alterações do equilíbrio com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Lentidão na caminhada, particularmente


Diminuição da habilidade de lidar com
quando estiver andando e conversando
desequilíbrios inesperados.
simultaneamente.

Dificuldade em lidar com alterações


na superfície de suporte: pisos lisos,
Diminuição da capacidade de selecionar as irregulares, etc.
informações sensoriais adequadas quando Dificuldade de se adaptar aos movimen-
o ambiente oferece pistas conflitantes. tos bruscos como tropeção e escorregão.
Lentificação nas respostas motoras para
retomada da posição de equilíbrio.

Diante de tais alterações, recomendam-se as seguintes medidas:

• corrigir os problemas visuais, incentivar a realização de exercícios físicos e o


tratamento de doenças que afetam o equilíbrio;
• evitar mudanças bruscas de posição, como levantar rapidamente da cama,
principalmente pela manhã, quando o idoso passou muito tempo na posição
deitada;
• evitar uso de medicações para tonteira, devido ao risco de desenvolver
parkinsonismo (tremores);
• evitar uso de medicações para dormir, pois podem causar tonteiras;
• realizar avaliação médica se houver tonteira, desequilíbrio ou história de
quedas;
• deve-se evitar uso de sapatos altos, pois as alterações do envelhecimento
tornam o idoso mais sujeito a quedas;
• evitar pisos molhados e escorregadios e não encerar o chão;
• evitar uso de chinelo havaianas. Preferir uso de calçados
fechados e confortáveis.

Paladar
Por causa das doenças crônicas (NAS e DM), muitas vezes há tendência à redução
do sal e do doce e os alimentos tendem a ficar mais amargos ou azedos. Consequen-
temente, há modificações, por vezes expressivas, do padrão alimentar, aumentando
o consumo de sal e doces, redução da ingesta alimentar e alto risco de subnutrição

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proteico-calórica e deficiência de vitaminas e microelementos em geral. O Quadro 3.6
mostra as principais alterações do paladar.

Quadro 3.6 Alterações do paladar com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Perda do interesse pela comida.


Diminuição da capacidade Dificuldade em perceber alimentos estragados.
de sentir sabor. Redução do apetite.
Modificação do sabor dos alimentos.

Sensação de boca seca (xerostomia).


Problemas de higiene oral.
Redução da quantidade de saliva. Dificuldade de reter as próteses dentárias.
Alterações na composição da saliva. Dificuldade de formar o bolo alimentar, cau-
sando fadiga e, consequentemente, afetando o
processo de mastigação e deglutição.

Algumas medidas podem compensar as mudanças do paladar, como, por exemplo:

• oferecer variedade de alimentos e com aparência agradável, utilizando-se


pratos bonitos e coloridos;
• zelar pela qualidade dos alimentos. Armazenar em local seguro, longe de
agentes químicos (material de limpeza) e medicamentos;
• temperar bem os alimentos com cebola, alho e cheiro verde,
pimentão, orégano, etc.;
• evitar o excesso de sal e açúcar;
• observar a temperatura do alimento.

Olfato
O envelhecimento está associado a alterações variáveis das glândulas olfativas e
mudanças na percepção de cheiros. Essas alterações, aliadas à alteração do paladar,
podem levar à redução do apetite e da percepção dos odores corporais e do ambien-
te, como mofo, vazamento de gás, alimentos estragados, urina, entre outros.
Na presença de tais alterações, recomendam-se:

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• higiene e umidificação nasal com soro fisiológico;
• temperar bem os alimentos e retirar o sal da mesa;
• antes de iniciar a refeição, deixar o paciente sentir o cheiro do
alimento, para ajudar na estimulação salivar e aumento do apetite;
• estar atento aos odores desagradáveis, especialmente se
oferecem risco ao idoso (mofo, alimentos estragados, gás, etc.).

Tato
O tato também sofre mudanças com o envelhecimento, como a diminuição da
sensibilidade tátil, térmica e vibratória, aumentando o risco de acidentes no manu-
seio de objetos cortantes e temperatura elevada, além de dificuldade com teclas de
aparelhos eletrodomésticos, como controle remoto e outros. Pode ocorrer, também,
diminuição em perceber com rapidez estímulos nocivos que podem lesar a pele, au-
mentando o risco de lesões por pressão. Algumas medidas podem ajudar o idoso,
como se segue:

• cuidado com a temperatura da água para o banho;


• tratamento adequado das feridas;
• tratamento adequado das doenças que pioram a sensibilidade,
tal como diabetes e outras neuropatias;
• uso de dispositivos de auxílio para ajudar as mãos, como
suporte para cartas de baralho, etc.;
• cuidado com bolsa de água quente e compressas de gelo.

Pele e Anexos
“Não está claro por que alguém deveria se preocupar com o envelhecimento
cutâneo. Afinal, ninguém morre porque a pele envelhece! Existe insuficiência cardía-
ca, mas não insuficiência cutânea. Todos ficamos bem embrulhados até o fim. Todos
desejam uma vida longa, mas ninguém quer parecer velho”.
O envelhecimento cutâneo é bastante pronunciado. A hereditariedade e, principal-
mente, a exposição solar são responsáveis pelas alterações da epiderme (redução do
potencial proliferativo, melanócitos, células de Langerhans e da adesão dermoepidér-
mica), derme (redução da espessura, da celularidade e vascularização, degeneração do
colágeno), subcutâneo e anexos. O principal determinante das alterações da pele no
idoso não é “a idade”, mas sim a exposição solar excessiva.

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Nem as rugas podem ser ex-
plicadas somente pela idade.

A pele do idoso torna-se ressecada e descamativa (xerodermia), precipitando o


prurido (localizado ou generalizado), que por sua vez predispõe a fissuras, escoria-
ções e infecções cutâneas. O prurido senil deve ser diferenciado daquele resultante
de doenças sistêmicas, como escabiose (“sarna”), problemas hepáticos, gota, diabe-
tes, entre outros. Observa-se, ainda, pele fina, lisa, com pouca elasticidade e disten-
sibilidade. A fragilidade capilar favorece sangramentos cutâneos, principalmente nas
regiões mais expostas a traumas, como antebraços, mãos e pernas. Tais hemorragias
cutâneas são equimoses e a púrpura senil. Também merecem atenção as alterações
dos pelos, que se tornam mais finos, rarefeitos e quebradiços. As unhas se tornam
frágeis, opacas, de crescimento mais lento, espessas e encurvadas, principalmente
as unhas dos pés (onicogrifose). Deve ser diferenciada da onicomicose ou infecção
fúngica do leito ungueal, cujo tratamento específico é duvidoso no idoso. Micoses
interdigitais (“pé de atleta”) são mais frequentes e devem ser tratadas rotineiramen-
te, pois representam porta de entrada para infecções bacterianas mais graves.
São também frequentes “pequenas manchas claras e escuras” nas mãos e an-
tebraços, secundária às alterações dos melanócitos (células cutâneas responsáveis
pela coloração da pele), chamada de leucodermia puntiforme. Não está associada
a qualquer complicação, exceto desconforto estético, principalmente nas mulheres.
Em locais expostos à radiação solar podem ocorrer ceratose actínica (lesão pré-
-maligna) e câncer do tipo basocelular e espinocelular (lesões malignas). A ceratose
seborreica (descamação na região do couro cabeludo e face) também é frequente e
é considerada neoplasia benigna da epiderme.
Lesões em membros inferiores, devido à insuficiência vascular crônica (venosa e/
ou arterial), devem ser pesquisadas, assim como as lesões por pressão (escaras), mais
comuns nas regiões sacral, trocantérica e calcâneo e em pacientes acamados.

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Quadro 3.7 Alterações cutâneas associadas ao envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Fragilidade da pele e dos vasos


Pele extremamente sensível, suscetível
sanguíneos superficiais (pele mais fina).
a lesões, com facilidade em sofrer
Ressecamento da pele (xerodermia).
pequenas lesões na pele, hematomas e
Aumento de rugas.
sangramentos.
Aumento de manchas roxas (púrpura senil).
Pele ressecada, acompanhada, às vezes,
Aumento de pequenas manchas marrons
de coceira.
(lentigo senil).

Cabelos ressecados, quebradiços, com


Diminuição da quantidade e espessura
tendência à alopecia (redução parcial
do cabelo.
ou total de pelos ou cabelo).

Unha espessa e quebradiça.


Dificuldade em cortar as unhas.
Diminuição do crescimento da unha.

Alguns cuidados são essenciais com a pele no idoso, como as que se seguem:

• aumentar a ingestão de água: 1,5 a 2 litros de água por dia;


• usar cremes hidratantes diariamente após o banho;
• os banhos não devem ser muito quentes e demorados para
não ressecar ainda mais a pele;
• evitar esfregação ou bucha vigorosa durante o banho;
• incentivar uso de protetor solar na região facial;
• caso haja anormalidades na pele, procurar avaliação médica, pois uma
pequena ferida pode ser um câncer de pele;
• cuidado ao cortar unhas muito espessas (cortar preferencialmente após
o banho), pois pode haver trauma na pele ao redor da unha, lixar a unha
sempre que necessário. Evitar retirar cutícula. Encaminhar
ao podólogo, se necessário;
• enxugar entre os dedos para evitar fungos (micose);
• cuidados especiais com os pés, principalmente dos pacientes
diabéticos. Seguir orientações da equipe de saúde.

Sistema Muscular, Ossos e Articulações


A sarcopenia é a principal alteração do envelhecimento normal, chamada de mios-
senescência, que se inicia na quarta década de vida e é caracterizada pela redução da
massa e força muscular, mais fadiga muscular e menos capacidade aeróbica. Estima-
-se que haja redução de 30 a 50% da força muscular entre os 30 e 80 anos. Da mes-

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ma forma, verifica-se redução da massa óssea, particularmente do osso trabecular,
nas mulheres pós-menopausa, cuja redução atinge 50%. Nos homens, a perda óssea
é mais tardia e atinge 30% do osso cortical e trabecular. Além das alterações muscu-
lares e ósseas, ocorre redução da densidade de condrócitos, que são as células que
lubrificam e mantêm o funcionamento das cartilagens. O disco intervertebral também
se torna mais rígido, com menos capacidade de amortecimento e distribuição da ten-
são, contribuindo para as alterações degenerativas da coluna vertebral (espondilose)
e mais riscos de hérnia de disco (Quadro 3.8).

Quadro 3.8 Alterações dos músculos, ossos e cartilagens com envelhecimento

Alterações com o
Consequências
envelhecimento

Diminuição da mas- Dificuldade em levantar de locais baixos, como sofás e vaso sanitário.
sa, da força e da Dificuldade de subir e descer escadas e rampas com muita inclinação.
potência muscular. Redução da tolerância ao esforço ou dispneia de esforço.

Diminuição da Dificuldade em movimentos amplos com o pescoço e tronco.


flexibilidade. Menor velocidade na execução de alguns movimentos.

Diminuição da Redução da estatura, entre 2 a 3 cm.


quantidade de Aumento da fragilidade do osso
cálcio nos ossos. e maior risco de fratura.

Algumas recomendações podem ser úteis para compensar as alterações muscula-


res, ósseas e cartilaginosas, como:

• aumentar a altura do vaso sanitário e a altura das pernas da cama;


• colocar tábua embaixo da almofada e travesseiro ou almofada para elevar a
altura do assento do sofá;
• as cadeiras devem ter braços para apoio ao levantar;
• incentivar a realização de exercícios físicos, conforme orientação médica,
sem esquecer o alongamento. Evitar o sedentarismo;
• tomar banho de sol regularmente;
• a alimentação deve ser rica em leite e derivados,
vegetais folhosos verdes, ovos, peixes e carnes;
• cuidar do ambiente para evitar quedas.

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Sistema Cardiovascular
O coração sofre diversas alterações decorrentes do processo de envelhecimento
(Quadro 3.9). Tais alterações afetam as células musculares do coração (miócitos), o
sistema de condução dos impulsos elétricos e as válvulas cardíacas. O idoso tem mais
riscos de sofrer bloqueios cardíacos, como bloqueio de ramo direito, visto no eletrocar-
diograma. Essa alteração não traz qualquer complicação para o paciente. É frequente
também o sopro cardíaco por degeneração das válvulas cardíacas, principalmente a
válvula aórtica, que, também, não tem significado clínico, na maioria das vezes.
Apesar disso, o envelhecimento normal não produz alterações significativas na fun-
ção do coração, mesmo gerando redução das reservas funcionais desse órgão. Entre-
tanto, nas situações de sobrecarga poderão surgir sinais de insuficiência cardíaca, caso a
demanda do coração seja excessiva. Isso pode ser observado em idosos nos períodos de
intercorrências agudas, como infecções e traumas. Contudo, nas situações de repouso,
o coração tem funcionamento normal.

Quadro 3.9 Alterações do coração com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Aumento da pressão arterial máxima


Maior prevalência de hipertensão arterial
ou sistólica.

Diminuição da tolerância ao exercício, Redução das reservas funcionais em


principalmente quando o idoso faz pouca situações de sobrecarga como esforço
atividade física. físico e outros.

Menos capacidade de adaptação a


Sentir tontura ao mudar de posição, como
alterações de pressão sanguínea, quando
levantar-se rapidamente.
levanta-se rapidamente.

Algumas orientações podem ser úteis, como:

• hidratação adequada;
• evitar esforço físico intenso;
• controlar o excesso de peso;
• estimular o idoso a mudar de posição lentamente;
• incentivar realização de atividade física (30 minutos por
dia) para melhorar o condicionamento cardiovascular,
conforme orientação médica;
• controlar os fatores de risco para doenças
cardiovasculares, como hipertensão arterial e fumo;

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• controlar o colesterol alto, evitando o excesso de alimentos ricos em gordura
como mortadela, salame, linguiça, bacon, toucinho, carnes gordurosas,
maionese, entre outros, e usando medicação quando for indicado;
• evitar excesso de sal.

Sistema Respiratório
Os efeitos do envelhecimento na função pulmonar são variáveis e caracterizam-se
pela redução da capacidade do pulmão em realizar as trocas respiratórias e manter a
quantidade de oxigênio e gás carbônico normal no sangue. A expiração é a fase da
respiração mais comprometida com o envelhecimento, simulando um tipo de “enfi-
sema senil”.
Além da redução da força dos músculos respiratórios, há mais enrijecimento da
caixa torácica (calcificações das cartilagens intercostais e articulações costovertebral),
dificultando mais ainda a respiração. Ocorre redução do transporte mucociliar, do
reflexo da tosse, da resposta aguda aos antígenos extrínsecos e da imunidade celu-
lar. Todas as alterações do pulmão aumentam o risco de infecção respiratória, como
pneumonia (Quadro 3.10). Daí a importância da vacinação anti-influenza e antipneu-
mocócica em todo idoso, mesmo que não tenha doenças.

Quadro 3.10 Alterações do aparelho respiratório com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Dificuldade para expandir os pulmões.


Diminuição da força dos músculos Dificuldade para tossir.
respiratórios. Aumento do acúmulo de secreção, o que eleva o
risco de infecção pulmonar, como a pneumonia

Aumento do esforço para respirar.


Rigidez do pulmão e tórax.
Redução dos volumes expiratórios.

As principais orientações para a manutenção de uma boa função respiratória são:

• incentivar a retirada do cigarro;


• para o idoso acamado, posicioná-lo de modo a facilitar a respiração,
cabeceira inclinada e travesseiros bem-posicionados;
• incentivar a ingestão adequada de líquido, para ajudar na
fluidificação e expectoração do escarro;
• evitar contato com pessoas com infecção respiratória
(como gripe).

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Sistema Geniturinário
O envelhecimento normal produz alterações estruturais e funcionais significativas
no geniturinário, mas não impede que o rim elimine a água, os catabólitos ou realize
sua função de regulação da composição e volume dos líquidos corporais. Ocorre
redução de 10% por década de vida, a partir dos 40 anos, no fluxo sanguíneo renal,
reduzindo sua capacidade de filtração glomerular e aumentando a vulnerabilidade
dos rins às agressões associadas ao uso de medicamentos nefrotóxicos, como os anti-
-inflamatórios. É importante salientar também que, como há redução paralela da pro-
dução de creatinina, devido à sarcopenia, a creatinina plasmática pode permanecer
estável. Assim sendo, níveis de creatinina no limite superior da normalidade podem
representar perda significativa da função renal.
O envelhecimento do sistema renal ocasiona, também, alterações significativas no
sistema renina-angiotensina-aldosterona. Ocorre redução da renina plasmática de 30
a 50%, mesmo após estímulos como restrição de sal, administração de diuréticos ou
ortostatismo. Como conseqüência, os idosos se tornam mais vulneráveis ao desen-
volvimento de alterações no equilíbrio hidroeletrolítico, principalmente a depleção de
volume e desidratação, pois a capacidade de concentrar a urina encontra-se prejudi-
cada. Além disso, aumenta o risco de hiperpotassemia.
A noctúria ou desejo de urinar duas ou mais vezes por noite é frequente nos
idosos, mesmo sem doenças específicas. Outras alterações são frequentes em
idosos (Quadro 3.11).

Quadro 3.11 Alterações geniturinárias com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Redução do ritmo de filtração Risco aumentado de insuficiência


Rim
glomerular. renal.

Redução da capacidade vesical. Aumento do risco de infecção do


Redução da habilidade de adiar trato urinário.
a miccção. Aumento do risco de incontinência
Bexiga
Redução da contratilidade. urinária.
Aumento do resíduo pós-miccional. Aumento da frequência urinária.
Aumento das contrações involuntárias. Aumento do risco de queda.

Aumento do risco de infecção do


Uretra Atrofia uretral. trato urinário.
Urgência miccional.
Continua...

59
... continuação

Quadro 3.11 Alterações geniturinárias com o envelhecimento

Alterações com o envelhecimento Consequências

Aumento do risco de infecção do


trato urinário.
Próstata Hiperplasia prostática benigna.
Retenção urinária.
Incontinência urinária.

Dor na relação sexual.


Vagina Atrofia epitelial. Uretrite atrófica, com urgência e
ardência durante a micção.

Assoalho Tendência à perda involuntária


Fraqueza muscular.
Pélvico de urina (incontinência urinária).

As principais orientações para a manutenção de uma boa função genituriná-


rias são:

• incentivar ingestão adequada de líquidos


até as 18h. Evitar excessos de líquidos à
noite, para reduzir a noctúria;
• criar o hábito de ir ao banheiro de 2/2
horas para evitar a perda involuntária de urina por não
conseguir chegar a tempo ao banheiro;
• se o idoso está com incontinência urinária, deverá procurar
avaliação médica, pois isso “não é normal” da idade.

A sexualidade é uma forma de expressar carinho e afeto, sentimentos que não


têm idade. Envolve desejos, práticas relacionadas à satisfação, à afetividade, ao pra-
zer, aos sentimentos e ao exercício da liberdade. É muito mais do que sexo e relação
sexual. Faz parte da nossa vida desde o nascimento e vai se transformando com o
tempo. Os desejos podem se modificar, mas não se apagam. Cada idade favorece
formas diferentes de satisfação que podem ser exprimidas por meio do ato sexual
em si, do carinho, do afeto, das palavras. A pessoa idosa não fica “assexuada”. Não
existem limites de idade para se conservar uma atividade sexual, ainda que ocorram
mudanças fisiológicas. Nos homens, a disfunção erétil não é consequência inevitável
do envelhecimento normal. Ocorre em 15 a 25% dos idosos maiores de 65 anos e em
50% dos homens maiores de 80 anos. Causas emocionais, endócrinas, vasculares,
neurológicas e drogas devem ser investigadas.

60
A vida sexual transforma-se constantemente ao
longo da vida, porém só desaparece com a morte.

Dicas de sexualidade para pessoa idosa:

• o uso de álcool e tabaco pode reduzir a função sexual em homens e mulheres;


• se necessário, orientar o uso de lubrificantes. Eles facilitam a penetração e a
tornam mais prazerosa;
• cuidado com o uso de medicamentos, pois alguns deles afetam o desejo e
a potência sexual;
• muitas vezes o desempenho sexual pode estar relacionado a algum problema
de saúde;
• o uso de camisinha, masculina e feminina, é recomendado em todo indivíduo
com múltiplos parceiros;
• não abrir mão do beijo e do carinho. Eles são importantíssimos no momento
do sexo;
• não se prender aos estigmas da sociedade, o sexo não é
proibido para a terceira idade;
• experimentar posições em que ambos se sintam confortáveis.

Sistema Gastrintestinal
O funcionamento do aparelho gastrintestinal é pouco afetado pela senescência,
devido à sua grande reserva funcional. Entretanto, deve-se estar atento para alguns
problemas frequentes em idosos frágeis. A dificuldade para deglutir ou disfagia não
“é normal” no idoso e deve ser investigada em todo idoso. O presbiesôfago reflete
as alterações da motilidade esofageana, como ondas peristálticas terciárias, espasmo
esofageano, que podem simular a angina. A perda de dentes, a atrofia dos músculos
da língua e alteração da capacidade funcional da musculatura oral levam a problemas
de mastigação e da deglutição. O refluxo gastroesofágico parece ser mais frequente
em idosos, mesmo nos assintomáticos.
A prevalência de colelitíase (pedra na vesícula) aumenta com o envelhecimento,
provavelmente pelas alterações do conteúdo (composição da bile) e da parede da
vesícula biliar (lentificação do esvaziamento vesicular). Varia de 15 a 50%, depen-
dendo da faixa etária, sexo e biotipo do paciente. A cólica biliar define a colelitíase

61
em sintomática ou assintomática (silenciosa). Nos pacientes assintomáticos, o risco
de complicações é baixo, não se justificando tratamento cirúrgico em todos os casos.
A constipação intestinal é comum em idosos e tem natureza multifatorial. Entre-
tanto, deve ser sempre excluída a possibilidade de causas secundárias, principalmente
o adenocarcinoma, causa importante de morbimortalidade nos idosos. A impactação
fecal e a incontinência fecal são complicações relativamente frequentes. A dieta laxa-
tiva, ingestão de líquidos e atividade física são as melhores intervenções capazes de
melhorar o hábito intestinal.
Em mais da metade dos idosos, o envelhecimento pode levar ao enfraqueci-
mento da parede intestinal e ao aparecimento de “dilatações” ou divertículos. O
termo diverticulose é utilizado para descrever o intestino que tem vários divertí-
culos. Tais divertículos podem obstruir, inflamar e causar diverticulite, que, even-
tualmente, necessita de tratamento cirúrgico. Dieta laxativa, ingestão de líquidos
e atividade física regular são as principais intervenções indicadas na diverticulose.

Sistema Nervoso
O envelhecimento do cérebro é caracterizado pela redução de 10 a 20% no seu
peso e fluxo sanguíneo. Todo idoso tem hipotrofia ou atrofia cerebral discreta nas neu-
roimagens. Essa alteração é responsável pela lentificação da cognição do idoso, que
usualmente apresenta diminuição na velocidade do raciocínio. Da mesma forma, há
rebaixamento dos reflexos posturais e mais dificuldade de manutenção do equilíbrio,
quando o idoso é empurrado ou quando tropeça, aumentando o risco de quedas. Tais
alterações não causam declínio funcional, tampouco são causas de “demência senil”
ou “caduquice”. O envelhecimento cerebral normal não impede que o idoso continue
realizando tudo aquilo que sempre fez. Algumas orientações podem ser úteis, como:

• evitar a falta de atividades;


• incentivar ouvir músicas, leituras, jogos, palavras cruzadas,
artesanatos e outras atividades que exercitem a memória e
sejam prazeroso para o idoso;
• não apressar o idoso enquanto realiza suas atividades;
• incentivar para que o idoso realize o maior número de
atividades sozinho.

62
A arquitetura do sono e a capacidade para dormir bem são bastante alteradas
com o envelhecimento normal. O sono é um componente distinto e essencial do
comportamento humano. Praticamente um terço de nossa vida é gasto dormindo. O
sono é um estado reversível de desligamento da percepção do ambiente, com mo-
dificação do nível de consciência e de resposta aos estímulos internos e externos. O
sono não é um estado único. Ele se divide em sono REM (do inglês rapid eyes move-
ment: movimento rápido dos olhos) e sono não REM. Esses dois estados alternam-se
durante a noite. O sono REM é caracterizado por uma atonia muscular e movimento
rápido dos olhos. O sono é distribuído de forma distinta na porção escura do ciclo
luz-escuridão. Durante o processo de envelhecimento, ocorrem alterações típicas no
padrão de sono. A quantidade de tempo gasto nos estágios mais profundos do sono
diminui. Há aumento associado de acordares durante o sono e na quantidade de
tempo total acordado durante a noite. Os três principais tipos de queixas de sono são
sonolência excessiva (hiperssonia), dificuldade em iniciar ou manter o sono (insônia)
e comportamentos estranhos ou não usuais durante o sono (parassonias). A história
de roncos, pausas ou esforços respiratórios, movimentos periódicos durante o sono
e comportamentos automáticos são mais bem descritos pelo parceiro de cama ou
outros observadores. Medicamentos prescritos, como as drogas sedativas, álcool e
automedicação podem ter efeito importante na arquitetura do sono e podem inca-
pacitar os mecanismos cardiopulmonares durante o sono.
O sono tem importante papel no desempenho físico e mental do idoso, é im-
portante para o equilíbrio de todo o organismo. Quem dorme menos que o neces-
sário tem menos vigor físico, envelhece mais precocemente, está mais propenso a
infecções, à obesidade, à hipertensão e ao diabetes. A insônia é muito comum nos
idosos, é uma falta anormal de sono, por dificuldade em iniciá-lo ou mantê-lo ou por
despertar precoce, gerando insatisfação. É preciso avaliação criteriosa de suas causas,
evitando-se a automedicação. As causas de insônia são inúmeras e devem ser pes-
quisadas. As principais causas são a falta da higiene do sono, depressão, ansiedade,
dores noturnas (neuropatia diabética), noctúria, uso de álcool ou cafeína e a dispneia
noturna (asma, insuficiência cardíaca). A higiene do sono deve ser sempre indicada
para o idoso com insônia (Quadro 3.12).

63
Quadro 3.12 Higiene do sono

Manter o idoso ativo durante o dia para evitar cochilos.

Incentivar atividades físicas e intelectuais.

Incentivar a participação em grupos de convivência e trabalhos prazerosos.

Muito cuidado com as medicações para dormir, pois elas são grandes causadores de quedas.

Evitar café, chá-mate, refrigerante, bebidas alcoólicas, no período da noite.

Tentar manter sempre o mesmo horário para conduzir o idoso para a cama. É impor-
tante respeitar esses horários, inclusive nos finais de semana, pois favorece o funciona-
mento do relógio biológico. Mudanças de hábito podem atrapalhar o sono.

Informar que está chegando a hora de dormir.

Manter ambiente confortável e silencioso.

Só levar o idoso para a cama quando estiver cansado e com sono.

Calor e frio excessivos alteram bastante o sono e podem causar irritabilidade, portanto,
tentar manter o quarto com temperatura agradável.

Quando houver muita luz, escurecer o ambiente; quando houver muito barulho, elimi-
nar ou reduzir o barulho.

Procurar fazer refeições mais leves antes de deitar e não deitar logo após alimentar-se.
O ideal é aguardar pelo menos uma hora.

Eliminar qualquer coisa que o idoso possa perceber como uma ameaça, como: retirar
objetos, falar que “o bicho” foi embora, etc.

Manter sempre uma luz acessa para evitar quedas à noite (luz de vigília).

Manter sempre comadre ou marreco próximo do leito.

Às vezes a companhia de alguém no quarto é importante.

Usar técnicas de relaxamento: massagem nos pés, pernas, mãos, braços, pescoço,
ombros, técnicas de meditação.

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Atividade Integradora
Não existem medicamentos capazes de prevenir o processo de en-
velhecimento normal (senescência). Não há necessidade do uso de
vitaminas ou qualquer medicamento para “velhice”, na ausência de
deficiências bem estabelecidas. Os medicamentos só devem ser utili-
zados quando prescritos por médicos. A automedicação pode causar
prejuízos irreparáveis à saúde do idoso e deve ser evitada (página 17).
Com o envelhecimento há uma perda da estatura de cerca de 1 a 1,5
cm por década de vida após os 50 anos. Redução da estatura de 4cm
ou mais é sugestiva de perda excessiva da massa óssea e deve ser
investigada. Consequentemente, os valores de referência do Índice
de Massa Corporal (IMC) modificam-se e são considerados normais
quando estão entre 22 a 27 kg/m2. Verificar o peso e a estatura do
idoso e calcular o IMC (página 10).
Idosos com IVCF-20 de 15 ou mais apresentam alterações compa-
tíveis com envelhecimento patológico (senilidade) e devem ser ava-
liados por equipe geriátrico-gerontológica especializada (página 4).
O idoso apresenta maior dificuldade para dormir bem, sendo facil-
mente despertado por qualquer estímulo ambiental. Avaliar a qua-
lidade do sono (página 23) e, na presença de insônia, orientar as
medidas de higiene do sono. O uso de tranquilizantes para dormir
apresenta vários riscos e devem ser evitados.

Referências
1. WOLD, Gloria Hoffman. Enfermagem gerontologica. Trad. De Ana Helena Pereira
Correa. et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
2. Eliopoulos C. Enfermagem Gerontológica, 7 ª edição, Porto Alegre. Editora Art-
med, 2011.
3. Nunes MI, Ferreti REL, SANTOS M. Enfermagem em Geriatria e Gerontologia. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
4. MORAES, E. N. Avaliação multidimensional do idoso: instrumentos de rastreio
(Guia de Bolso). Belo Horizonte: Editora Folium, 2008. 64 p.
5. MORAES, E. N. Princípios básicos de geriatria e gerontologia. Belo Horizonte:
Editora Coopmed, 2009.

65
Capítulo 4

Reconhecendo o Idoso Frágil

Edgar Nunes de Moraes


Raquel Souza Azevedo
Flávia Lanna de Moraes
O termo fragilidade é comumente utilizado para representar o grau de vulnera-
bilidade do idoso a desfechos adversos ou complicações, como declínio funcional,
quedas, internação hospitalar, institucionalização e óbito. O idoso em risco de fragi-
lização apresenta condições de saúde preditoras de fragilidade, como comorbidades
múltiplas (polifarmácia, polipatologia e internação recente), sarcopenia ou compro-
metimento cognitivo leve. Por sua vez, o idoso frágil já apresenta declínio funcional
estabelecido e é dependente nas atividades de vida diária instrumentais e/ou básicas.
Ele apresenta grande dificuldade para a realização de tarefas essenciais para uma vida
independente, incluindo as atividades de autocuidado e as domiciliares, com necessi-
dade da ajuda de outra pessoa.
O envelhecimento está intimamente associado ao processo de fragilização. Con-
tudo, a idade, por si só, não é um adequado preditor de fragilidade, uma vez que o
processo de envelhecimento não segue um padrão homogêneo. A heterogeneidade
entre os indivíduos idosos é marcante e progressiva ao longo do processo de enve-
lhecimento. Da mesma forma, envelhecer sem qualquer doença crônica é mais uma
exceção do que a regra. Deste modo, conhecer apenas a idade dos indivíduos e o
número de doenças crônicas não agrega possibilidades de melhor compreensão da
situação de saúde e capacidade do indivíduo idoso. Assim, saúde no idoso pode ser
compreendida como a capacidade individual de satisfação das necessidades biopsi-
cossociais, independentemente da idade ou da existência de doenças.
A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é a principal ferramenta utilizada para a iden-
tificação do idoso frágil e deve ser aplicada por equipe geriátrico-gerontológica espe-
cializada, na qual diversas escalas ou instrumentos são utilizados, cuja duração média
varia de 60 a 90 minutos. Assim, pode-se considerar a AGA como um procedimen-
to diagnóstico de alto custo, que necessita ser, portanto, bem-indicada. Torna-se,
portanto, fundamental a utilização de instrumentos de avaliação rápida, aplicados
por qualquer profissional de saúde, como os agentes comunitários de saúde e/ou
técnicos de enfermagem, capazes de reconhecer o idoso de risco. Atualmente, todos
os testes rápidos utilizados para este fim não apresentam acurácia necessária para
identificação do idoso frágil. A AGA permite um processo diagnóstico global e amplo,
envolvendo o paciente e sua família, com a finalidade de verificar a saúde do idoso
como um todo. Consiste na busca de informações referentes a vários aspectos: fun-
cionalidade global, sistemas funcionais (cognição, humor, mobilidade, comunicação),
sistemas fisiológicos principais, uso de medicamentos, história pregressa e fatores
contextuais (avaliação sociofamiliar, ambiental e do cuidador). Permite classificar o
idoso em um dos 10 estratos clínico-funcionais. Entretanto, a utilização da AGA no

68
contexto da atenção primária é inviável, apresentando relação custo-benefício insa-
tisfatória em termos de saúde pública. Por isso, é importante a definição de quem é
o idoso a ser submetido a essa avaliação. Assim, um instrumento de triagem multi-
dimensional objetivo, simples e de rápida aplicação torna-se de grande importância.
No Brasil, os profissionais de saúde tendem a considerar um idoso como frágil
baseando-se em sua aparência geral ou quando tal indivíduo apresenta múltiplas
doenças ou comorbidades. Para esses profissionais, a identificação adequada do ido-
so frágil necessita ser simples e rápida. Assim, considerando essa questão, foi desen-
volvido o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20) como instrumento
de identificação rápida da fragilidade.

Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20)


O Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20) é um questionário sim-
ples, capaz de avaliar os principais determinantes da saúde do idoso. Apresenta cará-
ter multidimensional e alta confiabilidade. Portanto, pode ser considerado uma ampla
metodologia de avaliação geriátrica, que pode ser realizada por profissionais não
especialistas. Sua aplicação é simples e rápida, podendo ser utilizado por qualquer
profissional de saúde ou até mesmo pelo próprio idoso e seus familiares. Os principais
objetivos do instrumento são:
• identificação do idoso frágil (estratificação de risco), que deverá ser submetido
à Avaliação Multidimensional do Idoso (Avaliação Geriátrica Ampla) e elabora-
ção do Plano de Cuidados;
• indicação de intervenções interdisciplinares capazes de melhorar a autonomia
e independência do idoso e prevenir o declínio funcional, institucionalização e
óbito, mesmo na ausência da Avaliação Multidimensional do Idoso realizada
por equipe geriátrico-gerontológica especializada;
• planejamento de demanda programada no SUS e na Saúde Suplementar: de-
finição de grupo de idosos que necessitarão de atendimento diferenciado de
acordo com sua prioridade;
• estruturação e direcionamento da consulta geriátrica: planejamento da con-
sulta especializada do idoso, destacando as dimensões da saúde do idoso que
merecem uma investigação mais detalhada.

O IVCF-20 foi desenvolvido e validado no Brasil (CARMO, 2014) a partir do VES-13


e de outros instrumentos de triagem rápida amplamente citados na literatura, como

69
o PRISMA-7 (Raîche, 2008), Sherbrooke Postal Questionnaire (Hébert, 1998), Tilburg
Frailty Indicator (Gobbens, 2010; Santiago, 2012), o Groningen Frailty Indicator (Ste-
verink, 2001) outros marcadores específicos. Segundo Clegg et al. (2015), todos os
instrumentos atualmente disponíveis não apresentam acurácia necessária
para identificação do idoso frágil.
O IVCF é um instrumento simples e de rápida aplicação (cinco a 10 minutos),
tem a vantagem de ter caráter multidimensional (Quadro 4.1), e avalia 15 dimen-
sões consideradas preditoras de declínio funcional e óbito em idosos, tais como: a
idade, a autopercepção da saúde, as atividades de vida diária (três AVDs instrumen-
tais e uma AVD básica), a cognição, o humor/comportamento, a mobilidade (alcan-
ce, preensão e pinça; capacidade aeróbica/muscular; marcha e continência esfinc-
teriana), a comunicação (visão e audição) e comorbidades múltiplas, representada
por polipatologia, polifarmácia e/ou internação recente (Quadro 4.2). Cada seção
é avaliada por meio de perguntas simples, que podem ser respondidas pelo idoso
ou por alguém que conviva com ele (familiar ou cuidador). Foram também incluídas
algumas medidas consideradas fundamentais na avaliação do risco de declínio fun-
cional do idoso, como peso, altura, Índice de Massa Corporal – IMC, circunferência
da panturrilha e velocidade da marcha em 4 metros. Pode ser aplicado por toda a
equipe de enfermagem (enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem) e demais
profissionais da área de saúde (médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fo-
noaudiólogo, assistente social, dentista, psicólogo e farmacêutico) e, até mesmo,
pelo cuidador ou pelos familiares.

70
Quadro 4.1 Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional
ÍNDICE DE VULNERABILIDADE CLÍNICO-FUNCIONAL-20 (IVCF-20)
Marcadores de Vulnerabilidade Clínico-Funcional Pontuação
60 a 74 anos 0
Idade 1 – Qual é a sua idade? 75 a 84 anos 1
≥ 85 anos 3
Excelente,
muito boa ou 0
2 – Em geral, comparando com outras pessoas de sua idade, boa
Autopercepção da Saúde
você diria que sua saúde é:
Regular ou
1
ruim
3 – Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de fazer compras?
Sim 4
AVD
Instrumental Não ou não faz compras por outros motivos que não a saúde 0
4 – Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de controlar o seu dinheiro,
Respostas positivas
valem 4 pontos gastos ou pagar contas?
cada. Todavia, a Sim 4
pontuação máxima é
de 4 pontos, mesmo Não ou não controla o dinheiro por outros motivos que não a saúde 0
Atividades de que o idoso tenha
respondido sim para
5 – Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de realizar pequenos trabalhos
Vida Diária domésticos, como lavar louça, arrumar a casa ou fazer limpeza leve?
todas as três ativi-
dades de vida diária Sim 4
instrumentais.
Não ou não faz mais pequenos trabalhos domésticos por outros motivos que
0
não a saúde
AVD 6 – Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de tomar banho sozinho?
Básica Sim 6
Resposta positiva
Não 0
vale 6 pontos.
Continua...

71
72
... continuação
ÍNDICE DE VULNERABILIDADE CLÍNICO-FUNCIONAL-20 (IVCF-20)
Marcadores de Vulnerabilidade Clínico-Funcional Pontuação
Sim Não
7 – Algum familiar ou amigo falou que você está ficando esquecido? 1 0
Cognição 8 – O esquecimento está piorando nos últimos meses? 1 0
9 – O esquecimento está impedindo a realização de alguma atividade do cotidiano? 2 0
10 – No último mês, você ficou com desânimo, tristeza ou desesperança? 2 0
Humor
11 – No último mês, você perdeu o interesse ou prazer em atividades anteriormente prazerosas? 2 0
Alcance, 12 – Você é incapaz de elevar os braços acima do nível do ombro? 1 0
preensão
e pinça 13 – Você é incapaz de manusear ou segurar pequenos objetos? 1 0
14 – Você tem alguma das quatro condições abaixo relacionadas?
• Perda de peso não intencional de 4,5 kg ou 5% do peso corporal
Capacidade em 1 ano ou 6 kg nos últimos 6 meses ou 3 kg no último mês;
aeróbica e • IMC menor que 22 kg/m2; 2 0
Mobilidade muscular • Circunferência da panturrilha menor que 31 cm;
• Tempo gasto no teste de velocidade da marcha (4m) maior
que 5 segundos.
15 – Você teve duas ou mais quedas nos últimos 12 meses? 2 0
Marcha
16 – Você tem dificuldade para caminhar que impeça a realização de alguma atividade do cotidiano? 2 0
Continência esfincteriana 17 – Você perde urina ou fezes, sem querer, em algum momento? 2 0
18 – Você tem problemas de visão capazes de impedir a realização
de alguma atividade do cotidiano? 2 0
• É permitido o uso de óculos ou lentes de contato
Comunicação
19 – Você tem problemas de audição capazes de impedir a realização
de alguma atividade do cotidiano? 2 0
• É permitido o uso de aparelhos de audição
20 – Você tem alguma das três condições abaixo relacionadas?
• Cinco ou mais doenças crônicas;
Comorbidades Múltiplas 4 0
• Uso regular de 5 ou mais medicamentos diferentes, todo dia;
• Internação recente, nos últimos 6 meses.
Pontuação Final 40 pontos
Quadro 4.2 Marcadores de vulnerabilidade clínico-funcional utilizados no IVCF-20

Marcadores Gerais

Esta seção avalia o funcionamento da memória, utilizando três


perguntas relacionadas ao esquecimento. O esquecimento, por si
só, não é tão importante, pois a maioria das pessoas tem esque-
cimento sem que isso represente qualquer problema de saúde.
Todavia, quando o esquecimento é percebido pelas outras pes-
Cognição

soas ou quando somente as outras pessoas o percebem, deve-se


ficar atento para a possibilidade de esquecimento patológico (1
ponto). Outros dados relevantes são a piora progressiva do es-
quecimento (1 ponto) e, principalmente, quando o esquecimento
impede que a pessoa continue fazendo tarefas do cotidiano que
sempre fez (2 pontos). O declínio funcional é o principal marcador
de esquecimento sugestivo de incapacidade cognitiva.
Humor

Esta seção avalia o humor e é composto de duas perguntas. Cada


resposta positiva vale 2 pontos e sugere transtorno depressivo.

Constituído de duas perguntas, tem por objetivo verificar a


Alcance,
capacidade do idoso de executar tarefas diárias relacionadas à
preensão e
manipulação do meio (execução) que dependem dos membros
pinça
superiores. Cada resposta positiva vale 1 ponto.
Esta seção avalia a sarcopenia, que pode ocorrer em qualquer
uma das quatro condições: perda de peso não intencional de 4,5
kg ou 5% do peso corporal no último ano ou 6 kg nos últimos
Capacidade 6 meses ou 3 kg no último mês; Índice de massa corporal (IMC)
aeróbica menor que 22 kg/m2; velocidade da marcha menor que 0,8m/s
e /ou (duração da tarefa de mais de 5 segundos) (Quadro 4.3) ou
muscular circunferência da panturrilha (CP) menor que 31 cm (Quadro 4.4
Mobilidade

e Figura 4.1). Qualquer uma dessas quatro possibilidades recebe


2 pontos. Os pontos não são cumulativos, de forma que o valor
máximo da pontuação neste item é de 2 pontos.
Esta seção avalia a capacidade de deambulação, a instabilidade
postural e quedas de repetição. Cada resposta positiva vale 2
pontos. O diagnóstico de instabilidade postural deve ser feito em
caso de dificuldade para caminhar que impeça a realização de
Marcha
alguma atividade do cotidiano. Da mesma forma, duas ou mais
quedas no último ano é um sinal de alerta de que algo não vai
bem. Ambas as situações não são normais “da idade” e devem
ser mais bem investigadas.
A perda do controle da urina ou fezes nunca pode ser atribuída
Continência ao envelhecimento normal. Este item recebe 2 pontos se a respos-
esfincteriana ta for positiva. A incontinência urinária é frequente nos idosos,
mas não é normal “da idade” e deve sempre ser investigada.
Continua...

73
... continuação

Marcadores Gerais

Visão A visão e a audição são essenciais na manutenção da indepen-


dência dos indivíduos, pois são essenciais na execução das ativi-
dades do cotidiano. Este item é constituído de duas perguntas
Comunicação

que avaliam problemas de visão e/ou audição capazes de impedir


a realização de alguma atividade do cotidiano. Cada resposta po-
Audição sitiva vale 2 pontos. A pontuação deverá ser zero se o problema
auditivo ou visual estiver sendo corrigido pelo uso de óculos ou
prótese auditiva. Assim, não basta ter problemas auditivos ou
visuais. Tais problemas devem trazer prejuízos significativos nas
tarefas do cotidiano.
Polipatologia A seção comorbidades múltiplas valoriza as doenças, que
Comorbidades Múltiplas

reduzem a vitalidade do idoso, como foi visto na classificação clí-


Polifarmácia
nico-funcional do idoso. Todavia, o foco não é unidirecional, mas
sim, a integração das características gerais das doenças capazes
de comprometer significativamente a autonomia e independên-
cia do indivíduo. Assim, a pontuação ocorrerá na polipatologia
Internação (cinco ou mais doenças crônicas), polifarmácia (uso regular de
recente cinco ou mais medicamentos diferentes diariamente) e interna-
(<6 meses) ção recente (há menos de seis meses). Para qualquer resposta
positiva o item recebe 4 pontos. A pontuação não é cumulativa.
Desta forma, a pontuação máxima do item é de 4 pontos.

Quadro 4.3 Velocidade da marcha

Velocidade da Marcha

A velocidade da marcha < 0,8 m/s é considerada um dos principais marcadores de


sarcopenia. A diminuição da velocidade da marcha (VM) tem valor preditivo para
diversos desfechos negativos, como quedas, dependência funcional e mortalidade
dos idosos. A VM é um bom teste da integração e do funcionamento de diversos
sistemas fisiológicos. Desta forma, a VM é reconhecida hoje como um instrumento
essencial na avaliação dos idosos. Para fins de triagem, sua aferição pode ser feita em
qualquer ambiente, até mesmo no domicílio. Orienta-se a marcação de uma distância
de 4 metros no chão, em linha reta, com o auxílio de uma fita métrica, sinalizando o
ponto de partida e o de chegada. O idoso é orientado a caminhar essa distância com
passadas um pouco mais aceleradas do que o usual (“andando como se estivesse
atravessando uma rua”), mas sem correr. Assim que o idoso começar a caminhar, o
tempo é medido com relógio comum ou cronômetro e o seu término se dá quando o
idoso atinge a marca dos 4 metros. A VM é calculada dividindo-se 4 metros pelo tempo
cronometrado no relógio (4/tempo em segundos). Normalmente, o tempo gasto para o
idoso percorrer essa distância é de, no máximo, 5 segundos (equivalente a uma VM de
0,8 metro por segundo).

74
Quadro 4.4 Circunferência da panturrilha

Circunferência da Panturrilha

A circunferência da panturrilha (CP) menor que 31 cm traduz redução da massa muscu-


lar. A medida da CP pode ser feita nas posições sentada ou de pé, com os pés apoiados
em uma superfície plana, de forma a garantir que o peso fique distribuído equitati-
vamente entre ambos os lados. No idoso acamado, fletir a perna de modo que o pé
fique todo apoiado sobre o colchão. A medida deve ser realizada com uma fita métrica
inelástica aplicada ao redor da região que, visualmente, apresenta o maior perímetro,
sem fazer compressão. Fazer medições adicionais acima e abaixo deste ponto para
assegurar-se de que a primeira medida é a maior. Deve-se ter o cuidado de manter a
fita métrica em ângulo reto com o comprimento da panturrilha. Evitar fazer a medida
no membro que apresente alguma alteração local, como linfedema, trombose venosa
profunda, erisipela, celulite, atrofia muscular, atrofia cutânea por cicatriz ou fibrose,
entre outras.

Figura 4.1 Circunferência da Panturrilha (CP)

Figura 4.2 Relação entre o IVCF-20 e a Escala Visual de Fragilidade


IVCF-20

0 a 6 pontos 7 a 14 pontos 15 ou mais pontos

1
2
3
FRAGILIDADE
Escala Visual de Fragilidade

4
5
6
VITALIDADE 7
8
9
10

Envelhecimento Fisiológico (Senescência) Envelhecimento Patológico (Senilidade)

DECLÍNIO FUNCIONAL DECLÍNIO FUNCIONAL ESTABELECIDO


IMINENTE
AUSÊNCIA DE DECLÍNIO Sarcopenia AVD INSTRUMENTAL AVD BÁSICA
FUNCIONAL
Comorbidade Múltipla Dependência Dependência
Dependência Dependência Semidepen-
Comprometimento Cognitivo Leve Parcial Completa dência Incompleta Completa

IDOSO EM RISCO DE IDOSO FRÁGIL


IDOSO ROBUSTO FRAGILIZAÇÃO Baixa Complexidade Alta Complexidade Fase Final de Vida

75
O IVCF-20 apresenta alta correlação e sensibilidade para identificação do idoso
frágil, quando comparada com a Avaliação Geriátrica Ampla, ao mesmo tempo em
que proporciona considerável nível de especificidade, ou seja, o instrumento é capaz
de identificar, com notável acurácia, tanto idosos que necessitam de acompanhamen-
to especializado quanto aqueles que podem continuar sendo atendidos por profissio-
nais não especialistas em Geriatria e Gerontologia. Além disso, não é um instrumento
“fim”, que apenas define o grau de vulnerabilidade de um indivíduo idoso, mas sim
um instrumento “meio”, que indica qual a prioridade no seguimento desse paciente e
que pode possibilitar o acompanhamento clínico necessário em um contexto de rede
de atenção à saúde do idoso.
Os pontos de corte do IVCF-20 associados à melhor relação sensibilidade e espe-
cificidade foram, respectivamente, 7 e 15 (Quadro 4.5). A proporção de idosos com
fragilidade clínico-funcional identificados no IVCF-20 com pontuação de 7 ou mais foi
boa (91%). Isso significa que a maioria dos idosos com fragilidade clínico-funcional
foi corretamente identificada utilizando-se esse ponto de corte. Todavia, a especifici-
dade desse grupo não foi considerada satisfatória (71%). Isso significa que 29% dos
idosos com IVCF-20 ≥ 7 pontos podem não ser frágeis e que, portanto, não necessi-
tariam de avaliação geriátrico-gerontológica especializada.

Quadro 4.5 Pontos de corte sugeridos

Níveis de sensibilidade Prioridade


Pontos Classificação quanto ao
e especificidade para
de corte grau de vulnerabilidade
associadas às realização
sugeridos clínico-funcional
classificações da AMI

Idoso com baixo risco


0a6
– de vulnerabilidade Baixa
pontos
clínico-funcional

Sensibilidade: 91% Idoso com moderado risco


7 a 14
de vulnerabilidade Média
pontos
Especificidade: 71% clínico-funcional

Sensibilidade: 52% Idoso com alto risco


≥ 15
de vulnerabilidade Alta
pontos
Especificidade: 98% clínico-funcional

76
Quando se utiliza o ponto de corte de 15 ou mais, há um forte incremento na
especificidade (98%) do teste e perda na sensibilidade (52%). Com esse ponto de
corte, a probabilidade de esse idoso ser falsamente positivo é extremamente baixa.
A vantagem da utilização de dois pontos de corte é a possibilidade de conciliar sensi-
bilidade e especificidade do instrumento à disponibilidade de equipes geriátrico-ge-
rontológicas especializadas. Assim, nos locais onde a oferta de equipes especializadas
for baixa, deve-se optar pela utilização de pontos de corte mais específicos (IVCF-20
≥ 15), de forma a garantir menor número de falso-negativos. Por outro lado, caso
haja mais disponibilidade de equipes geriátrico-gerontológicas especializadas ou mais
interesse na identificação de idosos frágeis, deve-se optar por pontos de corte com
mais sensibilidade (IVCF-20 ≥ 7), garantindo, assim, a detecção de praticamente to-
dos os idosos frágeis (sensibilidade: 91%). Todavia, o risco de inclusão de idosos
“falsamente frágeis” é maior.
Na prática clínica, a aplicação do IVCF-20 tem como objetivo o reconhecimento
rápido do idoso frágil e, sobretudo, a indicação de medidas preventivas capazes de
melhorar sua autonomia e independência, conforme a pontuação final do paciente.
O Quadro 4.6 mostra as possibilidades de resultado da aplicação do IVCF-20. Mas,
além da identificação da categoria de risco do idoso, o questionário identifica as
dimensões comprometidas do paciente e que merecem avaliação mais detalhada. A
aplicação do questionário utilizando-se o site www.ivcf20.com.br permite a definição
do grupo de risco do idoso e o aplicativo desenvolvido elabora um plano de cuidados
individualizado, conforme a pontuação do paciente.
O Quadro 4.6 mostra a relação entre o IVCF-20 e a definição do estrato clíni-
co-funcional do idoso após a Avaliação Multidimensional do Idoso (AMI) realizada
por equipe geriátrico-gerontológica especializada. Assim, idosos com pontuação
de 0 a 6 pontos (verde) são provavelmente robustos e, portanto, não necessitam
de avaliação ou orientação especializada. Por sua vez, idosos com pontuação ≥ 15
pontos são provavelmente frágeis ou dependentes e necessitam de abordagem
geriátrico-gerontológica especializada. Finalmente, idosos com pontuação entre 7
e 14 pontos são, provavelmente, frágeis ou estão em risco de fragilização e, por-
tanto, devem ser mais bem avaliados. A vantagem do IVCF-20 em relação à AMI
especializada é exatamente a facilidade e rapidez na sua aplicação e, sobretudo, a
possibilidade de poder ser feita por qualquer profissional de saúde e pelo próprio
cuidador de idosos ou seus familiares.

77
Quadro 4.6 Apresentação visual do diagnóstico clínico-funcional baseado no IVCF-20

Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20

0 123456 7 8 9 10 11 12 13 14 15 a 40
pontos

BAIXA MODERADA ALTA


Vulnerabilidade Vulnerabilidade Vulnerabilidade
Clínico-Funcional Clínico-Funcional Clínico-Funcional
(0 a 6 pontos) (7 a 14 pontos) (≥15 pontos)

Marcadores de Fragilidade Clínico-Funcional


Comorbidade
Mobilidade Comunicação
Múltipla

Autoper- - MMSS - Polifarmácia


AVD AVD - Sarcopenia (≥ 5 drogas/dia)
Idade cepção da Cognição Humor
Instrumental Básica (nutrição) - Polipatologia
Saúde - Visão
- Marcha (≥ 5 doenças)
- Audição
(quedas) - Internação
- Continência recente
esfincteriana (≤ 6 meses)

Todas as informações referentes à aplicação,


interpretação e utilização do IVCF-20 estão
disponíveis no site www.ivcf20.com.br, de domínio público,
que pode ser acessado por qualquer profissional
de saúde ou pelo idoso e seus familiares.

O declínio funcional estabelecido ou dependência nas atividades de vida diária é o


principal marcador da fragilidade. A dependência em AVDs instrumentais pode ser parcial
(estrato 6) ou total (estrato 7). Esses idosos são ainda capazes do autocuidado e não ne-
cessitam de ajuda para as AVDs básicas. A partir do estrato 8, o idoso torna-se dependente
para o cuidado consigo mesmo e necessita de ajuda para tomar banho, vestir-se, usar o
banheiro, fazer transferência, controlar esfíncter e alimentar-se sozinho. O declínio funcio-
nal segue um padrão hierárquico e a velocidade da perda é variável, dependendo da causa.
A pessoa responsável pelo cuidado ou o cuidador deve ficar atento aos perigos am-
bientais e acidentes domésticos, dependendo do sistema funcional comprometido (cog-
nição, humor, mobilidade e comunicação). Na incapacidade cognitiva, o objetivo é evitar
que o idoso tome decisões prejudiciais à sua vida e à sua segurança, na medida em
que a demência faz com que o indivíduo não tenha mais condição de compreender as
consequências de suas ações e decisões, sendo “declarado como incapaz para os atos
da vida civil”. A interdição ou curatela é uma medida de amparo àqueles que não têm
discernimento para a prática dos atos da vida civil. No idoso com depressão maior, o
papel do cuidador é incentivá-lo para a realização das tarefas do cotidiano e impedir que
ele abandone o tratamento, além de protegê-lo e ampará-lo no sofrimento. Essas duas

78
condições, demência e depressão, comprometem a autonomia do idoso ou sua capaci-
dade de decisão. O cuidador tem papel fundamental na maximização da sua capacidade
de decisão ou terá que decidir pelo paciente. Por sua vez, no declínio funcional causado
pela instabilidade postural, o cuidador tem a função de executar a decisão do paciente,
amparando-o na sua capacidade de deslocamento ou manipulação do meio. Amparar
não é sinônimo de substituir, mas sim de permitir que o idoso faça tudo aquilo que ainda
é possível, sem forçá-lo ou apressá-lo na realização das tarefas do cotidiano. O amparo
físico é o objetivo do cuidado. Na imobilidade, o cuidador tem papel fundamental na
proteção do idoso contra os “perigos causados pela cama ou pela cadeira”. O cuidado
com a pele, com a alimentação e com a deglutição é essencial. A movimentação no leito
deve ser feita com regularidade para se evitar o aparecimento de lesões por pressão. Na
incontinência, o cuidado é direcionado para a função esfincteriana, buscando-se sempre
o diagnóstico correto da causa da perda involuntária de urina e/ou fezes e, sobretudo,
oferecendo ao idoso todos os dispositivos de ajuda para amenizar a perda ou a repercus-
são que a incontinência esfincteriana causa na vida do paciente. Finalmente, na incapa-
cidade comunicativa, o cuidador transforma-se nos “olhos, ouvidos ou fala” do paciente
e a sua função primordial é facilitar a interação do paciente com as pessoas ao seu redor.
Não é raro o idoso apresentar várias incapacidades simultaneamente, o que é chamado
de poli-incapacidades. Nessa situação, o cuidador tem diversas funções ao mesmo tem-
po e deve estar plenamente preparado para executá-las com o mínimo de sofrimento
para o paciente. Percebe-se que a função do cuidador de idosos frágeis é extremamente
complexa e desafiadora, pois exige grande conhecimento técnico e, principalmente, o
máximo de respeito, carinho e paciência com o idoso.

Atividade Integradora
A identificação do idoso de risco para declínio funcional, quedas, inter-
nação, institucionalização e óbito é fundamental para a implementação
de medidas preventivas capazes de proteger o idoso. A Avaliação Mul-
tidimensional do Idoso realizada por equipe geriátrico-gerontológica
especializada é a melhor forma de se conhecer todas as demandas e
necessidades do idoso e de sua família. Todavia, é um processo demo-
rado, oneroso e, por vezes, não disponível em algumas regiões do Bra-
sil. A aplicação do Índice de Vulnerabilidade Clínico Funcional-20
(IVCF-20) é rápido, apresenta caráter multidimensional e pode ser rea-

79
lizado por qualquer profissional de saúde ou, até mesmo, pelo cuidador
ou pelo próprio idoso. São perguntas simples, que são capazes de iden-
tificar o idoso de risco e estratificar o grau de vulnerabilidade clínico
funcional (páginas 4, 5 e 6). A utilização do site www.ivcf20.com.br
ou do aplicativo para celular Android, através do Google Play, fornece
um relatório que explica o grupo de risco do idoso e indica algumas in-
tervenções preventivas que já podem ser implementadas para o idoso.
A velocidade da marcha e os dados antropométricos (página 10)
são utilizados para o cálculo do IVCF-20.
O IVCF-20, o peso, o IMC, a circunferência da panturrilha e a veloci-
dade da marcha são excelentes marcadores para o acompanhamen-
to longitudinal do idoso e para o reconhecimento daquele idoso que
não está evoluindo favoravelmente.

Referências
1. CARMO, J. A. Proposta de um índice de vulnerabilidade clínico-funcional para a
atenção básica: um estudo comparativo com a avaliação multidimensional do idoso.
2014. 111 f. Dissertação (Mestrado em Promoção de Saúde e Prevenção de Violência)
- Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
2. CASTELL MV, SÁNCHES M, JULIÁN R, QUEIPO R, MARTÍN S, OTERO A. Frailty preva-
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4. MENDES, E. V. A construção social da Atenção Primária à Saúde. Brasília: Conselho
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5. MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. 2. ed. Brasília: Organização Pan-America-
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80
Capítulo 5

Alterações da Memória,
Demência e Depressão no Idoso:
Incapacidade Cognitiva

Edgar Nunes de Moraes


Raquel Souza Azevedo
Alcimar Marcelo do Couto
Marco Túlio Gualberto Cintra
Cognição é o conjunto de habilidades mentais que permitem ao indivíduo com-
preender e resolver os problemas do cotidiano. A capacidade de aprender coisas
novas, contar histórias, revisitar o passado, reconhecer pessoas e objetos, compreen-
der e se fazer compreendido, fazer cálculos matemáticos, tomar decisões e definir
estratégias são todas funções cognitivas que trabalham harmoniosamente para que
possamos tomar as decisões mais acertadas e aproveitarmos ao máximo as oportuni-
dades que a vida nos oferece. O humor e o comportamento interferem diretamente
na memória e na cognição em geral, de forma que ambas as funções são indissociá-
veis. O humor é a motivação necessária para a realização das atividades e/ou parti-
cipação social e o comportamento é a capacidade de interpretar o mundo de forma
adequada e é afetado pelo estado de alerta (consciência), pelo pensamento e pela
sensopercepção. Assim, todas essas funções mentais são primordiais para uma vida
normal (Figura 5.1).

Figura 5.1 Incapacidade cognitiva e suas principais causas

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

AUTONOMIA (DECISÃO)
É a capacidade individual de decisão e comando sobre as ações,
estabelecendo e seguindo as próprias convicções.

Cognição Humor / Comportamento

É a motivação necessária para a realização


É o conjunto de habilidades mentais que permitem ao
das atividades de vida diária e/ou participação
indivíduo compreender e resolver os problemas do cotidiano.
social. Inclui também o estado de alerta e o
Todas elas devem funcionar de forma integrada e harmônica.
comportamento do indivíduo.

Atenção Função Função Cognição


Memória Linguagem Humor Consciência Pensamento Sensopercepção
Complexa Exectiva Perceptomotora Social

Demência Depressão Delirium Doença Mental

INCAPACIDADE COGNITIVA

82
O envelhecimento está associado a mudanças fisiológicas na memória e nas outras
funções cognitivas. A principal característica da senescência cognitiva é a lentificação
global no processo de aprendizagem e nas respostas aos estímulos ambientais, de
forma que o idoso demora mais tempo para fazer as coisas e tem mais dificuldade em
realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Fenômenos do tipo “a palavra está na ponta
da língua” são mais frequentes e, comumente, o idoso lembra-se da pessoa, mas tem
dificuldade em lembrar seu nome. Outro tipo de esquecimento comum é aquele em
que o indivíduo esquece onde guardou determinados objetos ou o que foi fazer na
cozinha. São esquecimentos do tipo “memória de trabalho”, que ocorrem em todas
as faixas etárias, mas tendem a se agravar com o envelhecimento. Esses déficits são
discretos, isolados e estáveis ao longo do tempo e não provocam impacto na vida
cotidiana do idoso. Apresentam pouca relação com a doença de Alzheimer, principal
causa de demência em idosos. Por outro lado, o idoso amplia seu conhecimento de
mundo e ocorre aumento da sabedoria, definida como um sistema de habilidades
cognitivas, reflexivas e afetivas, compreendidas como capacidade de discernimento,
julgamento, gestão de determinadas circunstâncias da vida, conduta pessoal e social,
que vão muito além do conhecimento descritivo e implica compreensão e interpreta-
ção mais profundas do sentido da vida (Figura 5.2)

Figura 5.2 Envelhecimento cognitivo


Envelhecimento Normal
Função Executiva
Linguagem Memória e Aprendizagem

Cognição Social Atenção Complexa

Função Perceptomotora

Lentificação Global das Funções Cognitivas

Aumento do Conhecimento do Mundo

Melhor Compreensão do Sentido da Vida


SABEDORIA

83
Incapacidade Cognitiva
Idosos com declínio cognitivo associado a declínio funcional apresentam incapaci-
dade cognitiva, cuja principal causa é a demência de Alzheimer. Outras causas são a
depressão, o delirium (confusão mental aguda) e as doenças mentais, como as psicoses
tardias (Figura 5.1). Todas elas não são consideradas “normais da idade” e merecem uma
investigação minuciosa, pois todas têm tratamento, que pode ser, inclusive, curativo.
O termo demência é utilizado para descrever indivíduos com perda significativa da
memória e das outras funções cognitivas, capaz de impedir que ele continue a resolver
os problemas do cotidiano, como as atividades de vida diária instrumentais. Dessa for-
ma, o idoso torna-se progressivamente incapaz de gerir suas finanças, fazer compras,
sair sozinho para lugares distantes ou preparar refeições, como fazia anteriormente.
Por vezes, o idoso não percebe esse declínio
funcional, tampouco se queixa de esqueci-
mento de forma significativa. Os familiares
próximos ou amigos percebem mais clara-
mente a mudança. Antigamente, utilizava-se
muito o termo “esclerose” ou “caduquice”
para descrever essa sintomatologia.
A demência consiste em um conjunto de alterações que ocorrem no cérebro e que
modificam o funcionamento intelectual, provocam dificuldade de raciocínio (resolver
um problema), desorientação temporal (dia, mês, ano e dia da semana), dificuldade
em fazer contas, na linguagem e alterações comportamentais (agitação, irritabilida-
de, alterações no sono e apetite, ideias irreais e alucinações visuais com pessoas já
falecidas e/ou crianças, entre outras).
A prevalência de demência é estimada em 5 a 7% da população idosa em geral e
aumenta com a idade, dobrando a cada cinco anos, atingindo cerca de 30% a 50%
dos idosos com 80 anos ou mais. Portanto, apesar de ser frequente, não é a regra
e tampouco é considerada “normal da idade”. O envelhecimento é o principal fator
de risco, mas outras causas devem ser afastadas, como o hipotireoidismo, deficiência
de vitamina B12, insuficiência hepática (cirrose), insuficiência renal, alcoolismo, uso
excessivo de drogas psicotrópicas, doença cerebrovascular (derrames ou acidentes
vasculares cerebrais) e outras doenças neurodegenerativas (demência por corpos de
Lewy, demência frontotemporal, demência associada à doença de Parkinson, entre
outras). A principal causa de demência é a doença de Alzheimer, responsável por
cerca de 60% dos casos. Os idosos queixam-se de esquecimento relatado por eles e/
ou seus respectivos cuidadores.

84
A suspeita de demência deve ocorrer quando houver os seguintes sintomas:
• esquecimento percebido pelos familiares ou pelos amigos mais próximos;
• piora progressiva do esquecimento;
• repercussão do esquecimento nas atividades de vida diária.

Essas três perguntas fazem parte do Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional


20 (IVCF-20), daí a importância de sua realização anualmente ou quando houver
declínio funcional.
Outras causas de incapacidade cognitiva são:
• depressão: consiste no humor rebaixado, tristeza, desesperança, desânimo, com
perda de interesse ou prazer nas atividades e queixa de perda de memória, al-
teração do sono e do apetite. Geralmente a queixa de memória do paciente é
mais intensa do que o observado pela família ou verificado pelos profissionais.
Na depressão habitualmente não há outras alterações cognitivas comuns na de-
mência, como alterações da linguagem e orientação. Pode variar de quadros leves
a situações muito graves, com recusa a alimentar-se, tentativa de suicídio, etc.;
• delirium: é um estado de confusão mental aguda, ao contrário da demência,
que ocorre lentamente, ao longo de meses a anos. É mais frequente entre ido-
sos no pós-operatório, hospitalizados ou aqueles com doenças agudas como
pneumonia, infecção urinária ou síndrome de abstinência de benzodiazepí-
nicos. Caracteriza-se pela alteração do pensamento (fica desorganizado), da
atenção (não fica focalizada), do nível de consciência (hiperalerta ou letárgico)
e pela frequência de alucinações visuais. É um quadro de urgência, pois sem-
pre há uma causa que deverá ser descoberta e tratada o mais rápido possível;
As principais causas de delirium são:
• pneumonia, infecção urinária e fecaloma (impactação fecal);
• hipoglicemia ou hiperglicemia significativas;
• desidratação;
• dor ou qualquer outro desconforto;
• privação do sono;
• contenção no leito ou hospitalização;
• medicamentos, entre os quais se podem citar: relaxantes musculares, ben-
zodiazepínicos (p.ex.: clonazepam e diazepam) e medicamentos para in-
continência urinária (p.ex.: oxibutinina).

85
• doença mental: consiste em comprometimento do pensamento e/ou senso-
percepção. A esquizofrenia, a parafrenia tardia e a oligofrenia são causas de
doença mental.

Demência
Na demência, o esquecimento é normalmente percebido mais pelos familiares do
que pelo paciente. Compromete as AVDs, gerando perda da autonomia e indepen-
dência e tem grande impacto social, devido ao seu alto custo e longa duração. Pode
ter várias causas (Figura 5.3), como:
• demência de Alzheimer: associada ou não a outras demências comuns em
idosos, é a causa de cerca de 60% dos casos. Atenção: A doença de Alzhei-
mer é o tipo mais frequente de demência e não existe o termo demência senil,
“esclerose” ou “caduquice”;
• demência vascular: responsável por 15 a 20% dos casos. Resulta de AVCs
(popularmente conhecidos por derrames). Os sintomas dependem da área
cerebral comprometida. Normalmente, o paciente apresenta déficit motor,
alterações da marcha ou da fala, de início súbito;
• demência por corpos de Lewy: causa sintomas de parkinsonismo (tremor
em repouso, rigidez e lentificação dos movimentos), alucinações visuais (ver
objetos, animais e pessoas que não são reais), flutuações cognitivas, hipersen-
sibilidade a antipsicóticos e pesadelos e sonhos vívidos frequentes;
• demência frontotemporal: predominam as alterações graves do comporta-
mento (desinibição, compulsão por doces, irritabilidade e agressividade grave,
etc.) ou alteração precoce da fala;
• causas potencialmente reversíveis, como o uso de psicotrópicos, demência
alcoólica, a neurossífilis e outras causas que devem ser sempre investigadas
(Figura 5.3).

Fatores de risco
• idade: a frequência aumenta com a idade, atingindo 2% da população entre
60 e 70 anos, até 30% da população com 80 anos ou mais;
• hereditariedade: o registro desse distúrbio em parentes de 1o grau (pais e
irmãos) aumenta o risco, principalmente quando ocorre precocemente, antes
dos 65 anos (história familiar de demência);
• baixa escolaridade ou atividade intelectual;
• sexo feminino;

86
• AVC, diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo e inativi-
dade física;
• polifarmácia, principalmente com uso de benzodiazepínicos de longa duração
(tranquilizantes, como clonazepam e diazepam);
• trauma cranioencefálico.

Figura 5.3 Principais causas de demência

DECLÍNIO FUNCIONAL DECLÍNIO COGNITIVO

INCAPACIDADE COGNITIVA

Demência

Uso de Psicotrópicos:
benzodiazepínicos DEMÊNCIA DEMÊNCIA DE
ALZHEIMER
NÃO-ALZHEIMER 50 a 60%
Demência Alcoólica 30 a 40% Diagnóstico de Exclusão

Neurossífilis

Encefalopatia pelo HIV Demência Demência


Demência por Corpos Fronto-
Vascular de Lewy Temporal
Hipotireoidismo
Demência Associada à
Deficiência de Vitamina B12 Doença de Parkinson

Encefalopatia Hepática Doença de Huntington

Hidrocefalia de Pressão Normal Degeneração Córtico-Basal

Hematoma Subdural Atrofia de Múltiplos Sistemas

Paralisia Supranuclear
Traumatismo Cranioencefálico Progressiva (PSP)

Tumor Cerebral Doença de Creutzfeldt-Jacob

Tratamento
Existem medicamentos* para o tratamento das manifestações clínicas de todas
as demências. A escolha da medicação deve ser correta e baseada no diagnóstico da

87
causa de demência, além de considerar os possíveis efeitos colaterais. Todavia, não há
tratamento curativo. Além do tratamento farmacológico, é fundamental o tratamen-
to não farmacológico, baseado no treinamento da memória (reabilitação cognitiva) e
no manejo adequado dos sintomas comportamentais da demência.

*Os medicamentos indicados para a doença de Alzheimer, nas fases


leve e moderada, são fornecidos pelo SUS, através do programa de
Medicamentos de Alto Custo. Os anticolinesterásicos (donepezil,
galantamina e rivastigmina) podem melhorar a doença e devem ser
usados rotineiramente, exceto na presença de contraindicações.
Basta procurar a Secretaria de Estado de Saúde e preencher a
solicitação específica para o fornecimento da medicação.

Demência do tipo Alzheimer


É o tipo de demência mais comum, caracterizada principalmente pela perda pro-
gressiva da memória, devido à morte de neurônios (células do sistema nervoso) que
se inicia numa região do cérebro ligado à memória. A evolução da doença é variável
de dois a 20 anos. À medida que a doença vai progredindo, essa morte celular vai
se espalhando para outras regiões, levando a dificuldades intelectuais, de comporta-
mento e perda progressiva da autonomia e independência. É uma doença degene-
rativa do cérebro, com destruição dos neurônios de forma lenta, progressiva e irre-
versível e de causa ainda não esclarecida. Os estudos sugerem etiologia multifatorial,
provavelmente o somatório de fatores ambientais e genéticos.

Diagnóstico
Como rotina, o diagnóstico é feito a partir da
avaliação do quadro clínico (queixas do paciente e
da família), adotando critérios clínicos bem-estabe-
lecidos e excluindo outras causas de demência, a
partir da história, exame clínico, exames neuropsico-
lógicos e exames complementares (laboratoriais e de
neuroimagem). Os exames de tomografia compu-
tadorizada e ressonância magnética de crânio são
realizados para afastar outras causas de demência.

88
Sintomas: como começa?

• no começo: o paciente pode ter consciência das mudanças intelectuais, tor-


nando-se deprimido ou ansioso, tentando compensar, anotando informações,
estruturando rotinas e simplificando responsabilidades para manter a sua au-
tonomia e realização das AVDs;
• esquecimento (amnésia): inicialmente ocorre perda de memória recente
(compromissos, onde guardou objetos, alimentos no fogão, recados, telefo-
nemas, pagamento de contas). Posteriormente, observa-se dificuldade para
aprender novas tarefas, atividades que exijam pensamento e raciocínio (ma-
temática, trabalho). Anotações e lembretes passam a não ser resolutivos, o
idoso se esquece das anotações;
• diminuição da função visoespacial: perde-se com facilidade, inicialmente
lugares conhecidos fora de sua residência e, posteriormente, não reconhece
lugares como sua casa ou seu quarto;
• desorientação no tempo e espaço: data, local e hora;
• dificuldade de julgamento: perda da noção de certo e errado;
• empobrecimento da fala: dificuldade de achar as palavras (aquilo, coisa);
• repetição de frases e palavras;
• dificuldade de compreensão;
• mudança de comportamento: desconfiança excessiva, impaciência, agita-
ção, andar de um lado para o outro e distúrbios sexuais.

Fases da doença
A evolução da doença é variável, podendo variar de 2 a 20 anos. A progressão
da doença é inexorável e o tratamento tem como objetivo facilitar o cuidado do
paciente e reduzir o grau de dependência funcional. Os sintomas cognitivos, com-
portamentais e o declínio funcional tendem a piorar com a duração da doença,
mesmo nos pacientes que apresentam uma boa resposta ao tratamento. Cada fase
da doença apresenta característica específicas, que devem ser conhecidas pelos fa-
miliares. Os Quadros 5.1, 5.2 e 5.3 mostram as principais características de cada fase
da doença de Alzheimer.
A família e o cuidador devem estar bem
orientados e esclarecidos sobre a doença e suas
complicações. Algumas medidas podem ser
bastante úteis (Quadros 5.4 a 5.11).

89
Quadro 5.1 Fase inicial da doença de Alzheimer

Fase Inicial

Nesta fase, o indivíduo começa a sentir-se diferente, menos capaz e menos adaptado a
vida. Todavia, geralmente não há percepção clara do que está acontecendo.

Observa-se falta de concentração, perda da iniciativa e da motivação e dificuldade para


tomar decisões. O idoso evita maiores responsabilidades.

Ocorre perda da memória recente ou de fixação. A família relata que o paciente esque-
ce de fatos recentes, mas lembra-se com facilidade de fatos antigos (memória remota),
como detalhes da sua infância, escola, casamento, etc.

Desorientação temporal, a lembrança de datas fica mais difícil e ocorre troca de datas.

Alteração da personalidade e senso crítico.

O declínio funcional ocorre mais em AVDs instrumentais que exigem mais da cognição,
como controle das finanças, fazer compras e sair sozinho para lugares distantes. Mu-
danças na qualidade do preparo das refeições também é facilmente percebido, como
empobrecimento do cardápio, mudança no tempero e deixar cair comida.

Acidentes domésticos ou na rua são comuns nesta fase, daí a importância do diagnósti-
co precoce da doença.

Não é raro o descontrole financeiro e maior vulnerabilidade a "golpes" e desvios de


dinheiro inexplicáveis. Deve ser considerada a hipótese de interdição do paciente, para
protegê-lo de oportunistas.

Observa-se apatia, passividade, associada à irritabilidade, intolerância e agressividade.


Indivíduos gentis tornam-se agressivos e desagradáveis ou vice-versa.

A direção veicular é um dos maiores problemas nesta fase. A restrição ou proibição


desta atividade é difícil, pois o paciente não tem percepção clara da sua incapacidade.
Por vezes, torna-se necessário "boicotar" o motor do carro e tomar outras atitudes que
dificultem a sua utilização.

As alterações no ânimo podem estar associadas com a percepção que o indivíduo tem
de suas dificuldades, que tendem a se agravar, nunca apresentando melhora.

As alterações de comportamento e conduta costumam ser desencadeadas por algum


fato concreto, como mudanças do ambiente ou da rotina diária. Discussão, brigas ou
problemas familiares desencadeiam reações comportamentais inesperadas.

Dificuldade de achar palavras, lembrar dia, mês ou ano em que está.

É de grande importância que os sinais inicias sejam observados e valorizados, pois


quanto antes se estabelecer o diagnóstico, mais eficaz é o tratamento.

90
Quadro 5.2 Fase moderada da doença de Alzheimer

Fase Moderada

Nesta fase ocorre o agravamento dos sintomas observados na fase inicial.

Piora da desorientação temporo-espacial, podendo perder-se em ambientes conhecidos


e até mesmo dentro de casa.

Dificuldade para reconhecer cuidadores, familiares e amigos.

Alucinações (ouvir vozes, ver pessoas falecidas), agressão (desconfiança, ciúmes), quei-
xas de roubo de objetos e de dinheiro.

Inapetência e emagrecimento.

Dificuldade na fala e comunicação, vocabulário empobrecido e limitado, com utilização


de palavras vagas. O paciente vai perdendo a capacidade de ler e de entender solicita-
ções verbais, principalmente se forem ordens complexas.

Fala repetitiva de frases e palavras, sem interrupção e sem nexo.

Distúrbios do sono.

Declínio funcional em todas as AVDs instrumentais e básicas: o paciente não tem mais
condição de cuidar da casa ou fazer os afazeres domésticos.

Agitação e perambulação.

Dificuldades motoras com prejuízos na marcha e lentificação dos movimentos, com


tendência a quedas.

Iniciam-se as afasias (perda do poder de expressão pela fala, pela escrita), as apraxias
(incapacidade de executar os movimentos apropriados para um determinado fim) e as ag-
nosias (perda do poder de reconhecimento perceptivo sensorial, auditivo, visual e táctil).

Nesta fase, o idoso se encontra mais dependente de seus familiares, necessitando de


cuidados diários e integrais.

91
Quadro 5.3 Fase avançada da doença de Alzheimer

Fase Avançada

Nesta fase, o idoso encontra-se totalmente dependente de seu familiar, inclusive para
as atividades básicas de vida diária, como tomar banho, vestir-se, usar o banheiro. Pos-
teriormente, ocorre dependência para a transferência e, na fase final da doença, para
alimentar-se sozinho.

A memória antiga já pode estar totalmente comprometida.

O idoso já está totalmente incapacitado e não reconhece mais as pessoas mais próxi-
mas, podendo não se reconhecer quando colocado em frente ao espelho.
Familiares bem próximos, incluindo o cuidador, podem não ser mais reconhecidos, o
que pode causar muita frustração no cuidador despreparado ou que não sabe a evolu-
ção da doença.
Percebe-se dificuldades no entendimento do que acontece à sua volta e de orientar-se
dentro de casa.
Dificuldade para caminhar, aumento do risco de quedas acidentais e fraturas, resul-
tando na imobilidade e, consequentemente, confinamento à poltrona ou ao leito,
contribuindo para o risco do surgimento de lesão por pressão.
A apatia, o mutismo, a prostração e a incapacidade de se expressar evoluem para o fim
da comunicação.

A incontinência urinária e fecal estão presentes nesta fase.

Tendência a assumir a posição fetal, devido a múltiplas contraturas (contraturas dos


membros inferiores tornam-se inextensíveis e irrecuperáveis e os membros superiores
adotam posição fletida junto ao tórax e a cabeça pende em direção ao peito).
Perda de peso progressiva e significativa. A doença é extremamente catabólica e alguns
medicamentos utilizados para a doença na sua fase inicial e moderada podem piorar
mais ainda a inapetência e o emagrecimento.
Dependência para alimentar-se é cada vez maior e a aceitação do paciente é cada vez
menor.
A disfagia, caracterizada por engasgos frequentes na alimentação, tornam-se preocupantes
e aumentam o risco de aspiração. A família deve estar bem orientada quanto à decisão
polêmica da utilização de via alternativa de alimentação, como uso de sondas ou gastros-
tomia. Não há consenso quanto à indicação destas intervenções, pois podem agravar mais
ainda as complicações e, principalmente, o sofrimento do paciente e da família.
Episódios repetitivos de pneumonia por aspiração e infecção urinária, são frequentes.
Tanto na fase inicial, quanto nas fases moderada e avançada, as medidas preventivas
e os cuidados recebido pelo idoso são extremamente importantes e fazem toda a dife-
rença na evolução da doença.
Idosos bem cuidados, tratados com medicamentos adequados e com boa orientação
familiar, apresentam uma melhor qualidade de vida e o aparecimento de complicações
é significativamente menor e mais tardio.

92
Quadro 5.4 Adaptação ambiental

Priorizar a segurança e conforto do idoso no domicílio.

Orientar para manutenção de um ambiente calmo, confortável, tranquilo e seguro no


domicílio, especialmente durante as refeições e à noite.

Manter a casa sempre organizada e evitar mudanças desnecessárias, para evitar confusão.

O quarto deve ser simples, fácil de localizar e reconhecer, respeitando a preferência do


paciente.

A perambulação é comum e nesses casos é importante promover áreas seguras, com bar-
ra de apoio e piso antiderrapante. Retirar tapetes soltos, móveis, brinquedos, fios soltos e
qualquer objeto que possa aumentar o risco de quedas.

Cobrir as tomadas com protetores.

Fósforos e isqueiros sempre guardados e fora do alcance do idoso. Ficar atento a fogão
aceso e manter o gás sempre desligado e inacessível ao paciente.

Medicamentos e produtos não comestíveis devem ser guardados em locais fechados e


fora do alcance do idoso.

Materiais de limpeza e inseticidas só deverão estar expostos no momento do uso.

Janelas, portas e portões protegidos para evitar quedas e fugas. Por vezes, o paciente
pode confundir janelas com portas, aumentando o risco de acidentes graves.

As chaves devem estar bem guardadas.

Manter calendário e relógio de fácil acesso para auxiliar na orientação temporal.

Durante a noite, manter sempre uma luz acessa no caminho a ser percorrido até o banheiro.

Sair de casa sempre acompanhado e promover a identificação do idoso por meio de


etiqueta na vestimenta ou pulseira (nome, telefone, endereço).

Orientar os vizinhos sobre o quadro do idoso e, caso o virem vagando, conduzi-lo com
segurança para casa.

Quadro 5.5 Cuidados com ruídos e iluminação

Barulho e muita claridade superestimulam o paciente e aumentam o risco de agitação.

Manter ambiente calmo e silencioso, principalmente a noite.

Para melhorar o sono: manter horário fixo para levantar e deitar, evitar cochilos durante
o dia, evitar o consumo de café, chá escuro, álcool, tabaco, evitar jantar pesado e muito
tarde, abaixar o volume da TV, falar baixo, reduzir gradativamente a luz ambiente.

Estimular exercício físico, intelectual e atividades de seu desejo durante o dia que não
causem agitação no idoso.

93
Quadro 5.6 Controle das finanças

Delegar, aos poucos, as funções financeiras a uma pessoa confiável, pois a crítica pode
estar comprometida e podem ocorrer golpes e descontrole financeiro.

A interdição ou a curatela são providências necessárias que visam proteger o idoso*.

Se possível, programar o pagamento das contas pelo débito automático.

Investigar rombos no orçamento.

Acompanhar a pessoa idosa na hora das compras.

Fazer orçamento mensal com todas as despesas do idoso, devido ao aumento dos
gastos nestas situações.

*A interdição ou curatela é uma medida de amparo legal criada pela legislação


para proteger a pessoa declarada civilmente incapaz para a prática dos atos da
vida civil, tais como vender, comprar, testar, casar, votar, assinar contratos, etc. Para
tanto, essa pessoa declarada civilmente incapaz, deve ser representada ou assistida
por uma outra pessoa civilmente capaz, denominada curador.
Curador é a pessoa nomeada pelo juiz para representar o indivíduo considerado ci-
vilmente incapaz (curatelado) nas manifestações de sua vontade, ou seja, o curador
vai agir em nome do curatelado.
Quando realizar a interdição: essa decisão não deve ser tomada antecipadamente,
ela deve ser promovida no momento em que o idoso realmente encontra-se no estágio
da doença em que necessite dessa medida judicial. Esta avaliação deve ser realizada
pelo próprio cuidador juntamente com o médico responsável pelo caso. A aplicação de
testes periódicos poderá detectar a progressão da doença, apon-
tando para uma impossibilidade deste idoso exercer seus próprios
atos civis. Constatado este momento, o familiar deverá procurar um
advogado que promoverá a interdição. Os demais familiares devem
estar atentos aos atos realizados pelo curador.

Quadro 5.7 Comunicação com o idoso com demência

Conversar com o paciente de forma segura e carinhosa.

Nunca gritar ou discutir com o paciente, tentar encontrar a razão do problema e tentar
ajudá-lo.

Usar frases curtas e objetivas.

Usar afirmações em lugar de perguntas.

Limitar as decisões do paciente em duas opções, mas sempre chamá-lo para participar
das decisões.
Continua...

94
... continuação

Quadro 5.7 Comunicação com o idoso com demência

Fazer os mesmos exercícios na mesma ordem e repetição.

Olhar para o paciente, falar lentamente e de frente para o idoso.

Dar as ordens passo a passo. O uso de gestos pode facilitar a comunicação.

Observar sinais de prazer ou desagrado.

Esses pacientes precisam de atenção rigorosa.

Quadro 5.8 A importância da rotina

Fazer sempre a mesma coisa, na mesma hora, do mesmo jeito, especialmente a higiene
(atenção especial ao banho devido à maior probabilidade de agitação), alimentação,
repouso e atividades.

Mantenha e estimule as atividades sociais do idoso, isto estimula a memória.

Estimule a realização de atividade física, pelo menos 30 minutos ao dia, cinco vezes
na semana.

Quadro 5.9 Estimulação da memória

Oferecer atividades e terapias diversas, conforme a preferência e o histórico do paciente.

Assistir filmes e notícias e depois discutir sobre o assunto pode ser útil e reconfortante
para alguns pacientes.

Fotografias e relembrar pessoas e fatos podem ser atividades agradáveis, pois estimu-
lam as reminiscências e podem despertar interesse.

A música pode trazer resultados surpreendentes.

Jogos de xadrez, damas, resta um, dominó, cartas, jogos de computador, palavras cru-
zadas, sudoku, jogo de forca podem ser úteis.

Lembrança de datas importantes, fazer lista de supermercado, controlar contas a pagar,


recebimento de salário, desenho, artesanato são atividades que devem ser estimuladas.

O computador é uma ferramenta cada vez mais presente no cotidiano das pessoas.
Jogos interativos podem estimular a cognição.

Estimular o uso da agenda diária com os compromissos.

Deixar um calendário em local visível e estimular o idoso a todos os dias falar o dia, mês e ano.

Continua...

95
... continuação

Quadro 5.9 Estimulação da memória

Deixar um relógio em local visível e mostrar os horários durante o dia, de acordo com
os compromissos (hora do almoço, banho, dormir).

Manter um quadro de aviso visível.

Estimular o idoso a realizar todas as atividades sozinho ou com supervisão, dentro de


suas possibilidades.

Observar e evitar atividades que provocam agitação.

Até mesmo os pacientes em fase avançada podem manter contato e receber estímulos.
O toque e o som da fala dos familiares e acompanhantes podem ser prazerosos.

Quadro 5.10 Uso do banheiro

Utilizar o banheiro antes de dormir.

Ir ao banheiro, regularmente, de duas em duas horas, caso haja incontinência urinária.

O uso de fralda deve ser indicado somente quando falhares as medidas anteriores.

Quadro 5.11 Cuidados na alimentação

Supervisionar sempre a alimentação, manter ambiente calmo, levar o idoso à mesa, ofere-
cer refeições seis vezes ao dia, variar o cardápio e utilizar alimentos cheirosos e coloridos.

Sempre oferecer alimentos ricos em proteínas (como carnes e ovos) e discutir com a
equipe de saúde a necessidade de suplementos alimentares.

Em caso de não reclamar de fome ou dizer que estão sem fome: deixe alimentos na
proximidade do idoso, sirva as refeições nos horários rotineiros e discuta com a equipe
de saúde se há fármacos prescritos que podem estar provocando redução do apetite.

É frequente a ausência de sede, daí a importância de se oferecer líquidos em horários


regulares e facilitar o acesso a água ou outros líquidos da preferência do idoso.

Evitar café e chá à noite, para não prejudicar o sono.

Evitar ingestão de excesso de líquido à noite e 3 horas antes de deitar.

Avaliar a cavidade oral do idoso, adaptação das próteses e lesões. A higiene da cavida-
de bucal e da prótese dentária são essenciais.

Como lidar com os sintomas comportamentais


Para o cuidador, a pior parte deste trabalho é lidar com as alterações de compor-
tamento. O cuidador deve tentar controlar estes distúrbios de comportamento e ter

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domínio sobre a situação, independentemente do uso de medicamentos sedativos.
Não é fácil, mas é possível.
Toda vez que houver piora comportamental ou algum comportamento novo, de-
ve-se sempre buscar uma causa:
• foi iniciada uma nova medicação ou ajuste na dose?
• pode ser ansiedade ou frustração por não conseguir fazer algo?
• pode estar irritado por algum motivo?

A resposta a estas indagações é fundamental. A partir daí, o cuidador deve pro-


curar estratégias para facilitar o controle destes comportamentos. Estão relacionados
abaixo, as principais alterações comportamentais presentes nas demências.

Alterações no comportamento sexual


Devemos lembrar que as demências apresentam três características principais:
• perda da memória;
• alteração comportamental;
• dificuldade ou perda de habilidades previamente aprendidas (AVD).

Esses sintomas decorrem do comprometimento e deterioração das células do cé-


rebro, os neurônios, em regiões que são responsáveis pela memória, pelo compor-
tamento e pelas habilidades aprendidas. Assim, muita coisa que o idoso aprendeu
e viveu foi perdida. Fatos vividos, família construída, uma carreira, um trabalho de
longos anos, tudo isso vai desaparecendo com a piora da doença. Na fase mais avan-
çada pode-se perder a referência guardada no cérebro sobre as normas de conduta
sexual, que foram aprendidas e passadas para toda a sua família. Se não se lembra,
se esqueceu, se perdeu em seu cérebro aquele aprendizado de que tirar a roupa em
público é errado, por que não fazê-lo? Se, por uma questão de vontade, sentir von-
tade de ter relações sexuais ou querer se masturbar e não ter mais noção do certo
ou errado, que mal fazer isso na sala de estar? Deve ficar claro para os familiares que
comportamentos inadequados ou antissociais fazem parte da doença e não devem
ser julgados como problemas de caráter do paciente.

Lembrar sempre que comportamentos inadequados não são pro-


positais, muito menos mal-intencionados. Esse tipo de conduta é
consequente da sua doença!

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Regras gerais para lidar com essa situação:
• é importante entender o que esta acontecendo com o idoso, para isto
procure ajuda e orientação de um profissional especialista;
• encarar com naturalidade estas alterações e não gritar ou entrar em
confronto com o idoso;
• dar a ele ocupação: dar uma volta com ele para distrair e esquecer o
comportamento inadequado;
• não expor o idoso à situação de ridículo e evitar brincadeiras de mau gosto
e piadinhas;
• evitar fazer estardalhaço diante de comportamentos inusitados.
• ser firme, porém paciente, gentil e carinhoso com o idoso. Tocar o pa-
ciente de forma leve e o contato pessoal são extremamente importantes
nestas situações;
• caso essas alterações comportamentais ocorram de forma
súbita, procurar um profissional, pois isto é o indicativo que
algo está errado e deve ser rapidamente avaliado.

Agitação
O que é o efeito crepúsculo ou fenômeno do entardecer: pessoas com con-
fusão aguda ou crônica ficam mais confusas, agitadas e inseguras no fim da tarde,
especialmente depois que escurece. Isso acontece em suas próprias casas ou em ins-
tituições e às vezes piora quando se altera a rotina do paciente, que pode tornar-se
exigente, mais agitado, desconfiado, desorientado e, mesmo, ver, ouvir ou acreditar
em coisas irreais, especialmente à noite. O período de atenção e a capacidade de con-
centração tornam-se ainda mais limitados. O idoso fica mais impulsivo, sendo levado
por suas próprias ideias de realidade.

Regras gerais para lidar com essa situação:


• manter sempre um ambiente seguro, calmo e agradável;
• evitar festas, aglomerações e lugares confusos para o idoso;
• manter sempre a mesma rotina e evitar alterações desne-
cessárias;
• o cuidador deve estar seguro, preparado e confiante para lidar com estas
situações, pois o despreparo pode piorar a agitação;
• é importante manter uma boa comunicação: falar devagar, frases curtas e
objetivas, de frente e olhando para o idoso;
• ser firme, mas carinhoso, afetivo e atento para reduzir o risco de aciden-
tes. O abraço e o toque, podem deixá-lo mais tranquilo, seguro e amado,
tornando-o mais cooperativo;

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• não discutir com o idoso e nunca gritar ou perder a paciência. Sua forma de
entender e reagir aos fatos está alterada pela doença. Não se deve tentar argu-
mentar como dois adultos conversando, tampouco deve-se infantilizar o idoso;
• ganhar a confiança do idoso e não fazer falsas promessas. As mentiras
devem ser cuidadosamente dosadas, para não prejudicar mais ainda a
relação de confiança;
• deve-se limitar as decisões do paciente, não lhe dando muitas opções.
Limitar a duas opções de escolha;
• fazer questionamentos com resposta simples, tipo sim ou não;
• manter o idoso ocupado, sempre que possível, estimulando-o a realizar
atividades domésticas e sociais;
• tentar descobrir as causas da agitação: fome, sede, dor ou desconforto físico.
Ficar atento a sinais de desprazer, face de dor, toque repetitivo em alguma par-
te do corpo. Perguntar ao idoso, com calma e clareza, o que ele está sentindo;
• evitar tarefas cansativas e difíceis, não dando ao idoso responsabilidades,
além de suas possibilidades.

Quando o idoso diz coisas que não são reais

Na demência, o idoso pode confundir a realidade com a ficção ou com programas


de televisão. Nestas situações, recomenda-se:

Regras gerais para lidar com essa situação:


• sempre tentar tranquilizá-lo e não entrar em atrito ou discutir com ele. Evitar
tentar convencer de que você tem razão. Ele poderá não entender e ficar
mais agitado ainda. A melhor solução é concordar com o idoso e distraí-lo
com outra atividade ou tentar mudar de assunto;
• é fundamental o cuidador e a família compreenderem que a nova realidade
do idoso com demência é “concreta” e não se deve tentar trazê-lo para
nossa realidade. Explicar que “aquilo não é verdade” é perda de tempo e
de energia, pois dificilmente o idoso irá concordar. Fazer parte do “mundo
dele” pode facilitar o cuidado e reduzir o fardo do cuidador;
• comunicar à equipe de saúde sempre que houver um episódio agudo de
confusão mental ou mudança de comportamento, como apatia e sonolência;
• é importante esclarecer às pessoas próximas ao idoso que
alguns fatos ou situações do cotidiano contadas por ele não
são verdadeiras e fazem parte da doença.

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Exemplo: idoso com demência que acredita que alguém roubou seu dinheiro.
Não discuta, aceite o que o idoso está dizendo. Tranquilize-o dizendo que você irá
ajudá-lo a procurar quem roubou seu dinheiro. Encontre formas para distraí-lo. Co-
munique o fato à equipe de saúde para certificar-se da causa da confusão do idoso e
também aos responsáveis (familiares ou instituição), para que não haja desconfiança
em relação à sua pessoa e ao seu trabalho.

Vagar, perder-se ou fugir


Trata-se de um estado de inquietude que faz com que o paciente ande de um
lado para outro, sem demonstrar sinais de cansaço. Fenômeno conhecido por
vagância ou perambulação. É uma alteração de comportamento que também
pode estar relacionada a quadros infecciosos e desidratação. Esse tipo de com-
portamento no idoso demente preocupa muito aos cuidadores, pelo potencial
de perigo que pode existir, inclusive com acidentes sérios e até fatais. A maioria
dos idosos com demência terá esse tipo de comportamento em alguma fase da
doença. Não ocorre sempre, porém há fases em que isso ocorre com frequência.
As causas são difíceis de serem determinadas. Pode ocorrer de repente e subita-
mente parar de acontecer. A principal preocupação evidentemente está em tra-
balhar para o reconhecimento das possíveis causas da vagância, além de manter
a segurança pessoal/ambiental.

Regras gerais para lidar com essas situações:


• manter familiares, comerciantes, amigos, vizinhos, informados sobre este fato
e solicitar que ele seja conduzido para sua casa, com calma e tranquilidade;
• alguns fatores contribuem para que este fato ocorra: a desorientação
temporo-espacial (incapacidade para reconhecer dias e noites e o local onde
se encontra), frio, sede, fome e a a presença de qualquer outra necessidade
orgânica não resolvida;
• manter o ambiente seguro: portas e janelas trancadas; piscinas, escadas
e sacadas, protegidas; travas colocadas na parte alta ou baixa da porta;
chave guardada; deixar a casa o mais familiar possível
com objetos pessoais de estima; sinalizar o banheiro, o
quarto, a cozinha. Evitar um ambiente confuso, barulhento,
agitado e com muitas pessoas;

100
• manter o idoso com roupas inadequadas para sair, esconder os sapatos e
evitar o uso de meias, principalmente à noite;
• faça uma identificação em suas roupas com nome, endereço e telefone de
familiares e agradecimento pela ajuda: escrever na própria roupa, colocar
um cartão no bolso da roupa, um bracelete ou um colar identificador;
• estimular atividades domésticas e exercícios físicos durante o dia;
• caso o paciente saia e se perca, é conveniente iniciar a procura em locais que
habitualmente ele frequentava.

Alucinações: ele está vendo coisas, o que eu faço?


Algumas pessoas podem apresentar alucinações visuais ou auditivas, quando
apresentam a falsa impressão – sem que haja um estímulo externo – de estar ven-
do ou ouvindo coisas que outras pessoas não veem ou ouvem. Essa alteração de
comportamento provoca grande transtorno nos familiares, especialmente porque a
maioria das pessoas não está preparada para administrar bem essa situação. É uma
situação muito especial e requer calma e paciência para trazer o paciente de volta à
realidade, sem grandes traumas. São várias as causas que geram crises de alucinação
e o paciente deve passar por avaliação médica para determiná-las com segurança.
Deve-se estar atento a doenças do sistema urinário, infecções, dependência de álcool,
reações adversas às medicações utilizadas, desidratação, dores intensas e fecaloma.
O cuidador deverá estar atento às reações colaterais dos medicamentos utilizados
pelo paciente (efeito que ocorre simultaneamente ao desejado, nem sempre confor-
tável para o paciente). Diante de qualquer reação adversa (efeito indesejado e não
esperado apresentado pelo paciente), como mudanças comportamentais, tremores,
etc., o médico deve ser avisado imediatamente.

Regras gerais para lidar com essas situações:


• não se deve discutir com o paciente aquilo que ele diz ver ou ouvir, pois para
ele é bem real. Pode ser necessário concordar com o paciente e, logo em
seguida, distraí-lo com alguma coisa;
• tentar conduzir o paciente para outro lugar da casa,
convidando-o a passar por áreas mais claras;
• estimular atividades interessantes que o agradem e
distraiam: fotos de paisagens, álbuns de família;

101
• observar o que pode estar causando as alucinações: ruídos, objetos,
cortinas, papéis de parede ou louças estampadas, sombras na janela, folhas
de árvores balançando. Evitar espelhos na fase avançada da doença, quando
o paciente perder a capacidade de reconhecer sua própria imagem refletida,
além de tentar removê-los.

Ideias delirantes: ele está me acusando de tê-lo roubado

Trata-se da falsa crença que o paciente apresenta de estar sendo roubado, perse-
guido por pessoas estranhas ou membros da própria família. Alteração conhecida por
delírio. Acredita que não está em sua casa e frequentemente pede para ir embora,
desconhece as pessoas que com ele convive, dizendo que há estranhos em casa.
Todas as alterações de comportamento apresentadas na doença de Alzheimer são
responsáveis por grande transtorno familiar gerado pela “sensação” de incapacidade
que o cuidador sente em manejar adequadamente os pacientes que as apresentam.

Regras gerais para lidar com essas situações:


• é importante que o cuidador mantenha a calma e não
responda as acusações, pois o paciente não sabe o que está
dizendo e para ele aquilo é real;
• caso o idoso afirme que “tem alguém em casa”, deve-
se tentar tranquilizá-lo, caminhando pela casa e mostrando que não há
ninguém estranho ou que “o estranho já foi embora”;
• manter o ambiente bem familiar, com seus objetos pessoais para que ele se
sinta seguro;
• caso o idoso acuse algum familiar ou o cuidador de roubo, tentar manter a
calma. Procurar explicar que o dinheiro está bem guardado em casa ou no
banco. Pode ser necessário mudar o responsável pelo controle das finanças;
• quando ele não reconhecer sua casa e solicitar a todo momento que quer
ir embora, dar uma volta no quarteirão e tentar lhe mostrar lugares ou
pessoas familiares pelo caminho. Ao retornar para casa, sinalizar que ele
chegou à sua casa;
• é comum não reconhecer uma pessoa familiar e confundi-la com um agressor
de algum episódio que nunca existiu. Tentar acalmá-lo com carinho e
segurança. Usar e abusar do toque suave, do abraço e dar todo o amor e
respeito que o paciente precisa e merece. As situações motivadas pelo delírio
devem ser tratadas com delicadeza e seriedade.

102
Problemas com o banho

O banho é geralmente uma atividade difícil e de muito estresse, tanto para o pa-
ciente, quanto para o cuidador. O idoso pode vê-lo de forma desagradável (por ser
um momento íntimo e de privacidade) e ameaçador (ambiente frio) ou por não lem-
brar para que serve, tentando evitá-lo ou mesmo recusando-se. Pode reagir de forma
inesperada, como gritar ou bater no cuidador. O cuidador deve ter conhecimento da
doença para não levar para o lado pessoal, sendo flexível, paciente e calmo. Algumas
orientações podem ser úteis (Quadro 5.12).

Quadro 5.12 Orientações para facilitar o banho


Manter sempre horários fixos para o banho, tentando conduzir como um momento de
relaxamento.
Preservar o horário de banho habitual do idoso. Se ele tem o hábito de tomar banho na
parte da manhã, recomenda-se que mantenha esse horário. A mudança de horário pode-
rá confundí-lo e causar irritabilidade.
Caso o paciente se recuse a tomar banho, aguardar um pouco mais e o chamá-lo nova-
mente após algum tempo. Outra opção é questioná-lo se prefere tomar banho agora ou
daqui a 10 minutos, por exemplo.
Observar se o idoso prefere tomar o banho no chuveiro, na ducha manual (cuidado com
jatos muito fortes) ou na banheira (sempre sob supervisão e apenas para pacientes com
boa desenvoltura motora). Preferir a opção do paciente, conforme seu histórico.
Antes de começar o banho, ajudar o idoso a encontrar o banheiro. Mostra que é um
lugar seguro e que não precisa ter medo de cair.
O banho deve ser breve e antes de colocá-lo em baixo do chuveiro, verificar para que a
temperatura da água esteja agradável.
Deixar todos os produtos preparados e ao alcance do paciente ou do cuidador e na or-
dem de uso: toalhas, xampu e sabonete, etc. Só depois levá-lo para o banheiro.
Não se deve NUNCA sair do lado do idoso, pois o banheiro é um local perigoso. Quedas
no banheiro são frequentes.
Cobrir a cadeira de banho ou superfícies frias com toalha para manter o conforto do idoso.
Usar xampus neutros, hipoalergênicos para evitar ardência e irritações nos olhos.
Manter sempre a privacidade e dignidade do idoso. Usar toalhas de banho grandes que
envolvam a pessoa para dar sensação de privacidade e aconchego.
Estimular a autonomia do paciente durante todo o banho. Auxiliar apenas no que ele
realmente não der conta e elogiar sempre por seus esforços.
Dar tarefas ao idoso: segurar a toalha ou o xampu, por exemplo.
Dar as instruções passo a passo e de forma clara e objetiva.
Observar se o idoso está incomodado pelo fato do cuidador ser do sexo oposto, e, se
necessário, procurar a ajuda de um cuidador ou uma pessoa que lhe dê confiança e que
seja do mesmo sexo.
Continua...

103
... continuação
Quadro 5.12 Orientações para facilitar o banho
Banheiro seguro: barras de segurança horizontal e vertical, assentos elevados, tapetes
antiderrapantes, com cortina ao invés de box, torneira em alavanca. Se necessário, usar
uma cadeira com ajustes em diferentes alturas. Cobrir ou remover os espelhos e evitar
poças d'água no chão do banheiro.
Tornar o ambiente agradável, com produtos interessantes e que chamem a atenção do
paciente como sabonetes especiais e hidratantes, música e massagem nos pés.
Os banhos podem variar entre banhos no chuveiro, banhos com um pano, lavar o cabelo
num dia diferente, banhos de banheira e toalhas quentes úmidas, toalhas higiênicas, etc,.
Se o idoso ficar agitado, colocar música suave ou cantar junto com ele. Se necessário,
deixar que entre no chuveiro com roupa, assim pode querer se despir.
A frequência do banho pode variar. Não é imprescindível que o idoso tome banho diaria-
mente.

Problemas com o vestuário

O paciente com Alzheimer pode não ser capaz de se vestir ou perder o discerni-
mento para fazer escolhas apropriadas de roupas ou mesmo não sentir necessidade
de mudar suas roupas. Em todas essas situações, a intervenção do cuidador é impor-
tante, para auxiliar diante de eventual incapacidade, garantindo a preservação da sua
imagem social e da higiene. Seguir as orientações do Quadro 5.13.

Quadro 5.13 Orientações para o vestuário

Deixar o idoso participar da escolha de suas roupas, mas limitar suas opções, mostrando
apenas duas mudas de roupas, garantindo combinações esteticamente viáveis, confor-
me o clima ou estação.

Dar a ele peça a peça, na ordem de colocação e não o apressar. Evitar roupas com aces-
sórios complicados, como cintos, botões e fivelas.

Evitar o uso de chinelos e dar preferência aos calçados presos aos pés e antiderrapantes.

Depressão
A depressão é um transtorno mental frequente que acomete 1 a 2% dos idosos
em geral, aumentando sua incidência com o aumento da idade e que tem mais pre-
valência em Instituições de Longa Permanência para Idosos. A depressão subsindrô-
mica, que é a presença de somente alguns dos sintomas de depressão, é ainda muito
mais comum e pode atingir um quarto dos idosos brasileiros.

104
O que é?
A depressão se diferencia da tristeza por ser persistente,
durar semanas, meses e até anos e por causar impacto de
forma significativa na vida social, no trabalho e na saúde do
idoso. A depressão leva o idoso a uma situação de tristeza
extrema que atrapalha todas as atividades de sua vida.
É uma doença que afeta o organismo como um todo,
que compromete o físico, o humor e, em consequência, o
pensamento. Não é simplesmente um “baixo astral” passa-
geiro. Também não é sinal de fraqueza, falta de fé, falta de
vergonha na cara, ausência de pensamentos positivos ou uma condição que possa
ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço.
Em idosos pode assumir formas mais discretas e ser erroneamente confundida
com sintomas de outras doenças e até mesmo ser considerada um aspecto normal do
envelhecimento, sendo subdiagnosticada. Em muitos casos pode levar a déficits cog-
nitivos leves e simular um quadro demencial e interferir na qualidade do autocuidado.

Causas
• adaptações e perdas do processo de envelhecimento, a morte de familiares e
amigos, reforçando o próprio declínio;
• perda da independência e autonomia;
• mudança na autoimagem;
• mudanças e perdas de papéis (aposentadoria);
• renda reduzida que restringe as atividades de lazer e as necessidades básicas;
• doenças crônicas ou agudas;
• uso de álcool ou drogas;
• medicações.

Sinais e sintomas
• tristeza persistente, irritação ou apatia, pensamentos recorrentes de morte ou
suicídio;
• insônia, fadiga (sensação de perda de energia), desânimo ou falta de interesse
nas atividades antes prazerosas;
• perda da fé na vida ou da esperança (sensação de vazio);
• alterações do sono: excesso ou falta de sono;
• alteração do apetite ou mudanças no peso (aumento ou redução);

105
• autodepreciação, culpa, apatia, remorso e sentimentos de inutilidade;
• negligência nas práticas de higiene;
• indigestão, constipação;
• perda de memória (diminuição da capacidade de pensar ou de se concentrar);
• dor crônica;
• dor de cabeça;
• diminuição do interesse sexual.

Tratamento
É importante sempre esclarecer que a depressão não é uma “fraqueza de espí-
rito”, mas se origina da combinação de fatores hereditários, ambientais e pessoais
(modificações na quantidade de neurotransmissores e seus receptores).
O tratamento medicamentoso (antidepressivos) tem bons resultados e deve ser
imediato para acelerar a recuperação. Alem do uso regular da medicação prescrita, é
importante encorajar o idoso a realizar atividades físicas e sociais.
Muitos casos, principalmente de depressão leve, respondem bem à psicoterapia
isoladamente ou associada ao uso de medicamento. Nos casos moderados, é im-
prescindível tratamento farmacológico. E diante de sintomas muito graves, como os
idosos que se recusam a alimentar ou ingerir líquido ou com sintomas psicóticos e
ideação suicida, deverão ser encaminhados para acompanhamento com geriatra ou
psiquiatra. É fundamental que a família seja envolvida no tratamento da depressão.
O primeiro episódio de depressão em idosos deverá ser tratado por seis a 12 me-
ses (seguir indicação médica). Um segundo episódio deve ser tratado por pelo menos
dois anos ou mesmo indefinidamente, caso não haja expectativa de modificações
significativas nos fatores ambientais associados à depressão, como isolamento so-
cial e doenças crônicas incapacitantes. A suspensão do tratamento medicamentoso,
quando for recomendada, deverá ser feita gradativamente, com redução progressiva
da dose do medicamento e acompanhada por um profissional.

Orientações para o cuidado com idosos deprimidos:


• evitar o isolamento social, manter o paciente sempre com outras pessoas;
• estimular atividades físicas: caminhadas, corridas, andar de bicicleta, escutar
música suave, danças, trabalhos manuais, fazer exercícios de
relaxamento e atividades que promovam prazer ao idoso;
• evitar uso de drogas e álcool;
• estimular tarefas fáceis para o paciente, evitar metas difíceis;

106
• auxiliar o idoso a manter um ciclo normal de sono/vigília (rotina de horário
de dormir e acordar);
• auxiliar o idoso a assumir responsabilidades crescentes pelo autocuidado à
medida que for capaz de fazê-lo;
• evitar tomada de grandes decisões imediatamente;
• encorajar a procura de auxílio psicológico;
• encorajar a continuação do tratamento;
• verificar o uso do medicamento;
• estimular o idoso a ter um papel ativo no tratamento e na reabilitação.
• interagir com o idoso em intervalos regulares para transmitir carinho e atenção
e oferecer oportunidades para que possa falar sobre seus sentimentos;
• não ignorar referências ao suicídio. Todos aqueles que querem suicidar-se,
avisam que vão fazê-lo, mas raramente a família ou o cuidador entendem
o “recado”;
• compreender e ter paciência, estimulando-o e protegendo-o dele mesmo.

Atividade Integradora
A presença de esquecimento é comum em idosos e a suspeita de
doença de Alzheimer e outras demências ocorre frequentemente. Os
principais indicativos da presença de demência é a presença de de-
clínio funcional, principalmente, nas AVDs instrumentais que depen-
dem mais da cognição, como controlar as finanças, fazer compras e
sair sozinho (páginas 4 e 7). Algumas características do esquecimento
podem sugerir também o diagnóstico, como a dissociação entre a
percepção do esquecimento pelos familiares e pelo paciente (F>P),
a piora progressiva e a interferência do esquecimento na realização
de atividades do cotidiano, que, anteriormente, eram realizadas sem
dificuldades (perguntas 7, 8 e 9 do IVCF-20). A presença dessas ca-
racterísticas aumenta a suspeita de incapacidade cognitiva e devem
ser investigadas minuciosamente pelo médico de referência do idoso.
A depressão pode ser também causa de declínio cognitivo e deve
ser sempre investigada. As perguntas 10 e 11 do IVCF-20 auxiliam na
suspeita diagnóstica.

107
Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério
da Saúde, 2006. 192 p.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde. Guia prático do cuidador. Brasília: Minis-
tério da Saúde, 2008. 64 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
3. BREMENKAMP, M. G. et al. Sintomas neuropsiquiátricos na doença de Alzheimer:
frequência, correlação e ansiedade do cuidador. Revista Brasileira de Geriatria
e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 763-773, 2014.
4. BULECHEK, G. M. et al. Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC).
6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 640 p.
5. CHAIMOWICZ, F. Saúde do idoso. 2. ed. Belo Horizonte: Nescon UFMG, 2013. 167 p.
6. ELIOPOULOS, C. Enfermagem gerontólogica. 7. ed. Porto Alegre: Editora Art-
med, 2011. 568 p.
7. GAOVILLA, V. P.; CANINEU, P. R. Você não está sozinho... nós estamos com
você. São Paulo: Novo Século, 2013. 304 p.
8. MALAGUTTI, W. Cuidados de enfermagem em geriatria. Rio de Janeiro: Ru-
bio, 2013. 280 p.
9. MORAES, E. N. Atenção à saúde do idoso: aspectos conceituais. Brasília: Orga-
nização Pan-Americana da Saúde, 2012. 98 p.
10. MORAES, E. N. Incapacidade cognitiva: abordagem diagnóstica e terapêutica
das demências no idoso. Belo Horizonte: Editora Folium, 2010. 117 p.
11. MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação multidimensional do idoso. 5. ed.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2016. 248 p.
12. SEQUEIRA, C. Cuidar de idosos com dependência física e mental. Lisboa:
Lidel, 2010. 388 p.

108
Capítulo 6

Problemas da Marcha e
Quedas em Idosos Frágeis:
Instabilidade Postural

Edgar Nunes de Moraes


Raquel Souza Azevedo
Ana Beatriz de Pinho Barroso
Marcelo Andrade Starling
Andréa Luiza de Moura Santiago
O comprometimento da mobilidade é causa importante de declínio nas atividades
de vida diária em idosos. O subsistema funcional composto pela postura, marcha e
transferência, responsável pelo deslocamento do indivíduo, é fundamental para a
capacidade de realizar algo com os próprios meios (execução). A instabilidade postu-
ral é a perda da capacidade individual para o deslocamento no ambiente, de forma
eficiente e segura. O declínio funcional, o medo de cair e as quedas são as principais
complicações. Além das fraturas, outras complicações da queda são as lesões de par-
tes moles (contusão, hematoma, equimoses) e traumatismo cranioencefálico (TCE).
Assim, é frequente o ciclo vicioso em que todas as complicações da queda evoluem
para a imobilidade (Figura 6.1). Outro aspecto importante da instabilidade postural e
das quedas em idosos é o sentimento de decadência, fracasso, vulnerabilidade, humi-
lhação e, até mesmo, de culpa pela incapacidade de se evitá-los.

Figura 6.1 Funcionalidade e instabilidade postural

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
comando sobre as ações, estabelecendo Refere-se à capacidade de realizar
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções.

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Marcha, postura e transferência

INSTABILIDADE POSTURAL

Declínio Funcional QUEDAS Medo de Cair

Fratura por Fragilidade Traumatismo


Lesão de Partes Moles
Fêmur, rádio e vértebra Cranioencefálico (TCE)

IMOBILIDADE

110
Alterações de Marcha
A marcha é definida pelo conjunto de movimentos rítmicos e alternados do tronco
e extremidades visando à locomoção do corpo para a frente, sendo um processo de
aprendizado. Para uma marcha normal, é necessário o funcionamento coordenado
dos sistemas nervoso, osteomuscular, circulatório e respiratório, para que se tenha o
controle do equilíbrio e da postura em repouso e movimento.
As alterações de marcha no idoso normalmente são multifatoriais. O envelhecimento
está associado à redução do equilíbrio e dos reflexos posturais. A sarcopenia lentifica as
respostas motoras necessárias para um deslocamento seguro. Todavia, isoladamente, não
incapacita o indivíduo de caminhar. A “dificuldade para caminhar que impede a realização
de alguma tarefa do cotidiano” é sempre anormal, e não deve ser atribuída ao processo de
envelhecimento normal. Daí a sua valorização na realização do Índice de Vulnerabilidade
Clínico-Funcional 20 (IVCF-20), como visto no Capítulo 4. Nesses casos, deve-se procurar
algum problema de saúde ou medicamento que possa estar interferindo na deambulação.
A doença de Parkinson e outras causas de parkinsonismo, doenças cerebrovascu-
lares (AVC e outras causa de isquemia cerebral), doenças neurológicas (hidrocefalia de
pressão normal, doenças cerebelares, hematoma subdural, tumor), doenças osteomus-
culares (osteoartrite, deformidades musculoesqueléticas e afecções dos pés) podem
interferir significativamente na marcha dos idosos. Não se pode esquecer também das
neuropatias periféricas, que são comumente observadas na diabetes mellitus e na de-
ficiência de vitamina B12. Comprometem a condução nervosa e provocam fraqueza,
dormência ou queimação (parestesias) nos membros inferiores, lentificação da respos-
ta motora e, consequentemente, alterações da marcha.
Muitas vezes, a dor em membros inferiores pode interferir significativamente na
marcha, como ocorre na osteoartrite de joelhos ou da articulação coxofemoral (qua-
dril). Além da dor, essas doenças causam fraqueza na musculatura das coxas e das per-
nas, reduzindo a eficiência dos passos. Outra causa de instabilidade postural é a doen-
ça arterial periférica, que provoca isquemia nos membros inferiores quando o paciente
caminha determinada distância, sintoma conhecido como claudicação intermitente. A
presença de insuficiência venosa profunda pode também comprometer a marcha.
A reabilitação física realizada pela fisioterapia e/ou terapia ocupacional pode ser
bastante útil. As intervenções consistem no treino de força, da marcha e de estratégias
posturais, que devem ser feitas regularmente. Exercícios como o Tai Chi, Lian Gong e
Otago melhoram também a postura e a marcha, além de reduzirem o risco de quedas.
A prescrição de dispositivos de auxílio à marcha, como bengala, muletas e andado-
res, deve ser cuidadosa e sempre realizada por profissionais habilitados, como médicos,

111
fisioterapeutas ou terapeutas ocupacionais. Sua utilização sem avaliação e treinamento
adequados pode piorar mais ainda a instabilidade postural.

Quedas
A queda é uma mudança de posição inesperada,
não intencional, em direção ao chão ou em outro
nível mais baixo. Deve estar bem claro que cair “não
é normal da idade”. As quedas são frequentes na
população idosa, em especial em mulheres. Quanto
mais idoso for o indivíduo, maior a prevalência de
quedas. Entre idosos que vivem na comunidade, a
frequência anual varia entre 30 e 50%, sendo mais comum nos idosos muito idosos (80
anos ou mais), em que a prevalência de osteoporose é alta e, consequentemente, alto
risco de fratura de fragilidade (fêmur, coluna vertebral e rádio). Sabe-se também que en-
tre idosos que já tiveram uma queda, 2/3 apresentarão nova queda no ano subsequente.
As quedas estão fortemente associadas a complicações e, muitas vezes, são a
principal causa de declínio funcional e óbito nessa população. Aproximadamente
metade das quedas leva a algum tipo de lesão, que, na maioria das vezes, são con-
tusões menores e escoriações. Contusões mais graves, fraturas e hematoma subdural
ocorrem em cerca de 5% das quedas. A fratura de colo de fêmur, complicação tão
temida por sua alta mortalidade e elevado risco de incapacidade permanente, ocorre
em apenas 1% das quedas. Por outro lado, mais de 50% dos idosos com quedas
de repetição vão desenvolver o medo de cair novamente, gerando o ciclo vicioso da
instabilidade postural. Alguns estudos mostram que acidentes relacionados a quedas
correspondem a 40% dos eventos que levam o idoso à institucionalização.
As quedas são frequentemente omitidas pelos idosos e familiares e, quando re-
latadas, não são valorizadas pelos profissionais da saúde. Essa omissão deve-se, em
parte, à ideia de que sua presença é consequência da negligência de quem cuida
do idoso, que poderá ser acusado de ter “deixado o idoso cair”. A grande maioria
das quedas não guarda alguma relação com negligência, nem por parte do idoso,
tampouco por parte do cuidador. Esse mito deve ser fortemente combatido, pois só
agrava mais ainda o problema. Deve-se evitar acusar o idoso de “falta de cuidado”
ou de “assustá-lo” demasiadamente quanto às possíveis complicações das quedas, o
que pode agravar mais ainda o sentimento de baixa eficácia ou o medo de cair nova-
mente. É importante deixar claro que o idoso “não cai porque quer”, mas sim por ter

112
algum problema de saúde. A queda é, portanto, um sinal, que deve ser reconhecido,
investigado e tratado adequadamente.

Queda não é sinal de negligência, nem do idoso nem do cuida-


dor, mas sim de um problema de saúde, que deve ser investigado
e tratado.

Causas
As quedas podem ter causas internas e externas. As causas internas ou intrínsecas
são secundárias às alterações próprias do processo de envelhecimento e de doenças
que podem estar presentes, além de efeitos adversos de medicações (Quadro 6.1). As
causas externas ou extrínsecas estão relacionadas aos riscos presentes no ambiente
em que o idoso interage, seja na sua própria casa ou em locais públicos, transporte
coletivo, entre outros (Quadro 6.2).

Quadro 6.1 Principais tópicos do Estatuto em relação ao idoso

Medicamentos

Polifarmácia: uso de cinco ou mais medicamentos por dia.


Uso de tranquilizantes: remédios para dormir, como o clonazepam, diazepam, bromaze-
pam, flunitrazepam, entre outros.
Uso de antidepressivos: amitriptilina, imipramina, fluoxetina, etc.
Uso de antipsicóticos e medicamentos sedativos: prometazina, haloperidol, clorpromazi-
na, tioridazina, levomepromazina, carbamazepina, barbitúricos, etc.
Medicamentos anti-hipertensivos: metildopa, nifedipina, diuréticos, etc.

Alterações próprias de envelhecimento Doenças ou problemas de saúde

Hipotensão ortostática: queda da pressão


arterial quando o paciente fica de pé;
Redução do equilíbrio associado à
Doenças cardiovasculares: arritmias,
alteração da visão, propriocepção
insuficiência cardíaca, crise hipertensiva,
(percepção da localização do corpo) e
valvulopatias, etc;
função vestibular (labirinto);
Doenças neurológicas: doença de
Alterações posturais, com aumento
Parkinson, doença de Alzheimer, acidente
da cifose torácica e inclinação do tronco
vascular cerebral, tumor cerebral,
para frente;
epilepsia, delirium, etc;
Redução da distância e altura do passo,
Labirintopatias;
com lentificação da marcha;
Redução da audição;
Mais tendência à fraqueza muscular;
Osteoartrite e fraqueza muscular
Alterações dos pés, como calosidades e
(sarcopenia);
joanete.
Depressão;
Incontinência ou urgência miccional.

113
Alguns comportamentos são considerados fatores de risco para quedas e devem ser
evitados (Quadro 6.2; Figura 6.2).

Quadro 6.2 Comportamentos de risco para quedas

Fatores ambientais

Ambientes com iluminação inadequada: pouca iluminação ou luz ofuscante.

Superfície escorregadia: piso do banheiro molhado, pisos escorregadios, com água


ou muito encerados. Tapetes soltos ou com dobras.

Tacos soltos no chão.

Móveis inadequados: móveis instáveis, cadeiras de balanço, camas e sofás muito baixos.

Rampas e escadas: rampas íngremes e sem corrimão dos dois lados; degraus altos ou
estreitos.

Ambiente com objetos espalhados que podem fazer tropeçar: fios, brinquedos,
mesinha de centro.

Degraus na soleira da porta.

Animais domésticos.

Via pública: má conservação das ruas, buracos ou irregularidades, como raízes de


árvores. Utilizar sempre a calçada ou passeio.

Comportamentos de risco para quedas

Subestimar o risco de quedas.

Evitar vestir ou calçar meias e sapatos de pé.

Uso de roupas muito compridas que arrastam no chão.

Não pedir ajuda quando houver algum risco ambiental.

Ir ao banheiro à noite, sem alguma adaptação ambiental.

Deixar as luzes apagadas durante toda a noite.

Caminhar na rua de forma desatenta ou conversando com outras pessoas.

Carregar objetos pesados.

Uso excessivo de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas.

Uso de medicamentos tranquilizantes para dormir.

Não usar óculos ou aparelhos auditivos de outras pessoas.


Continua...

114
... continuação

Quadro 6.2 Comportamentos de risco para quedas

Comportamentos de risco para quedas

Não se alimentar de forma correta, permanecendo muito tempo sem comer.

Subir em bancos, escadas, cadeiras ou no telhado da casa.

Sempre atravessar a rua na faixa de pedestres, respeitando o semáforo. Em avenidas


mais largas, calcular o tempo necessário para a travessia, conforme a velocidade da
marcha do idoso. Não corra.

Quando for andar de ônibus, deixar para pegar os documentos depois que estiver
assentado. Ao ficar de pé, segurar firme com as duas mãos.

Figura 6.2 Comportamento de risco e comportamento correto

Comportamento de risco Comportamento correto

Certas características do episódio de queda devem ser bem detalhadas para facilitar
o diagnóstico e o tratamento (Quadro 6.3). Algumas adaptações ambientais podem
aumentar a segurança do idoso (Quadro 6.4).

115
Quadro 6.3 Caracterização do episódio de queda

As quedas que levam a grandes incapacidades funcionais


usualmente ocorrem dentro de casa, após uma “queda boba”
e da própria altura. A fratura por fragilidade é típica do idoso
Local: dentro
frágil, que provavelmente apresenta instabilidade postural e/ou
ou fora de casa
sarcopenia e que tem dificuldade para caminhar sozinho fora
de casa. Além disso, essa informação direciona as adaptações
ambientais necessárias para aumentar a segurança do idoso.

O idoso precisou A dificuldade para levantar-se sozinho após uma queda, inde-
de ajuda para pendentemente de complicações é um marcador de mau prog-
levantar-se nóstico e declínio funcional. Estima-se que metade dos idosos
do chão? não consegue levantar-se sozinho após um episódio de queda.

A queda o(a)
levou a procurar o Esta informação é útil para avaliar a gravidade potencial da queda.
serviço de saúde?

Houve perda A perda da consciência ou convulsão sugere a possibilidade de


da consciência, doença cardiovascular ou neurológica. Merecem investigação
desmaio ou mais detalhada, pois apresentam pior prognóstico. Esses sinto-
convulsão? mas são frequentes na hipoglicemia.

Quadro 6.4 Principais adaptações ambientais para redução do risco de quedas

Deixar o espaço livre para movimentar-se: retirar móveis que obstruam a passagem e
liberar os espaços de circulação. Reorganizar os móveis e evitar obstáculos no chão,
como fios, tapetes, objetos espalhados. Não deixar objetos espalhados nos trajetos por
onde o idoso anda.

Evitar muitas mudanças desnecessárias na casa e deixar ao seu alcance, tudo que for útil.

Evitar tapetes de tecidos ou retalhos, soltos ou sobre pisos encerados ou, se não for possí-
vel, substituir por tapetes emborrachados e antiderrapantes.

Não usar cera no chão para não deixar o piso escorregadio, aumentando o risco de
quedas. Cuidado com pisos molhados.

Cuidado com degraus e escadas. Ao subir ou descer escadas ou rampas, segurar sempre
no corrimão. Se possível, utilizar faixa antiderrapante de cor contrastante próximo da
borda do degrau como sinalizador do tamanho do mesmo. Evitar escadas com degraus
estreitos ou irregulares. A escada deve ter corrimãos nos dois lados e fita antiderrapante
nos degraus, além de interruptor de luz no início e no final da escada.

Barras de apoio na altura correta para mais segurança e independência durante a movi-
mentação do idoso.

Iluminação adequada: manter durante a noite sempre uma luz acesa no banheiro ou
corredor (luz de vigília). Evitar acender a luz imediatamente após o idoso levantar-se da
cama, pois a lentificação do reflexo pupilar pode aumentar mais ainda o risco de quedas.
Continua...

116
... continuação

Quadro 6.4 Principais adaptações ambientais para redução do risco de quedas

Utilizar armários e prateleiras em alturas mais baixas, para evitar que o idoso fique na
ponta dos pés e/ou suba em bancos. Os armários devem ser de fácil alcance e fixados
na parede.

Vasos sanitários mais altos e barras de apoio horizontais e verticais: os elevadores de


vaso sanitários podem ser usados, são de fácil colocação, adaptáveis em sanitários
convencionais e encontrados em lojas de materiais de construção.

Evitar animais de estimação soltos pela casa.

Durante o banho, se necessário, utilizar a cadeira própria para banho. Evitar banheiros
com box de vidro ou "blindex". Preferir cortinas, para facilitar o socorro do paciente,
em caso de queda.

Evitar situações arriscadas como subir em escadas, cadeiras e bancos para alcançar objetos.

Estimular o idoso frágil a fazer caminhadas estando sempre acompanhado. Isso ajuda a
fortalecer os músculos.

Orientações como a remoção de óculos multifocais durante a caminhada ou durante o


subir ou descer escadas podem reduzir os riscos de quedas.

Usar dispositivo para auxiliar a marcha (andador,


muletas e bengala) com indicação de um profissional habilitado.

Camas e poltronas nas alturas adequadas. Evitar sofás e


poltronas sem braços. Preferir sofás mais altos e firmes.

Alguns cuidados específicos devem ser tomados ao longo do dia (Quadro 6.5), pois
são fatores de risco para quedas.
O uso de bengalas pode ser útil em alguns idosos. A indicação de dispositivos de
auxílio para deambulação deve ser feita por profissionais habilitados, pois, caso contrá-
rio, podem agravar mais ainda a instabilidade postural e o risco de quedas.
As principais vantagens da bengala são:
• aumentar a base de apoio;
• melhorar o equilíbrio e diminui a dor;
• diminuir a carga de apoio nos membros inferiores no máximo em 20% do peso
corporal;
• ajudar na aceleração e desaceleração da marcha.

Todavia, alguns cuidados são indispensáveis, como mostrado no Quadro 6.6.

117
Quadro 6.5 Cuidados ao longo do dia

No início da manhã

Ao levantar da cama, o idoso deve permanecer assentado por mais um ou dois minutos.

Ao ficar de pé, ter à frente um apoio firme (barra de apoio ou sua bengala/andador),
e se caso surgir algum sintoma assentar novamente.

Durante a noite

Se o idoso despertar à noite para urinar, tomar os cuidados acima para levantar-se
da cama.

Manter uma luz acesa (luz de vigília) e se o idoso preferir utilizar um urinol dentro
do quarto.

Nunca levantar no escuro, tampouco andar com meias.

Ao longo do dia

Evitar que o idoso permaneça por longos períodos assentado, deitado ou de pé.

Evitar abaixar e levantar-se bruscamente para apanhar objetos no chão.

Não se levantar rapidamente da mesa após refeições copiosas (“comida pesada“),


pelo alto risco de hipotensão ortostática.

118
Quadro 6.6 Uso de bengalas em idosos

As bengalas não são todas iguais. Existem bengalas de madeira e de alumínio. Esta
última pode ser ajustada mais facilmente. A bengala de madeira precisa ser cortada na
altura correta, conforme a estatura do idoso.

A bengala deve estar ajustada conforme a altura do idoso. A parte superior da bengala
deve estar na mesma altura do punho do paciente, quando seu braço estiver esticado. A
altura da bengala geralmente equivale à metade da estatura do idoso, usando sapato.

Sempre utilizar uma "cordinha" presa na bengala, para dar mais liberdade para o idoso.

O ombro não deve se elevar quando o idoso caminha com a bengala, para se evitar
lesões locais.

As ponteiras da bengala devem ser emborrachadas e antiderrapantes para não escorre-


gar e devem ser trocadas regularmente. É possível encontrá-las em farmácias.

A bengala deve ficar ao lado do corpo para não tropeçar nela, fora do percurso do pé,
cerca de 15 a 20 cm dos dedos dos pés.

Manter a bengala bem higienizada.

Recomenda-se o treinamento do uso da bengala com profissionais habilitados.

O uso de andador é mais indicado nos pacientes que necessitam de muito auxí-
lio para obter estabilidade, tanto no ortostatismo (de pé), quanto para andar. Eles
fornecem mais segurança por apresentar base mais alargada. Todavia, necessitam de
treinamento para otimização do gasto energético. Existem diversos tipos: dobrável,
triangular (com uma roda anterior), quadrangular (com duas rodas anteriores ou duas
ponteiras de borrachas anteriores), reciprocado (com dobradiças que permitem a reci-
procação). Cada um deles tem uma indicação específica.
Na presença de queda com dor forte e dificuldade para se mover, recomenda-se
que o idoso permaneça no mesmo local, movimentando-se o mínimo possível e solici-
tar socorro. Discar 192 (SAMU).

Principais afecções nos pés de idosos


A avaliação dos pés é fundamental na prevenção de quedas e na melhoria da mar-
cha. O pé é o segmento de maior contato com o solo, responsável pela sustentação do
corpo, deslocamento do indivíduo na superfície e manutenção do equilíbrio estático
e dinâmico, graças a sua complexa constituição: 28 ossos, 107 ligamentos e 22 arti-
culações. É dividido em retropé (região do calcanhar), mediopé (parte média do pé))
e antepé (região dos dedos ou artelhos). Os principais movimentos do pé são a flexão
dorsal (dorsiflexão), flexão plantar (extensão ou plantiflexão), inversão (desvio da bor-

119
da medial do pé em direção a parte medial da perna), eversão (desvio da borda lateral
do pé em direção a parte lateral da perna), abdução e adução. A fáscia plantar é uma
fáscia fibrosa que liga o calcâneo à cabeça dos metarsos, distribuindo o peso ao longo
do pé. As principais afecções dos pés são:
• unha encravada: é a inflamação do “canto” da unha, causada pelo cresci-
mento desordenado da extremidade lateral da unha em direção à pele, com
encravamento local e, consequentemente, inflamação, dor intensa e ferida,
que podem complicar-se com infecção bacteriana e drenagem de pus no lo-
cal. A presença de unhas largas e grandes facilita a lesão, particularmente
quando o idoso tem hábito de cortar as unhas arredondando os ângulos. É
mais frequente no hálux ou “dedão do pé”. Na presença de diabetes, a unha
encravada tem maior risco de complicações, predispondo a infecções da pele
(erisipela e celulite), osteomielite, gangrena e, até mesmo, amputação. Reco-
menda-se o uso de calçados confortáveis, deixar as unhas mais longa e retas
e evitar cortar cutículas;
• unhas espessas e encurvadas (onicogrifose): o envelhecimento das unhas
predispõe a crescimento exagerado das unhas dos pés, com espessamento,
aumento da comprimento e da curvatura da unha. A unha torna-se mais gros-
sa e escura, com aparência de chifre de carneiro (“unhas em chifres de car-
neiro”) ou de garras (“unhas em garra”). Traumatismos locais e alterações do
formato do pé predispõe à lesão;
• joanete (hálux valgus): é um desvio lateral do hálux, simulando uma saliên-
cia óssea que se forma na base na sua articulação, conhecida com metatarso-
-falangeana. Não há aumento da formação óssea, mas sim um desvio articular,
causado pelo uso de calçados inadequados (bico fino e salto alto) associado à
hereditariedade. A aparência é de uma protuberância na borda interna do pé
(“calo ossudo na região do dedão do pé”), que é dolorosa e causa calosida-
des locais e deformidade no pé, dificultando o uso de calçados fechados. Em
casos mais graves, o hálux desvia os outros dedos menores, posicionando-se
sobre ou abaixo de segundo dedo (“dedos cavalgados”), ou levando ao des-
vio lateral dos outros dedos, que tornam-se flexionados (“dedos em garra”),
aumentando mais ainda o desconforto local;
• sobreposição dos dedos: são deslocamentos laterais ou em flexão dos dedos
dos pés, especialmente o II e III, levando a deformidades conhecidas como
“dedos em martelo, garra ou taco de golfe”. A consequência da deformidade
é a formação de calosidades no dorso ou na planta dos pés, que surgem em

120
função do atrito com calçados inadequados. A dor local e a distorção dos pés
aumenta o risco de quedas e dificulta a marcha do paciente;
• calosidades: podem ser plantares ou interdigitais. Caracterizam-se pela pre-
sença de áreas de hiperceratose na região plantar, secundária ao aumento de
pressão local, especialmente na cabeça dos metatarsos. É frequente nos pés
cavos, dedos em garra ou em martelo, diabetes mellitus, artrite, obesidade e
uso de calçados com salto alto. O paciente refere desconforto local e perda do
apoio plantar. As calosidades interdigitais são áreas de hiperceratose na super-
fície interna dos artelhos, decorrentes do atrito entre os dedos, causando dor
ao uso de calçados fechados, salto alto ou de bico fino;
• rachaduras: são causadas pelo ressecamento da pele dos pés, levando a fis-
suras ou rachaduras nos calcanhares, que frequentemente levam a dor, san-
gramento local e infecção local, particularmente nos diabéticos. Os fatores
predisponentes são o uso de sandálias baixas e abertas nos calcanhares, andar
com o pé descalço, clima sexo e baixa hidratação. A pele fica dura, mais espes-
sa e áspera, dando a sensação de “lixa”;
• úlcera ou ferida: a presença de úlceras ou feridas nos pés é consequência
de calosidades, fissuras ou traumas locais, principalmente em idosos com in-
suficiência venosa profunda (“úlcera de estase”) ou doença arterial isquêmica
periférica (“úlcera isquêmica”). Podem ser complicar com infecções bacteria-
nas, gangrena e amputação, principalmente em idosos diabéticos. O “pé dia-
bético” é caracterizado pela presença de úlcera isquêmica na região plantar
ou outras regiões dos pés, com rápida evolução para gangrena e amputação;
• micose entre os dedos: é a infecção por fungos na região interdigital, levan-
do a lesão local com descamação e dor local. Também conhecida com o nome
de “pé de atleta”. Tem preferência por áreas mais úmidas dos pés, particular-
mente entre os dedos, onde é comum o idoso não enxugar corretamente. O
uso constante do mesmo sapato é fator predisponente;
• dormência: a queixa de dormência ou alterações da sensibilidade nos pés, como
“queimação” e parestesia, é sugestiva de neuropatia periférica, principalmente
em idosos diabéticos. A perda da sensibilidade local aumenta o risco de lesões ou
traumas locais, na medida em que o paciente não tem a sensação de desconforto
quando faz uso de calçados inadequados ou quanto tem algum trauma local;
• um pé está mais frio que o outro: esta sensação sugere a presença de
doença arterial periférica, causada pela aterosclerose ou obstrução arterial lo-
cal. O paciente usualmente queixa-se de dor local quando faz caminhadas ou

121
sobe morro, que melhora quando o paciente está em repouso. Este sintoma é
chamado de “claudicação intermitente”.

Outras alterações frequentes nos pés são:


• Fasciíte plantar (“esporão do calcâneo”): é uma inflamação da fáscia plantar,
mais comum em mulheres, caracterizada pela presença de dor na região plantar,
principalmente na fase inicial da caminhada (“dor do primeiro apoio matinal”)
ou após permanecer longo período sem carga sobre a superfície plantar. Cre-
pitações ou nodosidades podem ser percebidas na palpação da fáscia plantar.
É frequente a presença de neoformação óssea na face plantar do calcâneo, na
forma de espícula óssea, conhecida como “esporão do calcâneo”. A dor não é
causada pela neoformação óssea, mas sim, pela inflamação da fáscia plantar;
• atrofia do coxim plantar: degeneração do coxim viscoelástico da planta dos
pés, principalmente no calcanhar e sob as cabeças metatarseanas, desenca-
deando dor local.

Recomenda-se a observação regular dos pés de todos os idosos. Deve-se anotar o


tipo de alteração percebida e a sua localização, conforme a Figura 6.1. Nesse exemplo,
o idoso apresentava unha encravada no hálux esquerdo, joanete no pé direito, calosi-
dade na região plantar do pé esquerdo e micose entre o 3º e 4º artelhos do pé direito.

Figura 6.1 Registro das alterações nos pés

1
8
3 5

6 6
1 – Unha encravada?.............................................(x) sim ( ) não
2 – Unhas espessas e encurvadas?........................( ) sim (x) não
3 – Joanete?..........................................................(x) sim ( ) não
4 – Sobreposição de dedos?.................................( ) sim (x) não
5 – Calosidades?....................................................(x) sim ( ) não
6 – Rachaduras?....................................................(x) sim ( ) não
7 – Úlcera/ferida?..................................................( ) sim (x) não
8 – Micose entre os dedos (“frieira”)?..................(x) sim ( ) não
9 – Dormência?.....................................................( ) sim (x) não
10 – Um pé está mais frio que o outro.................( ) sim (x) não

122
Todas as alterações descritas podem melhorar significativamente com o uso de cal-
çados adequados (Quadro 6.7) e com palmilhas específicas para o problema do idoso.

Quadro 6.7 Orientações para uso correto de calçados em idosos

Evitar calçados altos ou com solado liso. Saltos não são recomendados.

Preferir solado emborrachado e antiderrapante.

Preferir calçados sem costura ou acabamento interno saliente.

Preferir calçados com amortecimento na região do calcanhar.

Utilizar calçados com um bom arcabouço posterior de sustentação.

Evitar calçados com a sola gasta.

Evitar chinelos ou calçados mal-adaptados aos pés.

Evitar calçados com estrutura anterior muito estreita, para não comprimir dedos e
unhas. Usar calçados ajustados ao tamanho do pé. Deixar uma sobra de 12 a 15 mm
da ponta do pé até o final da palmilha. O calçado deve ficar levemente folgado nos
pés. Dar preferência a calçados fechados, confortáveis, com sola de borracha, salto
baixo e que não escorreguem.

A presença de hálux valgo (joanete) limita a escolha do calçado. Nesses casos, preferir
calçados com largura anterior e de tecido com mais flexibilidade para possibilitar o
conforto e evitar o atrito na protuberância óssea do joanete.

Evitar chinelos "de dedo", do tipo “havaianas”, principalmente com meias. Se usar
sandálias, dar preferência às que tenham tiras de fixação no tornozelo e velcros.

Preferir comprar sapatos no final do dia, para melhor ajuste aos pés.

123
Atividade Integradora
A página 9 do guia de saúde avalia a presença de quedas, que não
é “normal da idade” e deve ser sempre investigada. Além da queda
propriamente dita, é importante se avaliar a presença do medo de cair,
que pode causar limitação funcional importante para o idoso. A ca-
racterização do episódio de queda é importante para a definição das
prováveis causas e do prognóstico do paciente. Idosos que não conse-
guem levantar-se sozinhos após uma queda apresentam prognóstico
pior, pois, provavelmente, são mais frágeis.
O IVCF-20 (página 4, 5 e 6), por sua vez, avalia a marcha (questões 15
e 16) e contribui para a identificação do “idoso caidor”.
A página 12 avalia a necessidade do uso de dispositivos de auxílio à
marcha, que são muito úteis, desde que indicados por profissionais
habilitados.
A avaliação dos pés e dos calçados é parte integrante das medidas
indispensáveis para a proteção do idoso (página 11).
Os riscos ambientais são detalhados na página 13 que apresenta as prin-
cipais intervenções ambientais capazes de reduzir o risco de quedas.

Referências
1. FREITAS, R. et al. Cuidado de enfermagem para prevenção de quedas em idosos:
proposta para ação. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 64, n. 3, p.
478-485, maio/jun. 2011.
2. GUIMARAES, R. M.; CUNHA, U. G. V. Sinais e sintomas em geriatria. 2. ed. Rio
de Janeiro: Editora Atheneu, 2004. 312 p.
3. MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação multidimensional do idoso. 5. ed.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2016. 248 p.
4. PICKLES, B. et al. Fisioterapia na terceira idade. 2. ed. São Paulo: Santos Edi-
tora, 2000. 498 p.
5. SANTIAGO, A. L. M. et al. Mobilidade, quedas e qualidade de vida em idosos
comunitários. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 17, n. 2, p. 29-36, abr./
jun. 2004.

124
Capítulo 7

Imobilidade e Cuidados
com a Lesão por Pressão

Raquel Souza Azevedo


Tatiane Kelly de Oliveira Linhares
Edgar Nunes de Moraes
Conceito
A imobilidade é a perda total ou parcial da capacidade individual de deslocamento
e de manipulação do meio. Habitualmente é a consequência final das outras grandes
síndromes geriátricas. É, sem dúvida, a grande ameaça representada pelo “envelheci-
mento”. A maioria das pessoas associa imobilidade à velhice, como se houvesse uma
relação direta de causa e efeito. A redução da mobilidade jamais deve ser considerada
inerente ao envelhecimento normal. Uma vez constatada, deve-se sempre buscar a
causa, que, na maioria das vezes é multifatorial. A imobilidade é sempre consequên-
cia de problemas graves de saúde. Todavia, “imobilidade gera imobilidade”, levando
à cascata da dependência, que pode ser temporária ou permanente. Muitas vezes,
é considerada um processo irreversível e terminal, com poucas intervenções a serem
propostas. Contudo, na atenção à saúde do idoso, “sempre há o que fazer”, mesmo
que seja somente a recuperação da capacidade de mudança de decúbito ou trans-
ferência ou, até mesmo, o conforto da família, a partir da simplificação terapêutica.

Causas
A imobilidade pode ocorrer de forma aguda ou crônica. A forma aguda tem como
causa predominante as doenças de instalação súbita, como quedas, fratura do fêmur,
acidente vascular encefálico, pós-operatório complicado, descompensação cardíaca
aguda ou em alguns processos infecciosos, que são condições agudas passíveis de
tratamento e/ou reabilitação total. A imobilidade crônica pode seguir-se às causas
agudas ou na fase avançada de doenças crônico-degenerativas, como a doença de
Alzheimer, doença de Parkinson, osteoartrite, insuficiência cardíaca ou respiratória,
entre outras causas. Outros fatores de risco que podem agravar a imobilidade são a
insuficiência familiar (limitação econômica, inviabilidade de cuidador, exaustão fami-
liar, negligência) e a baixa acessibilidade no ambiente onde o idoso vive.
Estima-se que 30 a 40% dos idosos internados desenvolvem algum tipo de
imobilidade após a internação hospitalar, independentemente da causa da inter-
nação, particularmente quando o idoso é transferido para unidades de tratamento
intensivo ou quando necessita de pelo menos um dispositivo com efeito imobiliza-
dor, como máscara de oxigenioterapia, respirador, equipo simples de soroterapia
ou bomba de infusão, sonda nasogástrica ou nasoentérica, sonda de drenagem
vesical, drenos (crânio, tórax, abdômen), oxímetro digital e a contenção no leito.
A utilização desses dispositivos deve ser reservada para os casos em que a relação
risco-benefício seja favorável.

126
O uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, principal-
mente os benzodiazepínicos, são fatores de risco frequentes, que devem ser pesqui-
sados rotineiramente. Entre os fatores socioambientais, destacam-se o isolamento
social, a contenção física no leito, calçados inadequados, dispositivos de ajuda (ben-
gala, andador) mal-indicados e ausência de adaptação ambiental para idosos com
distúrbios da marcha.
As amputações de membros inferiores, uni ou bilaterais, causadas pela doença
arterial periférica complicada com gangrena podem ocorrer em idosos diabéticos
ou naqueles portadores de aterosclerose. O fumo é o principal fator de risco para
amputação de membros inferiores, principalmente quando associado à hipertensão
arterial, dislipidemia e outras doenças cardiovasculares.
Cuidadores, profissionais de saúde e as instituições podem deixar de assumir ati-
tudes que visem à prevenção da imobilidade, por negligência, mesmo cientes dos ma-
lefícios associados. Excesso de trabalho, pouca disponibilidade, não cooperação do
paciente e desinteresse pessoal são argumentos largamente utilizados. A imobilidade
forçada, por ação proposital de terceiros, sem indicação médica agrava situações
imobilizantes primárias.

Complicações
A imobilidade está associada à cascata da dependência, pois é autoperpetuante,
na medida em que traz profundas alterações em praticamente todos os sistemas fi-
siológicos principais, conforme pode ser visto na Quadro 7.1. Todas as complicações
da imobilidade podem gerar ou agravar ainda mais a imobilidade (“imobilidade gera
imobilidade”). As principais causas de óbito são a falência de múltiplos órgãos, pneu-
monia, embolia pulmonar e a septicemia.

Quadro 7.1 Complicações da imobilidade

Sistema Fisiológico Complicações

• mais tendência à hipotensão ortostática ou postural, com


tontura ao levantar-se rapidamente;
Sistema • risco de trombose venosa profunda e, consequentemente, de
Cardiovascular embolia pulmonar;
• redução da capacidade aeróbica, com diminuição da tolerân-
cia ao exercício e dispneia de esforço.
Continua...

127
... continuação

Quadro 7.1 Complicações da imobilidade

Sistema Fisiológico Complicações

• redução da circulação de ar nos pulmões, com redução da


capacidade pulmonar;
• tosse mais ineficaz;
Sistema Respiratório • aumento na produção e retenção de secreção respiratória;
• alto risco de atelectasias, tromboembolismo pulmonar e in-
suficiência respiratória;
• risco de aspiração pulmonar e pneumonia.

• redução do apetite;
• alto risco de subnutrição e caquexia;
• redução da ingestão hídrica (desidratação) e alto risco de as-
Sistema Digestivo piração pulmonar;
• agravamento da doença do refluxo gastroesofágico;
• constipação intestinal e fecaloma: cerca de 30% dos idosos
acamados desenvolvem fecaloma.

• aumento do volume residual da bexiga e alto risco de reten-


ção urinária (bexigoma);
• alto risco de incontinência urinária de urgência, transborda-
mento e/ou funcional;
• limitação da atividade sexual;
Sistema Urinário
• alto risco de infecção urinária aguda ou recorrente e bacte-
riúria assintomática;
• calculose renal: a imobilidade causa acentuada perda de cál-
cio na urina (hipercalciúria da imobilidade), aumentando o
risco de cálculo renal.

• intertrigo ou “inflamação” nas regiões de dobras cutâneas,


particularmente nas regiões inframamária e interglútea;
• dermatite amoniacal da “fralda”;
• micoses principalmente na região inguinocrural e região das
fraldas (dermatite perineal);
• escoriações, lacerações e equimoses frequentemente causa-
Sistema
das por manipulação inadequada do idoso e podendo de-
Tegumentar
nunciar maus-tratos;
• xerodermia ou “pele seca”;
• coceira na pele;
• atrofia cutânea e alto risco de erosão ou feridas;
• lesão por pressão por compressão prolongada da pele leva a
comprometimento da circulação local.
Continua...

128
... continuação

Quadro 7.1 Complicações da imobilidade

Sistema Fisiológico Complicações

• redução da massa e da função muscular (sarcopenia), com dimi-


nuição da capacidade aeróbica/muscular, com dispneia de esforço;
• rigidez e encurtamento muscular com contratura das articulações;
• o tecido articular e periarticular sofre alterações degenerati-
vas idênticas às descritas na osteoartrite, associado a enrije-
cimento articular e periarticular, encurtamento dos tendões.
Dor articular (artaralgia) é frequente nos idosos acamados;
• redução variável da amplitude de movimento e flexibilidade
Sistema
articular;
Musculoesquelético
• imobilidade prolongada pode causar contraturas e rigidez
generalizada, agravando mais ainda a imobilidade;
• perda da massa óssea, que pode chegar a 1% por semana
de imobilidade;
• fraturas espontâneas;
• aumento do cálcio no sangue (hipercalcemia) e acentuada
perda de cálcio na urina (hipercalciúria), favorecendo o apa-
recimento de “pedras nos rins”.

• neuropatias de compressão neural (nervos ulnar, mediano,


ciático e fibular);
• alteração no padrão e arquitetura do sono, com prejuízo do
ritmo circadiano;
Sistema
• compressão de nervos periféricos, podendo causar “neurites”,
Neuro-Psíquico
principalmente nos nervos ulnar, mediano, ciático e fibular;
• ansiedade, depressão, labilidade emocional, medo e alucinações;
• desorientação temporal e espacial;
• agravamento do déficit cognitivo e depressão.

O custo associado à imobilidade é elevado. Esses pacientes demandam assistência


multidisciplinar diferenciada, cuidados 24 horas, além de adaptação ambiental, dis-
positivos de ajuda, camas, oxigenioterapia, sondas, aspiradores, cateteres, nutrição
enteral, etc. As complicações da imobilidade podem ser adiadas pela atuação integra-
da da equipe multidisciplinar.

A imobilidade muitas vezes não pode ser evitada, mas


muitos efeitos adversos podem ser prevenidos por meio
de intervenções estratégicas.

129
Classificação
A imobilidade pode ser classificada conforme a capacidade de locomoção ou des-
locamento do indivíduo, que inclui a capacidade de deambular sem e com ajuda,
transferir-se (levantar-se sozinho e mudar de posição), sentar-se, mudar de decúbito e
movimentar os membros. Pode ser parcial (grau I a IV) ou total, conforme Quadro 7.2.
O termo acamado é pouco definido. Considera-se idoso acamado aquele que não
consegue mais sustentar o tronco na posição sentada, ou seja, a partir da imobilidade par-
cial grau III. O idoso com imobilidade total apresenta alto grau de dependência em AVDs
básicas e não consegue mais alimentar-se sozinho, sem ajuda (dependência completa).

Quadro 7.2 Classificação da gravidade da imobilidade


Mudar de Movimentar
Gravidade Deambular Transferir Sentar
decúbito membros

Grau 1: necessita de
suporte para locomoção
(andador ou cadeira de
Incapaz Capaz Capaz Capaz Capaz
rodas), mas consegue fazer
transferência e permanecer
sentado sem ajuda.

Grau 2: o idoso é capaz de


permanecer sentado sem
suporte e de movimentar os
Incapaz Incapaz Capaz Capaz Capaz
braços, mas não é capaz de se
levantar da cadeira e de per-
manecer em pé, sem auxílio.

Grau 3: o idoso é capaz de


rolar na cama, mudar o de-
cúbito e movimentar mem- Incapaz Incapaz Incapaz Capaz Capaz
bros. Nesta fase, o idoso já é
considerado acamado.

Grau 4: o idoso não é ca-


paz de fazer transferência
nem de sustentar o tronco
na posição sentada. Conse-
Incapaz Incapaz Incapaz Incapaz Capaz
gue movimentar membros
com dificuldade, mas não é
capaz de fazer mudança de
decúbito.

Grau 5 ou imobilidade
total: o idoso não consegue
realizar qualquer movimen- Incapaz Incapaz Incapaz Incapaz Incapaz
to, incluindo a movimenta-
ção dos membros.

130
Orientações

Orientações de cuidado para prevenção


de contraturas e encurtamento muscular
A abordagem terapêutica da imobilidade tem como objetivos principais a reversão
da limitação, quando possível, e a prevenção de complicações da própria imobilidade,
evitando, assim, a cascata da dependência. É fundamental que haja participação do
idoso, de sua família e do cuidador em todo o processo terapêutico. Devem-se conhe-
cer as capacidades e limitações do idoso, estimulando o máximo de independência
conforme seu potencial funcional e nunca substituir qualquer tarefa que o idoso ain-
da consiga realizar, mesmo com lentificação na execução da tarefa.
A seguir estão relacionadas orientações específicas para o idoso de acordo com a
gravidade da imobilidade.

Orientações para imobilidade grau I


• atividade física regular supervisionada: iniciar com caminhadas curtas e ir
aumentando o tempo e a distância progressivamente. A pessoa que for
conduzir deve ser capaz de segurar o idoso caso ele desequilibre;
• realizar movimentos de dança (ritmo de preferência da pessoa idosa – bolero,
valsa, forró, etc.) pode ajudar na coordenação dos movimentos e melhorar o
equilíbrio. Solicitar que a pessoa idosa segure firme com uma das mãos no
ombro do parceiro que, por sua vez, deve segurar firme nas costas da pessoa
idosa. Fazer movimentos curtos, três passos para frente e três para trás, e
mudar de direção. Realizar o exercício durante 5 minutos;
• realizar o exercício descalço: ficar em pé em frente a uma janela ou um
móvel firme e resistente, na altura da cintura, apoiar as mãos para manter
o equilíbrio. Inspirar lentamente, realizando o movimento de ficar na ponta
dos pés, expirar e abaixar os pés. Repetir o movimento 20 vezes. Descansar
um pouco e realizar nova série de 20 repetições, mas, dessa vez, ficando na
ponta dos calcanhares: inspirar lentamente realizando o movimento de ficar
na ponta dos calcanhares, expirar e abaixar os pés;
• realizar o exercício descalço: ficar em pé próximo da parede ou, caso haja
duas pessoas para auxiliar no exercício, posicionar uma delas atrás da pessoa
idosa para segurá-la caso haja desequilíbrio. A outra pessoa
deve jogar uma bola para a pessoa idosa tentar pegar e
depois solicitar que a jogue de volta. Mudar as direções do
arremesso. Realizar o exercício por 2 minutos;

131
• realizar exercícios de sentar e levantar em uma cadeira firme. Tentar levantar
sem apoio. Repetir 20 vezes;
• programa de reabilitação da marcha pode ser útil, dependendo da causa e
do tempo de imobilidade.

Orientações para imobilidade grau II


• praticamente todas as tarefas motoras exigem a presença do cuidador;
• realizar o exercício com o idoso sentado em uma cadeira:
• jogar uma bola para o idoso e tentar pegar e depois solicitar que a jogue de
volta. Mudar as direções do arremesso. Realizar o exercício por 2 minutos;
• tentar levantar, apoiando-se na cadeira. Se não conseguir, o cuidador deve
auxiliar com as mãos. Repetir 20 vezes;
• preferir exercícios com membros superiores;
• programa de reabilitação da marcha pode ser útil,
dependendo da causa e do tempo de imobilidade.

Orientações para imobilidade grau III e IV


• a necessidade de suporte do cuidador é integral;
• manter grades da cama elevadas. A contenção física deve ser evitada;
• com os pés da pessoa idosa apoiados na cama e os joelhos dobrados, fazer
movimentos de separar (solicitar que a pessoa faça força com as pernas
tentando fechar) e unir os joelhos (solicitar que a pessoa faça força com as
pernas tentando abrir). Repetir os movimentos 20 vezes;
• deitar na cama de barriga para cima com os joelhos dobrados e pés apoiados
na cama e com os braços posicionados ao lado do corpo com a palma da
mão virada para cima. Garantir que os ombros e o pescoço estejam relaxados
e que os joelhos e os pés estejam paralelos. Contrair o abdômen e os glúteos
e dividir o peso do corpo entre os pés e os ombros. É importante observar
se o idoso consegue manter os pés totalmente apoiados na cama. Encher os
pulmões de ar para preparar o movimento e, enquanto solta o ar, começar
a subir, retirando o bumbum da cama num movimento de enrolamento
(como se retirasse uma vértebra de cada vez da cama).
Encher novamente os pulmões enquanto sustenta a posição
e, soltando o ar, começar a retornar à posição inicial
lentamente, arredondando a coluna, como se apoiasse uma
vértebra de cada vez na cama. Ao chegar à posição inicial,

132
verificar se os ombros estão tensos, corrigi-los se necessário, e iniciar outra
repetição. Repetir o exercício 10 vezes;
• dobrar os joelhos, apoiando os pés na cama, abrir os braços com as palmas das
mãos viradas para cima. Com os joelhos dobrados, levar as pernas para o lado
direito e virar a cabeça para o lado esquerdo. Os ombros e o quadril devem
permanecer apoiados sobre a cama. Voltar o corpo para a posição inicial e
fazer o movimento contrário. Repetir os movimentos completos 10 vezes;
• com o idoso sentado: solicitar que a pessoa idosa leve os braços um em
direção ao outro, com os dedos totalmente abertos e polegares para cima.
Solicitar que idoso puxe o ar pelo nariz e, enchendo bem os pulmões, abra
os braços para trás. Em seguida, soltando o ar pelo nariz e esvaziando bem
os pulmões, fechar os braços, voltando à posição inicial. Relaxar e repetir 10
vezes. Se necessário, o cuidador deverá auxiliar o idoso nesses movimentos;
• manter as costas esticadas. Levantar os ombros perto das orelhas e soltar.
Repetir 10 vezes;
• puxando o ar pelo nariz e enchendo bem os pulmões, levantar os braços
esticados em direção à cabeça, com os dedos abertos, como se fosse segurar
uma bola sobre a cabeça. Em seguida, soltando o ar pelo nariz e esvaziando bem
os pulmões, abrir os braços, voltando à posição inicial. Relaxar e repetir 10 vezes;
• solicitar que o idoso flexione suavemente a cabeça para frente. Manter a
cabeça na posição por 10 segundos. Repetir o movimento 5 vezes. Repetir o
procedimento flexionando a cabeça para trás e também inclinando para um
lado e para o outro. Se necessário, o cuidador deverá auxiliar nos movimentos;
• fazer movimentos de dobrar e estender os cotovelos, os punhos e depois os
dedos. Repetir 10 vezes cada movimento;
• fazer movimentos de dobrar e estender o tornozelo e de abrir e fechar os
dedos dos pés. Repetir 10 vezes cada movimento;
• segurar no braço da cadeira de rodas e retirar o corpo do assento da cadeira
usando a força dos braços. Repetir 10 vezes;
• movimentar o rosto: algumas “caretas” ajudam a trabalhar os músculos da
face e a engolir melhor. Fazer esses exercícios, se possível, na frente de um
espelho. Repetir 5 vezes cada uma dessas expressões:
• levantar bem as sobrancelhas e abrir os olhos. Encontrar as sobrancelhas como
se estivesse com raiva;
• enrugar o nariz;
• fazer um “bico” com a boca como se fosse dar um beijo. Dar um largo sorriso;
• abrir a boca exageradamente;
• encher bem a bochecha de ar e depois murchar a bochecha;
• movimentar a língua dentro da boca: para cima, para baixo, para um lado e
para o outro;
• fechar os olhos com força fazendo careta.

133
Orientações para imobilidade Grau V ou imobilidade total
• manter grades da cama elevadas;
• na cadeira de rodas, realizar contenção do tronco, evitando que a pessoa
idosa escorregue da cadeira;
• manter sempre uma posição confortável;
• realizar movimentação passiva e fisioterapia respiratória regularmente. Os
exercícios são realizados para prevenção de contraturas;
• movimentar cada um dos dedos dos pés, para cima e para baixo, para os
lados e com movimentos de rotação. Segurar o tornozelo e movimentar o
pé para cima, para baixo, para os dois lados e em movimentos circulares.
Repetir os movimentos 20 vezes;
• dobrar e esticar uma das pernas, sem encostar a perna ou calcanhar na cama.
Repetir o movimento com a outra perna. Repetir os movimentos 20 vezes;
• com os pés da pessoa idosa apoiados na cama e os joelhos dobrados, fazer
movimentos de separar e unir os joelhos. Repetir os movimentos 20 vezes;
• flexionar suave e levemente a cabeça da pessoa para frente e para trás, para
um lado e depois para o outro. Durante cada movimento, manter a cabeça
na posição por 10 segundos. Repetir cada movimento 5 vezes;
• com o idoso deitado de barriga para cima, levar o braço esquerdo em direção
ao direito. Repetir o movimento 10 vezes. Posicionar-se do outro lado e levar
o braço direito em direção ao esquerdo. Repetir o movimento 10 vezes;
• se o idoso conseguir coordenar a respiração, solicitar que ele puxe o ar
pelo nariz e, enchendo bem os pulmões, levantar os braços esticados em
direção à cabeça, com os dedos abertos, como se fosse segurar uma bola
sobre a cabeça. Em seguida, soltando o ar pelo nariz e esvaziando bem os
pulmões, abrir os braços, voltando à posição inicial. Relaxar
e repetir 10 vezes;
• fazer movimentos de dobrar e estender os cotovelos, os
punhos e depois os dedos. Repetir 20 vezes cada movimento.

Cuidados gerais com a pele


A pele é o maior órgão do corpo humano, tem como funções:
• proteção dos órgãos internos, pois funciona como barreira mecânica;
• defesa imunológica e comunicação com a parte interna do corpo;
• sensibilidade e percepção;
• termorregulação;
• função secretora, através das glândulas sebáceas (produção de “óleo natural”)
e sudoríparas (produção de suor);

134
• principal fonte de vitamina D, via síntese cutânea, por exposição solar.

A pele é dividida em duas camadas: epiderme, camada externa, e derme, camada in-
terna. Abaixo da derme, encontra-se o tecido subcutâneo, que é um tecido gorduroso. O
pH da pele é ligeiramente ácido. Manter as características da pele é essencial para a prote-
ção da pele contra microrganismos oportunistas e para a retenção da hidratação cutânea.

Com o avançar da idade, como ocorre em todos os órgãos do corpo humano, as


estruturas e as funções da pele se modificam. A pele torna-se mais frágil devido ao
seu ressecamento e à redução da sua espessura, da vascularização, da sua elasticida-
de e da quantidade de gordura abaixo dela.

Lesão por fricção


Lesão por fricção é um tipo de lesão traumática que ocorre principalmente nas
extremidades do corpo, como resultado de fricção, levando à separação das camadas
da pele. É uma lesão rasa, limitada à pele.

135
Os fatores de risco para lesões por fricção são:
• idade: quanto mais velho, maior é o risco;
• pele seca e descamativa;
• percepção auditiva e/ou visual alteradas;
• comprometimento cognitivo;
• rigidez dos membros;
• incontinência esfincteriana;
• imobilidade parcial ou total;
• dependência para as atividades básicas de vida diária;
• uso prolongado de medicamentos, como corticoides;
• remoção de fitas e curativos adesivos;
• transferência e quedas.

A prevenção desse tipo de lesão deve ser feita a partir


das seguintes medidas:
• identificar fatores de risco para lesão por fricção;
• verificar diariamente a pele do idoso de risco para
lesão por fricção;
• proteger as áreas mais vulneráveis: utilizar
gazes, faixas, camisas, meias, calças
compridas ou outros materiais suaves para
mais proteção;
• durante a mudança de posição, o idoso não
deve ser “arrastado”, mas sim “levantado”,
utilizando-se lençol móvel. Usar lençol móvel
com duas pessoas para movimentá-lo;
• coxins, forros e lençóis móveis adequados garantem melhor suporte para o
corpo durante as mobilizações;
• evitar agarrar ou puxar a pessoa durante as mobilizações;
• evitar o uso de fitas e curativos adesivos direto em contato com a pele.
Realizar fixação com gazes, faixas e malhas tubulares;
• caso a utilização de fitas e curativos adesivos seja inevitável, aplicar protetores
de pele antes da fixação do adesivo a fim de
minimizar os danos. Se possível, não utilizar
esparadrapo em contato direto com a pele, dando
preferência a fitas porosas de dorso delicado e de
baixa aderência, à base de silicone, por exemplo;

136
• remover cautelosamente os adesivos. Segurar a pele enquanto se remove
lentamente a fita;
• dobrar uma ponta, fazendo uma orelha, para facilitar a
remoção da fita;
• não massagear a pele de pessoas em risco para lesão
por fricção;
• manter as unhas aparadas e lixadas, tanto as da pessoa
idosa quanto as de outras pessoas que realizam cuidados diretos.

Lesão por pressão (“escara” ou “úlcera por pressão”)


Lesão por pressão é um dano localizado na pele e/ou em tecidos moles subjacen-
tes, geralmente sobre uma proeminência óssea. O termo escara descreve somente a
crosta preta ou necrose escura que recobre a lesão por pressão, daí não ser mais uti-
lizado. Em alguns casos, pode estar relacionada ao uso de dispositivo médico, como
sondas ou traqueostomia ou a outro artefato.
A lesão ocorre como resultado da pressão intensa e/ou prolongada sobre a pele
(Figura 7.1). Pode se apresentar como pele íntegra com sinais de sofrimento ou como
úlcera aberta, podendo ser dolorosa ou não.

Figura 7.1 Formação da lesão por pressão

Pressão externa Interrupção Diminuição Isquemia, Risco de


com fechamento do fluxo de nutrientes edema e formação de
dos capilares de sangue e oxigênio morte celular lesão por pressão

Os principais fatores de risco que geram lesão por pressão são:


• diminuição de atividade física: idoso acamado, confinado à cadeira de rodas
ou que anda apenas ocasionalmente;

137
• diminuição da mobilidade: diminuição da capacidade de mudar e controlar a
posição do corpo;
• redução da percepção sensorial (sensação tátil): diminuição da capacidade de
reagir significativamente à pressão relacionada ao desconforto;
• diminuição da sensibilidade à dor;
• permanência na mesma posição por longo tempo;
• aumento da umidade provocada pela incontinência;
• falta de higiene;
• alteração da pele com o avançar da idade, tornando-a mais frágil;
• subnutrição;
• cisalhamento: ocorre quando a pele e a superfície óssea deslizam uma sobre a outra;
• fricção: a pele se move contra as estruturas de suporte;
• doenças crônicas como diabetes, alteração da circulação, etc;
• microclima: é a associação da temperatura ambiente, temperatura corporal, a
umidade, uso da fralda, a roupa usada pelo idoso, entre outros fatores.

As regiões do corpo mais vulneráveis ao aparecimento de lesões por pressão são:


• áreas em que são exercidas pressão, fricção e cisalhamento durante as ativida-
des de vida diária, como as mãos de cadeirantes.
• proeminências ósseas (Quadro 7.3).

Quadro 7.3 Proeminências ósseas e pontos de pressão

Posição Pontos de Pressão

1. osso occipital
2. escápula
3. processo espinhoso
Pontos de pressão 4. cotovelo
na posição 5. crista ilíaca
deitada de 6. sacro
barriga para cima 7. ísquio
8. tendão de aquiles
9. calcanhar
10. sola do pé

Continua...

138
... continuação

Quadro 7.3 Proeminências ósseas e pontos de pressão

Posição Pontos de Pressão

2. escápula
3. processo espinhoso
4. cotovelo
5. crista ilíaca
Pontos de pressão
na posição 6. sacro
sentada 7. ísquio
8. tendão de aquiles
9. calcanhar
10. sola do pé
22. posterior do joelho

11. orelha
12. ombro
13. espinha ilíaca anterior
Pontos de pressão 14. trocânter
na posição 15. coxa
deitada de lado 16. joelho médio
17. lateral externa do joelho
18. perna
19. maléolo medial
20. maléolo lateral
21. borda lateral do pé

• No local onde está ocorrendo a pressão, podem ocorrer alteração da cor da


pele, edema, bolhas e até lesões mais profundas. É possível que até mesmo
músculos e ossos sejam atingidos. A lesão pode se desenvolver de forma rá-
pida. O tratamento pode ser prolongado e a cicatrização, lenta. Em alguns
casos, pode até mesmo não haver cicatrização.
Uma das complicações mais temidas da lesão por pressão é a infecção local, que
pode se espalhar pelo corpo, levando à internação prolongada e até à morte.

139
As lesões por pressão são classificadas por estágios, de acordo com a gravidade:

Estágio 1: Pele íntegra com eritema que não embranquece à pressão digital
Pele íntegra com área localizada de eritema (mudança de cor). Mudanças na sensi-
bilidade, temperatura ou consistência (endurecimento) podem preceder as mudanças
visuais. Deve-se estar atento a qualquer mudança na aparência da pele:
• pessoas com pele clara: pele em sofrimento geralmente fica avermelhada ou
rosa púrpura;
• pessoas com pele escura: pele em sofrimento geralmente fica com tons ama-
relados, brancos ou arroxeados.

Estágio 2: Perda parcial da espessura da pele, com exposição da derme


O leito da lesão é viável, de coloração rosa ou vermelha, úmido e pode também
apresentar-se como uma bolha intacta (preenchida com secreção serosa) ou rompi-
da. O tecido de gordura e os tecidos profundos não são visíveis. Não estão presentes
tecidos de granulação ou necrose (tecido morto). Essas lesões geralmente resultam
de microclima inadequado e cisalhamento da pele na região da pélvis e no calcâneo.

Estágio 3: Perda da pele em sua espessura total


Perda da pele em sua espessura total, na qual a gordura é visível e, frequentemente,
estão presentes tecidos de granulação e lesão com bordas enroladas. Tecido necrótico
superficial (esfacelo e /ou escara) pode estar visível. A profundidade da lesão varia confor-

140
me a localização. Caso seja atingida uma área significativa do tecido gorduroso, podem
ser desenvolvidas lesões ainda mais profundas. Podem ocorrer descolamento e túneis
internos. Não há exposição de fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem e/ou osso.

Estágio 4: Perda da pele em sua espessura total e perda tissular


Perda da pele em sua espessura total e perda de tecidos, com exposição ou palpa-
ção direta de fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem ou osso. Tecido necrótico
superficial (esfacelo e/ou escara). Lesão com bordas enroladas, descolamento e/ou tú-
neis ocorrem frequentemente. A profundidade varia conforme a localização anatômica.

Lesão por pressão não classificável: perda da pele em sua espessura total
e perda tissular não visível
Perda da pele em sua espessura total e perda tissular na qual a extensão do dano
não pode ser confirmada por estar encoberta por esfacelo ou escara. A remoção do
esfacelo ou da escara torna aparente uma lesão por pressão em estágio 3 ou estágio
4. Escara estável (isto é, seca, aderente, sem eritema ou flutuação) em membro isquê-
mico (com baixa circulação sanguínea) ou no calcanhar não deve ser removida, pois
há risco de ocorrer retardamento da cicatrização.

141
No idoso com risco de desenvolver lesão por pressão ou na presença de lesão,
recomenda-se observar diariamente:
• sinais de surgimento de lesão por pressão;
• aparência: tecido necrótico (escara: tecido necrótico preto aderido ao tecido;
esfacelo: tecido necrótico amolecido com cor amarelada ou palha), infectado,
com crosta, granulada;
• exsudato (secreção): quantidade, tipo, coloração, odor;
• localização;
• profundidade;
• pele ao redor;
• dor.

A cicatrização dessas lesões é um processo lento e mui-


to trabalhoso, principalmente na região sacral. Portan-
to, medidas preventivas são de extrema importância.

O melhor tratamento da lesão por pressão é a sua prevenção. Quando a preven-


ção não é efetiva, recomendam-se as seguintes medidas:

Cuidados gerais
• avaliar diariamente a pele para identificar precocemente danos causados por
pressão em pessoas sob risco de desenvolver lesão por pressão. Verificar se
há sinais de calor localizado, edema, endurecimento e pele em sofrimento,
principalmente em áreas corporais de alto risco para desenvolvimento de
lesões por pressão, como proeminências ósseas;
• avaliar a existência de áreas de desconforto ou dor, pois podem ser atribuídas
a lesões por pressão;
• não massagear áreas de proeminência óssea, nem áreas com pele em
sofrimento;
• manter a cama sempre limpa e seca. Remover resíduos de alimentos que
porventura caiam sobre ela;
• manter os lençóis bem esticados, sem dobras.

Controle da umidade e hidratação da pele


• proteger a pele da exposição à umidade excessiva e aplicar
hidratante diariamente.

142
Minimização da pressão
• solicitar orientação quanto à frequência do
reposicionamento do corpo;

• evitar posicionar a pessoa diretamente sobre proeminências ósseas em


sofrimento ou outras áreas lesionadas. Evitar também posicioná-la sobre
dispositivos médico-hospitalares, como drenos, cateteres e sondas;
• realizar o posicionamento observando o alinhamento do corpo e a
distribuição do peso. Ao posicionar a pessoa de barriga para cima, utilizar
um rolo fino na direção da altura do corpo para girá-la em um ângulo de
30º, promovendo ligeira descompressão das costas sobre a cama. Durante o
posicionamento lateral, utilizar um rolo mais grosso para inclinar ligeiramente
o corpo, evitando posicionar a pessoa totalmente de lado;

• colocar proteção nas saliências ósseas. Manter os calcanhares elevados,


afastados da superfície da cama;

143
• evitar elevar a cabeceira da cama acima de 30º;

• caso a pessoa utilize cadeira de rodas, orientar que realize


elevações do corpo periodicamente, auxiliando nessa
ação quando necessário. Realizar a descompressão das
nádegas a cada 15 minutos;

• colocar os pés da pessoa sobre um banquinho ou


outro apoio, quando os pés não alcançarem o chão
na posição sentada, evitando, assim, que ela deslize
para fora da cadeira;
• alternar lado direito, lado esquerdo e barriga para
cima. Utilizar também a posição de barriga para baixo,
caso as condições clínicas da pessoa idosa permitam.

Além dos cuidados diretos com o idoso, recomendam-se vários cuidados com as
superfícies de suporte, como camas, colchões, almofadas, cadeiras e proteção para o
calcanhar, como, por exemplo:
• para a escolha de uma superfície de suporte adequada, devem ser considera-
dos fatores como a tolerância tecidual, condições da pele, conforto do idoso,
níveis de atividade e mobilidade, condição clínica geral e a necessidade de
controle do microclima;
• na escolha da superfície de suporte apropriada, levar em consideração: dis-
ponibilidade de tempo e condições físicas do cuidador, condições econômi-
cas, tamanho da cama, estrutura da casa, largura das portas, disponibilidade
ininterrupta de energia elétrica e capacidade de promover ventilação de calor
do motor da cama;
• qualquer superfície de apoio pode falhar ou ser insuficiente para as necessi-
dades do idoso. Portanto, é importante que as pessoas envolvidas no cuidado
tenham conhecimento acerca da superfície de suporte que está em uso e de
suas funções, para que verifiquem a sua efetividade;

144
• usar colchões de espuma altamente específica (espuma viscoelástica), em vez
de colchões comuns;
• quando não for possível o reposicionamento manual frequente, utilizar uma
superfície de apoio ativa para as pessoas com alto risco de desenvolver lesão
por pressão;
• manter os calcanhares suspensos no ar, utilizando um tra-
vesseiro debaixo das pernas, de modo que o peso da perna
seja distribuído ao longo da sua parte posterior. O joelho
deve ter ligeira flexão;
• no caso de pessoas com mobilidade reduzida sentadas em cadeiras, utilizar
um assento de redistribuição de pressão;
• não utilizar materiais de couro sintético, dispositivos recortados em forma de
anel, luvas cheias de água, boias com gel;

• superfícies podem ser compostas por espumas de diversos tipos, cujas carac-
terísticas são apresentas na Quadro 7.4.

Quadro 7.4 Descrição das características das espumas

Tipo de
Característica Exemplo
espuma

Material de polímero poroso que se conforma proporcionalmen-


Espuma te ao peso aplicado. O ar existente entra e sai rapidamente nas
elástica células de espuma, em função da maior densidade. Sugere-se a
mudança de posição na cama a cada 2 ou 3 horas.

Material de polímero poroso que se conforma proporcionalmen-


te ao peso aplicado. O ar existente entra lentamente nas células
Espuma
de espuma, o que possibilita uma resposta mais lenta, em
viscoelástica
comparação com uma espuma elástica. Sugere-se a mudança de
posição na cama a cada 3 ou 4 horas.

A espuma viscoelástica é preferível em relação à espuma elástica. Foi observado


experimentalmente que o colchão de espuma elástica mais popular, composto por
espuma piramidal (“colchão caixa de ovo”), não é muito eficaz na prevenção de
lesões por pressão. Porém, devido ao seu baixo custo, normalmente é uma das al-

145
ternativas para as pessoas com baixa renda. O alto relevo deve ser posicionado para
cima, para ficar em contato com o corpo da pessoa. O colchão não pode ser lavado e
deverá ser substituído quando as cerdas começarem a baixar. É importante escolher
corretamente a densidade do colchão, de acordo com o peso da pessoa:
• densidade 28 para pessoas de até 70 kg;
• densidade 33 para pessoas de 70 a 90 kg;
• densidade 40 para pessoas com mais de 90 kg.

Em pessoas com imobilidade grau 4 ou imobilidade total, recomenda-se trocar a


posição de duas em duas horas. Apesar de ser uma opção mais barata, esse colchão
tem vida útil curta de seis meses, no máximo. Esse é um outro fator que deve ser levado
em consideração na escolha do colchão, principalmente se a pessoa ficará acamada por
longo período, já que existem opções mais caras, porém mais duráveis.
As superfícies de redistribuição podem apresentar diferentes mecanismos de fun-
cionamento, conforme descrito no Quadro 7.5.

Quadro 7.5 Mecanismos de ação dos diferentes tipos de superfícies de suporte

Tipos de
Mecanismo de ação Exemplo
superfície

Superfície Superfície de suporte não motorizada, com capacidade de


de suporte alternar as áreas de compressão somente em resposta à
reativa aplicação de pressão.

Superfície de suporte motorizada, com capacidade de alternar


as áreas de pressão, independentemente da aplicação de
Superfície de pressão externa. Essa superfície simula mudanças de decúbito,
apoio ativa permitindo que a pessoa permaneça na mesma posição por um
período de tempo maior. Seu funcionamento exige uma fonte
externa de energia.

Curativo
Curativo é o material colocado diretamente sobre a lesão. Tem como função pro-
teger a área lesionada, prevenindo infecções, ajudando na cicatrização mais rápida
e absorvendo secreções. A cobertura ideal é aquela capaz de garantir as condições
ambientais adequadas para a cicatrização. São características desejáveis:
• ser adequado à quantidade de líquido presente na lesão, visando produzir um
ambiente úmido. Em lesões secas, aplicam-se coberturas à base de hidrogéis,
de modo a aumentar a umidade. Em lesões com muita secreção, aplicam-se
coberturas capazes de absorver o excesso de líquido;

146
• ser de fácil aplicação e remoção;
• oferecer proteção contra traumas mecânicos;
• ser impermeável a bactérias, à água e outros fluidos;
• ser capaz de preencher cavidades;
• ser capaz de promover limpeza da lesão: remover tecido necrótico, reduzir
risco de infecção, preservar tecidos viáveis;
• ser seletivo e indolor.

Alguns cuidados com a lesão são essenciais, como:


• lavar as mãos com água e sabão antes de iniciar o curativo;
• sempre usar luvas;
• separar e deixar todo o material necessário próximo
do paciente;
• retirar o curativo antigo e colocá-lo dentro de um saco de lixo próximo;
• orientar o idoso a não colocar a mão no local da lesão;
• fazer o curativo com cuidado e atenção, de acordo com a orientação do
enfermeiro ou do médico;
• nunca utilizar hidratantes, pomadas e coberturas especiais que não tenham
sido indicados diretamente pelo enfermeiro ou médico;
• lavar lesão com solução fisiológica 0,9% em jato (furo único com agulha
25x07, 25x08 ou 40X12);
• enxugar a lesão apenas nas bordas, utilizando gazes. Não enxugar a parte
interna da lesão;
• ao redor da lesão, aplicar ácidos graxos essenciais – AGE (óleo);
• o curativo simples com gaze deve ser trocado diariamente ou sempre que
sujar ou extravasar secreção;
• nunca utilizar fitas adesivas (durex, fita crepe) para fixar curativos. Evitar usar
esparadrapo em contato direto com a pele, pois há risco de rompimento
da pele ao retirá-lo. Se possível, realizar a fixação utilizando apenas
enfaixamento sobre os curativos. Quando não for possível, dar preferência a
fitas porosas para a fixação;
• proteger o curativo no momento do banho com material plástico (ex.:
sacola), bem vedado com fita crepe por cima;
• atentar para sinais de infecções na lesão, como rubor (vermelhidão), calor,
dor e edema (inchaço);
• deixar o paciente em posição confortável;
• após o término da troca de curativo, limpar o ambiente, descartando o lixo
no local adequado;
• lavar as mãos com água e sabão após o termino do curativo.

147
O cuidador não realiza tratamento de lesões, mas fica atento a
qualquer alteração e mantém a equipe de saúde informada.

Orientações gerais para prevenção de lesões na pele:


• manter a independência do idoso de acordo com o seu
potencial;
• procurar corrigir ou minimizar causas de imobilidade;
• estimular a movimentação no leito, passiva ou ativamente;
• estimular a mobilidade, colocando o idoso sentado (no leito ou na cadeira),
sempre que possível;
• manter o idoso fora do leito, sempre que possível;
• manter boa relação com o idoso e seus familiares;
• manter conduta e plano de cuidados pactuados entre equipe de saúde,
idoso, cuidadores e familiares;
• manter o ambiente com boa iluminação para ajudar a evitar tropeços e
colisões com objetos;
• usar luz indireta durante a noite, iluminando o trajeto até o banheiro;
• não deixar objetos espalhados nos trajetos por onde o idoso anda. Afastar
objetos que possam provocar lesões. Reduzir a quantidade de mobília ao longo
dos trechos de mais circulação. Evitar tapetes e passadeiras;
• colocar protetores em quinas e partes pontiagudas de móveis
e equipamentos, como quinas de mesas, grades de camas,
suporte para os pés da cadeira de roda.

Higienização e hidratação da pele:


• se possível, realizar banho no chuveiro. O banho de
chuveiro estimula a atividade, facilita a higienização do
corpo e relaxa a musculatura;
• evitar banho quente e prolongado. O banho remove a oleosidade natural
da pele e contribui para o seu ressecamento;
• evitar o uso de bucha. A bucha pode causar lesões na pele e
retirar a camada protetora da pele;
• evitar o uso de sabão, detergentes e perfumes. Dar
preferência a produtos suaves, não irritantes e que não
prejudiquem a leve acidez da pele. Utilizar
sabonete com pH balanceado;

148
• caso o idoso esteja no grupo de risco de lesões e apresente pele muito
seca, é recomendável tomar banho em dias alternados. Nos dias sem
banho, realizar apenas higiene íntima e das axilas, utilizando água e
sabonete de pH balanceado ou outro produto de limpeza íntima;
• hidratar a pele após o banho, enquanto ainda
estiver úmida. Aplicar hidratantes com movimentos
suaves e circulares por todo o corpo, evitando áreas
com lesões e as regiões entre os dedos dos pés;
• se a pele estiver muito seca, aplicar o hidratante
duas vezes ao dia, no mínimo.
• recomenda-se o uso de hidratantes hipoalergênicos
à base de ureia ou ácido láctico, a fim de minimizar os efeitos da diminuição
da oleosidade natural da pele;
• após aplicar o hidratante em todo o corpo, aplicar protetor cutâneo (creme
ou spray) ou ácidos graxos essenciais, um tipo especial de óleo, nas áreas de
risco de desenvolver lesão por fricção e pressão;
• controlar a umidade: a pele úmida é mais frágil e apresenta alto risco de
desenvolvimento de lesões;
• utilizar umidificadores de ar em ambientes climatizados
artificialmente e em dias em que a umidade relativa do ar
estiver baixa, pois essas condições contribuem ainda mais
para o ressecamento da pele.

Nutrição e hidratação:
• a adequação da ingestão hídrica, proteica e calórica é um
fator importante para a condição geral de saúde do idoso.
Pessoas desnutridas têm chances duas vezes maiores de
desenvolver lesões de pele;
• garantir uma nutrição adequada de acordo com as necessidades;
• se o idoso manifestar risco de desenvolver lesão por pressão, estiver em risco
de déficit nutricional e não tiver contraindicação médica, oferecer suplementos
nutricionais com alto teor de proteína como complemento da dieta habitual;
• se possível, adequar as refeições às preferências alimentares, sempre que
forem compatíveis com as determinações do
nutricionista e do médico;
• estimular a ingestão de líquidos ao longo
do dia. Beber de 1,5 a 2,0 litros de líquido
diariamente (chá, leite, água, suco), exceto se for
contraindicado pelo médico.

149
Cuidado com os pés
Os pés devem ser verificados todos os dias, para checar se não há mudanças na
coloração, bolhas, rachaduras, calos, cortes entre os dedos ou na planta dos pés. O
próprio idoso pode fazer a observação, se tiver capacidade, podendo utilizar um espe-
lho para facilitar a visualização da planta dos pés.

• não lavar os pés com água quente;


• cuidado com a temperatura da água, se for realizar
escalda-pés. Não deixar o pé “de molho”;
• secar bem os pés, inclusive entre os dedos;
• usar hidratante no dorso e na planta dos pés. Não passar entre os dedos;
• em pessoas com alteração da sensibilidade dos pés, aparar as unhas dos
pés apenas com lixa. Não tirar cutículas ou cantos de unhas, para evitar a
abertura de lesão;
• calçar sapatos que não apertem, de couro macio ou tecido. Não usar sapatos
sem meias;
• vestir sempre meias limpas, preferencialmente de lã ou algodão, sem elástico;
• antes de calçar meias e sapatos, verificar se não há algo dentro deles que
possa machucar os pés;
• o idoso frágil não deve andar descalço, especialmente sobre superfícies quentes;
• utilizar tênis confortáveis na realização de atividades físicas.

Manifestações peculiares de infecção no idoso


Os sinais de infecção, como a febre, não são tão frequentes no idoso.

Ficar atento a:
• alterações sutis no comportamento, como agitação ou prostração;
• sinais como retenção urinária e alteração de cor, cheiro ou
volume da urina podem ser indicativos de infecção urinária, caso
o idoso esteja ingerindo a quantidade de líquido recomendada;
• tosse produtiva, secreção aumentada na cavidade bucal ou alteração
de cor e cheiro da secreção podem ser indicativos de pneumonia;
• sinais de infecção em lesões: secreção purulenta, odor, rubor
(vermelhidão), calor, dor e edema (inchaço).

150
Técnicas de troca de fraldas, lençóis e reposicionamento
de idosos com imobilidade, na cama e na cadeira

Técnicas de troca de fraldas


Descolar a fralda e limpar a região genital e anal com uma gaze molhada em
água e sabão ou lenços umedecidos, retirando a sujeira da região genital, em di-
reção ao ânus para evitar infecções urinárias. Repetir este procedimento quantas
vezes forem necessárias.
Quando o idoso consegue auxiliar na troca da fralda,
recomendam-se as seguintes medidas
• deitar na cama de barriga para cima com os joelhos dobrados e pés apoiados
na cama e solicitar que o idoso retire as nádegas da cama.

Quando o idoso não consegue auxiliar na troca da fralda,


recomendam-se as seguintes medidas:
• descolar o adesivo e abrir a fralda em uso;
• limpar a genitália da pessoa idosa;
• virar a pessoa idosa de lado;
• descartar a fralda usada;
• limpar a região anal;
• colocar uma fralda limpa sobre a cama, próxima ao bumbum da pessoa
idosa, encaixando a aba da fralda sob a lateral da pessoa;
• virar a pessoa idosa de barriga para cima, posicionando o bumbum sobre a
fralda. Em seguida, virar a pessoa idosa para o outro lado na cama. Ajustar
a aba da fralda limpa sob a lateral da pessoa;
• voltar a pessoa idosa para a posição de barriga para cima;
• acertar as laterais da fralda e fechá-la;
• após secar a região genital e anal do paciente, é recomendado passar
creme barreira para prevenção de assadura/dermatite, para evitar o
surgimento de irritação na pele;
• fechar a fralda sem deixá-la apertada, fixando o adesivo confortavelmente.

151
Técnicas de troca de lençóis
• revestir colchões permeáveis com material impermeá-
vel, como a capa de silicone;
• uma pessoa sozinha pode ser capaz de trocar os
lençóis da cama, no entanto, é recomendado que a
técnica seja feita por duas pessoas, caso haja risco do paciente cair ou do
idoso ser pesado, permitindo que uma segure a pessoa, auxiliando nas trocas
de posição sobre a cama;
• lavar as mãos com água e sabão antes de iniciar a troca da roupa de cama e
depois do término do procedimento;
• separar o material necessário antes de iniciar o procedimento: um lençol (pode
ser com elástico na bordas); um virol (para cobrir a pessoa); um lençol móvel
de tecido resistente (um lençol em tamanho menor que serve para o desloca-
mento da pessoa idosa e fica entre o tronco e coxas); um lençol impermeável
móvel (lençol de silicone que fica embaixo do lençol móvel, pois não deve ficar
em contato direto com a pele do idoso); uma fronha; um colcha ou cobertor
(no tempo frio);

• após o término da troca da roupa de cama, deixar o idoso posicionado confor-


tavelmente e com as proeminências ósseas protegidas;

Quando o idoso consegue sair da cama, recomendam-se as seguintes medidas:


• solicitar que o idoso se sente em uma cadeira e, se necessário, auxiliar na
transferência ou colocá-lo sentado em uma cadeira;

152
• colocar as roupas limpas sobre uma mesa ou cadeira em ordem de uso;
• desprender os lençóis de baixo do colchão para soltá-los;
• retirar o travesseiro e colcha ou cobertor e mantê-los sobre uma mesa ou cadeira.
Retirar o restante das roupas de cama sujas e colocá-las em um canto do quarto
ou em um cesto de roupa suja (se for possível levá-lo para dentro do quarto);
• limpar a capa do colchão com um pano úmido com álcool;
• arrumar sobre o colchão a roupa de cama limpa,
esticando e sem deixar rugas e dobras na seguinte
sequência: o lençol, o lençol impermeável móvel e o
móvel. Prender os cantos dos lençóis debaixo da cama;
• colocar o virol e, se necessário, colcha ou cobertor;
• mudar a fronha do travesseiro e colocá-lo na cama;
• elevar as grades da cama, caso ela estiver sendo usada;
• encaminhar a roupa suja para onde ela fica armazenada para lavar.

Todavia, quando o idoso acamado não consegue sair da cama, recomendam-se


as seguintes medidas:
• fechar as janelas e portas;
• colocar as roupas limpas sobre uma mesa ou cadeira em ordem de uso;
• desprender os lençóis de baixo do colchão para soltá-los (passo 1);
• retirar o travesseiro e colcha ou cobertor e reservá-los sobre uma mesa ou
cadeira, deixar o lençol cobrindo o idoso, caso esteja frio;
• virar a pessoa para um dos lados da cama (passo 2);
• enrolar os lençóis em direção às costas do idoso (passo 3);

1. Remover lençóis de 2. Virar a pessoa para um 3. Enrolar o lençol sujo em


baixo do colchão dos lado da cama direção às costas

• limpar a capa do colchão com um pano úmido com álcool;

153
• arrumar sobre a primeira metade do colchão a roupa de cama limpa, esticando
e sem deixar rugas e dobras, na seguinte sequência: o lençol, o lençol imper-
meável móvel e por ultimo o móvel (passos 4 e 5);
• virar o idoso para o outro do colchão, para a parte limpa. Remover a roupa de
cama suja (passo 6);

6. Virar a pessoa para o


outro lado da cama;

4. Arrumar sobre a primeira


metade do colchão a 5. Estender o lençol Retirar o lençol sujo e
roupa de cama limpa limpo na cama esticar o lençol limpo

• limpar a outra metade da capa do colchão com o pano úmido com álcool;
• esticar, sem deixar dobras, o restante dos lençóis e prender os cantos dos
lençóis debaixo da cama;
• posicionar o idoso no meio da cama;
• colocar o virol e, se necessário, colcha ou cobertor;
• mudar a fronha do travesseiro e posicioná-la debaixo da cabeça do idoso;
• elevar as grades da cama, caso ela estiver sendo usada;
• encaminhar a roupa suja para onde ela fica armazenada para lavar.

Reposicionamento do idoso com imobilidade,


na cama e na cadeira
• sentar e andar, quando possível, ajuda a evitar deformidades e pressões anor-
mais que podem causar irritações ou lesões, além de preservar a força e a
flexibilidade dos músculos e retardar a fadiga ao leito;
• ao levantar uma pessoa deitada, a tendência natural é levantá-la rapidamente,
o que pode causar queda da pressão e tontura. Deve-se levantá-la devagar da
cadeira ou da cama, para evitar tonteira e desequilíbrio. Primeiro, assentá-la,
aguardar alguns segundos e depois levantá-la calmamente;
• os assentos não devem ser muito macios;
• dar preferência a cadeiras que tenham apoios para os braços e para as costas.

154
Quando o idoso consegue realizar a transferência, recomenda-se:
• ao abaixar-se na direção de uma cadeira, a pessoa deve apoiar as mãos nos
braços da cadeira. Ao levantar-se, deve colocar as mãos sobre os braços da ca-
deira e exercer pressão contra eles para ficar em pé. O andador pode ser usado
para auxiliar na transferência, porém a pessoa não deve usá-lo para apoiar-se
até que esteja de pé.

Como levantar-se da cadeira. Como abaixar-se até a cadeira.

Quando idoso consegue auxiliar na transferência, recomendam-se:


• caso a cama seja hospitalar, travar as rodas e abaixar as grades;
• mover as pernas do idoso para o lado, segurando-o firmemente pelos ombros.
Solicitar ao idoso que apoie os dois pés no chão;
• calçar sapatos antiderrapantes;
• ficar na sua frente;
• erguer seu tronco, passando um braço por trás
dele, de modo que a palma da mão do cuidador
fique firmemente apoiada no meio das costas
do idoso. Com a outra mão, segurar o braço do
mesmo lado, bem junto ao ombro;
• trazê-lo para a beira da cama (passo 1);
• encostar a ponta dos seus pés e seus joelhos na
ponta dos pés e joelhos do idoso a ser levantado, posicionando-se de forma
que um dos joelhos do idoso fique entre os seus (passo 2);
• passar ambas as mãos por baixo dos braços, apoiando-as nas costas do idoso
a ser levantado. Levantá-lo usando seu próprio peso para impulsionar o mo-
vimento (passo 3);
• guiar o idoso até uma cadeira e sentá-lo (passo 4);

155
Passo 1 Passo 2

Passo 3 Passo 4

• existem no mercado dispositivos que auxiliam na transferência, como cintos,


discos rotatórios e almofada que ajuda a levantar;

Quando o idoso não consegue auxiliar na transferência, recomendam-se:


• o ideal é que a transferência seja realizada por duas pessoas;
• posicionar a pessoa idosa com as mãos cruzadas sobre o tronco;

156
• um cuidador deve se posicionar atrás do idoso passando os braços por baixo
de suas axilas e cruzando-os na altura do seu tronco e o outro cuidador deve
ficar na frente do idoso e posicionar suas mãos sob as coxas do idoso;
• os movimentos devem ser combinados e realizados ao mesmo tempo, por isso
os cuidadores devem contar 1, 2 e, no 3, iniciarem a movimentação do idoso.
Ao levantá-lo, as duas pessoas responsáveis pela transferência devem flexionar
os joelhos, de modo a ficar com as pernas levemente dobradas, para evitar
forçar a coluna e proporcionar mais segurança.

Recomendam-se os seguintes cuidados com a movimentação na cama:


• usar o lençol móvel resistente sob o corpo do idoso,
segurando firmemente de tal forma que o idoso não
deve ser arrastado. Levantá-lo até a posição desejada.
Deve-se usar o lençol móvel com duas pessoas, uma de
cada lado da cama, durante a movimentação.

Trazer o idoso para um dos lados da cama


A movimentação no leito deve ser realizada, preferencialmente, por duas pessoas,
seguindo-se os seguintes passos:
• as duas pessoas devem ficar do mesmo lado da cama, de
frente para o idoso. Permanecer com uma das pernas em
frente da outra, com os joelhos e quadris fletidos, trazen-
do os braços para o nível da cama;
• a primeira pessoa coloca um dos braços sob a cabeça
e o outro na região lombar;
• a segunda pessoa coloca um dos braços também sob a
região lombar e o outro na região posterior da coxa;
• trazer o idoso, de modo coordenado, para o lado da
cama em que estão as duas pessoas;

Se for necessário mover o idoso sem ajuda, deve-se:


• fazê-lo em etapas, utilizando-se o peso do corpo
como um contrapeso;
• permanecer do lado para o qual a pessoa será virada;
• posicionar um dos braços da pessoa esticado sobre
o outro, para a direção em que a pessoa será virada.

157
Flexionar uma perna por cima da outra, em um ângulo de 90º, com o joelho
apontando para a direção em que a pessoa será virada;
• rolar a pessoa utilizando o ombro e joelho como alavancas;
• este procedimento pode também ser realizado com uso
de um lençol móvel deslizante e resistente. Para isso,
soltar o lençol móvel de baixo do colchão e com ele
elevar o idoso, fazendo-o virar. Durante o movimento, o
cuidador deverá manter suas costas eretas, para evitar
lesão. Manter a grade de proteção no lado para o qual
a pessoa será virada, para prevenir quedas, pois neste
caso o cuidador estará atrás do idoso.

Contenção física de idosos frágeis e acamados


A contenção ou restrição física consiste no uso de dispositivos mecânicos para
restringir a movimentação de indivíduos, com o objetivo de proteção contra danos
físicos (queda, trauma) ou deslocamento/retirada de dispositivos que resultem em
prejuízo importante para sua saúde, causados por ele intencionalmente ou não. Deve
ser utilizada somente como última alternativa, quando todas as outras medidas pre-
ventivas não tiverem sido exitosas e seu risco (físico, psicológico, ético) não superar os
prejuízos da interrupção no tratamento. É regulamentada pela Resolução do COFEN
no 4267, de 2012, que normatiza seu uso em pacientes psiquiátrico e em ambiente
hospitalar. O artigo 1o da norma estabelece que “os profissionais da Enfermagem,
excetuando-se as situações de urgência e emergência, somente poderão empregar
a contenção mecânica do paciente sob supervisão direta do enfermeiro e, prefe-
rencialmente, em conformidade com protocolos estabelecidos pelas instituições de
saúde, públicas ou privadas, a que estejam vinculados”. O artigo 3º deixa claro que
“é vedado aos profissionais da Enfermagem o emprego de contenção mecânica de
pacientes com o propósito de disciplina, punição e coerção, ou por conveniência da
instituição ou da equipe de saúde”. A norma foi elaborada para regulamentar o uso
da contenção física em pacientes com transtorno psiquiátrico e durante quadros de
descompensação, quando é indispensável sua internação e atendimento médico-hos-
pitalar. Nesses casos, o uso da restrição física é temporária e deve ser prescrita após
avaliação de toda a equipe interdisciplinar juntamente com a família e registrado em
prontuário. Deve ser monitorada regularmente de 4/4 horas e reavaliada em inter-
valos de 24 h, avaliando sempre a necessidade de manutenção, redução ou retirada
da contenção, observando o comportamento do idoso e a eficácia da restrição. É

158
importante a observação de agitação, características da pele (cor, perfusão capilar,
pulso), hidratação, alimentação, eliminação, ansiedade e dor. Assim, tal procedimen-
to é absolutamente contraindicado no ambiente domiciliar.
Por outro lado, idosos frágeis portadores de síndrome demencial, altamente depen-
dentes nas AVDs básicas (estratos 8, 9 e 10) e acamados podem apresentar quadros
de agitação psicomotora, que impõem riscos de quedas, traumas e retirada acidental
de sondas e cateteres. O acompanhamento médico é fundamental para a avaliação
e prescrição do tratamento, que inclui medidas não farmacológicas e farmacológicas.
Inicialmente, deve-se afastar todas as outras causas de agitação, pois tais pacientes
não conseguem verbalizar a presença de qualquer desconforto físico, incluindo a dor.
Outras medidas devem ser tentadas para estimulá-lo de todas as formas, como manter
o ambiente seguro, o menos restritivo possível, digno, confortável, conversar com tran-
quilidade sobre temas diversos, dependendo do seu grau de compreensão, musicote-
rapia ou oferecer pequenas atividades manuais que seja capaz de executar na cama,
como manipular peças de roupas ou alguns objetos lúdicos. Nos casos em que tais
medidas falharem ou não se mostrarem completamente eficazes ou quando aumento
das dosagens dos medicamentos psicotrópicos ou sedativos (contenção química) se
torna proibitiva ou maléfica, o médico assistente pode considerar a contenção física
como forma de alternativa ou complementar de proteção do paciente. Usualmente, as
medidas de restrição limitam-se aos punhos, mãos ou tronco e a sua escolha deve ser
minimamente invasiva, segura e digna para o idoso:
• punhos: utilizar compressas não estéreis ou fralda de
algodão para fazer uma “pulseira” no punho do idoso;
dobrar uma atadura de crepom ao meio e passá-la entre a
compressa e o punho do idoso, prendendo-a com um nó
de Azelha e amarrar as pontas da atadura no leito. O nó
de Azelha é um tipo de nó formador de uma alça simples
que não corre. É bastante difícil de desfazer e dificilmen-
te está associado a lesões no punho. Todavia, deve-se ter cuidado com o
garroteamento dos membros, devendo-se afrouxar a restrição em casos de
edema, lesão e palidez. A contenção deve ser retirada durante o banho e em
outros momentos do dia, conforme a disponibilidade do cuidador;
• tronco: dobrar o lençol em diagonal e redobrá-lo formando uma faixa lar-
ga. Colocar a faixa sobre o tórax do idoso, passando por debaixo das axilas.
Amarrar as pontas da faixa no leito ou na cadeira, mantendo um pequeno
espaço entre o lençol e o tórax do idoso. Esse tipo de contenção deve ser

159
evitada ou usada somente por curtos períodos do dia, pois o risco de com-
plicações é elevado, em especial, àquelas relacionadas à restrição dos movi-
mentos respiratórios;
• mãos “luvas de contenção”: colocar o algodão na parte interna das mãos e
entre os dedos, depois fechá-la e proceder o seu enfaixamento com atadura de
crepom, fixando com esparadrapo ou fita crepe.

Atividade Integradora
A imobilidade representa o estágio final da instabilidade postural.
Por vezes, somente o medo de cair pode levar à imobilidade, daí a
importância de ser investigado, mesmo na ausência de história de
quedas (página 9). A fratura de fêmur (página 9), juntamente com o
AVC (página 14), são as causas mais importantes de imobilidade em
idosos frágeis. Da mesma forma, a doença de Parkinson, a doença
de Alzheimer e a osteoartrite de joelho ou de quadril, na sua fase
avançada, comprometem a mobilidade de forma lenta, mas progres-
siva (página 14).
A presença de resposta positiva na pergunta 16 do IVCF-20 (página
4) é a primeira fase do processo de desenvolvimento da imobilida-
de. Nesses pacientes é indispensável a realização de atividade física
supervisionada e, em alguns casos, um programa de reabilitação
da marcha. A incapacidade para realizar transferência, avaliada na
escala de Katz (AVD básica) define a presença de imobilidade grau
II (página 8). Idosos com necessidade de ajuda humana para cami-
nhar ou uso de andador e cadeiras de rodas já são considerados
como portadores de imobilidade parcial grau I (página 12).

Referências
1. ALEXANDRE, N. M. C.; ROGANTE, M. M. Movimentação e transferência de pa-
cientes: aspectos posturais e ergonômicos. Revista da Escola de Enfermagem
da USP, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 165-73, jun. 2000.
2. BLANES, L.; FERREIRA, L. M. Prevenção e tratamento de úlcera por pressão.
São Paulo: Editora Atheneu, 2014. 360 p.

160
3. BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução Nº 427- Normatiza os proce-
dimentos da enfermagem na contenção mecânica de pacientes. Brasília, DF, 2012.
4. DOMANSKY, R. C.; BORGES, E. L. Manual para prevenção de lesões de pele:
recomendações baseadas em evidências. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014. 318 p.
5. ELIOPOULOS, C. Enfermagem gerontólogica. 7. ed. Porto Alegre: Editora Art-
med, 2011. 568 p.
6. FREITAS, E. V. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2002. 1187 p.
7. MORAES, E. N. Princípios básicos de geriatria e gerontologia. Belo Horizonte:
Editora Coopmed, 2009.
8. MORAES, E. N.; MARINO, M. C. A.; SANTOS, R. R. Principais síndromes geriátri-
cas. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 54-66, jan./
mar. 2010.
9. NATIONAL PRESSURE ULCER ADVISORY PANEL. NPUAP Pressure Injury Stages.
In: NPUAP 2016 Staging Consensus Conference: Rosemont, Chicago, abr. 2016.
Disponível em: <http://www.npuap.org/resources/educational-and-clinical-re-
sources/npuap-pressure-injury-stages/>. Acesso em: 20 jul. 2016.
10. WOLD, G. H. Enfermagem gerontológica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

161
Capítulo 8

Incontinência Esfincteriana

Raquel Souza Azevedo


Tatiane Kelly de Oliveira Linhares
Edgar Nunes de Moraes
Rogéria Andrade Werneck
A continência esfincteriana é essencial para a indepen-
dência do indivíduo, pois é um subsistema da mobilidade, ao
lado da marcha, capacidade aeróbica/muscular e alcance/
preensão/pinça. A incontinência esfincteriana é a queixa de
perda involuntária de urina ou fezes ou ambos (incontinên-
cia mista). A incontinência urinária (IU) é mais frequente do
que a fecal, mas ambas podem trazer profundas repercus-
sões na mobilidade, restringindo a participação social do
indivíduo (Figura 8.1).

Figura 8.1 Saúde do idoso e incontinência esfincteriana

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
comando sobre as ações, estabelecendo Refere-se à capacidade de realizar
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções.

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Continência
esfincteriana

Incontinência Esfincteriana

Incontinência Urinária Incontinência Fecal

IU Transitória IU Estabelecida

Fonte: Moraes, 2016

164
Incontinência Urinária
A incontinência urinária é definida como
a queixa de qualquer perda involuntária
de urina. O envelhecimento por si só não é
causa de IU, mas leva a alterações no siste-
ma urinário que podem predispor à incon-
tinência. As mulheres têm risco duas vezes
maior de apresentar incontinência urinária
do que os homens.
A IU apresenta causas multifatoriais, re-
sultante da interação de fatores associados
ao envelhecimento com doenças do sistema
nervoso e do trato urinário, uso de medica-
mentos, dentre outras. No homem, o aumento da próstata é o principal responsável
pelas alterações do fluxo urinário. Na mulher, a principal alteração é a fraqueza da
musculatura pélvica e da musculatura da uretra, facilitando o extravasamento de uri-
na. Outras alterações urinárias que ocorrem em ambos os sexos incluem a redução
da contratilidade da bexiga, o aumento do volume de urina residual (após a mic-
ção), dificuldade de retardar a miccção e aparecimento de contrações na bexiga que
não podem ser inibidas. As alterações da mobilidade, da motivação e a tendência
em excretar mais líquido após deitar predispõem o idoso à IU.
A IU afeta de forma negativa a qualidade de vida, com consequências diretas
nos aspectos físicos, sociais e psicológicos. Predispõe a infecções do trato urinário e
genital, provoca maceração da pele, facilita formação de lesões por pressão, contri-
bui para disfunção sexual, altera a qualidade do sono, aumenta o risco de quedas e
fraturas e pode causar isolamento social e depressão no idoso. Assim, a IU gera preo-
cupações em virtude das complicações clínicas e sociais, sobrecarregando o cuidador
e levando a aumento expressivo nos gastos do sistema de saúde. Além disso, é uma
das principais causas de institucionalização do idoso.
Apesar da alta prevalência e morbidade, o problema é pouco detectado. Muitos
pacientes tem dificuldade em relatar os sintomas por constrangimento, por relacionar
ao processo normal do envelhecimento (“da idade”) ou por desconhecer as possibi-
lidades de tratamento. Além disso, os profissionais nem sempre perguntam ou su-
bestimam esta queixa. Portanto, é de primordial importância que esse problema seja
abordado na avaliação de todo idoso. Essa intervenção pode identificar os pacientes
com IU e direcionar condutas que poderão melhorar a independência do indivíduo.

165
A incontinência urinária está presente em 30% dos idosos. Toda-
via, a maioria dos idosos nega esta queixa por constrangimento ou
vergonha e, também, por achar que é normal da idade.

A IU pode ser classificada em transitória e estabelecida. A IU transitória é normal-


mente de pouco tempo de evolução, início súbito, associada a uma condição clínica
aguda ou uso de droga e tende a resolver após removida a causa. A identificação
da causa pode reverter completamente a perda involuntária de urina. As principais
causas podem ser resumidas no epônimo D2IURESE (Quadro 8.1).

Quadro 8.1 Causas de incontinência urinária transitória

Delirium: origem multifatorial, mas sempre reversível e associada a uma


causa clínica, como pneumonia, infecção urinária, intoxicação medica-
D2 mentosa, etc.

Depressão e ansiedade: a depressão maior pode levar à perda do interesse


em tudo, inclusive com a micção em hora e local adequados.

Infecção urinária: frequente nos idosos, principalmente nos idosos aca-


I
mados, e nem sempre associada à sintomatologia miccional.

Uretrite: a deficiência estrogênica na menopausa pode causar vaginite atró-


U fica e maior irritação da mucosa uretral, levando à IU, urgência e desconforto
na micção.

Restrição da mobilidade: mobilidade parcial ou total, fatores ambientais,


R
limitam o acesso ao banheiro.

Excesso de fezes: o fecaloma tem um efeito direito irritativo na bexiga,


E
causando IU.

Substâncias: o uso de substâncias que estimulam a produção de urina,


como diuréticos, álcool e cafeína. Outras substâncias podem provocar
S
sedação do idoso e causar perda de urina, como o diazepam, clonazepam,
amitriptilina, haloperidol em excesso, etc.

Excesso de urina: a produção de excesso de urina (poliúria), como ocorre em


E pacientes com ingestão excessiva de líquidos, hiperglicemia, excesso de cálcio
na urina (hipercalciúria) insuficiência cardíaca associada a edema.

Por sua vez, a IU estabelecida tem longo tempo de evolução, usualmente superior
a três meses e, também, é classificada de acordo com sua sintomatologia clínica em:

166
• IU de urgência (bexiga hiperativa): é a causa mais
comum em idosos. Caracteriza-se por intenso desejo
de urinar (urgência), seguido pela perda involuntária
de volume de urina que pode ser de moderada a
intenso. Ocorre por contrações não inibidas da bexiga
(hiperatividade do detrusor). Esse mecanismo pode
ser causado por condições locais como uretrite, tu-
mores e litíase; ou por alterações no SNC como: AVC,
demência e parkinsonismo;
• IU de esforço: perda involuntária de urina duran-
te aumento da pressão abdominal (tosse, espirro,
riso). Não há urgência urinária. É a segunda causa
de IU na mulher idosa. Ocorre por deslocamento da
uretra de sua posição anatômica durante esforço
(hipermotilidade uretral), por enfraquecimento dos
músculos do assoalho pélvico (envelhecimento,
multiparidade e trauma cirúrgico) e/ou deficiência
esfincteriana intrínseca decorrente de trauma cirúr-
gico (prostatectomia transuretral);
• IU por transbordamento: responsável por menos
de 20% das causas de IU em idosos. Está associada a
hipocontratilidade do detrusor (por distúrbio neuroló-
gico) ou por obstrução da saída vesical (aumento da
próstata ou cistocele grande). Caracterizada pela perda
frequente de urina, jato fraco, intermitência, hesita-
ção, frequência, noctúria e sensação de esvaziamento
incompleto. A bexiga, normalmente, está palpável e o
volume residual é grande (bexigoma);
• IU funcional: não há comprometimento dos meca-
nismos controladores da micção. A perda involuntária da uri-
na ocorre por incapacidade de chegar ao banheiro, devido a
limitações físicas, déficit cognitivo, alterações psicológicas ou
barreiras ambientais;
• IU mista: etiologia multifatorial. Muitas idosas apresentam
hiperatividade do músculo detrusor e ao mesmo tempo
evidências clínicas de IU de esforço. A etiologia mista deve
ser considerada na escolha da melhora terapêutica.

167
Tratamento
O tratamento da IU pode curar ou melhorar significativamente o volume de perda
urinária. Recomenda-se uma avaliação clínica minuciosa e alguns exames comple-
mentares que podem definir a causa e direcionar a melhor opção terapêutica. O
diário miccional é o registro de todos os dados relacionados à ingestão de líquidos, à
necessidade de urinar e eventuais perdas de urina. Essas anotações permitem avaliar
em quais momentos geralmente ocorrem as perdas urinárias. As intervenções tera-
pêuticas mais utilizadas são:
• treinamento de hábito: deixar o idoso no vaso até que consiga urinar ou eva-
cuar, sempre no mesmo horário, de acordo com a preferência do idoso;
• manipulação ambiental;
• exercício de Kegel: contração da musculatura do períneo e do ânus, visando
o fortalecimento da musculatura pélvica. É indicado para pessoas com incon-
tinência de esforço;
• exercícios com cones vaginais;
• treinamento da bexiga: ir ao banheiro em horários determinados (definidos
com base no diário miccional) e aumentar gradualmente o intervalo, até que
consiga reter a urina durante duas a três horas;
• fisioterapia do assoalho pélvico;
• medicamentos;
• cirurgia.

Alguns idosos terão que conviver com a incontinência urinária. Nestes casos, algu-
mas orientações podem melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente.
Caso as perdas urinárias continuem ocorrendo mesmo após as orientações descri-
tas acima, recomenda-se o uso de dispositivos que devem ser escolhidos de acordo
o volume da perda urinária. Deve ser levado em consideração o conforto e a melhor
adaptação ao formato do corpo do idoso de acordo com os dispositivos disponíveis
no mercado e conforme a capacidade de absorção de cada um.

Orientações para o idoso com IU:


• usar roupas fáceis de tirar;
• observar sinais de infecção urinária, como: retenção urinária,
piora da incontinência urinária, urgência urinária, aumento
da frequência urinária com pequenos volumes. Alteração da cor, cheiro,
volume, e dor ao urinar, pode ser indicativo de infecção urinária;

168
• avaliar a quantidade de líquidos que a pessoa idosa está ingerindo, pois a
baixa ingesta também pode causar as alterações acima;
• homens devem fazer o exame de próstata de acordo com a indicação de
seu médico;
• oferecer, no mínimo, 1,5 litros de líquido diariamente, para estimular o
funcionamento correto da bexiga, a menos que contraindicado;
• evitar alimentos e bebidas que irritam a bexiga como pimenta, café, chás
(preto e mate), refrigerantes e bebidas com gás, xarope e chocolate;
• mesmo sem vontade, ir ao banheiro de 3 em 3 horas, e, se necessário, de 2 em
2 horas;
• evitar líquidos 3 horas antes de dormir;
• elevar os membros inferiores 1 hora antes de deitar para dormir;
• ir ao banheiro antes de ir para a cama dormir;
• à noite, manter sempre uma luz acesa – luz de vigília (no corredor ou no
banheiro) para facilitar a ida ao banheiro e evitar quedas durante a noite;
• mulheres devem evitar urinar em pé;
• após urinar, a mulher deve inclinar-se para a frente, sentada no vaso sanitário,
e comprimir o baixo abdome para garantir o esvaziamento da bexiga;
• garantir que o banheiro seja de fácil acesso. Caso o acesso seja difícil, ou a
mobilidade do idoso esteja prejudicada, deixar perto da cama ou da cadeira
uma comadre, um marreco, um penico ou cadeira de banho com dispositi-
vo para micção. A idosa, ao usar o penico, deve apoiá-lo em uma cadeira,
evitando agachar;
• para pequenas perdas de urina: absorventes masculinos ou femininos. Não
ficar muito tempo com o mesmo absorvente.

Incontinência leve

Orienta-se nestes casos o uso de dispositivos de baixa absorção:


Absorvente geriátrico masculino – indicado para homens que
perdem algumas gotas de urina. Tem um formato de concha para
atender a anatomia masculina e oferece proteção, conforto e sen-
sação de estar seco. É muito discreto que nem se nota debaixo da
roupa, a faixa adesiva mantém o absorvente na posição correta.

Absorvente geriátrico feminino – absorventes finos e dis-


cretos, indicados para gotejamento ou perda permanente de uri-
na. Tem um formato específico para se adaptar melhor ao forma-

169
to do corpo. Existem diferentes tamanhos e proteções, o cuidador deve estar atento
ao conforto e discrição da idosa.

Absorvente descartável unissex – Modelo unis-


sex para ser vestida como roupa íntima normal, fácil de
ser usada, discreta e segura.

Calcinha /cueca laváveis – são 100% de algodão, in-


dicadas pra fluxo leve ou moderado, favorecem a reinte-
gração social, qualidade de vida e melhora da autoestima.
Pode ser lavada e reutilizada até 100 vezes e reduzem con-
sideravelmente a produção de lixo.

Incontinência moderada

Orienta-se nestes casos o uso de dispositivos de média absorção:

Absorvente feminino – absorventes finos e discre-


tos, indicados para perda permanente de urina. Tem um
formato específico para se adaptar melhor ao formato do
corpo. Existem diferentes tamanhos e proteções, o cuida-
dor deve estar atento ao conforto e discrição da idosa.

Calcinha absorvente descartável unissex – design com


máxima discrição, cor da pele, cômoda e se ajusta perfeitamen-
te ao contorno do corpo do idoso.

Incontinência intensa a severa

A melhor opção são as fraldas geriátricas descartáveis, que devem se moldar


perfeitamente na cintura e nas pernas, sem apertar e adaptando-se ao formato
das coxas para não vazar.

Fralda descartável unissex – uso diurno e noturno,


garante proteção, conforto, segurança contra vazamentos e
cuidado com a pele, principalmente para idosos acamados.

170
No caso dos homens, uma alternativa à fralda é o coletor urinário externo, com-
posto por uma espécie de preservativo sem lubrificante, conectada a um tubo plásti-
co, que conduz a urina até o frasco coletor.

Atenção às seguintes recomendações:


• lavar as mãos antes e após manipular o sistema;
• cuidar para que não ocorram vazamentos;
• limpar o pênis com água e sabão, removendo o acúmulo de
secreção antes de colocar o preservativo;
• trocar o preservativo diariamente;
• ao colocar o dispositivo, recomenda-se a máxima cautela para que não
ocorra garroteamento e lesões no pênis;
• esvaziar o frasco/bolsa coletora pelo menos 2 vezes ao dia; nunca deixar
ultrapassar 2/3 do enchimento.

Coletor urinário – composto por conector para


sonda uretro-vesicais, tubo extensor, cordel para susten-
tação ao leito e deambulação do paciente, frasco coletor
translúcido com escala graduada. Produto não estéril.

Cateter externo de látex – antidobras com saída para


conexão segura à bolsa coletora de urina.

Coletor urinário – masculino com preservativo e extensor.

Sonda Vesical de Demora (SVD) – O cateter vesical de demora (sonda Folley) é


um procedimento invasivo em que é inserido um cateter uretral até a bexiga. A princi-
pal finalidade é a drenagem da urina em pessoas com problemas de eliminação uriná-
ria, como ocorre nos casos de retenção urinária, bexiga neurogênica, dentre outros.

171
O cateter é introduzido na uretra (canal urinário), pelo médico ou enfermeiro, e
chega até a bexiga, de modo que a urina saia por meio dele. A parte externa é conec-
tada a uma bolsa coletora, que pode ser presa na lateral da cama, da cadeira de rodas
ou na perna do idoso (caso ele ande), de forma que a urina flua continuamente.
Principais complicações do cateterismo vesical:
• infecção urinária: é a complicação mais frequente determinada pelo cateteris-
mo vesical, podendo apresentar graves consequências;
• lesões na uretra e na glande (cabeça) do pênis.

Cuidados com o cateter vesical de demora higiene íntima:


• lavar as mãos antes de mexer com o cateter;
• realizar higiene da genitália e ao redor do cateter, com água
e sabão, pelo menos uma vez ao dia, para evitar o acúmulo
de secreção. Se o idoso tiver incontinência fecal, realizar a higiene também
após as perdas fecais;
• no homem, recobrir a glande com o prepúcio (pele que cobre o pênis),
exceto se o idoso houver removido o prepúcio cirurgicamente (circuncisão).
Cobrir a glande evita que o idoso apresente edema no pênis.

Fixação:
• o cateter é fixado internamente por meio de um balão localizado dentro da
bexiga. Portanto, não há necessidade de fixação externa;
• o cateter nunca deve ser puxado, pois poderá sair da posição correta,
levando ao risco de lesão da uretra e vazamento da urina.

Posicionamento:
• manter sempre a bolsa coletora
abaixo do nível do orifício externo
da uretra. Se for necessário elevar
a bolsa coletora acima desse nível,
sempre pinçar o tubo da bolsa
coletora, para que não haja refluxo
da urina para dentro da bexiga;
• nunca desconectar o sistema na
junção entre o cateter e o conector
da bolsa coletora. O sistema de
sondagem vesical de demora deve
ser mantido fechado e estéril;

172
• nunca deixar a bolsa coletora em contato direto com o chão;
• não deixar a perna do idoso apoiada no cateter, para não obstruir a passagem
da urina.

Orientações gerais:
• esvaziar a bolsa coletora pelo menos duas vezes ao dia. Nunca deixar a bolsa
coletora ultrapassar mais de 2/3 de enchimento (aproximadamente 1300 mL);
• atentar para o aspecto da urina (volume, cor, odor, presença de sangue, pus,
pequenas partículas, etc.).
• observar a quantidade de urina que está sendo drenada diariamente. Em
caso de volume reduzido de urina na bolsa coletora, verificar se há alguma
obstrução no fluxo e comunicar à equipe assistente;
• caso o idoso não urine num intervalo de 4 horas, mesmo tendo ingerido
líquido, procurar com urgência a equipe de saúde;
• não existe uma norma quanto ao tempo de permanência de um mesmo cateter.
A troca deve ser realizada em caso de dano no circuito de drenagem, obstrução,
contaminação do cateter por manuseio inadequado, desconexão acidental do
cateter com o tubo coletor, ou em caso de infecção do trato urinário;
• caso o cateter esteja fora do lugar, comunicar imediatamente a equipe de
saúde.

Dermatite associada à incontinência Invasão fúngica

A dermatite é caracterizada por inflamação e


erosão da pele, ou aparência da pele macerada. As
assaduras geram dor e incômodo, especialmente no
caso dos idosos e são causada pela exposição da
pele à umidade da urina ou das fezes. A pele fica
avermelhada e rompe-se facilmente, se tornando Erosão na pele

porta de entrada para outras infecções. Geralmen-


te a dermatite nos idosos ocorre pela mobilidade
prejudicada, muitas vezes estando o idoso acamado
e fazendo uso de fraldas.

Consequências
• edema local;
• pessoas com pele clara: pele em sofrimento, geralmente ficando avermelhada
ou rosa púrpura;

173
• pessoas com pele escura: pele em sofrimento, geralmente ficando com tons
amarelados, brancos ou arroxeados;
• descamação;
• infecção por invasão bacteriana ou fúngica;
• lesão de pele.

Prevenção e tratamento
• avaliar diariamente a pele do idoso. Verificar se há sinais de sofrimento na pele
e diagnosticar precocemente;
• posicionar a pessoa idosa, se possível, 3 vezes ao dia por 30 minutos, para
exposição da pele ao ar ambiente;
• a cada duas horas, verificar se a pessoa idosa está com fezes ou urina, e, se
necessário, trocar fralda, roupas e roupa de cama;
• lavar bem as mãos antes e depois de limpar e trocar o idoso;
• após todas as perdas urinárias e/ou fecais, fazer higienização suave com pro-
dutos que tenham pH semelhante ao da pele (levemente acidificado, próximo
a 5,5). Se não for possível, devido ao custo elevado, fazer a higiene íntima com
água e sabonete (de preferência líquido; evitar sabonetes antimicrobianos), ou
com outro produto de limpeza sem álcool;
• manter os pelos pubianos aparados com tesoura para facilitar a higiene íntima
e manter a área seca e limpa;
• limpar a pele suavemente para evitar fricção e lesões;
• utilizar toalhas macias para secar a pele;
• aplicar uma fina camada de creme emoliente apropriado, após cada troca de
fralda, principalmente após banho e à noite. O uso de óleo mineral facilita a
remoção e limpeza local;
• se houver lesões de pele, não aplicar cremes ou pomadas sem indicação de
médico ou enfermeiro. Lavar a lesão com solução fisiológica 0,9% em jato (furo
único com agulha 25x07 ou 25x08). Aplicar na lesão gaze embebida em ácidos
graxos essenciais – AGE (óleo), até avaliação e prescrição da cobertura ideal
pelo enfermeiro ou médico. Não usar esparadrapo ou outras fitas adesivas em
contato direto com a pele. Se possível, usar fita microporosa ao redor da região.
A troca do curativo deverá ocorrer diariamente. Proteger o curativo no momen-
to do banho, com plásticos/sacolas, bem vedado com fita crepe. Atentar para
sinais de infecções na lesão, como vermelhidão, calor, dor e edema (inchaço);

174
• em caso de invasão fúngica,podem ser usadas pomadas especiais, à base de
nistatina ou cetoconazol. Dependendo da gravidade da invasão, poderá ser
necessário tomar medicamentos orais.
• aplicar protetores para a pele:

• cremes à base
de dimeticona;

• petrolato ou vaselina –
cria uma barreira de proteção na pele;

• película líquida – forma na pele uma película prote-


tora incolor e transparente, contra irritações de pele
decorrentes de incontinência urinária e anal, e danos
causados por curativos repetitivos. Pode ser aplicado
em pele hiperemiada e/ou escoriada, pois não arde.
A pele deve estar limpa e seca antes da aplicação, apli-
car na região que precisa da proteção e deixá-lo secar.
Reaplicar a cada 24 horas ou sempre que necessário.
Não precisa retirar antes das reaplicações, evitando a
fricção e consequentemente a abertura de lesões.

• óxido de zinco – a pomada deve ser aplicada no local


onde há lesão na pele, de acordo com a indicação mé-
dica; Retirar com óleo mineral.

• curativos autoadesivos – pode ser indicado


como curativo primário ou secundário, para
fixação de cateter e em peles sensíveis evitando
lesões. Filme flexível de poliuretano estéril, oclu-
sivo, transparente (permite a avaliação da pele),
auto-adesivo (não agressivo a pele), permeável
ao vapor e impermeável a água e bactérias. E
adapta-se aos contornos da pele mantendo o
ambiente com a umidade necessária. Como aplicar:

175
Curativos autoadesivos

Incontinência Fecal
A incontinência fecal (IF) é uma alteração funcional do intestino que leva à perda
involuntária das fezes líquidas, pastosas, sólidas ou flatos, causando um problema
social e higiênico. Muitas vezes está associada com a incontinência urinária, mas cau-
sa mais danos físicos, mentais e sociais. Em algumas pessoas, a incontinência fecal é
leve, com pequenas perdas de fezes ocasionalmente. Em outras pessoas, a perda de
fezes pode ocorrer diariamente, em pequena ou grande quantidade.
A IF é a segunda causa de institucionalização em idosos e pode contribuir para
uma piora na qualidade de vida. As principais complicações incluem infecção do trato
urinário de repetição, lesão por pressão, isolamento social e aumento da mortalidade.
Apesar da alta morbidade, a IF, assim como a IU, ainda é pouco relatada pelos
pacientes, por vergonha ou desconhecimento do tratamento. Assim, é importante
que se investigue rotineiramente a possibilidade de IF durante a avaliação do idoso.
O mecanismo da continência anal envolve a ação integrada das estruturas anorretais,
da consistência das fezes e do tempo de trânsito intestinal. Também, a mobilidade, a
cognição e o humor atuam na continência fecal. Condições que alterem qualquer um
desses mecanismos podem gerar IF.

Classificação

A incontinência fecal pode ser classificada em:

Incontinência fecal por sobrefluxo: é a causa mais frequente em idosos frágeis


(principalmente com comprometimento da cognição e mobilidade). Associada com
constipação intestinal crônica e fecaloma. O paciente tem o desconforto pélvico e
eliminação de fezes semi-líquidas, várias vezes ao dia, podendo simular um quadro
de diarreia (diarreia paradoxal). O mecanismo desta diarreia paradoxal é a irritação da
mucosa retal pelo acúmulo prolongado de fezes endurecidas, provocando inflamação
das paredes intestinais; com isso, as fezes escapam pela lateral do bolo fecal endure-
cido e a pessoa evacua líquido sem controle, em pequenas quantidades.

176
O idoso com fecaloma pode relatar que está com diarreia,
quando na realidade está com fecaloma.

Incontinência fecal funcional: os mecanismos que controlam a continência fe-


cal não estão comprometidos, mas o paciente é incapaz de chegar ao banheiro por
limitação física, cognitiva, alteração psíquica ou ambiente desfavorável (iluminação
inadequada, difícil acesso ao banheiro).
Incontinência fecal secundária: associada a alguma doença orgânica do cólon
ou reto, como doenças inflamatórias intestinais, síndromes mal absortivas, proctoco-
lectomias, dentre outras.
Incontinência fecal reto-esfincteriana: causada por lesões neuromusculares
das estruturas sensitivo-motores. O paciente está atento, mas não consegue contro-
lar a perda fecal. As causas mais comuns são o trauma ou cirurgia anorretal (trau-
ma obstétrico, esfincterectomia, hemorroidectomia), neuropatia periférica, esclerose
múltipla, dentre outras.

Tratamento
As principais intervenções indicadas na IF são:

• está contraindicado o uso de fibras em idosos acamados, pelo risco de fecaloma;


• na presença de constipação intestinal com fecaloma: extração manual das
fezes, uso de laxantes ou clister;
• correção dos problemas de saúde reversíveis que estejam causando a incontinência;
• medicamentos;
• cirurgia;
• no caso de diarreia, orientação de dieta.

177
Orientações para idoso com incontinência fecal:
• em mulheres, quando for realizar a higiene íntima, abrir
os grandes lábios e retirar todos os resíduos, limpando
sempre de frente para trás (vagina – ânus), para evitar
infecções urinárias;
• não esfregar vigorosamente a pele;
• treinamento do hábito: condicionar o paciente para evacuar em determinados
horários (indicado para idosos com demência). Estabelecer uma agenda
para ir ao banheiro;
• se necessário, usar fraldas apropriadas e creme de barreira.

Atividade Integradora
Na página 5, o IVCF-20 aborda a presença de incontinência esfincte-
riana, na pergunta 17. Na página 8, na avaliação das AVDs básicas,
também é perguntado se o idoso consegue controlar o esfíncter uriná-
rio e fecal. Esse item do Katz não pode ser considerado isoladamente
para o diagnóstico de fragilidade no idoso. Lembrar-se que o controle
esfincteriano não é uma tarefa do cotidiano, mas sim, uma função
fisiológica. Assim, o idoso pode não ter o controle esfincteriano, mas
ser capaz de realizar todas as AVDs básicas e instrumentais. Na página
12, a necessidade do uso de sonda vesical de demora ou sonda vesical
de alívio, além da presença de cistostomia ou urostomia, também con-
firmam a presença de alteração da continência esfincteriana.

Referências
1. DOMANSKY, R. C.; BORGES, E. L. Manual para prevenção de lesões de pele:
recomendações baseadas em evidências. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014. 318 p.
2. ELIOPOULOS, C. Enfermagem gerontológica. 7. ed. Porto Alegre: Editora Art-
med, 2011. 568 p.
3. MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação multidimensional do idoso. 5. ed.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2016. 248 p.
4. MORAES, E. N.; MARINO, M. C. A.; SANTOS, R. R. Principais síndromes geriátri-
cas. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 54-66, jan./
mar. 2010.
5. WOLD, G. Enfermagem gerontológica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

178
Capítulo 9

Problemas na Comunicação
com o Idoso Frágil:
Incapacidade Comunicativa

Edgar Nunes de Moraes


Erika de Oliveira Hansen
Raquel Souza Azevedo
A comunicação é fundamental para a interação do indivíduo com a sociedade e para
sua independência funcional. Define-se como a capacidade de estabelecer um relacio-
namento produtivo com o meio, trocar informações, manifestar desejos, ideias e senti-
mentos. A comunicação é realizada por meio da linguagem, um sistema organizado de
sinais que transmite uma ideia. Pode ser verbal (fala e escrita) ou não verbal, a partir de
gestos, do corpo e da expressão facial. Por exemplo, um aperto de mão é universalmente
entendido como um cumprimento de paz, assim como o aceno com as mãos representa
uma despedida e um afago no rosto denota carinho. Isso significa que, mesmo quando
não se pode mais usar a comunicação verbal, existem ainda outras formas de comunicar.
A fala, representada pela boca e órgãos fonatórios, são fundamentais para a ex-
pressão da linguagem. Entretanto, é preciso lembrar-se dos órgãos responsáveis por
receberem os estímulos: a visão e a audição. É pela audição que conseguimos rece-
ber a linguagem falada e processá-la. A visão pode ser incluída atuando de forma
compensatória, na ausência das outras habilidades da comunicação oral-verbal ou de
forma complementar, como no caso da linguagem não verbal.
Os diferentes componentes da comunicação podem ser agrupados no sistema
funcional denominado comunicação. Esse sistema é fundamental para a indepen-
dência do indivíduo, uma vez que comunicar com o meio é importante para suprir
as necessidades humanas, como fazer compras, andar em transporte público, alertar
quanto à situação de perigo, demonstrar afeto, etc.
As estruturas envolvidas na produção oral (fala e voz) participam também da de-
glutição, daí a sua inclusão no modelo. O comprometimento desse sistema está asso-
ciado à disfagia orofaríngea, causa importante de pneumonia de aspiração em idosos
frágeis (Figura 9.1).
A seguir serão apresentadas algumas alterações, normais ou patológicas do enve-
lhecimento, que podem comprometer cada uma das funções (visão, audição e produ-
ção oral/motricidade oral). Após, daremos algumas dicas para facilitar a comunicação
com o idoso.

Visão
A perda da visão pode ser relacionada ao processo de envelhecimento, uma vez
que, ao longo dos anos, as estruturas oculares vão sofrendo diversos danos meta-
bólicos e ambientas. A deficiência visual é uma das condições de incapacidade mais
comuns no idoso, sendo que esse termo pode ser utilizado tanto para cegueira total
quanto para a baixa visão (visão subnormal).

180
Figura 9.1 Incapacidade comunicativa

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
comando sobre as ações, estabelecendo Refere-se à capacidade de realizar
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções.

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

INCAPACIDADE COMUNICATIVA

Visão Audição Produção/ Motricidade Orofacial

Surdez Voz Fala Linguagem Mastigação /


Deglutição

Cegueira Visão Subnormal Condução Neurossensorial Disfonia Disartria Afasia Disfagia

No envelhecimento normal podemos ter dificuldade em focalizar objetos mais


próximos, especialmente com pouca luz. Essa condição é chamada de presbiopia.
Torna-se mais difícil focar objetos próximos do indivíduo e ajustar o foco rapidamen-
te em objetos a distâncias diferentes. Isso pode afetar a visão nas atividades diárias
como leitura. As letras podem parecer borradas quando próximas e o idoso começa
a segurar livros, revistas e cardápios à maior distância para ver com mais nitidez o
que está escrito. A ausência de correção da visão pode levar à dor de cabeça e à
fadiga nos olhos.
Já no envelhecimento patológico, as principais causas de baixa visão são catarata
(“vista embaçada”), degeneração macular relacionada à idade (ausência ou diminui-
ção da visão central), glaucoma (ausência ou diminuição da visão periférica) e retino-
patia diabética. O diagnóstico adequado da etiologia da perda visual é fundamental,
uma vez que direciona o tratamento. Destaca-se a importância da abordagem da
catarata, condição frequente no idoso cujo tratamento é relativamente simples, com

181
grande impacto funcional para idosos. Sabe-se, por exemplo, que a abordagem da
catarata reduz o risco de fratura de fêmur.
Os idosos com deficiência visual estão três a quatro vezes mais propensos a terem
declínio funcional nas atividades de vida diária (AVD). O comprometimento visual está
diretamente relacionado à restrição na participação social dos idosos, contribuindo
para o declínio funcional e a dependência na realização de tarefas cotidianas. A baixa
visão provoca inadequação entre a pessoa e seu ambiente, mesmo no ambiente fa-
miliar, tornando um desafio a realização das tarefas do cotidiano. Assim, o indivíduo
pode ter sua participação e segurança comprometidas, o que frequentemente leva a:
frustração, constrangimento e insegurança. Diferentemente do indivíduo jovem que
desenvolve cegueira, o idoso tem menos oportunidade e condição de se adaptar à
nova condição.
A avaliação da pessoa idosa deve incluir a avaliação visual a fim de identificar
déficits que justifiquem avaliação mais detalhada por profissional especializado. Este,
em sua ampla avaliação, é capaz de caracterizar e graduar o déficit visual e prescre-
ver lentes corretivas (óculos). Entretanto, em alguns casos há comprometimento tão
avançado que os óculos habituais já não podem ser empregados. Há visão residual,
ou visão subnormal, em que o paciente enxerga apenas vultos e manchas. Nesse mo-
mento, deve ser discutida a indicação de reabilitação, que visa estimular ao máximo o
que resta da visão, a partir de estratégias compensatórias e dispositivos tecnológicos.
O objetivo é restaurar e manter a capacidade funcional e a independência do idoso.
Os terapeutas ocupacionais e pedagogos
participam do processo de reabilitação. Pela
avaliação do idoso em atividade, busca-se
identificar as limitações impostas pelo déficit
visual e quais são os facilitadores e barreiras que
interferem na sua participação, segurança e in-
dependência. Dessa forma, modifica a tarefa e/
ou o meio ambiente para minimizar ou eliminar
essas limitações. Sendo assim, o foco do trata-
mento está na redução do impacto da perda
visual, promovendo a autonomia e participação
nas atividades avaliadas. Algumas orientações
podem melhorar a capacidade visual do idoso e
reduzir o impacto funcional.

182
Orientações para melhoria da capacidade visual:
• ampliar o tamanho real dos objetos;
• leitura:
• ampliar letras de impressos;
• utilizar contraste entre coloração da letra e papel (exemplo: papel azul e
caneta vermelha);
• evitar o uso de papel brilhante;
• aumentar o espaço entre as linhas;
• ampliar os números do teclado do telefone, do relógio;
• ampliar materiais para costura e de medidas;
• iluminação: sempre garantir iluminação adequada ao ambiente em que o
paciente se encontra, principalmente na cabeceira da cama e no caminho
do banheiro (luz de vigília);
• auxílios para diminuição da luz refletida diminuem o desconforto visual,
aumentando o contraste, e melhoram a resolução visual para idosos que
apresentam sensibilidade à luz;
• ambiente doméstico deve ter cores vivas e contrastantes;
• evitar mudanças de lugar na mobília ou nos objetos pessoais. Não deixar
objeto largado no chão;
• orientar o paciente quanto à mobilidade e à adaptação ao ambiente domiciliar;
• usar utensílios domésticos com cores contrastantes lisos;
• evitar prato de vidro transparente ou multicolor;
• evitar uso de toalha de mesa estampada, sobretudo com flores e frutas. Usar
toalha de mesa lisa, com cores contrastantes escuras (vermelha, azul, verde),
para gerar contraste com o prato e os alimentos;
• manter sempre a mesma organização da geladeira e demais objetos pessoais
do paciente.

Audição
A perda auditiva é a terceira condição crônica mais prevalente em idosos, depois
de hipertensão e de artrite. Sua prevalência e gravidade aumentam com a idade.
Entre as pessoas com idade de 65 a 75 anos, 20 a 40% apresentam perda auditiva,
chegando a 90% aos 80 anos. A redução da capacidade de ouvir e comunicar é frus-
trante por si só, mas a forte associação entre a perda auditiva, depressão e declínio
funcional aumenta mais o prejuízo para o idoso.
As perdas auditivas com origem no ouvido podem decorrer de dois mecanismos:
• danos do sistema que conduz o som ou condutivo: afecções na orelha
e canal do tímpano. A perda condutiva resulta de problemas mecânicos no

183
local que conduz o som para a parte de dentro do ouvido, os ouvidos externo
e médio. As causas mais comuns incluem impactação de cerúmen (rolha de
cera), otite média (infecção de ouvido) e perfuração de membrana timpânica;
• danos do sistema que processa o som ou neurossensorial: afecções no
tímpano, nervo auditivo e outras estruturas do ouvido interno. Destaca-se,
neste último grupo, a presbiacusia, que é a perda auditiva secundária ao en-
velhecimento. Inicialmente, o paciente percebe perda da capacidade discrimi-
natória de sons com altas frequências em ambientes ruidosos. Um exemplo é
a dificuldade de entender a conversa com mais de uma pessoa dialogando ao
mesmo tempo. A perda auditiva neurossensorial é tratada com aparelho de
ouvido (aparelho de amplificação sonora), uma vez que não é possível reesta-
belecer a lesão de dentro do ouvido.

Perdas mistas (associação de perda auditiva condutiva e neurossensorial) também são


comuns. Por exemplo, a rolha de cera em um idoso com presbiacusia pode resultar em
perda auditiva de 40 decibéis (dB), que pode ser melhorada após a remoção de cerúmen.

Para entender: 40 decibéis representam o barulho de uma área


residencial à noite, um pouco menos de barulho do que o burbu-
rinho do cinema antes do filme.

Outras condições que afetam a audição do idoso incluem tumores do nervo audi-
tivo e condições sistêmicas como doenças vasculares, diabetes mellitus e dislipidemia.
O aparecimento da perda auditiva é geralmente lento. Sua natureza gradual e pro-
gressiva pode retardar ou até mesmo impedir intervenções diagnósticas e terapêuticas
adequadas, ainda que o efeito da perda auditiva no idoso seja irreversível. Além disso,
a perda auditiva está associada a prejuízo da comunicação, depressão, isolamento so-
cial, baixa autoestima, comprometimento da independência e incapacidade cognitiva.
O teste do sussurro pode ser utilizado na triagem de idosos cuja queixa principal
não é de perda auditiva. O examinador deve se posicionar a cerca de 30 centímetros
do lado examinado e fora do campo visual do paciente e sussurrar uma frase ou pala-
vras que devem ser repetidas. Para confirmar a perda auditiva são necessários testes
audiológicos instrumentalizados realizados em um ambiente acusticamente tratado.
É importante lembrar que o sistema auditivo depende também do processamento
central da informação. Portanto, outras causas de déficit auditivo estão associadas a

184
alterações centrais (sistema nervoso central) e da cognição, que implicam redução da
capacidade de detectar e ordenar a chegada dos estímulos sonoros, bem como da ca-
pacidade de isolar e discriminar os componentes de frequência sonora. Pacientes com
declínio cognitivo têm ainda mais dificuldade de processamento da informação. Nes-
ses casos, a indicação de realização de exames especializados, bem como indicação de
aparelho auditivo, deve ser criteriosa para não gerar frustração da família e paciente,
uma vez que a cognição preservada é pré-requisito para boa adaptação do aparelho.
Os aparelhos auditivos podem ajudar a corrigir a entrada periférica do som. Nos
casos indicados, o aparelho auditivo deve ser fornecido pois a reabilitação auditi-
va pode contribuir para a independência e melhorar a
qualidade de vida.
Em todos os casos, incluindo aqueles nos quais
não houver benefícios com aparelho auditivo, deve ser
oferecido aconselhamento ao paciente, familiares e cui-
dadores sobre medidas de favorecimento da comunica-
ção na vigência de deficiência auditiva. Abaixo, algumas
medidas capazes de facilitar a compreensão auditiva.

Orientações para melhoria da capacidade auditiva:


• orientar a família e demais pessoas quanto a déficit auditivo, necessidade de
compreensão e paciência;
• evitar isolamento social e tentar incluir o paciente na maior parte das
atividades que conseguir realizar;
• antes de iniciar a fala, pode-se tocá-lo suavemente para chamar a sua atenção;
• é importante que você se posicione de frente para o idoso ao iniciar uma
conversa (1 a 1,5 m de distância), pois o contato visual é muito importante;
• se possível, conversar em locais mais silenciosos;
• falar um pouco mais devagar, espaçando as palavras e acentuando
suavemente as sílabas importantes;
• falar um pouco mais alto, porém sem necessidade de
gritar. Gritar demais piora mais ainda o déficit auditivo;
• a voz deve ser audível. O tom de voz já dá informações
tanto quanto suas palavras e pode demonstrar interesse,
carinho e sinceridade;

185
• se o ouvinte não estiver entendendo, não repetir a frase várias vezes, mas
repeti-la de outra maneira, utilizando outras palavras. Evite frases compridas
e difíceis. Utilize sempre palavras simples, claras, afirmativas e familiares. Se
necessário, use gestos convenientes;
• não falar comendo, mascando chicletes ou com a boca aberta;
• se houver problema de audição em um ouvido só, posicionar a orelha
contralateral em direção ao interlocutor;
• aumentar a intensidade sonora da campainha, toque de telefone e alarmes
ou substituí-los por sinais visuais (luz) ou táteis (vibração);
• utilizar fones de ouvido para televisão, telefone e rádio;
• orientar cuidados reforçados ao atravessar a rua, já que a buzina do carro
pode não ser ouvida.

Produção/Motricidade Orofacial (fala, voz e linguagem)


A baixa visão e a perda auditiva podem impactar negativamente na funcionalidade
do idoso. Para completar o sistema comunicativo, é necessário estar atento aos órgãos
eferentes da comunicação, ou seja, a produção e motricidade oral, meio pelo qual se dá
a comunicação objetiva com o meio. Para tornar a compreensão mais didática, vamos
dividir em três grandes grupos: a voz, a produção linguística e a deglutição.
A voz é o som audível produzido pela passagem de ar através da laringe.  De
modo geral, o mecanismo para gerar a voz humana pode ser subdividido em três
partes: os pulmões, as pregas vocais na laringe e os órgãos articuladores (lábios, lín-
gua, dentes, palato duro e mandíbula). O pulmão produz um fluxo de ar que gera
energia acústica, que passa para as pregas vocais, que vibram e transformam esse ar
em pulsos sonoros, formadores da fonte de som da laringe. Os músculos da laringe
ajustam a duração e a tensão das pregas vocais para adequar a altura e o tom. Os
articuladores articulam e filtram o som emitido pela laringe e até certo ponto podem
interagir com o fluxo de ar para fortalecê-lo ou enfraquecê-lo como a fonte do som.
Ao variar intensidade, altura, inflexão, ressonância e articulação, pode transmitir sig-
nificado e emoção para a palavra. É importante estar atento também a alterações no
aspecto da voz, pois essa pode ser a primeira expressão de doenças graves, como
câncer de laringe. Nesse caso, é fundamental avaliação otorrinolaringológica visando
excluir causa orgânica para disfonia.
A produção linguística representada pela fala, por sua vez, é a transformação
da voz em palavras, com significados diversos, conforme o idioma do indivíduo. É a
utilização oral da língua pelo indivíduo ou ainda uma padronização cultural, a partir

186
da modificação dos sons, para transmitir informações. Os distúrbios da fala decorrem
de alterações na qualidade, na articulação das palavras ou ainda na compreensão/
expressão. Algumas doenças, como acidente vascular cerebral, doença de Parkinson,
esclerose lateral amiotrófica, esclerose múltipla, tremor essencial e drogas, como os
benzodiazepínicos, podem comprometer a articulação da fala, algumas vezes tornan-
do ininteligível. Nesses casos, a compreensão do paciente está preservada e chama-
mos essa alteração de disartria.
Determinadas doenças neurodegenerativas comprometem a linguagem, definida
como a capacidade de expressar os pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. Existem
vários tipos de linguagem: sinais, símbolos, sons (voz e fala), gestos e regras com sinais
convencionais. Portanto, a linguagem vai além da fala e da voz. As alterações da linguagem
recebem o nome de afasia. Algumas doenças neurodenegerativas afetam diretamente a
capacidade de compreensão (afasia fluente) ou de expressão da linguagem (afasia não
fluente). Por exemplo, alguns idosos podem não compreender o que está sendo falado,
mas conseguem se expressar ou falar o que desejam (afasia fluente ou de compreensão),
todavia, com substituição de palavras por outras diferentes e, às vezes, sem significado.
Por exemplo, ele aponta para um copo de água e pede para beber um elefante. Outros
idosos podem compreender o que está sendo falado, mas não conseguem falar ou suas
palavras são “emboladas”, dificultando muito a nossa compreensão (afasia não fluente ou
de expressão) e que pode evoluir para o mutismo (ausência da fala).
O objetivo da abordagem e do tratamento é tornar a comunicação funcional, de
forma a permitir ao idoso expressar suas vontades e resolver problemas. Deve-se es-
tar atento ao prognóstico da doença de base para se definir melhor as metas terapêu-
ticas. Por exemplo, pacientes em fase aguda de AVC apresentam grande potencial de
reabilitação. Já naqueles com comprometimento secundário à doença neuromuscular
progressiva, a probabilidade de reabilitação é mais restrita. Não se pode esquecer que
existem outras formas de comunicar e, uma vez que não há comprometimento cog-
nitivo, devem ser ofertados ao paciente outros recursos linguísticos, como a escrita.
Algumas orientações podem facilitar a comunicação com idosos com problemas
da fala, voz, compreensão ou expressão da fala.

Orientações para facilitar a comunicação:


• continuar chamando a atenção do idoso pelo seu nome,
falando de forma calma e tranquila;
• continuar respeitando o idoso e sua individualidade;

187
• manifestar carinho, paciência e atenção;
• o toque e o olhar são muito significativos;
• ao dizer nomes, dar ao idoso uma orientação, por exemplo: “Maria, sua filha...”;
• nunca discutir problemas relacionados ao idoso na sua frente como se ele
não entendesse ou não estivesse ali. O idoso não fala, mas escuta;
• se o idoso teve derrame (AVC) que afetou a forma de falar, mas continua
compreendendo o que você está dizendo, só não consegue se expressar, seja
criativo para encontrar maneiras de se comunicar, usando gestos, objetos,
papéis escritos, até que seja realizada reabilitação com a fonoaudiologia.

O comprometimento da deglutição, ou seja, qualquer dificuldade efetiva na con-


dução do alimento da boca até o estômago é chamada de disfagia. A disfagia é outra
complicação da alteração da motricidade oral. A musculatura envolvida na produção
oral também é responsável pela deglutição (mastigar e engolir).
A disfagia jamais pode ser considerada normal da idade e merece investigação e
abordagem ao primeiro sinal. As consequências incluem desde isolamento social a
doenças potencialmente ameaçadoras da vida. Destacam-se a desidratação, subnu-
trição e pneumonia aspirativa, a última responsável por internação e óbito.
A disfagia pode ser orofaríngea ou de transferência, caracterizada pela dificul-
dade em iniciar a deglutição. Geralmente é acompanhada por tosse, regurgitação,
aspiração e sensação de estase na faringe. Pode ser esofagiana, caracterizada pela
dificuldade de deglutição após ter iniciado a deglutição, com sensação de estase
esofagiana, ou seja, sensação de entalo.
Devido à gravidade, deve-se estar atento aos sinais clínicos de aspiração, como
tosse, engasgo, voz molhada e dispneia. Um instrumento simples e de fácil acesso
para a detecção é o “teste do copinho”, que pode ser realizado à beira do leito.

Após certificar-se de que o paciente se encontra alerta, interagin-


do com o examinador, sem instabilidades clínicas, colocar o pa-
ciente sentado a 90 graus. Solicitar-lhe que diga “AAAaaahhh”
e observar as características da qualidade vocal. Após, oferece
10 mL de água em copinho de “cafezinho”, observando voz
molhada, tosse, engasgo ou falta de ar. Diante da ausência de
sinais aspirativos, repetir a ação com quantidade maior de água
(50 mL). Observar por, pelo menos, cinco minutos.

188
Reforçamos que a primeira abordagem é multiprofissional e responsabilidade de
todos os componentes da equipe. A partir da detecção e definição de etiologia, a
abordagem deve ser individualizada. O envolvimento da fonoaudiologia é importan-
te, sobretudo nas disfagias orofaríngeas, a fim de evitar condutas iatrogênicas (como
modificação inadequada de consistência alimentar), bem como promover reabilita-
ção e retardar deterioração clínica.
As principais causas de problemas alimentares em pacientes com demência avan-
çada incluem a disfagia oral (caracterizada por estase do alimento na cavidade oral
e devolução da dieta ao cuidador) e a disfagia orofaríngea (retardo na deglutição e
aspiração levando a pneumonias frequentes), levando à incapacidade de alimentar.
Destacam-se também as alterações de comportamento manifestas como recusa ali-
mentar. É fundamental ter em mente que, apesar de se tratar de história natural da
doença, o desenvolvimento de disfagia pode ser consequência de delirium devido a
infecções, alterações metabólicas ou drogas. Portanto, o aparecimento súbito de dis-
fagia com piora rápida deve gerar investigação complementar a fim de excluir causas
potencialmente reversíveis
O manejo de idosos com demência associada à disfagia tem como objetivo evitar
desidratação e piora da desnutrição. Para isso, é usada como estratégia a alteração
da consistência da dieta, controle de volume, aumento da frequência de alimentação,
dietas hipercalóricas e suplementos alimentares. A alimentação do idoso demenciado
pode gerar muita angústia aos familiares e cuidadores, levantando-se o questiona-
mento quanto à possibilidade de vias alternativas de alimentação (sonda nasoentérica
e gastrostomia).
As evidências atuais da literatura mostram que o uso de via alternativa (sonda)
não implica melhora funcional, cognitiva, nutricional ou altera mortalidade e, por-
tanto, não deve ser uma prática incentivada. A abordagem do idoso com demência
avançada e com disfagia deve ser pautada pela abordagem do cuidador, orientando
sobre cuidados em fase final de vida. A família deve estar tranquila e esclarecida sobre
o manejo da alimentação nesse idosos, tentando desmistificar afirmações culturais.
Essa abordagem envolve o cuidado de toda a equipe, devendo haver sintonia entre
enfermeiro, médico, agente de saúde, fonoaudiólogo, nutricionista e demais mem-
bros envolvidos no cuidado.
A comunicação é atividade primordial do ser humano. A possibilidade de estabe-
lecer um relacionamento produtivo com o meio, trocar informações, manifestar dese-
jos, ideias e sentimentos está intimamente relacionada à habilidade de se comunicar.
É a partir dela que o indivíduo compreende e expressa seu mundo. Problemas de co-

189
municação podem resultar em perda de independência e sentimento de desconexão
com o mundo, sendo um dos mais frustrantes aspectos dos problemas causados pela
idade. A incapacidade comunicativa pode ser considerada importante causa de perda
ou restrição da participação social (funcionalidade), comprometendo a capacidade de
execução das decisões tomadas, afetando diretamente a independência do indivíduo.

Recomendações para melhorar a disfagia:


• realizar cinco a seis refeições ao dia: café da manhã, lanche da manhã, almoço,
lanche da tarde, jantar e ceia;
• atentar para o posicionamento: manter o paciente sentado a aproximadamente
90 graus e com a cabeça ereta durante as refeições e após as refeições;
• não oferecer qualquer alimento ou medicamento via oral se o paciente estiver
dormindo;
• oferecer a alimentação ao paciente em local tranquilo, para favorecer a
concentração, e com calma. Oferecer pequenas quantidades de alimentos de
cada vez. Utilizar talheres pequenos para assegurar que isso aconteça;
• esperar o idoso engolir todo o alimento contido na boca antes que outros
sejam oferecidos;
• respeitar a consistência dos alimentos orientada pelo nutricionista e/ou
fonoaudiólogo;
• evitar misturas de consistência na mesma preparação (p.ex.: canjas, sopas
com pedaços e com caldo em líquido fino, etc.). As preparações devem ter
consistência conforme o grau de disfagia;
• as preparações devem ser oferecidas logo que preparadas, para que não
percam a consistência desejada e garantam a segurança;
• utilizar, à vontade, alguns tipos de condimentos e ingredientes aromáticos no
preparo dos alimentos, como cebola, alho, salsinha, cebolinha, manjericão,
cominho, etc;
• identificar sinais clínicos de aspiração/disfagia;
• se houver tosse ou engasgos, suspender a oferta, posicionar a cabeça para
baixo e tossir forte. Não ofertar água quando estiver tossindo;
• realizar exercícios e manobras conforme orientação do
fonoaudiólogo;
• realizar higiene oral;
• se faz uso de prótese dentária, mantê-la bem adaptada;
• monitorar aceitação alimentar.

190
Estratégias de comunicação com o idoso frágil:
• chamar o idoso pelo seu nome;
• evitar expressões do tipo “vô”, “vó”, “vozinha”, etc., que despersonalizam e
inferiorizam o idoso;
• não infantilizar o idoso;
• ser amável e atencioso;
• ouvir o idoso com paciência, respeitando seu ritmo de resposta;
• evitar mudar de assunto sem avisar;
• respeitar o idoso com suas características pessoais e valorizar suas experiências;
• conhecer o vocabulário utilizado pelo idoso;
• permitir que o idoso participe do diálogo e das tomadas de decisões, seja na
instituição ou em sua casa;
• evitar expressões do tipo “deve”, “não deve”, para não refletir um
relacionamento autoritário;
• se o idoso repetir inúmeras vezes a mesma coisa, ter paciência para ouvi-lo.
Muitas vezes isso faz parte da doença que ele tem e que o deixa frágil;
• evitar bocejar, olhar repetidamente o relógio, roer unhas, mexer repetidamente
dedos e pernas enquanto se cuida ou conversa com o idoso;
• verificar a necessidade do uso de óculos, aparelhos auditivos e formas
alternativas de comunicação;
• cuidar para que sua aparência reflita uma pessoa cuidadosa. Manter suas
unhas limpas e bem cortadas, cabelos presos e bem penteados, uso de
calçados fechados, hábito de lavar as mãos antes e após cuidar do idoso e ao
manusear objetos, alimentos e medicações.

Simplifique as atividades:
• evitar muitas escolhas. Apresentar poucas opções de cada vez.

Seja flexível:
• não esperar muito do idoso, a tendência da doença é evoluir para pior. Seja
realista;
• outras formas não verbais podem ajudar muito: o tom da voz, tocar o corpo
do idoso, o carinho, o olhar, o abraço, o beijo afetuoso;
• sempre fazer com que, ao conversar com o idoso, ele esteja olhando para
você, prestando atenção no que você está falando;
• aprender a reconhecer os sentimentos e emoções do idoso pode ajudar
muito;

191
Preserve a estima do idoso:
• o idoso pode não saber se comunicar direito, mas pode entender razoavelmente
os sentimentos e emoções que podem acontecer;
• preservar a dignidade e o respeito do idoso;

Outras dicas:
• evitar levar preocupações e tristezas ao idoso. Deixá-lo frustrado em nada
ajuda e poderá piorar seu estado geral;
• mostrando e tocando objetos, retratos e quadros, pode-se
ajudar a “puxar” a memória e a melhorar a conversa;
• música pode ser um excelente modo de comunicação,
ajudando o idoso a recordar sentimentos, pessoas e situações
mais antigas.

Atividade Integradora
Na página 5, o IVCF-20 aborda a presença de incapacidade comunicativa,
nas perguntas 18 e 19. Da mesma forma, na página 12, o uso de óculos
e/ou prótese auditiva também avaliam a função comunicativa do idoso.

Referências
1. BERGER, S.; SCHREIER, K.; KALDENBERG, J. Occupational therapy interventions to
improve leisure and social participation for older adults with low vision: a syste-
matic review. The American Journal of Occupational Therapy, United States,
v. 67, n. 3, p. 303-311, may/june 2013.
2. CINTRA, M. T. G.; REZENDE, N. A.; TORRES, H. O. G. Qual a via mais adequada
para a alimentação de indivíduos idosos com demência avançada: via oral ou en-
teral? Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. No prelo.
3. CLARK, D. G.; MENDEZ, M. F.; WILTERDINK, J. L. Approach to the patient with
aphasia - UpToDate Version 11.0. 2014. Disponível em: <http://www.uptodate.
com>. Acesso em: 12 maio 2014.
4. COUTO, E. A. B.; FELIPE, L.; MORAES, E. N. Avaliação da comunicação. In: MO-
RAES, E. N. (Org.). Princípios básicos de geriatria e gerontologia. Belo Hori-
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5. MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação multidimensional do idoso. 5. ed.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2016. 248 p.
6. NAJAS, M. I Consenso Brasileiro de Nutrição e Disfagia em Idosos Hospita-
lizados. Barueri, SP: Minha Editora, 2011. 106 p.

192
Capítulo 10

Doenças mais Comuns no Idoso

Edgar Nunes de Moraes


Viviane Rodrigues Jardim
Flávia Lanna de Moraes
Fernanda Ferreira Monteiro de Souza
Raquel Souza Azevedo
Conceito de Doença
Doença (do latim dolentia, padecimento) é o termo utilizado para designar altera-
ções ou disfunções de órgãos que compõem o corpo humano, como o sistema car-
diovascular, respiratório, digestivo, geniturinario, pele e anexos, musculoesquelético,
entre outros. São frequentes no idoso, particularmente no idoso frágil. O conceito de
saúde independe de doenças e deve estar ancorado na funcionalidade ou capacida-
de funcional. O indivíduo pode ser portador de uma doença e ser completamente
independente para as atividades de vida diária. Esse conceito de doença não é capaz
de englobar determinadas circunstâncias na saúde das pessoas que exigem uma res-
posta dos sistemas de atenção à saúde, como as condições ligadas à maternidade e
ao período neonatal, condições ligadas á manutenção da saúde por ciclos de vida
(puericultura, herbicultura e senecultura), entre outras. Tais circunstâncias são deno-
minadas de condição de saúde, que podem ser categorizadas em condições agudas
e condições crônicas (Quadro 10.1). As condições agudas são, usualmente, de curta
duração (<3 meses) e caráter autolimitado, como, por exemplo, as doenças infeccio-
sas (gripe, dengue, etc.) e as causas externas (quedas).

Quadro 10.1 Características das condições agudas e crônicas de saúde

Característica Condição Aguda Condição Crônica

Início Rápido Gradual

Causa Usualmente única Usualmente múltipla

Duração Curta Indefinida (> 3 meses)

Diagnóstico e
Comumente bem definidos Comumente incertos
prognóstico

Objetivos das
Prevenção, controle,
intervenções Cura
reabilitação ou paliação
terapêuticas

Natureza das Centrada no cuidado Centrada no cuidado profissio-


intervenções profissional nal e no autocuidado apoiado

Conhecimento e Compartilhado entre os médicos,


Centrado no médico
ação clínica equipe interdisciplinar e o usuário

Sistemas de
Reativo e fragmentado Proativo e integrado
atenção à saúde

Infarto agudo do miocárdio,


Exemplos (HAS, DM, etc.)
pneumonia, ITU, etc.

194
As condições agudas, em geral, são manifestações de doenças transmissíveis de
duração curta, como dengue e gripe, ou de doenças infecciosas, como apendicite
ou amigdalites, ou de causas externas, como as quedas e os acidentes automobilís-
ticos. Os ciclos de evolução das condições agudas e crônicas são muito diferentes.
As condições agudas, em geral, iniciam-se repentinamente, são de curta duração e
respondem bem a tratamentos específicos, como os tratamentos medicamentosos
ou as cirurgias. O ciclo típico de uma condição aguda é sentir-se mal por algum
tempo, ser tratado e ficar melhor. Segue-se um período de convalescença e, de-
pois, a pessoa volta à vida normal com a saúde restabelecida.
As condições crônicas, especialmente as doenças crônicas, iniciam-se e evoluem
lentamente, tendendo a se apresentar de forma permanente. Usualmente, apresen-
tam múltiplas causas que variam no tempo, incluindo hereditariedade, estilos de
vida, exposição a fatores ambientais e a fatores fisiológicos. Ao contrário das con-
dições agudas em que, geralmente, se pode esperar uma recuperação adequada,
as condições crônicas levam a mais sintomas e à perda de capacidade funcional. As
condições crônicas vão, portanto, muito além das doenças crônicas (hipertensão
arterial, diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, câncer, doença respiratória crôni-
ca, etc.), ao envolverem as doenças infecciosas persistentes (hanseníase, tubercu-
lose, HIV/AIDS, hepatites virais, etc.). Muitas condições agudas podem evoluir para
condições crônicas, assim como estas últimas podem apresentar, em determinados
períodos, eventos agudos, chamados de descompensação, muitas vezes causados
pelo mau manejo dessas condições crônicas pelos sistemas de atenção à saúde.
Apesar do processo de envelhecimento não estar, necessariamente, relacionado
a doenças e incapacidades, as doenças crônicas são frequentemente encontradas
entre os idosos. Essas doenças podem acompanhar o idoso por toda a vida, geran-
do desconforto, preocupação e ansiedade que tendem a ser agravar com o tempo.
Todavia, a maior complicação das doenças é o risco aumentado de iatrogenia,
associada ao uso de medicamentos inapropriados para os idosos frágeis, à polifar-
mácia e ao excesso de intervenções diagnósticas, que por vezes pioram mais ainda
a saúde do idoso.

195
Principais Condições Crônicas de Saúde no Idoso Frágil

Hipertensão arterial sistêmica (HAS)

Conceito

A definição de hipertensão arterial sistêmica consiste em valores de pressão arte-


rial considerados elevados, acima dos quais ocorre significativo aumento do risco de
desenvolvimento de complicações cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio
(IAM) e acidente vascular cerebral (AVC), que podem causar incapacidades, declínio
funcional e/ou encurtar a sobrevida dos indivíduos. Atualmente, os valores de pressão
arterial (PA) considerados normais situam-se em 120 mmHg para a pressão sistólica
(pressão máxima) e 80 mmHg para a pressão diastólica (pressão mínima). Valores de
pressão entre 120 e 139 mmHg para pressão sistólica e entre 80 e 90 mmHg para pres-
são diastólica são considerados limítrofes, mas ainda dentro de valores que não justifi-
cam intervenções terapêuticas. E quando a pressão arterial torna-se persistentemente
igual ou superior a 140/90 mmHg, o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica
deve ser firmado. Recomendam-se duas ou mais medidas da pressão arterial, em cir-
cunstâncias diferentes, realizadas de forma adequada para a confirmação do diagnós-
tico. A hipertensão arterial é bastante frequente, presente em 30 a 70% dos idosos.
Durante o processo de envelhecimento, ocorrem enrijecimento e tortuosidade
da parede das grandes artérias, que determinam elevação predominante da pressão
arterial sistólica. Usualmente, a pressão arterial diastólica eleva-se até os 50 anos,
estabiliza-se dos 50 aos 60 anos e reduz após os 60. Esse enrijecimento arterial pode
elevar falsamente a pressão arterial e produzir um erro de medida, conhecido como
pseudo-hipertensão do idoso, em que a aferição da pressão arterial sistólica e
diastólica podem ser superestimadas em até 10 a 60 mmHg.
Outro fenômeno frequente nos idosos é a tendência à hipotensão ortostática
ou postural, presente em até 40% dos idosos, que também está associada a compli-
cações. Consiste na queda igual ou superior a 20 mmHg na pressão sistólica e/ou 10
mmHg na pressão diastólica, dentro de três minutos após o paciente assumir a posi-
ção de pé. O diagnóstico é suspeitado por “tontura”, fraqueza, sensação de “cabeça
vazia”, síncope, quedas de repetição, angina ou mesmo acidente vascular cerebral,
associados à posição de pé (ortostatismo) ou após refeições (hipotensão pós-pran-
dial). Todos os sintomas são atribuídos à hipoperfusão ou isquemia cerebral. É impor-
tante identificar se o idoso queixa-se de tonteira e desequilíbrio quando se levanta,
o que deve ser informado ao médico assistente. A hipotensão postural é um fator de

196
risco para quedas. Assim, nos idosos recomenda-se a verificação da PA nas posições
sentada, deitada e de pé, devido à elevada frequência de hipotensão ortostática.
Outra particularidade da medida da pressão arterial nos idosos é o hiato aus-
cultatório. É causa frequente de erro na aferição da PA. Sua presença é confirmada
pelo desaparecimento dos sons de Korotkoff, apesar da onda de pulso continuar
a ser palpável. Esse fenômeno auscultatório pode ser evitado pela aferição inicial
da pressão arterial pelo método palpatório. Em seguida, insufla-se o manguito até
níveis 30 mmHg acima da pressão arterial no qual houve desaparecimento da onda
de pulso (pressão palpatória). Desta forma, evita-se a subestimação da medida da
pressão arterial sistólica baseada somente na ausculta do desaparecimento dos sons
de Korotkoff.
Percebe-se claramente que a técnica correta de aferição da pressão arterial
em idosos é fundamental para evitar erros de medida. A medida da pressão ar-
terial só deve ser realizada por profissionais habilitados, pois erros na medida são
frequentes e podem levar a graves consequências no tratamento farmacológico,
mais sérias que a própria hipertensão arterial. O Quadro 10.2 mostra a técnica
correta de medida da pressão arterial em idosos.

Quadro 10.2 Técnica correta de medida da pressão arterial em idosos

O idoso deve estar em posição confortável, após repouso de 5 minutos, preferencial-


mente deitado.
Não deve ter fumado nem ingerido café ou álcool nos últimos 30 minutos.
O membro superior deve ser despido, bem apoiado e ao nível do coração.
A pressão arterial deve ser medida em ambos os membros superiores. Cerca de 10%
dos idosos apresentam diferenças superiores a 10 mmH, sugerindo obstrução arterial. A
maior medida é a que deve prevalecer.
O tamanho do manguito deve ser adequado para cada paciente: deve recobrir pelo
menos 80% da circunferência do braço e posicionado cerca de 2-3 cm do cotovelo.
O aparelho de pressão deve ser calibrado a cada 4 meses.
Insuflar o manguito e medir a pressão sistólica pela técnica palpatória, para evitar o
hiato auscultatório, mais frequente em idosos.
Desinsuflar o manguito lentamente.
Aguardar 1 minuto para medir novamente a pressão arterial.
A pressão deve ser medida nas posições deitada, sentada e de pé, única maneira de ser
reconhecer a hipotensão ortostática.

197
Complicações

Quando não controlada, a hipertensão pode causar lesões de órgãos, denomina-


dos órgãos-alvo, que são decorrentes do efeito direto da pressão sobre a parede dos
vasos sanguíneos, associado à aterosclerose (placas de colesterol). Os vasos se tor-
nam endurecidos e estreitados e podem, com o passar dos anos, entupir ou se rom-
per. Esse processo pode acontecer no coração (angina e infarto), no cérebro (AVC ou
derrame), nos rins (insuficiência renal, podendo haver necessidade de hemodiálise).
As alterações inerentes ao processo de envelhecimento vão se somar às alterações
da HAS, exercendo efeito sinérgico, aumentando mais ainda a probabilidade dessas
lesões de órgãos-alvo. Daí decorre a maior frequência e gravidade das lesões de ór-
gãos-alvo nessa faixa etária (Figura 10.1).

Figura 10.1 Principais complicações da HAS e do processo de envelhecimento

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

ATEROSCLEROSE

CORAÇÃO
CÉREBRO RIM
• Angina pectoris
• AVC (acidente vascular cerebral) • Insuficiência Renal Crônica
• Infarto agudo do miocárdio
• AIT (ataque isquêmico transitório) • Proteinúria: perda urinária
• Insuficiência cardíaca
• Demência vascular de proteína
• Arritmias e bloqueios cardíacos
• Obstrução da artéria carotídea • Hemodiálise
• Morte súbita

ENVELHECIMENTO

Todas essas lesões de órgãos-alvo podem levar a incapacidades, com declínio


funcional e desenvolvimento das grandes síndromes geriátricas, comprometendo a
autonomia e a independência do indivíduo (Figura 10.2). O AVC pode trazer sequelas
e limitar a mobilidade, causando instabilidade postural e imobilidade. A lesão cere-
bral pode levar ao desenvolvimento de quadro demencial e incapacidade cognitiva.
A insuficiência cardíaca reduz a tolerância ao esforço (capacidade aeróbica), também

198
comprometendo a mobilidade. O uso de diuréticos pode agravar ou causar inconti-
nência urinária. Reações adversas aos anti-hipertensivos podem levar a iatrogenias.

Figura 10.2 Complicações da HAS capazes de causar as grandes síndromes geriátricas

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Incapacidade Instabilidade Incontinência Incapacidade


Imobilidade
Cognitiva Postural Esfincteriana Comunicativa

Demência Hemiplegia/paresia
Vascular pós-AVC Urge-incontinência Disartria ou
urinária pós AVC ou afasia pós AVC
pós uso de diuréticos
Depressão Desequilíbrio na
pós-AVC marcha: Apraxia

Redução da IATROGENIA
capacidade aeróbica Reações adversas frequentes com uso de al-
por ICC ou angina guns anti-hipertensivos: hipotensão postural,
tonturas, urgência ou incontinência urinária,
gota, excesso de potássio, tosse, asma
hiperglicemia, hipercalcemia, constipação
intestinal, entre outros.

199
Fatores de risco

Alguns fatores estão associados a elevado risco para desenvolvimento de hiper-


tensão e outros aumentam a probabilidade de complicações associadas a ela:
• história familiar;
• idade;
• sexo;
• pessoas da raça negra;
• excesso de sal;
• obesidade;
• estresse;
• diabetes;
• sedentarismo;
• tabagismo;
• consumo de bebida alcoólica;
• dislipidemia (colesterol alto);
• dieta rica em gordura;
• uso de determinados medicamentos: o uso de alguns medicamentos está as-
sociado à elevação da PA, como anti-inflamatórios (diclofenaco, nimesulida,
ibuprofeno, etc..), corticoides (prednisona), hormônios sexuais (anticoncepcio-
nais e hormônios para tratamento do climatério/ menopausa);
• existem os hipertensos “do avental branco”: pessoas que só apresentam
pressão alta quando esta é medida em consultório médico, mas fora do con-
sultório a pressão é normal. A “hipertensão do jaleco branco” é mais comum
em idosos e frequente entre os centenários.

Sintomas
A maioria das pessoas de nada se queixa, por isso a doença é chamada de “silenciosa”.
Às vezes, geralmente, quando a pressão sobe rapidamente para níveis muito elevados, al-
gumas pessoas podem sentir dor de cabeça, tontura, mal-estar, ansiedade, “borramento”
da visão. A única maneira de saber se a pressão está normal é medindo-a. O ideal é medir
a pressão pelo menos a cada seis meses ou com intervalo máximo de um ano.

Prevenção e tratamento
O objetivo é a redução gradual da PA para valores abaixo de 140/90 mmHg.
Entretanto, algumas pesquisas estabeleceram que a meta em idosos (idades ≥ 60
anos) é a redução da pressão arterial sistólica (PAS) a valores menores de 150 mmHg,

200
diferentemente dos adultos, nos quais a meta deve ser uma PAS < 140 mmHg. Para a
pressão diastólica, os estudos sugeriram que os grupos de idosos com redução abaixo
de 70 mmHg apresentaram pior evolução. Sugerimos metas mais conservadoras nos
idosos frágeis, independentemente da idade, pois eles são mais suscetíveis às reações
adversas dos anti-hipertensivos, como hipotensão ortostática, quedas, incontinência
urinária, declínio funcional, entre outros.

Medidas não farmacológicas


Essas medidas associam-se a mudanças do estilo de vida e estão indicadas con-
siderando-se o estado funcional do idoso. Abaixo as orientações mais importantes
para o autocuidado apoiado.

Orientações para idosos com hipertensão arterial:


• diminuir o consumo de sal de cozinha. Preferir temperos naturais como alho,
salsinha, coentro, cebola, orégano, manjericão, etc. Não usar temperos
prontos como caldo de carne ou legumes, sopas de pacote, glutamato mo-
nossódico. Não colocar o saleiro na mesa, o sal do alimento já é suficiente;
• aumentar a ingestão de frutas, verduras, legumes e derivados de leite
desnatados;
• usar moderadamente de produtos à base de grãos integrais (pão, arroz,
massas), peixe, frango e castanhas;
• diminuir a ingestão de gordura e açúcares;
• reduzir a ingestão de alimentos embutidos como a linguiça, presunto,
salame, mortadela e também de enlatados e defumados;
• moderar o consumo de bebidas alcoólicas e refrigerantes;
• reduzir ou controlar o peso corporal. Entretanto, nos idosos, junto com a
diminuição do peso, ocorre importante perda de musculatura. Portanto, o
objetivo do programa de perda de peso deve atingir perdas pequenas, para
melhora na condição de saúde relacionada ao excesso de peso;
• fazer exercícios físicos (caminhada, dançar);
• identificar todos os remédios em uso, pois, como já visto, alguns deles
podem elevar a PA;
• fazer uso dos remédios de forma contínua e diária, nas doses e nos horários
recomendados pelo médico. Não se deve deixar de tomar os remédios,
mesmo que a pressão esteja controlada;
• abandonar o fumo;
• controlar o estresse;
• realizar controle médico periódico.

201
Idosos com hipotensão ortostática devem suspender ou modificar a medicação
anti hipertensiva, além das seguintes medidas:

Orientações para idosos com hipotensão ortostática:


• levantar-se devagar, em estágios, da posição deitada para a sentada e, em
seguida, para a posição de pé, principalmente pela manhã, quando os sin-
tomas são mais evidentes;
• evitar períodos prolongados de inatividade ou descanso;
• manutenção de hidratação adequada e aumentar a ingestão de sal, exceto
nos pacientes com ICC;
• o uso de café após as refeições pode ser útil em alguns casos;
• aumentar o retorno venoso através de:
• uso de cinta abdominal para compressão das veias do abdomen (veias hepáticas
e esplâncnico-mesentéricas) a aumentar o retorno venoso;
• uso de meias elásticas compressivas em membros inferiores, somente durante
o dia.
• evitar refeições copiosas, para se evitar o desvio do sangue para o leito ab-
dominal no período pós-prandial;
• não utilizar a medicação anti-hipertensiva após as refeições;
• evitar atividade física até duas horas após as refeições;
• evitar consumo de álcool durante as refeições;
• evitar calor excessivo, incluindo banhos quentes, saunas e exposição dema-
siada ao sol;
• cruzar as pernas ou se agachar durante os sintomas para aumentar o retorno
venoso;
• elevar a cabeceira da cama entre 10 a 30º, conforme a tolerância do idoso,
para evitar a hipertensão supina (posição deitada) e suas consequências,
como o aumento da diurese noturna e a perda de sódio
pela urina;
• o uso de medicamentos como a midodrina (agonista peri-
férico α1-adrenérgico seletivo) e/ou fludrocortisona pode
estar indicado em alguns casos.

202
Diabetes mellitus (DM)
A glicose é um tipo de açúcar fundamental para o fornecimento de energia para
o organismo. A alimentação é a fonte de glicose, mas também de proteínas, gorduras
e outros nutrientes indispensáveis à vida humana. A transformação da glicose em
energia ocorre dentro das células e a insulina é o hormônio que estimula a entrada
da glicose para o meio intracelular. O diabetes mellitus é uma doença na qual ocor-
re alteração na quantidade ou qualidade da insulina, limitando o aproveitamento da
glicose, que deixa de entrar na célula. Desta forma, verifica-se excesso de glicose no
sangue, conhecido como hiperglicemia. Esse excesso de açúcar no sangue causa várias
lesões nos vasos sanguíneos, caracterizadas por inflamação generalizada, responsável
pelas complicações que ocorrem a longo prazo na doença. Além dessas complicações
vasculares, a hiperglicemia aumenta a quantidade de açúcar na urina (glicosúria) e,
consequentemente, excesso de urina (poliúria), podendo levar à desidratação. A per-
da excessiva de urina aumenta a sede (polidipsia) e, como a glicose não está sendo
aproveitada pelas células, o organismo dispara “informações hormonais” de que está
faltando combustível, estimulando a fome (polifagia). Consequentemente, há perda
de peso. Assim, os quatros sintomas mais característicos do diabetes mellitus são a
poliúria, a polidipsia, polifagia e perda de peso (“polis”).
O diagnóstico de hiperglicemia deve ser feito quando a glicemia de jejum for su-
perior a 126 mg/dL em duas medidas diferentes. Na glicemia casual igual ou superior
a 200 mg/dL, associada aos sintomas de polis, o diagnóstico de diabetes deve ser
confirmado. Outro critério diagnóstico é a glico-hemoglobina de 6,5% ou mais. Nor-
malmente, espera-se que a glicose ligada à hemoglobina não ultrapasse a 5,6%. As-
sim, valores de glico-hemoglobina iguais ou superiores a 6,5% traduzem hiperglice-
mia significativa por duração prolongada, superior a três meses. Valores de glicemia
de jejum entre 100 e 125 mg/dL e de glico-hemoglobina entre 5,6 e 6,5% merecem
atenção, pois refletem tendência à doença.
O diabetes mellitus é classificado em dois tipos: tipo 1 e 2 (Quadro 10.3). O tipo
1 é caracterizado por ocorrer na infância e adolescência. O indivíduo apresenta fa-
lência na produção de insulina e a principal complicação é a cetoacidose diabética,
que pode causar alterações no nível de consciência, desidratação grave e outras al-
terações metabólicas potencialmente fatais. Por sua vez, o tipo 2 é característico do
adulto e idoso, no qual acontecem alterações na qualidade da insulina ou nos seus
receptores. A obesidade é o principal fator de risco.

203
Quadro 10.3 Tipos de diabetes mellitus

Tipo DM tipo 1 DM tipo 2

- Multifatorial: alteração na qua-


- Destruição das células beta lidade da insulina ou nos seus
do pâncreas. receptores periféricos.
O que
- Deficiência absoluta na produ- - Não há redução da produção
ocorre
ção de insulina. de insulina.
- Não há relação com obesidade. - Mais associado à obesidade e à
história familiar.

- A doença inicia na infância ou


- Tem início após os 30 anos e
Prevalência adolescência. Raramente tem
aumenta com a idade.
início após os 30 anos.

A sintomatologia (poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso) e as


lesões de órgãos-alvo secundárias à macroangiopatia (aterosclerose) e
Sintomas
microangiopatia (retinopatia, neuropatia e nefropatia) são semelhantes
e dependem da duração e controle da doença.

- Dieta para evitar hipoglicemia. - Dieta para perda de peso.


- Atividade física regular. - Atividade física regular.
- Cuidados com os pés. - Cuidados com os pés.
Tratamento
- O uso de insulina é indispensável. - Hipoglicemiantes orais são
- Hipoglicemiantes orais são indicados.
contraindicados. - Insulinoterapia, em alguns casos.

Fatores de risco
O principais fatores de risco são história familiar, obesidade, sedentarismo, HAS,
AVC, doenças cardiovasculares, altos níveis de colesterol e triglicérides, infecção, trau-
ma emocional e medicamentos.

Prevenção
As principais medidas preventivas são manter peso saudável, educação alimentar
para o idoso e sua família, alimentação saudável e em horários regulares, atividade
física regular, evitar fumo e o álcool, controle da pressão arterial, controle do diabetes
a partir do uso correto da medicação oral e/ou da insulina e controle da obesidade.

Complicações
As complicações são decorrentes das lesões vasculares, conhecidas como macroan-
giopatia (aterosclerose) e microangiopatia, quando atingem pequenas artérias. A ma-
croangiopatia aumenta significativamente o risco de angina e infarto agudo do mio-
cárdio, que podem causar insuficiência cardíaca e “morte súbita”. Outra complicação
da aterosclerose é o acidente vascular cerebral (AVC) ou os ataques isquêmicos tran-
sitórios (AIT). Por sua vez, a microangiopatia pode causar as seguintes complicações:

204
• retinopatia diabética: a hiperglicemia leva à formação de microaneurismas nas
pequenas artérias da retina (fundo de olho), que podem se romper e causar he-
morragias retinianas. Com a evolução, ocorre estímulo patológico da proliferação
dos vasos sanguíneos, agravando mais ainda o problema. Nessa fase da doença
pode ocorrer descolamento de retina e hemorragia dentro do vítreo, que é a
parte interna do olho. Todas essas alterações podem levar à cegueira completa;
• neuropatia diabética: a hiperglicemia causa um tipo de “inflamação nos
nervos periféricos”, principalmente dos membros inferiores. A polineuropatia
ou neurite diabética é caracterizada por dor, dormência, queimação ou pares-
tesia nos pés ou mãos (“em botas ou em luvas”), que piora com repouso, prin-
cipalmente à noite, antes de dormir. A caminhada melhora o sintoma. Outro
sintoma importante é a perda de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa, que
predispõe a lesões graves nos pés, pela ausência de sinais de alerta desenca-
deados pelo desconforto causado pelo uso de sapatos apertados, piso quente
ou até mesmo por corpo estranho na sola do pé;
• nefropatia diabética: as lesões microvasculares atingem diretamente os glo-
mérulos renais, responsáveis pela filtração e “limpeza” do sangue das escórias
produzidas pelo organismo para renovação das células e produção de energia,
como, por exemplo, a ureia e a creatinina. Essas escórias são eliminadas pelo
rim, através da urina. A hiperglicemia persistente causa esclerose progressiva
dos rins, que começa com a maior perda de proteína pelos glomérulos (pro-
teinúria) e culmina com a insuficiência renal crônica, na qual o rim do paciente
entra em falência e deixa de filtrar o sangue. O paciente desenvolve quadro de
uremia, causada pelo excesso de ureia e creatinina no sangue, além de outros
metabólitos, que são excretados pelos rins, como o potássio (hiperpotasse-
mia). Tais alterações podem levar a óbito. Torna-se, então, indispensável a
filtração do sangue por outros meios substitutivos, entre os quais se pode citar
a hemodiálise ou a diálise peritoneal. O tratamento mais adequado nessa fase
da doença é o transplante renal.

No diabetes mellitus, a complicação mais frequente é o “pé diabético”, causado


tanto pela aterosclerose de membros inferiores (macroangiopatia), quanto pela neu-
ropatia periférica (microangiopatia) associados a mais tendência a infecções. O pro-
blema usualmente começa como uma ferida ou úlcera nos pés, de difícil cicatrização,
que se torna contaminada por bactérias multirresistentes, gerando um ciclo vicioso
que culmina com a gangrena e necessidade de amputação dos pés e/ou pernas.

205
Atenção com os pés:
• ferimento agudo puntiforme profundo na planta do pé pode causar infecção
devastadora, pois esta pode se estabelecer e se desenvolver em compartimen-
tos profundos do pé;
• a infecção nos pés é, isoladamente, a principal causa de internação de pacien-
tes diabéticos, constituindo um sério fator causal de amputa-
ção e ameaça à vida desses pacientes;
• o cuidado com os pés diabéticos feitos por profissionais não
habilitados é totalmente desaconselhável, pois expõe o pa-
ciente a grave risco de infecção e/ou amputação.

Os cuidados com pés são imprescindíveis em todo paciente com diabetes melli-
tus e consistem em medidas simples, mas que devem ser feitas rotineiramente.

Cuidados com os pés:


• verificar os pés todos os dias, observar se há bolhas, rachaduras, calos, cor-
tes entre os dedos ou na planta dos pés, se não há mudanças na cor;
• evitar água quente. Secar bem os pés, inclusive entre os dedos;
• usar hidratante no dorso e planta dos pés. Não usar entre os dedos;
• aparar as unhas dos pés com lixa. Não tirar cutículas e
cantos de unhas para não infectar os pés;
• calçar sapatos que não apertem, de couro macio ou tecido;
• não usar sapatos sem meias;
• vestir sempre meias limpas, preferencialmente de lã ou al-
godão, sem elástico. Usar, sempre que possível, meias com costura de den-
tro para fora ou, de preferência, sem costura;
• antes de calçar os sapatos, verificar se não há algo dentro deles que possa
machucar os pés;
• não andar descalço, principalmente sobre areia quente da praia ou asfalto;
• usar calçados apropriados, confortáveis e do tamanho correto no dia a dia e,
principalmente, ao fazer exercícios físicos.

206
CUIDADOS COM OS PÉS

O cuidado com os pés é Solicitar que o médico Observar se há bolhas, rachaduras,


fundamental em todo idoso, ou enfermeiro avalie os calos, cortes entre os dedos ou na
principalmente no diabético. pés em toda consulta. planta dos pés.

Usar calçados apropriados, con- Evitar colocar os pés de


fortáveis e do tamanho correto molho. Eles podem rachar
no dia a dia e, principalmente, ou ressecar. Cuidado com a Calçar sapatos que Verificar os pés todos
ao fazer exercícios físicos. temperatura da água. não apertem. os dias.

Aparar as unhas com Não usar almofadas


lixa, em linha reta, ao Verificar o calçado Não andar descalço, elétricas ou bolsas de
invés de cortá-las. antes de usar. mesmo dentro de casa. água quente nos pés.

Lavar os pés todos os dias com


sabão neutro e água morna. Usar hidratante no dorso Evitar a remoção de calos Não usar sapatos
Cuidado com a temperatura da e planta dos pés. ou verrugas com profissionais sem meias.
água. Enxágue bem entre os dedos não habilitados.

207
As metas de controle glicêmico nos idosos devem ser individualizadas, conforme o
estrato clínico funcional. Idosos frágeis, com dependência em AVDs básicas (estratos
8, 9 e 10) não se beneficiam de controle glicêmico rigoroso. Nesses pacientes, a ma-
nutenção de glicemia entre 180 e 200 mg/dL e/ou glico-hemoglobina entre 8 e 9% é
suficiente para evitar complicações metabólicas. Por outro lado, idosos robustos devem
ter a mesma meta glicêmica preconizada para adultos, nos quais a glicemia de jejum e a
glico-hemoglobina devem ser ajustadas para permanecerem em níveis inferiores a 130
mg/dL e 7,5%, respectivamente. Deve-se ter todo cuidado para se evitar a hipoglicemia.

Hipoglicemia
A hipoglicemia ou “baixa glicose no sangue” é a complicação mais temida no ido-
so diabético. Ocorre frequentemente em pacientes que fazem uso de hipoglicemian-
tes orais ou insulina. Os níveis de glicemia estão abaixo de 60 mg/dL e são associados
a sintomas como tremores, sudorese (suor excessivo), confusão mental, fraqueza e
perda da consciência. Se não tratada rapidamente, o paciente pode apresentar con-
vulsões, coma e óbito. Nos idosos, a sintomatologia pode não ser tão evidente quan-
to no jovem, dificultando o diagnóstico. Assim, a suspeita de hipoglicemia deve estar
presente em todo idoso que for encontrado inconsciente ou com confusão mental
aguda, sem outras causas evidentes.

O que fazer?
• se o idoso exibir os sintomas de hipoglicemia e estiver acordado e conversando
bem, oferecer ao idoso alimento (pão, balas, açúcar). Não se deve ter receio do
aumento excessivo da glicemia, caso a sintomatologia não seja causada pela
hipoglicemia;
• se ele estiver sonolento, falando embolado ou desmaiar, oferecer alimentos é
muito perigoso, pois ele pode engasgar. Esfregar açúcar na bochecha e gengiva;
• a dieta no paciente diabético deve ser cuidadosa, como pode ser visto no
Quadro 10.4.

208
Quadro 10.4 Dieta no paciente diabético

Deve ser tão saudável quanto a dieta de outros idosos, diferindo apenas em relação à
quantidade de carboidratos (alimento energéticos).
Doces, chocolates, bolos, mel, geleias, refrigerantes e sorvetes não são completamente
proibidos. Devem ser evitados, pois contêm açúcar de rápida absorção.
Preferir as frutas como sobremesa.
Fazer uso de adoçantes.
Alimentos diet devem ser consumidos com moderação. Apesar de não possuírem açú-
car, são muito ricos em gordura e sódio: conferir sempre a composição na embalagem.
Preferir os carboidratos complexos: pães integrais, arroz e macarrão integrais, sendo
que não deve haver abuso de massas, pelo risco de ganho de peso.
Prefira alimentos ricos em fibras: frutas, verduras, legumes e cereais.
O idoso deverá se alimentar rigorosamente de 3/3 horas para manter a glicemia estável
ao longo do dia e reduzir o risco de hipoglicemia.
Evitar uso de bebidas alcoólicas.
Diminuir a quantidade de sal.
Respeitar a dieta indicada pelo médico ou nutricionista.
Atividade física regular.

Dietas restritivas no idoso aumentam o risco de desnutrição, acen-


tuando mais ainda a perda muscular que ocorre no envelhecimento
(sarcopenia). A perda de peso, quando indicada, deve ser acompa-
nhada por profissionais de saúde qualificados, pois, caso contrário,
pode levar à piora da capacidade funcional do idoso frágil.

Insuficiência cardíaca congestiva (ICC)

A insuficiência cardíaca é uma cardiopatia que acomete, preferencialmente, o


músculo cardíaco, responsável pelo bombeamento do sangue para todo o corpo. O
volume de sangue bombeado a cada contração cardíaca (sístole) recebe o nome de
débito cardíaco. Na insuficiência cardíaca, ocorre falência na manutenção de adequa-
do débito cardíaco para as necessidades do organismo. Além da redução significativa
do débito cardíaco, ocorre represamento do sangue no pulmão e na circulação sis-
têmica, na medida em que o coração não consegue bombear adequadamente todo
sangue que chega nele. Esse fenômeno recebe o nome de congestão.

209
As principais causas de ICC são a hipertensão arterial, a angina ou o infarto agudo
do miocárdio, a doença de Chagas, as doenças valvulares (estenose mitral, estenose
aórtica), entre outras. Todas elas têm evolução lenta, mas progressiva, e são res-
ponsáveis por grande parte da mortalidade em idosos. A ICC é a principal causa de
internação em idosos.
Os sintomas da ICC são secundários à redução do débito cardíaco e também do
represamento do sangue, como pode ser visto no Quadro 10.5.

Quadro 10.5 Sintomas de ICC

Represamento do sangue (congestão) Redução do débito cardíaco

Dispneia de esforço progressiva:


congestão ou represamento de san- Astenia e intolerância
Dispneia: gue no pulmão. A tosse pode estar ao esforço físico.
“cansaço”, presente em alguns idosos.
“falta de ar” Dispneia quando o idoso deita-se Insônia.
(ortopneia) e no meio da noite
(dispneia paroxística noturna). Emagrecimento e caquexia.

Edema nos membros inferiores,


Fraqueza ou letargia.
principalmente no final do dia.

Congestão Edema na região sacral,


Confusão mental.
em idosos acamados.

Ganho de peso. Depressão e ansiedade.

A ICC afeta a capacidade aeróbica/muscular do


paciente (Figura 10.3). A dispneia de esforço é o princi-
pal sintoma e causa limitação funcional do paciente, na
medida em que impede o paciente de executar algumas
atividades de vida diária. Dependendo da gravidade da
doença, o paciente relata dificuldade para sair sozinho
para lugares distantes, fazer trabalhos domésticos e, na
fase final da doença, não consegue mais tomar banho so-
zinho. Alguns idosos frágeis podem manifestar confusão
mental, delirium, depressão ou ansiedade nas fases de
descompensação da doença. Perda do apetite (anorexia)
e até mesmo “caquexia cardíaca” com sarcopenia impor-
tante podem ser observadas na fase final da doença.

210
Figura 10.3 ICC como causa de incapacidades funcionais no idoso frágil

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
comando sobre as ações, estabelecendo Refere-se à capacidade de realizar
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções.

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Capacidade aeróbica/
muscular

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA


NO IDOSO FRÁGIL
Fonte: Moraes, 2016

Tratamento

• tratamento da causa: doença arterial coronariana (angina ou IAM) e da hi-


pertensão arterial, se presente;
• uso de medicamentos apropriados: alguns medicamentos são fundamen-
tais para a melhoria da sintomatologia e aumento da sobrevida dos pacientes.
O uso de drogas inibidoras do sistema renina-angiotensina-aldosterona (cap-
topril, enalapril, losartam, espironolactona, entre outras) e de betabloqueado-
res (carvedilol, metoprolol, entre outros) está indicado na maioria dos casos.
Outras drogas são úteis para melhoria dos sintomas, como os diuréticos (furo-
semida, hidroclorotiazida, entre outros) e a digoxina;
• as medidas não farmacológicas são também fundamentais para a melhoria
de qualidade de vida do paciente e redução do número de internações hospi-
talares (Quadro 10.6).

211
Quadro 10.6 Medidas não farmacológicas importantes

Monitorar o peso: ganho de peso repentino superior a 2 kg, em menos de três dias,
é sinal de alerta para o paciente procurar auxílio médico. Pode significar retenção de
líquidos e deve ser comunicado ao médico assistente.

Saber do médico assistente qual indicação de ingestão de líquidos para cada idoso com IC.

Evitar o isolamento do paciente.

Tomar cuidado para não permanecer muito tempo sentado, sem mobilização, como em
viagens longas, por exemplo. O risco de trombose venosa profunda é elevado.

Dieta com redução do consumo de sal ou, até mesmo, de líquidos, nos casos mais graves.

Evitar o fumo.

Evitar o álcool, pois ele tem efeito tóxico para o coração, podendo causar arritmias e
piorar o quadro clínico do paciente.

Exercícios físicos são fundamentais, desde que sejam leves e bem orientados por um
profissional adequado. Caminhadas realizadas três a cinco vezes por semana, por 20 a
30 minutos, podem melhorar a qualidade de vida e a capacidade física do indivíduo.

O repouso é recomendado em casos agudos ou nas exacerbações dos casos crônicos.

O uso da medicação é de extrema importância para o controle da IC. O idoso deve ser
constantemente sensibilizado sobre o uso adequado e receber auxílio se necessário.

Utilizar tabelas de horário, porta-comprimidos, despertadores.

Auxiliar o idoso nas suas eliminações urinárias, que aumentam consideravelmente com
uso dos diuréticos. Levá-lo mais vezes ao banheiro, oferecer marreco ou comadre mais
vezes ao dia, utilizar absorventes geriátricos, quando sair de casa. Quanto mais seguro ele
se sentir com seu controle urinário, menores as chances de má-adesão ao tratamento.

Angina e infarto agudo do miocárdio


A aterosclerose é doença crônica, generalizada, progressiva e que acomete a pa-
rede das artérias de grande e médio calibre. Não é simplesmente uma consequência
inevitável do envelhecimento, e sim uma resposta generalizada da parede arterial às
injúrias causadas pelos principais fatores de risco, como hipertensão arterial, taba-
gismo e dislipidemia. A história familiar positiva e a idade são também considerados
fatores de risco. A parede arterial modifica-se lentamente e há acúmulo progressivo
de “placas de gordura”, conhecida como placa aterosclerótica, causando obstrução
parcial ao fluxo de sangue na artéria acometida. Essa obstrução é responsável pela
isquemia do músculo cardíaco (miocárdio), principalmente quando ocorre aumento
da necessidade de suprimento sanguíneo, como acontece durante o esforço físico.
As placas ateroscleróticas tornam-se mais volumosas e, em algumas circunstâncias,

212
sofrem ruptura de sua parede, com trombose local e obstrução completa ao fluxo de
sangue, levando à morte ou necrose do músculo cardíaco, conhecido como infarto
agudo do miocárdio (IAM). Algumas artérias, como a aorta abdominal, apresentam
“enfraquecimento” e dilatação de sua parede, em vez de obstrução, como resposta à
aterosclerose. O resultado é a formação de aneurisma de aorta abdominal, que pode
se romper e causar hemorragia abdominal repentina e fatal. O Quadro 10.7 apresenta
os principais locais da aterosclerose no organismo.

Quadro 10.7 Principais sítios de aterosclerose

Obstrução coronariana de mais de 70% pode cursar com


Doença Arterial isquemia miocárdica, angina pectoris (estável ou instável),
Coronariana equivalentes anginosos (dispneia, tosse, palpitação ou síncope
(DAC) de esforço), infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca
ou morte súbita.

Insuficiência A insuficiência vascular cerebral manifesta-se por ataque isquê-


Vascular mico transitório (AIT) e/ou acidente vascular cerebral (AVC) ou
Cerebral demência vascular.

A prevalência de estenose carotídea assintomática no idoso varia


Estenose
de 2 a 8%. Sopro carotídeo evidencia obstrução fixa. A ausculta
Carotídea
do pescoço deve fazer parte do exame físico rotineiro do idoso.

A claudicação intermitente é caracterizada por dor quando o


Doença Arterial paciente caminha determinadas distâncias, secundária à isque-
Periférica (DAP) mia de membros inferiores. Nesses casos, percebe-se ausência
de pulsos em membros inferiores.

A angina mesentérica manifesta-se por dor abdominal (epigás-


trica ou periumbilical), pós-prandial (15 a 30 minutos após a
Insuficiência alimentação), cuja duração é variável (2 a 3 h). A dor é pro-
Vascular porcional ao volume da alimentação. Consequentemente, o
Mesentérica paciente reduz a ingestão alimentar pelo receio da dor, levando
a emagrecimento por vezes significativo. A complicação mais
temível é a gangrena intestinal.

Estima-se que 1 em cada 250 idosos morra por ruptura de


aneurisma de aorta abdominal. Podem ser detectados pela
palpação da aorta abdominal, que revela massa pulsátil, anterior
Aneurisma de e lateralmente. Cerca de 50% dos aneurismas de aorta abdo-
Aorta Abdominal minal estão associados a sopro. O quadro clínico geralmente
(AAA) é silencioso. Alguns pacientes podem referir dor abdominal e/
ou lombar, secundárias a aneurismas inflamatórios. A ruptura
de aneurisma aórtica apresenta alta letalidade (>90%), daí a
importância do diagnóstico precoce.

213
A doença arterial coronariana pode se manifestar a partir de angina pectoris ou
do infarto agudo do miocárdio. O idoso com angina relata dor no peito sempre que
faz alguma atividade física acima do habitual, como subir escadas ou morros. A dor
é profunda, por vezes em aperto, com duração fugaz, usualmente entre dois e cinco
minutos e que melhora rapidamente quando deixa de fazer o esforço físico. Eventual-
mente, a dor precordial pode demorar até 10 a 15 minutos. A dor típica sempre é de-
sencadeada pelo esforço e não ocorre no repouso. Outros pacientes podem se queixar
de dispneia de esforço (“falta de ar”), sem relatar dor típica. A insuficiência cardíaca
pode ser outra manifestação da doença arterial coronariana. Alguns pacientes podem
evoluir para o infarto agudo do miocárdio, mesmo sem o relato de angina prévio.
No IAM, a dor no peito é intensa e prolongada, com duração superior a 30 minu-
tos. O paciente apresenta também sudorese excessiva, falta de ar, palpitações, cansa-
ço, fraqueza e palidez. Morte súbita pode ser a primeira manifestação da doença. Na
suspeita de IAM, o paciente deve ser encaminhado imediatamente para atendimento
hospitalar. O tempo entre o aparecimento dos sintomas e o tratamento inicial é de-
cisivo para reduzir o risco de morte e a gravidade das complicações ou sequelas da
doença. Desta forma, fique atento aos sinais de alerta de infarto agudo do miocárdio.
É uma situação grave que precisa de atendimento imediato, pois a pessoa pode apre-
sentar morte súbita (parada cardiorrespiratória).

Os sinais e sintomas do IAM são:


• mal-estar ou desconforto torácico (dor no peito);
• sudorese;
• náuseas;
• vômitos;
• sensação de fraqueza;
• morte súbita.

Dicas importantes
• manter o paciente em repouso. Movimentos bruscos e atividade física podem
piorar o quadro;
• pedir ajuda: ligar para 192! E seguir as orientações do médico regulador;
• se o SAMU não puder atender, solicitar ajuda de familiares e vizinhos para
levar o paciente à unidade de emergência (Unidade de Pronto-Atendimento –
UPA ou Pronto-Socorro) mais próxima.

214
Tratamento

O tratamento da angina pode ser conservador ou invasivo. O tratamento conser-


vador ou clínico consiste no uso de medicamentos para reduzir a isquemia miocárdica,
como os betabloqueadores (propranolol, atenolol, metoprolol, entre outros) e inibido-
res do sistema renina-angiotensina-aldosterona (enalapril, captopril, losartan, entre ou-
tros). O uso de nitratos está indicado para reduzir a dor no peito e aumentar a tolerância
ao esforço. Pode ser usado por via sublingual ou oral. Além do tratamento sintomático,
é fundamental o uso de doses baixas de aspirina (75 a 162,5 mg) e de estatinas (sinvas-
tatina, pravastatina, atorvastina, rosuvastatina, entre outras), que são medicamentos
que reduzem o colesterol plasmático e o risco de ruptura da placa aterosclerótica.
Alguns pacientes podem necessitar de tratamento invasivo ou cirúrgico, como a
angioplastia coronariana e a cirurgia de revascularização miocárdica, também conhe-
cida como “cirurgia de ponte de safena”. A angioplastia pode ser complementada
pela inserção de “stent coronariano”, que é uma pequena prótese inserida na placa
aterosclerótica, que pode reduzir o risco de IAM.

Cuidados ao paciente com angina e pós-infarto agudo do miocárdio:


• adoção de padrões alimentares mais saudáveis, com vegetais, frutas, grãos
integrais e fibras alimentares;
• definir limites do consumo de gorduras e colesterol;
• manutenção do peso saudável;
• prática regular de atividade física, sob orientação médica;
• para o paciente pós-infarto: após alta hospitalar estimular deambulação;
• estimular o uso do banheiro; o uso de comadres pode ser mais trabalhoso
para o coração do que o de banheiro;
• atentar para sangramentos se o paciente estiver utilizando terapia anticoa-
gulante ou aspirina;
• ficar atento a complicações (dispneia persistente, cia-
nose) e levar ao serviço médico de urgência;
• verificar junto ao médico a indicação da reabilitação
cardíaca e iniciar programa de atividade física.

215
Acidente vascular cerebral (AVC)
O acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como acidente vascular
encefálico (AVE), é a principal causa de incapacidade funcional e de mortalidade
nos idosos. A doença é resultado da obstrução arterial secundária à aterosclerose
dos vasos intracerebrais, levando à isquemia e morte de células neuronais (infarto)
de determinadas área do cérebro. As sequelas do AVC dependem diretamente da
localização das artérias obstruídas e da extensão da morte neuronal. As principais
consequências são a incapacidade cognitiva (demência vascular), a instabilidade
postural, com ou sem imobilidade, secundária à hemiplegia ou hemiparesia de
membros inferiores e/ou superiores. Outras vezes, o idoso desenvolve alterações
da marcha, mesmo na ausência de paralisia de membros inferiores (apraxia da mar-
cha). Alguns idosos tendem a desenvolver distúrbios no funcionamento da mus-
culatura da bexiga, denominado bexiga neurogênica, na qual a bexiga pode ficar
paralisada (bexiga neurogênica flácida) ou hiperativa (bexiga neurogênica hiperati-
va). Ambas as formas cursam com perda do controle esfincteriano ou incontinência
urinária. Por fim, pode haver comprometimento das áreas cerebrais responsáveis
pela fala e linguagem, levando à disartria (fala embolada) e à afasia (alterações da
compreensão ou expressão da linguagem). Apesar de incomum, podem ocorrer,
também, alterações da visão.
O termo “derrame cerebral” era comumente utilizado para descrever essa doença,
pois, em alguns casos, ocorre hemorragia intracerebral ou “derramamento de sangue”
e, consequentemente, morte neuronal. O AVC pode ser classificado como isquêmico
e hemorrágico (Quadro 10.8). Nos dois tipos de AVC ocorre perda no suprimento de
sangue, contendo nutrientes e oxigênio, para determinadas regiões do cérebro.
Eventualmente, a obstrução arterial por “placas de gordura” ou aterotrombóticas
(trombose cerebral) é temporária e se desfaz sozinha, sem levar à morte neuronal.
Nesses casos, a duração da sintomatologia é transitória, usualmente menos de uma
hora e no máximo 24 horas. Essa complicação é denominada de ataque isquêmico
transitório (AIT) e deve ser considerada um “sinal de alerta” e, consequentemente,
devem-se tomar medidas para evitar o provável AVC futuro. Ocorre de forma súbita,
podendo causar “dormência”, perda de sensibilidade, alteração da fala, perda da
linguagem, alterações da marcha, perda de visão, confusão e qualquer outro sintoma
focal, da mesma forma como ocorre no AVC. Todavia, a sintomatoloiga se resolve em
menos de 24 horas.

216
Figura 10.4 Complicações do AVC

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Incapacidade Instabilidade Imobilidade Incontinência Incapacidade


Cognitiva Postural Esfincteriana Comunicativa

Demência Hemiplegia/
Vascular paresia pós-AVC Hemiplegia/ Disartria ou
paresia pós-AVC afasia pós-AVC
Depressão Desequilíbrio na
pós-AVC marcha: Apraxia Perda da
visão pós-AVC

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

Fonte: Moraes, 2016

Quadro 10.8 Classificação do AVC

Tipos AVC Isquêmico AVC Hemorrágico

Rompimento de uma artéria ou vaso


sanguíneo, em virtude de hiperten-
Obstrução de uma ou mais artérias são arterial, problemas na coagula-
O que é por ateromas (placas de gordura ou ção ou traumatismos cranianos.
de colesterol), trombose ou embolia. O sangue extravasa e pode compri-
mir o cérebro, causando hiperten-
são intracraniana.

É complicação tardia da hipertensão


Quando arterial, diabetes mellitus, dislipide- Pode ocorrer em qualquer faixa
ocorre mia, tabagismo e outras causas de etária, dependendo da causa.
aterosclerose.
Continua...

217
... continuação

Quadro 10.8 Classificação do AVC

Tipos AVC Isquêmico AVC Hemorrágico

Enfraquecimento ou perda repenti-


na da força muscular e/ou da visão, Cefaleia intensa, náuseas, vômi-
dificuldade para falar, "boca torta",
Sinais e tos, confusão mental, perda da
paralisia facial, desequilíbrio súbito,
sintomas consciência, coma e déficits focais,
tonturas, "formigamento" em um
dos lados do corpo e alterações da dependendo da área acometida.
memória.

Assim, deve-se ficar atento aos primeiros sinais e sintomas de AVC:


• alteração da consciência;
• cefaleia (dor de cabeça) intensa e de início súbito;
• cefaleia associada à alteração do nível de consciência ou dor cervical;
• fala incoerente ou dificuldade para compreender orientações e responder
perguntas;
• falta de coordenação, fraqueza, paralisia ou perda de sensibilidade de um ou mais
membros (geralmente afeta metade do corpo);
• falta de equilíbrio ao andar (diferente do habitual);
• tontura intensa;
• mal-estar, náuseas e vômitos.

Fatores de risco
• idade;
• sexo: mais comum nos homens até os 51 anos, depois o risco se iguala;
• raça: é mais frequente na raça negra;
• arritmia cardíaca como fibrilação atrial: aumenta em quatro a cinco vezes o
risco de AVC isquêmico, além de ser considerada risco independente de mor-
talidade;
• álcool, fumo e drogas;
• sedentarismo;
• dislipidemia (colesterol alto);
• obesidade;
• hipertensão arterial sistêmica: é o principal fator de risco para o AVC em am-
bos os sexos, pois eleva o risco três a quatro vezes;

218
• diabetes: o risco de desenvolver AVC é duas vezes maior em diabéticos de
ambos os sexos;
• estenose de carótida assintomática: a lesão estenótica aterosclerótica (mínimo
de 70% ao doppler) em artéria carótida externa (ACI) extracraniana ou artéria
bulbar aumenta o risco de AVC;
• ICC, particularmente a doença de Chagas;
• problemas na coagulação do sangue.

Sequelas
As sequelas dependem da área do cérebro afetada e do tempo que o paciente
levou para ser atendido. As mais comuns são:
• problemas psicológicos: depressão, confusão mental e alterações de perso-
nalidade;
• hemiplegia; paralisia (perda do movimento) total ou parcial, em apenas um
lado do corpo;
• hemiparesia: alteração da força muscular de um lado do corpo;
• alterações sensoriais e de percepção: “esquecimento” do lado afetado e
alteração da sensibilidade;
• outras: afasia (alterações da linguagem), disartria (alterações da fala), disfagia
(dificuldade para deglutir), desvio de comissura labial (paralisia cerebral cen-
tral), alterações visuais, alterações de memória e perda do controle da urina e
das fezes.

Tratamento
O tratamento do AVC agudo deve ser feito em ambiente hospitalar. Alguns
idosos necessitam de internação em centro de atendimento intensivo (CTI), depen-
dendo da gravidade do quadro. Atualmente, podem ser feitas várias intervenções
na fase hiperaguda do AVC, particularmente nas primeiras 3-6 horas, que podem
evitar a gravidade e as sequelas. A identificação rápida dos sintomas é crucial para
o diagnóstico e tratamento adequado. O paciente deve ser orientado a se dirigir
rapidamente para um serviço hospitalar especializado. O tempo entre a suspeita e
a intervenção é crucial para o prognóstico do paciente. O aforisma “tempo é cére-
bro” traduz a importância da rapidez do diagnóstico e tratamento do AVC para se
evitar a morte neuronal.

219
Na suspeita de AVC, não perca tempo!
“Tempo é cérebro” (Times is brain)
Assista ao vídeo: https://youtu.be/dDxi4JEy0Oo

Pode-se dividir o tratamento do AVC em duas fases:


• fase 1 (0 a 24 horas): observar se os sinais e sintomas são súbitos e fora do
padrão habitual do paciente. Muitos pacientes idosos já tiveram AVC e apre-
sentam sequelas como fraqueza e falta de força em um lado do corpo. Se for
um sinal novo e de aparecimento recente, seguir as orientações:
• acionar o serviço de urgência e emergência – ligar 192 (SAMU), ou so-
licitar ajuda de familiares e vizinhos para levar o paciente ao hospital
de grande porte mais próximo (com pronto-socorro e que faça exames
como a tomografia);
• manter o paciente deitado com inclinação da cabeceira a zero grau;
• proteger as vias aéreas lateralizando a cabeça;
• fase 2 (24 horas a 72 horas): o objetivo nessa fase é prevenir as complica-
ções, como pneumonia e as lesões por pressão. Colher informações durante a
hospitalização sobre os primeiros cuidados a serem aplicados em casa.

A reabilitação precoce é decisiva para a recuperação da força muscular das áre-


as afetadas pelo AVC. A fisioterapia, a terapia ocupacional e a fonoaudiologia são
de grande importância na limitação das sequelas. Além da equipe interdisciplinar, a
participação da família e do cuidador é crucial para o sucesso do tratamento. Abai-
xo algumas orientações que são úteis para o paciente e seus familiares.

Orientações para pacientes com sequelas de AVC:


• manter diariamente os exercícios propostos pela
fisioterapia, terapia ocupacional ou fonoaudiologia;
• manter paciente em posicionamento adequado para evitar
contraturas e deformidades dos músculos e tendões;
• oferecer dieta com paciente sempre sentado ou com cabeceira elevada de
30 a 45 graus. Observar a existência de sintomas consumptivos e engasgos
durante a alimentação e comunicar a equipe;

220
• em caso de uso de fralda, realizar a troca sempre que úmida ou com fezes.
Realizar higiene adequada:
• homens: expor a glande e limpar bem o prepúcio;
• mulheres: limpar sempre de frente para trás (vagina-ânus).
• observar a melhora da cognição e mobilidade do paciente e incentivar o uso
de marreco ou comadre. A diminuição do tempo com fralda deve ser sempre
um objetivo;
• realizar mudança de decúbito de acordo com orientação profissional para
prevenir lesões por pressão;
• evitar deixar o idoso muito tempo na cama. Levá-lo para banho de sol,
participar das atividades domésticas e reuniões familiares;
• monitorar função intestinal. Fezes acumuladas no final do intestino podem
endurecer e “virar pedra” (fecaloma). Em casos extremos é necessário
realizar cirurgia para retirá-las;
• controlar a hipertensão arterial, o diabetes mellitus e os outros fatores de
risco, se presentes;
• estimular o autocuidado apoiado;
• incentivar participação em grupos educativos que envolvam tanto o paciente
quanto o familiar.

Osteoartrite (artrose)
A osteoartrite é uma doença crônico-degenerativa das
grandes articulações, causada pelo desgaste progressivo da
cartilagem “desgaste das juntas”. Consequentemente, os
ossos que compõem a articulação deixam de ter a proteção
da cápsula cartilaginosa, que normalmente protege contra
o contato direto, evitando o atrito “osso com osso”. As articulações mais compro-
metidas são o joelho e o quadril, também conhecidas como coxofemoral. Outras
articulações podem ser atingidas, como a coluna vertebral e as mãos. Os principais
fatores de risco são obesidade, trauma articular repetitivo, história familiar e o
próprio envelhecimento.
Os sintomas mais frequentes são a dor (artralgia) e a deformi-
dade articular. A dor piora com a atividade física e melhora com o
repouso. Pode haver edema e calor local discretos, diferentemen-
te do que ocorre em outros tipos de “reumatismo inflamatório”,
como na artrite reumatoide e na gota. A deformidade é progressi-
va, principalmente nos dedos das mãos, dando origem a nódulos

221
nas proeminências ósseas das articula-
ções interfalangeanas distais (nódulos
de Heberden). O “bico de papagaio” é
consequência da osteoartrite na coluna
vertebral, da mesma forma que o joanete no hálux “dedão do pé”.
Observa-se também rigidez articular, principalmente pela manhã, com duração
fugaz, inferior a 30 minutos, que melhora espontaneamente. Limitação dos movi-
mentos e crepitações articulares também podem estar presentes. Na osteoartrite dos
joelhos é comum o idoso relatar que “perde o jogo dos joelhos”, com tendência a
desequilíbrio e quedas. A fraqueza da musculatura que envolve a articulação compro-
metida agrava mais ainda a doença, levando à atrofia muscular. Consequentemente,
o idoso desenvolve instabilidade postural e imobilidade nos casos mais avançados.
O tratamento consiste na educação do
paciente quanto ao controle dos sintomas,
fatores desencadeantes e progressão
da doença. O uso de analgésicos é
fundamental para controle da dor articular.
Deve-se evitar o uso de anti-inflamatórios,
pois estão associados a efeitos colaterais
importantes, como úlcera gástrica,
gastrite aguda, dispepsia “queimação no
estômago”, lesão renal direta, aumento
da pressão arterial e retenção de líquidos
com edema de membros inferiores. O uso
excessivo de anti-inflamatórios pode causar
insuficiência renal crônica. Outras medidas
não farmacológicas podem melhorar a dor,
como acupuntura, uso de compressa de calor ou de frio, além do repouso articular.
São medidas paliativas que estão indicadas em todos os casos. O tratamento mais
efetivo é a redução do peso e cirurgia, conhecida como artroplastia, que consiste na
substituição da articulação por prótese articular.
A reabilitação física é também de grande importância e deve ser feita por profis-
sionais habilitados, como a fisioterapia e/ou terapia ocupacional. O uso de bengala
ou andador pode melhorar a independência do indivíduo e reduzir a dor. Todavia,
SEMPRE deve ser feita por profissionais habilitados. Algumas orientações que po-
dem ser utilizadas:

222
Orientações para osteoartrite:
• o tratamento mais eficaz é a perda de peso;
• o fortalecimento muscular é medida de grande
importância e deve ser feita pelo fisioterapeuta ou
terapeuta ocupacional. Evitar exercícios que aumentam
o impacto na articulação comprometida. Preferir exercícios na água
(hidroterapia), que reduzem o impacto articular;
• evitar pegar peso e mesmo caminhadas mais intensas, em caso de
osteoartrite de joelhos;
• evitar situações que podem levar a quedas;
• evitar sentar-se em sofá, cadeiras e cama muito baixos;
• o elevador de vaso sanitário pode ser útil, associado a barras de apoio;
• o uso de calçados adequados é fundamental para ajudar no controle da dor,
melhora da marcha e redução do risco de quedas;
• cuidado com escadas. Preferir rampas com corrimão ou apoio para os braços.
A maior dificuldade é na descida e não na subida dos degraus ou rampas;
• adaptar as tarefas domésticas para o idoso não perder totalmente sua
autonomia e independência. Por exemplo: fracionar as tarefas domésticas,
usar varal mais baixo, etc.;
• dormir de forma confortável, com colchões e travesseiros apropriados.

Osteoporose e fratura de fêmur

A osteoporose é a principal doença do metabolismo ósseo, em que ocorre “en-


fraquecimento” ou redução da resistência óssea e aumento do risco de fratura. A re-
sistência óssea é determinada pela densidade mineral e pela microarquitetura óssea,
que ficam “fragilizados” na doença. O fortalecimento do osso depende diretamente
da atividade física regular, ingestão adequada de cálcio, produção de vitamina D e
outros hormônios indispensáveis ao metabolismo ósseo, como o estrógeno na mu-
lher e a testosterona no homem. Após a menopausa, que usualmente ocorre aos 50
anos, há redução significativa da produção de estrógeno e, consequentemente, o
risco de osteoporose e fratura por fragilidade óssea aumenta progressivamente.

A osteoporose deixa os ossos frágeis e quebradiços.

Os principais fatores de risco são o envelhecimento, hereditariedade, tabagismo,


excesso álcool, imobilização prolongada, medicamentos (corticoides, anticonvulsivan-

223
tes, entre outros), doenças (hiperparatireoidismo, hipertireoidismo, mieloma múlti-
plo, entre outras) e dieta pobre em cálcio e vitamina D.
A doença é silenciosa e não causa dor. O principal sintoma é a fratura, que ocorre
após trauma discreto, como queda da própria altura ou mesmo um tropeção. Daí
a importância do diagnóstico precoce. A solicitação da densitometria mineral óssea
(DMO)é a melhor maneira de prevenir a fratura e está indicada em toda mulher com
65 anos ou mais e nos homens com 70 anos ou mais. A redução da DMO pode causar
diminuição significativa da estatura, superior a 4 cm, por achatamento das vértebras.
Observa-se também aumento da cifose ou curvatura da coluna torácica “corcunda”.
Os sítios de maior risco de osteoporose
são a coluna vertebral, quadril (fêmur) e
punho (rádio distal ou antebraço, próximo
da mão). As fraturas osteoporóticas
ocorrem predominantemente nesses locais,
após pequenos traumas locais causados
por quedas. Assim, a queda é o principal
determinante do risco de fratura.

O idoso quebra o osso porque cai, e não cai porque quebra.

O pico de formação do osso ocorre por volta dos 25 a 30 anos, idade ideal para
se prevenir a osteoporose que poderá vir após os 50 anos. Atividade física regular e
ingestão adequada de cálcio e vitamina D são as principais intervenções preventivas.
Estima-se que, após os 50 anos, ocorra redução da massa óssea de 0,5 a 1% por ano,
de forma que a mulher pode ter perda de até 40% da DMO.

O tratamento consiste no fortalecimento dos ossos e na redução do risco de que-


das. Atualmente, existem diversas medicações disponíveis que devem ser utilizadas nos

224
pacientes com diagnóstico de osteoporose densitométrica ou após a fratura osteoporó-
tica. Além da medicação específica, deve-se ter todo cuidado na prevenção de quedas.
Existem várias formas de prevenção da osteoporose (Quadro 10.9).

Quadro 10.9 Prevenção de osteoporose

Atividade física regular.

Exercícios resistidos, do tipo musculação (aumento da massa óssea e muscular).

Exercícios de flexibilidade e equilíbrio, que podem reduzir o risco de quedas, como


caminhadas, Tai Chi, Otago, Liangong, dança de salão, entre outros.

Devem-se evitar exercícios de flexão e torção da coluna.

Recomenda-se também dieta rica em cálcio, leites e derivados (desnatados), soja, feijão,
ervilha, folhas verde escuras, peixes.

Cafeína e excesso de sal prejudicam o aproveitamento do cálcio.

O sol é a principal fonte de vitamina D.

A exposição está indicada, no horário de maior concentração de raios ultravioleta B


(UVB), responsáveis pela formação da vitamina D na pele (10 às 15h).

O uso de "protetor solar" impede a formação de vitamina D.

A prevenção de quedas é fundamental para evitar fraturas.

Fratura de fêmur
A fratura de fêmur é a complicação mais temida
e suas sequelas se assemelham àquelas observadas
após acidente vascular cerebral. Após os 80 anos,
uma em cada três mulheres terá fratura de fêmur.
Osteoporose e quedas são as principais causas
e devem ser evitadas. Está associada a elevada
mortalidade. Cerca de 30% dos pacientes evoluem
para o óbito no primeiro ano após a fratura de
fêmur. Instabilidade postural, imobilidade parcial ou
completa e medo de cair são descritos em 30% dos
casos. Somente 30 a 40% dos pacientes apresentam
recuperação completa após fratura de fêmur.

225
O tratamento é cirúrgico e consiste em:
• osteossíntese: consiste na fixação do osso quebrado, por meio do uso de
placas, hastese/ou parafusos;
• prótese parcial de quadril: substituição de “parte” do fêmur por uma peça
artificial;
• prótese total de quadril: substituição total do fêmur (cabeça e acetábulo)
por uma peça artificial (artroplastia).

A recuperação do paciente é lenta, levando quatro a seis meses. Alguns cuida-


dos são indispensáveis (Quadro 10.10). É de extrema importância que a reabilitação
do paciente idoso com fratura de quadril seja orientada pelo ortopedista e por um
fisioterapeuta. Ambos devem orientar o idoso e o cuidador sobre quais exercícios e
atividades são permitidas. O repouso contribui para a cicatrização da fratura, todavia,
pode causar efeitos negativos nos músculos, como fraqueza, contratura, encurta-
mento e atrofia, que, por sua vez, podem limitar a recuperação do paciente. A con-
tratura acontece quando os músculos e as articulações ficam rígidos e endurecidos.

Quadro 10.10 Cuidados no pós-operatório de cirurgia de prótese de quadril, total ou parcial

Não fechar as pernas.

Colocar um travesseiro entre as pernas.

Não cruzar as pernas nem virá-las para dentro.

Não se sentar em locais baixos e macios nem inclinar-se para frente ou levantar o joelho
acima do quadril.

Esses cuidados são tomados para que a prótese não saia do lugar.

Tremor e doença de Parkinson


O tremor é extremamente frequente nos idosos, mas não é “normal da idade”.
Tremor é sempre patológico e deve ser investigado, pois, na maioria das vezes, o tra-
tamento adequado pode melhorar substancialmente a mobilidade do indivíduo, tan-
to no que diz respeito ao alcance/preensão e pinça, quanto na marcha propriamente
dita e produção/motricidade oral (fala, voz e deglutição). A principal causa de tremor
no idoso não é a doença de Parkinson, mas o tremor essencial.
O tremor essencial (TE) não é uma forma de parkinsonismo, presente em cerca
de 4% da população acima dos 40 anos de idade, sendo considerada a causa mais
comum de tremor no idoso. Devido à sua alta prevalência, o TE é o principal diag-

226
nóstico diferencial com o parkinsonismo no idoso e uma frequente causa de erro
diagnóstico. O tremor é de ação e postural, que pode acometer qualquer segmento
corporal, principalmente os membros superiores (bilateral, simétrico e em flexão-ex-
tensão), a cabeça (movimentos de negação ou afirmação), o queixo ou a voz. O TE
tem início lento e insidioso, frequentemente associado à história familiar de tremor,
com pico após os 50 anos, ultrapassando a taxa de 20% nos idosos acima de 75
anos. A ingestão de álcool melhora o tremor, ao passo que situações de estresse
podem piorá-lo. Pode trazer repercussões funcionais importantes, principalmente em
membros superiores, comprometendo o alcance, preensão e pinça, limitando ou res-
tringindo a escrita e o uso de talheres ou da escova de dentes. Nestes casos, é reco-
mendado o uso de medicamentos, como o propranolol e a primidona, que podem ser
usados isoladamente ou em associação. A simples exclusão do diagnóstico de doença
de Parkinson já tranquiliza o paciente e seus familiares.
A doença de Parkinson, por sua vez, é uma desordem neuro-
degenerativa, crônica, que afeta cerca de 1 a 2% dos idosos. A
causa ainda é desconhecida, mas ocorre destruição das células
nervosas ou neurônios responsáveis pela produção do neurotrans-
missor responsável pelos movimentos, a dopamina. Apresenta
caráter progressivo e compromete diretamente a mobilidade.
Ocorre lentificação global na execução dos movimentos, conhe-
cida como bradicinesia. As tarefas do cotidiano continuam a ser
realizadas, todavia, o paciente demora mais para fazer
as mesmas coisas, como caminhar na rua, tomar banho,
abotoar as roupas, etc. A expressão (mímica) facial torna-se
menos expressiva, transmitindo com menos intensidade as
emoções, fenômeno conhecido com “face em máscara”.
O tremor está presente em 80% dos casos e é o principal
motivo pelo qual o paciente procura o médico. Inicialmente,
ele é assimétrico, sendo visto em um lado só. Posteriormente, ele acomete o outro
lado do corpo e pode afetar também a cabeça, mandíbula, lábios, queixo e mem-
bros inferiores. Desaparece completamente com o sono e piora com a ansiedade.
O tremor lembra o movimento de fricção de vaivém do polegar com o indicador
(contar moedas). É caracterizado por ser de repouso e melhorar com a movimen-
tação, diferentemente do tremor essencial ou senil, que piora com movimentos do
tipo escrever, assinar o nome, segurar a xícara de café e comer. Portanto, são tipos
de tremores completamente diferentes e que não têm qualquer relação causal.

227
Outro sintoma característico é a rigidez, como se “as
articulações e os músculos estivessem emperrados” du-
rante a movimentação passiva dos membros. Os músculos
tornam-se tensos e contraídos (hipertonia) e há resistência
intermitente ao movimento passivo dos membros supe-
riores, do tipo “canivete”, recebe o nome de “rigidez em
roda dentada”. Finalmente, observa-se instabilidade postural. Os passos ficam mais
lentos e um pé não ultrapassa o outro durante as passadas “pés arrastados”. Além
disso, a postura do paciente torna-se desequilibrada, com aumento da inclinação da
cabeça e do tronco para frente e os braços permanecem mais flexionados na altura
dos cotovelos, além de movimentar-se lentamente durante a marcha. Nessa fase, o
risco de quedas é elevado e, quando acontece, tende a ser para trás (retropulsão).
Bradicinesia, tremor de repouso, rigidez e instabilidade postural recebem o nome
de parkinsonismo. Existem diversas causas de parkinsonismo, além da doença de
Parkinson. No Brasil, o uso de medicamentos é a segunda causa de parkinsonismo,
pois é frequente o uso de medicamentos inapropriados para o idoso, como os anti-
vertiginosos (remédios para labirintite), remédios para vômitos (antieméticos, como a
metoclopramida), remédios para dormir (fenergan), remédios para hipertensão arte-
rial (diltiazem, etc.) e alguns antipsicóticos, como o haloperidol em altas doses.
Outros sintomas frequentes são a sialorreia (saliva que flui para
fora da boca ou “babar”), fala lenta e monótona, micrografia (a
letra vai tornando-se pequena), dores musculares, distúrbios do
sono (pesadelos ou pernas inquietas), redução do olfato e o fenô-
meno da parada ou “freezing” (congelamento: “o paciente para
subitamente e não consegue sair do lugar”, como se estivesse
congelado). A disfagia e as alterações cognitivas (demência asso-
ciada à doença de Parkinson) são complicações tardias da doença.

Tratamento
A doença não tem cura, mas os medicamentos podem ajudar significativamente.
O uso de levodopa e seus derivados melhora a bradicinesia, a rigidez e o tremor, fa-
cilitando a movimentação do paciente. A duração do efeito é de quatro a seis horas,
que deve ser o intervalo do uso da medicação. Outro aspecto importante que deve
ser observado pelo paciente e o cuidador é que essa medicação não deve ser tomada
com leite ou alimentos. Recomenda-se não se alimentar por 30 a 60 minutos antes e
após a ingestão do medicamento.

228
A reabilitação física pode trazer grandes benefícios para o paciente. A fisioterapia,
a terapia ocupacional e a fonoaudiologia devem fazer parte da equipe responsável
pelo acompanhamento do paciente. Algumas orientações podem ajudar o paciente.

Em caso do fenômeno do congelamento:


• se sentir o pé “pregado” no chão, o paciente deve
procurar ficar o mais reto possível, iniciar o andar
lentamente, levantando uma perna, dobrando a coxa e o
joelho, e colocando-a em frente. Outra técnica é dar uma passo para trás e
mover-se para frente, a fim de iniciar o movimento;
• se sentir que ficou travado, faça a imagem de uma linha na sua frente e tente
pulá-la para reiniciar a marcha. Poderá também utilizar as linhas do piso de
sua casa a fim de superar este obstáculo;
• se estiver andando com outra pessoa, esta pode colocar os pés dela em
frente aos do paciente e mandá-lo passar sobre o obstáculo.

A pessoa nunca deve puxar o paciente, o que pode ser pior e


levá-lo à queda. O piso não deve ser muito abrasivo nem liso, para
facilitar a locomoção e evitar quedas.

Como aliviar cãibras e espasmos musculares:


• fazer compressa quente é um recurso que ajuda o paciente
a aliviar espasmos musculares e cãibras, de forma rápida e
eficaz. O banho morno também é alternativa, mas evite a
água quente, que pode estimular o cansaço. Já a compressa fria é boa para
relaxar os músculos e articulações doloridas;
• para redução dos tremores, recomenda-se o uso de bola antiestresse (pequenas
bolas de borracha flexíveis). O paciente deve utilizar, pelo menos duas vezes
ao dia, manualmente para diminuir os tremores nas mãos, muito comum na
doença de Parkinson.

Para sentar com segurança:


• chegar próximo da cadeira ou da cama, dar meia volta,
encostar a parte posterior do joelho, inclinar o corpo para
frente, colocar os braços para trás e apoiar-se com as mãos
no assento ou nos braços da poltrona e em seguida sentar-se lentamente.
No caso do banheiro pode-se adaptar colocando apoios laterais.

229
Para levantar-se com segurança:
• para levantar da cadeira, é necessário chegar até a borda
e colocar os calcanhares para trás, o máximo possível sob
a cadeira, e inclinar-se para frente e ao mesmo tempo se
erguer. Se necessário, apoiar as mãos nos lados da cadeira para conseguir
um movimento suave. Se não conseguir, solicite auxílio de outra pessoa;
• para levantar da cama, deve apoiar-se primeiro nos braços para se levantar
e esticar as pernas até as bordas da cama e repetir os mesmos movimentos
para se levantar da cadeira. Uma adaptação é colocar um corrimão na
parede da cabeceira da cama para poder se apoiar; ou colocar uma corda
no pé da cama para o paciente apoiar e se levantar;
• virar no leito;
• para se deitar, primeiro deve sentar-se na beira da cama, depois deitar a
cabeça no travesseiro. Se tiver dificuldade para se virar, dobrar as coxas e os
joelhos até os pés ficarem no plano, dobrar as pernas para o lado escolhido,
e então virar os braços para o mesmo lado, segurando na borda da cama e
então se virar. Uma maneira alternativa é sentar-se primeiro e depois virar.

Para facilitar o vestuário:


• com a evolução da doença, os movimentos mais finos como
abotoar, desabotoar e fazer laços tornam-se mais difíceis.
O uso de zíper, velcro, calçadeiras de cabo longo e sapatos
com fechos elásticos pode facilitar os movimentos. As roupas também
devem ter aberturas largas para pernas, braços e cabeça para melhor vestir.

Facilitando o uso do banheiro:


• no banheiro, a colocação de corrimão no box e pia
e tapete de borracha facilitam a movimentação e o
equilíbrio, e o paciente se sente mais seguro. Se não
conseguir tomar banho em pé, uma cadeira ou banco podem ser úteis e
facilita a locomoção da pessoa por si própria. Para se barbear, é prudente
usar barbeador elétrico para evitar acidentes.

230
Recomendações para melhorar a fala:
• na doença de Parkinson há diminuição no volume da voz
e certa dificuldade na articulação das palavras. O paciente
não deve tentar falar rapidamente. A dica é tentar inspirar
profundamente antes de falar e, pausadamente, tentar articular bem cada
uma das palavras.

Fonte: http://vivabemcomparkinson.com.br/dicas.

Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma


A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma de-
sordem respiratória crônica, não transmissível, que se caracteri-
za pelo bloqueio progressivo da passagem de ar nos pulmões,
particularmente na fase expiratória, dificultando a respiração.
O enfisema e a bronquite crônica são as doenças mais comuns
que compõem a DPOC. As lesões aos pulmões causadas pela
DPOC são irreversíveis. A doença está associada à resposta
inflamatória crônica das vias aéreas e se desenvolve como
resposta à inalação de gases tóxicos ao pulmão, como o fumo.
Estima-se que mais de 80% dos casos sejam causados pelo tabagismo. A DPOC é
semelhante à asma, mas difere dela por ser crônica e progressiva. A doença afeta
diretamente o sistema funcional mobilidade, via redução da capacidade aeróbica, e é
causa frequente de declínio funcional (Figura 10.5). Bronquite crônica é outro termo
utilizado para descrever aquele paciente que apresenta tosse crônica, por dois anos
ou mais, persistente ao longo dos meses (mínimo de três meses consecutivos). Alguns
pacientes podem ter bronquite crônica e não terem DPOC. A espirometria pulmonar é
prova de função pulmonar utilizada para a definição do diagnóstico de DPOC.
A prevalência de DPOC é estimada entre 5 e 16% da população com 40 anos ou
mais. No entanto, essa estimativa pode estar subestimada devido ao subdiagnóstico
e subutilização de testes diagnósticos. É considerada a quarta causa de morte em
idosos e a quinta causa de internação no SUS. O principal fator de risco é a exposição
ao tabaco, incluindo o tabagismo passivo. A poluição ambiental e ocupacional asso-
ciada à combustão de biomassa, incluindo a fumaça gerada por fogões à lenha, pode
causar DPOC. Calcula-se a carga tabágica multiplicando-se o número de maços de
cigarro consumidos ao dia pelo número de anos de consumo do tabaco. O consumo
de valores igual ou superior a 20 maços/ano é considerado forte fator de risco. A

231
doença pode ocorrer de forma hereditária quando há deficiência de -1 antitripsina,
no entanto, a faixa etária mais acometida é abaixo de 45 anos.

Figura 10.5 DPOC e funcionalidade

SAÚDE
Capacidade individual de satisfação das necessidades biopsicossociais
Independentemente da idade ou da presença de doenças

FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária

AUTONOMIA (DECISÃO) INDEPENDÊNCIA (EXECUÇÃO)


É a capacidade individual de decisão e
comando sobre as ações, estabelecendo Refere-se à capacidade de realizar
algo com os próprios meios
e seguindo as próprias convicções.

Humor /
Cognição Mobilidade Comunicação
Comportamento

Capacidade aeróbica/
muscular

DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA


Fonte: Moraes, 2016

A DPOC demora cerca de 20 anos para se instalar por completo no organismo. Os


sintomas de DPOC são a tosse crônica, a expectoração purulenta, chieira torácica e
dispneia. Geralmente a dispneia é desencadeada pelos esforços físicos, tende a piorar
progressivamente ao longo do tempo e ocorre em repouso apenas em casos mais
graves. A tosse crônica é o melhor sintoma para predizer o diagnóstico de DPOC nos
idosos, especialmente se há exposição aos fatores de risco.
Eventualmente, o paciente manifesta crises de piora ou exacerbação da sintoma-
tologia respiratória, devido a infecções e irritações das vias aéreas, levando o pacien-
te à insuficiência respiratória aguda. Desconfia-se de exacerbação aguda de DPOC
quando se verificam aumento da secreção pulmonar, alteração da cor do escarro para
amarelo-esverdeado ou piora da dispneia. Esses momentos de descompensação são
também conhecidos como “DPOC infectado”.

232
Tratamento
A cessação do tabagismo é a principal intervenção terapêutica que deve ser tenta-
da em todo paciente, independentemente da idade. Ressalta-se também a necessida-
de de orientar os pacientes e familiares que a DPOC é uma enfermidade grave e incu-
rável, mas que tem tratamento sintomático que pode aliviar os sintomas e melhorar a
qualidade de vida, além de reduzir as complicações. Os medicamentos habitualmente
recomendados para o tratamento de DPOC são os 2-agonistas de longa duração,
corticoides inalatórios e o anticolinérgico de longa duração (brometo de tiotrópio).
Esses medicamentos são indicados conforme a gravidade do DPOC. A via preferencial
de aplicação dos medicamentos é a inalatória. A utilização dos dispositivos inalatórios
deve ser ensinada ao paciente e seu cuidador, pois a maioria dos idosos não sabe
como fazê-lo de forma correta. A técnica inalatória inadequada pode resultar em exa-
cerbações frequentes, necessidade de hospitalizações e piora da qualidade de vida.
Deve-se salientar para a necessidade de vacinação anti-influenza e antipneumocó-
cica. Deve-se manter vigilância ao estado nutricional e encaminhar os idosos ao nutri-
cionista se constatada emagrecimento superior a 5% do peso em menos de seis meses
ou se a circunferência de panturrilha esquerda medir menos de 31 cm. Em casos sele-
cionados, há indicação de oxigênio domiciliar por período superior a 15 horas ao dia.
Alguns pacientes podem se beneficiar de programa de fisioterapia respiratória,
que consiste em:
• limpeza e ventilação das vias aéreas;
• prevenção da obstrução e acúmulo de secreção nas vias aéreas, que interfe-
rem na respiração normal;
• melhora da mobilidade torácica;
• prevenção de deformidades posturais associadas a distúrbios respiratórios;
• redução dos gastos de energia durante a respiração;
• melhora da resistência à fadiga e promoção da tolerância aos exercícios gerais.

233
Asma
O vocábulo grego asthma deu origem à palavra asma, que significa sufocação. A
asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por resposta exagerada (hi-
per-responsividade) dos brônquios à exposição a alérgenos e irritantes ambientais,
que leva à contração (broncoespasmo), tornando-os mais estreitos e dificultando a
passagem do ar de forma variável. Há, também, edema da sua parede e hipersecreção
das glândulas mucosas. A doença é caracterizada por exacerbações agudas reversí-
veis espontaneamente ou com tratamento e manifesta-se clinicamente por episódios
recorrentes de sibilância (chieira), dispneia (falta de ar), aperto no peito e tosse, parti-
cularmente à noite e pela manhã ao despertar. Resulta da interação entre genética e
outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas.
Várias substâncias e microrganismos inalados podem provocar crises asmáticas, tais
como: poeira domiciliar, mofo, ácaros, pelos e saliva de animais, penas, fumaça (cigar-
ro, charuto, cachimbo, fogueira), cosméticos (perfume, desodorantes, etc.), infecções
respiratórias, além de mudança repentina de temperatura, exercícios físicos vigorosos e
emoções (riso, estresse e outros fatores psicológicos), certos alimentos (principalmente
artificiais com corantes e conservantes) e medicamentos como alguns anti-hipertensi-
vos betabloqueadores (propranolol, atenolol). Ocorre em ambos os sexos, em todas as
idades, em todos os grupos raciais e em todos os níveis econômicos.
As crises comprometem a respiração, tornando-a mais difícil; e a inflamação dos
brônquios leva a maior produção de muco, o que favorece o risco de infecção secun-
dária (pneumonia).
A asma no idoso possui algumas particularidades. A reversibilidade é menos com-
pleta e seu diagnóstico é mais difícil. Outras doenças frequentes nesse grupo etário
podem simular asma, tais como bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crô-
nica (DPOC), refluxo gastroesofágico (RGE), insuficiência cardíaca, embolia pulmonar,
entre outras. A presença de inúmeras comorbidades implica polifarmácia e muitos
medicamentos podem precipitar crises ou interferir na resposta ao tratamento.

Tratamento
A principal meta do tratamento da asma é a obtenção e manutenção do controle
da doença por períodos prolongados, levando-se sem­pre em consideração os efeitos
adversos, interações medicamentosas e custos dos medicamentos. O tratamento atu-
al é dirigido para controlar os sintomas e prevenir exacerbações.
O tratamento da asma deve ser orientado por um médico, pois é importante adap-
tar o tipo de tratamento e os remédios utilizados aos sintomas e à gravidade da asma de

234
cada paciente. Normalmente, o tratamento da asma inclui o uso de medicamentos para
controlar a doença ao longo do tempo e outros remédios para aliviar rapidamente as
crises de asma. As medicações de uso contínuo servem para minimizar a sensibilidade e
a inflamação às quais os brônquios estão sujeitos, fazendo com que os brônquios rea-
jam com menos intensidade aos agentes irritantes. O tratamento ideal é o que mantém
o paciente controlado e estável com a menor dose de medicação possível.
Prevenção e controle são a chave para impedir que os ataques de asma comecem.
Todos os pacientes com asma e seus familiares devem receber orientações sobre sua
doença e noções de como eliminar ou controlar fatores desencadean­tes, especial-
mente os domiciliares e ocupacionais.
A vacinação anual anti-influenza e a antipneumocó­cica devem ser indicadas.
A técnica de utilização de medicações inalató-
rias deve ser revisada regularmente e a utilização de
espaça­dores para aerossóis dosimetrados deve ser
estimulada, pois facilita o uso correto dos inalatórios,
melhorando a resposta ao tratamento e, consequen-
temente, a adesão (Quadros 10.11 a 10.13).
É fundamental verificar a adesão, que pode ser
inadequada devido à prescrição de vários medica-
mentos, declínio cognitivo com perda de memória,
limitações físicas, dificuldade na com­pra por questões
financeiras ou apatia.

Quadro 10.11 Técnica inalatória com espaçador

Posicione o idoso de forma confortável.


Agite vigorosamente o frasco do inalador (se não agitar, a medicação não será liberada).
Retire a tampa da medicação.
Posicione a medicação na parte de trás do espaçador, em forma de L.
Ajuste bem a máscara no rosto, cobrindo o nariz e a boca (se estiver “folgada” a medi-
cação vai escapar).
Dispare um jato de cada vez (aperte a parte de cima).
Conte até 30 com o idoso respirando dentro da máscara, com a boca aberta.
Para o segundo jato, refaça todos os passos, desde agitar a medicação.

235
Quadro 10.12 Mitos e verdades sobre as bombinhas de tratamento da asma

Bombinha para asma vicia? Mito.


Há quem acredite nisso quando seu uso não surte o efeito esperado, mas isso pode
ocorrer porque não se maneja o dispositivo adequadamente ou porque, em alguns
momentos, a asma precisa de outro tipo de medicação e não o spray. Sempre seguir a
prescrição médica.
Bombinha para asma faz mal ao coração? Mito.
Algumas pessoas têm a sensação de palpitação, mas isso provavelmente acontece
porque estão usando o dispositivo de forma errada ou com dosagem acima da reco-
mendada. O que faz mal ao coração é a falta de oxigênio. Durante uma crise de asma
o pulmão não consegue mandar oxigênio ao coração.
Bombinhas com espaçadores melhoram a eficácia do medicamento? Verdade.
Os espaçadores acoplados às bombinhas facilitam a aspiração e permitem que o medi-
camento chegue aos pulmões na dose correta mais rapidamente.
Espaçadores só podem ser usados por crianças? Mito.
Eles são indicados a qualquer um que tenha dificuldade para coordenar a inspiração e
o jato do medicamento, seja criança, adulto ou idoso.
Converse com o profissional de saúde sobre o uso correto e seguro de bombinhas e
espaçadores. Siga as suas recomendações para alcançar o resultado esperado no trata-
mento da asma.
Fonte: www.chegadeasma.com.br.

Quadro 10.13 Como checar se a bombinha está vazia ou cheia

Colocar o inalador em um recipiente grande com água e observar:


Se o inalador boiar e permanecer paralelo ao fundo do recipiente, ele está vazio (Figura A).
Se o inalador boiar com o fundo fazendo um ângulo de 45° com o nível da água, ele
está com ¼ do volume (Figura B).
Se o inalador boiar e permanecer com o fundo totalmente fora da água, ele está com
metade do volume (Figura C).
Se o inalador afundar totalmente no recipiente, ele está com ¾ do volume ou mais
(Figura D).

236
Dor crônica
Dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associa-
da a danos reais ou potenciais de tecidos ou órgãos. É considerada crônica quando
sua duração é prolongada, superior a três meses de evolução, podendo estender-
-se por anos. Apresenta alta prevalência em idosos, mas não pode ser considerada
“normal da idade”. A maioria dos estudos aponta que a tolerância à dor encontra-se
reduzida nos idosos. Quando se torna crônica, a dor deve ser encarada como uma
condição crônica de saúde por si, pois é causa de isolamento social, insônia, dimi-
nuição do desejo sexual, perda do apetite e comprometimento da independência e
autonomia, além de ocasionar significativo aumento de gastos com saúde e alto risco
de iatrogenia. Está frequentemente associada à sintomatologia depressiva.
Estima-se que cerca de 20% a 50% dos idosos que vivem na comunidade têm dor
e essa prevalência aumenta para 45% a 80% para os idosos que vivem em ILPI, po-
dendo ser maior em idosos internados. No câncer, estima-se que em algum momento
da evolução da doença, 80% dos pacientes apresentarão dor. A sensação de não ter
a dor reconhecida é fonte de sofrimento e grande desamparo. Daí resulta a tendência
atual de se considerar a dor como o quinto sinal vital, tão importante quanto a medida
da pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura axilar.
A alta prevalência de incapacidade cognitiva ou comunicativa dificultam o diagnósti-
co de dor no idoso frágil. Agitação psicomotora, confusão mental, gritos, choro, expres-
são facial tensa, declínio funcional sem causa aparente, alterações da marcha, perda do
apetite podem ser manifestações de dor, na medida em que ele pode ter dificuldade
de expressar o sintoma de forma fidedigna, limitando o diagnóstico. Por outro lado, há
situações em que o idoso não relata dor por achar que ela faz parte do envelhecimento
normal, por medo de ser hospitalizado ou ser necessário fazer um exame dispendioso.
Existem vários tipos de dor crônica, que devem ser diferenciadas, pois o tratamen-
to varia conforme o tipo de dor. A dor crônica é chamada de nociceptiva, quando de-
corre de uma resposta dos tecidos a uma ameaça em potencial e, consequentemente,
ativação de receptores sensoriais responsáveis pelo reconhecimento de algum dano.
Este tipo de dor pode ser somática ou visceral. A dor nociceptiva somática decorre
de lesão em tecidos cutâneos e estruturas profundas (articulações, ossos, etc), como
ocorre na osteoartrite, considerada a principal causa de dor crônica em idosos. A dor
nociceptiva visceral decorre da lesão de estruturas viscerais por infiltração, compres-
são ou estiramento, como ocorre na cólica biliar, cólica nefrética e obstrução intes-
tinal. A dor é mal localizada, intensidade variável e podem piorar quando o órgão é
estimulado, como ocorre na cólica biliar, onde a dor é pós-alimentar.

237
A dor neuropática, por sua vez, decorre de lesão ou mal funcionamento dos ner-
vos (sistema nervoso central ou periférico), como ocorre na neuropatia diabética. A
dor é percebida sem que haja lesão tecidual ativa. Sua localização é imprecisa e pode
estar associada a alterações da sensibilidade (câimbras, “queimação”, parestesia, etc),
motricidade (fraqueza muscular) e trofismo (hipotrofia ou atrofia do membro aco-
metido). A dor central pós-AVC (“dor talâmica”) é caracterizada pela presença de
anomalias nas sensações de dor e de temperatura.

Quadro 10.14 Tipos e principais causas de dor crônica

Dor Somática Osteoartrite, lombalgia postural, gota, artrite reumatoide, etc.


Nociceptiva Visceral Cólica biliar, cólica nefrética, cólica intestinal, etc
Neuropatia pós-herpética, neuralgia do trigêmio,
Dor Neuropática
dor central pós-AVC e outras polineuropatias.

O conceito de “Dor Total” se refere às diversas dimensões da dor: física, psíquica,


social e espiritual. A resposta ao estímulo doloroso é por isso um processo singular,
individual, dependente de variáveis biológicas, emocionais e socioculturais do indiví-
duo. A desagradável experiência subjetiva, sensorial e emocional da dor é difícil de
quantificar e qualificar. Não há nenhum marcador biológico disponível até o momen-
to para indicar a intensidade da dor. Dessa forma, a auto-avaliação é o indicador mais
confiável da existência e da intensidade da dor. Na prática clínica, a melhor forma de
mensurar a dor é a utilização da Escala Visual Analógica (EVA), pois é considerada
a mais sensível, simples e reproduzível. Essa escala consiste em uma medida unidi-
mensional da dor através de uma linha de 10cm cujas extremidades são adotadas
para representar os limites da experiência da dor (Figura 10.6). Essa escala pode ser
associada à escala numérica de dor, onde o paciente determina um número para
representar a intensidade de sua dor, considerando quanto maior o número, maior a
sua intensidade (10 – dor máxima).
Desta forma, a presença de dor crônica deve ser investigada rotineiramente. O
registro da sua localização e da sua intensidade permite o acompanhamento longitu-
dinal da dor e a avaliação da resposta ao tratamento proposto. A intensidade é defi-
nida utilizando-se a escala visual analógica de dor e a localização é marcada na figura
humana. No exemplo abaixo (Figura 10.6), o idoso foi avaliado no dia 23/10/2013 e
apresentava dor no ombro esquerdo (1 – leve), na região lombar (6 – moderada), no
joelho direito (4 – moderada) e no joelho esquerdo (10 – intensa).

238
Figura 10.6 Escala Visual Analógica de Dor

23 10 2013
Data: _____/_____/_____

4 10

Fonte: http://www.dor.org.br/profissionais/5_sinal_vital.asp

A Organização Mundial da Saúde afirma que “o alívio da dor deve ser considerado
um direito humano”, evitando-se a sua desvalorização pelos profissionais da saúde
e, consequentemente, o subtratamento. Uma vez diagnosticada a dor, deve-se reco-
mendar medidas para seu controle adequado, obedecendo-se os seguintes princípios:
• pela boca: a via oral é a de escolha para o tratamento;
• pelo relógio: dor moderada a intensa necessita de uso de analgésicos em
intervalos fixos e não “se necessário”, livrando o paciente de experimentar dor
de forma desnecessária;
• para o indivíduo: a analgesia varia de acordo com as necessidades individu-
ais, sendo a dosagem e a escolha do analgésico definidas conforme a caracte-
rística da dor e atentando-se para o alto risco de efeitos adversos intoleráveis;
• uso de adjuvantes no controle da dor para aumentar a analgesia (corticoi-
des ou anticonvulsivantes), controlar efeitos adversos dos opioides (laxativos,
antieméticos) e controlar outros sintomas que estão contribuindo para a dor
(ansiedade, depressão, insônia);
• atenção aos detalhes: informar adequadamente o paciente e os cuidadores
sobre o nome da droga a ser utilizada, sua indicação, dosagem, posologia e
possíveis efeitos colaterais, além de explorar o conceito amplo de dor total;
• pela escada: a OMS desenvolveu a escada analgésica de três degraus para
guiar o uso sequencial de drogas no tratamento da dor, de acordo com a in-
tensidade da dor (Figura 10.7).

239
Figura 10.7 Escada de dor da OMS modificada para idosos frágeis

OPIOIDES FORTES + Dor Forte


ANALGÉSICO + AINE (?) • Medicamentos tópicos
EVA: 8 a 10
+ Drogas adjuvantes
• Acupuntura
OPIOIDE FRACO + ANALGÉSICOS
+ Drogas adjuvantes Dor Moderada • Termoterapia
EVA: 3 a 7
Anti-Inflamatório Não Esteroidal (AINE) • Massagem terapêutica

ANALGÉSICO + Dor Leve • Musicoterapia


Drogas adjuvantes EVA: 0 a 2

Fonte: adaptado por Moraes.


Opioides fortes: morfina, oxicodona e similares;
Opioides fracos: codeína ou tramadol;
Analgésicos: dipirona ou paracetamol;
AINE: anti-inflamatório (devem ser evitados em idosos frágeis);
Drogas adjuvantes: antidepressivos ou anticonvulsivantes.

Os objetivos em que se baseiam as intervenções são: alívio ou diminuição da


dor, restabelecimento da funcionalidade física, psíquica e social, com melhoria na
qualidade de vida, de acordo com as percepções do paciente. Por fim, é fundamental
que cada dor seja compreendida pelo profissional de saúde no seu sentido ampliado,
levando em consideração, além da doença crônica de base, a história, o contexto e o
momento de vida do paciente, de forma a conseguir os objetivos do controle e alívio
adequado da dor e melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida do paciente.
O tratamento da dor crônica exige o uso contínuo de analgésicos (dipirona ou
paracetamol), anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) seletivos ou não seletivos (ini-
bidores da COX1 e COX2, inibidores seletivos da COX2) e opióides fracos (codeína e
tramadol) e fortes (morfina e similares). Os riscos dos AINE podem causar nefrotoxi-
cidade, gastrotoxicidade, cardiotoxicidade e devem ser evitados em idosos frágeis. O
uso de medicamentos tópicos (gel ou patch), como anti-inflamatório e lidocaína, po-
dem ser úteis em algumas situações. Comumente torna-se necessário o uso de psico-
trópicos, como os antidepressivos ou anticonvulsivantes, como tratamento adjuvante.
Outras medidas não farmacológicas tem grande importância no tratamento da
dor crônica no idoso, como:
• termoterapia: o uso local de calor ou frio pode ser de útil. O calor produz rela-
xamento muscular e reduz a nocicepção, via sistema musculoesquelético. O calor
não deve ser uma opção nas inflamações agudas, pois pode aumentar o dano
tecidual. O frio diminui a atividade do sistema nervoso, o que reduz a estimulação

240
nociceptivos e é mais recomendado em lesões agudas ou quando há inflamação
local. O frio intenso é irritativo para o sistema nervoso e tende a aumentar a dor;
• massagem terapêutica: envolve a manipulação, a aplicação de pressão, a fric-
ção ou movimentos de deslizamento entre os tecidos moles e a pele para promo-
ver a circulação, o relaxamento e o alívio da dor. As técnicas e graus particulares
de pressão podem variar em cada um dos inúmeros tipos de massagem tera-
pêutica, como a massagem sueca, o shiatsu, o reiki e a reflexologia (massagem
dos pés, mãos ou do couro cabeludo). Todos os tipos de massagem terapêutica
devem ser tentados, pois podem aliviar e relaxar músculos doloridos;
• outras técnicas que necessitam de profissionais especializados são a acupun-
tura e a musicoterapia, que apresentam benefícios relevantes na abordagem
da dor crônica.

Câncer
O termo câncer é genérico e se aplica a um conjunto de mais de 100 doenças
caracterizadas pelo crescimento desordenado de células malignas, que invadem os
tecidos e órgãos e podem ser disseminar por todo o organismo (metástases), provo-
cando sintomas consumptivos, como emagrecimento significativo e caquexia “defi-
nhamento extremo” e evoluir para o óbito. Por outro lado, um tumor benigno signifi-
ca simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente
e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo risco de morte.
A duração é variável, conforme o tipo de câncer. Pode ocorrer em todas as faixas
etárias, mas é mais frequente nos idosos. As causas são variadas, não havendo uma
definida. Fatores genéticos, ambientais e hábitos de vida podem aumentar o risco de
câncer. Inquestionavelmente, o fator ambiental mais associado ao risco de câncer é o
tabagismo. A exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele. O envelhecimento,
por sua vez, traz mudanças nas células que aumentam a sua suscetibilidade à transfor-
mação maligna. Isso, somado ao fato de os idosos terem ficado mais tempo expostos a
determinados fatores de risco, explica a maior frequência de câncer nessa faixa etária.
Os principais fatores de risco para câncer são:
• tabagismo;
• hábitos alimentares;
• alcoolismo;
• hábitos sexuais;
• medicamentos;
• fatores ocupacionais;

241
• exposição solar excessiva.

Os tipos de câncer mais frequentes dependem do sexo:


• no homem: próstata, pulmão, intestino (cólon e reto), estômago, cavidade oral
e pele;
• na mulher: mama, intestino (cólon e reto), colo do útero, pulmão, estômago
e pele.

Os sinais e sintomas variam conforme o tipo de câncer e sua localização. Alguns


sintomas são frequentes, independentemente da origem, como perda de peso signi-
ficativa (emagrecimento), inapetência e fadiga, podendo levar à caquexia. A palpação
de um nódulo “caroço” também sugere o diagnóstico. Tosse crônica, com duração
superior a quatro semanas, na ausência de outras causas, deve levar à suspeita de
câncer de pulmão. Disfagia, “dor no estômago” ou dispepsia, vômitos pós-alimen-
tares e alterações do hábito intestinal sugerem tumor no sistema gastrintestinal e
devem ser investigados. Por vezes, o único sintoma é anemia de causa desconhecida
ou sangramentos espontâneos, como ocorre nas leucemias ou linfomas.
O tratamento do câncer é feito por meio de uma ou várias modalidades combina-
das. A principal é a cirurgia, que pode ser empregada em conjunto com radioterapia,
quimioterapia ou transplante de medula óssea. O cuidado paliativo deve ser feito em
todo paciente com câncer e consiste no “conjunto de cuidados ativos e integrais pres-
tados a pacientes e familiares diante de doenças que ameacem continuamente a vida,
especialmente quando os tratamentos modificadores de doença (em busca da cura)
perdem a sua efetividade. Objetiva-se não somente o controle e alívio impecável da dor,
mas do conjunto de todos os sintomas de natureza física, emocional, espiritual e social.

Visite o site do INCA para entender melhor a respeito do problema:


www.inca.gov.br

Principais Condições Agudas de Saúde no Idoso Frágil

Gripe e resfriado

A gripe ou influenza é uma infecção viral aguda do sistema respiratório, causada


pelo vírus Influenza, altamente contagiosa, caracterizada por febre (geralmente alta),

242
mialgia (dor muscular), cefaleia e sintomas de vias aéreas superiores: nariz, seios pa-
ranasais e a garganta que compreende a faringe, a laringe e as amígdalas. Pode se
apresentar de forma leve e de curta duração até formas clinicamente graves e com-
plicadas. O período de incubação após o contágio varia de um a quatro dias após a
transmissão. O período de transmissibilidade varia de 24 horas antes a sete dias após
a transmissão. O vírus Influenza é disseminado pelas vias respiratórias e os indivíduos
infectados o transmitem através de gotículas ao falar, espirrar ou tossir. Como o vírus
sobrevive no meio ambiente (mãos, tecidos, superfícies porosas) por tempo variável,
essa transmissão pelo contato com superfícies contaminadas deve ser considerada. A
gripe pode levar a graves complicações em grupos de mais vulnerabilidade. O pico de
incidência é no final do outono e durante o inverno.
A influenza não complicada é caracterizada pelo início agudo de sintomas cons-
titucionais e respiratórios. Os principais sintomas gerais são febre, calafrios, mialgia,
cefaleia, fraqueza e mal-estar. Esses sintomas predominam nos primeiros três a qua-
tro dias. À medida que os sintomas sistêmicos regridem, os respiratórios altos predo-
minam com tosse, rinite, faringite e dor de garganta. O quadro dura poucos dias e,
geralmente, é curado em uma semana, exceto quando complica. A gravidade aumen-
ta com a idade. Entre as complicações mais frequentes, têm-se pneumonia virótica
e/ou bacteriana, descompensação de doenças crônicas de base (bronquite, asma,
enfisema e insuficiência cardíaca), amigdalite, sinusite e otite.
As características clínicas da gripe não são específicas, podendo ser similares
àquelas causadas por outros vírus respiratórios que também ocorrem sob a forma
de surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo, tais como rinovírus, vírus pa-
rainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus. Esses agentes podem determinar
o mesmo conjunto de sinais e sintomas, definido como “síndrome gripal”, definida
como doença respiratória aguda, com duração máxima de cinco dias, que cursa com
febre (ainda que referida) e tosse ou dor de garganta, na ausência de outros diag-
nósticos. Outros quadros devem ser diferenciados da gripe e da “síndrome gripal”: o
resfriado comum e a rinite alérgica.
A rinite alérgica apresenta sintomas tais como coceira nasal, espirros e cori-
za, sendo, muitas vezes, confundida com quadros de “síndrome gripal”. Nesse caso,
existem outros fatores associados ao início dos sintomas, como exposição a ácaros e
poeira, poluição, mofo, pelos de animais, fumaça de cigarro e substâncias químicas
como tinta, desinfetantes e produtos de limpeza.
Resfriado é uma infecção branda das vias aéreas. Como já explicado, pode ser
causado por vários tipos de vírus, sendo o rinovírus o mais comum. É extremamente

243
contagioso e a transmissão é feita através de aerossóis da tosse ou espirro e pelo
contato com mãos infectadas. Os sintomas surgem entre 24 e 72 horas após a trans-
missão do vírus. Os sintomas mais comuns são a rinite (coriza e obstrução nasal),
tosse e espirros. Pode ocorrer dor de garganta de curta duração nos primeiros dias.
Febre e sintomas gerais, como dor muscular e prostração, são raros. Costuma durar
cinco a sete dias, porém em um quarto dos casos os sintomas persistem por até duas
semanas. A maioria das pessoas manifesta três a cinco quadros de resfriado por ano.
O Quadro 10.15 apresenta as principais diferenças entre gripe e resfriado.

Quadro 10.15 Diferenças entre gripe e resfriado

Caraterísticas Resfriado Gripe

São causados pela família


Tipo de vírus Rinovírus na maioria dos casos
do vírus Influenza
Muito comum,
Febre Rara ou baixa
geralmente acima de 38º
Dor de cabeça Raro Muito comum
Dores no corpo Raro, quando presentes são leves Comum
Coriza nasal Muito comum Pode haver ou não
Espirros Muito comum Pode haver ou não
Muito comum e surge
Dor de
habitualmente já no Pode haver ou não
garganta
primeiro dia de doença
Muito comum e
Fraqueza Pouco comum
pode durar vários dias
Tosse Tosse seca leve a moderada Comum, pode haver expectoração
Tempo de
24 a 72 horas 24 a 96 horas
incubação
3 a 7 dias na maioria dos casos, 2 a 5 dias, mas a tosse
Duração da
mas em 1/4 dos pacientes, a e o cansaço podem durar
doença
doença persiste por até 14 dias até duas semanas
Inicia-se 12 a 24 horas após o Inicia-se 12 horas após o
Período primeiro contato com o vírus, primeiro contato com o vírus,
contagioso mas o pico ocorre entre o 2º e mas o pico ocorre entre o
4º dias de sintomas 1º e 6º dias de sintomas
Continua...

244
... continuação

Quadro 10.15 Diferenças entre gripe e resfriado

Caraterísticas Resfriado Gripe

Abertura do Piora gradual ao longo dos Início súbito, com pico dos
quadro 2-3 primeiros dias sintomas em poucas horas
Complicações
Sinusite Pneumonia e sinusite
comuns

Peculiaridades da influenza clínica no idoso

A infecção pelo vírus Influenza no idoso pode ser mascarada por polipatologia, poli-
farmácia, demência, depressão, imobilidade, etc., suficientes para retardar o diagnósti-
co de influenza e de suas complicações. Algumas diferenças são características, como:
• os idosos mantêm, em geral, astenia pós-infecciosa por semanas;
• tosse persistente por duas a quatro semanas;
• tendência à desidratação e à constipação intestinal, devido à perda hídrica
(febre, taquicardia) e baixa ingesta oral;
• maior tendência à lesão por pressão, pelo alto risco de imobilidade durante a
fase aguda (prostração, inapetência);
• a febre não é comum no idoso;
• prostração com delirium;
• rápido declínio funcional, com piora da instabilidade postural e do déficit cog-
nitivo, se presentes previamente;
• as mortes atribuídas à infecção pelo vírus Influenza resultam de pneumonia e
exacerbações de doenças cardiorrespiratórias preexistentes (DPOC, asma, insufi-
ciência cardíaca, etc.) e outras doenças crônico-degenerativas, mais comuns em
idosos. Mais de 90% dessas mortes ocorrem em pessoas com 65 anos ou mais.

Tratamento
A gripe não possui tratamento específico e consiste na abordagem dos sintomas.
Uso de analgésicos e antitérmicos em caso de dor ou febre. Antibióticos são indicados
nas complicações bacterianas, como pneumonia, amigdalite, sinusite. Essas medica-
ções devem ser usadas apenas mediante prescrição e orientação médica.
O paciente deve ingerir grande quantidade de líquido, para ajudar as secreções a
ficarem mais fluidas, facilitando a expectoração por meio da tosse.

245
Prevenção

A melhor prevenção é a imunização anual contra a gripe. O vírus da gripe so-


fre mudanças antigênicas constantes, o que torna necessária a atualização anual da
composição vacinal, mantendo a correspondência entre seus componentes e os vírus
circulantes, incluindo o H1N1. É bastante segura, pois é elaborada a partir de vírus
inativados e pode ser administrada por via intramuscular ou subcutânea. Deve ser
aplicada no período que precede o outono/inverno (março-junho) para que o pico
de anticorpos ocorra no inverno (maio a setembro), quando há mais circulação dos
vírus. Aproximadamente duas semanas após a vacinação, já começam a surgir os
anticorpos que darão proteção contra a doença, sendo que o pico máximo será atin-
gido após aproximadamente seis a oito semanas. A eficácia na prevenção da gripe
nos idosos, quando comparada aos mais jovens, é menor, mas atende ao objetivo
primário da imunização na terceira idade, que é a redução das complicações, como
hospitalização, pneumonia e o óbito. A relação custo-benefício-risco é extremamente
favorável ao uso da vacina em todos os idosos. Está indicada nas seguintes situações:
• pessoas com 50 anos ou mais;
• portadores de doenças crônicas (pulmonares, cardiovasculares);
• portadores de doenças neurológicas crônico-degenerativas (doença de Parkinson,
doença de Alzheimer, sequelados de AVC, outras demências, depressão);
• pessoas que vivem em instituições de longa permanência;
• indivíduos que mantêm contato constante com pessoas de alto risco de com-
plicações por influenza;
• profissionais da área de saúde, cuidadores de idosos e familiares.

Pneumonia
Pneumonia é a contaminação do pulmão por bactérias, fungos ou vírus, que cau-
sam inflamação pulmonar, caracterizada por instalação aguda. O principal agente
causador é o Pneumococo, chegando a ser responsável por aproximadamente me-
tade dos casos. É de ocorrência comum, mais frequente em idosos e em pacientes
debilitados, podendo levar a graves complicações e, até mesmo, à morte. Frequente-
mente, aparece como complicação dos quadros gripais. As doenças crônicas, particu-
larmente a ICC, o DPOC e o diabetes mellitus, são importantes fatores de risco para
a infecção pulmonar e contribuem para pior evolução.
Outra importante forma de aquisição da pneumonia bacteriana é a microaspira-
ção pela saliva, que é colonizada por bactérias. O idoso possui mais riscos de colo-
nização bacteriana da boca e aspiração, devido a vários fatores favorecedores, entre

246
os quais: doenças dentárias, uso de antiácidos e outros medicamentos, desnutrição,
hospitalização, institucionalização, alteração dos mecanismos de defesa do trato res-
piratório, principalmente em fumantes ou em ex-fumantes, diminuição do nível de
consciência, alterações da deglutição, demência e a doença de Parkinson.

Sintomatologia
A pneumonia pode apresentar-se de diferentes formas:
• forma clássica: como no adulto jovem, com tosse, febre, dor no peito e/ou
nas costas que piora com a respiração, cansaço e dificuldade para respirar,
além de outros sintomas gerais;
• forma geriátrica: a febre pode estar ausente, podendo haver predomínio de
confusão mental, delirium, agitação psicomotora, queda, incontinência uriná-
ria ou fecal, que dificultam o diagnóstico correto;
• forma silenciosa: predominando a ausência de sintomas, evolução arrastada,
o que atrasa o diagnóstico, agravando o quadro.

O aumento da frequência respiratória pode ser sinal-chave de pneumonia. A frequên-


cia superior a 26 inspirações por minuto pode ser indício de infecção respiratória baixa.
A recuperação do idoso é habitualmente prolongada, especialmente nos mais
frágeis, requerendo meses para o retorno à situação clínica prévia à pneumonia. A
hospitalização, devido especialmente à imobilidade prolongada que provoca, acelera
o declínio funcional do idoso.

Tratamento
Na suspeita de pneumonia, o médico deve ser acionado, para avaliação e prescri-
ção do antibiótico mais adequado para o tratamento.

Prevenção
Deve-se evitar o contato de idosos com pessoas com gripe ou resfriado e promo-
ver a vacinação antipneumocócica e a anti-influenza. Existem duas vacinas antipneu-
mocócica: a VPP23 e a VPC13. Cada uma delas protege contra tipos diferentes de
pneumococo. Essas vacinas não fazem parte, ainda, da lista disponibilizada rotineira-
mente para idosos pelo Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. A
VPP23 está disponível nas Unidades Básicas de Saúde para idosos que fazem parte de
grupos considerados de risco. Ambas as vacinas estão disponíveis em serviços priva-

247
dos de vacinação. A vacina está indicada para todas as pessoas a partir dos 60 anos
ou que tenham doenças crônicas específicas.
Sempre que possível, a dieta deverá ser oferecida com o paciente sentado ou com
a cabeceira elevada. Caso o paciente apresente tosse ou engasgos durante a alimen-
tação e ingestão de líquidos, é recomendada a avaliação de um fonoaudiólogo, que
poderá orientar manobras para ajudar na deglutição e também indicar a consistência
adequada do alimento a ser oferecido.

Infecção Urinária
A infecção do trato urinário (ITU), conhecida popularmente como infecção uri-
nária ou “cistite”, é um quadro infeccioso que pode ocorrer em qualquer parte do
sistema urinário (rins, bexiga, uretra e ureteres), sendo mais comum na parte inferior
do trato urinário (bexiga e uretra). É a infecção mais frequente, principalmente nas
mulheres. Estima-se que 60 a 70% das mulheres terão pelo menos um episódio de
infecção urinária durante a sua vida. Ocorre quando uma bactéria entra no sistema
urinário por meio da uretra e começa a se multiplicar na bexiga. Não é considerada
doença sexualmente transmissível.
Além da bexiga, outros sítios de infecção podem ser a uretra (uretrite) e os rins
(pielonefrite). A cistite é a forma de infecção urinária mais comum e caracteriza-se por
sintomas como dor ao urinar (disúria), urgência miccional e desejo de urinar várias vezes
(polaciúria), mesmo quando a bexiga encontra-se vazia. Dor no hipogástrio pode estar
presente, além de sensação de esvaziamento incompleto da bexiga. Decorre da contami-
nação urinária por bactérias naturais do intestino (enterobactérias) e da região ao redor
do ânus (E.coli, Proteus e Klebsiella). Uma vez na uretra, as bactérias conseguem facil-
mente chegar à bexiga, onde irão se multiplicar e provocar intensa reação inflamatória.
A pielonefrite, por sua vez, é a infecção urinária que atinge diretamente os rins
e é considerada bastante grave. O paciente refere os mesmos sintomas miccionais
vistos na cistite, mas apresenta também febre alta, prostração, dor lombar e toxemia.
A infecção pode se disseminar pelo sangue e causar septicemia, que pode ser fatal.
O aparecimento súbito de incontinência urinaria pode sugerir quadro de infecção
urinária. Pacientes idosos podem exibir quadro de agitação ou delirium, que muitas
vezes pode estar relacionado ao acúmulo de urina na bexiga (bexigoma),que predis-
põe ao risco de infecção.

Fatores de risco
• sexo feminino: a uretra feminina é curta, facilitando a contaminação local;

248
• vida sexualmente ativa;
• uso de alguns tipos de contraceptivos, como diafragma e espermicidas;
• período pós-menopausa: a redução da produção de estrogênio causa mudan-
ças no trato urinário de modo a deixá-lo mais vulnerável à ação de bactérias;
• cálculo renal ou qualquer outro tipo de obstrução das vias urinárias;
• uso de cateter/sonda vesical de alívio e, principalmente, de demora;
• idosos em uso contínuo de fraldas geralmente apresentam bactérias na urina
sem que estejam com infecção (colonização bacteriana).

O exame de cultura de urina pode registrar bactérias, mas o paciente


não manifesta algum sintoma, mantendo o comportamento usual.
Esse fenômeno é chamado de bacteriúria assintomática e não deve
ser tratado. Lembramos que o uso irracional de antibióticos poderá
levar à seleção de bactérias multirresistentes, comprometendo o
posterior tratamento em caso de infecção.

Tratamento
O tratamento consiste no uso de antibióticos pelo período de sete a 14 dias. Anal-
gésicos podem ser úteis para aliviar a dor e a ardência ao urinar. Outras orientações
devem ser dadas ao paciente.

Orientações na ITU:
• beber muito líquido, especialmente água. Por mais que seja doloroso urinar, é
importante beber muita água para diluir ao máximo a urina e “limpar” a bexiga;
• colocar uma bolsa de água morna na região do abdômen para minimizar o
desconforto;
• fazer a higienização adequada toda vez que urinar, para evitar que bactérias
se acumulem no local e entrem no trato urinário;
• evitar segurar a urina por muito tempo. Evitar ficar intervalos maiores que 4
horas sem urinar. A urina parada na bexiga facilita a proliferação de bactérias;
• fazer o tratamento adequado do diabetes mellitus;
• evitar banhos de banheira: a água da banheira torna-se rapidamente povoada
por bactérias da região do períneo;
• usar roupas de algodão ou tecidos leves. Usar roupas leves de
forma a não deixar a região genital muito úmida pelo suor;
• corrigir alterações intestinais como diarreia ou constipação;
• urinar antes e após a relação sexual para esvaziar a bexiga.

249
Imunização nos idosos
A imunização de idosos é de grande importância porque estes têm mais susceti-
bilidade a doenças infecciosas, devido ao aumento da vulnerabilidade e declínio dos
mecanismos de defesa. Os idosos são considerados população de risco por apresen-
tarem múltiplas doenças crônicas.
As vacinas atualmente indicadas para os idosos são: vacina anti-influenza, vacina
antipneumocócica e a vacina contra o tétano. As vacinas anti-hepatite-B e antivaricela
zoster podem ser recomendadas em grupos específicos de idosos.
A vacina antiamarílica está indicada para todo adulto e idoso residentes nas áreas
de risco de transmissão e naqueles que, eventualmente, se exponham esporadica-
mente e/ou frequentemente às áreas de risco. A vacina deve ser aplicada, pelo me-
nos, 10 dias antes do deslocamento. A vacina é de alta imunogenicidade e oferece
proteção prolongada. Todavia, há relatos de eventos adversos graves e fatais, resul-
tantes da visceralização do vírus vacinal. O risco é maior na primeira dose da vacina e
em idosos. A tendência atual é recomendar a vacina em dose única.
Em virtude do ressurgimento da coqueluche, a tendência é administrar, pelo me-
nos, uma dose de dTpa (tríplice bacteriana acelular do tipo adulto), no esquema bá-
sico ou nos reforços a cada 10 anos. Na ausência da dTpa, recomenda-se a utilização
da dupla bacteriana do tipo adulto (dT).
O Quadro 10.16 apresenta os esquemas de vacina indicados para idosos.

250
Quadro 10.16 Esquemas vacinais indicados para idosos

Influenza

Dose única anual.

Pneumocócica (esquema sequencial ou dual)

Ausência de vacinação antipneumocócica prévia:


• ≥ 65 anos: VPC13 → 6 a 12 meses → VPP23;
• < 65 anos: VPC13 → ≥8 semanas → VPP23.

História de vacinação pneumocócica prévia:


• história prévia de vacinação com VPP23: administrar uma dose de VPC13 após 1
ano ou mais.

Adultos com 19 a 64 anos


Risco intermediário (tabagismo, ICC, pneumopatia crônica (DPOC e asma), diabetes
mellitus, alcoolismo ou hepatopatia crônica): dose única de VPP23.
Alto risco (asplenia, imunossupressão, implante coclear, fistula liquórica, doença renal
avançada):
• história negativa de vacinação: VPC13 → ≥8 semanas → VPP23;
• história de vacinação prévia com VPP23: administrar uma dose de VPC13 após 1
ano ou mais.

Herpes Zóster

• dose única em todo indivíduo com 50 anos ou mais;


• história prévia de herpes zoster não confere imunidade.

Hepatite B

• vacina contra a hepatite B (esquema 0-1-6 meses);


• vacina combinada hepatite A e B (esquema 0-1-6 meses).

Difteria, Tétano e Coqueluche:


3 doses (0-2-6 meses) e reforço a cada 10 anos

• toxoide tetânico (TT);


• dupla bacteriana do tipo adulto (dT);
• tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa).

Febre Amarela:
rotina em idosos que vivem nas áreas endêmicas

• dose única e uma dose de reforço após 10 anos.


VPC-13: vacina pneumocócica conjugada-13 / VPP-23: vacina pneumocócica polissacarídica-23

251
Atividade Integradora
As doenças mais comuns são abordadas na página 14 do guia de saúde.
Foram incluídas as doenças crônico degenerativas mais comuns no ido-
so. Deve ser anotado o ano do diagnóstico médico. Além do diagnós-
tico, valoriza-se a presença de internação pela doença. O grupo inicial
refere-se ás doenças sensíveis à atenção primária, que são condições de
saúde cuja internação pode ser evitada por ações efetivas da atenção
primária. Em 2008, o governo brasileiro estabeleceu a Lista Brasileira de
Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP), com-
posta grupos de diagnósticos, como a hipertensão arterial, o diabetes
mellitus, a insuficiência cardíaca, asma, pneumonias, entre outras. Sob
essa perspectiva, altas taxas de hospitalização podem refletir dificulda-
de de acesso a serviços de saúde, baixa resolubilidade desse serviço e/
ou baixa cobertura de rede de atenção primária. No Brasil, no ano de
2012, as ICSAP foram responsáveis por 22,5% de todas as internações.
No mesmo quadro, deve-se anotar a presença de outras doenças fre-
quentes nos idosos, como o câncer, doença de Alzheimer, doença de
Parkinson, osteoporose, osteoartrite, entre outras.
Na página 15 devem ser registradas as cirurgias realizadas, que defi-
nem doenças subjacentes de tratamento cirúrgico.
O IVCF-20 (página 5) valoriza a polipatologia, definida como a pre-
sença de cinco ou mais condições de saúde (doenças ou problemas
de saúde) e a história de internação recente, nos últimos seis meses
(pergunta 20).
As doenças mais frequentes nos idosos são a hipertensão arterial e o
diabetes mellitus. Na página 20, deve-se anotar os valores da pressão
arterial medidos por profissionais habilitados, preferencialmente médi-
cos e/ou enfermeiros. Os valores da pressão arterial devem ser avalia-
dos nas posições deitado, sentado e de pé, com o objetivo de detectar
a presença de hipotensão ortostática, que é frequente nos idosos e
pode causar tonturas, “bambeza”, quedas e desmaios. Na página 21,
deve-se anotar os valores das glicemias de pacientes diabéticos.
A dor crônica é frequente nos idosos e não deve ser considerada nor-
mal “da idade”. Deve-se registrar a presença de dor crônica, cuja dura-
ção é de três meses ou mais (página 22). Além da marcação da locali-
zação da dor, deve-se quantificar sua intensidade, segundo a escalada
analógica de dor, que varia de 0 a 10.

252
Hábitos de vida, como tabagismo, uso abusivo de álcool, atividade físi-
ca, interesse social e lazer, hábitos alimentares podem estar associados
a maior risco de desenvolvimento de doenças e devem ser registrados
(página 23).
O uso de vacinas é muito útil para todas as faixas etárias, incluindo os
idosos. Na página 24, deve-se anotar todas as vacinas aplicadas no
idoso, especificando a data, lote, US e dose (este campo é utilizado
pela clínica de vacinação).

Referências
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Brasileiro, Porto Alegre, v. 10, n. 4, p. 1-30, 2011. Suplemento 2.
2. COUTO, E. A. B. Avaliação pelo fonoaudiólogo. In: MACIEL, A. Avaliação multi-
disciplinar do paciente geriátrico. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2002. cap.
7, p. 157-177.
3. CUPPARI, L. (Coord.). Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto. São Paulo:
Editora Manole, 2000. 406 p. (Série Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar).
4. ELIOPOULOS, C. Enfermagem gerontólogica. 7. ed. Porto Alegre: Editora Art-
med, 2011. 568 p.
5. FRANK, A. A.; SOARES, E. A. Nutrição no envelhecer. 2. reimp. São Paulo: Edi-
tora Atheneu, 2004. 300 p.
6. MACEDO, E. D.; GOMES, G. F.; FURKIN, A. M. Orientações fonoaudiológicas e
cuidados do paciente disfágico. In: ________. Manual de cuidados do pacien-
te com disfagia. São Paulo: Editora Lovise, 2000. cap. 6, p. 47-58.
7. MAHAN, L. K.; STUMP, S. E. K. Alimentos, nutrição & dietoterapia. 11. ed. São
Paulo: Editora Roca, 2005. 1242 p.
8. MORAES, E. N. Avaliação multidimensional do idoso: instrumentos de rastreio
(Guia de Bolso). Belo Horizonte: Editora Folium, 2008. 64 p.
9. MORAES, E. N. Estratégias de prevenção de doenças e gestão da clínica.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2011. 107 p.
10. MORAES, E. N. Princípios básicos de geriatria e gerontologia. Belo Horizonte:
Editora Coopmed, 2009.
11. RUIPÉREZ, I.; LLORENTE, P. Geriatria. Rio de Janeiro: Editora Coopmed, 2002.
12. TOMMASO, A. B. G. et al. Geriatria: guia prático. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2016. 412 p.
13. WAITZBERG, D. L. et al. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica.
3. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2000. v. 1.
14. WILLIAM, M. Cuidados de enfermagem em geriatria. Rio de Janeiro: Editora
Rubio, 2013. 280 p.

253
Capítulo 11

Sinais de Alerta e Principais


Urgências no Idoso Frágil

Raquel Souza Azevedo


Edgar Nunes de Moraes
Allana dos Reis Corrêa
Maria Aparecida Camargos Bicalho
Os sinais e sintomas das doenças em idosos frágeis são bem diferentes daque-
les descritos nos adultos. Tais diferenças são chamadas de “manifestações atípicas
das doenças”. Assim, o idoso pode estar com pneumonia e não apresentar febre.
Da mesma forma, o único sintoma de infecção urinária pode ser confusão mental
(“delirium”). O diagnóstico torna-se mais difícil ainda quando o idoso exibe quadro
demencial e não é capaz de descrever com clareza tudo aquilo que está sentindo. Daí
a importância de se valorizar os sinais de alertas, que são sintomas inespecíficos que
podem sugerir algum problema de saúde mais grave. Mudanças rápidas do seu com-
portamento diário, como alterações do estado de alerta, sonolência, desorientação,
confusão mental, inapetência e, principalmente, declínio funcional súbito são sinais
de alerta altamente sugestivos de que “algo errado está acontecendo”, caracterizan-
do situações de urgência e emergência que devem ser prontamente comunicadas e
avaliadas pela equipe de saúde responsável pelo acompanhamento do paciente. Tais
informações dependem diretamente da observação cuidadosa das pessoas que con-
vivem com o idoso e, particularmente, do cuidador.

Declínio Funcional
A principal manifestação clínica de que “algo está errado com o idoso” é o declí-
nio funcional. Sua presença nunca deve ser atribuída ao envelhecimento por si (“da
idade”). As alterações do envelhecimento normal ou senescência não impedem que
o idoso continue a cuidar de si (AVDs básicas) e de sua vida (AVDs instrumentais).
Todavia, percebe-se uma lentificação na realização das tarefas do cotidiano, mas que
não o impede de continuar fazendo tudo aquilo que sempre fez. Desta forma, o de-
clínio funcional deve sempre sugerir alterações na cognição, humor/comportamento,
mobilidade e/ou comunicação. Por exemplo, o sintoma mais evidente de demência
de Alzheimer é a perda da capacidade de controlar as finanças, fazer compras ou
sair sozinho. Raciocínio idêntico deve ser feito em caso de declínio funcional súbito.
Toda vez que o idoso “deixar de fazer tudo aquilo que estava fazendo diariamente”
deve-se comunicar à equipe de saúde. O uso de novos medicamentos ou mudanças
na dose de medicamentos em uso devem ser sempre lembrados.

Confusão Mental (delirium)


É uma síndrome multifatorial, caracterizada por confusão mental aguda. O idoso
apresenta flutuações do nível de consciência (ora acordado e esperto, ora sonolento e

256
parado demais), desorientação no tempo (não sabe em que dia estamos ou hora) e no
espaço (não sabe onde está), sintomas comportamentais, como alucinações (vê ou ouve
coisas que não reais) e ideias delirantes (imagina situações que não estão acontecendo) e
declínio funcional rápido. É uma urgência médica que deve ser prontamente investigada.
As causas de delirium são geralmente múltiplas e incluem infecções (pneumonia,
infecção urinária, entre outras), baixa oxigenação sanguínea ou hipoxemia por piora
de doença respiratória crônica (DPOC ou asma) ou cardíaca (insuficiência cardíaca,
infarto agudo do miocárdio), insuficiência renal, insuficiência hepática, anemia, de-
sidratação, obstrução intestinal por fecaloma, febre ou hipotermia, hipoglicemia ou
hiperglicemia, hipercalcemia, hiponatremia, entre outros. É frequente no pós-opera-
tório de cirurgias para correção de fratura de fêmur e cirurgias abdominais, entre ou-
tras. Por vezes, pode ser causado simplesmente por uma mudança ambiental, como
viagens, mudança do cuidador e internação hospitalar.
Pode manifestar-se como:
• delirium hipoativo: letargia, apatia, confusão;
• delirium hiperativo: agitação, confusão mental, labilidade emocional, sinto-
mas psicóticos (“alucinações, delírios”), comportamentos inadequados;
• delirium misto: sintomas de ambos os tipos.

O delirium é sempre reversível, ou seja, corrigida a causa,


o paciente se recupera totalmente e não há sequelas.

Alterações do Sono
A sonolência excessiva diurna é um sintoma com-
plexo, definido como a incapacidade de se manter
acordado e alerta durante o dia, resultando em sono-
lência e episódios de sono não intencionais (cochilos
excessivos). Nos idosos com síndromes demenciais é
frequente a inversão do ciclo sono-vigília, de forma
que o paciente troca a noite pelo dia. Os principais
fatores que contribuem para a sonolência diurna são
a insônia noturna, falta da higiene do sono, apneia do
sono, depressão, hipoglicemia e uso de medicamentos
psicoativos, entre outros.

257
A insônia, por sua vez, é a incapacidade de dormir bem. É sintoma frequente nos
idosos e deve ser avaliado minuciosamente. As causas são múltiplas, como a falta de
boa higiene do sono, sintomas noturnos, como dor, noctúria (acordar à noite para
urinar), dispneia e, principalmente, depressão e ansiedade. O uso de tranquilizantes
ou remédios para dormir deve ser evitado.
Ficar atento aos sinais de alerta:

• episódios de sono frequentes no período diurno;


• “cochilos” frequentes e não intencionais;
• dificuldade para dormir à noite;
• cansaço excessivo ao longo do dia.

Higiene do sono:
• ocupação do tempo: incentivar atividades físicas (conforme
recomendação médica) e intelectuais e a participação em
grupos da terceira idade e trabalhos que lhe tragam prazer;
• atenção especial com as medicações para dormir: as doses podem estar
altas e os medicamentos inapropriados;
• manter temperatura confortável no quarto;
• estabelecer um cronograma regular de sono-vigília e evitar sono prolongado
ou acordar tarde demais;
• ir para a cama somente quando estiver com sono;
• não fazer exercício dentro de três horas antes de dormir;
• estimular atividades relaxantes antes de ir para a cama;
• não assistir à televisão antes de dormir;
• não ir para a cama sentindo fome ou sede;
• não ingerir bebidas que contenham cafeína (como café, refrigerantes, chás
preto e mate, energéticos) à noite;
• manter o ambiente exposto à luz (preferencialmente luz solar) durante o dia.

Alterações do Apetite
O apetite é um dos principais marcadores de saúde ou de vitalidade no idoso. Ido-
sos que se alimentam bem dificilmente têm alguma doença mais grave. A inapetência

258
ou perda do apetite é sempre um sinal de alerta de que algo está errado e o idoso
deve ser investigado. As causas são múltiplas e podem estar associadas a:
• uso de medicamentos que interferem no apetite;
• depressão e sentimentos de solidão, tristeza, ansiedade e isolamento social;
• dor crônica;
• doenças consumptivas, como câncer, tuberculose, AIDS, etc.;
• doenças metabólicas, como hipotireoidismo, insuficiência renal, insuficiência
cardíaca, anemia, entre outras;
• alterações na saúde bucal: ausência de dentes, edentulismo parcial ou total e
próteses dentárias (dentaduras) mal-adaptadas;
• disfagia;
• demência de Alzheimer e doença de Parkinson avançadas;
• falta de acesso à alimentação adequada: é frequente em idosos que moram
sozinhos ou que têm suporte familiar precário (insuficiência familiar).

Doenças agudas, como infecções, são comumente associadas à inapetência, que


muitas vezes é o único sintoma.
Ficar atento aos sinais de alerta:

• redução do apetite habitual e recusa alimentar;


• redução do número de refeições;
• diminuição da quantidade de alimentos ingeridos nas refeições.

Dicas importantes:
• preparar as refeições respeitando o hábito alimentar do
idoso (adequando os horários, alimentos preferidos, evitar
os alimentos rejeitados);
• tornar o momento da refeição agradável, de preferência com a família;
• preparar refeições com boa aparência e variedade de alimentos;
• fracionar o número de refeições (cinco a seis refeições por dia).

Desidratação
A desidratação ocorre quando a perda de líquidos é maior do que a ingestão. As
principais causas em idosos são vômitos, diarreia, febre alta, suor excessivo, hipergli-

259
cemia e medicações. Outra causa importante é a imobilidade, por baixa ingesta de
líquido em função da dependência associada e oferta insuficiente.
Ficar atento aos sinais de alerta:

• secura na boca;
• diminuição do turgor cutâneo (devido à perda de elastici-
dade da pele);
• sinais de desidratação: aumento da frequência respiratória,
dispneia, pulso acelerado, sonolência, confusão mental e
redução do volume de urina.

Dicas importantes:
• ficar atento à quantidade total de ingestão de líquidos ao
longo do dia;
• avaliar sinais de desidratação;
• aumentar o consumo de líquidos e soro caseiro, quando recomendado.

Subnutrição
A subnutrição é a deficiência de nutrientes essenciais, causada pela ingestão ina-
propriada e insuficiente de calorias e proteínas, inapetência, má-absorção dos nu-
trientes ingeridos, perda excessiva de nutrientes por processos patológicos, como a
diarreia, hemorragia, insuficiência renal, uso de determinados medicamentos, alergia
ou intolerância alimentar. Idosos com 80 anos ou mais podem apresentar perda de
peso não significativa, independentemente de doenças ou outros problemas de saú-
de. A maior complicação da subnutrição é a sarcopenia ou redução da massa muscu-
lar, causa frequente de declínio funcional em idosos.
Ficar atento aos sinais de alerta:

• idosos em risco: confinados ao leito ou à cadeira de ro-


das, com incapacidade física ou mental, que dependem
de alguém que lhes prepare os alimentos ou que lhes dê o
alimento na boca e idosos com redução do apetite;
• deve-se ter muito cuidado com dietas restritivas, mesmo
nos idosos obesos. A perda de peso pode ocorrer à custa
de perda muscular e piorar mais ainda a saúde do idoso.
Toda dieta deve ser acompanhada por profissionais de saú-
de habilitados na saúde do idoso.

260
Febre e Hipotermia
A febre não é comum no idoso, o que muitas vezes dificulta o diagnóstico. A tempe-
ratura do corpo do idoso é abaixo da temperatura normal de um adulto. O idoso muitas
vezes responde a uma infecção com quadro de confusão mental (delirium), dispneia (di-
ficuldade para respirar) e taquicardia. Esses sinais e sintomas são mais frequentes do que
a alteração da temperatura corporal. Deve-se estar atentos a essas alterações no idoso.
• o termômetro deve ficar na axila por cinco a 10 minutos para a medida correta
da temperatura corporal.
• temperatura basal ≥ 37,2oC sugere febre, assim como o aumento da tempera-
tura corporal de 1,1º a 1,3oC acima da temperatura basal.
• temperaturas abaixo de 35oC são indicativas de hipotermia, cujo risco de com-
plicações é maior do que a própria febre.

Alterações Urinárias
A urina é o resultado do funcionamento adequado dos rins e das vias urinárias.
Deve-se estar atento aos sintomas presentes no ato da micção, como dor e ardên-
cia, que sugerem inflamação nas vias urinárias, como ocorre na infecção urinária.
Alterações do volume urinário ou da quantidade diária de urina sugerem problemas
sistêmicos. Poliúria, que é o excesso de urina em 24h, pode ser indicativo de excesso
de açúcar na urina (glicosúria) ou excesso de líquidos no corpo (insuficiência cardíaca)
ou dificuldades da função renal, como pode ser visto no início da insuficiência renal
crônica. Por outro lado, redução do volume urinário sugere desidratação, insuficiência
renal mais avançada ou obstrução das vias urinárias, como ocorre na retenção uriná-
ria secundária à obstrução prostática (hiperplasia ou câncer da próstata) ou na bexiga
“flácida” (bexiga neurogênica), presente após o acidente vascular cerebral (AVC).
Alterações da cor e cheiro da urina são bastante inespecíficas e raramente devem
ser valorizadas. Urina escura e malcheirosa é frequentemente encontrada na desidra-
tação, mas pode sugerir infecção urinária.
Assim, qualquer alteração nas características da urina deve ser comunicada à
equipe de saúde.

Constipação Intestinal
A necessidade de fazer esforço para evacuar é queixa frequente em idosos. Essa
queixa é denominada constipação intestinal (também conhecida como prisão de ven-

261
tre) e é caracterizada por redução da frequência ou regularidade das evacuações,
diminuição do volume fecal, endurecimento anormal das fezes (o que torna sua elimi-
nação difícil e, algumas vezes, dolorosa) ou retenção prolongada de fezes no reto ou
sensação de plenitude abdominal.
As doenças crônicas e a consequente polifarmácia, a depressão, a fraqueza e o
repouso prolongado no leito também podem contribuir para a constipação intestinal.
Os principais fatores associados à constipação intestinal no idoso são:
• preferência por alimentos macios, processados e pobres em fibras, devido a
dificuldades dentárias ou de mastigação;
• diminuição do consumo de alimentos;
• redução da mobilidade;
• baixa ingestão de líquidos, especialmente água;
• uso excessivo de laxativos;
• fraqueza dos músculos abdominais;
• uso de determinados medicamentos.

A principal complicação da constipação é o fecaloma, que ocorre frequentemente


no idoso acamado. O fecaloma é o resultado do acúmulo de fezes no reto por tempo
prolongado. As fezes tornam-se mais endurecidas e impedem mais ainda a eliminação
do material fecal, gerando um ciclo vicioso que culmina com a obstrução intestinal. O
paciente pode queixar de distensão e dor abdominal, associada à redução da elimina-
ção de flatos ou gases. É um quadro potencialmente grave e, por vezes, o tratamento
é cirúrgico. Na suspeita de fecaloma, deve-se realizar o toque retal e a retirada manual
de fezes. Todo idoso que não evacua por três a cinco dias deve ser avaliado para afastar
fecaloma. O tratamento da constipação intestinal consiste no diagnóstico da causa, o
uso de medidas não farmacológicas e na utilização de laxativos, quando necessário.
Ficar atento aos sinais de alerta:

• menos de três evacuações por semana, distensão abdomi-


nal e dor ao evacuar;
• diminuição do apetite;
• queixa de cefaleia (dor de cabeça), fadiga, indigestão, sen-
sação de defecação incompleta;
• esforço para evacuar, eliminação de pequeno volume de
fezes duras e ressecadas;
• complicações como aumento da pressão arterial, hemor-
roidas e impactação fecal (fecaloma).

262
Orientações para o idoso com constipação intestinal:
• incentivar a escolha de um horário para evacuar (preferen-
cialmente na parte da manhã ou após uma refeição, para
que seja aproveitado o reflexo de evacuação existente
nessa ocasião), respeitando os hábitos do idoso;
• incentivar a realização de atividade física;
• orientar o idoso a comer devagar, mastigando bem os alimentos;
• aumentar a ingestão de líquidos quando possível, de 1,5 a 2 litros por dia;
• evitar a ingestão em excesso de alimentos constipantes, como massas com
farinhas refinadas, batata, mandioca, cará, banana prata, moranga, beterraba,
goiaba, caju;
• preferir alimentos com ação laxativa: mamão, ameixa, laranja, banana
caturra, alimentos integrais e ricos em fibra, aveia, cereais, granola, linhaça;
• interromper o uso abusivo de laxativos;
• identificar possíveis medicamentos desencadeadores da constipação
intestinal e comunicar seu uso à equipe multidisciplinar;
• evitar imobilidade e estimular deambulação;
• não é aconselhável o uso de óleo mineral, pelo risco de aspiração;
• o uso de medicamentos constipantes é contraindicado na maioria dos
pacientes com diarreia aguda.

Diarreia
A diarreia refere-se ao aumento da frequência de evacuações (mais de três eva-
cuações ao dia), quantidade aumentada de fezes e alteração da consistência das fezes
(aumento de fezes líquidas).
Está normalmente associada à urgência, desconforto perianal, incontinência
ou a combinação desses fatores. As causas incluem infecções virais ou bacterianas
(principal causa de diarreia aguda), medicamentos (hormônio da tireoide, laxativos,
antibióticos, quimioterapia, entre outros) ou intolerância alimentar, como ocorre na
intolerância ao leite e derivados (deficiência de lactase).
A diarreia em idosos deve ser sempre considerada uma urgência, pois o risco de
desidratação e outros distúrbios hidroeletrolíticos, como a redução nos níveis plas-
máticos de potássio, é elevado e pode ocorrer rapidamente. A principal intervenção
terapêutica na diarreia é a reposição precoce de líquidos por via oral. Em alguns
idosos com vômitos ou quando a aceitação de líquidos é pequena, recomenda-se a
utilização da infusão de soro fisiológico por via subcutânea, técnica conhecida como
hipodermóclise. Além da reposição de líquidos, a hipodermóclise pode facilitar o uso
de alguns medicamentos sintomáticos.

263
Ficar atento aos sinais de alerta:

• monitorar as características e padrão das evacuações. Ano-


tar horários e consistência das fezes;
• avaliar sinais de desidratação;
• aumentar o consumo de líquidos e soro caseiro quando re-
comendado, em pequenas quantidades e várias vezes du-
rante o dia;
• se o paciente tolerar a via oral, oferecer dieta branda, evi-
tando-se alimentos gordurosos e ricos em fibras;
• evitar alimentos muito quentes ou muito frios para evitar estí-
mulo dos movimentos intestinais e novos episódios de diarreia;
• observar sinais de irritação e assaduras na região perianal.

Orientações para o idoso com diarreia:


• mais de três evacuações por dia com aumento do conteúdo
líquido das fezes, deve ser informado à equipe de saúde;
• cólicas abdominais;
• distensão abdominal;
• sinais de desidratação: aumento da frequência respiratória, dispneia, pulso
acelerado, sonolência, confusão mental, redução do volume de urina;
• eliminação de pus/sangue nas fezes.

Alteração da Marcha
Muitas vezes o primeiro sinal de uma situação clínica de risco para o idoso é a alte-
ração da qualidade e da velocidade da marcha, que passa a ser mais lentificada ou de-
sequilibrada, com menor amplitude, passos curtos e arrastando os pés. As alterações da
marcha devem alertar o cuidador sobre a possibilidade de uma intercorrência no quadro
clínico. Também deve alertar a respeito do risco aumentado para a ocorrência de quedas.

Dispneia
A dispneia é a percepção da dificuldade de respirar confortavelmente. É o termo
usado para se referir à “falta de ar” com a sensação de respiração incompleta. A sen-
sação de desconforto respiratório pode ocorrer por diversos fatores, como:

264
• obstrução das vias aéreas por alimentos, secreções ou qualquer tipo de objeto
levado à boca que possa obstruir as vias aéreas;
• anafilaxia: processo inflamatório das vias aéreas superiores ocasionado pela
reação alérgica a medicamentos ou alimentos;
• doenças pulmonares como asma, infecção pulmonar, pneumonia, DPOC (“en-
fisema pulmonar);
• doenças cardíacas, como infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca,
arritmias cardíacas;
• doenças neurológicas, como acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, es-
clerose lateral amiotrófica;
• intoxicação medicamentosa, hipoglicemia, anemia, infecção generalizada (sepse).

Ficar atento aos sinais de alerta:

• relato de dificuldade para respirar;


• aumento da frequência respiratória;
• ansiedade;
• confusão mental.

O tratamento da dispneia baseia-se no diagnóstico específico da causa. Alguns


idosos podem apresentar dispneia como manifestação de ansiedade generalizada e,
por vezes, o ataque de pânico. Sintomas como dor intensa, medo excessivo, desidra-
tação, confusão mental podem levar à dispneia e dificultar o diagnóstico. Na dispneia
aguda ou piora rápida da dispneia crônica, o paciente deve ser encaminhado rapida-
mente para atendimento de urgência.

Orientações para confortar o paciente com dispneia:


• fazer uso de medicamentos conforme prescrição médica;
• manter o paciente assentado, em posição de conforto ou
com a cabeceira elevada;
• manter o idoso em ambiente calmo, arejado e bem ventilado;
• manter administração de oxigênio suplementar, conforme prescrição médica.

265
Desmaio
É a perda temporária da consciência. Pode ocorrer devido à queda da pressão ar-
terial, convulsão, doenças cardíacas, hipoglicemia, acidente vascular encefálico (der-
rame), entre outros. Uma causa frequente de desmaio é a hipotensão ortostática, na
qual ocorre queda excessiva da pressão arterial quando o paciente se levanta rapida-
mente ou após as refeições. Temperaturas elevadas, desidratação e banhos quentes
são também causas frequentes.
Ficar atento aos sinais de alerta:

• mal-estar geral, confusão mental, sensação de fraqueza global;


• dispneia ou palpitação;
• tontura e sensação de desequilíbrio.

Orientações para o idoso com desmaio:


• procurar saber a causa do desmaio e as circunstâncias nas
quais ocorreu para se prevenir novos desmaios;
• enquanto a pessoa estiver desmaiada, não oferecer líqui-
dos ou alimentos, para se evitar o engasgo e aspiração;
• verificar se o idoso machucou ou teve alguma fratura. Caso tenha batido
a cabeça, não movimentar o pescoço. Se precisar virar o paciente de lado,
a cabeça deve acompanhar o movimento do corpo;
• não tentar levantar o paciente rapidamente. Mantê-la deitada, em posição
confortável e elevar os membros inferiores para melhorar o fluxo de
sangue para o cérebro. Assentar o paciente somente quando ele mostrar
sinais de melhora.

Convulsões
As funções do organismo humano são controladas pelo cérebro. Para isso, são envia-
dos estímulos elétricos que se propagam pelas células cerebrais (neurônios) até o local
onde determinarão uma ação voluntária, como apertar a mão ou fazer algum movimen-
to com o corpo. A convulsão ou crise convulsiva é consequente à atividade elétrica de-
sorganizada e descontrolada dos neurônios cerebrais, que enviam impulsos intermitentes
para o organismo. Pode se manifestar por movimentos repetidos, hipertonia (rigidez),
aumento dos batimentos cardíacos e perda da consciência. Em alguns casos a pessoa se

266
mantém consciente, mas parece “estranha”: olhar distante, desorientação aguda ou atô-
nica (fraqueza muscular generalizada). A convulsão típica é chamada de tônico-clônica,
na qual ocorrem contrações musculares generalizadas e bruscas nos membros superiores
e inferiores, bilateral. Pode acontecer também perda involuntária do controle esfincteria-
no (urina ou fezes), alteração na coloração da pele e lábios (podem ficar arroxeados) e
aumento da salivação (babar) causada pela dificuldade aguda de deglutição. O paciente
pode morder a língua ou lábios, causando sangramento local. A duração da crise é rá-
pida, usualmente entre um a três minutos, quando o paciente recupera a consciência.
Todavia, ele pode ficar confuso, desorientado, sonolento ou, até mesmo, agressivo por
algum tempo. Dor de cabeça e no corpo são frequentes nesse período.
A convulsão pode ser causada por inadequação das doses de anticonvulsivantes
(em pacientes que já fazem o uso desses medicamentos), trauma de crânio, infecções
do sistema nervoso (meningites, encefalites), acidente vascular encefálico (derrame),
hipoglicemia, intoxicação por álcool, abstinência alcoólica, intoxicação medicamento-
sa e uso de drogas ilícitas.
Algumas orientações são fundamentais durante a crise e após a crise. O mais im-
portante é saber o que não se deve fazer. O atendimento durante a crise do paciente
é proteger o paciente e não piorar a situação.

Orientações durante a crise convulsiva:


• toda convulsão é autolimitada.
• ficar calmo e não apavorar. A crise vai passar sozinha, em
pouco tempo. Basta aguardar e proteger o paciente.
• afastar mobílias ou objetos que possam machucar o pa-
ciente durante a crise;
• não tentar segurar o idoso. No máximo, tentar proteger a cabeça com
uma almofada para evitar traumatismo craniano;
• se o paciente estivar acamado, elevar as grades;
• não tentar abrir a boca do paciente, tampouco introduzir objetos dentro
da boca para proteger os dentes. Além de inefetivo, é perigoso;
• colocar uma toalha ou pano próximo da boca para conter as secreções ou
o sangramento;
• caso a crise não melhore rapidamente, entre três a cinco minutos, ligar
para 192 e seguir as orientações no médico regulador.

267
Orientações após a crise convulsiva:
• certificar-se de que o paciente está respirando;
• retirar a prótese dentária e restos alimentares da cavidade
oral, se for o caso;
• acomodar o paciente e virá-lo para o lado, apoiando a
cabeça, para evitar aspiração da saliva;
• afrouxar as roupas apertadas;
• confortar, orientar e acalmar o paciente;
• verificar se o paciente está fazendo uso correto das medicações prescritas,
incluindo os anticonvulsivantes;
• comunicar a crise ao médico responsável.

Queimaduras
É qualquer dano ou lesão da pele, subcutâneo ou tecidos mais profundos decor-
rente do calor, frio, eletricidade, radiações, exposição solar sem proteção adequada
ou substâncias químicas. Os idosos representam um grupo de risco importante. Ha-
bitualmente está associada a acidentes domésticos, como cozimento de alimentos,
com água ou óleo quente. A gravidade depende do tamanho e da profundidade da
lesão. Podem ser classificadas em:
• queimadura de 1º grau: atinge somente a epiderme, camada mais super-
ficial da pele. Caracterizada pela presença de eritema ou “vermelhidão” no
local da queimadura, calor, edema (“inchaço”) e dor. Não há formação de
bolhas, a pele não se desprende e não há formação de cicatrizes;
• queimadura de 2º grau: atinge camadas mais profundas da pele (epiderme
e derme), com o desenvolvimento de bolhas. Causa muita dor local e ardência.
Podem deixar cicatrizes locais;
• queimadura de 3º grau: atinge todas as camadas mais profundas da pele,
podendo causar deformidades após a cicatrização. Normalmente é indolor,
pois ocorre lesão das terminações nervosas da pele. Associadas a profundas
repercussões sistêmicas.

As queimaduras de 1º grau e algumas de 2º grau podem ser tratadas da seguinte forma:


Tratamento imediato:
• remover o agente causador da queimadura;
• remover roupas, joias, anéis e próteses, exceto se estiverem aderidas ao local
da queimadura. O edema local pode dificultar a sua retirada;

268
• promover o resfriamento da queimadura feito com água à temperatura am-
biente (20°C) e corrente, por 10 a 15 minutos, para frear a ação do calor, aliviar
a dor, reduzir o edema, entre outros;
• não aplicar água fria ou gelo diretamente sobre o local afetado;
• não colocar pasta de dentes, manteiga, sal, açúcar ou qualquer outro produto
caseiro, pois eles podem complicar ainda mais a queimadura;

Tratamento:
• as bolhas não devem ser rompidas ou estouradas pelo idoso ou cuidador,
mas sim, drenadas por profissional habilitado, preferencialmente o médico ou
enfermeiro. Eventualmente é recomendado a retirada da bolha (flictema) para
avaliação correta da gravidade da queimadura, todavia esse procedimento só
deve ser realizado por profissional habilitado;
• a lavagem minuciosa do local, só deve ser realizada após o resfriamento, com
o idoso tranquilo e já em uso de analgésico para alívio da dor;
• realizar limpeza local com SF 0,9%;
• em seguida aplicar a cobertura indicada de forma que propicie um ambiente
úmido adequado para a cicatrização (hidrogéis, colagenase, ácido hialurônico,
pomadas bacteriostáticas e/ou bactericidas, coberturas de prata, etc.). Aplicar
curativos com sulfadiazina de prata a 1% (duas vezes ao dia) ou nitrato de
cério, por 7 a 10 dias;
• a cobertura deve ser indicada de acordo com as características da queimadura
e fixadas de forma que não deslizem ou comprimam a lesão. O período de
troca do curativo fica a critério do profissional de acordo com sua avaliação;
• não cobrir a lesão com materiais que podem grudar ou aderir, como algodão;
• aplicar filtro solar (FPS 30 ou mais) após a resolução da lesão local e evitar o
contato direto com a radiação durante algum tempo, para evitar o apareci-
mento de manchas;
• utilizar hidratante neutro a cada 2-3 horas para manter a pele bem hidratada
até resolução completa.

As queimaduras de 2º grau profundas e de 3o grau exigem avaliação médica e,


por vezes, internação hospitalar. O risco de desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos
graves, infecção bacteriana é significativo. Pode ser necessário o debridamento de
tecido necrótico e a realização de enxertos.

269
Sobre o SAMU – 192
O idoso frágil pode apresentar sinais de piora da condição clínica que demandam um
atendimento rápido, eficaz e seguro. Por isso, é importante deixar à vista o telefone do
SAMU-192 e saber informar os sinais e sintomas que desencadearam o pedido de ajuda!
Em situações de urgência e emergência que ocorram em ambiente extra-hospita-
lar, deve-se acionar preferencialmente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
conhecido por SAMU-192 por meio de ligação gratuita para o número 192 ou outros
serviços, como Corpo de Bombeiros (número 193), em locais onde o SAMU-192
não foi implantado. Nos pacientes atendidos pela saúde suplementar, deixar à vista
o número de telefone do serviço de atendimento de urgência também pode ser útil
nessas situações, em algumas circunstâncias.
O SAMU-192 é o componente pré-hospitalar móvel da Rede de Atenção às Ur-
gências e foi estruturado para a prestação de serviços de saúde a qualquer pessoa
(independentemente de ter plano de saúde ou não) que necessite de socorro em
locais como domicílios, vias públicas, estabelecimentos comerciais, entre outros.

Como funciona
1. a ligação para o número 192 é gratuita e direcionada para uma Central de
Regulação;
2. após se identificar, relatar o motivo da ligação e o local do atendimento, os
cuidadores, parentes da vítima e/ou a própria vítima conversam diretamente
com o médico regulador;
3. o médico regulador, após ouvir a solicitação, pode decidir pelo envio de ambu-
lância de suporte básico ou avançado com equipe habilitada. Em se tratando de
situações não caracterizadas como risco iminente de vida, o médico regulador
fornece orientações sobre outras medidas a serem efetuadas pelo solicitante.

Dicas importantes
• ter sempre anotado e por perto o endereço completo do local onde se encon-
tra o idoso. Referências precisas facilitam a chegada da ambulância;
• permanecer ao lado do paciente ao repassar informações sobre a situação de
urgência para o médico regulador. Responder a todas as perguntas com a maior
precisão possível e seguir todas as orientações repassadas pelo médico regulador;
• não se preocupar com o número de perguntas realizadas pelo médico regula-
dor. Enquanto você está respondendo e recebendo orientações, se necessário,
certamente uma ambulância já está a caminho!!!

270
Nos casos de emergência é importante conferir os dados vitais mais simples, como
o pulso e a respiração do paciente.
• pulso: é importante avaliar a frequência de pulso, que normalmente varia de
60 a 100 batimentos por minuto (bpm). A frequência de pulso abaixo de 50
bpm pode ser determinada por bloqueios do sistema de condução cardía-
co (bloqueios cardíacos), causados por diversas condições clínicas e uso de
alguns medicamentos. Pode configurar quadros graves, que necessitam de
abordagem imediata. Frequências de pulso superiores a 100 bpm podem ser
secundárias a arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, processos infecciosos,
tromboembolismos, hipoglicemia e desidratação. É importante avaliar a am-
plitude do pulso, que pode estar reduzida nas situações de hipotensão arterial
e choque. Deve ser observado se está acompanhada por palidez e/ou cianose
(coloração arroxeada) de extremidades, bem como pele fria e pegajosa e redu-
ção da perfusão capilar (tempo de retorno sanguíneo após pressionar a polpa
digital – normal < 2 segundos). Diante de pulso fino, estar atento à possibili-
dade de hipotensão arterial e comunicar imediatamente à equipe de saúde;
• respiração: diversas situações podem determinar redução da amplitude e
frequência respiratória, como traumatismo cranioencefálico, uso de determi-
nados medicamentos (especialmente os sedativos), intoxicações exógenas,
alcoolismo, infecções, AVC. Constituem causas de aumento da frequência e
amplitude da respiração: infecções, septicemia, tromboembolismo pulmonar,
insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória, uso de determinados medi-
camentos, intoxicações exógenas. A frequência respiratória abaixo ou acima
dos limites da normalidade (normal de 16 a 20 irpm), bem como a respiração
superficial ou esforço respiratório, deve alertar o cuidador para possíveis situa-
ções de urgência. Essas alterações devem ser comunicadas imediatamente à
equipe de saúde, a fim de se definir a causa e iniciar o tratamento apropriado.

Parada Cardiorrespiratória
A parada cardiorrespiratória (PCR) é definida como a interrupção da atividade
mecânica do coração (batimentos cardíacos), confirmada pela ausência de responsi-
vidade (perda total da consciência), de pulso e de respiração.
As doenças do aparelho circulatório (DAC) são a principal causa de PCR, sendo
as doenças isquêmicas do coração (ex: infarto agudo do miocárdio) responsáveis por
até 80% dos episódios de parada cardíaca súbita. Outros fatores que podem desen-

271
cadear uma PCR são: oxigenação inadequada, desidratação intensa, sangramento
excessivo, hipoglicemia, trauma, embolia pulmonar, choque elétrico, acidentes com
raios, doenças inflamatórias e uso de substâncias tóxicas.
A PCR é também consequência do processo de morte de pessoas com doenças
terminais e que não têm indicação de serem reanimadas. Na ocorrência de uma PCR
em um idoso que não tenha a definição prévia de NÃO REANIMAÇÃO deve-se reali-
zar de forma imediata e correta as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP)
com o objetivo de contribuir para o aumento dos índices de sobrevivência das pessoas
vítimas dessa situação.

O que fazer na parada cardiorrespiratória (PCR)?


As seguintes condutas devem ser iniciadas imediatamente:

Passo 1: Avaliar a segurança da cena (caso a PCR ocorra em local público).


Se o local não oferecer riscos, iniciar o passo 2.

Passo 2: Avaliar a capacidade de resposta da vítima, tocando-a e chamando-a:


Paciente sem resposta = pessoa inconsciente: iniciar o passo 3

Passo 3: pedir ajuda – ativar o SAMU-192

272
Passo 4: seguir as orientações do médico regulador do SAMU-192:

Avaliar se o paciente está respirando, observando se o tórax eleva. Se ele não


respirar ou se apresentar respiração anormal, colocá-lo em uma superfície rígida (no
chão de preferência) e iniciar as compressões torácicas, conforme a Figura a seguir.

As compressões torácicas eficazes devem ser profundas, fortes e rápidas:


• profundidade: o tórax deve abaixar no mínimo 5 cm e não deve exceder 6 cm;
• frequência: 100 a 120 por minuto.
Evitar interrupções e esperar o retorno total do tórax após cada compressão. A
cada dois minutos, interromper as compressões e observar se o paciente voltou a
respirar ou está se mexendo. Essa observação deve ser realizada em no máximo 10
segundos. Se o paciente não voltar a respirar ou a se mexer, continuar a fazer as com-
pressões torácicas até a chegada da ambulância!

Atividade Integradora
Na página 2 deve-se anotar os dados referentes aos contatos de fami-
liares, caso seja necessário um atendimento ou internação de urgência.
Os profissionais de saúde envolvidos no cuidado do idoso também de-
vem ser registrados, como forma de garantir o compartilhamento de
informações e garantir a continuidade do cuidado (página 3). Na pági-
na 3 devem ser registrados os hospitais de preferência de idoso, assim
como os locais para atendimento de urgência, se houver necessidade.

273
Referências
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feridas crônicas. Tradução de Angela Lima. Petrópolis: EPUB, 2012. 488 p.
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2015: atualização das diretrizes de RCP e ACE. 2015. 36 p. Disponível em: <ht-
tps://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guideli-
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2. BICKLEY, l. S. Bates propedêutica médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010. 938 p.
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Revista da Associação Brasileira de Nutrição, v. 4, n. 5, p. 54-58, jan./jun. 2012.
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 1.010, de 21 de maio de
2012. Redefine as diretrizes para a implantação do Serviço de Atendimento Mó-
vel de Urgência de Belo Horizonte (SAMU 192) e sua Central de Regulação das
Urgências, componente da Rede de Atenção às Urgências. 2012. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1010_21_05_2012.
html>. Acesso em: 15 maio 2016.
5. GIORELLI, A. S. et al. Sonolência excessiva diurna: aspectos clínicos, diagnósticos e
terapêuticos. Revista Brasileira de Neurologia, v. 48, n. 3, jul./set. 2012.
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diovasculares de emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Bra-
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Folium, 2010. 284 p.
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New York: Mc Graw Hill, 2009. 1664 p.
9. HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner & Suddart: tratado de enfermagem médi-
co-cirúrgica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 2256 p. 2 v.
10. JACOBS, I. et al. Cardiac arrest and cardiopulmonary resuscitation outcome re-
ports: update and simplification of the Utstein Templates for resuscitation regis-
tries. A statement for healthcare professionals from a task force of the Internacio-
nal Liaison Committee on Resuscitation (American Heart Association, European
Resuscitation Council, Heart and Stroke Foundation of Canada, InterAmerican
Heart Foundation, Resuscitation Councils of Southern Africa). Circulation, Dallas,
v. 110, n. 21, p. 3385-3397, nov. 2004.
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274
Capítulo 12

Facilitando o Autocuidado
no Idoso Frágil

Raquel Souza Azevedo


Katiúcia Martins Barros
Isabela Silva Cancio Velloso
Edgar Nunes de Moraes
Luciana de Oliveira Assis
As atividades de vida diária (AVDs) são as tarefas do cotidiano indispensáveis para
a independência e autonomia de todo indivíduo. Podem ser mais complexas, como as
AVDs instrumentais (fazer compras, controlar as finanças, preparar as refeições, etc.),
ou mais simples, como as AVDs básicas (tomar banho, vestir-se, uso do banheiro,
transferência, continência e alimentar-se sozinho). O declínio funcional ou perda de
AVDs não é normal da idade e, sempre que presente, significa que ocorreu alguma
alteração nos sistemas funcionais, como cognição, humor/comportamento, mobili-
dade e comunicação. As incapacidades funcionais, como a incapacidade cognitiva, a
instabilidade postural, a imobilidade, a incontinência esfincteriana e a incapacidade
comunicativa são as grandes responsáveis pelo desenvolvimento de dependência nos
idosos e devem ser reconhecidas e tratadas adequadamente.
Essas síndromes geriátricas ou “gigantes da Geriatria” têm causas múltiplas e apre-
sentam graus variáveis de reversibilidade. A abordagem interdisciplinar é a melhor for-
ma de se obter o máximo de recuperação funcional do indivíduo e sempre deve ser o
objetivo inicial do tratamento do idoso. A intervenção geriátrico-gerontológica espe-
cializada geralmente está associada a ganhos funcionais significativos, que podem ser
totais ou parciais. A intervenção especializada realizada de forma interdisciplinar e com
o envolvimento do idoso e da família sempre levará à melhoria da qualidade de vida,
ou, pelo menos, à redução do fardo do cuidador. Assim, independentemente da gravi-
dade da dependência, “sempre haverá alguma coisa a ser feita pelo idoso e/ou pela sua
família”. Essa premissa deve nortear todo o tratamento do idoso frágil.
O primeiro cuidado de saúde é o autocuidado. Ao longo da vida, aprendemos a
nos cuidar e a entender aquilo que nos proporciona bem-estar. O autocuidado rela-
ciona-se à busca pela manutenção da própria integridade física, emocional e espiri-
tual, o que inclui a realização de atividades diárias, quais sejam: alimentação, higiene,
o cumprimento de regimes terapêuticos como medicação e dieta apropriada, o cuida-
do com a autoestima, bem como preferências, valores e crenças pessoais.
O processo de envelhecimento e adoecimento aumenta as chances do desen-
volvimento de incapacidades e dependência funcional, definida como a dificuldade
para a realização de tarefas essenciais para uma vida independente, incluindo as
atividades do autocuidado e as domiciliares, com a necessidade de ajuda de outras
pessoas (Quadro 12.1).
Entretanto, a diminuição da capacidade de funcionamento de uma pessoa nem sem-
pre afeta sua capacidade de escolha e decisão, ou seja, sua autonomia. A relação entre
dependência e autonomia não é linear, visto que o indivíduo pode ser dependente para
se vestir e manter sua autonomia para gerenciar suas finanças. Por outro lado, o idoso

276
pode ser independente para se locomover, fazer transferências ou controlar a função
esfincteriana, mas perdeu sua autonomia, como ocorre na demência de Alzheimer. Por-
tanto, é fundamental o estabelecimento da capacidade do idoso em decidir (autonomia)
e executar sua decisão (independência). Idosos com incapacidade para executar suas de-
cisões devem ser estimulados e respeitados na sua decisão, pois muitas vezes sua opinião
não é levada em conta e não é dada a ele a oportunidade de escolha. Compreender essa
relação é importante, pois é fundamental estimular o idoso, buscando ao máximo ampliar
sua participação na realização das atividades diárias e no processo de tomada de decisões
sobre seu dia a dia e sua vida. Quando necessário, o auxilio deve ser feito de forma que
preserve sua dignidade e individualidade, respeitando os hábitos e preferências do idoso.

Quadro 12.1 Definição de dependência nas AVDs básicas

Tomar Requer ajuda para lavar mais de uma parte do corpo ou para entrar ou
banho sair do banheiro ou não toma banho sozinho.

Vestir-se Veste-se apenas parcialmente ou não se veste sozinho.

Uso do vaso Usa comadre ou similar, controlado por terceiros, ou recebe ajuda para
sanitário ir até o vaso sanitário e usá-lo.

Requer ajuda para deitar-se na cama ou sentar na cadeira ou para


Transferência
levantar-se; não faz uma ou mais transferências.

Incontinência parcial ou total para micção ou evacuação; controle


Continência parcial ou total por enemas e/ou cateteres; uso de urinóis ou comadre,
controlado por terceiros; acidentes “ocasionais”.

Requer ajuda para levar a comida do prato (ou de seu equivalente) à


Alimentar-se
boca; não come ou recebe alimentação parenteral.

Nessas situações, ganha importância o contexto de realização das atividades, que


é composto, entre outros elementos, pelos ambientes físicos (como espaço físico e
recursos disponíveis), culturais (como os padrões de comportamento aceitos pela
sociedade) e sociais (como as expectativas e conhecimentos dos cuidadores).
Quando a capacidade do indivíduo está diminuída, é importante alterar o am-
biente físico, de forma a facilitar a realização das tarefas e promover a segurança no
desempenho das atividades. Para isso, podem ser realizadas adaptações ambientais
que visem a ampliar os espaços e promover o acesso, reorganizando a posição de
objetos e móveis, por exemplo, e eliminando, quando possível, obstáculos e barrei-

277
ras, de forma a evitar quedas e outros acidentes. Em todos os ambientes, deve-se
estar atento à iluminação, que deve ser adequada e constante durante a locomoção
e realização de atividades; aos pontos de apoio, como barras de segurança, móveis
e cadeiras; ao piso, que deve ser firme, não estar molhado ou escorregadio e livre
de obstáculos, como tapetes e fios soltos; e aos estímulos fornecidos pelo ambiente,
que não podem ser excessivos, mas devem fornecer informações para que o idoso
permaneça orientado, ajudando-o a reconhecer e identificar o ambiente.
Os recursos disponíveis no ambiente também
podem influenciar na capacidade dos idosos para
realizar as atividades. Entende-se por tecnologias
assistivas os recursos e serviços que contribuem para
aumentar ou manter a capacidade funcional dos indi-
víduos. Existem diversos produtos disponíveis que po-
dem ajudar no autocuidado do idoso, como: elevador
de vaso sanitário, corrimão e barras de apoio, cadei-
ras de banho, escovas de banho com cabo alonga-
do, andadores e cadeiras de rodas, pratos com abas
aumentadas, talheres adaptados, abotoadores de
botões e zíperes, pegadores, porta-medicamentos,
entre outros. A avaliação de um profissional capacitado é importante para adquirir
e treinar o uso do recurso mais adequado para cada idoso.Os modelos e compor-
tamentos esperados pela sociedade da qual o idoso faz parte ajudam a compor o
ambiente cultural e também influenciam na realização do seu autocuidado e no
tipo de cuidado ofertado a eles. A dependência tende a aumentar em ambientes
que desestimulam e punem a independência e reforçam a dependência, muitas
vezes por se acreditar que ela é natural da velhice e irreversível. A dependência
está presente no dia a dia das pessoas. Ao longo de toda a vida podem ocorrer
eventos físicos (como adoecimento), sociais (como carência de recursos financeiros)
ou ambientais (como escadas ou controle de acesso para entrar em um edifício),
que levam as pessoas a dependerem de outras por períodos mais ou menos pro-
longados. Entretanto, a crença de que a dependência é própria da velhice pode
gerar atitudes superprotetoras, infantilizadoras e preconceituosas. Por outro lado,
ambientes culturais de valorização das competências e independência da pessoa
idosa tendem a estimular o idoso, sua autoestima e seu bem-estar.
Do mesmo modo, as expectativas e os conhecimentos das pessoas envolvidas
no cuidado ao idoso que compõem o ambiente social também interferem na rea-

278
lização das atividades. Muitas vezes, existe a crença de que cuidar é fazer pelo
outro. No entanto, além disso, o cuidador tem a função de ajudar o idoso em suas
dificuldades e estimulá-lo a manter suas atividades preferidas. Dessa forma, é im-
portante que o cuidador procure observar aquilo que o idoso consegue fazer e o
incentive a realizar o máximo possível sozinho. Uma estratégia que pode contribuir
é propor as atividades ao idoso como algo que será experimentado e que o cuida-
dor irá ajudá-lo. Ademais, deve-se observar qual o tipo de ajuda necessária para
que ele complete a tarefa (preparação do ambiente, orientação verbal, incentivo e
monitoramento, ajuda física para começar, ajuda física em outras etapas), ofere-
cendo o apoio de acordo com a capacidade do idoso e valorizando suas tentativas.
É fundamental considerar a segurança no desempenho das atividades, mas pensar
também na autonomia do idoso. Inicialmente usar essas estratégias pode deman-
dar mais tempo e persistência do cuidador, mas elas ajudam o idoso a manter seu
senso de competência, sua utilidade e autoestima.
Os cuidadores de idosos frágeis e dependentes devem ser preparados para ajudar
esses idosos na realização de atividades de autocuidado de forma confortável e segura.
Cuidar de um idoso frágil requer orientação em todos os aspectos do cuidado básico,
tais como o cuidado com o banho, higiene global, higiene íntima, vestuário, cuidados
com a pele e banho de sol. Alguns idosos utilizam alimentação enteral, por sonda
nasoentérica, gastrostomia ou jejunostosmia. Outros apresentam ostomias, como a co-
lostomia, ileostomia e urostomia. Finalmente, idosos com doenças das vias respiratórias
podem necessitar de traqueostomia ou têm indicação de oxigenioterapia domiciliar.

Cuidados no Banho e na Higiene


A higiene é importante para manter boa saúde física e
mental. Os cuidados de higiene englobam o ambiente, o ba-
nho, a higiene íntima, os cuidados com a pele, unhas e cabelos
e a higiene oral. Os momentos de higiene deverão ocorrer com
respeito e discrição, preservando-se a intimidade do idoso.
O banho é um bom momento para realizar revisão sistemá-
tica da pele, unhas e cabelos, observando rachadura na pele ou
nos pés, hematomas, traumas, lesões por pressão que estejam
iniciando, micoses, entre outros. Deve-se manter ao máximo a independência do idoso
durante o banho e cuidar para que esse seja um momento agradável.

279
Banhar-se pode parecer uma atividade comum e fácil, por-
tanto, muitas vezes pode ser causa de momentos estressantes
e perigosos para o idoso. Pode existir uma resistência ao ato de
tomar banho ou de ser banhado. Essa resistência baseia-se funda-
mentalmente em alguns aspectos especiais:
• perda ou diminuição da autoestima;
• desorientação no tempo e local, problemas de memória e es-
quecimento, o que pode levar o idoso a pensar que já tomou
o seu banho;
• traumas associados à má-condução dessa atividade: banho
muito quente ou muito frio, sabonete nos olhos, cuidador sem paciência no ma-
nejo do banho, vergonha, zombarias, palavras bruscas ou hematomas causados
pela força ao segurar;
• quedas no banheiro;
• fatores climáticos e culturais.

Respeitar os hábitos do idoso


Os idosos com dependência leve devem ter seus hábitos de higiene respeitados, como
horário do banho, marca de sabonete e de xampu, entre outros. Não há razão para se
“obrigar” a pessoa a banhar-se pela manhã, se é seu hábito fazê-lo à tarde. É interessante
criar uma rotina para aqueles com dependência mais grave, o que facilita o trabalho do
cuidador e cria um hábito para o idoso. Mesmo os idosos acamados devem ser levados ao
banheiro, sempre que possível, para que seja realizado o banho de chuveiro, pois é uma
ótima oportunidade de mobilização. Banhos no leito devem ser evitados, sendo indicados
apenas para aqueles pacientes com prescrição de repouso rigoroso no leito.

Indo para o banheiro


Preparar antecipadamente tudo que precisa para o banho e em lugares de fácil
alcance (sabonete, xampu, toalha, roupas limpas), para não correr o risco de ter que
deixar o idoso sozinho e molhado num ambiente extremamente perigoso.
• eliminar correntes de ar, fechando portas e janelas;
• separar as roupas pessoais antecipadamente;
• regular a temperatura da água (morna) antes de colocar o idoso debaixo do
chuveiro. Evitar banhos muito quentes e demorados para não ressecar a pele;
• se possível, o paciente deve ser despido no quarto e conduzido ao banheiro
protegido por um roupão; nesse momento, evitar fixar os olhos em seu corpo

280
(isso pode constrangê-lo), observá-lo sutilmente. Ser discreto e pedir licença
antes de despir o idoso.

O banheiro deve ser um local seguro para que não ocorram acidentes:
• manter o piso seco, e no interior do box utilizar tapetes antiderrapantes (em-
borrachados) para evitar quedas;
• a colocação de barras de segurança (horizontal e vertical) na parede é de
grande ajuda, pois permitem que o paciente se apoie nelas durante o banho,
fazendo-o sentir-se mais seguro;
• a substituição do box por uma cortina pode facilitar a entrada e saída do ba-
nho e aumentar a segurança em caso de queda;
• se for difícil para ele se manter em pé por muito tempo, pensar que talvez uma
cadeira de banho vá auxiliá-lo e permitir mais conforto;
• evitar desníveis que possam aumentar o risco de quedas;
• manter sempre boa iluminação e clima agradável;
• utilizar torneiras tipo alavanca;
• utilizar saboneteiras e porta-toalhas em alturas adequadas.

Técnica do banho de chuveiro:


• usar sabonetes neutros e evitar uso de buchas;
• os objetos de higiene pessoal devem ser de uso individual
e exclusivo;
• manter a privacidade do paciente, mas solicitar que não tranque a porta;
• a rotina do banho é essencial. Mudanças de horário e da maneira como
conduzir o banho devem ser evitadas;
• estimular sempre que o idoso realize, quando estiver em condições, a
tarefa de banhar-se. A melhor maneira do cuidador agir é na condição de
incentivador, auxiliar e protetor;
• preparar o banho explicando todas as ações em voz alta, falando clara e
pausadamente, uma a uma;

281
• banho de chuveiro com água em abundância e temperatura agradável são
requisitos indispensáveis. Banho de banheira ou no leito é reservado para
situações especiais, quando for indicado pela equipe multiprofissional;
• a roupa deve estar fora do campo de visão do idoso, para evitar que ele
queira vestir a roupa, achando que já tomou o banho;
• se a palavra “banho” o irrita, não diga “vamos tomar banho”. Diga “vamos
nos refrescar” ou apenas convidá-lo para ir até o banheiro “venha comigo”;
• estimular a independência do idoso o tempo todo, dar as ordens de forma
clara, objetiva e só ajudar quando o idoso não conseguir fazer sozinho;
• as orientações devem ser bem claras: “vá tirando suas roupas”, “entre no box”,
“segure o chuveirinho”, “passe o sabonete nas axilas”, “vá enxaguando a barriga”;
• todas as ordens bem executadas devem ser acompanhadas de elogios;
• após o banho, o cuidador deve oferecer a toalha e pedir ao idoso que
enxugue as partes do corpo que alcança. Orientar o idoso a enxugar bem as
partes íntimas, dobras, debaixo das mamas, axilas e entre os dedos;
• as roupas devem ser trocadas diariamente e serem da escolha do idoso;
• separar toda a roupa e entregar ao paciente, peça por peça, na ordem de
vestir, ajudando-o se for necessário;
• a atitude a tomar em relação ao idoso que não quer fazer a sua higiene
nem deixar o cuidador fazê-lo é a de manter postura determinada, evitando
a confrontação e a discussão, conduzindo com firmeza, passo a passo, a
execução de toda a tarefa;
• não se esquecer do uso de batons, esmaltes, penteados, entre outros, de
acordo com os hábitos do paciente;
• o uso de maquiagem é positivo para as senhoras idosas e deve obedecer ao
bom senso, não havendo exageros, nem as colocando em situações ridículas;
• no mercado existem vários produtos novos disponíveis para auxiliar no
banho. Entre eles, podem-se citar: escova de cabo alongado que facilita
o alcance das costas e dos pés, toalhas umedecidas para higiene corporal
(pode ser aquecida em micro-ondas para promover mais conforto ao
paciente), touca para higiene capilar (já vem preparada com água e xampu
com condicionador, dispensando enxágue).

Cuidados com os pés e unhas


Os cuidados com os pés e as unhas são de fundamental importância para a saúde dos
idosos, pois, quando mal-higienizados e cuidados, podem ser via de transmissão de doen-
ças. Unhas não aparadas podem provocar lesões por corte, de maior ou menor gravidade.
• o cuidado das unhas deve ser realizado semanalmente, preferencialmente após o
banho, pois a água as deixa hidratadas e amolecidas, facilitando o procedimento;

282
• cortar as unhas em linha reta para evitar que fiquem encravadas nos cantos;
• evitar o corte muito rente à pele para evitar lesões que
possam originar processos inflamatórios ou infecciosos;
• um cortador de unhas adaptado pode ser útil para
idosos com dificuldade de preensão;
• após cortar as unhas, lixá-las, enxaguar e secar os pés cui-
dadosamente, com especial atenção para a região entre os
dedos para se evitar o surgimento de micoses;
• evitar retirar a cutícula;
• inspecionar os pés diariamente, observando a tempera-
tura, a condição da pele, calosidades e outras lesões;
• auxiliar o idoso a calçar as meias, que devem estar limpas
e serem folgadas, sem costuras duras. As meias mantêm
os pés aquecidos, proporcionando sensação de conforto;
• escova de cabo alongado pode ajudar na higiene dos pés.

Idosos diabéticos requerem cuidados especiais, os quais devem


ser orientados pela equipe de saúde que lhes presta assistência.

Cuidados com o cabelo


Os cuidados com os cabelos, além serem de fundamental importância para a
higiene corporal, são importantes para garantir boa aparência, o que implica a au-
toestima da pessoa idosa.
• os cabelos devem ser lavados regularmente (3x por semana) e inspecionados
diariamente;

283
• um pente de cabo alongado pode ajudar idosos com difi-
culdade de alcance;
• devem ser escovados e, no caso de serem muito longos,
podem ser presos;
• o corte do cabelo deve ser feito periodicamente, de acor-
do com o consentimento e preferência do idoso;
• sempre que possível, deve-se incentivar o paciente a reali-
zar esses cuidados com a máxima independência possível;
• inspecionar diariamente o couro cabeludo e ficar atento a
feridas, micoses (fungos) e queda de cabelo.
Quando o idoso necessita de ajuda completa para banhar-se:

Banho no leito
O banho no leito só deve ser realizado em situações nas quais o idoso não pode se lo-
comover até o banheiro. Esse procedimento pode causar grande constrangimento ao ido-
so, por aumentar sua sensação de dependência e de falta de autonomia, além de romper
as barreiras de sua privacidade. Para amenizar esses sentimentos, o banho no leito deve
ser realizado com total privacidade, com agilidade e conversando-se com o paciente para
tentar distraí-lo, tratando-o sempre pelo nome para reforçar sua identidade pessoal. Se
possível, solicitar ajuda de outra pessoa para mais segurança do idoso.
Embora ainda não sejam acessíveis a toda a população brasileira, é importante consi-
derar que há, no mercado, produtos de higiene corporal, que podem auxiliar sobremanei-
ra na rotina do banho de leito. É possível adquirir, por exemplo, um kit de banho de leito
com lavatório para cabeça, chuveiro semitérmico, lençol impermeável e proteção para
cabelos. As toalhas umedecidas para higiene corporal, que dispensam o uso de bacias e
jarras de água, também estão disponíveis. Essas toalhas podem ser aquecidas em micro-
-ondas para promover mais conforto durante o banho do paciente. Já a touca para higiene
capilar é semelhante a uma touca plástica de banho, que vem preparada com água e
xampu com condicionador e dispensa o enxague durante e após a lavagem dos cabelos.

Técnica do banho no leito:


• deixar todo material preparado: marreco, comadre, bacia,
água morna, sabonete, toalhas, escova de dentes, lençóis,
forro plástico e roupas;
• usar luvas durante todo o procedimento;
• fechar portas e janelas para evitar correntes de ar;

284
• caso o colchão não seja impermeável, cobri-lo com um plástico;
• iniciar a higiene no sentido cefalocaudal (da cabeça para os pés), pelas partes
mais limpas, seguindo para as mais sujas;
• com um pano molhado e pouco sabonete, realizar a higiene do rosto, passando
o pano no rosto, nas orelhas e no pescoço. Molhar outro pano com água limpa
e passar na pele até retirar toda a espuma e, em seguida, secar bem a região;
• lavagem dos cabelos: cobrir um travesseiro com plástico e colocar a pessoa
com a cabeça apoiada no travesseiro, na beira da cama;
• colocar uma bacia ou balde em baixo da cabeça da pessoa;
• molhar a cabeça e passar pouco xampu;
• massagear o couro cabeludo e derramar água aos poucos, até retirar toda a
espuma;
• secar os cabelos;
• manter sempre o resto do corpo do paciente coberto;
• para continuar o banho, colocar uma bacia com água morna próximo da
cama para facilitar o procedimento;
• esfregar os braços, axilas, mãos, tórax e barriga com pano umedecido e sabonete,
enxaguar com pano molhado apenas com água, secar bem e cobrir o idoso;
• repetir o procedimento nas pernas, secando-as e cobrindo-as;
• colocar os pés numa bacia, lavar toda sua extensão, inclusive entre os dedos,
e secar cuidadosamente;
• ajudar a pessoa a virar de lado, e realizar a higiene das costas;
• deitar a pessoa novamente de frente, colocar uma comadre e fazer a higiene íntima;
• trocar a água da bacia várias vezes e não deixar que fique fria.

Higiene íntima
A higiene das partes íntimas é de grande importância para prevenção de assadu-
ras e para o bem-estar do paciente. Deverá ser realizada sempre durante o banho e,

285
em pacientes em uso de fraldas, deverá ser realizada em todas as trocas, com água e
sabonete, para retirar resíduos de fezes e de urina.
• os pelos pubianos devem ser mantidos aparados para facilitar a higiene da região;
• fazer a higiene íntima após todas as perdas urinárias e fecais, com água e sabão;
• higienizar a região com pano macio molhado com água morna;
• nas mulheres, abrir os grandes lábios e retirar, com delicadeza, todos os resíduos,
limpando sempre de frente para trás (vagina-ânus), para evitar infecções urinárias;

• nos homens, “remover” a pele que recobre a glande do pênis, sem forçar e
limpar em movimentos circulares;

• em pacientes em uso de fralda, deve-se inspecionar a pele a cada troca, fican-


do atento para assaduras ou reações alérgicas;
• sempre que possível, o idoso deve ficar sem fralda durante o dia;
• a fralda deve ser colocada de forma confortável para o paciente e ser fechada
de maneira que não fique nem muito apertada, nem muito larga;
• a cada duas horas, verificar se a pessoa idosa está molhada e, se necessário,
trocar fralda, roupas e roupa de cama;
• trocar a fralda sempre que necessário e observar se a fralda não amanhece mui-
to cheia ou vazando, pois talvez seja necessário trocar no meio da madrugada;
• nunca deixar fraldas molhadas no corpo por muito tempo, pois isso pode pro-
vocar assaduras e feridas na pele e aumentar o risco de infecção urinária;
• após a higiene, com a pele seca, recomenda-se aplicar um creme barreira para
se evitar o surgimento de irritação na região genital e anal do idoso.

286
Cama seca pode significar fralda encharcada.

Arrumação do leito do paciente


• a cama deve ser escolhida de acordo com as necessidades específicas de cada
idoso, facilitando também o trabalho dos cuidadores;
• a altura da cama deve ser observada com cautela e, se necessário, fazer uso
da cama hospitalar;
• remover a roupa usada e fazer a limpeza do colchão;
• a roupa de cama deve estar sempre limpa e trocada rotineiramente;
• pegar a roupa necessária:
• um lençol (pode ser com elástico na bordas), caso contrário amarrar em
baixo para evitar dobras;
• um virol (para cobrir a pessoa);
• um lençol móvel de tecido resistente (um lençol em tamanho menor que
serve para o deslocamento da pessoa idosa e fica entre o tronco e coxas);
• um lençol impermeável móvel (lençol de silicone que fica embaixo do len-
çol móvel, pois não deve ficar em contato direto com a pele do idoso);
• uma fronha; um colcha ou cobertor (no tempo frio);
• colocar o lençol protetor do colchão e amarrar em baixo;
• colocar fronha no travesseiro e colocá-lo na cabeceira do leito;
• observar o estado de conservação do colchão, travesseiros e impermeável;
• não deixar restos alimentares no leito (migalhas de pão).

Manter a cama sempre bem esticada,


pois as dobras podem machucar o idoso.

Cuidados no Vestuário
As AVDs básicas apresentam uma hierarquia no grau de dificuldade para sua
realização. Banhar-se é mais difícil que vestir-se, e assim por diante. O processo de
fragilização segue a mesma direção. Inicialmente, o idoso perde sua capacidade de
banhar-se sozinho. Em seguida, torna-se dependente para vestir-se, até ficar com-
pletamente dependente, momento em que não consegue nem mais alimentar-se

287
sozinho, sem ajuda. Assim, com o avanço da fragilidade, até as tarefas mais simples
podem tornar-se fonte de confusão mental e agitação, como é o caso do vestir-se.
É comum ouvir familiares e cuidadores dizerem que o idoso não sabia que roupas
vestir, em que ordem e para qual ocasião ou situação. Manter um vestuário simples
e confortável, criando sempre que possível a oportunidade de escolha pelo próprio
paciente é de fundamental importância. Essa rotina permite a preservação da perso-
nalidade, elevando a autoestima e a independência.

Cuidados com o vestir-se:


• as roupas devem ser simples, confeccionadas com tecidos
apropriados ao clima;
• o paciente pode ter perdido a capacidade de expressar
sensações de frio ou calor. Dessa forma, nunca se esquecer de tirar ou
colocar agasalhos, conforme a variação da temperatura;
• o cuidador deve, ao falar com o paciente, colocar-se no seu campo visual, ou
seja, diante dele, orientando-o calmamente e gesticulando, se necessário;
• deve-se estimular o ato de vestir-se sozinho, dando instruções com palavras
fáceis de serem entendidas;
• dar a ele a oportunidade de optar pelo tipo de vestuário e cores que mais o
agradam. Apenas supervisionar, pois pode ser que haja necessidade de auxiliá-
lo na combinação de cores;
• reduzir as opções de escolha, deixando roupas mais apropriadas em uma parte do
armário. Assim, as chances de o idoso fazer uma escolha adequada aumentam;
• ter calma e paciência, não apressá-lo enquanto ele executa sua rotina de vestir-se;
• para que ele mesmo possa procurar suas roupas nos armários, colar fotos de
peças e ou objetos pessoais na parte externa da gaveta ou guarda-roupas. Isto
o ajudará a encontrar rapidamente o que procura;
• roupas como blusas, camisas ou suéteres deverão ser preferencialmente
abertas na parte da frente, para facilitar a colocação ou retirada;
• dar preferência às roupas com elástico ou velcro;
• caso o idoso tenha o hábito de usar roupas com botões e zíperes pode ser
indicado o uso de adaptadores;

• nas fases mais avançadas da doença, deve-se dar preferência aos conjuntos
do tipo moletom, em função de sua praticidade;

288
• o critério para a escolha do vestuário de pacientes limitados a cadeiras de rodas
ou poltronas é ainda mais rigoroso. Deve-se optar por roupas confortáveis,
largas, especialmente nos quadris;
• o uso de objetos pessoais (acessórios) pode ser mantido, porém, com a evolução
da doença, as joias deverão ser substituídas por bijuterias;
• na medida do possível, deve-se providenciar um roupão, para que o paciente
possa se despir no quarto e, protegido, ser conduzido ao banho;
• evitar o uso de chinelos, pois eles facilitam as quedas;
• todos os tipos de sapatos devem ser providos por solados firmes e antiderrapantes,
de preferência com sola espessa de borracha. Preferir calçados fechados e
que possam ser presos ao redor dos calcanhares. Dar preferência àqueles que
possuem elásticos ou velcros na parte superior, pois além de serem fáceis de
tirar e colocar evitam que o idoso tropece e caia, caso o cadarço se desamarre.

Além dos cuidados com o vestuário, deve-se manter a segurança do quarto:


• dentro do armário, as roupas e os pertences devem ficar em lugar de fácil
acesso, evitando os locais mais altos. Gavetas com trava de segurança, luz in-
terna ao abrir a porta e puxadores do tipo alça também são de grande auxílio;
• a cama deve ter altura que permita ao idoso apoiar os pés no chão ao sentar-
-se nela. Ela deve estar sempre arrumada, com roupas de cama limpas e bem
adaptada às necessidades de cada paciente. Se necessário, forrar as grades
para evitar traumas;
• uma poltrona com assento firme com braços pode ser útil especialmente para
o idoso se vestir e calcar sapatos e meias;
• a mesinha de cabeceira deve ser firme, com bordas arredondadas, sem muitos
objetos. Entretanto, é importante que o idoso possa acessar facilmente um
telefone e números de auxílio, controle remoto para televisão, lanterna na
gaveta, interruptor de luz e/ou abajur fixo na mesa ou na parede próximo da
cama, relógio digital com números grandes, suporte para copos de plástico
ou metal. Caso o idoso seja dependente, a mesinha de cabeceira pode servir
como apoio para bandejas e materiais;
• atenção à iluminação. Instalar interruptores de luz na
entrada do quarto e ao lado da cama, para evitar que o
idoso ande no escuro até conseguir ligá-los. Dar preferên-
cia a interruptores que brilham no escuro;
• instalar sistema de iluminação e corrimãos entre a cama
e o banheiro. Luzes noturnas, que podem ser conectadas

289
à tomada, ajudam o idoso a se localizar no quarto e percorrer o trajeto em
segurança, caso ele acorde para ir ao banheiro.

Cuidados com a Pele


A pele é o maior órgão do nosso corpo. Ela é uma barreira de proteção contra bac-
térias, dá sensibilidade (dor/ pressão), ajuda na excreção de água e eletrólitos e na regu-
lação térmica. A pele é constituída de duas camadas: epiderme, derme e abaixo tecido
subcutâneo, onde se desenvolve o tecido adiposo. Sobre a pele encontram-se suor, sebo
e uma flora de microrganismos resistentes e transitórios, que podem ser patogênicos.
A pele do idoso, quando lesada, torna o organismo mais vulnerável às agressões
externas. Por ser mais seca, a pele do idoso deve ser hidratada diariamente após o
banho com hidratantes neutros, como, por exemplo, o creme de ureia.

Cuidados com a pele:


• a água ingerida também promove a hidratação da pele.
Recomenda-se a ingestão de seis a oito copos de líquidos
durante o dia, se não houver contraindicação;
• o uso de protetor solar é um cuidado essencial para a pele, principalmente
em um país tropical como o nosso;
• a água do banho deve ser morna, mas não excessivamente quente, pois a
elevada temperatura aumenta o ressecamento da pele;
• optar por toalhas macias e evitar friccioná-la sobre a pele, o que pode
provocar arranhões e outras lesões mais sérias;
• a hidratação com hidratantes neutros deve ser realizada pelo menos uma vez
ao dia, após o banho. Dar preferência a cremes com ureia;
• o sol é muito importante na prevenção da osteoporose, deve-se tomar
sol todos os dias, por 20 minutos, no período de 9 às 11h. Expor braços e
pernas, usando roupas leves, sem protetor solar nesse período. Em outros
momentos do dia a dia, deve-se use sempre protetor solar, chapéu ou bonés.

Cuidados com Alimentação Enteral por Sondas


Essa é uma alternativa de alimentação para aqueles pacientes que, por algum mo-
tivo – como a dificuldade de engolir, desnutrição, câncer de boca, algumas doenças
neurológicas, etc. – tornaram-se incapazes de se alimentar por via oral (pela boca). A

290
nutrição enteral é uma via eficaz, capaz de atender a todas as necessidades nutricio-
nais do indivíduo. Nesse caso, o idoso receberá a alimentação diretamente no estôma-
go ou no intestino, através de sondas.
Existem vários tipos de sondas e cada uma delas exige cuidados diferenciados:
• sonda nasoentérica e nasogástrica: tubo fino, de material poliuretano ou
silicone, flexível, introduzido na narina que vai até o estômago (nasogástrica)
ou intestino (nasoentérica);
• sonda de gastrostomia e jejunosto-
mia: consiste na introdução cirúrgica,
m
20c
de um tubo de calibre mais grosso que
os das sondas nasoentéricas, por um
orifício, diretamente na região abdomi-
nal, na altura do estômago ou jejuno.

O uso de sonda não impede a alimentação por via oral. Todavia, o uso
da via oral deverá ser orientado pelo médico e/ou fonoaudiólogo.

Cuidados com a sonda:


• checar diariamente o local de fixação da sonda, que deve
ser trocada sempre que necessário;
• antes de administrar a dieta ou medicação, observar se o
comprimento da sonda está mantido. Caso esteja maior do que o habitual –
PERIGO! –, suspender a dieta e comunicar imediatamente ao médico ou ao
enfermeiro;
• movimentos abruptos poderão fazer com que a sonda se desloque. Portanto,
ficar atento à sonda quando manipular o paciente no banho, nas mudanças
de posição, etc.;
• a administração de medicamentos e alimentos pela sonda pode ser feita em
bolus (que é realizada com o auxílio de uma seringa de 60 mL) ou de forma
gravitacional (administração da dieta em frasco suspenso em suporte, por
gotejamento);
• administrar medicamentos em bolus ou por via oral sempre que possível.
Respeitar o intervalo entre alimentação e medicação;
• diluir os medicamentos separadamente. Os comprimidos devem ser
triturados em 20 mL de água filtrada. Os medicamentos líquidos também
devem ser misturados em água;

291
• lavar a sonda antes e após cada medicamento, com 20 a 40 mL de água;

• elevar a cabeceira 30 a 45 graus ou sentar a pessoa idosa


para administrar dieta ou medicação. Esperar pelo menos 30
minutos após a administração para deitá-la novamente;
• inspecionar a região da narina, observando o surgimento de
lesão provocada pela sonda;
• higienizar as narinas com cotonete umedecido em soro
fisiológico a 0,9%;
• se a sonda sair, não tentar recolocá-la. Procurar o médico ou enfermeiro;
• o tempo para a troca da sonda fica a critério do profissional, mas geralmente
é feita a cada quatro meses. É importante alternar as narinas.

As dietas devem ser manejadas com muito cuidado durante o preparo,


conservação e administração, a fim de evitar a contaminação bacteriana.

Além dos cuidados com a sonda, recomendam-se cuidados básicos para a prepa-
ração da dieta enteral:
• lavar o local de preparo (bancada ou mesa) com água e sabão, desinfetando,
posteriormente, com álcool a 70%;
• utilizar máscara e gorro;
• retirar anéis, relógios e bijuterias;
• lavar bem as mãos e as unhas (sempre curtas) com água e sabão. Enxugá-las
e aplicar álcool a 70% e deixar secar naturalmente;
• usar cabelos presos ou um gorro e roupas sempre limpas durante o preparo;
• utilizar luvas descartáveis.

292
Friccionar Friccionar Friccionar
as palmas o dorso entre os dedos

Friccionar a Friccionar o Friccionar a ponta


ponta dos dedos polegar dos dedos em palma

A dieta pode ser artesanal ou industrializada. Cada uma delas exige cuidados
específicos.

Cuidados com dieta artesanal:


• é uma dieta feita em casa com os mesmos alimentos
consumidos pela família;
• separar os alimentos listados na dieta. Lavá-los com água
corrente e saneá-los em solução de hipoclorito por 15 minutos;
• verificar se os ingredientes estão dentro do prazo de validade e se as
embalagens não estão danificadas;
• lavar com água corrente e detergente todos os utensílios a serem utilizados
no preparo da dieta;
• lavar as embalagens dos ingredientes antes de abri-las;
• medir corretamente os ingredientes;
• a água utilizada deve ser filtrada ou fervida e estar em temperatura ambiente;
• cozinhar bem os alimentos, bater no liquidificar por, aproximadamente, três
minutos e coar;
• passar a mistura em peneira limpa;
• preferencialmente, preparar quantidade suficiente para um horário de dieta.
Porém, se for preparada para mais de um horário, armazenar na geladeira em
recipiente de vidro com tampa. Manter no refrigerador por, no máximo, 24 horas;
• retirar a dieta da geladeira 30 a 40 minutos antes de ser administrada, para
retornar à temperatura ambiente;
• não aquecer a dieta.

293
Cuidados com dieta industrializada:
• verificar se a embalagem não está danificada e se o produto
está dentro do prazo de validade;
• lavar a embalagem com água e sabão antes de abri-la;
• pode ser em pó ou líquida;
• utilizar a quantidade da dieta em pó e de água prescritas pelo profissional de saúde;
• utilizar água filtrada e fervida, em temperatura ambiente, para o preparo;
• bater o pó com a água no liquidificados até ficar homogêneo;
• preparar apenas a quantidade que for ser usada no momento.

Utilizar a dieta apenas no dia do preparo. As sobras devem ser desprezadas.

Todos os utensílios utilizados para o preparo e administração das dietas (liquidifi-


cador, frascos, equipos, seringas, coador, colheres) devem estar totalmente limpos e
devem ser exclusivamente destinados à alimentação enteral. O local de preparo deve
ser mantido limpo, pois restos de comida atraem moscas, baratas e ratos. Esses cui-
dados diminuem a chance de contaminação, de diarreia e de infecção.
Além disso, devem-se seguir rigorosamente todos os cuidados na administração
da dieta.
O frasco, o equipo e a seringa devem ser mantidos limpos e sem resíduos da dieta
administrada. Eles podem ser utilizados enquanto estiverem sem resíduos ou racha-
duras. A seringa, além disso, deve ter seu êmbolo deslizando bem e o equipo deve
estar flexível e transparente. Os mesmos dever ser desprezados quando estiverem
escurecidos ou com rachaduras.
O frasco e o equipo devem ser lavados, após cada dieta, com água e detergente e
guardados secos em recipiente fechado, preferencialmente na geladeira. Para lavar a
seringa, seu êmbolo deve ser retirado, todas as peças lavadas com água e detergente
e, após secas, a seringa deve ser montada novamente e guardada em recipiente fe-
chado limpo e de preferência na geladeira.
A nutrição enteral apresenta algumas possíveis complicações, como:
• obstrução da sonda: lavar a sonda com 20 a 40 mL de água (fervida ou
filtrada, à temperatura ambiente), com pressão após a administração de cada
alimentação ou a cada quatro horas em caso de alimentação contínua (uso de
bomba de infusão) e antes e após a administração de medicamentos;

294
• deslocamento da sonda: fixar a sonda no nariz e verificar a integridade do
adesivo diariamente. Observar a marca no local de saída da sonda, para mo-
nitorização do seu posicionamento. Tomar cuidado especial durante o banho,
transferência do paciente ou em procedimentos;
• fixação da sonda: tão importantes quanto os cuidados com a sonda são os
cuidados com sua fixação. A fixação adequada é de fundamental importância
para que se garanta a manutenção de seu posicionamento adequado, bem
como para que se previnam lesões de pele. A fixação deve sempre ser feita
com fita adesiva ou esparadrapo hipoalergênico e sua troca deve ser realiza-
da sempre que estiver suja ou se soltando. Retirar a fixação antiga, limpar o
nariz com água e sabão neutro, secar bem, mas sem friccionar a região. Para
a higiene das narinas, usar uma haste de algodão embebida em água, solução
fisiológica ou loção de ácidos graxos essenciais (AGE). Fixar a sonda na face
externa da narina e no rosto do paciente, tomando o cuidado de não deixá-la
passar na frente dos olhos ou da boca. Observar se não há dobras na sonda e
se não está tracionando a narina. A cada troca da fixação, alternar o lado da
fixação. Estão disponíveis no mercado dispositivos pró-
prios para a fixação de sondas nasais. Tais dispositivos
são confeccionados em material hipoalergênico e têm
desenho que se adapta à anatomia do nariz, favore-
cendo mais conforto ao idoso. Devem ser utilizados na
pele sem lesões e podem ser mantidos por até 48 ho-
ras sem troca ou conforme orientação do fabricante;
• alterações ao redor da ostomia: caso o paciente tenha sonda por gastros-
tomia ou jejunostomia, o local das mesmas deve ser mantido limpo e seco,
sendo a higiene realizada diariamente, com água e sabão neutro, na hora do
banho. A parte externa da sonda também deve ser lavada, sem fazer fricção,
e enxaguada com água limpa e bem seca. No caso de haver pequenos vaza-
mentos, proceder à limpeza com água e secar sem friccionar. Se houver vaza-
mentos mais expressivos, irritação, ferida ou vermelhidão da pele, a equipe de
saúde do idoso deve ser comunicada.

No caso de complicações com a dieta enteral, comunicar à equipe de saúde.

295
Cuidados com a administração da dieta:
• antes de administrar a dieta, verifique seu aspecto, odor e cor. As fórmulas
em pó reconstituídas não devem permanecer fora da geladeira por mais de
quatro horas nem em geladeira por mais 12 horas;
• não iniciar a administração da dieta se houver dúvida quanto à adequada
posição da sonda;
• lavar as mãos com água e sabão sempre antes de tocar na sonda;
• conectar o frasco de nutrição enteral ao equipo e pendurar o frasco com
a dieta em local mais alto que o nível da cama – aproximadamente meio
metro acima do nível da cabeça. A dieta pode ser administrada também com
seringa de 60 mL;


• manter o paciente em posição correta para receber a dieta: assentado na
cama ou na cadeira. Caso o mesmo não possa ficar assentado, eleve-o
delicadamente a um ângulo de 30° a 45°. Podem ser utilizados travesseiros e
almofadas para esse posicionamento. Após administrar a dieta, manter essa
mesma posição pelo período de no mínimo 30 minutos. Esse procedimento
evitará o risco de engasgos e a entrada de dieta nos pulmões (aspiração);

296
• abrir lentamente o “rolete” do equipo e verificar o gotejamento da dieta. A
velocidade de gotejamento deve ser em torno de 80 a 100 gotas por minuto;
• lavar a sonda com 20 a 40 mL de água filtrada após cada horário de dieta e
medicação, com pressão para a limpeza dos resíduos alimentares;

• tampar a sonda com sua própria tampinha;


• não administrar pela sonda: chás, sucos, refrigerantes, sopas ou outras
misturas que não tenham sido prescritas;
• seguir criteriosamente horários e volumes prescritos. Evitar pular refeições e
nunca tentar recuperá-las dobrando o volume no próximo horário, pois isso
poderá acarretar dor abdominal ou diarreia osmótica;
• não oferecer o alimento quente ou gelado. O mesmo deverá ser oferecido
em temperatura ambiente;
• lavar o frasco e o equipo com água e detergente.

Cuidados com Colostomia, Ileostomia e Urostomia


Ostomias intestinais são aberturas dos intestinos na parede abdominal, realizadas
cirurgicamente, por onde é eliminado o conteúdo fecal. As ostomias intestinais mais
comuns são a colostomia, abertura do intestino grosso, e a ileostomia, abertura do in-
testino delgado. De acordo com a doença ou o evento que levou à realização de uma
ostomia intestinal, podem ser temporárias ou definitivas. As principais indicações de con-
fecção de colostomias ou ileostomias são a obstrução intestinal, neoplasias, traumas que
provocam a perfuração intestinal, processo inflamatório ulcerativo e múltiplos pólipos.
Vista externa Colon Vista interna
ascendente

Colon
transversal

Reto

Colostomia Ânus Colon


descendente

A coleta do conteúdo fecal proveniente das ileostomias ou colostomias ocorre por


meio da utilização de dispositivos de assistência denominados bolsas de colostomia.

297
Essas bolsas são compostas de uma placa adesiva que adere à
pele em torno do estoma e por uma bolsa coletora. A consis-
tência das fezes provenientes de uma colostomia depende da
porção do intestino que foi exteriorizada, podendo variar de
semilíquidas a pastosas. Já as fezes provenientes de ileostomia
são de consistência mais líquida do que as de colostomia.
Urostomia é uma abertura na parede abdominal, também realizada cirurgicamente,
para a eliminação de urina proveniente dos rins. A urostomia também poderá ser tempo-
rária ou definitiva, dependendo da causa que levou à sua realização. As seguintes con-
dições consistem em indicações para a realização de urostomia, quais sejam: neoplasias,
traumas, doenças congênitas, entre outras. A coleta de urina também é realizada em
uma bolsa coletora externa, com características semelhantes às das bolsas de colostomia.
Alguns cuidados com a troca da bolsa e a higienização do estoma são indispensá-
veis, assim como esvaziamento da bolsa.

Cuidados com a troca da bolsa e higienização do estoma:


• retirar a bolsa de forma delicada a fim de evitar lesões na
pele ao redor do estoma. Para facilitar a remoção da bolsa,
usar gaze ou algodão embebido em água morna ou retirar a
bolsa embaixo do chuveiro;
• a limpeza do estoma deve ser realizada com delicadeza, usando-se água e sabonete
neutro. Não é necessário, nem recomendável, que o estoma seja esfregado;
• a pele em torno da ostomia também deve ser lavada com delicadeza, usando-se
água e sabonete neutro, sem esfregá-la. Não é recomendado o uso de esponjas
ásperas. Para secar a pele em torno da ostomia, usar pano macio com leves toques;
• o estoma deve ser de cor vermelho vivo ou róseo brilhante
e apresentar brilho e umidade. A pele ao redor da ostomia
deve estar sem lesões ou coceiras. Em caso de alterações
(vermelhidão, coceira, lesões, pus, dor, ausência de
eliminações de fezes, gases ou urina), essas devem ser
comunicadas à equipe de saúde;
• durante o tempo em que o estoma estiver exposto, não
permitir que algum inseto, especialmente moscas, pouse no estoma;
• antes de fixar uma nova bolsa, é importante não utilizar substâncias agressivas
à pele, como álcool, benzina, éter, colônias, tintura de benjoim, mercúrio e
mertiolate, por exemplo, pois tais substâncias podem provocar ressecamentos
e lesões na pele ao redor do estoma;

298
• o recorte do orifício da bolsa deve ser sempre do
tamanho da ostomia ou, no máximo, 3 mL maior que
o tamanho da ostomia;
• retirar o papel que protege o adesivo (resina);
• colocar a nova bolsa seguindo o sentido de baixo
para cima e pressionar até que esteja bem colada à pele. A bolsa deve ficar
bem fixada na pele ao redor da ostomia, para evitar vazamentos, irritações
da pele e descolamento do adesivo (resina);
• fechar a parte inferior com o clamp;
• evitar retirar a bolsa sem necessidade, pois além de garantir mais durabilidade,
protege a integridade da pele em torno da ostomia. A bolsa pode ser
trocada a cada três dias ou, antes disso, caso o adesivo (resina) perca sua cor
amarelada ou, ainda, perceba-se descolamento do adesivo ou vazamentos;
• durante o banho, proteger a bolsa com plástico e fitas adesivas;
• as bolsas devem ser guardadas em locais limpos, secos e protegidos do sol para
evitar umidade ou ressecamento que comprometem sua capacidade adesiva.

Cuidados no esvaziamento das bolsas:


• a bolsa para ileostomias e urostomias deve ser esvaziada quando
1/3 do seu espaço estiver preenchido, caso contrário, a bolsa
ficará pesada, o que pode levar ao seu descolamento da pele;
• a bolsa para colostomias, especialmente aquelas que coletam fezes pastosas,
deve ser esvaziada sempre que possível, geralmente uma a duas vezes ao dia;
• o esvaziamento deve acontecer por meio da abertura do clamp.

Nos pacientes com bolsa de colostomia ou ileostomia, deve-se evitar ou, pelo
menos, consumir com moderação alimentos que produzem gazes excessivos, como
carnes, leite, feijão, ovos cozidos, por exemplo, ou odores fortes, como cebola, alho
cru, repolho e frutos do mar. O idoso deve mastigar bem os alimentos. É importante
garantir que o idoso receba alimentação rica em todos os nutrientes evitando-se
sopas ralas e insuficientes. Oferecer bastante líquido. O cuidador deve estar atento
aos problemas associados ao uso de ostomias, como cheiros desagradáveis, ruídos,
reintegração social e profissional, frequentes idas ao banheiro, cuidados com a pele
ao redor e atividade sexual.

299
Cuidados com a Traqueostomia
A traqueostomia (TQT) é uma abertura feita na
frente do pescoço para permitir a passagem de ar pela
traqueia. No orifício é introduzido um tubo (cânula
traqueal) para permitir o fluxo de ar para os pulmões.
Pode ser temporária ou permanente. Algumas indica-
ções para a realização de uma traqueostomia incluem
obstrução de via aérea superior decorrente de tumores,
corpo estranho ou edema. A traqueostomia sempre traz dificuldade para falar,
uma vez que o ar expelido não passa pelas cordas vocais, mas a fala é recupera-
da quando a traqueostomia é desfeita ou quando se oclui o orifício.
As cânulas de TQT podem ser metálicas, plásticas ou
siliconadas, com ou sem cânula interna, com ou sem balonete
(cuff) e fenestradas. Cada uma delas tem uma indicação espe-
cífica. As cânulas metálicas são constituídas de aço inoxidável
ou prata esterlina e possuem sistema de travamento da cânula
interna. Não possuem conexões para equipamento respiratório
e são utilizadas por pacientes traqueostomizados por longo
prazo, por possuírem mais durabilidade e fácil manuseio. Pode ocorrer oxidação do
material. Possuem uma parte externa e uma interna (endocânula ou “macho”). A
troca da parte externa é um procedimento médico. Por sua vez, a endocânula deve
ser higienizada diariamente, para evitar obstrução local (Quadro 12.2).
As cânulas de silicone diferenciam-se por apresentarem balonete ou cuff, que
ao ser insuflado veda a luz traqueal. Cânulas com cuffs ou balonetes devem ser in-
dicadas em paciente em ventilação artificial (respirador) ou quando se quer evitar o
risco de aspiração de secreções para o interior da árvore traqueobrônquica. Por sua
vez, as cânulas fenestradas possibilitam a passagem do ar por meio da cânula e das
cordas vocais, permitindo a fala. Uma cânula interna sólida deve ser inserida para a
aspiração. As cânulas possuem asas laterais perfuradas que servem para sua fixação
com cadarço ao redor do pescoço.

300
Quadro 12.2 Cuidados na limpeza da cânula e nas trocas do curativo e da fixação

Lavar as mãos sempre antes e após o manuseio da traqueostomia.

Lavar a cânula uma vez ao dia ou sempre que necessário. Para lavar a cânula, retirar a
parte interna (macho), girando, destravando e tracionando a endocânula até retirá-la
completamente. Em seguida, deve-se lavá-la com água corrente. Se houver secreção en-
durecida e aderida à luz da parte interna, mantê-la de molho em água morna por até cin-
co a 10 minutos e proceder à limpeza de toda parte interna com gaze e cotonete até que
ela saia na outra ponta. Secar com gaze seca e recolocá-la no interior da parte externa da
cânula, girar até encontrar o encaixe e travá-la. Posteriormente, deve-se higienizar a pele.

Limpar a pele em torno da traqueostomia uma a duas vezes ao dia ou sempre que ne-
cessário, utilizando-se gaze umedecida com soro fisiológico a 0,9%. Fazer movimentos
de cima para baixo, ao redor do orifício, para limpar bem a pele. Repetir a manobra até
a pele ficar bem limpa. Secar com outra gaze.

Trocar as gazes que ficam entre a pele e as abas da cânula, bem como os cadarços de
fixação da traqueostomia, colocando primeiramente os novos e, em seguida, removen-
do os sujos. No momento da troca dos cadarços é importante segurar a cânula com
uma das mãos, com dedo indicador e médio. Com a outra mão, ir desamarrando e reti-
rando o cadarço. Nunca soltar a traqueostomia até trocar completamente o cadarço.

Manter os cadarços fixados firmemente, mas nunca de modo apertado, o que pode
provocar lesões na lateral do pescoço e gerar incômodos. O ideal é que um ou dois
dedos sejam posicionados entre o pescoço e os cadarços (folga).

Os procedimentos de limpeza da cânula e de trocas de curativo e da fixação devem ser


realizados, para mais segurança, com a ajuda de outra pessoa.

Durante qualquer intervenção e/ou manipulação a ser realizada com a traqueostomia,


é importante inspecioná-la, atentando para sangramento, secreções, lesões na pele em
torno do estoma, sinais de inflamação e/ou de infecção. Além disso, deve-se inspecionar
a pele subjacente aos cordões de fixação da traqueostomia, observando se há lesões.

Manter a traqueostomia protegida por um avental pequeno (rede de crochê) para evitar
a entrada de poeira ou corpo estranho, mas também para proteger contra o resseca-
mento da traqueia e dos brônquios. Lembre-se de que agora o ar entra diretamente
nos pulmões, sem passar pelo “filtro” do nariz.

As principais complicações do uso prolongado de cânulas de traqueostomia são:


• hemorragias locais: causadas por trauma direto da cânula;
• entupimento da cânula por crostas de secreção acumulada, com dificuldade
respiratória;

301
• saída acidental da cânula: tosse e secreção espessa podem facilitar a saída
da cânula;
• traqueomalácia: geralmente causada por uma cânula muito pequena. A tro-
ca geralmente resolve o problema;
• estenose da traqueia: causada por lesão local provocada pela cirurgia ou
pela própria pressão local do cuff ou na ponta da cânula. Atualmente, com os
cuffs de grande volume e baixa pressão, essa incidência reduziu-se significa-
tivamente. O quadro clínico é de desconforto respiratório, tosse e estridor na
respiração, que são percebidos cerca de duas a seis semanas após a retirada
da cânula. O tratamento é cirúrgico;
• fístula traqueoesofágica: é complicação rara, presente em menos de 1%
dos casos. Pode levar à aspiração e à pneumonite química, geralmente causa-
da por cânula ou cuff, que causam lesão na parede da traqueia, criando uma
comunicação com o esôfago (fístula). O tratamento é, geralmente, cirúrgico;
• fístula traqueocutânea: ocorre após a decanulação (retirada da cânu-
la), quando o estoma ou orifício traqueal não cicatriza após a retirada da
cânula, principalmente após traqueostomias prolongadas. É complicação
benigna e o tratamento consiste na raspagem de tecido epitelial local e
cicatrização secundária.

A retirada ou a redução do número (tamanho) da cânula deve ser feita quando


ocorre recuperação parcial ou total do paciente. Após a cânula ser removida, o estoma
pode se fechar espontaneamente ou necessitar de uma cirurgia para seu fechamento.
O início do processo de decanulação ou retirada da cânula de traqueostomia é deno-
minado de desmame. Considera-se desmame da traqueostomia o momento em que
se inicia o desinsuflar do cuff, passando pela troca da cânula plástica para metálica,
até a retirada da cânula de traqueostomia e realização do curativo oclusivo do estoma.
O Quadro 12.2 mostra alguns cuidados na limpeza da cânula e nas trocas do
curativo e da fixação. A aspiração da traqueostomia também exige alguns cuidados
(Quadro 12.3).
Pacientes com ostomias necessitam de abordagem de saúde holística, uma vez
que as necessidades de saúde relacionam-se não apenas aos aspectos físicos deter-
minados pela ostomia, mas também à representação social que poderá impactar
nos aspectos sociais, profissionais e sexuais.

302
Quadro 12.3 Cuidados na aspiração da traqueostomia

Realizar aspiração da traqueostomia somente quando necessário, para evitar lesões


na traqueia.

Separar o material necessário: um par de luvas de procedimento, uma sonda de aspiração, uma
ampola de soro fisiológico a 0,9%, um látex para conectar a sonda ao aspirador e um aspirador.

Atentar para não haver contaminação durante a aspiração.

Posicionar o paciente em posição de fowler e pré-oxigenar o paciente por um a dois


minutos.

Lubrificar a sonda com soro fisiológico a 0,9% e inseri-la na luz da cânula. Não aspirar (apli-
car vácuo) enquanto não encontrar resistência, para evitar lesões na traqueia.

Quando encontrar resistência, iniciar a aspiração intermitente, com movimentos lentos


de retirada e de rotação da sonda, para evitar lesões na traqueia. É importante limitar
o tempo de aspiração em 10 segundos para evitar hipoxemia, o que pode trazer graves
complicações, como parada cardiorrespiratória.

Permitir ao paciente repousar e respirar profundamente antes da próxima aspiração, caso


seja necessário.

Observar cor, aspecto e quantidade da secreção aspirada.

Cuidados com a oxigenioterapia domiciliar


A oxigenioterapia crônica domiciliar é uma modalidade de
tratamento utilizada por pacientes que sofrem de hipoxemia
crônica associada a uma série de doenças cardiopulmonares,
especialmente a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Para
a oxigenioterapia domiciliar são necessários os seguintes equipa-
mentos e dispositivos de assistência: fonte de oxigênio (cilindro de
oxigênio), umidificador, cateter nasal (tipo óculos) e intermediário
(cateter de silicone, mangueira ou extensão) para conectar o cateter
nasal à fonte de oxigênio (não deve possuir mais de 6 metros de
comprimento). Recomendam-se alguns cuidados com o cilindro de
oxigênio (Quadro 12.4) e durante a oxigenioterapia (Quadro 12.5).

Quadro 12.4 Cuidados com o cilindro de oxigênio

O cilindro precisa ser recarregado sempre que o manômetro (relógio)


indicar que a pressão do oxigênio está baixa.

O cilindro deve permanecer na posição vertical devidamente fixado em suporte


ou carrinho, nunca ser segurado pela válvula nem colocado em área fechada.

303
Quadro 12.5 Cuidados durante a oxigenoterapia

Jamais colocar o cilindro de oxigênio próximo de fontes de calor, pelo risco de explo-
são, nem manuseá-lo com as mãos sujas de graxa ou óleo, pelo risco de combustão.

Orientar o paciente a não fumar, pois além de ser prejudicial às trocas gasosas, existe o risco
de combustão, o que pode provocar queimaduras.

Jamais utilizar lubrificantes oleosos, cremes comuns ou pomadas, pelo risco de combus-
tão com o oxigênio.

Atentar para aparelhos elétricos que podem emitir faíscas.

A oxigenioterapia é um tratamento e, sendo assim, a dose de oxigênio prescrita pelo


médico não deve ser alterada.

Inspecionar diariamente a pele em contato com o cateter nasal (columela nasal e pavi-
lhão auricular), atentando para surgimento de hiperemia e/ou lesões da pele.

Manter o umidificador com água até 2/3 de sua capacidade. Quando o nível da água
do umidificador estiver baixo, a água restante deve ser desprezada e nova água deve
ser utilizada, o que contribuirá para evitar que a água torne-se meio de cultura. É im-
portante que a água do umidificador seja trocada diariamente.

Atividade Integradora
O idoso frágil é aquele indivíduo que apresenta declínio funcional. A
principal função do cuidador de idosos é permitir a realização das ativi-
dades de vida diária (páginas 7 e 8), principalmente aquelas relacionadas
ao autocuidado. Alguns idosos frágeis necessitam do uso de dispositivos
de auxílio para marcha, ostomia, uso de sonda ou cateteres, entre ou-
tros (página 12). O cuidador de idosos deve estar preparado para realizar
todos cuidados necessários para facilitar a vida do idoso frágil e de sua
família. A identificação de problemas nos pés é importante em todos os
idosos, independentemente da presença de diabetes (página 11). Os pés
usualmente são negligenciados pelo cuidador de idosos.

304
Referências
1. ASSIS, M. G. et al. Terapia ocupacional em gerontologia. In: FREITAS, E. V. et al.
Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan, 2001. cap. 127, p.1423-1428.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde. Guia prático do cuidador. Brasília: Minis-
tério da Saúde, 2008. 64 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
3. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER/INCA. Divisão de Comunicação Social. Cui-
dados com a sua estomia: orientações aos pacientes. Rio de Janeiro: INCA,
2010. 20 p.
4. LIMA FILHO, J. B.; SARMIENTO, S. M. G. Envelhecer bem é possível: cuidando de
nossos idosos na família e na comunidade. São Paulo: Edições Loyola, 2004. 187 p.
5. TIMBY, B. K.; SMITH, N. E. Enfermagem médico-cirúrgica. 8. ed. rev. e ampl.
Barueri: Manole, 2005. 1256 p.
6. TOMIKO, B. (Org.). Cuidar melhor e evitar a violência: manual do cuidador da
pessoa idosa. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Subsecretaria de
Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, 2008. 330 p.
7. ZEFERINO, M. T. Diretrizes para oxigenoterapia domiciliar. São Paulo: Seg-
mento Farma Editores, 2004. 52 p.
8. ZEFERINO, M. T. Guia do usuário de oxigenoterapia domiciliar. São Paulo:
Segmento Farma Editores, 2004. 20 p.

305
Capítulo 13

Saúde Bucal no Idoso Frágil

Lucas Moreira Maia


Edgar Nunes de Moraes
Raquel Souza Azevedo
A boca é um sistema fisiológico complexo e indispensável para várias funções do or-
ganismo, como mastigação, deglutição, digestão e fala. Outras funções dependentes das
estruturas bucais, como lábios (superior e inferior), dentes, língua e assoalho, palato (céu
da boca), glândulas salivares e bochechas são a palatabilidade dos alimentos e, conse-
quentemente, o apetite, a estética facial e algumas formas de expressão do afeto, como
“mostrar a língua”, o sorriso e o beijo. Portanto, a saúde bucal deve ser entendida como
parte integrante e indissolúvel da saúde geral e que apresentam relação bidirecional. Há
evidências robustas do efeito da saúde bucal precária na etiologia de doenças sistêmicas
no idoso, particularmente condições causadas por infecção ou inflamação crônica, tais
como a doença periodontal. As associações mais fortes são o efeito das doenças bucais
no desenvolvimento de doenças respiratórias e na exacerbação do diabetes mellitus.

Doenças periodontais correspondem a um grupo de processos


inflamatórios que acometem os tecidos de suporte dentário.
Estão associadas a eventos sistêmicos, como abscessos cerebrais
e pulmonares, endocardite, infarto agudo do miocárdio, acidente
vascular encefálico, pneumonia aspirativa e doença renal. A
doença periodontal pode dificultar o controle glicêmico do
paciente diabético e pode contribuir no desenvolvimento e
progressão da doença de Alzheimer. Microrganismos anaeróbicos
bucais associados à periodontite podem dar início à pneumonia
por aspiração. Pacientes com disfagia ou desacordados apresentam
mais vulnerabilidade à pneumonia por aspiração.

Cuidados com a boca são, portanto, fundamentais para a boa saúde, principal-
mente no idoso frágil, que provavelmente manifesta dificuldades para realizar a hi-
gienização adequada. Além disso, o envelhecimento promove alterações nos tecidos
duros e moles, podendo levar a limitações e incapacidades, particularmente nos den-
tes, língua e mucosa oral.
• dentes: alterações como a descoloração (dentes mais amarelados ou sem cor)
e redução no esmalte dentário, devido à abrasão, atrição e/ou erosão. O des-
gaste excessivo do esmalte acarreta a exposição do tecido dentário, estimulando
a formação de dentina secundária, que reduz a sensibilidade elétrica, térmica,
osmótica e dolorosa. A polpa dentária tem redução da inervação e dos vasos
sanguíneos. Assim, várias alterações causam redução da sensibilidade dentária,
que deve ser considerada quando da realização de testes de vitalidade dentária
e na execução de procedimentos restauradores de pequena complexidade, que
podem ser feitos sem anestesia local. Outra alteração importante é o desgaste

308
em torno do colo dentário, frequentemente associada ao uso de escova dentária
com cerdas duras e escovação inadequada. A atrofia do osso alveolar, que é a
parte dos maxilares que suporta e ancora as raízes dos dentes, também é um
fenômeno associado ao envelhecimento e tem como causa primária a perio-
dontite, que, juntamente com a osteoporose, predispõe à perda dentária ou
edentulismo. Há uma visão fatalista de que o idoso perde o dente com a idade. É
preciso salientar que o edentulismo “não é consequência da idade”, mas sim da
falta de cuidados adequados na saúde (bucal e global) ao longo da vida;
• língua: ocorrem redução dos botões gustativos e mais fissuração da língua, que
podem provocar perda de apetite e acúmulo de biofilme (placa), surgindo apa-
recimento de saburra lingual (massa composta de células descamadas da boca,
bactérias, muco salivar e restos alimentares que aderem à superfície da língua).
Tais alterações estão associadas a mudanças na palatabilidade dos alimentos,
contribuindo para a perda do apetite e mais estranheza no sabor dos alimentos;
• mucosa oral: a sensação de “boca seca” (xerostomia) ocorre pela diminuição
na produção da amilase salivar, dificultando a deglutição e posteriormente a di-
gestão dos alimentos. Com o envelhecimento, as glândulas salivares sofrem um
processo de degeneração avançada, provocando a diminuição da quantidade e
viscosidade da saliva secretada, especialmente em repouso. Entre os fatores con-
tribuintes da xerostomia, podem-se citar os medicamentos para hipertensão, de-
pressão, ansiolíticos, anticolinérgicos, anti-histamínicos; também procedimentos
específicos, como a terapia radioativa para o tratamento do câncer. A xerostomia
também está associada a dificuldades na mastigação, deglutição, gustação e fala,
o que resulta em dieta pobre e má-nutrição, diminuindo a interação social. Outra
complicação da redução do fluxo salivar é a proliferação das bactérias presentes
na cavidade bucal, acarretando sérios problemas, como gengivite, periodontite,
aumento de cárie, mucosa bucal mais seca, incômodo ao utilizar próteses den-
tárias, dificuldade de mastigação dos alimentos com mais consistência e mais
nutritivos, “ardência na boca”, “mau hálito” e candidíase bucal, entre outros.

Outro cuidado especial aos idosos é o que se refere ao horário de atendimento


odontológico aos portadores de determinadas doenças. Idosos com osteoartrite,
câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), diabetes, doença cardíaca, hi-
pertensão, problemas de saúde mental, osteoporose, doença de Parkinson e derra-
me devem ser atendidos, preferencialmente, no início da manhã. Já para a artrite
reumatoide deve-se evitar agendamento de consultas no início do dia, em função

309
de mais rigidez do paciente nesse período. O acompanhamento odontológico aos
idosos submetidos à radioterapia ou quimioterapia deve anteceder e persistir duran-
te e após essas terapias, para tanto, deve ser elaborado um plano de cuidados para
todas as fases do tratamento. Os idosos com demência devem ser atendidos tão
logo o diagnóstico seja estabelecido, pois com a evolução da doença a execução de
procedimentos odontológicos torna-se cada vez mais difícil.
Os indivíduos com doenças periodontais como gengivite, sangramento, perda ós-
sea (dentes bambos) ou outras infecções bucais apresentam dificuldade em controlar
a diabetes, risco aumentado para desenvolvimento de doenças cardiovasculares (ate-
rosclerose, infarto agudo do miocárdio, derrame, etc.) e doenças respiratórias (pneu-
monia por aspiração, abscessos pulmonares, especialmente no idoso acamado).

Baixo uso de serviço odontológico e de produtos de higiene bucal


com flúor, disfunção das glândulas salivares, uso de prótese parcial
removível, periodontite, recessão gengival e bolsa periodontal são
alguns dos fatores de risco para cárie radicular. Além de outros
fatores locais como, por exemplo, o refluxo gastroesofágico.

Principais Problemas de Saúde Bucal no Idoso


Cerca de 70% dos medicamentos comumente ingeridos pelos idosos manifestam
efeitos colaterais que podem apresentar alterações na cavidade bucal, como, por
exemplo, os medicamentos usados no tratamento do diabetes mellitus e hipertensão
arterial, que podem causar redução na produção de saliva, levando à sensação de
boca seca (xerostomia).

Cárie
A mais popular delas, sem dúvida, é a cárie. A cárie dentária consiste numa de-
sintegração patológica gradual, caracterizando-se pela desmineralização da porção
inorgânica do dente e destruição de sua porção orgânica. O idoso é mais suscetível
ao desenvolvimento de cárie radicular, devido à perda de osso alveolar em torno do
dente. O cimento radicular, devido à sua constituição mais orgânica, é menos resis-
tente à ação dos ácidos produzidos na cavidade bucal pelas bactérias do biofilme
dental e originados da dieta. A incidência de cárie radicular em idosos é duas vezes
maior que a de indivíduos de 30 anos. A higienização precária dos dentes é o princi-
pal responsável pelo desenvolvimento de cáries no idoso. A redução do consumo de

310
bebidas ou alimentos açucarados, principalmente aqueles que grudam nos dentes,
tem fundamental importância em sua prevenção.

Doença periodontal
Trata-se de um grupo heterogêneo de doenças que afetam as estruturas de su-
porte dos dentes (gengiva, cimento radicular, osso alveolar e ligamento periodontal).
Sua etiologia é complexa e apresenta diferentes manifestações clínicas. Na maioria
das vezes, é causada ou agravada pela placa dentária. O acúmulo de placa sobre a
superfície dentária induz a proliferação bacteriana, infecção e inflamação da gengiva,
condição descrita como gengivite. A inflamação gengival induz a separação do liga-
mento periodontal do cimento radicular, promovendo a formação da bolsa periodon-
tal e defeitos ósseos, mobilidade dentária ou abscessos. A consequência mais grave
da doença periodontal é a perda do dente acometido. É considerada a segunda causa
de perda dentária em idosos.
O envelhecimento não é considerado causa primária de gengivite, mas é fator de
risco. A gengivite é uma condição reversível, cujo tratamento consiste em procedi-
mentos de baixa complexidade (profilaxia dentária e educação em saúde). Entretan-
to, para o efetivo controle da gengivite e demais manifestações clínicas da doença
periodontal, especialmente no paciente idoso, é importante a avaliação de sua capa-
cidade para as atividades diárias de higiene bucal.
Em relação à doença periodontal no idoso, é importante destacar sua associação
com doenças sistêmicas, como doença cardiovascular, respiratória e diabetes. Estudos
recentes têm investigado a associação entre doença periodontal e Alzheimer. Esses
estudos sinalizam para a importância da prevenção e tratamento da doença perio-
dontal na manutenção da saúde geral durante o processo de envelhecimento. Fatores
sociocomportamentais como uso de serviço odontológico, fumo, estresse e condição
econômica são preditores de perda de inserção periodontal no idoso.
Pode-se considerar que um indivíduo com todos os dentes tem capacidade mas-
tigatória de 100%. Com a perda de um dente, essa capacidade passa a ser de 70%,
podendo chegar a 25% com o uso de próteses totais. A perda de parte da capacida-
de mastigatória em pacientes portadores de prótese e da sensibilidade mastigatória
não está apenas relacionada ao uso de aparelhos protéticos, mas também às condi-
ções periodontais satisfatórias desses pacientes.
Para que o tratamento protético seja realizado com sucesso, é importante verificar se
o paciente é portador de alguma doença sistêmica que possa vir a interferir no tratamen-
to, bem como as medicações de que o paciente faz uso para o controle dessas doenças,

311
já que as interações medicamentosas exercem grande influência no fluxo salivar e podem
causar repercussões na cavidade bucal, assim como inviabilizar a reabilitação protética.

Atrofia do osso alveolar


A atrofia dos maxilares é um fenômeno associado à idade, tendo como causa
primordial a periodontite. Perdas dentárias, extensão do edentulismo, a pressão cau-
sada pelo uso de próteses totais e a osteoporose são fatores coadjuvantes. Perdas
dentárias e de suporte ósseo reduzem a altura da face, desencadeando o prognatis-
mo da mandíbula, comprometendo a autoimagem do idoso. A atrofia óssea pode
interferir na capacidade mastigatória do idoso, com repercussão na sua dieta e condi-
ção nutricional. A reabsorção é mais pronunciada na mandíbula que na maxila, com-
prometendo a estabilidade de próteses totais inferiores e, consequentemente, seu
uso. A melhor solução para esse problema é a preservação dos elementos dentários
naturais. E nos casos em que os mesmos já foram extraídos, a colocação de implantes
propicia estímulo funcional ao tecido ósseo, prevenindo sua perda.

Candidíase bucal
A candidíase bucal, também conhecida como “sapinho”, constitui problema fre-
quente no idoso. Sua incidência é elevada devido às condições debilitantes, deficiên-
cias vitamínicas, traumas e, em muitos casos, higienização deficitária. As principais
características da candidíase oral são placas brancas ou amareladas removíveis por
meio de raspagem, deixando uma superfície eritematosa e ligeiramente sangrante.
Muitas das vezes podem estar associadas à utilização de próteses totais (dentadu-
ras), apresentando-se como eritema confinado à área onde a prótese é embasada e
frequentemente associada à queilite angular. Esta é conhecida como fissuras radiais
que acometem a comissura labial devido ao trauma, perda de elementos dentários;
quando recorrente é considerada uma enfermidade devido à carência de vitamina
B12. É caracterizada por “ardência da língua” e alterações do paladar.

Câncer bucal
O câncer bucal é um tipo de câncer que ocorre em lábios inferiores, parte posterior
da garganta, dorso da língua, assoalho da boca, palato (céu da boca), amígdalas e
glândulas salivares e que também pode levar ao edentulismo. São fatores de risco para
a doença: tabagismo, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, próteses mal-adapta-
das, má-higiene bucal e exposição frequente a raios solares sem uso de protetor solar
(câncer de lábio).

312
Halitose
Popularmente conhecida como “mau hálito”, a halitose provoca desconforto e
constrangimento ao idoso. É causado por bactérias, descamação celular, proteínas da
saliva e restos alimentares, que servem de substrato às bactérias para produção de
compostos de odor ruim. Suas principais causas são higiene inadequada dos dentes,
língua e de próteses.

Cuidados com a Boca no Idoso Independente


Idoso independente pode realizar o autoexame da boca. Recomenda-se que se
posicione na frente de um espelho que tenha boa visibilidade e faça movimentos
laterais e de elevação e abaixamento. Observar qualquer alteração de cor e forma
das estruturas bucais. Analisar todo o dorso da língua e laterais. Colocá-la para cima
e para baixo e avaliar o assoalho da boca. Verificar todas as áreas da boca, como
bochechas, lábios e palato (céu da boca) (Figura 13.1).
Além do autoexame da boca, outras recomendações estão indicadas (Quadro
13.1). A técnica correta da higienização dos dentes e gengivas deve sempre ser relem-
brada (Quadro 13.2), assim como da língua (Quadro 13.3, Figura 13.2).

Figura 13.1 Exame da cavidade oral

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde.

313
Quadro 13.1 Recomendações de cuidados bucais em idosos independentes

Tomar bastante água durante o dia é muito importante para evitar a desidratação e
manter a boca sempre úmida, diminuindo assim a concentração de bactérias na boca.

Lubrificar com vaselina ou protetores labiais a fim de se evitarem rachaduras e feridas,


nos lábios.

Observar dentes quebrados e cortantes, cariados, amolecidos, sangramento, mau hálito, man-
chas, caroços e feridas na boca, principalmente aquelas que não cicatrizam em duas semanas.

Observar atentamente as próteses, avaliando trincas, próteses quebradas, coladas ou


mal-adaptadas.

O idoso deve ser orientado a higienizar com dentifrícios ou sabão neutro e água fria,
sempre após as refeições, lembrando-se de escovar a gengiva, língua e palato. É reco-
mendável dormir sem a prótese, deixando-a sempre em um copo com água e bicarbo-
nato ou produto efervescente para limpeza durante a noite.

Realizar escovação com dentifrício fluoretado e utilizar fio dental, quando recomendado.

É importante orientar sobre a dieta, pois o edentulismo pode contribuir para uma dieta
inadequada, normalmente constituída de alimentos pastosos ou líquidos, ricos em
carboidratos e pobres em fibras e vitaminas. Lembrar que uma alimentação rica em
sacarose é fator de risco para desenvolvimento de cáries e outras doenças.

Quadro 13.2 Técnica correta de higienização dos dentes e gengivas

Pacientes com dentes naturais

Escovar os dentes naturais ao acordar, após as refeições e antes de dormir.

Iniciar a escovação sempre no mesmo lugar e ter um "roteiro", para evitar que algum
dente fique esquecido. Exemplo: começar sempre pelo lado superior direito.

Os movimentos na arcada inferior devem ser realizados de baixo para cima e na arcada
superior, de cima para baixo. Esse movimento evita retração gengival.

Como sugestão, escovar dois dentes de cada vez. Fazer isso na face interna e na face
externa do dente.

Continua...

314
... continuação

Quadro 13.2 Técnica correta de higienização dos dentes e gengivas

Pacientes com dentes naturais

Utilizar escova macia, com cabeça pequena e pontas arredondadas e com pequena quanti-
dade de pasta dental, para que não espume muito e não cause náuseas ou mesmo engasgo.

Usar fio dental após as refeições e, de preferência, antes da escovação.

Utilizar aproximadamente 40 centímetros de fio, deixando um pedaço livre entre os


dedos. Seguir, com cuidado, as curvas dos dentes. Assegurar-se de limpar além da linha
da gengiva, mas não forçar demasiado o fio contra a gengiva.

Trocar as escovas de dente a cada dois ou três meses. Com o tempo, a cerdas das esco-
vas sofrem desgaste, o que prejudica o processo de escovação.

Pacientes edêntulos (sem dentes)

Utilizar escova macia ou uma gaze embebida em água, para a limpeza da mucosa. Essa
limpeza deve ser realizada ao acordar, após cada refeição e principalmente à noite,
antes de dormir. A gaze é envolta no dedo indicador e depois de umedecida é passada
por toda a boca, sem esfregar, mas com movimentos firmes. Trocar a gaze sempre que
esta se apresentar com sujidades, até completar a higiene.

Da mesma forma, recomenda-se boa higienização da língua (Quadro 13.3).

315
Quadro 13.3 Técnica correta de higienização da língua

Limpar a língua para evitar o mau hálito. A halitose está relacionada a um tipo de placa
bacteriana formada sobre a língua. Para promover a limpeza eficiente, o ideal não é
escovar a língua, mas sim utilizar higienizadores específicos.

Quando houver crosta branca sobre a língua (saburra), ela deve ser removida, utilizando-
-se escova de dente macia, de preferência sem pasta, ou limpadores linguais disponíveis
no mercado ou uma espátula de madeira envolvida em gaze ou colher de sopa ou, até
mesmo, o dedo indicador.

Limpar a língua com movimentos suaves, sem esfregar, para não alterar as papilas. Os
movimentos devem ser realizados no sentido de dentro para fora (parte posterior para
parte anterior), nunca apontando para o final da língua, para se evitar que se machu-
que a garganta ou amígdalas.

Produtos para bochechos somente serão usados em pacientes que não correm o risco
de engolir o produto e quando prescritos por cirurgiões-dentistas.

Podem-se fazer bochechos com antissépticos bucais ou água filtrada e bicarbonato


de sódio (duas colheres de chá em um copo com água), desde que prescritos por um
cirurgião-dentista, pois podem ocasionar alterações no paladar e desenvolvimento de
resistência bacteriana.

A remoção mecânica da placa bacteriana pela escovação é considerada superior à utilização


de enxaguantes bucais.

Figura 13.2 Técnica correta de higiene da língua

Cuidados com a Boca no Idoso Dependente


O cuidador de idosos deve realizar a higienização da cavidade bucal nos idosos
dependentes, de forma regular e utilizando a técnica correta. Considerando as dificul-
dades de higienização da prótese dentária, em razão de suas características anatômi-
cas, bem como das microporosidades inerentes às resinas acrílicas, fica evidente que
é imprescindível a limpeza diária e adequada das próteses para manutenção da saúde
oral. O Quadro 13.4 apresenta as principais recomendações para higiene bucal.

316
Quadro 13.4 Higiene bucal do idoso dependente

Pacientes edêntulos (sem dentes), dentadura e/ou prótese parcial removível (roach)

O idoso deve estar recostado com a coluna reta, em frente a uma pia, com espelho ou
com uma bacia com espelho na mão ou com a cabeça lateralizada. O cuidador deverá
ficar por trás do paciente, para escovar os dentes naturais, usando luvas.

A higiene bucal deve ser realizada sempre ao acordar, após as refeições e antes de dormir.

Retirar as próteses antes de escovar os dentes naturais. Solicitar que o mesmo realize
vários bochechos com água ou, na impossibilidade disso, solicitar que cuspa.

Recomenda-se, antes de iniciar a higiene, colocar uma toalha dentro da pia, pois em caso
de queda, a prótese não se quebrará.

Deixar a prótese em um copo com água e bicarbonato durante a noite ou com produ-
tos efervescentes.

Se houver dificuldade em abrir a boca do idoso, deve-se introduzir delicadamente uma


espátula entre os dentes e fazer um movimento rotatório. O cuidador também pode
utilizar abridores de boca para facilitar a limpeza, como, por exemplo, o gargalo de
uma garrafa de refrigerante descartável (tipo PET). A ponta do gargalo é colocada na
boca do idoso (na região posterior) para que ele a morda (Figura 13.3).

Nos idosos portadores de dentadura, o fluxo salivar frequentemente está diminuído,


influenciado também pelo uso de medicamentos, o que pode gerar o início da halitose
e maior número de cálculos (tártaro).

As dentaduras devem ser higienizadas mecanicamente com escovas apropriadas, denti-


frício não abrasivos ou sabão e água fria, sempre após as refeições.

O uso de uma técnica de escovação inadequada associada a produtos altamente abrasi-


vos levam ao desgaste das próteses (perda de material de rugosidade e do brilho, além
de problemas de adaptação).
Continua...

317
... continuação

Quadro 13.4 Higiene bucal do idoso dependente

Pacientes edêntulos (sem dentes), dentadura e/ou prótese parcial removível (roach)

As escovas para dentes naturais não devem ser utilizadas para higienização de próteses
removíveis, por três motivos principais: as cerdas possuem formato inadequado para
alcançar as áreas internas, dificuldade técnica e possibilidade de provocar acidentes
durante a escovação.

A escova de dente convencional tem causado desgaste no material da prótese, não


garantindo higienização adequada, uma vez que seu design não garante total alcance
nas superfícies interna e externa da prótese.

As escovas com formato anatômico desenvolvido para higiene de próteses removíveis


possuem cerdas mais macias para não danificarem a superfície polida do aparelho.
Essas cerdas são distribuídas nos dois lados da cabeça, sendo um tufo mais grosso para
escovar a parte externa da prótese e um mais comprido para alcançar as partes mais
profundas da região basal.

O uso de produtos caseiros como água sanitária ou produtos de limpeza (tipo sapólio)
não é indicado, uma vez que descolorem e agridem o acrílico (material utilizado na
confecção das próteses).
Fonte: http://www.colgateprofissional.com.br/pacientes/O-que-e-uma-boa-higiene-bucal/artigo

Figura 13.3 Técnica correta no idoso com dificuldade de abrir a boca

Fonte: http://www.colgateprofissional.com.br/pacientes/O-que-e-uma-boa-higiene-bucal/artigo

Próteses desadaptadas dificultam a comunicação, a mastigação e a ingestão de ali-


mentos e podem virar foco de infecção. A remoção das próteses durante a noite é reco-
mendada para que a gengiva e a mucosa oral não fiquem sob a ação das próteses e dos
possíveis microrganismos a elas associados. Essa recomendação não é bem aceita pela
maioria dos idosos, pois sua retirada e colocação no copo causa certo constrangimento.

318
Outro motivo para não dormir com as dentaduras é a diminuição da sua estabilidade e
retenção, pois a tendência do paciente é “segurá-las” pela ação muscular ou apertando
os dentes durante toda a noite, o que ocasionará dor devido à parafunção. Portanto, é
recomendável dormir sem a dentadura, deixando-a sempre em um copo com água e
bicarbonato ou produto efervescente para limpeza durante a noite.
Quando se coloca um novo par de dentaduras, pode parecer ao paciente que elas
estão frouxas, ocasião em que o profissional aconselha que se polvilhe um pouco de
pó adesivo na parte interna das mesmas, por poucos dias até a adaptação.
Os produtos de fixação não devem ser usados constantemente, pois aumentam a
pressão da dentadura sobre os tecidos. Estes não suportam essa pressão aumentada
e se contraem, fazendo com que cada vez maiores quantidades de pó sejam neces-
sárias para que a dentadura não fique frouxa, na percepção do paciente. O uso exa-
gerado do pó adesivo poderá, portanto, levar à necessidade de reembasar ou trocar
a dentadura antes do tempo.

É recomendada a escovação dentária três vezes ao dia, mesmo se o


paciente não se alimentar por via oral.

Atividade Integradora
A Mini-Avaliação da Saúde Bucal (página 25) deve ser feita em todo
idoso para identificação de problemas na cavidade oral capazes de
comprometer a saúde do idoso. Deve ser realizada regularmente e,
caso seja identificada alguma lesão ou queixa, deve-se solicitar a ava-
liação da odontologia.

Referências
1. BORAKS, S. Distúrbios bucais na terceira idade. In: BRUNETTI, R. F.; MONTENE-
GRO, F. L. B. Odontogeriatria: noções de interesse clínico. São Paulo: Artes Mé-
dicas, 2002. p. 85-98.
2. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 6.
ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 320 p.

319
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério
da Saúde, 2006. 192 p.
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 64 p.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p.
6. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Manual de especialidades em saúde bucal. Brasília: Ministério
da Saúde, 2008. 128 p.
7. BRITISH MEDICAL JOURNAL. Evidência clínica: conciso. Porto Alegre: Artmed,
2005. 624 p.
8. BRUNETTI, R. F.; MONTENEGRO, F. L. B. Odontogeriatria: noções de interesse
clínico. São Paulo: Artes Médicas, 2002. 481 p.
9. DUNCAN, B. B. et al. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária
baseada em evidências. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 1600 p.
10. ELIAS, R. Odontologia de alto risco: pacientes especiais. Rio de Janeiro: Livraria
e Editora Revinter, 1995. 171 p.
11. FIGUEIREDO, M. A. Z. et al. Alterações fisiológicas frequentemente presentes na
cavidade bucal do paciente idoso. Odontólogo Moderno, Rio de Janeiro, v. 20,
n. 4, p. 33-34, jul./ago. 1993.
12. MELLO, H. S. A. Odontogeriatria. São Paulo: Santos, 2005. 227 p.
13. PEDROSA, A. M. C. et al. Guia do dentista. Guia de medicamentos em lingua-
gem clara. Rio de Janeiro: Record, 1998. 985 p.
14. PUCCA JUNIOR, G. A. Saúde bucal e reabilitação na terceira idade. Odontólogo
Moderno, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, p. 27-28, 1995.
15. ROSA, A. G. F.; CASTELLANOS, R. A.; GOMES-PINTO, V. Saúde bucal na terceira
idade. Revista Gaúcha de Odontologia, Campinas, v. 41, n. 2, p. 97-102, 1993.
16. SILVA, E. M. M. et al. Mudanças fisiológicas e psicológicas na velhice relevantes
no tratamento odontológico. Revista Ciência em Extensão, São Paulo, v. 2, n.1,
p. 62, 2005.
17. SONIS, S. T. et al. Princípios e prática da medicina oral. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1996. 491 p.

320
Capítulo 14

Cuidados com Medicamentos:


Iatrogenia

Raquel Souza Azevedo


Soraya Coelho Costa Barroso Costa
Edgar Nunes de Moraes
Adriano Max Moreira Reis
Os medicamentos são substâncias químicas que atuam no organismo com a fina-
lidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas. Representam
importantes ferramentas que devem ser utilizadas quando houver indicação precisa.
Todavia, podem provocar efeitos colaterais que devem ser reconhecidos e tratados
precocemente. Todo medicamento apresenta um risco em potencial. O fármaco, que
é a substância ativa, presente na formulação do medicamento, tem efeitos terapêu-
ticos identificados em pesquisas realizadas em humanos e com rigor científico. O
efeito do medicamento é atribuído ao fármaco presente na formulação. Sua utiliza-
ção só deve ser considerada quando os benefícios superam os prováveis malefícios.
A liberação do uso de medicamentos para determinadas doenças é aprovada pelas
instituições reguladoras internacionais e nacionais. No Brasil, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão responsável pela fiscalização durante a pro-
dução e comercialização de todos os medicamentos.
Muitas vezes, os efeitos colaterais são confundidos com novas doenças ou atribuí-
dos ao próprio envelhecimento por si, dificultando seu reconhecimento. Além disso,
sabe-se pouco sobre as propriedades farmacológicas de vários medicamentos ampla-
mente utilizados em idosos frágeis, pois eles são comumente excluídos dos estudos
farmacêuticos necessários para a aprovação de novos fármacos. Outro aspecto rele-
vante é a alta frequência de interações medicamentosas do tipo fármaco-fármaco e
do tipo fármaco-doença. A prevalência de prescrições inapropriadas é alta em idosos
e é mais frequente na polifarmácia (uso diário de cinco ou mais medicamentos dife-
rentes) e nos idosos com 80 anos ou mais. Assim, para que os medicamentos tenham
o efeito desejado, eles devem ser usados de forma correta e de acordo com as orien-
tações do médico.

Tipos de Medicamentos
O medicamento aprovado pela ANVISA recebe uma marca, denominada nome
comercial. Se o medicamento é o primeiro a ser lançado no Brasil, é denominado me-
dicamento de referência. O laboratório fabricante tem, durante o período da patente,
o direito de comercialização exclusiva do medicamento. Após o vencimento da paten-
te, é possível registrar na ANVISA um medicamento genérico. O medicamento gené-
rico é igual ao medicamento de referência e possui qualidade, eficácia terapêutica e
segurança comprovadas em testes científicos. Não possui nome de marca, somente a
denominação química, que é o nome da substância ativa. Todo medicamento gené-

322
rico traz na sua embalagem uma faixa amarela com o “G” de genérico em destaque
e a identificação “medicamento genérico”.

Formas Farmacêuticas e Vias de Administração


As formas farmacêuticas são as diferentes formas físicas com que os medicamen-
tos podem ser apresentados, para possibilitar o seu uso pelo paciente. Propiciam os
seguintes benefícios: facilitam a administração, garantem a precisão da dose, prote-
gem a substância ativa durante o percurso pelo organismo, garantem a presença no
local de ação e facilitam a ingestão da substância ativa. Quando a forma farmacêutica
contém uma ou mais substâncias ativas, denomina-se medicamento em associação.
A via de administração é a maneira como o medicamento entra em contato com o
organismo, é sua porta de entrada. Têm-se as seguintes vias de administração:
• via oral: é a mais empregada pela facilidade de administração pois não ne-
cessita de equipamentos especiais. A absorção pode ocorrer na boca e trato
gastrointestinal. A maior parte dos comprimidos e cápsulas são ingeridos e
absorvidas no trato gastrointestinal. Os comprimidos sublinguais são absorvi-
dos na boca e devem ser colocados debaixo da língua. Idosos frágeis ou com
disfalgia e outros problemas de saúde podem necessitar de administração de
medicamentos por sondas. É uma via especial também conhecida como ente-
ral, mas a absorção pode ocorrer no estômago ou intestino;
• via parenteral: utiliza-se via intramuscular, endovenosa e subcutânea;
• inalatória: utilizadas pelo nariz ou boca, como as “bombinhas” para asma
e bronquite;
• tópica: cremes, pomadas, pastas, etc.
• via oftálmica: colírios e pomadas oftálmicas;
• via retal: supositório;

A via de utilização mais frequentemente utilizada pelo idoso é a oral, mas depen-
dendo da situação clínica podem ser empregadas outras vias, de acordo com a ava-
liação médica. Para cada via de administração há uma forma farmacêutica adequada.
Os comprimidos devem ser administrados ao idoso com um copo cheio de água
para garantir a desintegração no trato gastrintestinal. A administração com suco ou
leite deve ser realizada somente quando o médico orientar.
Nos idosos com dificuldade de deglutição (disfagia) e naqueles em uso de sonda na-
soentérica/nasogástrica pode ser necessária a trituração do comprimido. Determinados

323
tipos de medicamentos quando são triturados podem não produzir o efeito desejado
no organismo ou expor o paciente a riscos de efeitos adversos e mais toxicidade. Assim,
a trituração de comprimido deve ser sempre comunicada ao médico ou farmacêutico.
Também é necessário ter alguns cuidados para evitar o entupimento da sonda.
Os comprimidos efervescentes devem ser dissolvidos completamente, em um
copo de água, antes de serem ingeridos.
Os comprimidos sublinguais devem ser mantidos debaixo da língua, onde há a
liberação da substância ativa. A administração não deve ser acompanhada pela in-
gestão simultânea de água.
As cápsulas devem ser administradas sem abrir o invólucro de gelatina. Quando
esse procedimento for necessário, deve-se verificar com o médico ou farmacêutico se
é possível a abertura da cápsula sem comprometimento do efeito do medicamento.
Para administrar os medicamentos em pó é necessário dissolver ou misturar em água.
Os xaropes são preparações líquidas com grande quantidade de açúcar, por isso
são contraindicados para diabéticos. Existem xaropes para diabéticos nos quais o açú-
car é substituído por outra substância que garante as mesmas características.
Os xaropes, soluções e suspensões devem ser medidos corretamente, usando-se
os medidores que acompanham os medicamentos. Evite o uso de colheres caseiras.
As suspensões devem ser agitadas antes da medida da dose. Alguns medicamentos
líquidos precisam ser misturados antes de serem ingeridos. Siga a informação que
estiver no rótulo do produto. É necessário lavar a colher ou o copo que acompanha
o medicamento após o uso.
A via enteral é empregada para a administração da dieta e dos medicamentos,
usando-se sondas. Os medicamentos não podem ser adicionados à dieta. O Quadro
14.1 mostra os cuidados que devem ser tomados para a administração dos medica-
mentos por sonda.
A via subcutânea emprega seringa e agulha para administrar o medicamento
logo abaixo da superfície da pele, muito usada para aplicação de insulina. Os lo-
cais mais usados são no terço médio do antebraço, parte externa da coxa e região
abdominal. A técnica de administração por via subcutânea abrange as etapas mos-
tradas no Quadro 14.2.
Os medicamentos inalatórios estão disponíveis no comércio em várias apresen-
tações. É importante saber utilizá-los corretamente para obter o alívio e para tratar
adequadamente as doenças pulmonares. Em algumas situações é necessário fazer a
administração com o auxílio do espaçador. Procure orientações dos profissionais de
saúde antes de iniciar o uso desses medicamentos.

324
Quadro 14.1 Cuidados com a administração de medicamentos por sonda

Lavar a sonda antes e após a administração dos medicamentos com 20 a 40 mL de água.

Para os comprimidos que podem ser triturados é recomendado dissolvê-los em 20 mL


de água filtrada.

Não triturar dois medicamentos diferentes ao mesmo tempo.

Administrar um medicamento de cada vez.

Se for administrar mais de um medicamento no


mesmo horário, lavar a sonda com 5 mL de água
filtrada entre uma administração e outra.

Os medicamentos líquidos também devem


ser misturados em 20 mL de água filtrada.
Se o medicamento for muito grosso ou viscoso,
pode-se usar até 60 mL de água filtrada.

Verificar se existem restrições médicas na quantidade


de líquidos que pode tomar ou receber pela sonda.

Quadro 14.2 Etapas para a aplicação da insulina

Lavar as mãos com água e sabão.

Preparar todo o material que será utilizado: seringa com agulha, frasco de insulina, algo-
dão e álcool 70%.

Retirar o frasco da geladeira 15 minutos antes da aplicação.

Conferir o prazo de validade e o aspecto da insulina.

Misturar a insulina fazendo movimentos circulares e suaves com o vidro para que haja
homogeneização do seu conteúdo.

Limpar a tampa do frasco com algodão molhado no álcool e esperar secar.

Aspirar a quantidade prescrita.

Se estiver utilizando insulina regular e NPH ao mesmo tempo pode realizar a mistura em
uma mesma seringa aspirando primeiro a quantidade de insulina regular.

Passar outro algodão molhado com álcool 70% no local da aplicação com um movi-
mento único e aguardar secar.

Segurar a seringa com a mão dominante (Figura A) e com a outra mão fazer a prega
cutânea (Figura B).

Introduzir a agulha em ângulo de 90º com a pele com um movimento firme e rápido
(Figura C).
Continua...

325
... continuação

Quadro 14.2 Etapas para a aplicação da insulina

Se o idoso utilizar a caneta para aplicação ou agulhas menores (5 mm), não precisa
fazer a prega cutânea.

Puxar delicadamente o êmbolo da seringa um pouco para fora, se não atingiu nenhum
vaso sanguíneo, injetar a insulina pressionando devagar o êmbolo até o final (Figura D).

Caso tenha atingido algum vaso, você verá sangue na seringa, devendo retirar a agulha
e recomeçar o processo, escolhendo um novo local para aplicação.

Contar até 10 e retirar a agulha suavemente.

Pressionar o local com o algodão sem massagear, pois isso acelera o processo de absor-
ção da insulina.

Lembrar sempre de fazer o rodízio dos locais de aplicação, para evitar problemas na pele.

Sempre descartar as agulhas e seringas utilizadas no domicílio em recipiente de boca larga, com
tampa, de material rígido (exceto vidro) e depois levar à unidade de saúde para descarte final.

A B
Braços

Abdômen

Nádegas

C D
Coxas

Os medicamentos oftálmicos – colírios e pomadas – devem ser administrados


observando-se medidas que diminuem o risco de contaminação: lavar cuidadosa-
mente a mão antes de administrar; evitar o contato do conta-gotas ou extremidade
do fraco aplicador com os olhos, pálpebras e dedos; afastar a pálpebra inferior do
olho e pingar as gotas; manter os olhos fechados por um a dois minutos. Esperar
15 minutos entre a aplicação de colírios diferen-
tes. Após a abertura do frasco, a conservação de
um colírio ou pomada oftálmica é curta. Deve-se
escrever na embalagem do medicamento a data
da abertura do frasco. O prazo de utilização após
a abertura deve ser verificado na bula.

326
Os Medicamentos na Casa do Idoso
Os medicamentos, seja na farmácia ou na casa do idoso, devem ser guardados de
forma adequada para a preservação da sua qualidade e da sua estabilidade. Os estu-
dos de estabilidade de um medicamento definem o prazo de validade. É importante
manter na casa do idoso as condições informadas pelo fabricante para preservar a
estabilidade e a qualidade. O prazo de validade está indicado na embalagem do me-
dicamento, e o cuidador deve saber interpretá-lo. Por exemplo, quando o fabricante
indicar mês e ano, entende-se como vencimento do prazo o último dia desse mês. Se
o prazo é 03/2020, o medicamento poderá ser usado até 31 de março de 2020. Após
o vencimento os medicamentos não podem ser utilizados.

Cuidados com os medicamentos em casa:


• não é recomendado guardar medicamentos no banheiro, partes quentes
da casa, úmidas e de alta exposição ao sol;
• evitar guardar os medicamentos com produtos de limpeza,
perfumaria e alimentos;
• guardar em local seguro e de fácil acesso para o idoso ou
cuidador, preferencialmente em armário ou caixa própria
para essa finalidade. Deve-se escolher um local que não seja
de fácil acesso para crianças e idosos confusos;
• os medicamentos que exigem conservação sob refrigeração devem ficar na
geladeira nas prateleiras distantes do congelador. Evitar a porta da geladeira,
porque há variações e não mantém a temperatura de 2 a 8ºC. A insulina, por
exemplo, perde o efeito se for congelada;
• manter os medicamentos de uso contínuo em local separado dos outros
medicamentos que foram suspensos;
• manter os medicamentos de cada pessoa separados para evitar erros na
administração;
• verificar periodicamente os medicamentos, para identificar os prazos de
validade e se há alterações. Mudanças no medicamento como cor, mancha
ou cheiro estranho são sinais de alteração. Caso não seja membro da
família, é importante solicitar autorização para fazer essa verificação dos
medicamentos e eliminar os vencidos e com alterações;
• se o idoso utiliza porta-comprimidos para guardar medicamentos, recomenda-
se deixar somente a quantidade suficiente para um dia, evitando assim
alterações dos comprimidos. Manter os medicamentos em sua embalagem
original. Os recipientes devem ser cuidadosamente mantidos limpos e secos;
• abrir somente um frasco ou embalagem de cada medicamento por vez;

327
• manter os medicamentos nas embalagens originais para facilitar sua
identificação e controle da validade;
• a insulina, após aberta, deve ser usada em 30 dias, sendo assim, é importante
anotar a data de abertura no rótulo do frasco.

Em geral, os medicamentos devem ser armazenados protegidos da luz e do calor,


em ambiente fresco e os frascos devem estar bem fechados, evitando com isso alte-
rações que podem degradar a substância ativa.

Riscos dos Medicamentos para os Idosos


O modelo Multidimensional de Saúde do Idoso valoriza a iatrogenia como uma
das principais síndromes geriátricas ou “Gigantes da Geriatria”. É considerada síndro-
me pelas seguintes características:
• é normalmente subdiagnosticada;
• apresenta múltiplas causas;
• associada com aumento da morbimortalidade, sendo considerada causa im-
portante de declínio funcional, internação e quedas no idoso;
• tratamento complexo e interdisciplinar.

Um dos princípios primordiais da atenção ao paciente está incluído no juramento


de Hipócrates – primo non nocere (primeiro não produzir dano). Apesar de paradoxal,
os profissionais da área de saúde podem trazer muitos danos aos anciões, mesmo
sem consciência de seus atos. O termo iatrogenia deriva do grego onde iatros significa
médico e gignesthai nascer de onde deriva a palavra genesis – origem, produzir. Nes-
se sentido, iatrogenia seria compreendida como qualquer intervenção realizada pelo
médico. Para Organização Mundial de Saúde, iatrogenia é um evento adverso de um
medicamento ou a complicação decorrente de uma intervenção não medicamentosa.
A alta prevalência de doenças crônicas no idoso dificulta o diagnóstico e o tra-
tamento, levando os idosos a tomar grande quantidade de medicamentos. O uso
correto do medicamento é fundamental para a recuperação da saúde.
A administração dos medicamentos é uma atividade de grande responsabilidade,
que exige muita concentração. Os medicamentos são elaborados com substâncias
para beneficiar os pacientes, quando bem-indicados, mas também podem causar
muitos males se usados de forma inadequada.

328
Em virtude das alterações que ocorrem no organismo com o envelhecimento, tan-
to a farmacocinética (trajeto que o medicamento faz desde a absorção até sua com-
pleta eliminação) quanto a farmacodinâmica (ação do medicamento no organismo)
estão alteradas. Os idosos têm mais sensibilidade aos efeitos colaterais e interações
entre os diversos medicamentos usados.
O uso inadequado dos medicamentos pode causar danos aos pacientes, portanto,
somente devem ser administrados sob prescrição médica. A automedicação é um
problema muito sério e pode ter consequências perigosas nos idosos. Não devem
ser utilizados medicamentos que foram receitados para outras pessoas ou que foram
receitados pelo médico para o paciente em outra ocasião.
Os cuidadores devem estar sempre atentos a qualquer alteração do paciente e co-
municar imediatamente à equipe de saúde, pois alguns medicamentos podem favo-
recer quedas, agitação, confusão mental, dor de estômago, náusea, vômito, diarreia,
fraqueza, tosse, hipotensão postural, constipação intestinal, entre outros sintomas.
Para evitar danos decorrentes dos medicamentos é importante sempre levar todas
as receitas, exames e medicamentos em uso a todas as consultas médicas. Informe ao
médico se o idoso toma chás ou faz o uso de plantas medicinais. Mantenha a última
receita médica junto com os medicamentos.
O Guia de Saúde do Idoso deve ser usado para anotar todos os medicamentos
usados pelo paciente e facilitar o registro da história da utilização dos mesmos. De-
ve-se ficar atento ao nome da substância química ou princípio ativo do medicamento
e não o nome comercial. Por exemplo, o princípio ativo clonazepam é comercializado
através de vários produtos, como Rivotril®. Além dos medicamentos, os fitoterápicos,
suplementos e vitaminas também devem ser registrados. As reações adversas ou aler-
gias devem estar também registradas. É importante informar ao médico e equipe de
saúde durante a consulta. Não é raro o esquecimento dessas informações por parte
do familiar ou do acompanhante.

Medicamentos Potencialmente Inapropriados


para Idosos
Os medicamentos inapropriados devem ser evitados em idosos, pois apresentam
alto risco de efeitos colaterais mais graves no idoso frágil. Além disso, podem facil-
mente ser substituídos por medicamentos similares com melhor perfil de segurança.
Não significa, portanto, que esses medicamentos não sejam eficazes ou seguros em
outras faixas etárias. O primeiro passo para uma prescrição racional e segura em

329
idosos é a suspensão ou substituição dos medicamentos inapropriados pelos seus
substitutos mais seguros.

Quadro 14.3 Medicamentos potencialmente inapropriados para idosos

Baseado na dose
Baseado na substância química
ou no tempo de uso

Alprazolam Disopiramida Megestrol Digoxina


Amitriptilina Escopolamina Meloxicam > 0,125 mg por dia

Amiodarona Estazolam Meperidina Espironolactona


Beladona Estrógeno oral Metildopa > 25 mg por dia

Biperideno Etodolac Metoclopramida


Omeprazol ou outros
Carisoprodol Fenilbutazona Naproxen bloqueadores da bomba
de prótons: duração >
Ciclobenzaprina Fenobarbital Nifedipina 8 semanas, exceto em
condições específicas.
Cimetidina Flunarizina Nitrofurantoína

Cinarizina Flunitrazepam Óleo mineral

Clomipramina Fluoxetina Orfenadrina

Clonazepam Flurazepam Oxazepam

Clonidina Hidroxizine Paroxetina

Clordiazepóxido Hiosciamina Pentoxifilina

Clorpromazina Ibuprofen Piroxicam

Clorpropamida Glibenclamida Prazosin

Hormônio do
Codergocrina Prometazina
Crescimento

Dexclorfeniramina Imipramina Reserpina

Diazepam Indometacina Teofilina

Diclofenaco Levomepromazina Testosterona

Dimenidrinato Lorazepam Ticlopidina

Dipiridamol Meclizina Zolpidem


Fonte: Critérios de Beers e Stopp/Start modificado por Moraes, 2016.

330
Medicamentos de Alta Vigilância
Os medicamentos de alta vigilância apresentam indicação precisa para determina-
das doenças e, quando indicados, devem ser utilizados (Quadro 14.4). Todavia, têm
alto risco de efeitos colaterais, necessitando de cuidados especiais. Seu uso, sem os
devidos cuidados, pode ocasionar efeitos deletérios em todas as faixas etárias, princi-
palmente em idosos frágeis. Todos os idosos e seus cuidadores devem ser conscienti-
zados sobre a importância desses medicamentos no seu tratamento e alertados sobre
os riscos inerentes a eles; e quanto maior o grau de fragilização (vulnerabilidade),
mais cuidado com seu uso é necessário.

Quadro 14.4 Medicamentos de alta vigilância

Hipoglicemiantes orais
Classes
Terapêuticas Insulinas, em todas as formulações e tipos de dispositivos de administração

Opioides, em todas as formulações e vias de administração

Carbamazepina

Medicamentos Metformina
Específicos Propiltiouracila

Varfarina

Outra situação na qual o risco de ocorrência de eventos adversos é maior é du-


rante as mudanças de níveis de atenção (por exemplo: ambulatório – emergência;
enfermaria – unidade de tratamento intensivo; hospital – casa). Nessas situações, a
conferência de todos os medicamentos prescritos ou não nos diferentes níveis deve
ser feita. Estudos comprovam que a conciliação de medicamentos é uma estratégia
eficiente na redução de desfechos desfavoráveis.
Para o medicamento fazer o efeito desejável, é essencial usar de acordo com a re-
comendação médica e de forma correta. Outro cuidado fundamental é nunca esperar
que o medicamento acabe para providenciar nova receita, comprar ou buscar no posto
de saúde ou farmácia. Deve-se avisar aos familiares com antecedência. Dessa forma,
evitam-se falhas no tratamento e garante-se a adesão do idoso aos medicamentos.

331
Outras Formas de Iatrogenia no Idoso Frágil
O conceito de iatrogenia é mais amplo no idoso e se estende a qualquer ação realiza-
da por todos profissionais da área de saúde, incluindo o cuidador, bem como a omissão
de uma intervenção. Assim, podemos ter vários tipos de iatrogenia, como por exemplo:
• iatrofarmacogenia: o malefício decorre do uso de medicamentos, de poli-
farmácia, da interação medicamentosa, e do desconhecimento das alterações
farmacocinéticas e farmacodinâmicas associadas ao envelhecimento;
• internação hospitalar sem indicação bem definida: a hospitalização pode
potencializar os riscos decorrentes do declínio funcional, da subnutrição, da
imobilidade, da lesão por pressão e da infecção hospitalar;
• iatrogenia da palavra: associada ao desconhecimento de técnicas de comu-
nicação de más notícias;
• iatrogenia do silêncio: que decorre da dificuldade de ouvir adequadamente
o paciente e a sua família;
• subdiagnóstico: tendência em atribuir todas as queixas apresentadas pelo
idoso como fenômeno “da idade”, o que pode resultar em grave erro e atraso
no diagnóstico;
• cascata propedêutica: situação na qual a solicitação de exames é feita de
forma desnecessária, extensiva, sem indicação precisa;
• distanásia: caracterizada pelo prolongamento artificial da vida sem perspecti-
va de reversibilidade, com sofrimento para o paciente e sua família;
• prescrição de intervenções fúteis e/ou sem comprovação científica que im-
põem ao paciente risco desnecessário;
• iatrogenia do excesso de intervenções reabilitadoras: o excesso de “equi-
pe interdisciplinar” pode trazer consequências desfavoráveis para o paciente
assim como a polifarmácia.

O termo prevenção quaternária também é utilizado para a detecção de indivíduos


em risco de tratamento excessivo, a fim de protegê-los de novas intervenções inapro-
priadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis. Em suma, a prevenção da
iatrogenia. Busca-se evitar o “adoecimento iatrogênico”.

332
Atividade Integradora
O uso de medicamentos em idoso é a regra e cerca de 30% deles
usam cinco ou mais medicamentos todo dia (polifarmácia). Todos os
medicamentos em uso devem ser registrados, juntamente com a dose,
posologia, data de início e se foi ou não prescrito por médicos (página
17). A automedicação é frequente no idoso e representa um grande
perigo para sua saúde. Alguns idosos fazem uso de medicamentos
potencialmente inapropriados, que devem ser registrados e seu uso
deve ser discutido com o médico prescritor, pois são frequentemente
associados a efeitos colaterais nos idosos (página 18). Tais medica-
mentos devem ser evitados em idosos. Outro grupo de medicamentos
que devem ser registrados são aqueles de alta vigilância, que, apesar
de serem úteis, devem ser monitorados rigorosamente (página 19). A
presença de reações adversas ou alergias a determinados medicamen-
tos também devem ser registrados no guia de saúde (página 19).
O IVCF-20 (página 5) valoriza a presença de polifarmácia (questão 20),
que é um indicador de risco para o idoso.

Referências
1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária/ANVISA. O que devemos saber
sobre medicamentos. 2010. p. 1-61. Disponível em: <http://www.ebserh.gov.
br/documents/214604/816023/Cartilha+ANVISA.pdf/a0af7f45-7ef8-478c-bb-
06-9a1d2b4bdeb0>. Acesso em: 17 jun. 2016.
2. BRASIL. Farmacopeia brasileira. 5. ed. Brasília: ANVISA, 2010. 546 p. v. 1. Dis-
ponível em: <http://www.anvisa.gov.br/hotsite/cd_farmacopeia/pdf/volume1.
pdf>. Acesso em: 15 maio 2016.
3. MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação multidimensional do idoso. 5. ed.
Belo Horizonte: Editora Folium, 2016. 248 p.
4. SCHENKEL, E. P.; MENGUE, S. S.; PETROVICK, P. R. Cuidados com os medica-
mentos. 4. ed. rev. ampl. Florianópolis: Editora da UFSC; Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2004. 224 p.

333
Capítulo 15

Alimentação e Distúrbios da
Deglutição em Idosos Frágeis

Raquel Souza Azevedo


Ann Kristine Jansen
Danielle Nunes Moura Silva
Edgar Nunes de Moraes
A alimentação faz parte da rotina de qualquer pessoa e está associada a mo-
mentos prazerosos e de socialização. O ato de se alimentar é muito importante
para o bem-estar do idoso, mesmo frágil. A alimentação deve ser individualizada,
levando-se em conta as preferências do idoso, além de suas características nu-
tricionais e de sua consistência, nos casos de disfagia. Prazer, valor nutricional e
segurança são condições que devem ser avaliadas na escolha dos alimentos.
Hoje em dia há um excesso de informações sobre alimentação saudável, cada um
dizendo que isso ou aquilo é bom para saúde. Tem-se a impressão de que comer de
forma saudável é difícil e muito caro e que tudo o que se come não está adequado.
Ao longo do envelhecimento, as modificações na dieta também são necessá-
rias, por conta de mudanças nos músculos da face, nos dentes, na língua e nos
músculos internos da garganta, que podem diminuir a sensibilidade e movimen-
tação dessas estruturas, produzindo dificuldades para mastigar e deglutir. Uma
consequência preocupante é a entrada de alimento nos pulmões, também conhe-
cida como aspiração, causa frequente de pneumonia e óbito em idosos frágeis.
Nas próximas páginas pretende-se esclarecer esses conceitos, mostrando que
comer de forma saudável e segura é mais fácil do que se pensa. Será mostrado
que comer “comida de verdade” é fundamental para a manutenção e para a
recuperação da saúde. Além disso, vamos mostrar como identificar pequenas
alterações, reconhecer a necessidade da avaliação de profissionais especializados
e promover a saúde e bem-estar durante as refeições.

O Envelhecimento, a Alimentação e a Nutrição do Corpo


Quando o corpo envelhece, há diminuição
na acuidade sensorial (visão, audição, olfato,
Diminuição Alteração
gustação e tato), na capacidade de mastigar, da capacidade na acuidade
engolir e digerir os alimentos. A função intes- de mastigar e sensorial
engolir
tinal também fica mais lenta.
As alterações na acuidade sensorial, Diminuição
na digestão dos
mesmo quando pequenas, podem interferir alimentos
no apetite e na escolha de alimentos. As al-
terações gustativas (sabor) e olfativas (cheiro)
podem fazer com que o idoso sinta menos
o sabor de alimentos. Isso faz com que ele
Aumenta o risco
queira acrescentar mais sal ou açúcar aos de desnutrição

336
alimentos e pode reduzir a vontade de comer. O gosto metálico também pode
ocorrer. Alguns medicamentos, higiene oral inadequada e o fumo podem piorar
mais ainda a palatabilidade dos alimentos.

Estratégias nutricionais para contornar as alterações gustativas e olfativas:


• aumentar o uso de temperos naturais como alho, cebola, cheiro verde, louro,
manjericão, orégano e outras ervas aromáticas;
• espremer algumas gotas de limão sobre a comida;
• consumir frutas maduras e inteiras e não sob forma de sucos ou vitaminas.
Isso irá evitar a necessidade de acrescentar açúcar;
• retirar da alimentação os alimentos que provocam gosto
metálico ou “gosto ruim”;
• quando a carne vermelha é rejeitada, substituir por frango e ovo;
• não aumentar a quantidade de sal aos alimentos, a fim de
ser evitar o aumento da pressão arterial.

A diminuição da visão também pode alterar o consumo alimentar. O idoso


com incapacidade comunicativa reconhece menos os alimentos, reduzindo sua
habilidade em comer sozinho, precisando de ajuda. Criar contraste de cor no
prato (alimentos de cor diferentes) e colocar o prato sobre uma superfície escura
(toalha escura e prato claro) ajuda no reconhecimento dos alimentos.

A capacidade de mastigar pode estar alterada quando há perda de dentes,


próteses mal-ajustadas ou doenças dentais (perda de dentes, cáries) e periodon-
tais (gengivites, infecções na boca). A consulta ao dentista é fundamental para

337
verificar a extensão desse problema e propor soluções. No entanto, às vezes é
necessário alterar a consistência do alimento e reduzir o tamanho das porções
ofertadas. Comida cozida, mais macia e de menor tamanho (carne moída, car-
ne desfiada) ajudam a contornar problemas de mastigação. Contudo, o cuidado
para que essa alimentação não se torne monótona é importante, pois isso pode
reduzir o apetite e desnutrir o idoso. Higiene oral e evitar açúcar e alimentos
doces que aderem aos dentes são fundamentais para controlar esse problema.

Refeições monótonas reduzem o apetite e desnutrem o idoso.

Frequentemente os idosos também têm menos produção de saliva ou saliva


mais espessa (grossa) e a boca fica seca (xerostomia), o que prejudica a mas-
tigação e a deglutição. Alguns medicamentos pioram ou são a causa dessa si-
tuação. A desidratação também reduz a produção de saliva. Esse problema faz
com que o idoso reduza o consumo de alimentos mais secos e ásperos, como
algumas frutas, carnes e verduras, principalmente as cruas. O problema da boca
seca deve ser relatado ao médico para que ele verifique se o medicamento
pode estar interferindo.

Estratégias nutricionais para contornar a menor produção de saliva:


• alimentos azedos estimulam a produção de saliva. Pequena quantidade de
suco de limão sem açúcar pode ser oferecida antes das refeições;
• chupar gelo ou borrifar água dentro da boca ao longo do dia. Atualmente
existem produtos à base de “saliva artificial”, facilmente disponíveis em lojas
de produtos odontológicos;
• consumir alimentos com bastante molho ou caldo;
• frutas mais secas (banana, maçã, pera) podem ser oferecidas em forma de
sucos ou vitaminas;
• reduzir o consumo de sal;
• evitar cafeína (café, chá mate e chá preto) e bebidas alcoólicas;
• beber bastante água para garantir boa hidratação;
• balas e chicletes devem ser evitados, pois aumentam o risco
de cárie.

338
A alteração na sensibilidade térmica também pode estar presente e aumenta
o risco de queimaduras na boca. Quando presente, o idoso deve tomar cuidado
para não ingerir comida muito quente, principalmente os líquidos e pastosos,
como sopas, purês e mingaus.
A dificuldade de engolir ou deglutir é conhecida como disfagia. Ela normalmen-
te está relacionada a doenças e aumenta o risco de pneumonias por aspiração.
No estômago pode ocorrer gastrite por alteração na mucosa (parede) do estô-
mago e redução da produção de suco gástrico, interferindo na absorção de ferro
e vitamina B12, o que aumenta o risco de desenvolvimento de anemia e outras
doenças. Além disso, observa-se redução no tempo de esvaziamento gástrico,
que resultará na sensação de má-digestão e empachamento, que podem reduzir
mais ainda o apetite. O uso de antiácidos sem prescrição médica não é aconselha-
do, pode aumentar o risco de deficiência de ferro e outros problemas.

Estratégias nutricionais para contornar as alterações gástricas:


• realizar cinco a seis refeições por dia e reduzir o volume de comida nas
grandes refeições;
• evitar refrigerante, água com gás, bebidas alcoólicas, cafeína (café, chá mate
e chá preto), pimenta vermelha e preta, mostarda, alimentos gordurosos e
alimentos sintomáticos (que provocam mal-estar);
• refeições ricas em fibras podem retardar o esvaziamento
gástrico;
• não beber líquidos nas principais refeições;
• não beliscar nos intervalos das refeições;
• comer devagar, em local tranquilo e mastigar bem os alimentos.

A motilidade do intestino pode estar reduzida, aumentando o risco de consti-


pação. A inatividade física aumenta esse risco. Além disso, pode haver mudança
na microbiota intestinal, contribuindo para a má-função do intestino. Na consulta
médica e nutricional devem-se relatar as alterações intestinais, mesmo quando a
constipação é crônica e há a impressão de que isso é normal.
A produção de lactase pode estar reduzida ou ausente, o que causará má-di-
gestão de lactose. Nesse caso, deve-se evitar leite e derivados e preparações com
leite e substituir esses produtos por produtos com baixo teor de lactose. Um nu-
tricionista deverá ser consultado para avaliar a tolerância e orientar a alimentação.

339
Estratégias nutricionais para contornar a redução na motilidade intestinal:
• comer alimentos que contenham fibras em todas as refeições;
• fibras são encontradas em frutas, feijão e outras leguminosas, legumes,
verduras, cereais integrais;
• frutas como mamão e ameixa ajudam na função intestinal;
• comer alimentos frescos e crus;
• comer as frutas inteiras, quando possível, com casca, comer o
bagaço da laranja;
• beber pelo menos 2,0 litros de água por dia, nos intervalos
das refeições;
• aumentar a atividade física ajuda a motilidade intestinal.

Como acompanhar o estado nutricional?

Com o envelhecimento, a quantidade de massa muscular e água diminui, prin-


cipalmente a massa muscular, que se reduz 50% dos 20 aos 90 anos. Os homens
perdem mais massa muscular do que as mulheres. Isso ocorre mesmo no enve-
lhecimento saudável e em pessoas ativas, mas é mais intenso nos sedentários. No
entanto, quando a alimentação não é adequada, na perda de apetite, em doença
ou em idosos acamados, essa perda de massa muscular pode ser grave, levando
à fraqueza e à redução da força. Nesse caso, chama-se de sarcopenia, que é um
tipo de desnutrição. Nesse tipo de desnutrição, nem sempre o idoso é magro ou
aparenta estar desnutrido, mas ele apresenta fraqueza, cansaço e pouca dispo-
sição para a realização de exercícios, aumentando o risco de doenças, quedas,
fraturas e dependência.
Por outro lado, com o envelhecimento há aumento dos depósitos de gordura na
região visceral (no abdômen). Essa gordura aumenta o risco de doenças como hi-
pertensão, diabetes tipo II, doenças cardiovasculares, cálculo biliar (na vesícula), en-
tre outros. O risco dessas doenças aumenta quando a alimentação não é saudável.
Quatro medidas simples ajudam a identificar o estado nutricional: o peso, a
altura, a circunferência da panturrilha e a circunferência da cintura.

340
Figura 15.1 Dados antropométricos

Normalmente é avaliado nas consultas com os profissionais de saúde, pode even-


tualmente ser avaliado pelo próprio idoso em balanças de farmácia. Para uma boa
Peso* avaliação desta medida, as bolsas, os sapatos, os casacos e os objetos pesados
(chaves, celulares, carteiras etc.) devem ser retirados.

A altura nem sempre é fácil de avaliar principalmente quando há alterações posturais


Altura* que reduzem a altura do idoso. Neste caso utiliza-se a altura auto referida pelo idoso
ou por um familiar próximo.

Circunferência da É avaliada com auxílio de uma fita métrica. Contorna-se a fita métrica no maior diâ-
metro da panturrilha esquerda, diretamente sobre a pele. A perna deve estar relaxada
panturrilha no momento da avaliação.

Circunferência É avaliada contornando uma fita métrica na parte mais estreita do abdômen. O idoso
de cintura precisa estar de pé e o abdômen relaxado.

* Em idosos acamados ou cadeirantes o peso e a altura podem ser estimados por um profissional de
saúde. Nesse caso, a circunferência de cintura não será medida.

Após a avaliação dessas medidas, calcula-se o Índice de Massa Corporal (IMC),


dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Segundo o Ministério da Saúde, os
pontos de corte para a avaliação do estado nutricional do idoso são:

Baixo peso = IMC <22 kg/m2


Peso normal = IMC entre 22 e 27 kg/m2
Sobrepeso = IMC >27 kg/m2

A perda de peso de forma intencional ou não intencional também é impor-


tante, mesmo que o IMC continue sendo classificado como normal ou sobrepeso.
Isso porque a perda de peso está sempre associada à perda de massa muscular e
ao aumento o risco de sarcopenia. Assim, ela deve ser sempre informada a equipe
de saúde.
A circunferência de panturrilha é considerada uma das medidas mais sensíveis
para diagnóstico na massa muscular em idosos e o valor menor do que 31 cm
sugere baixa massa muscular em idosos de ambos os sexos.
Os pontos de corte da circunferência da cintura são 102 cm para homens e 88
cm para mulheres. Valores iguais ou acima destes indicam que a gordura visceral
está aumentada.

341
O que é comida de verdade?
Antes de falar sobre comida de verdade é preciso conhecer as quatro catego-
rias de alimentos conforme mostrado na Figura 15.2.

Figura 15.2 Categorias de alimentos

Alimentos in natura ou minimamente processados


São aqueles obtidos diretamente de plantas ou animais. São as frutas, legumes,
verduras, ovos, leite, carne, peixe, feijão, arroz, batata, mandioca etc.

Óleo, gorduras, açúcar e sal


São os extraídos de alimentos in natura e utilizados para cozinhar e temperar
alimentos e preparações culinárias.

Alimentos processados
Produtos fabricados com alimentos in natura acrescidos de sal, óleo, gordura ou açúcar.
São os legumes em conserva, doces de frutas ou de leite, pães, biscoitos caseiros,
pão de queijo, bolos, macarrão, queijo, iogurte, etc.

Alimentos ultraprocessados
*São os alimentos industrializados, como biscoitos recheados,
suco em pó, gelatina, refrigerante, macarrão instantâneo, salgadinhos,
salsichas, linguiças, temperos industrializados.

Fonte: Guia Alimentar para População Brasileira, 2014.

Comida de verdade é composta basicamente de alimentos in natura ou minima-


mente processados, em que o óleo, as gorduras, o sal e o açúcar são utilizados em
pequenas quantidades e os alimentos processados devem ser consumidos em pe-
quena quantidade como parte da refeição, pois contêm normalmente grande quan-
tidade de sal ou açúcar. Os alimentos ultraprocessados não fazem parte da comida
de verdade. Devem ser evitados, uma vez que têm composição nutricional desbalan-
ceada e estão relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas e obesidade.

Comida de Alimentos
Menor custo do que uma
verdade in natura
alimentação baseada em
é mais têm mais
alimentos ultraprocessados
saudável nutrientes

342
Algumas dicas para auxiliar a reduzir o consumo de óleo,
gordura, açúcar e sal:
• o consumo excessivo de sal aumenta a pressão arterial e o
risco de doenças do coração, pois ele é muito rico em sódio;
• o consumo excessivo de açúcar aumenta o risco de cáries e junto com o óleo
e a gordura está relacionado a ganho de peso e obesidade, pois é altamente
calórico. Em um cafezinho com açúcar podem-se encontrar 40 calorias. Uma
colher de sopa de óleo ou banha tem em torno de 70 calorias;
• açúcar branco, mascavo, demerara ou rapadura têm todos a mesma quantidade
de calorias;
• os temperos industrializados têm muito sódio. Um tablete de caldo de carne
tem 5 gramas de sal;
• em uma família de quatro pessoas sem hipertensão, um quilo de sal deve
durar 50 dias. Isso inclui o sal utilizado para fazer tempero caseiro;
• para temperar a comida, não utilize somente alho e cebola. Para cozinhar com
menos sal, é preciso incrementar o sabor com especiarias e ervas aromáticas
como cheiro verde, hortelã (saladas, quibe), gengibre (carnes cozidas, carne
moída, macarrão com frango), açafrão da terra (farofa, carnes, frango), louro
(feijão, sopas, carne moída, carnes com molho), orégano (molho de tomate,
saladas, legumes refogados), manjericão (molho de tomate, molho pesto, com
azeite, peixe assado ou cozido, saladas), coentro (peixes ensopados, pirão,
cuscuz), sálvia (frango, carnes) e outras de sua preferência. As ervas podem ser
plantadas em pequenos vasos, o que facilitará seu uso no dia a dia;
• em uma família de quatro pessoas, cinco quilos de açúcar devem durar em
torno de 50 dias;
• em uma família de quatro pessoas, um recipiente de óleo (900 mL) deve
durar em torno de 15 dias;
• o azeite de oliva também é um tipo de gordura, mas pode ser utilizado
diariamente em saladas ou pratos prontos, pois é muito saudável. Não
sugerimos cozinhar com azeite, pois ele é muito sensível a altas temperaturas
e perde suas propriedades.
• beber pelo menos 2,0 litros de água por dia, nos intervalos das refeições;
• aumentar a atividade física ajuda a motilidade intestinal.

Além dos ingredientes, a comida de verdade deve ser:


• colorida, para garantir a oferta de vitaminas e minerais e tornar a refeição
mais atrativa;
• variada, com o objetivo de fornecer uma variedade de alimentos e nutrientes,
evitando a monotonia alimentar;

343
• aroma e sabor agradável, para estimular o apetite do idoso;
• consistência adequada, respeitando as particularidades do idoso em relação
à mastigação e à capacidade de deglutição;
• segurança, no que se refere ao baixo risco de contaminação e também quan-
to ao risco de aspiração.

Alguns cuidados especiais com a alimentação do idoso


As refeições devem ser o café da manhã, almoço, jantar e dois lanches saudá-
veis por dia, de preferência todos os dias nos mesmos horários, não beliscando
entre as refeições. Comer devagar, com atenção, mastigando bem os alimentos
em todas as refeições.
As refeições devem ocorrer junto à família ou com amigos, a fim de propor-
cionar a convivência social e a interação. Sempre que possível, deve-se estimular o
idoso para se alimentar sozinho. Só oferecer comida na boca do idoso se houver
certeza da sua incapacidade para se alimentar.
O idoso tem a necessidade de proteína aumentada em função da perda de
massa muscular e mais dificuldade em produzir tecidos novos. No entanto, o que
se observa nesse grupo é que muitos reduzem o consumo de proteína, o que
aumenta o risco de sarcopenia. Proteínas são encontradas em alimentos de ori-
gem animal como carnes, ovos, peixe, frango e leite
e de origem vegetal como feijão, lentilha e soja. No
entanto, a proteína de origem animal é a de melhor
qualidade. Mas muitas vezes esses alimentos são
fonte de gordura saturada, assim, orienta-se a tirar a
pele de frango e a gordura aparente da carne.
Todas as três principais refeições do dia precisam ter pelo menos um alimento
rico em proteína. Por exemplo, leite ou ovo no café da manhã, peixe no almoço,
frango no jantar, além do feijão ou outra leguminosa no almoço e jantar. Mesmo
que o jantar tenha sopa ou seja um lanche, é importante ter uma fonte de pro-
teína (por exemplo, sopa de feijão com carne, sopa de legumes com carne, ovo,
queijo e vitamina de frutas).
Os alimentos de origem animal, além de serem ricos em proteínas, são tam-
bém boa fonte de vitamina B12 e ferro, essenciais para evitar anemia por deficiên-
cia de ferro ou vitamina B12. O exame de sangue pode avaliar a deficiência desses
nutrientes e também a anemias.

344
O mito do ovo: o ovo, além ser excelente fonte de
proteína, contém outros nutrientes como vitaminas
e minerais. Por sua elevada quantidade de colesterol,
acreditava-se que ele deveria ser evitado para prevenção
de doenças do coração. No entanto, pesquisas mostraram
que o consumo de um ovo por dia não aumenta os níveis
de colesterol sanguíneo e o risco cardiovascular.

Leite e derivados são excelentes fontes de proteína e cálcio, mineral importan-


te na saúde óssea e função muscular. O cálcio também é encontrado em vegetais
folhosos verdes escuros, gergelim, amêndoas e em alguns peixes como sardinha,
lambari e manjuba. O idoso precisa de duas a três porções de leite ou derivados
por dia, além de outras fontes de cálcio na alimentação. Na intolerância à lactose,
o leite precisa ser substituído por leite com menor teor de lactose ou por produto
à base de soja (leite de soja) enriquecido com cálcio. Refeições com elevado teor
de sal e elevado consumo de café reduzem a absorção do cálcio.
Comer frutas, legumes e verduras todos os
dias, estes são ricos em fibras, vitaminas, minerais
e compostos bioativos que melhoram a saúde e
previnem doenças.
A vitamina D no idoso é importante para evitar
a osteoporose, ajudar na força muscular e no equilíbrio. É encontrada em leite
integral e seus derivados, peixes e castanhas. Ela nem sempre é consumida em
quantidade suficiente pelos idosos, pois eles têm necessidades aumentadas dessa
vitamina. A exposição ao sol, por 10 a 15 minutos entre 10 e 14 horas ajuda a
atingir suprir a vitamina D que o idoso precisa. No entanto, todo idoso, principal-
mente aquele que não pode se expor ao sol, precisa ter a vitamina D do sangue
avaliada pela equipe de saúde para verificar a necessidade de suplementação.
Beber pelo menos 2 litros (seis a oito copos) de
água filtrada ou fervida por dia. Dar preferência ao
consumo de água nos intervalos das refeições. O idoso
sente menos sede, portanto, é necessário beber água
mesmo sem sede. A água pode ser aromatizada com
gotas ou casca de limão (higienizar a casca antes de
colocar na água) ou com folhas de hortelã. Isso ajuda
a melhorar o consumo de água e evitar desidratação e
constipação intestinal.

345
Lavagem e a desinfecção de verduras, frutas e legumes

• retirar as partes estragadas das frutas, legumes e verduras. Legumes como


cenouras, abóbora moranga, chuchu deverão ser descascados;
• lavar em água corrente os vegetais folhosos, folha a folha, e as frutas e legu-
mes, um a um;
• colocar de molho, por 15 minutos, em água com hipoclorito de sódio própria
para uso em alimentos (verificar no rótulo), sendo 1 colher de sopa do produto
para 1 litro de água;
• retirar os alimentos da solução clorada e enxaguar em água potável;
• escorrer a água e picar os alimentos da forma desejada;
• manter sob refrigeração até a hora de servir.

Cuidados na Perda de Apetite


Na perda de apetite e desnutrição devem-se incluir nas refeições alimentos
que forneçam grande quantidade de nutrientes em pequenas porções. Algumas
opções são incluir óleo ou azeite na alimentação após o preparo, nozes, casta-
nhas, amendoim (que podem ser liquidificados quando houver necessidade de
alimentos mais pastosos), pasta de amendoim ou gergelim, sorvete, mel, creme
de leite, entre outros. Às vezes é necessário utilizar suplementos nutricionais.
Quando observar ou suspeitar de desnutrição, com perda de apetite e de peso e
fraqueza, o médico e o nutricionista precisam ser consultados.

Engasgo
É quando um alimento sólido, pastoso ou líquido entra nas vias respiratórias,
podendo ocasionar aspiração e sufocamento.

O que fazer se o paciente está engasgado?


A dificuldade para engolir ou engasgos ao se alimentar devem ser valorizados
e representam um sinal de alerta para o risco de aspiração. Nunca deve ser con-
siderado “normal da idade”. O fonoaudiólogo é o profissional responsável pela
avaliação da deglutição e pode sugerir mudanças que facilitam a deglutição e,
assim, reduzir o risco de aspiração. O cuidador deve estar atento alguns sinais e
sintomas da disfagia (Quadro 15.1).

346
Manobra de Fúrcula
Apertar utilizando um dedo o final do pescoço – onde fica um “buraco” –
com pressão e rápido.

Manobra de Heimlich
Abrace o idoso pelas costas apertando com os dois braços a
“boca do estômago”.

Retirada Mecânica
Com o dedo, tentar retirar o alimento ou objeto, provocando vômito.

Quadro 15.1 Sinais e sintomas de disfagia

Alterações de mastigação
Consequências
e deglutição

Dificuldade em triturar os Alteração no bolo alimentar, restos de alimentos na cavi-


alimentos dade oral durante e após engolir.

Dificuldade de fechar os lábios Escape de alimentos da cavidade oral.

Incoordenação e lentidão nos movimentos


Redução do tônus (força)
da língua, dificultando o transporte do alimento até o
da língua
estômago.

Dificuldade de perceber o alimento na cavidade oral e


Alteração na sensibilidade na garganta;
intraoral e na parte interna Muito tempo com o alimento parado na boca, antes
da garganta (faringe) de engolir;
Constante perda de saliva pela boca.

Dificuldade na introdução do alimento para dentro da


Abertura reduzida da
cavidade oral;
cavidade oral (boca)
Hesitação para deglutir (engolir).

Sensação de “bolo” parado ou dor na garganta;


Tosse após a ingestão do alimento;
Redução do tônus (força)
Regurgitação do alimento ingerido para o nariz;
dos músculos da garganta
Intolerância a sólidos e/ou líquidos;
Necessidade de ingerir líquidos durante as refeições.
Continua...

347
... continuação

Quadro 15.1 Sinais e sintomas de disfagia

Alterações de mastigação
Consequências
e deglutição

Atraso ou ausência do Penetração e/ou aspiração do alimento nas vias aéreas


reflexo de deglutição (pneumonias aspirativas);
Atraso ou ausência do Voz molhada após deglutição;
reflexo de tosse Pigarro (arranhar a garganta).

“Dor no peito” após deglutição;


Outras alterações Fadiga/cansaço ao comer ou beber;
Sudorese/prostração.

Disfagia no Idoso: como Identificar e Prevenir Aspiração

A disfagia é qualquer dificuldade efetiva na condução do alimento da boca até


o estômago, podendo trazer complicações clínicas, como desnutrição, desidrata-
ção e aspiração tanto da saliva quanto do alimento. A principal complicação da
disfagia é a pneumonia de aspiração.

Dicas para seguir antes de iniciar a oferta de alimentos e


bebidas em idosos com disfagia:
• posicionar o idoso assentado a 90º, sempre que possível. Se o
idoso estiver com sondas ou não consiga sair da cama para se
alimentar, posicioná-lo de 30 à 45º;
• oferecer a comida somente se o idoso estiver alerta ou acordado;
• o idoso deverá sempre que possível sentar-se à mesa para alimentar;
• se estiver administrando refeição a um idoso muito confuso ou que interage
pouco deverá anunciar o que irá fazer: “vamos começar a almoçar”, “abra a
boca”, “mastigue”, etc.;

348
• o idoso com demência pode se esquecer de engolir os alimentos em sua boca.
Fale o tempo todo “tem comida na boca, pode engolir”;
• certifique que o idoso já engoliu toda a comida/bebida, antes da próxima
colherada ou próximo gole;
• ofereça o alimento sempre quente, se ele esfriar, esquente novamente, para
continuar a oferecer ao idoso;
• se estiver administrando refeição a um idoso agitado, peça para que o paciente
não fale enquanto estiver com comida ou bebida na boca, conversar pode
causar tosse e engasgo;
• o idoso deverá beber os líquidos em pequenos goles para que possa ter mais
controle;
• siga as orientações do médico, nutricionista, fonoaudiólogo, etc. Idosos com
demência podem precisar de adequações, como por exemplo oferta somente
de alimentos pastosos ou uso de espessante;
• sempre comunicar qual refeição e quais alimentos serão ofertados naquele
momento. Por exemplo: “Sra. Eloíza, agora vamos almoçar e hoje temos arroz
com feijão, purê de abóbora, frango desfiado...”;
• deixar o alimento na frente do idoso para estimular o processo de salivação. As
refeições devem ser apetitosas aos olhos;
• é importante aproximar o alimento das narinas para o idoso sentir o cheiro
do alimento;
• usar talheres e materiais apropriados.

Dicas para seguir durante a oferta de alimentos e bebidas:


• o alimento deve ser oferecido em pequenas quantidades;
• o cuidador deve permanecer assentado na frente ou do lado
do idoso. Não se recomenda ofertar as refeições em pé, pois
essa posição do cuidador transmite a sensação de pressa e
descuido;
• respeitar o tempo do idoso, esperá-lo engolir totalmente para ofertar a
próxima colherada/garfada ou o próximo gole;
• o idoso deve o tempo todo ser estimulado para que não perca a concentração.
Lembrar ao idoso de mastigar e engolir o alimento: “Sra. Eloíza, tem comida
na boca, pode engolir”;
• manter o ambiente tranquilo e evitar ruídos que possam distrair o idoso, como
televisão;
• evitar oferecer líquidos durante as refeições, pois eles são difíceis de serem
controlados na cavidade oral, facilitando a entrada de alimentos nas vias
aéreas, provocando tosse, engasgos e até pneumonia de aspiração;

349
• evitar a oferta de alimentos secos, eles podem promover engasgos;
• utilizar copos pequenos para evitar que o idoso vire a cabeça para trás quando
engole;
• usar canudos para beber líquidos, pois o movimento de sucção controla e
estimula uma deglutição mais segura;
• caso seja necessário, utilizar espessantes para modificar a consistência dos
alimentos, mas sempre com orientação de um fonoaudiólogo ou de um
nutricionista;
• caso seja necessário, utilizar manobras para facilitar a deglutição, sempre com
orientação de um fonoaudiólogo;
• interromper imediatamente a oferta em caso de engasgos, alteração brusca do
ritmo respiratório (muito cansaço), sonolência extrema, queda de saturação, etc.

Dicas para seguir após a oferta de alimentos/bebidas:


• no idoso frágil, com dificuldade de mastigação e/ou disfagia,
após a deglutição pedir ao idoso para abrir a boca e verificar
se existem resíduos de alimentos dentro da cavidade oral. Se o
idoso não deglutir os restos alimentares que permaneceram na
cavidade oral, o cuidador deverá retirá-los (calce uma luva, embrulhe o dedo
ou use uma espátula com gaze e limpe toda a boca);

• fazer higiene oral após cada refeição:


• retirar a dentadura, forrar a pia com uma toalha para escovar a prótese
(se cair, evita quebrar) e limpar com escova própria para dentaduras com
pasta de dente ou água e sabão;
• com escova de cerdas macias + pasta de dente ou dedo + gaze + antis-
séptico bucal diluído em água potável, passar em: língua, céu da boca,
bochechas internas, gengivas e dentes remanescentes (se houver).
• após a refeição, manter o idoso assentado pelo período de 30 minutos, no
mínimo, para evitar refluxo.

350
Uso de adaptadores e facilitadores da alimentação

• pode ser necessário o uso de dispositivos de auxílio


ou adaptação dos talheres e prato, para aumentar
a independência e a participação do idoso durante
as refeições;
• se o idoso tem tremores importantes, utensílios
pesados e engrossados são úteis;
• sugere-se a utilização de toalhas/jogos americanos
antiderrapantes ou pratos com ventosas de borra-
cha que se fixam à mesa e abas que evitam que o
alimento derrame do prato;
• deixar os alimentos já picados em pequenos peda-
ços para facilitar o manuseio;

• copo com recorte para o nariz


ou canudo auxilia os idosos
com dificuldade para coordenar
movimentos de cabeça e braço;

• é fundamental evitar utensílios com desenhos infantis para não infantilizar o


idoso;

• sempre deixar disponível próximo do idoso uma toalha


para a limpeza da boca. Caso o idoso faça as refeições no
leito, colocar a toalha branca sobre a região do tórax para
evitar que restos alimentares caiam na roupa do idoso, o
que denota falta de higiene.

351
Uso de mamadeira

A oferta de alimentos em pacientes com demência nas fases muito avançadas


não é tarefa fácil. Todas as alternativas disponíveis não são completamente seguras
ou eficazes. Desta forma, deve-se enfrentar esse desafio sem ideias preconcebidas e
tendo como objetivo a melhoria da qualidade de vida do paciente e de sua família,
em especial, o cuidador. Neste sentido, o uso da mamadeira pode ser uma opção
a mais para ser avaliada, em casos bem extremos, quando todas as manobras de
alimentação falharem. Como regra geral, a oferta de alimentos através do uso de
mamadeira não deve ser utilizada. Aspectos psicológicos, fisiológicos e nutricionais
são essenciais e devem ser discutidos com a família. Inicialmente, deve estar claro
que a intenção não é infantilizar o idoso, tampouco reforçar a ideia errônea que o
“idoso vai se tornando uma criança”. O objetivo do uso da mamadeira seria exclusi-
vamente facilitar a oferta de alimentos naquele idoso frágil, portador de incapacidade
cognitiva avançada, completamente dependente (estrato 10) e com disfagia, que
é incapaz de mastigar e deglutir alimentos sólidos ou, até mesmo, de consistência
pastosa. O objetivo seria retardar ou evitar o uso de vias alternativas, como a sonda
nasoentérica ou a gastrostomia. A mamadeira deve ser utilizada somente quando o
idoso apresentar coordenação sucção/deglutição/respiração eficiente, evitando-se o
risco de aspiração. A presença de sinais e sintomas de disfagia são sinais de alerta
que sugerem a interrupção do seu uso. O posicionamento correto do idoso na hora
da alimentação é também medida essencial, devendo-se evitar a oferta quando o
mesmo estiver deitado e com a cabeceira baixa. Outro aspecto relevante é o valor ou
densidade calórica e proteica da alimentação oferecida pela mamadeira. Sabe-se que
uma alimentação líquida frequentemente apresenta quantidade de calorias e nutrien-
tes abaixo das necessidades nutricionais do idoso, principalmente no que se refere
aos macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras). O diâmetro do furo no bico
é diretamente proporcional à densidade dos alimentos. Assim, bicos com furo estreito
necessitam de alimentos mais líquidos e, portanto, de menor densidade calórica. Por
sua vez, furos mais largos permitem alimentos mais densos, mas, em contrapartida,
aumentam o volume que chega à boca, podendo dificultar o controle oral e, conse-
quentemente, aumenta o risco de aspiração.

352
Atividade Integradora
Os dados antropométricos devem ser registrados no guia de bolso e
acompanhados longitudinalmente (página 10). O peso, estatura, IMC
e circunferência da panturrilha devem ser avaliados pelo menos uma
vez ao ano.
A necessidade de gastrostomia, jejunostomia, ileostomia, colostomia,
sonda nasoentérica ou nasogástrica deve ser registrada e o cuidador
de idosos deve estar preparado para os cuidados necessários com
estes dispositivos de auxílio à alimentação (página 12).
Os hábitos alimentares também devem ser avaliados regularmente,
particularmente no que se refere ao consumo de proteínas de alto
valor biológico.

Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Guia alimentar para população brasileira. 2. ed. Brasília: Minis-
tério da Saúde, 2014. 158 p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
cacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2016.
2. FEIJÓ, A. V. Distúrbios da deglutição em idosos. In: JACOBI, J. S.; LEVY, D. S.;
SILVA, L. M.C. (Org.). Disfagia: avaliação e tratamento. Rio de Janeiro: Revinter,
2003. p. 225-232.
3. LIMA, R. M. F. et al. Adaptações na mastigação, deglutição e fonoarticulação em
idosos de instituição de longa permanência. Revista CEFAC, São Paulo, v. 11, p.
405-422, 2009. Suplemento 3.
4. SILVA, L. G.; GOLDENBERG, M. A mastigação no processo de envelhecimento.
Revista CEFAC, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 27-35, 2001.
5. SOUZA, B. B. A. et al. Nutrição e disfagia: guia para profissionais. Curitiba: Nu-
troclínica, 2003. 60 p.
6. TANURE, C. M. C. et al. A deglutição no processo normal do envelhecimento.
Revista CEFAC, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 171-172, 2005.

353
Capítulo 16

Resgatando a História
do Idoso e seus Anseios

Edgar Nunes de Moraes


Márcia Aparecida de Abreu Fonseca
Raquel Souza Azevedo

"Pessoalmente, penso que chega um momento na vida da gente,


em que o único dever é lutar ferozmente para introduzir, no tempo
de cada dia, o máximo de ‘eternidade’. Rezo, escrevo, amo, cumpro,
suporto, vivo – mas só me interessando pela eternidade".

Guimarães Rosa.
O termo “resgatar” vem do latim “re + ex + captare”, recuperar. Resgatar também
está ligado às ideias de livrar alguém do cativeiro (por exemplo: após a entrega de
um dinheiro ou presente); ou cumprir tarefas; expiar, tornar esquecida uma dívida
(por exemplo: uma culpa ou ofensa). E quando falamos em resgatar a história do
idoso, chamamos a atenção para algo muito importante, visto o valor que o passado
tende a receber para os que se encontram num momento particular de ressignificar a
própria vida. A maneira como cada idoso lida com o seu passado é única e interfere
diretamente em sua qualidade de vida presente e perspectivas.
Por outro lado, o termo “envelhecer” é descrito no dicionário Aurélio como fa-
zer-se velho, aquele que existe há muito tempo. Na gíria da juventude, “velho” é o
pai, mas também pode ser o irmão, amigo, parceiro, independentemente da idade.
Envelhecer é um processo dinâmico, progressivo, envolvendo mudanças biológicas,
funcionais e psicológicas. Junto às mudanças, entretanto, observa-se a resistência por
meio da redução da capacidade de adaptação ao meio. Assim, envelhecer diz respei-
to a todos e de todas as idades, pois estamos envelhecendo a cada dia. Os pais de
cada pessoa envelhecem. Culturalmente, não devemos julgar o modo como a velhice
é tomada em uma dada parte do mundo, a partir de nossas próprias representações.
Mas, embora as questões de clima e de sobrevivência possam ser hostis e o medo
de morrer seja uma realidade da condição humana, é interessante considerar que
algumas culturas do mundo sejam extremamente cruéis com seus idosos, enquanto
outras, em condições até mais difíceis, conseguem ser cuidadosas, acolhedoras e
respeitosas com os mais velhos. A velhice em cada sociedade é tomada de forma
diferente e exige decisões específicas de seus membros.
O mal-estar na civilização foi associado por Freud (1930) a três fontes de infelicidade:
• o envelhecimento do nosso próprio corpo;
• as surpresas do mundo exterior;
• o enigma do relacionamento com os outros.

Isso continua valendo. O mundo atual globalizado e acelerado tem trazido desa-
fios crescentes a jovens, adultos e idosos. Constata-se que os recursos simbólicos de
que se dispõe para lidar com as frustrações e perdas, em vez de se ampliarem com
os conhecimentos da ciência e da experiência de vida, infelizmente estão diminuindo
diante de tantas opções capitalistas de consumo e de objetos ilusórios de prazer rápi-
do. Enfim, envelhecer nos tempos modernos traz uma dificuldade a mais, em que o
domínio da imagem estruturado por promessas de juventude, beleza e saúde eternas
atravessa as gerações, aumentando a ansiedade e a angústia de viver. Sustentar um

356
lugar para o idoso e para sua história envolve não ceder frente à massificação, implica
apostar no sujeito singular presente em cada um de nós.

Trajetória da Conquista da Sabedoria


Os ciclos da vida podem ser divididos em infância, adolescência, adultez e velhice.
Essas fases são caracterizadas por diversas transformações somáticas e psíquicas que
devem ser entendidas para reconhecer como está a trajetória de vida de cada um de
nós. O envelhecimento somático é inexorável, pois depende quase que exclusivamente
da passagem do tempo. Hábitos de vida saudáveis e fatores de risco são os principais
determinantes, além de fatores genéticos. Por sua vez, o envelhecimento do psiquismo,
aqui descrito como sendo a conquista da sabedoria ou amadurecimemento, depende
parcialmente da passagem do tempo, mas, sobretudo, do esforço pessoal contínuo na
busca do autoconhecimento e da compreensão do sentido da vida. Ambos ocorrem
paralelamente, mas o “saldo final” pode ser extremamente variável, dependendo do
aproveitamento das oportunidades que a vida nos oferece (Figura 16.1).

Figura 16.1 Trajetórias do envelhecimento somático e psíquicos.


Beleza
Harmonia
Paz interior
Liberadde plena

Independência VELHICE Envelhecimento


Liberdade (>60 anos) psíquico
Cooperação
Cordialidade

ADULTEZ Envelhecimento
Reflexão (18 a 60 anos) somático
Questionamento
Busca de uma filosofia de vida

ADOLESCÊNCIA
(12 a 18 anos)
Preparação para a vida
CONCEPÇÃO

Instrução e disciplina

INFÂNCIA
MORTE

(0 a 12 anos)

TEMPO
ENVELHECIMENTO
É uma medida da passagem do tempo

357
A infância psíquica é a fase inicial de preparação para a vida, em que o indivíduo
começa a se criar, isto é, instruir, disciplinar. Tem início no nascimento e perdura até
os 12 anos. No período de zero a nove meses o indivíduo não percebe sua individua-
lidade e não consegue se ver separado dos outros indivíduos e das coisas. A criança
recém-nascida é toda carência e apelo, seu desvalimento é total. Essa fase é normal
até os nove meses de vida e, após essa idade, essa sensação traduz desarmonia a
partir da qual o indivíduo distorce a realidade, não vendo saída para a sua situa-
ção. O indivíduo nega-se a buscar a solução para sua sobrevivência. A desarmonia
é absoluta, associada à constante temática de desagregação e catástrofes de toda a
ordem, utilizando-se de todos os meios para chamar a atenção das pessoas, a fim de
que sintam piedade e façam algo por ele. Com o surgimento da memória, aos nove
meses, a criança passa a perceber que depende totalmente de um indivíduo adulto
que providencie tudo de que necessita e cria com ele uma relação de medo, pois, se o
desagradar, ficará na penúria. É a fase da fobia, normal dos nove aos 18 meses. Após
os 18 meses, essa sensação traduz desarmonia pela qual o indivíduo não se liberta
da sensação de estar sendo abandonado. Ele utiliza todos os meios para a criação de
situações de medo: medo do espaço, do escuro, de altura, da multidão, de falar ou
aparecer em público, etc. Agradar sempre e ser submisso é a fórmula mágica para ser
bem-sucedido. O indivíduo reconhece a completa dependência e acredita na ideia de
que a única saída é obedecer, custe o que custar.
Posteriormente, a criança de 18 a 36 meses passa a reagir ao medo e adota a con-
duta de agredir sempre a pessoa que, segundo a sua concepção, deveria cuidar dela.
Só depois dos 18 meses a criança começa a perceber-se completamente separada
dos pais e tem a sensação incoercível de que precisa reagir. Após os três anos, essa
sensação traduz desarmonia e caracteriza-se pela necessidade de reagir à percepção
da sua dependência. São indivíduos que pensam que a única saída é desobedecer,
utilizando-se de todos os meios para demonstrar a sua desobediência em quaisquer
circunstâncias. Seu mundo é regido pela lei da insubmissão.
Após os três anos, a criança torna-se esperta, pois percebe que nem sempre revol-
tar-se vai levá-la a obter o que deseja. Passa a adotar as condutas de fingir-se colérica ou
tímida ou desvalida, conforme sua imaginação conclua qual atitude que vai gratificá-la
em cada momento. É a fase da histeria, que se estende dos três aos seis anos. A criança,
liberta do receio de ser castigada pelo mal cometido, percebe que é capaz de múltiplas
e variadas representações, tornando-se uma incontrolável imaginadora de papéis.
Dos seis anos em diante, essa sensação traduz desarmonia e caracteriza-se pela
permissividade, ou seja, vale tudo para se atingir o fim desejado. O indivíduo não se

358
liberta da sensação de que deve ser dissimulado o tempo todo, fixa-se na farsa da
obediência e só atua no sentido da inautenticidade estabelecida. Utiliza-se de todos
os meios para a fabricação de papéis que supõe serem adequados ao seu propósito.
A criança desenvolve, após a fase da histeria, atitude de objetividade em face das
situações de vida. Ao impulso natural de busca de bem-estar responde com a inda-
gação a respeito de qual conduta é necessária para obter o efeito desejado. A criança
passa a responder ao ambiente com franqueza e honestidade. É a fase do ser prático,
que vai dos seis aos 12 anos. O indivíduo é todo ponderação, sua dúvida torna-se
metódica, busca compreender o que ocorreu para as coisas serem como estão sendo
e o que ocorreria se o que foi feito pudesse ser desfeito e outra conduta tivesse tido
lugar. O indivíduo vai tornando-se cada vez mais independente do adulto, capaz de
atuar no mundo de forma prática ou ponderada. Começa a compreender a lógica das
coisas, exigindo maior acervo de informações sobre o mundo. É a fase do surgimento
da razão, ponderação e da reflexão. O indivíduo esboça o desejo de compreender o
sentido da vida. Está, assim, preparada a base sobre a qual vai assentar-se a constru-
ção progressiva do ser humano. Essa fase é normal dos seis aos 12 anos e após essa
idade a limitação decorre do amor ingênuo, ou seja, o indivíduo acha que se dedi-
cando ao objeto amado ele necessariamente retribuirá a sua dedicação. Sempre que
frustrado, pode viver estados regressivos de histeria, raiva, medo e angústia. A pessoa
fixada nessa fase acha que deve ser prática o tempo todo. Fixa-se na franqueza da
honestidade e não se conscientiza dos embaraços que sua franqueza pode causar.
Dessa forma, as fases da infância psíquica evoluem no sentido de um equilíbrio cada
vez maior, preparando a base sobre a qual vai assentar-se a construção progressiva do
ser humano, que visa sempre a assimilar o mundo exterior, conquistar as coisas e a si
próprio. O período seguinte de preparação para a vida é o da adolescência.
A adolescência inicia-se a partir dos 12 anos e perdura até 18 anos, fase em que o
indivíduo encontra-se no auge da preparação para a existência. Dois eventos ocorrem
que modificam radicalmente a vida da criança, a puberdade e o raciocínio abstrato.
A criança latente, aparentemente equilibrada e madura (ser prático), torna-se um ser
fisicamente desproporcional e com atitudes psíquicas desproporcionais aos eventos. O
pré-adolescente (12 aos 15 anos) vive, mais uma vez, a angústia do desconhecido, sente
fobia do seu novo corpo, raiva da liberdade e histeria do chamamento de papéis que
não sabe ainda representar. Capaz de abstração, começa a questionar filosoficamente
as diretrizes de vida que lhe vinham sendo impostas desde sempre. Começa a liberta-se
das rotinas culturais preestabelecidas e criar o seu próprio estilo de vida. Ele retoma a
dúvida do obsessivo, já agora pondo em questão não apenas os hábitos culturais, mas

359
também, e principalmente, posições políticas, religiosas e filosóficas, em geral. Revol-
ta-se contra a dependência infantil primitiva. Essa fase é normal dos 12 aos 15 anos.
Passada essa idade, essa sensação traduz desarmonia e caracteriza-se por agres-
sividade e imposição de suas ideias. A religiosidade passa a ser utilizada como instru-
mento de poder. Vive a disposição mítica de destruir o adversário, o demônio, numa
guerra santa. O indivíduo fixado nessa fase apresenta reações aguerridas que lhe
parecem adequadas para a solução do dilema existencial: o mundo é um organismo
bélico, regido pela lei do revide, como seu próprio mundo interior. Já na adolescência
propriamente dita (15 a 18 anos), vive um período de acomodação e relativa acalmia.
Percebe que nem sempre os argumentos aguerridos levam ao resultado desejado.
Essa fase é normal dos 15 aos 18 anos. Após os 18 anos, o indivíduo fixado nessa fase
conduz sua vida de forma messiânica (a existência é um sacerdócio), com a disposição
mítica do autossacrifício e da autodestruição e com a fantasia de que, sendo bom,
pacífico, devotado, dará um bom exemplo e seu amor será retribuído (amor passivo).
O período seguinte é o da adultez, período de realização da vida, quando o in-
divíduo adquire cada vez mais equilíbrio, atingindo estabilidade duradoura. Adulto é
o ser humano que se encontra preparado para existir. As etapas do período adulto
são a adultez jovem (18 aos 30 anos), a adultez propriamente dita (30 aos 60 anos)
e a adultez velha (acima de 60 anos). O adulto jovem (18 aos 30 anos) é aquele que
completa e efetiva os seus movimentos no sentido de garantir a sua sobrevivência
e compreende as atitudes adequadas para atingir os seus fins. Constata que não
adianta tentar convencer as pessoas das suas verdades se elas não forem capazes de
desenvolver conceitos próprios sobre o que se deseja que elas compreendam. Surge
o interesse fraterno, em busca do bem comum (ser comunitário). O amor retoma seu
ápice no sentido de ampliar seus benefícios em direção ao meio ambiente: amor à fa-
mília e ao grupo comunitário, sabendo que sua devoção de amor pode ser compreen-
dida e retribuída, mas que não há garantia dessa compreensão e dessa retribuição. A
regra básica é a cordialidade com malícia e atitude comunitária.
O adulto propriamente dito (30 a 60 anos) é aquele que compreende a necessida-
de de adequar sua dependência afetiva aos interesses da humanidade como um todo.
O amor retoma o seu ápice no sentido de ampliar seus benefícios além das fronteiras
dos grupos dos quais participa. Pode ele experimentar o amor humanístico, sabendo
que, sendo compreendido ou não, recebendo retribuição ou não, sua afetividade só
se satisfaz na sua devoção ao bem-estar de todos os seus semelhantes. Seu estilo de
vida estando definido, participa, a seu modo, do processo evolutivo seu e dos grupos
dos quais é membro, sempre no sentido da integração pessoal e coletiva. Contribui

360
para a evolução dos seus semelhantes. Percebe que necessita colaborar para o pro-
gresso da totalidade. A humanidade é uma grande família (ser humanístico).
A adultez velha (acima de 60 anos) ou velhice é a grande fase da vida, na qual o
indivíduo atinge o grau máximo de compreensão do mistério da vida. Vive a liberdade
plena, permitindo-lhe compreender o lugar e a parte que cabe ao mal em um mun-
do em evolução. É um cidadão do universo, com a astúcia da raposa e a malícia da
serpente, o que faz dele um sábio. Compreende que faz parte de um todo, ao qual
presta serviço: a individualidade é uma limitação da percepção. O seu viver é pautado
na aceitação da realidade e na tolerância à dor e seus estados de equilíbrio são cada
vez mais flexíveis, pois seus dispositivos de segurança são cada vez mais eficazes na
relação com o mundo. Está, assim, cumprido o destino do ser humano adulto, cuja fé
em si mesmo e no destino do mundo o faz viver em um permanente comungar e ser-
vir. É a máxima liberdade, beleza, paz e harmonia, enfim, a conquista da sabedoria.
O ser humano pode envelhecer como um sábio ancião ou permanecer nos está-
gios infantis do psiquismo. Autonomia e independência são, portanto, resultantes do
equilíbrio entre o envelhecimento psíquico e somático.
A singularidade individual torna-se mais exuberante quando se avalia ambas as
dimensões, somática e psíquica, associadas ao contexto familiar e social, ou seja, a
integralidade do indivíduo.
O processo de envelhecimento é, portanto, absolutamente individual, variável,
cuja conquista se dá dia após dia, desde a infância. Uma velhice bem-sucedida é
consequência de uma vida bem-sucedida que, por sua vez, depende quase que exclu-
sivamente do esforço pessoal que se dedica em todos os ciclos da vida.
Devemos sempre nos perguntar: será que hoje estamos mais preparados para a
superação das dificuldades do cotidiano do que antes? Uma resposta positiva signifi-
ca que estamos no caminho certo em direção à conquista da sabedoria.
Outro aspecto fundamental é ter clara noção da “idade psíquica” do idoso para que
se possa entender melhor o seu comportamento e as “atitudes terapêuticas” necessá-
rias ao seu bem-estar psíquico. O autoconhecimento aliado à capacidade de reconhecer
as limitações psíquicas do outro é aspecto decisivo para o sucesso do ato de cuidar.

O Psiquismo que não Envelhece


O tempo impõe sua consequência sobre cada ser vivo, definindo sua existência.
O ser humano em sua constituição é marcado pelo tempo em todos os aspectos, do
físico ao psíquico. E o idoso, em geral, apresenta um tempo potencialmente carre-

361
gado de memórias e de afetos. Ainda que a pessoa idosa esteja lidando com sinais
específicos do envelhecimento e com enfermidades físicas temporárias ou crônicas,
seu psiquismo tende a permanecer vinculado à sua história de vida, exigindo-lhe o
trabalho de realizar operações e posições psicológicas.
À medida que se vive mais, ganham-se mais chances de experiências diferen-
tes. Ao longo da vida, uma pessoa pode conhecer outras e possíveis realidades, que
podem trazer novos objetivos e novas decisões. Mas o contexto da perda é desafio
real que se destaca para o idoso. Pois é impossível fazer esse percurso sem passar
por transformações ou mudanças. Para que algo novo se integre, somos obrigados
a abrir mão de algum outro objeto, situação ou lembrança em todos os dias. Essas
perdas já ocorrem com cada um de nós desde crianças. Entretanto, na vida do idoso
se acentuam imensamente as vivências de perda e exigem que ele utilize todos os
seus recursos psíquicos para empreender os trabalhos de luto impostos e ainda se
posicionar como sujeito que permanece vivo e desejante.
Rubem Alves (1997) destaca que “o pensamento nasce no desejo”. E para qual-
quer idade, “a alegria de um brinquedo está, precisamente, na sua dificuldade, isto
é, no desafio que ele apresenta”. Ao idoso é necessário que localize em cada etapa
da sua vida esse desafio, aquilo que lhe assegure o gosto de superação e renovação.
Relembrar o passado, recontar suas experiências, agora num tempo distante, passa a
ter outras funções para a pessoa idosa. Inclusive, pode ser a forma de ele encontrar
novas “lentes” para ver e decidir sobre sua realidade atual. Vejamos como nossa pre-
sença pode auxiliar o idoso nesse percurso diário.

Acolhendo a Trajetória de Vida do Idoso


Estar ao lado de um idoso também se constitui em desafio aos cuidadores, sejam
familiares ou profissionais com essa atribuição. A história vivida pelo idoso tende a
ganhar força de repetição em sua fala e atitudes. Isso tem ligação com fatores tanto
positivos quanto negativos. A repetição na vida do ser humano sinaliza um aprendi-
zado tanto do caminho para o prazer e segurança, como também para a frustração e
desamparo. Ou seja, é repetindo que aprendemos como vencer dificuldades e chegar
às situações que nos agradam, mas também é repetindo determinadas atitudes ou
pensamentos que encontramos o sofrimento. As lembranças contadas podem fun-
cionar como uma reescrita da própria história para muitos idosos. Ao reviverem as
experiências, podem manter o investimento afetivo na vida, desde que não fiquem
completamente alienados em apresentar um passado idealizado. Quando isso acon-

362
tece, do passado ganhar esse brilho de perfeição tão ilusória e ideal, o risco é de o
idoso trazer toda a frustração para a realidade presente e suas perdas, o que só difi-
culta seu cotidiano e dos que estão ao seu lado.
Com esse entendimento, o cuidador deve observar qual a relação com a repe-
tição que o idoso constrói. E considerando a tendência ao isolamento que muitos
apresentam, o cuidador pode ser um facilitador da comunicação para o idoso. Vejam
algumas observações para reflexão:
• entender que o período em que o cuidador irá
permanecer com o idoso não será todo ocupado com
a doença, e sim com o idoso, ele deve dedicar uma
parte às atividades cujas preferências e demandas
sejam consideradas e negociadas (por exemplo: leitura,
música, filmes, aprendizagem de atividades artesanais,
socialização, roda de conversa, atividades religiosas, lazer
em geral). Várias dessas atividades podem estimular e
promover a rememoração de rotinas e vivências ao idoso;
• se o idoso é uma pessoa com mais escolaridade, ele poderá ficar feliz em fazer
uma visita a um museu, ir a uma feira de livros ou a uma biblioteca, jogar dama
ou xadrez;
• acolher as memórias e tentar localizar pela escuta o que elas provocam no
idoso (se mais alegrias do que tristezas) pode ajudar o cuidador a decidir sobre
quais atividades futuras podem ser propostas, por exemplo, possíveis encon-
tros em família, visitar ou chamar alguém para que venha visitar o idoso, esti-
mular visitas a conversarem ao vivo sobre determinada lembrança. E, ainda, se
for algo desejável e possível, trazer ou visitar certos animais que fizeram parte
da vida do idoso pode trazer novas percepções;
• quando a irritabilidade, teimosia e queixumes se apresentam, podem ser fre-
quentemente nomeados de “pirraças” ou “manias” por familiares e cuidado-
res. Mas a situação exige cautela e tolerância, visto que muitos idosos tentam
resistir, como mecanismo de defesa, tentam recusar-se às ordens ou regras im-
postas na instituição ou em sua própria casa. Mucida (2014) chama a atenção
para o que se pode supor um esforço de alguns em manter vivos certos traços
particulares quando sustentam características que lhe dão orgulho e segurança.
Por isso, é importante também não se apagar as diferenças de cada idoso em
favor de uma rotina, por exemplo, de uma instituição. Recomendável preservar
a maior quantidade possível de objetos de suas lembranças e de seus hábitos;

363
• não se trata de submeter o idoso a executar tarefas apenas com o objetivo de
“passar” o tempo. O objetivo deve ser o de favorecer que o idoso dê sentido ao
que esteja fazendo e que ele mesmo possa pensar em sugestões do que fazer;
• o cuidador deve fazer uma pesquisa com o paciente e sua família, para que,
com esses dados, possa decidir com ele qual atividade vai lhe trazer mais pra-
zer e quais estão dentro de suas capacidades atuais;
• a partir de uma atividade adaptada, o idoso pode se dar conta de que conse-
gue realizar tarefas que supunha não mais dar conta. Pode, assim, ter chance
de reconhecer seu potencial e valorizar os resultados que vierem com o pró-
prio esforço e no tempo compatível com sua realidade;
• o idoso pode também permanecer mais calado ou ficar repetitivo por falta de
novidades e assuntos para contar. Ele pode ter mais facilidade para conversar
com familiares e amigos se tiver satisfação de participar de algumas atividades
sociais ou de lazer em conjunto com eles;
• as atividades podem variar de pessoa para pessoa, de acordo com o sexo,
nível socioeconômico e cultural. Um idoso poderá se sentir útil e importante
se as histórias que quiser contar puderem ser acolhidas em projetos escolares
infantis ou em rodas de conversa, entrevistas, etc.;
• um idoso com pouca escolaridade pode não gostar de palavras cruzadas, mas
pode ter muito prazer em fazer um passeio a uma feira livre ou a um mercado. Po-
derá gostar de executar uma receita na cozinha, cuidar do jardim ou de um vaso;
• assim, as diversas atividades como fazer exercícios de alongamento, fazer par-
te de um coral, ir à igreja, escrever uma carta, aprender uma nova língua, mon-
tar um quebra-cabeça, o jogo da memória, pintar, ler, aprender a usar celular
ou computador, assistir a um filme, dançar, jogar bingo, entre tantas outras
possibilidades, podem ser recursos para resgatar e desenvolver a memória, a
percepção, a concentração, a atenção e outras funções mentais. Mas, sobre-
tudo, a interação e a integração social do idoso podem melhorar;
• há mitos sobre a sexualidade nos idosos, com frequente suposição de que não
mais havendo vida reprodutiva, o ser humano não sentiria mais desejos sexuais
ou anseios eróticos. É importante destacar que a sexualidade humana não se
define apenas pelo corpo biológico. O prazer sexual é tão particular a cada um
de nós como nossa voz ou nossa digital;
• a sexualidade humana é mais ampla que a experiência do ato sexual em si.
Há sexualidade no investimento pela vida, em estar com outros amigos, do
mesmo sexo ou não. Não há uma programação genética que dê conta da cha-

364
mada “libido” e do desejo sexual que uma pessoa venha a sentir por outra. O
objeto de amor ou de desejo de cada um tem sua raiz nas marcas da infância,
nas relações iniciais com as figuras materna e paterna, na história assimilada e
nas decisões tomadas por uma pessoa visando à realização da sua satisfação;
• há dificuldade em se falar da sexualidade dos idosos, e quando isso ocorre
tende a ser em forma de piadas ou censuras. As origens parecem associadas
à resistência das pessoas em admitir a sexualidade de seus pais, o que tende a
gerar constrangimento. O cuidador deve ter a mente aberta e evitar que mitos
e preconceitos lhe impeçam de escutar e favorecer essa face importante da
vida de cada pessoa e do idoso. Muitos idosos exibem fotos da juventude e
falam de suas conquistas amorosas e também dissabores envolvendo o desejo
sexual. Como em outros aspectos e situações, o modo como o idoso lidou com
o sexo e o amor ao longo da vida trará consequências para a sua realidade
atual. Mudanças bruscas e radicais nas condutas sexuais podem sinalizar aos
cuidadores a necessidade de atenção e pesquisa da situação.

Ainda sobre a temática da história de vida do idoso, uma atividade que pode fun-
cionar como lembrete diário é reservar um espaço que pode se chamar “caixa ou
cantinho da memória”. Esse espaço pode ser uma prateleira ou uma gaveta ou uma
caixa, onde serão colocados os objetos como chave, celular, remédios, número de tele-
fones de pessoas necessárias, recados, etc. Quando a pessoa precisar, sabe onde está.
O cuidador precisa estar atento para não se frustrar com o fato de que muitas ati-
vidades que ele irá propor ao idoso podem esbarrar na fragilidade do mesmo. A len-
tidão, fadiga, dores, dificuldade de locomoção, inflexibilidade mental (muitos idosos
permanecem resistentes a novas experiências) constituem limitações, mas não são
limites absolutos. Diante de contexto desfavorável, é importante diferenciar impo-
tência de impossibilidade, tanto para o idoso quanto para cuidadores e familiares. Na
impotência nada se poder fazer, envolve ideia absoluta e contrária da força produtiva.
Mas na impossibilidade, não é possível fazer ainda ou agora e naquele lugar. Com
isso, há abertura e a situação torna-se mais leve, pois se busca e pode-se ajudar ao
outro a descobrir o que pode ser possível naquele momento particular da vida dele.
É recomendável respeitar e aguardar até que o idoso demonstre confiança ou
recupere sua capacidade física e mental, especialmente após alguma situação de
fracasso ou de perda. Dessa forma, o cuidador se sentirá mais seguro também para
fazer uma nova intervenção ou proposta. Mas, em algum momento, é necessário
recomeçar. A vida é feita disso, tal como um dia de cada vez.

365
A Sabedoria de Viver é a de Cuidar de Si
Diz uma música que “é preciso saber viver”. Outra já afirma que “navegar é pre-
ciso, viver não é preciso”... Pode-se retirar verdades das duas se entendermos que
quanto mais a jornada da vida nos exige, mais devemos procurar um saber para con-
tinuar o percurso. Tal saber é construído e é único, é tão singular como cada pessoa.
E, ainda, como tudo na vida, é sem garantias. O desamparo do ser humano é real
e, desde o seu nascimento, o acompanha. A sabedoria e maturidade de que tanto
se fala e se aguarda que venham com o tempo e com a velhice têm relação com o
saber e o desamparo. Saber-se faltoso, consentir com as consequências trazidas pelo
tempo que carrega a juventude, a força e, ainda, tira as pessoas queridas de perto...
São desafios para cada idoso, mas também para cada cuidador. Já vimos que isso não
parece ser nada fácil e também não é algo preciso ou exato, que possa ser colocado
em uma receita ou manual. Exige a parte a ser elaborada na mente de cada um.
Enfim, envelhecer com sabedoria é cuidar de si. É acolher um vazio irreversível
que habita dentro, mas também fora, no mundo externo. Não se trata de um cuidar
egoísta de si, visto que envolve lidar com a própria falta ou vazio, mas também impli-
ca admitir que os outros ao redor possuem o mesmo desafio pela frente.
A sabedoria de que se está falando e associando ao envelhecimento implica res-
ponsabilidade e prudência. O sentido da palavra responsável significa “aquele que se
casou com o seu próprio vazio”. Ou seja, o vazio é seu parceiro de caminhada e faz
parte de suas decisões. Por outro lado, ser prudente não significa ficar acuado ou ini-
bido diante das coisas e anseios. Mas, nas palavras de Boaventura dos Santos (2010),
“prudência é a insegurança assumida e controlada”. Pois, diz a sabedoria popular que
“o seguro morreu de velho”. Se assumirmos que somos mortais, temos mais chances
de aproveitar cada dia de nossa vida, com todas as suas possibilidades.

366
Atividade Integradora
A dependência funcional é a maior preocupação de todos os indi-
víduos quando se discute o processo de envelhecimento, particular-
mente quando afeta a capacidade para o autocuidado (páginas 7
e 8). A ideia da morte também é capaz de gerar conflitos internos,
todavia é bem mais abstrata do que a dependência. Todos têm uma
noção clara do significado da dependência de terceiros para sobre-
viver. A necessidade de ostomias para auxílio à alimentação (SNE/
SNG, gastrostomia ou jejunostomia), a perda do controle esfincteria-
no (páginas 5, 8 e12) ou a necessidade de colostomia, jejunostomia,
ileostomia, cistotomia, traqueostomia e sonda vesical (página 12)
são situações altamente geradoras de sofrimento. O cuidado com o
corpo por terceiros é “altamente invasivo” e deve ser executado com
todo respeito e carinho.

Referências
1. ALVES, R. Cenas da vida. 6. ed. Campinas: Papirus, 1997. 128 p.
2. ALVES, R. Se eu pudesse viver minha vida novamente... Campinas: Verus Edi-
tora, 2004. 153 p.
3. BRASIL, M. A. S. Da psicoterapia analítico-fenomenológico-existencial. Belo
Horizonte: CEPAFE, 2002.
4. FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930). In: ______. Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 21, p. 73-171.
(Edição Standard Brasileira).
5. MORAES, E. N. Envelhecimento, saúde e maturidade. Belo Horizonte: Editora
Folium, 2016.
6. MUCIDA, A. O sujeito não envelhece – psicanálise e velhice. 2. ed. Belo Hori-
zonte: Autêntica, 2014. 230 p.
7. SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciências. 16. ed. Porto: Edições Afronta-
mento, 2010. 59 p.

367
Capítulo 17

Violência e Maus-Tratos

Edgar Nunes de Moraes


Raquel Souza Azevedo
Dorotéia Fernandes da Silva
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, definiu violência como sendo:
“O uso da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio,
contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte
ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicoló-
gico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.

A OMS/IMPEA (2002, 2003) define a violência contra a pessoa idosa como sen-
do “um ato único ou repetido, ou a ausência de uma ação que cause sofrimento ou
angústia, e que ocorre em uma relação onde haja uma expectativa de confiança que
cause sofrimento ou prejuízo ao indivíduo”.
Pode ser classificada em:
• violência interpessoal: referente às relações cotidianas;
• violência estrutural: diz respeito à desigualdade social e suas expressões;
• violência institucional: relacionada à competência das instituições públicas e
privadas de prestação de serviços.

Dessas representações, é importante destacar a violência intrafamiliar que ocorre


no seio da família nuclear ou extensa. A violência se apresenta de várias formas, tipo-
logias e graus de intensidade.

Tipologias da Violência

Abusos físicos, maus-tratos físicos ou violência física

É apresentado por diversas pesquisas como a


queixa mais frequente. Exemplos:
• agressões feitas com a intenção de provocar
dor, lesão ou ambas;
• tapas, murros, cortes, queimaduras, empur-
rões, contenção com ataduras e outros;
• ocorre no âmbito familiar, na rua e nas institui-
ções públicas e privadas.

Abuso psicológico
Atos realizados com intenção de provocar dano mental ou emocional. Exemplos:
• agressões verbais em forma de ameaças, insultos, humilhação e outras;
• é frequente a ameaça de abandono ou internação;

370
• tom de infantilismo, o que induz a uma aceitação passiva de dependência;
• geralmente, esse tipo acompanha outras formas de maus-tratos.

Abandono
É uma forma de violência que se dá de diversas maneiras, consiste na ausência de
cuidados devidos à pessoa idosa pelos seus responsáveis: família, cuidador informal,
cuidador formal, instituições e governo. Pode ser passiva, ou seja, ocorre por conse-
quência de desconhecimento ou incapacidade do cuidador; e ativa, quando é reali-
zada intencionalmente, ou seja, quem pratica tem a intenção de fazê-lo. Exemplos:
• colocar o idoso em uma instituição para se livrar dele;
• deixá-lo no quarto dos fundos, isolado do restante da casa.

Negligência
É outra forma de violência que ocorre com muita frequência, praticada por familiares,
instituições e principalmente pelos serviços públicos, de saúde, previdência e assistência
social, quando não disponibilizam serviços necessários em qualidade e quantidade, con-
forme estabelecem as leis; por familiares; cuidadores; instituições quando privam o idoso
de cuidados, entre eles, alimentação, higiene, medicação (deixar de dar o medicamento
ou oferecer de forma inadequada, etc.).

Abuso econômico, financeiro e patrimonial


• mau-uso ou exploração do dinheiro ou das posses do idoso;
• expulsar o idoso do seu espaço físico;
• vender seus bens e imóveis sem seu consentimento;
• usar o dinheiro do idoso para satisfazer necessidades pessoais, forçar assinatu-
ra, mudança de testamento ou outros documentos.

Importante: embora essa forma de violência seja praticada por fa-


miliares, cuidadores, vizinhos, é muito praticada por bancos, lojas,
financeiras, com promessas que induzem os idosos a contraírem dí-
vidas, empréstimos ou vendas com juros abusivos, que colocam em
risco sua situação financeira e, consequentemente, seu bem-estar.

Abuso emocional e social


• agressão verbal repetida, com palavras que ferem a identidade, dignidade e
autoestima;

371
• violação dos direitos legais e inalienáveis do idoso;
• negação da intimidade do idoso, negação de uma tomada de decisões, iso-
lamento dos amigos, da informação (TV, rádio), desatenção e/ou negação às
necessidades sociais e de saúde.

Abuso sexual
Consiste no ato ou jogo sexual de natureza hétero ou homo – relacional, sem que
ela dê por livre vontade o seu consentimento, seja pelo emprego da força, por amea-
ça, seja por deterioração cognitiva que o incapacite para dar ou negar consentimento.

Importante: quase nunca se notifica esse problema, pois os idosos,


assim como quase a totalidade da população, se negam a admitir o
ocorrido.

Violência medicamentosa
Diz respeito à administração inadequada de medicamentos prescritos para con-
forto do cuidador, colocando em risco a saúde do idoso frágil. Pode ser feita por
profissionais, familiares e cuidadores, aumentando ou diminuindo a dose prescrita.
Estima-se que 2 a 4% da população idosa sofram maus-tratos e apenas 1/6 dos
casos é notificado, o que se dá muitas vezes pelo constrangimento, medo, inseguran-
ça e grande dificuldade no manejo e na intervenção concreta com o objetivo de uma
resolução adequada dos casos.

Autonegligência e violência autoinfligida


A autonegligência consiste no isolamento, na conduta da própria pessoa de tomar
cuidados consigo mesma, ameaçando sua saúde e segurança. A violência autoin-
fligida diz respeito a ideações, tentativas e realização de suicídio. Segundo dados
estatísticos de 1980 a 2008, houve aumento das taxas de suicídio na população em
geral, maior no sexo masculino, especialmente na população acima de 60 anos, mais
especificamente na faixa etária de 80 anos e mais.
Segundo Minayo (2005), diversos fatores são associados à situação de suicídio
nos idosos, como a “sobrecarga financeira, abusos e desqualificações, morte e adoe-
cimento de parentes, envelhecimento, deficiência, doenças físicas e transtornos men-
tais, isolamento social e traços depressivos, ideações e tentativas de suicídio na famí-
lia”. O apoio familiar e de amigos e a estabilidade material são considerados fatores
protetores. Outras medidas preventivas são:

372
• valorização do envelhecimento e da contribuição do idoso;
• atenção especial aos homens no momento da aposentadoria ou saída de ati-
vidades rotineiras;
• prevenção do isolamento social;
• apoio no luto de entes queridos;
• suporte nas situações de perdas materiais diversas, mas também na perda da
independência funcional ou mesmo da potência sexual;
• atenção à depressão.

O cuidador deve sempre ficar atento aos sinais de alerta para a violência (Qua-
dro 17.1).

Quadro 17.1 Sinais de alerta que indicam a possibilidade de maus-tratos

Contusões, fraturas, contraturas, deformidades, torções, múltiplas lesões, lesões por


pressão.

Má-nutrição e desidratação.

Falta de higiene (odor, roupas, unhas).

Mau-uso da medicação.

Sangramento ou exsudato genital.

Transtornos afetivos: depressão, ansiedade, insônia, crises de choro, baixa autoestima,


sentimento de culpa, confusão, mudanças de comportamento.

Os fatores de risco para violência podem estar relacionados ao idoso e ao próprio


cuidador (Quadros 17.2 e 17.3).

Quadro 17.2 Fatores de risco relacionados ao cuidador

Doença mental, consumo de álcool ou drogas: situações que impedem que o cuidador
tome as decisões apropriadas.

Dependência do cuidador em relação à vítima: dependência econômica, alojamento ou


emocional com o idoso. Os maus-tratos podem ser resultado da tentativa de obter recur-
sos do idoso. São mais frequentes em idosos cujos cuidadores vivem em seus domicílios.

Fatores estressantes externos: morte de um ente querido, perda do emprego, dificulda-


des financeiras, conflitos conjugais, que podem criar sentimentos de frustração e raiva,
levando a atitudes de maus-tratos.

Violência intergeracional: os agressores podem já ter sido vítimas durante a infância por par-
te de um idoso, vingança de conflitos passados que pode passar de geração para geração.

373
As redes de suporte formal e informal podem ser fatores de proteção, da seguin-
te forma:
• rede de suporte formal: são aquelas constituídas a partir de políticas públicas,
serviços de atenção à saúde, de assistência social, instituições jurídicas de ga-
rantias de direito e previdência social.
• rede de suporte informal: são constituídas por família, amigos e vizinhos. Re-
sulta da interação de reciprocidade construída ao longo da vida do idoso.

O Quadro 17.3 exemplifica algumas medidas adicionais de proteção contra a


violência.

Quadro 17.3 Exemplos de construção de uma rede de proteção do idoso e do cuidador

Capacitação de cuidadores de idosos: oferecer capacitação adequada sobre diversos aspec-


tos do envelhecimento, enfatizando os cuidados com o idoso frágil, dependente e incapaz
de gerenciar sua vida de forma independente e autônoma. O cuidador deve ter clareza de
todos os procedimentos, técnicas, habilidades e conhecimentos indispensáveis à sua práti-
ca, além de apresentar perfil adequado. A ausência de formação apropriada para o cuida-
dor não deixa de ser uma forma de violência, pois caracteriza uma negligência passiva.

Estimular uma boa relação, relação de confiança.

Apoio ao cuidador: incentivar o cuidador a procurar ajuda, solicitar ajuda a outras pes-
soas e ter tempo para dedicar a si mesmo.

Grupos de apoio local: o cuidador deve ser incentivado a unir-se a grupos de apoio para
compartilhar experiências comuns e aliviar a culpa e a solidão, porventura presentes.

Evitar o isolamento: procurar clubes da terceira idade, que podem ajudar a diminuir a
responsabilidade do cuidador e potencializa a sensação de independência do idoso.

Planejamento de alta hospitalar: garantia de continuidade dos cuidados e da supervi-


são pós – internação.

O estatuto do idoso considera violência contra o idoso qualquer ação ou omissão


que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico e psicológico, praticada em locais
públicos ou privados. Estabelece que os casos de violência contra os idosos são ob-
jetos de notificação compulsória às autoridades sanitárias. Os órgãos competentes,
responsáveis pela apuração da suspeita de violência, são:
• Delegacia do Idoso e/ou delegacia comum (Quadro 17.4);
• Ministério Público (Quadro 17.5);
• Conselho Municipal do Idoso;
• Conselho Estadual do Idoso;
• Conselho Nacional do Idoso.

374
Quadro 17.4 Competências das delegacias especializadas na atenção ao idoso

Investigar denúncias e infrações penais cometidas contra as pessoas idosas.

As principais denúncias nas delegacias de proteção aos idosos são maus-tratos, violên-
cia física, psicológica, discriminação, negligências, ameaças, perturbação da ordem e
do sossego, apropriação indébita e supressão de documentos.

Quadro 17.5 Competências do Ministério Público (art. 74 do Estatuto do Idoso)

Instaurar o inquérito civil e a ação civil pública direitos e interesses difusos ou coletivos,
individuais indisponíveis e individuais homogêneos.

Atuar como substituto processual do idoso em situação de risco.

Promover e acompanhar ações de alimentos, interdição e designação de curador especial.

Promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, em situação de risco,


quando necessário ou o interesse público o justificar.

Inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas como


abrigos e instituições de longa permanência.

Na suspeita de maus-tratos, o cuidador ou os familiares devem comunicar aos


órgãos competentes e/ou aos profissionais de saúde responsáveis pelo acompanha-
mento do idoso. Cabe ressaltar que a notificação é uma comunicação obrigatória de
um fato. A denúncia é o nome técnico dado à peça processual que dá início à ação
penal pública, que deverá ser promovida pelo Ministério Público. A notificação cabe
à equipe de saúde ou ao profissional responsável pelo estabelecimento. Ressalta-se
que notificar a violência é fundamental para seu combate, uma vez que possibilita
o embasamento de intervenções em vários níveis. Assim, na suspeita de violência
contra o idoso, deve ser preenchida a Ficha de Notificação de Violência Inter-
pessoal / Autoprovocada, padronizada pelo Ministério da Saúde (Disponível em:
http://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/via/violencia_v5.pdf ).
Cada município estabelece o seu fluxo local de encaminhamento da ficha de notifi-
cação de violência.

375
Atividade Integradora
A violência e maus tratos é frequente em todas as faixas etárias. To-
dos nós somos vítimas de violência, todos os dias, em casa, na rua,
no trabalho e no lazer. Todavia, desenvolvemos a capacidade de nos
defender e de reagir às agressões do cotidiano. O idoso frágil tem sua
capacidade de autodefesa comprometida, pois depende diretamente
de terceiros (página 4, 5, 6, 7 e 8). O cuidador, a família, os ami-
gos, a comunidade e a sociedade devem proporcionar toda proteção
necessária para tais indivíduos. Quando os direitos básicos do idoso
são desrespeitados, deve-se recorrer às instituições responsáveis pela
garantia da sua integridade (página 29).

Referências
1. BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Manual
de enfrentamento da violência contra a pessoa idosa. É possível prevenir.
É necessário superar. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, 2014. 90 p.
2. MINAYO, C. S.; SOUZA, E. R. Violência contra idosos: é possível prevenir. In:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da
violência na saúde dos brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. cap.
5, p. 141-170.
3. MINAYO, M. C. Violência contra idosos: o avesso do respeito à experiência e
à sabedoria. 2. ed. Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2005. 48 p.
4. SOUZA, E. R.; SOUZA, A. C. Violência contra a pessoa idosa: o desrespeito à
sabedoria e a experiência. In: Impactos da violência na saúde. EAD/ENSP/
Fiocruz, 2014.
Capítulo 18

O Idoso no Fim da Vida

Edgar Nunes de Moraes


Cristina Pereira de Souza Lima
Camila Oliveira Alcantara
Raquel Souza Azevedo
A vida segue as mais diversas trajetórias, ziguezagueando com altos e baixos,
apresentando períodos de linearidade, em outros com progressos e retrocessos, mas
estacionando em um ponto final. Esse momento singular é o fechamento de um ciclo
rico de experiências. Torna-se o ápice da lembrança e da valorização do que foi aque-
le indivíduo em toda a sua vivência. Quem experimenta essa ausência aguda pode se
calar ou entrar em surto ou simplesmente chorar. O fervor passa e a calmaria vem. A
rotina segue inicialmente com a sensação dolorosa de estar algo em falta, mas que
com o tempo cede lugar à saudade. E o cuidar de quem está diante da finitude da
vida, o paciente com uma doença incurável ou o familiar que se depara com a previ-
são da ausência é um ofício que requer conhecimento e humanismo.
Usualmente, a morte ocorre no final do ciclo da vida e está associada a algumas
doenças crônicas, como câncer, doenças crônico-degenerativas (cardiopatia crôni-
ca e aguda, doenças respiratórias, cirrose hepática, doença renal crônica, diabetes
mellitus, etc.), demências e outras doenças neurodegenerativas, como a doença de
Parkinson e a infecção pelo vírus HIV. Nesse caso, ao contrário das doenças agudas,
a redução da vitalidade é progressiva até o organismo entrar em falência absoluta,
incompatível com a vida. Essa evolução lenta é uma grande oportunidade para o
paciente e sua família se prepararem melhor para a despedida final, mas exige todo
esforço para se oferecer uma “boa morte” para o ente querido. Viver e morrer bem
são objetivos a que todos nós almejamos (Figura 18.1).

Figura 18.1 Vitalidade, finitude e principais causas de morte em idosos

Doenças Doenças Crônico


Câncer Demências Infecção pelo HIV
Neurodegenerativas Degenerativas

RESERVA HOMEOSTÁTICA
VITALIDADE
CONCEPÇÃO

MORTE

TEMPO
VIVER E MORRER BEM

378
Nessa fase, o paciente se torna “irrecuperável” ou é “desenganado” pelos médicos.
Com a evolução da doença, o paciente diminui progressivamente sua funcionalidade,
apresenta-se cada vez mais dependente para o autocuidado, com redução da mobili-
dade e do contato com o meio externo, com redução progressiva da ingesta oral até a
completa anorexia. Caminha para a morte, sem que se consiga reverter esse curso. A
insegurança, o medo e a ansiedade tomam conta de todos os envolvidos, porque nunca
se havia pensado na realidade da morte, que de possibilidade passa a ser um fato para
o cotidiano de diversas famílias e para muitos profissionais de saúde. O cuidador deve
direcionar toda a sua energia para o conforto do paciente e de seus familiares.
A velhice e a morte fazem parte da vida. Podemos até escapar da velhice, caso a
morte não permita que a conheçamos, ao nos buscar precocemente. Todavia, nenhum
de nós escapará “dela”. No entanto, nunca estamos preparados para aceitá-la. Trabalhar
com envelhecimento e morte é, sobretudo, pôr-se em estado de escuta e disponibilidade.
Em 1990, a Organização Mundial de Saúde defi-
niu o conceito de Cuidados Paliativos (CP) como um
conjunto de cuidados ativos e integrais prestados a
pacientes e familiares que estão vivenciando situação
de doença progressiva e irreversível. Em nosso país, a
prática emergiu por volta da década de 80, ganhan-
do expressividade em meados de 2000. Atualmente
já existem diversos serviços de saúde que prestam
atendimento diferenciado em CP, tanto na assis-
tência quanto na formação humana. Essa mudança
no rol dos cuidados prestados é justificada pela expressiva demanda de pacientes que
estão apresentando mais sobrevida diante de tratamentos suportivos, mesmo que não
sejam de cura, mas que têm prolongado a longevidade das pessoas. Com o fim de
proporcionar qualidade nesse momento de vida, são propostos os princípios do CP:
• Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis (falta de ar, en-
joos, redução de apetite, tristeza, ansiedade, mal-estar, cansaço, sonolência);
• afirmar a vida e considerar a morte como um processo natural;
• não acelerar nem adiar a morte, evitando-se medidas fúteis que não trarão
impacto positivo para a qualidade de vida do paciente;
• integrar os aspectos psicossociais e espirituais no cuidado;
• oferecer um sistema de apoio ao paciente que permita manter sua vida ativa,
reforçando sua autonomia e auxiliando em sua independência até quando
possível;

379
• oferecer uma rede de apoio aos familiares durante o processo de enfrenta-
mento da doença e durante o luto;
• possibilitar uma abordagem multiprofissional para suprir as necessidades dos
pacientes e familiares;
• aplicar esses cuidados mesmo na fase precoce do curso da doença que não
tem possibilidade de cura, integrando-os a outras terapias que intencionam
prolongar a sobrevida do paciente, como quimioterapia ou radioterapia.

Os portadores de câncer e de doenças crônico-degenerativas são a grande maioria


dessa população a quem se está referindo. A trajetória dos pacientes oncológicos em CP
pode ser ilustrada por uma curva decrescente, que parte de uma linha com um paciente
funcionalmente ativo e independente e, à medida que a doença progride, de forma
mais previsível, há queda mais abrupta da curva, denotando perda do status funcional
e período mais curto até o óbito (Figura 18.2). Já quando se acompanha o paciente
com demência de Alzheimer, o que se observa é um traçado mais longo, com ponto de
partida de um status funcional já mais baixo, com perda mais lentificada das atividades
da vida diária e desfecho mais imprevisível, que pode durar meses a anos (Figura 18.3).

Figura 18.2 Evolução de pacientes com câncer sem cura


FUNÇÃO

TEMPO

Cuidar desses pacientes implica ter um conhecimento mínimo sobre a doença de


base a fim de entender a evolução do processo. Buscar ativamente informações com
os familiares e com a equipe de saúde que acompanha o doente não denota incom-
petência, mas sim interesse pelo melhor cuidado. Os pacientes terão peculiaridades
entre si, mas a assistência no geral é semelhante. A busca ativa por alguns sinais faz
parte de uma assistência completa, tais como:

380
• desconforto (fácies de dor, caretas, gemidos, choro, distensão abdominal, fal-
ta de ar, secreções respiratórias, retenção de urina, ausência de evacuação);
• cuidado com a pele (hidratação, trocas frequentes de fraldas, mudança de po-
sição no leito, roupas confortáveis, lençóis bem esticados, colchões adequados
e pesquisa diária de lesões na pele);
• cuidado com o couro cabeludo;
• cuidado com a cavidade oral (limpeza de próteses dentárias, higienização dos
dentes, da gengiva, da língua);
• proteção contra o frio;
• massagens de conforto.
Figura 18.3 Evolução de pacientes com demência de Alzheimer
FUNÇÃO

TEMPO
É importante a todo o momento respeitar a autonomia do paciente que se mantém
lúcido, mesmo que muito debilitado fisicamente. Da mesma maneira, entre aqueles que
ainda preservam algum grau de capacidade física, deve ser permitida a realização de
atividades por eles mesmos, oferecendo a ajuda necessária e mantendo a supervisão.
Estar em harmonia com família também faz parte do processo. A realidade da per-
da iminente do ente querido e o convívio com esse paciente em situação de debilidade
também gera sofrimento para o pai, mãe, filho, irmão, esposa e esposo. Sofrimento
físico e principalmente psíquico. Há transformação na rotina da casa, que muitas vezes
se torna uma minienfermaria de hospital. Entrada de várias pessoas “estranhas” no
domicílio, tornam-se parte do cenário multiprofissional de apoio. Ocorre redistribuição
dos papéis familiares, aumento de gastos financeiros e entender essa dinâmica fami-
liar, sem ser invasivo, respeitando a privacidade e o sofrimento alheio é ponto essencial
do cuidado. Para paciente e família também cabe oferecer escuta, mais do que acon-
selhar. Não reprimir o choro e respeitar a religiosidade.

381
A proximidade da morte exige uma reavaliação da vida, direcionando para alguns
questionamentos sobre a vida e seus valores essenciais:
• que sentido teve a minha vida?
• as pessoas irão sentir minha falta?
• o que realizei em vida foi bom para minha família/amigos?
• há algo ainda que desejo realizar?
• o que quero que seja feito quando não estiver mais aqui?

Nos últimos instantes de vida, o paciente irá oscilar entre quadro de agitação, inquie-
tude no leito, confusão mental, delírios, sudorese, gemência, aumento da frequência
respiratória, aumento da frequência cardíaca a um estado de mais sonolência, com re-
dução dos movimentos de respiração até pausas prolongadas, com ruídos respiratórios,
devido à dificuldade de mobilizar as secreções, pés e mãos frios, pulsos finos, pressão
arterial baixa a inaudível. Deve-se reconhecer esses sinais, lidar de maneira calma, co-
municar familiares e equipe de saúde que assiste o paciente. Medidas de mais conforto
podem ser realizadas a partir da prescrição de medicamentos para dor, para falta de ar,
para secreções de vias aéreas e para agitação psicomotora. Colocar esse indivíduo em
posição de conforto no leito, sendo realizada sua higiene íntima e da cavidade oral ha-
bitual, hidratação dos lábios, o aquecimento de extremidades, não oferecer alimentos
pela via oral nessa circunstância são medidas não medicamentosas de alívio. É possível
que nessa hora alguns familiares queiram ficar ao lado do paciente, o que deve ser per-
mitido. O conforto espiritual por meio de orações e de uma figura religiosa também é
possível. Esse é o momento no qual a morte se aproxima de maneira inequívoca diante
de uma situação irreversível, em que sentimentos diversos, como frustração e fracasso,
não devem preponderar, pois tudo foi realizado, e de maneira completa para que o
paciente não apresentasse desconfortos.

Conforto Espiritual
A inserção da espiritualidade na vida do doente se torna um fator importante para
lidar com a dor e os vários sentimentos que afligem o indivíduo no final da vida. A assistên-
cia espiritual se faz necessária para ajudar o indivíduo e os familiares a lidarem com o pro-
cesso de dor e perda. Além disso, ajuda a controlar os sintomas estressantes e ver a morte
como processo natural da vida, integrando aspectos psicossociais e espirituais ao cuidado.
Oferece também um sistema de suporte para auxiliar o paciente a viver tão ativamente
quanto possível até a morte, amparando a família durante todo o processo da doença.

382
Para que haja condições de oferecer esse cuidado integral ao enfermo e sua família,
torna-se muito importante a intervenção do capelão, também conhecido como assis-
tente espiritual. Crenças religiosas, seja ela qual for, estão relacionadas a melhor saúde
e mais qualidade de vida. O atendimento espiritual possibilitará que o doente e seus
cuidadores tenham condições para reflexões profundas sobre questões existenciais,
confrontos e desafios quanto ao propósito de vida, desencadeando o perdão, acerto
de contas e qualidade de vida. A espiritualidade e o apoio dado pela comunidade reli-
giosa permitirão bem-estar e acolhimento, tendo a certeza de que será acompanhado
até o fim de sua vida. Além disso, o fato de saber que sua família continuará a receber
suporte pela comunidade religiosa proporcionará conforto no luto e amparo social. O
atendimento espiritual ajudará a nortear as decisões referentes ao tratamento médico
e aos desejos finais. O cuidado paliativo reconhece que a “cura espiritual e emocional”
pode ocorrer mesmo quando a cura física se torna impossível.

Preparação para o Luto: Perdas e Tomada de Decisões


Ao longo do ciclo vital nos deparamos com inúmeras perdas. Viver o luto é pre-
parar-se para as perdas, sendo essas perdas psíquicas, físicas, materiais, entre outras.
Podemos passar por perdas, saindo ilesos de feridas. No entanto, algumas delas são
muito doloridas e significativas, acarretando sentimentos muito dolorosos. Sabemos
do adoecimento e fragilidade do ser humano, mas na verdade vivemos com a ilusão
de que isso só ocorre longe de nós. Contudo, somos forçados a olhar para o que mais
temíamos e lidar com o processo da morte.
Com a piora clínica do doente, uma variedade de sentimentos pode tornar-se
ainda mais evidente. O aumento da possibilidade de sofrimento e dor pode acarretar,
em muitos familiares, apego a uma ilusão de cura e melhora, mesmo que isso fuja
totalmente das reais possibilidades. Se o doente estiver consciente e lúcido, deve-se
respeitar seus desejos em relação à condução do tratamento e o cuidado prestado.
No entanto, muitas vezes quem acaba tomando as decisões é o familiar, devido ao
estado de saúde do doente. Para o familiar, mesmo que tal decisão esteja pautada no
desejo do paciente, reforça a representação de falta do ente querido. Há uma repre-
sentação de “morte em vida”. Com a evolução da doença, caso o doente apresen-
te-se debilitado física e emocionalmente, pode haver a necessidade de os familiares
assumirem a responsabilidade pela tomada de decisões e fazer valer a autonomia do
paciente pelo que compartilharam de sua biografia até o momento atual. Essa é uma
das tarefas mais árduas para o sistema familiar.

383
O ato de cuidar visando ao conforto e à qualidade de vida, de acordo com o que per-
mitir a situação, estreita o contato com o doente. Isso faz com esse vínculo seja reinven-
tado, trazendo ao familiar as experiências mais intensas em comparação às de toda vida.
A comunicação é extremamente importante e auxilia no entendimento real da si-
tuação em que o doente se encontra, fazendo com que o indivíduo e seus familiares
vivenciem o luto de maneira mais harmônica. É importante a realização de encontros
com todos os familiares mais próximos, em que fiquem claras a proximidade da morte
e a uniformização das informações acerca dos cuidados que serão estabelecidos. A
comunicação é vital no curso do processo da perda. Embora existam particularidades
de cada núcleo familiar quanto a cultura, crença, valores e modo de expressão de sen-
timentos, é fato que a comunicação clara facilita a adaptação.

Diretivas Antecipadas de Vontade e Testamento Vital


As diretivas antecipadas de vontade representam uma forma de manifestação
do desejo do indivíduo quanto aos tratamentos médicos que autoriza, partindo do
princípio de que todo indivíduo com doença terminal, estado vegetativo persistente
ou demência avançada, tem o direito de recusar determinados tratamentos médicos,
cujo objetivo seja estritamente o prolongamento da vida, na medida em que tais
situações clínicas são caracterizadas pela irreversibilidade e nas quais pairam poucas
dúvidas sobre a evolução para a morte. Assim, qualquer pessoa, em qualquer mo-
mento de vida, desde que em pleno gozo de suas faculdades mentais, pode elaborar
um documento chamado Testamento Vital, quando tiver interesse em dispor sobre os
cuidados, tratamentos e procedimentos, em caso de doença ameaçadora da vida e
fora de possibilidades terapêuticas e estando impossibilitado de manifestar livremen-
te sua vontade. É possível nomear um procurador, podendo ser um familiar ou um
amigo, uma pessoa que conheça bem os seus desejos, para que, na impossibilidade
do paciente manifestar seu desejo, este procurador de saúde decida sobre tomadas
de conduta em fim de vida.
No Brasil não existe legislação específica sobre o tema e nenhuma determinação
legal para formalização do Testamento Vital. Mas é sugerido que este documento
seja redigido com a ajuda de um médico de confiança do paciente, no intuito de es-
clarecimento de dúvidas sobre a doença. Pode-se dispor do auxílio de um advogado,
a fim de evitar que haja disposições contra o ordenamento jurídico brasileiro. Essa
escritura pode ser realizada perante um tabelião de notas.

384
Esta é uma maneira de deixar claro para os profissionais de saúde e família, o
desejo do tipo de cuidado no fim de vida, evitando intervenções fúteis (ventilação
mecânica, CTI, hemodiálise, sonda, etc), que poderiam aumentar o sofrimento e des-
conforto, sem trazer mais tempo ou qualidade de vida ao paciente terminal.

Consultar o site www.testamentovital.com.br de-


senvolvido pela pesquisadora Luciana Dadalto, com
o objetivo disponibilizar informações sobre o tema
no Brasil. O portal é um espaço de discussão acerca
da temática, de publicação de trabalhos realizados,
coleta de dados e divulgação para leigos, estudantes
e profissionais do direito e da saúde.

Vivenciando o Luto
O processo de luto pode ser identificado a partir do diagnóstico de uma doença
terminal, em que indivíduo e família passam a experimentar em sua rotina rupturas,
limitações e privações. O luto é entendido como um conjunto de reações a uma perda
significativa. E vivenciar essa perda significa reconhecer a morte, reagir à separação
(lidar com as emoções: sentir, identificar e aceitar a dor), relembrar a pessoa perdida,
abandonar velhos apegos, reajustar para se adaptar ao novo sem esquecer o velho
e, por fim, reinvestir. O luto representa uma saída do estado de saúde e bem-estar e,
assim como a cura é necessária no campo fisiológico, um período de tempo é neces-
sário para que o enlutado retorne ao estado similar de equilíbrio.
A necessidade que alguns pacientes manifestam de ficarem sozinhos, em reco-
lhimento e de não participarem das atividades em família e de estarem mais consigo
mesmos caracteriza-se como aceitação da situação que vivenciam e de desligamento
progressivo da vida. Tristeza não é depressão. Depressão reativa é esperada, mas a
intensidade e a duração, se exacerbadas, podem indicar doença.

Preparação para os Momentos Finais


Os últimos instantes de vida costumam ser repletos de tristeza, melancolia e sau-
dade. São, muitas vezes, cercados de medo e incertezas. A espiritualidade do doente
e de sua família contribui para que a vivência da morte seja menos dolorida e intensa.
Nas últimas horas, o doente se torna cada vez mais “ausente” da vida. Não consegue
mais comunicar-se, alimentar-se ou movimentar-se. Até mesmo a expressão facial, o

385
abrir e fechar os olhos tornam-se difíceis de serem interpretados. Os familiares podem
perceber a gravidade e irreversibilidade do quadro.
Na hora final de vida, alguns sintomas podem ser previamente identificados e,
com isso, algumas intervenções podem ser feitas para que o doente passe a ter me-
lhor qualidade de vida e de morte. Alguns sintomas merecem destaque:
• falta de apetite e nenhuma ingestão de líquidos: o doente pode não conse-
guir se alimentar e já não aceita a ingesta de líquidos. Pode-se, nessa circunstância,
hidratar os lábios com gaze molhada ou cubos de gelo;
• imobilidade: o doente não consegue mais se movimentar. Deve-se movimen-
tá-lo cuidadosamente a fim de evitar desconfortos. Mudanças de decúbito só
devem ser feitas para confortar o paciente. Nesses momentos finais de vida,
a prevenção de úlceras de decúbito não é mais prioridade, pois mudanças de
decúbito a cada 2 horas podem trazer grande sofrimento para o paciente. Fa-
miliares podem tocar no paciente como forma de expressar carinho, conversar,
ainda que o mesmo não esboce respostas, e evitar conversas desagradáveis no
ambiente. Converse carinhosamente com o doente ao movimentá-lo;
• sonolência: por vezes, o paciente dorme praticamente todo o tempo, embo-
ra continue sendo despertável em alguns raros instantes. Pode se comunicar
precariamente, abre os olhos com muita dificuldade e momentaneamente, re-
tornando ao sono a seguir. Mantenha sempre o ambiente calmo e silencioso;
• alteração da cognição: a memória e o raciocínio se deterioram. As respostas
são demoradas e por vezes inadequadas ou inexistentes. Às vezes, podem
surgir visões e alucinações. Seu olhar se torna fixo e muito profundo. Pode
apresentar quadro de agitação motora ou simplesmente de obnubilação (so-
nolência profunda), que pode evoluir para um estado comatoso. Mantenha os
olhos lubrificados com lágrima artificial. Continue conversando com ele, mes-
mo na ausência de contato físico. Palavras afetuosas e o carinho são formas de
comunicação universais que independem dos órgãos dos sentidos;
• mioclonia (“tremores musculares”): os abalos musculares involuntários são
frequentes. Ao reconhecer o sintoma, deve-se comunicar à equipe assistente;
• dor: o uso correto de medicação analgésica prescrita pelo médico assistente
é indispensável para o controle da dor, mesmo que o paciente não manifeste
explicitamente o sofrimento;
• colapso periférico: caracterizado por palidez cutânea e extremidades frias.
Faz parte nos últimos momentos de vida e não deve provocar pânico;

386
• ronco (“sororoca”): evento comum à maioria dos doentes e caracteriza-se
por respiração ruidosa, plena de secreções. É causada pela incapacidade de
deglutir saliva e outras secreções. É necessário que os familiares mantenham a
calma nessa hora e evitem o excesso de visitantes, pois nem todos conseguem
compreender e presenciar esses últimos instantes da vida. Manter a cabeceira
elevada para melhorar o desconforto respiratório. No ambiente hospitalar, de-
vem-se evitar as repetidas aspirações de vias aéreas, pois causam desconforto
significativo no doente e os benefícios são questionáveis.

Momento da Morte
O apoio espiritual torna-se essencial nesse instante, podendo ou não ser marcado
por rituais religiosos, dependendo da vontade dos familiares. Escutar é mais importan-
te que se fazer ouvir, transmitindo ao outro sinais de acolhimento sincero e afetuoso.
Vale ressaltar que, se a família não consegue aceitar a morte do seu parente
como um evento natural, vivenciando isso de forma muito traumática, não há por
que incentivar a ocorrência do óbito no domicílio, mesmo que tenha sido desejo do
paciente. Deve-se respeitar a autonomia do paciente, mas essa autonomia é sempre
relativa e compartilhada com os familiares.
Essa situação pela qual o doente e sua família passam requer humanidade, ca-
rinho e serenidade pelos que estão presentes. É necessário respeitá-los, de forma
a identificar o melhor momento de se iniciar os devidos cuidados e preparos com o
corpo. O ritual funerário tem o objetivo de colocar o ente querido em contato íntimo
com os familiares e amigos, oferecendo possibilidades de despedida e de encerra-
mento da relação, para que possam, então, seguir em frente com suas vidas.
Lembrar que a morte é a despedida final da vida e, se possível, deve acontecer em
um ambiente tranquilo, propício à celebração da vida que ali se finaliza.

Como Proceder no Caso de Óbito

A morte como evento próximo:


morte anunciada versus a morte súbita

A situação de morte inesperada, como um infarto agudo do miocárdio, pode ser


desafiadora para toda a família, visto que, nesses casos, a morte não era esperada e,
portanto, não houve tempo para trabalhar a ideia da terminalidade e luto antecipatório.

387
É imprescindível que a família tenha clareza do que a unidade de saúde se com-
promete a oferecer em caso de óbito. Dessa forma, é de extrema importância o co-
nhecimento sobre o horário de funcionamento da unidade de saúde, frequência de
consultas ou visitas domiciliares. A garantia da declaração de óbito é também uma
informação importante a ser oferecida para a família que está cuidando do seu idoso
no domicílio. Quando não houver a segurança no fornecimento da declaração de
óbito pela equipe de assistência, o mais indicado é que o paciente faleça no hospital,
para se evitar mais uma situação de estresse desnecessária.

Informações práticas após o óbito


Algumas questões devem ser trabalhadas cuidadosamente nesse momento:
• o que fazer logo após o óbito e a quem recorrer para obtenção da Declaração
de Óbito (DO): contatar a equipe assistente para que o médico compareça
para verificação do óbito e preencha a declaração de óbito;
• serviços funerários disponíveis na região: obter endereços e telefones das
agências funerárias da região ou município com horário de funcionamento.
Informações de como realizar o sepultamento gratuito, se for necessário, lem-
brando-se de que essa prerrogativa é um direito garantido por lei;
• documentos exigidos no cartório para o Atestado de Óbito: cédula de identida-
de, certidão de nascimento ou casamento, comprovante de residência e, obvia-
mente, a declaração de óbito devidamente preenchida pelo médico assistente;
• documentos a serem apresentados no serviço funerário, além desses documentos
citados: atestado de óbito oferecido pelo cartório, cartão do INSS (aposentadoria
ou pensão) e os documentos comprobatórios de posse de túmulo, se houver.

É recomendado que o familiar que for providenciar essas documentações


esteja munido de sua cédula de identidade com foto.

Desvendando a declaração de óbito


Uma vez verificada a ocorrência da morte, com base no exame físico pelo médico,
segue-se ao preenchimento da Declaração de Óbito (DO), para dar início às formali-
dades legais de sepultamento.

388
A DO é documento público, padronizado em todo o território nacional, impresso
pelo Ministério da Saúde e distribuído gratuitamente para as secretarias estaduais e
municipais de saúde.
Com sequência numerada, a DO consiste em três vias carbonadas, cada via de
uma cor. As vias branca e amarela são entregues aos familiares para apresentarem
no cartório de registro civil, enquanto que a via rosa se destina à instituição de saúde
onde ocorreu o óbito. No óbito domiciliar, todas as três vias são entregues ao familiar.
O preenchimento da DO é um ato médico. O médico tem responsabilidade ética
e jurídica pelo preenchimento e assinatura desse documento. A DO, além de instru-
mento legal que serve de base para o cartório expedir a certidão de óbito, fornece
dados que irão alimentar o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Só assim
é possível ser traçado o perfil de mortalidade da população, gerando informações
pertinentes para planejamento de saúde da população. Por isso, a DO deve ser preen-
chida de forma correta, com letra legível, sem abreviações ou rasuras.

Atividade Integradora
O idoso em fase final de vida ou na fase de cuidado paliativo deve ter
acesso a todas as intervenções de conforto capazes de atenuar o sofri-
mento físico, emocional e espiritual porventura presentes nesta fase da
vida. As pessoas de sua referência, familiares e/ou amigos, devem par-
ticipar ativamente do cuidado e das decisões a serem tomadas (página
2). Esta fase é caracterizada pela presença de rápido declínio funcional
e necessidade cada vez maior do cuidador (página 8) e do uso de dispo-
sitivos de auxílio (página 12), como cadeira de rodas, ostomias, sondas,
oxigenioterapia e hipodermóclise, dependendo da doença de base.
A hipodermóclise é técnica simples e segura para administração de me-
dicamentos e soroterapia, utilizando-se a via subcutânea, em bólus ou
continuamente. Visa maximizar o conforto e o bem estar do paciente,
diminui a ansiedade dos familiares, bem com evita internações desne-
cessárias. É a via alternativa ideal para pacientes impossibilitados de
usar a via oral e/ou dificuldade de punção venosa. É confortável e apre-
senta baixo risco de complicações, além de ser de baixo custo e aces-
sível a qualquer paciente, independente do nível socioeconomico. O
próprio cuidador pode monitorar o funcionamento da hipodermóclise.

389
A lista de medicamentos que podem ser infundidos por via subcutânea
é extensa e inclui a morfina, metoclopramida, escopolamina, dexame-
tasona, furosemida, midazolam, SF 0,9%, SGI 5%, entre outros.
A manifestação da vontade do paciente quanto aos procedimentos que
devem ser feitos ou não quando apresentar doença terminal, estado
vegetativo persistente ou demência avançada deve ser discutida com
todo indivíduo, incluindo o idoso (a), desde que esteja apto para decidir
pelos atos da vida civil, ou seja, tenha as funções mentais preservadas,
incluindo a cognição. As Diretivas Antecipadas da Vontade expressam
claramente o desejo do paciente e devem ser apresentadas ao idoso (a)
e registradas, caso seja da vontade dele (páginas 26 e 27).

Referências
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ANCP. 2. ed. ampl. e atual. Porto Alegre: Sulina, 2012. 590 p.
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cientes terminais. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 24, n. 1, p.
212-219, jan./mar. 2015.
3. DADALTO L., TUPINAMBÁS U., GRECO D.B. Diretivas antecipadas de vontade: um
modelo brasileiro. Rev. Bioét., v. 21, n. 3, p. 463-76, 2013.
4. KOVACS, M. J. Educação para a morte: temas e reflexões. São Paulo: FAPESP e
Casa do Psicólogo, 2003. 224 p.
5. KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
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7. PESSINI, L. Distanásia: até quando prolongar a vida? São Paulo: Editora do Cen-
tro Universitário São Camilo: Loyola, 2001. 431 p.
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1993. 322 p.
9. WORLD HEALTH ORGANIZATION/WHO. Expert Committee on Cancer Pain Relief
and Active Supportive Care. Cancer pain relief and palliative care: report of a
WHO expert committee. Geneva: WHO, 1990. 76 p. (World Health Organization
technical report series; 804).

390
Capítulo 19

Cuidando de Quem Cuida

Raquel Souza Azevedo


Jorge Roberto Afonso de Souza Silva
Tatiana Dias Paulucci
Natália de Cássia Horta
Edgar Nunes de Moraes
Envelhecer não é adquirir incapacidades. A dependência funcional é a exceção,
e não a regra, no processo de envelhecimento normal. O idoso frágil é aquele
indivíduo que apresenta declínio funcional estabelecido e, portanto, não tem
mais condição de cuidar de si mesmo. Houve perda na sua capacidade de decisão
(autonomia) ou na capacidade de executar o que decidiu (independência), ou
ambos. Certamente, a maioria das pessoas tem muito mais medo da dependên-
cia do que da própria morte. A morte é algo abstrato, faz parte do “mistério da
vida”. Traduz a presença divina em nossas vidas. Por sua vez, a dependência é algo
absolutamente concreto, visível e facilmente percebido por todos nós. Essa nova
fase da vida é, portanto, assustadora, pois além da perda da independência, será
preciso depender da ajuda do outro. A questão que se impõe é: quem é “esse”
outro? Quem será essa pessoa que dividirá com o idoso todos os momentos de
sua vida, desde os mais tristes aos mais felizes? Quem será esse novo expectador
de tudo que acontece na casa? Claro que, idealmente, todos gostariam que fosse
alguém da família, preferencialmente aquele filho, cônjuge, parente ou amigo
querido, dedicado, carinhoso, presente em tudo. Mas será que essa pessoa existe
ou já existiu realmente? Será que este “ser idealizado” não é fruto do sentimento
de dependência que, muitas vezes, trazemos ao longo de nossas vidas, mesmo
quando éramos “independentes”? Enfim, nessa nova
fase da vida tudo é novidade e sua duração é bastante
variável. Usualmente, as causas de incapacidades exigem
um cuidado de longa duração, que pode demorar anos.
A família torna-se também completamente envolvida e
não há outra opção, além de assumir o ato de cuidar.
Ou melhor, sempre existe a opção do abandono, mesmo
que seja dentro de casa. Surge, então, a pessoa do
cuidador, termo genérico, ainda não muito bem definido
e que, muitas vezes, não escolheu espontaneamente a
função de cuidar do outro.

Como você gostaria de ser cuidado quando se tornar dependente?

392
O cuidar é mais do que um ato singular ou uma virtude. Pode ser entendido como
um modo de ser, ou seja, a forma como o ser humano se estrutura e se realiza no
mundo com os outros. O cuidado permite ir além do atendimento às necessidades
básicas do ser humano, no momento em que este se encontra fragilizado.
O cuidador pode ser um familiar ou uma pessoa contratada (leiga ou um pro-
fissional da área de saúde – auxiliar/técnico de enfermagem). Ambos devem estar
qualificados para desempenhar corretamente as atividades exigidas, mas, sobretudo,
devem ter ciência da função que estão assumindo. O cuidado de longa duração exige
preparo, zelo, afeto, desvelo, atenção, com quem se cuida e no que este idoso neces-
sitar. O compromisso de cuidar do outro é um momento em que se pode promover
o autocuidado, a autoestima, a autovalorização e a cidadania de quem cuida. É uma
via de mão dupla. Cuidar bem do outro só é possível se estivermos cuidando bem de
nós mesmos.
Uma das funções do cuidador é fornecer os serviços necessários que darão su-
porte ao idoso dependente na realização das atividades de vida diária que não pode
mais fazer por si só, apoiando e auxiliando-o nas suas necessidades físicas, sociais,
psicológicas e até econômica, contribuindo, assim, para melhorar sua qualidade de
vida. Cabe, também, ao cuidador zelar pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene
pessoal, educação, cultura e recreação do idoso. Assim, a pessoa que cuida é de fun-
damental importância na recuperação e melhoria de vida do idoso, tornando-se um
importante elo entre o idoso, a família e a equipe de saúde.
Cuidar de um idoso frágil, seja de maneira informal (quando se é familiar ou amigo do
idoso), seja profissionalmente, requer orientações técnicas para oferecer cuidado digno
ao idoso com necessidades especiais e, principalmente, para se evitar o agravamento do
quadro com atitudes ou cuidados inadequados ou insuficientes. Atuar em prol da quali-
dade de vida do idoso, seja por meio do controle das doenças e de medidas que evitem
piora da fragilidade, deve ser objetivo primordial de quem cuida de idosos frágeis.

O Ato de Cuidar
Cuidar do outro pressupõe atitudes e comportamentos que ofereçam assistência
com o máximo de segurança, tranqüilidade e oportunidade para o crescimento do
indivíduo, com respeito ao ser humano, entendendo as limitações do outro e estando
sempre à disposição para servir. Cuidar implica sempre:
• demonstrar interesse pelo outro: interessar-se por alguém;
• ter cuidado com o outro e consigo mesmo;

393
• respeitar os limites do outro e os seus limites;
• saber lidar com discordâncias e opiniões divergentes da sua;
• não abusar da boa vontade do outro;
• não se aproveitar da fragilidade do outro.

Portanto, é muito mais do que uma ocupação ou profissão. É quase um sacer-


dócio, pois é uma “função que apresenta caráter nobre e venerável em razão do
devotamento que exige” (Dicionário Aurélio) e exige dedicação, organização e disci-
plina. O cuidador de idosos é a autoridade do cuidado, pois se encontra plenamente
habilitado para dirigir o “ritual” do ato de cuidar e zelar pela vida do outro.

Atribuições e Perfil do Cuidador


O Quadro 19.1 apresenta as principais atribuições do cuidador de idosos.

Quadro 19.1 Atribuições do cuidador

Auxiliar, estimular e realizar as atividades de vida diária de acordo com o grau de


dependência do paciente: higiene oral/corporal, alimentação, vestuário, locomoção,
medicação, organização do ambiente.

Incentivar a independência e autonomia do idoso, estimulando-o em todas as


atividades que, mesmo com dificuldade, ainda consiga realizar.

Promover suporte emocional, carinho, atenção e companhia.

Implementar e executar as atividades orientadas pela equipe de saúde responsável pelo


acompanhamento do idoso.

Administrar medicação conforme prescrição médica e orientação da equipe


multidisciplinar.

Comunicar à equipe multiprofissional qualquer mudança ou intercorrência.

Tomar as providências necessárias nas situações de emergência.

Promover as condições necessárias para que o idoso possa estar tranquilo e em segurança.

Estimular atividades dentro e fora de casa, possibilitando a manutenção das interações


sociais. Exemplo: assistir à TV, escutar música, ler ou folhear revistas.

Acompanhar o paciente em passeios, consultas, intercorrências, etc.

Conversar, ouvir, fazer companhia e atualizá-lo com informações.

394
O cuidador de idosos é aquele indivíduo capaz de cuidar de si mesmo e que se en-
contra preparado para cuidar do outro. Pode ser alguém da família que se dispõe a as-
sumir o cuidado do idoso (cuidador familiar ou informal) ou alguém que é contratado
e, consequentemente, remunerado para a atividade (cuidador formal ou profissional).
A legislação brasileira ainda não tem estabelecido os pré-requisitos para a profis-
são de cuidador de idosos. A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que tem
por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, definiu a ativi-
dade como ocupação, podendo receber as seguintes denominações: acompanhante
de idosos, cuidador de pessoas idosas e dependentes, cuidador de idosos domicilia-
res, cuidador de idosos institucionais ou gero-sitter.
Portanto, a atividade é incluída como ocupação ou função e tem suas caracterís-
ticas e suas funções de como trabalhar com idosos, mas ainda não é uma profissão
regulamentada por lei. A lei que cria a profissão de cuidador de idosos está ainda em
tramitação no Congresso Nacional e espera-se que, em breve, seja regulamentada.
Até o momento, as definições prévias exigem que o cuidador de idosos deva preen-
cher os seguintes requisitos para o exercício da atividade:
• possuir no mínimo 18 anos completos;
• haver concluído o ensino fundamental ou correspondente;
• haver concluído, com aproveitamento, curso de qualificação profissional reco-
nhecido pelo Ministério da Educação (MEC);
• não ter antecedentes criminais;
• apresentar atestado de aptidão física e mental.

Independentemente do tipo de cuidador, todos eles devem apresentar um perfil


adequado para o ato de cuidar, como pode ser visto na Quadro 19.2.

Quadro 19.2 Perfil do cuidador

Ter boa saúde física e emocional.

Ter capacidade para desenvolver bom relacionamento interpessoal.

Ter postura de autorrespeito e autocuidado, compreendendo suas limitações.

Reconhecer erros, aceitar críticas e sugestões.

Ter postura de sensibilidade e responsabilidade social.

Ser responsável e correto em suas atividades profissionais.

Ter consciência da responsabilidade do seu trabalho e respeitar a intimidade do idoso.


Continua...

395
... continuação

Quadro 19.2 Perfil do cuidador

Respeitar os hábitos antigos do idoso, sendo educado e gentil.

Conhecer-se, tendo autocontrole em situações estressantes, sendo conciliador.

Ter boa qualificação para a atividade.

Saúde do Cuidador
As atividades exercidas pelo cuidador de idosos são diretamente relacionadas ao
seu bem-estar físico e emocional. Desta forma, faz-se necessário que, aquele que cui-
da também se cuide e seja cuidado, de modo a permitir realizar, com mais satisfação
e menos desgaste, as tarefas de cuidar.
Cuidar de outra pessoa não é tarefa fácil. Exige muita responsabilidade e atenção.
Para desempenhar bem as tarefas pertinentes ao cuidado, o cuidador deve estar
atento não só ao paciente, mas também a si mesmo. Tentar dar sempre o seu máxi-
mo, mas ser capaz de reconhecer suas dificuldades e não extrapolar seus limites. Para
isso, é importante estar atento aos sinais do corpo – do corpo que fala e que também
requer cuidados para evitar o esgotamento, a fadiga e o estresse acentuado.
Assim, várias são as qualidades de um cuidador, podendo-se destacar a paci-
ência, dedicação, compreensão e, sobretudo, o conhecimento técnico. Não basta
somente “gostar de velhinhos”. É fundamental o bom preparo técnico para a ativi-
dade. Essas são exigências básicas para a realização das tarefas a serem desenvolvi-
das por quem cuida e que, muitas vezes, podem gerar algum grau de estresse, des-
gaste físico e emocional, sinalizando a importância dos “cuidados com o cuidador”.
Com certa frequência, os cuidadores podem sentir-se com medo, raiva, culpa,
incapacidade e até constrangidos, aumentando ainda mais o desgaste emocional e
físico. Desse modo, é importante estar atento aos sinais de alerta do corpo relativos
aos aspectos físicos, de memória, afetivos e sociais, que requerem as estratégias
de cuidar-se.

Cuidar bem de você é uma demonstração de respeito por você


mesmo, que é a essência do bom cuidador de outro.

396
Para cuidar bem de você mesmo é importante estar atento a algumas situações
que vão desde aquelas físicas às emocionais e sociais, como:

Algumas orientações são de fundamental importância para o cuidador:


• manter bons hábitos alimentares e horários fixos;
• praticar atividade física regular (3x por semana), com duração de no mínimo
30 minutos;
• dormir seis a oito horas contínuas por noite;
• ter conhecimento e treinamento para cuidar de idosos.

Cuidar do outro de forma sistematizada e regular está associado à sobrecarga de


trabalho e outros fatores estressantes, como:
• convivência diária com o sofrimento humano, com pacientes graves ou em
fase final de vida;
• falta de conhecimento técnico e, consequentemente, insegurança de não estar
fazendo o melhor;
• cobrança muito grande, principalmente dos familiares;
• lidar com queixas constantes, depressão, sobrecarga, etc.;
• contato íntimo emocional e corporal com o paciente;
• plantão noturno ou diurno.

Reconhecer esses fatores é uma etapa fundamental para articular estratégias de


como lidar com cada um deles. E nessas situações o apoio da equipe de profissionais
envolvidos no processo de cuidado pode ser parte integrante da solução ou ao me-
nos de atenuar o sofrimento e os sentimentos negativos vividos.
O cuidador deve estar atento às seguintes manifestações de sobrecarga:
• irritabilidade, agressividade, mau humor;
• insônia e dor de cabeça frequente;
• depressão e diminuição do controle emocional;
• isolamento social e problemas conjugais.

Diante de qualquer dessas manifestações, deve procurar ajuda imediatamente:


• procurar grupos de apoio;
• manter regularmente os horários de descanso e saber estabelecer limites;
• cuidar da própria saúde, reconhecer ações prazerosas em prol da sua qualida-
de de vida e adotar medidas preventivas;

397
• não reprimir os próprios sentimentos e saber como enfrentar os problemas do
cotidiano;
• não se deixar atingir pessoalmente pelo comportamento das pessoas de quem
se cuida;
• fazer um bom planejamento da própria vida (gastos, horários, tarefas, etc.).

A Declaração dos Direitos de Cuidador deve ser conhecida por todos os atores en-
volvidos no cuidado, familiares ou não. É a salvaguarda que o cuidador tem, quando
desconfiar que está sendo explorado ou quando se sentir sobrecarregado (Quadro 19.3).

Quadro 19.3 Declaração dos direitos do cuidador

Ter o direito a cuidar de si.

Ter o direito de receber ajuda e participação dos familiares, nos cuidados ao idoso
dependente.

Ter o direito de procurar ajuda.

Ter o direito de ficar aborrecido, deprimido e triste.

Ter o direito de não deixar que os próprios familiares e/ou os familiares dos idosos ten-
tem manipular com sentimentos de culpa.

Ter o direito a receber consideração, afeição, perdão e aceitação de familiares dos ido-
sos e da comunidade.

Ter o direito de orgulhar-se do que faz.

Ter o direito de proteger a própria individualidade, os interesses pessoais e as próprias


necessidades.

Ter o direito de receber treinamento para cuidar melhor do idoso dependente.

Ter o direito de ser feliz!

O cuidador deve ficar atento às suas necessidades físicas, emocionais e sociais.

Necessidades Físicas
Um dos problemas comumente relatados por esses profissionais é a lombalgia,
ou dor nas costas (região lombar). Desde o princípio do mundo, as pessoas sofrem
de dor nas costas. Isso se deve ao fato de a região lombar sustentar a maior parte do
peso do corpo. Essa região também sofre o impacto das posturas e comportamentos
inadequados, como, por exemplo:

398
• má-postura para caminhar, sentar e deitar;
• falta de atividade física regular;
• excesso de peso;
• problemas na mecânica corporal;
• sono não reparador;
• dieta inadequada;
• tensão e estresse emocional.

Normalmente, os “sinais de alerta” não são percebidos pelo cuidador e passam


desapercebidos. Dores articulares leves ou lombalgia discreta são o prenúncio de
problemas mais graves, em breve, podem limitar a sua mobilidade. Toda dor ou des-
conforto em algum movimento é sinal de que esse movimento não está sendo feito
corretamente. Ignorar o sintoma é adiar e agravar o problema, que pode descom-
pensar e trazer graves complicações para o cuidador. Os problemas mais frequentes
de coluna ocorrem quando os discos intervertebrais se rompem ou formam hérnias
e se degeneram. A dor resultante muitas vezes faz os músculos se contraírem (es-
pasmo) para proteger a coluna, causando mais dor e criando um ciclo vicioso. Para
que as atividades exigidas pela profissão sejam realizadas sem prejuízo à saúde do
cuidador, algumas atitudes e cuidados devem fazer parte da rotina do profissional.

Evitar o esforço das costas:


Pegando peso:
• dobrar os joelhos, não as costas;
• observar onde está pisando;
• concentrar o peso nas pernas;
• segurar os objetos junto ao corpo;
• levantar os objetos somente até a altura do peito;
• pedir ajuda se o objeto for muito pesado.

Cuidar bem de você é uma demonstração de respeito por você mesmo, que é
a essência do bom cuidador de outro.
Assentado:
• apoiar os dois pés no chão;
• encostar toda a coluna na cadeira;
• manter os joelhos no mesmo nível dos quadris.

399
Em pé/ caminhando:
• usar sapatos confortáveis;
• manter uma boa postura com a cabeça erguida, mantendo o olhar na linha
do horizonte;
• se estiver em pé por muito tempo, alternar a posição dos pés, mantendo um
deles apoiado em nível mais alto.
Dirigindo:
• sentar-se com a coluna reta e com as duas mãos ao volante;
• ajustar o banco do carro para que os joelhos fiquem no mesmo nível dos quadris.
Dormindo:
• procurar um colchão adequado para seu peso e que oferece bom apoio para
as curvas da coluna;
• deitar-se de lado com um travesseiro entre os joelhos dobrados ou de costas
com travesseiro embaixo dos joelhos.

Em caso de desconforto nas costas, recomendam-se alguns exercícios de alon-


gamento:

• em pé, apoiar as mãos na região lombar e inclinar


ligeiramente o corpo para trás. Manter a posição por 15
segundos e retornar. Repetir a série por três vezes. Observar
se ocorre dor aguda ou formigamento nas pernas. Se
houver, procurar um médico.

• inclinar lentamente o corpo para frente e tentar colocar as


pontas dos dedos nos pés dianteiros na cadeira. Manter por
1 minuto e retornar lentamente.

• deitar-se com o dorso no chão e apoiar as penas em


uma cadeira. Manter por 15 minutos.

400
Necessidades Emocionais
O reconhecimento das necessidades emocionais é muito mais difícil que as físicas.
As pessoas sempre acham que estão bem e que vão dar “conta do recado”. Admitir as
próprias limitações é um desafio e, na maioria das vezes, negligencia-se tudo aquilo que
dá prazer. Alguns acham que cuidar do outro significa não cuidar de si mesmo. Daí a im-
portância da disciplina e da organização do trabalho. Tem-se que estabelecer horários
para o outro e para si. Horário de se exercitar, alimentar, dormir, passear, namorar, estu-
dar e, até mesmo, de não fazer nada. O ócio é extremamente produtivo, quando bem
utilizado. Para que seja possível atender às necessidades emocionais, é importante que
o cuidador aprenda a reconhecer o que o faz sentir-se bem. Isso pode parecer simples,
mas em meio a tantas demandas relativas ao cuidado, à necessidade de organização do
tempo e de priorização, torna-se um desafio que requer do cuidador o reconhecimento
dos seus limites frente à complexidade do ato de cuidar (Quadro 19.4).

Quadro 19.4 Necessidades emocionais do cuidador

Observar sinais de ansiedade, depressão, raiva, irritação ou culpa frente às limitações


do idoso ou das ações como cuidador. Esses sentimentos precisam ser reconhecidos,
elaborados, compartilhados e controlados a partir do apoio de outros familiares ou de
pessoas que vivem situações semelhantes.

Receber carinho, perdão, reconhecimento pelo seu serviço e coragem.

Procurar conversar com pessoas de sua confiança e, se preciso, procurar ajuda profissional.

Compartilhar os sentimentos positivos e negativos com pessoas sensíveis a experiência


vivida, em especial os sentimentos de culpa.

Ter uma rede social de apoio, seja de amigos da igreja, familiares e profissionais de
saúde, pode ser uma estratégia importante nessas situações.

Necessidades Sociais
Todo indivíduo tem necessidade sociais, que devem ser respeitadas (Quadro 19.5).

Quadro 19.5 Necessidades sociais do cuidador

Manter atividades sociais de seu interesse ou lazer (cinemas, visitas, clubes, dançar,
etc.). Para isso, é necessário, muitas vezes, pedir ajuda, sem criar expectativas de que
os outros familiares ou pessoas adivinhem as suas necessidades de apoio. O cuidador
deve sinalizar esta demanda para que possa manter as suas atividades sociais.

Reservar tempo para suas necessidades espirituais, como rezar, orar, meditar e relaxar. E
quando se fala de práticas de cuidado, o tempo é algo preciso, caro e muitas vezes raro.
Para isso, é primordial desenvolver estratégias de priorização, de uso racional do tempo.
Continua...

401
... continuação

Quadro 19.5 Necessidades sociais do cuidador

Ter direito de ficar aborrecido, triste, ter sentimento de culpa, sem prejudicar o seu trabalho.

Reconhecer os limites de ser um humano! Muitas vezes, a angústia e o sofrimento são


os “ritos de passagem” para a compreensão do sentido da vida e servem para fortale-
cer a pessoa nos embates do cotidiano.

Ter orgulho da atividade, da sua profissão de cuidador e do que faz.

A Equipe de Saúde e o Cuidador


O cuidador representa, dentro do núcleo familiar, a referência e o elo entre o ido-
so, a família e os profissionais de saúde. Os cuidadores e os idosos desenvolvem uma
relação íntima e vivenciam experiências de aprendizagem mútua, fazendo-se assim
extremamente necessário como parceiro no sucesso terapêutico do idoso. Além do
benefício para o paciente, o contato empático com a equipe de saúde é capaz de re-
duzir os sintomas depressivos do cuidador, melhorando o cuidado de ambos os lados.
É por intermédio do cuidador que, na maioria das vezes, as informações rela-
tivas à saúde do paciente são obtidas, chegando-se assim a um diagnóstico mais
preciso. É também por meio dele que as orientações sobre o tratamento são re-
passadas e colocadas em prática, além de ser o responsável pelas providências
necessárias durante as intercorrências.
É importante que o cuidador esteja sempre atento ao paciente, a partir da percep-
ção imediata, das sensações, pensamento, imaginação e raciocínio rápido para a to-
mada de decisão. A observação deve-se tornar um hábito frequente no cuidador de
idosos, demonstrando interesse, ouvindo, comunicando e compreendendo os limites
do paciente, sem invadir a intimidade do mesmo. Com o passar do tempo e com a
experiência, torna-se mais fácil reconhecer qualquer tipo de alteração com o idoso.
O cuidador de idosos, formal ou informal, é parte integrante e essencial da
equipe de saúde responsável pela saúde do idoso. O trabalho interdisciplinar é base
do sucesso do tratamento. O cuidador é o principal agente para implementação do
plano de cuidados e para a observação e registro dos ganhos e perdas resultantes
do tratamento. As informações do cuidador são decisivas para mudanças na estra-
tégia do tratamento farmacológico e não farmacológico. Ele é o “termômetro” ou
a melhor medida utilizada para se verificar o impacto das intervenções propostas.
Daí a importância de sua formação técnica, pois sua opinião é extremamente rele-
vante nas decisões clínicas. Pode-se dizer que o cuidador é a melhor tecnologia leve
de melhoria da qualidade de vida do idoso e de sua família.

402
Idoso bem cuidado é idoso não internado.

Referências
1. BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, RJ:
Editora Vozes, 1999. 199 p.
2. BORN, T. (Org.). Cuidar melhor e evitar a violência - manual do cuidador da
pessoa idosa. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Subsecretaria de
Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, 2008. 330 p. Disponível em: <http://
www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/legislacao/pdf/manual-do-cuidadora-
-da-pessoa-idosa>. Acesso em: 12 maio 2016.
3. ROCHA JÚNIOR, P. R. et al. Efeito da capacitação dos cuidadores informais sobre
a qualidade de vida de idosos com déficit de autocuidado. Ciência & Saúde Co-
letiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 7, p. 3131-3137, july 2011. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/csc/v16n7/13.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2016.
4. WACHHOLZ, P. A.; SANTOS, R. C. C.; WOLF, L. S. P. Reconhecendo a sobrecarga
e a qualidade de vida de cuidadores familiares de idosos frágeis. Revista Brasi-
leira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 513-526, jul./
set. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v16n3/v16n3a10.pdf>.
Acesso em: 24 abr. 2016.

403
Índice Remissivo
A Atividades básicas de vida diária (ABVD), 21
Abandono, 371 Atividades de Vida Diária - AVD, 7
Absorvente(s), 169 Atividades instrumentais de vida diária (AIVD),
21
Abusos, 370
Atrofia do coxim plantar, 122
Acamado, 130
Audição, 49, 183
Acidente vascular cerebral, 216
sequelas, 219
Autocuidado, 276

Ácidos graxos essenciais, 149 Autonegligência, 372

Acupuntura, 222, 241 Autonomia, 8, 21

Adaptador, 351 Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), 68

Adolescência, 359
B
Adultez, 360
Bacteriúria assintomática, 249
Afasia, 187, 219
Banheiro, 280
Agitação, 98
Banho, 103, 279
Água, 45
no leito, 284
Álcool, 105
Barras de segurança, 281
Almofada(s), 144
Bengala(s), 119
Altura, 341
Benzodiazepínicos, 87
Alucinações, 101
Bexiga, 59, 216
Alzheimer, 88
neurogênica, 216
Amnésia, 89
Bico de papagaio, 222
Amputação, 206
Boca, 308
Analgésicos, 222
Bolha(s), 268
Andador, 119
Bombinha, 236
Aneurisma, 213
Bradicinesia, 227
Angina, 212
Broncoespasmo, 234
Anticolinesterásicos, 88
Bronquite, 231
Antidepressivos, 106
Anti-inflamatório(s), 200 C
Aparelhos auditivos, 185 Cabelo, 283
Apetite, 258 Caduquice, 84
Articulação coxofemoral, 221 Caixa torácica, 58
Artralgia, 221 Calçado(s), 123
Artrose, 221 Calcanhar, 119
Asma, 234 Calosidade(s), 121
Assadura(s), 173 Câncer, 241, 312
ácidos graxos essenciais, 174 bucal, 312
Assoalho pélvico, 60 Candidíase bucal, 312
Ataque isquêmico transitório, 216 Canudos, 350
Aterosclerose, 212 Capacidade
Atividades avançadas de vida diária (AAVD), aeróbica, 198, 210
21 funcional, 6

406
muscular, 210 Comprimido(s), 323
Cápsula(s), 324 Comprometimento cognitivo leve, 12, 17
Caquexia cardíaca, 210 Comunicação, 8, 180
Cardiopatia, 209 Condição Aguda, 194
Cárie, 310 Condição Crônica, 194
Caroço, 242 Confusão mental, 256
Casa-lar, 36 Congelamento, 228, 229
Catarata, 181 Congestão, 209
Cefaleia, 218 Constipação intestinal, 62, 261
Cegueira, 181 Constituição Cidadã, 28
Centro de convivência, 38 Contenção, 158
Centro-dia, 38 Continência, 164
Ceratose, 54 Contusão(ões), 112
actínica, 54 Convulsão(ões), 266
seborreica, 54 Coração, 57
Cérebro, 62 Crimes, 32
Chieira, 234 Cuidado de longa duração, 13
Chinelo, 123 Cuidador de idosos, 35, 393
Cicatrização, 205 Cuidados de longa duração, 9
Cidadania, 28 Cuidados Paliativos, 379
Circunferência da panturrilha, 75, 341 Curador, 94
Circunferência de cintura, 341 Curatela, 94
Cirurgia de ponte de safena, 215 Curativo, 146
Cisalhamento, 138 Cutícula, 283
Cistite, 248
Classificação D
Clínico-Funcional do Idoso, 15 Dados antropométricos, 353
idosos de ILPI, 34 Declaração de Óbito, 388
imobilidade, 130 Declínio funcional, 12, 256
IVCF-20, 76 estabelecido, 21
Claudicação intermitente, 111 iminente, 21
Cognição, 8, 82 Dedo(s), 120
Colchão(ões), 144 sobreposição, 120
Colelitíase, 61 Deformidade, 221
Coletor urinário, 171 Degeneração macular, 181
Cólica biliar, 61 Deglutição, 188
Colírio(s), 326 Delírio, 102
Colostomia, 297 Delirium, 256
Coluna vertebral, 221 Demência(s), 84, 86
Comida, 342 Alzheimer, 88
Comportamento, 96 frontotemporal, 86
Composição corporal, 45 por corpos de Lewy, 86
vascular, 86

407
Densitometria, 224 Elevador de vaso sanitário, 117, 223, 278
Dentadura, 317 Emagrecimento, 233, 241, 242
Dente(s), 308 Encefalopatia hepática, 87
Dependência, 21 Enfisema, 231
Dependente incompleto, 15 Engasgo, 346
Depressão, 104 Enoftalmia, 47
Dermatite, 173 Envelhecimento, 22, 42
Derrame, 216 bem-sucedido, 22
Desidratação, 259 Equilíbrio, 50
Desmaio, 266 Equimoses, 54
Diabetes mellitus, 203 Equipamento de autoajuda, 35
Diarreia, 263 Eritema, 140
Dieta, 293 Escabiose, 54
artesanal, 293 Escala Visual Analógica, 238
industrializada, 294 Escala visual de fragilidade, 17
Difteria, tétano e coqueluche, 251 Escara, 137
Diretivas antecipadas de vontade, 384 Esclerose, 84
Disartria, 219 Escova de dentes, 315
Disfagia, 188, 348 Esfacelo, 140
Disfonia, 186 Espaçador, 235
Dispneia, 264 Espessante, 350
Disúria, 248 Espirometria, 231
Diurese, 166 Espuma, 145
Diurético(s), 199 Esquecimento, 89
Divertículos, 62 Estatura, 56
Diverticulose, 62 Estatuto do Idoso, 30
Doença(s), 194, 311 Estenose, 213
arterial coronariana, 213 carótida, 213, 219
arterial periférica, 213 traqueia, 302
Chagas, 210 Estoma, 298
Parkinson, 227 Estratificação de risco, 69
periodontal, 311 Estrógeno, 223
pulmonar obstrutiva crônica, 231 Expectativa de vida, 3
Dor, 237
central pós-AVC, 238 F
neuropática, 238 Face em máscara, 227
nociceptiva, 237 Fadiga, 55
Dormência, 121 Fala, 180
Dor Total, 238 Família, 28
DPOC, 231 Fasciíte plantar, 122
Febre, 261
E Febre amarela, 251
Edentulismo, 309

408
Fecaloma, 262 Hiperglicemia, 203
Fecundidade, 3 Hiperssonia, 63
Feminização da velhice, 3 Hipertensão arterial, 196
Fibrilação atrial, 218 Hipertensão do jaleco branco, 200
Fio dental, 315 Hipertonia, 228
Fístula Hipoglicemia, 208
traqueocutânea, 302 Hipotensão ortostática, 196
traqueoesofágica, 302 Hipotermia, 261
Flictema, 269 Humor, 8, 82
Força muscular, 55
Fragilidade, 11, 68 I
Fragilização, 22 Iatrogenia, 9, 195, 332
Fralda(s), 151 Ideias delirantes, 102
Fratura, 225 Idoso(s), 2
fêmur, 225 cuidador, 35
Freezing, 228 em risco de fragilização, 17
Fumo, 231 frágil, 17
Funcionalidade, 8 robusto, 17
Ileostomia, 297
G Iluminação, 114, 116, 289
Gangrena, 205 Imobilidade, 126
Gastrostomia, 295 Imunidade, 47
Genérico(s), 322 Imunização, 250
Gengivite, 311 Imunossenescência, 46
Gigantes da geriatria, 9 Incapacidade, 22, 84
Glaucoma, 181 cognitiva, 84
Glicemia, 203 funcional, 21
Glico-hemoglobina, 203 Incontinência fecal, 176
Glicose, 203 funcional, 177
Grandes síndromes geriátricas, 9 por sobrefluxo, 176
Gripe, 242 reto-esfincteriana, 177
secundária, 177
Grupo de convivência, 38
Incontinência urinária, 165
H de esforço, 167
Halitose, 313 de urgência, 167
Hematoma subdural, 87, 112 funcional, 167

Hepatite B, 251 mista, 167


por transbordamento, 167
Herpes zóster, 251
Independência, 8
Hiato auscultatório, 197
Índice de Massa Corporal (IMC), 46, 341
Hidratante, 149
Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20
Higiene, 64, 258, 279
(IVCF-20), 69
íntima, 285
Infância, 358
sono, 64, 258

409
Infarto agudo do miocárdio, 212 M
Infecção urinária, 248 Macroangiopatia, 204
Influenza, 242 Mamadeira, 352
Inquietude, 100 Marcha, 111
Insônia, 63, 258 Massagem, 241
Instituições de Longa Permanência para Idosos Maus-tratos, 370
(ILPI), 34
Medicamento(s), 235, 322
Insuficiência genérico(s), 322
cardíaca, 209
inalatório, 235
respiratória, 232
Meias, 206
vascular, 213
Memória, 82
vascular mesentérica, 213
Micose, 121
Insuficiência familiar, 9, 13
Microangiopatia, 204
Insulina, 325
Miocárdio, 212
Interdição, 94
Mobilidade, 8
Internação, 210
Modalidades de atenção ao idoso, 33
Mortalidade infantil, 3
J
Morte, 382, 387
Jejunostomia, 295
Mucosa oral, 309
Joanete, 120
Musicoterapia, 241
Joelho, 221

K N
Nefropatia, 205
Kegel, exercício de, 168
Negligência, 371
L Neuropatia, 205
Labirinto, 50 Noctúria, 59
Lacrimejamento, 47 Nódulos de Heberden, 222
Lágrima, 47
Legislação, 30
O
Obesidade, 203
Lei Orgânica da Assistência Social-LOAS, 29
Olfato, 52
Leite, 345
Olhos, 47
Lençol(óis), 152
Onicogrifose, 54, 120
Lesão, 135
fricção, 135 Onicomicose, 54
pressão, 137 Orelhas, 49
Leucodermia puntiforme, 54 Órgãos-alvo, 198
Levodopa, 228 Osso(s), 56
Língua, 309 Osteoartrite, 221
Linguagem, 186 Osteoporose, 223
Luto, 383 Osteossíntese, 226
Luvas de contenção, 160 Ostomia(s), 297
Ovo(s), 345

410
Óxido de zinco, 175 Ponteiras da bengala, 119
Oxigenioterapia, 303 Posicionamento, 143
Presbiacusia, 49
P Presbiesôfago, 61
Pacto pela Vida, 30 Prisão de ventre, 261
Paladar, 51 Proeminências ósseas, 138
Parada cardiorrespiratória, 271 Propriocepção, 50
Parestesia, 205 Próstata, 60
Parkinson, 226 Proteína, 344
Parkinsonismo, 228 Prurido senil, 54
Pedra na vesícula (ver Colelitíase) Pseudo-hipertensão do idoso, 196
Pele, 53, 134, 290 Psiquismo, 361
anexos, 53 Ptose, 47
Perambulação, 100 Pulmão, 58
Perda auditiva, 184 Punho(s), 159
Pé(s), 54, 119, 150, 206, 207, 282 Púrpura senil, 54
asciíte plantar, 122
atrofia do coxim plantar, 122 Q
calçado, 123 Quadril, 221
calcâneo, 122 Queda(s), 112
calosidade, 121 Queimaduras, 268
de atleta, 54
diabético, 205 R
dormência, 121 Rachadura(s), 121
joanete, 120 Reabilitação, 220, 222, 229
micose, 121 Refrigerantes, 201
onicogrifose, 120
Reposicionamento, 154
rachadura, 121
Reserva homeostática, 4
úlcera, 121
Resfriado, 243
unha, 120
Restrição da participação social, 23
Peso, 341
Retinopatia, 205
Petrolato, 175
Rigidez, 228
Pielonefrite, 248
Rim, 59
Placa aterosclerótica, 212
Rinite, 243
Pneumonia, 246
Rugas, 54
Polaciúria, 248
Polidipsia, 203 S
Polifagia, 203 Sabedoria, 83, 357
Polifarmácia, 23 Saburra, 309
Polineuropatia, 205 Saleiro, 201
Polipatologia, 23 SAMU, 270
Política Nacional do Idoso (PNI), 29 Sapinho, 312
Poliúria, 203 Sarcopenia, 23, 45, 55

411
Sarna, 54 Transição demográfica, 2
Saúde, 6, 21 Traqueomalácia, 302
condição crônica, 21 Traqueostomia, 300
Semidependente, 15 Traumatismo cranioencefálico, 87, 110
Senescência, 23, 42 Tremor, 226
Senilidade, 23, 42 Tristeza, 105
Serviço de república, 37 Tronco, 159
Sexo, 60 Tumor cerebral, 87
Sexualidade, 60, 364
Sialorreia, 228 U
Sistema, 59 Úlcera, 121
cardiovascular, 57 Úlcera por pressão(ver Lesão por Pressão)
gastrintestinal, 61 Unha(s), 120, 282
geniturinário, 59 Uretra, 59, 172, 248
muscular, ossos e articulações, 55 Uretrite, 248
nervoso, 62 Urina, 261
respiratório, 58 Urostomia, 298
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), 33
Sistema Único de Saúde (SUS), 33 V
Sonda(s), 290 Vacinação antipneumocócica, 247
Sono, 63, 257 VPC13, 247
higiene, 64 VPP23, 247
insônia, 258 Vacinas, 250
não REM, 63 Vagina, 60
REM, 63 Velocidade da marcha, 74
Sonolência, 257 Visão, 47, 180
Sons de Korotkoff, 197 Vitalidade, 4, 23
Sopro, 57 Vitamina D, 345
Sororoca, 387 Vômito, 259, 263
Subnutrição, 260 Voz, 186
Sudorese, 208 Vulnerabilidade, 23
Suicídio, 105
X
T Xarope(s), 324
Talheres, 351 Xerodermia, 54
Tapete, 114 Xerostomia, 52, 309
Tato, 53
Termoterapia, 240 Z
Testamento Vital, 384 Zumbido, 49
Teste do sussurro, 184
Tontura, 196
Tosse, 232
Transferência, 7, 155

412
Formato: 160x230mm

Composto em Frutiger e Glypha LT

Papel couché fosco, 70g/m2 (miolo)

Papel supremo, 250g/m2 (capa)

Impressão e acabamento: Gráfica Formato

Belo Horizonte – 2016

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