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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – Dezembro 2017, Vol.

25, nº 4, 1547-1557
DOI: 10.9788/TP2017.4-04Pt

Percepções sobre o Processo de Trabalho


em um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil

Meyrielle Belotti1, *
1
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Terapia Ocupacional
e Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Vitória, ES, Brasil
Bruna Ceruti Quintanilha2
Kelly Guimarães Tristão2
Pedro Machado Ribeiro Neto2
2
Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação
em Psicologia, Vitória, ES, Brasil
Luziane Zacché Avellar3
3
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Psicologia Social
e do Desenvolvimento e Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Vitória, ES, Brasil

Resumo
O objetivo da pesquisa foi analisar as percepções dos profissionais de saúde sobre o processo de trabalho
e, consequentemente, a produção do cuidado, diante da fusão de um Centro de Atenção Psicossocial
Álcool e Drogas infanto-juvenil (CAPS ADi) com um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil
(CAPSi), de um município da região sudeste do Brasil. Utilizou-se a abordagem qualitativa. Participaram
do estudo 11 profissionais de saúde. Para a coleta de dados foi utilizado a técnica do grupo focal. Os
dados foram submetidos à análise de conteúdo. Os resultados indicam que a fusão dos serviços ocorreu
de modo verticalizado, não havendo a inclusão dos profissionais no processo de planejamento para a
unificação. Esta situação produziu reflexo no trabalho, tais como: dificuldades para a realização do
trabalho em equipe sob a ótica da interdisciplinaridade; a construção de um agir descomprometido; e a
organização do trabalho por demandas. Além destas questões, verificou-se que a não apropriação dos
profissionais dos processos de mudança ocorridos gerou sofrimento nestes.
Palavras-chave: Processo de trabalho, serviços de saúde mental, criança, adolescentes.

Perceptions of the Process of Work in a Psychosocial


Care Center for Children and Youth

Abstract
The aim of this article was to analyze the perceptions of health professionals regarding the process of
work and the production of care after the merging of a Psychosocial Care Center for Alcohol and Drug
Use for Children and Youth (CAPS ADi) and a Psychosocial Care Center for Children and Youth (CAP-
Si), in a city located in southeastern Brazil. This was achieved using a qualitative approach. The study
involved 11 health professionals. Data were collected using focus groups, and examined using content
analysis. The results indicated that the merging of the services was implemented in a top-down fashion,

* Endereço para correspondência: Rua Nancy Alves Vieira de Menezes, 50, Mata da Praia, Vitória, ES, Brasil
29.065-560. Fone: (27) 3022-6861 (27) 99949-3596. E-mail: meyri.belotti@gmail.com
1548 Belotti, M., Quintanilha, B. C., Tristão, K. G., Ribeiro Neto, P. M., Avellar, L. Z.

with health professionals excluded from the planning of the merger. This had a significant impact on
work performance, leading to difficulties in adopting an interdisciplinary approach to multidisciplinary
work; lack of commitment; and a division of the work according to patient needs. Additionally, the
exclusion of health professionals from the process of change was identified as a significant cause of
distress for these individuals.
Keywords: Work process, mental health services, child, adolescent.

Opiniones en el Proceso del Trabajo en un Centro


de la Atención Psicossocial Infanto-Joven

Resumen
El objetivo del artículo es analizar las opiniones de los profesionales de salud en el proceso del trabajo
e la producción del cuidado, delante de la fusión de uno Centro de la Atención Psicossocial Alcohol y
Drogas Infanto-Joven (CAPS Adi) con uno Centro de la Atención Psicossocial Infanto-Joven (CAPSi),
de una ciudad de la región del sudeste del Brasil. Se utilizó un enfoque cualitativo. Once profesionales
de salud habían participado del estudio. Para la recogida de datos fue utilizado la técnica del grupo focal.
Los datos habían sido sometidos al análisis del contenido. Los resultados indican que la fusión de los
servicios ocurrió de manera jerárquica, y no hay inclusión de los profesionales en el proceso de plani-
ficación para la unificación de los servicios, como: dificultades para llevar a cabo el trabajo en equipo
desde la perspectiva de la interdisciplinariedad; la construcción de acciones sin compromisos; y también
la organización del trabajo para las demandas. Además, se ha descubierto que la no apropiación de los
profesionales en los procesos que se produjeron causaron sufrimiento.
Palabras clave: Proceso del trabajo, servicios de la salud mental, niño, adolescente.

Nos últimos anos, o campo da saúde mental com história de vida e possuidor de desejos; e
tem passado por mudanças significativas, no que de favorecer a criação de estratégias de cuidado
tange os saberes e as práticas, na busca pela su- na perspectiva da inclusão social, tendo em vis-
peração da lógica manicomial. Estas têm se dado ta a relação estigmatizada existente em torno da
a partir da reestruturação das políticas públicas loucura e das pessoas que fazem uso de álcool e
e da organização da rede de atenção em saúde, outras drogas.
o que possibilita a produção de um cuidado am- Especificamente, sobre a produção de cui-
pliado e capaz de atender tanto ao sofrimento dado em saúde mental infanto-juvenil, cabe
psíquico quanto às demandas relacionadas ao destacar que a inclusão dessa temática ocorreu
uso abusivo de álcool e outras drogas (Ministé- de forma tardia nas políticas públicas da saúde
rio da Saúde, 2009a, 2009b, 2009c, 2014). mental, sendo essa constituída pela extensão
Neste cenário, a atenção psicossocial passa das práticas voltadas para a população adulta
a ser o modelo norteador do cuidado, sendo este (Lima, 2014). Esse cenário direcionou o cuidado
sustentado por um conjunto de novas concepções da criança e do adolescente para as instituições
e conceitos, nos quais se articulam com diversos totais de natureza privada e filantrópica, que, na
saberes a respeito do sofrimento psíquico (Luzio sua maioria, atuam de forma fragmentada (Ca-
& Sinibaldi, 2012). Assim, esse novo paradigma valcante, Jorge & Santos, 2012).
exige a criação de outras formas de lidar com a Ressalta-se, também, que a atenção psicos-
experiência da loucura, por meio da reformula- social é o modelo norteador da produção de cui-
ção das ações de caráter técnico capazes de: pro- dado voltado para o público com necessidades
mover a reorganização dos serviços; reconhecer decorrentes do uso abusivo de álcool e outras
a pessoa em sofrimento psíquico como um ser drogas. No entanto, soma-se a esse modelo o uso
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Infanto-Juvenil.

das estratégias de redução de danos. De acordo plinares por meio de complementariedade das
com o Ministério da Saúde, a redução de danos áreas de conhecimento (Sousa & Bastos, 2016).
deve se constituir como um norte ético de todo Tavares, Vendrúscolo, Kostulski, e Gonçalves
e qualquer serviço do SUS (Ministério da Saú- (2012) relatam que há também outras formas de
de, 2009c). Dessa forma, esta se contrapõe ao interação entre as disciplinas, tais como: multi-
modelo de atenção pautado exclusivamente na disciplinaridade que se constitui pela justaposi-
abstinência, logo, visa reduzir os prejuízos de ção de várias disciplinas em torno de um mesmo
natureza biológica, social e econômica do uso de tema ou problema, não ocorrendo nenhum tipo
drogas, respeitando o indivíduo e o seu direito de de articulação entre os profissionais das diferen-
consumir essas substâncias. tes áreas de atuação e a transdisciplinaridade que
No que se refere às mudanças produzidas é caracteriza pela horizontalização das relações
na organização dos serviços e na reestruturação interdisciplinares, em que há uma integração das
das políticas, destaca-se a criação da Rede de disciplinas de um campo particular para uma
Atenção Psicossocial (RAPS), instituída no in- premissa geral compartilhada, o que implica na
tuito de ampliar o acesso das pessoas com sofri- construção de um novo campo disciplinar.
mento psíquico e com necessidades decorrentes Outra mudança, também produzida pela
do uso de álcool e outras drogas aos pontos de implementação da RAPS, diz respeito à ordena-
atenção1 – em seus diferentes níveis de comple- ção do cuidado, que passa para a responsabili-
xidade – e de garantir a articulação e integração dade do CAPS ou da Atenção Básica, garantin-
desses pontos (Ministério da Saúde, 2014). A do o acompanhamento longitudinal do caso e o
implantação da RAPS impõe algumas mudan- permanente processo de cogestão (Ministério da
ças na configuração dos serviços que integram a Saúde, 2014). A cogestão é uma diretriz ético-
rede de saúde mental. Nesse cenário, os CAPSi -política da Política Nacional de Humanização
se caracterizam por prestar assistência às crian- (PNH) que aposta na indissociabilidade entre
ças e aos adolescentes com sofrimento psíquico a produção de cuidado e os modos de gerir os
severo e persistentes quanto aos que apresentam processos de trabalho. Assim, o modelo de co-
necessidade decorrentes do uso de álcool e ou- gestão visa à construção dos processos de traba-
tras drogas. lho organizados através do trabalho em equipe,
No que tange ao processo de trabalho reali- buscando garantir que o poder seja compartilha-
zado no CAPS, a RAPS reafirma que esse deve do por meio de análises e decisões construídas
ser organizado por meio de uma equipe multi- coletivamente (Ministério da Saúde, 2009a).
profissional, que atue sob a ótica da interdisci- Nesta perspectiva, as diretrizes da PNH des-
plinariedade (Ministério da Saúde, 2014). A tacam a necessidade de reorganizar os processos
interdisciplinaridade é uma das formas de inte- de trabalho para se produzir mudanças na oferta
ração entre as disciplinas que se caracteriza por de serviços. Entende-se por processo de trabalho
apresentar um grau mais avançado de relação, o modo como desenvolvemos nossas atividades
em que se busca a ruptura das fronteiras disci- profissionais, ou seja, como é realizado o “con-
junto de procedimentos pelos quais os homens
atuam, por intermédio dos meios de produção,
1
Principais pontos de atenção da RAPS: Unidades sobre algum objeto para, transformando-o, ob-
Básicas de Saúde (também chamadas de Postos terem determinado produto que pretensamente
de Saúde); Núcleos de Apoio à Saúde da Família. tenha alguma utilidade” (Faria, Werneck, Fur-
Consultórios da rua; Centros de Convivência;
Centros de Atenção Psicossocial nas suas quim, Santos & Teixeira, 2009, p. 21).
diferentes modalidades; Atenção de Urgência e Ressalta-se ainda que o processo de trabalho
Emergência; Unidades de Acolhimento; Serviços em saúde possui contornos peculiares e a ação
de atenção em regime residencial; Leitos de saúde do trabalhador demonstra como será realizada a
mental, álcool e outras drogas em Hospitais Gerais
transformação do objeto de trabalho. Assim, o
e Serviços Residenciais Terapêuticos (Ministério
da Saúde, 2014). trabalho em saúde não é controlável devido às
1550 Belotti, M., Quintanilha, B. C., Tristão, K. G., Ribeiro Neto, P. M., Avellar, L. Z.

múltiplas necessidades da vida humana (Littike mitiu ter ciência de que o serviço passava pelo
& Sodré, 2015). processo de fusão com o CAPS ADi. A proposta
O presente artigo é resultado de uma pesqui- do estudo foi apresentada na reunião de equipe,
sa realizada em um CAPSi, situado em um mu- em que os profissionais foram convidados a par-
nicípio da região sudeste do Brasil. Sua relevân- ticipar dos grupos focais, realizados no referido
cia está no processo singular que a equipe deste serviço.
serviços vivenciou, pois, o CAPSi em questão Participaram da pesquisa 11 profissionais:
passou por uma fusão com outra instituição de quatro psicólogos, dois assistentes sociais, um
saúde, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool técnico de enfermagem, dois terapeutas ocupa-
e Drogas infanto-juvenil (CAPS ADi). Assim, o cionais, um médico e um educador físico. Em
CAPSi passa a congregar em seu contexto ins- função da incompatibilidade de horários, os
titucional a assistência às crianças e aos adoles- participantes foram divididos em dois grupos.
centes, tanto com sofrimentos psíquicos severos Foram realizadas duas sessões com cada grupo.
e persistente, quanto os que apresentam neces- Cada sessão teve a duração de aproximadamente
sidade decorrente do uso abusivo de álcool e uma hora e o intervalo estabelecido para a rea-
outras drogas. Diante desse cenário, o estudo se lização de cada uma foi de 15 dias. Os tópicos
propõe a analisar as percepções dos profissionais eleitos para as discussões foram: (a) o processo
do serviço sobre os efeitos produzidos pela fu- de fusão; (b) a organização do serviço a partir
são no processo de trabalho deles e, consequen- da fusão; (c) as dificuldades encontradas nesse
temente, na produção do cuidado. processo; (d) a estruturação das estratégias de
cuidados diante da nova realidade.
Método O tratamento do material deu-se por inter-
médio da análise de conteúdo, conforme pro-
Este trabalho tem por objetivo compreen- posto por Bardin (2006). A análise de conteúdo
der as percepções dos profissionais sobre os configura-se como um conjunto de técnicas de
efeitos da fusão dos serviços no processo de análise das comunicações, que utiliza procedi-
trabalho e na produção do cuidado com os usu- mentos sistemáticos para a descrição do conteú-
ários. Para tanto, a perspectiva da pesquisa qua- do das mensagens (Bardin, 2006). Neste estudo,
litativa mostrou-se o método mais apropriado foram realizadas as seguintes etapas: (a) pré-
para o que almejávamos investigar. Pesquisas -análise, (b) exploração de material e (c) trata-
dessa natureza ocupam-se da compreensão dos mento dos resultados. Na fase da pré-análise foi
significados, dos sentidos, das intencionalida- realizada uma leitura flutuante da transcrição
des e das questões subjetivas inerentes aos atos, das sessões, sendo recortados trechos das falas
às atitudes, às relações e às estruturas sociais que contemplavam os objetivos do estudo. Na
(Minayo, 2012). segunda fase foram definidas as categorias com
Para a coleta de dados utilizou-se da técnica base nas falas selecionadas. Ao total foram obti-
de grupo focal, que visa à interação entre seus das cinco categorias. A última etapa constitui-se
participantes, a partir de tópicos previamente de- na inferência e na interpretação dos dados tendo
finidos pelo pesquisador (Busanello et al., 2013). como elementos norteadores as categorias en-
Nesta proposta, cria-se um ambiente favorável à contradas.
discussão e que propicie aos participantes ma- Para a apresentação de cada categoria foram
nifestarem suas percepções, crenças e atitudes explicitados extratos das falas dos participantes.
sobre a temática posta em discussão (Minayo, As falas foram identificadas por meio da letra S
2012). maiúscula, esta seguida de um número represen-
A escolha pelo campo se deu pelo fato dos tando os sujeitos, isto é, S1, S2, S3, S4.
pesquisadores terem parcerias estabelecidas com A realização da pesquisa foi aprovada pelo
o local em outros estudos e projetos, o que per- Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Huma-
Percepções sobre o Processo de Trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial 1551
Infanto-Juvenil.

nos (CEP) e pela Secretaria Municipal de Saúde. No que se refere à ausência de dados para
Todos os participantes assinaram um Termo de justificar a existência e/ou manutenção do CAPS
Consentimento Livre e Esclarecido, em atendi- ADi, sabe-se que essa situação ocorre devido à
mento à Resolução nº 466 (2012) do Conselho inexistência de Sistemas de Informação em Saú-
Nacional de Saúde. de (SIS) específicos em saúde mental e à ausên-
cia de um indicador de saúde mental no Sistema
Resultados e Discussão de Informação da Atenção Básica (SIAB). Os
SIS visam o acompanhamento integral, a avalia-
Conforme processo detalhado acima, os ção permanente da situação de saúde da popula-
dados analisados delinearam cinco categorias: ção e os resultados das ações executadas, sendo
(a) O motivo da fusão dos serviços; (b) O pro- essas informações fundamentais para o acom-
cesso de fusão e a organização do trabalho; (c) panhamento, controle e repasse de recursos. O
Os estigmas da loucura e do uso de substâncias SIAB se constitui em um SIS que auxilia no
psicoativas; (d) O trabalho em equipe; e (e) A acompanhamento e na avaliação das atividades
produção de cuidado no CAPSi. Será realizada a realizadas no nível da Atenção Básica (Ministé-
discussão dos dados concomitantemente a apre- rio da Saúde, 2009b).
sentação dos resultados. Neste contexto, a inexistência de um con-
junto de dados para nortear o planejamento, o
O Motivo da Fusão dos Serviços monitoramento, a avaliação e o processo deci-
Essa categoria incorpora as falas que dizem sório em saúde mental, faz com que os serviços/
respeito à compreensão dos participantes sobre ações de saúde mental sejam implementados no
as justificativas para a fusão dos serviços. Identi- “tropeço”.
ficou-se que um dos motivos estava relacionado Outro motivo identificado, conforme ilus-
à inexistência de uma política regulamentadora trado abaixo, diz respeito à percepção dos pro-
sobre o CAPS ADi e, também, à ausência de da- fissionais, que compunha a rede de saúde do
dos que justificassem a sua existência: município pesquisado, da necessidade de forta-
“No Brasil tudo isso não existe: CAPS ADi. lecimento dos serviços de saúde mental destina-
Ele não está na política. CAPSi é que atende os da ao público adulto:
dois públicos, não faz sentido ter dois serviços Na época que o CAPS ADi foi aberto foi
diferentes” (S. 3). uma coisa assim muito forte...a indignação
“Baseado em que foi criado o CAPS ADi? da rede como um todo: como? Se a gente
E baseado em que, que você justifica que ele vai
há anos tá precisando de um segundo CAPS
deixar de existir? Entende, não tinha. Então fi-
III adulto vocês, vão e abrem um CAPS Adi
cava parecendo um tropeço” (S. 7).
(S. 9).
Conforme relatado anteriormente, com a
Estudos (Couto, 2012; Lima 2014) relatam
implementação da RAPS, os CAPS passam a
que a atenção à saúde mental infanto-juvenil,
realizar assistência às pessoas com sofrimento
norteada pelos princípios da Reforma Psiquiá-
psíquicos severos e persistentes incluindo aque-
trica, ocorreu de forma tardia no Brasil. Além
las com necessidades decorrentes do uso de ál-
dessa realidade, Couto (2012) ressalta que a
cool e outras drogas. Diante desse novo cenário,
a criança e o adolescente, que fazem uso dessas produção do cuidado em saúde mental infanto-
substâncias, devem ser assistidas no CAPSi, po- -juvenil permaneceu em segundo plano quando
dendo também serem assistidas nos CAPS AD e comparado à assistência voltada aos adultos.
CAPS AD III, se estes serviços forem destinados Segundo Lima (2014), tal situação reforçou o
ao público infanto-juvenil; ou seja, apesar de não manto da deficiência que encobre a loucura da
existir na política a nomenclatura de CAPS ADi, criança e do adolescente. O autor ressalta a im-
essa demanda pode ser acompanhada no CAPS portância do reconhecimento da loucura nesta
AD e no CAPS AD III. faixa etária, para que a saúde mental infanto-ju-
1552 Belotti, M., Quintanilha, B. C., Tristão, K. G., Ribeiro Neto, P. M., Avellar, L. Z.

venil possa sair do marasmo, quando comparada que já estavam no CAPSi, quando esse serviço
a saúde mental para adultos. se caracterizava por prestar assistência somente
a criança e adolescente com sofrimento psíquico.
O Processo de Fusão e a Organização “. . . juntou os serviços, mas não mistu-
do Trabalho rou...” (S. 10).
Essa categoria agrupa falas que estão rela- “. . . até hoje tem gente que não atende
cionadas ao modo como ocorreu à fusão dos ser- Álcool e Droga. É nítido e notório, o paciente
viços e seus reflexos na postura dos profissionais chega ali e: ‘Ah, chama fulano, o paciente é
de saúde. Verifica-se, nos relatos apresentados, dele’. Não se propõem a ir lá” (S. 1).
que não houve participação dos trabalhadores no Pode-se afirmar que o agir descomprometi-
processo de planejamento e de decisão sobre a do, ilustrado na fala acima, também é fruto desse
fusão: modelo de gestão verticalizada. Para Cunha e
Não houve uma escuta por parte da ges- Magajewski (2012), a inserção dos trabalhados
tão com as equipes. E foi uma imposição de saúde nos processos de gestão torna-se de
mesmo, eles decidiram, fizeram e ocorreu fundamental importância para promover a cor-
essa mudança.... Num primeiro momento responsabilidade no cuidado e para produzir mu-
foi muito difícil para as duas equipes. Foi danças no modelo de atenção. De modo geral, há
angustiante. Como vai ser? Até hoje ainda um baixo estímulo à inclusão dos profissionais
existem dificuldades na condução do tra- de saúde em espaços de cogestão. Tal realidade
balho (S. 8). reduz as possibilidades para a formação de um
As falas demonstram a fragilidade do mode- pensamento crítico e para a configuração de um
lo de cogestão, uma vez que é possível verificar a novo modo de agir em saúde em que o cuidado
predominância de um modelo de gestão vertical, passa a ser compartilhado com todos os atores
que impossibilitou a apropriação dos profissio- envolvidos.
nais de saúde do seu trabalho. Tal realidade ge- Acredita-se que, por meio da valorização
rou sofrimento nos trabalhadores e produziu di- dos diferentes sujeitos envolvidos com a produ-
ficuldades na organização do trabalho. Morschel ção de cuidado que é possível reafirmar as dire-
e Barros (2014) ressaltam o caráter singular da trizes do SUS. Ao mesmo tempo, garante-se a
PNH, visto que sua proposta visa interferir nos motivação, o estímulo à reflexão e a criatividade,
processos de formação e de trabalho no campo bem como, minimiza-se o sofrimento do traba-
da saúde. Nesta perspectiva, os autores colocam lhador de saúde através da promoção da autoes-
que essa política se concretiza através de novas tima (Cunha & Magajewski, 2012).
formas de organização do trabalho que se con-
trapõem à lógica dos modos de funcionamento Os Estigmas da Loucura e do Uso de
instituídos; ou seja, formas de trabalho que su- Álcool e outras Drogas
perem o abismo existente entre os que pensam As conotações sociais presentes em torno da
e os que fazem, entre os que planejam e os que loucura e das crianças e adolescentes com ne-
executam. cessidades decorrentes do uso de álcool e outras
Os profissionais também apontaram que, drogas foi outro aspecto que emergiu nas falas
logo que ocorreu a fusão dos serviços, apesar de apresentadas. Na análise dos dados, identificou-
estarem no mesmo espaço físico, as demandas -se a dificuldade de vinculação dos usuários
ficaram vinculadas aos serviços de origem; ou do antigo CAPS ADi ao CAPSi, em função da
seja, as crianças e adolescentes com necessida- construção social acerca da loucura, calcado no
des decorrentes do uso de álcool e outras drogas preconceito/rejeição:
eram assistidas pelos profissionais que compu- “Ainda tem essa questão do tipo: não quero
nham a equipe do CAPS ADi. O contrário tam- ir ao CAPS porque é lugar de doido” (S. 2).
bém foi verificado, o público com sofrimento Apesar dos esforços dirigidos à mudança na
psíquico era referenciado para os profissionais produção de cuidado e às estratégias de inclusão
Percepções sobre o Processo de Trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial 1553
Infanto-Juvenil.

social de pessoas com sofrimento psíquico, ve- que favoreceu a redução das conotações negati-
rifica-se que a construção acerca da loucura ain- vas; tanto acerca da loucura quanto das crianças
da se encontra estigmatizada. Os processos de e dos adolescentes com necessidades decorrente
estigmatização se constituem como um dos en- do uso de álcool e outras drogas:
traves para o avanço da construção de um outro “. . . depois as mães mesmo reconheceram
lugar social para o “louco”. Para tanto, torna-se que não era assim. Que os usuários de álcool
necessário estabelecer novas relações com o su- e outras drogas também precisam de cuidado”
jeito reconhecido como louco (Belotti & Lavra- (S. 10).
dor, 2016). Ou seja, é preciso proporcionar sua “. . . com o passar do tempo eles começaram
circulação pelos diferentes espaços da cidade; a entender e respeitar o modo de funcionamento
possibilitar condições de moradia, de educação dos usuários com transtorno” (S. 9).
e de emprego; incentivar a organização coletiva Rüsch, Angermeyer e Corrigan (2005)
dos usuários de saúde mental e seus familiares apontam que o contato e a interação com as pes-
via criação de cooperativas e de associações, soas estigmatizadas é uma das estratégias para a
dentre outras ações. redução do estigma. Os autores enfatizam, tam-
Também foi possível identificar a conotação bém, a importância da criação de ações educati-
negativa associada à criança e ao adolescente vas, no sentido de promover a substituição dos
com necessidades decorrentes do uso de álcool e mitos por informações e de protesto, que visam
outras drogas. Verifica-se, nas falas apresentadas à mobilização social para suprimir as atitudes e
abaixo, que esses são estigmatizados como pe- comportamentos estereotipados.
rigosos e como aqueles que exercem influência Ressalta-se ainda que, promover estratégias
“negativa” no outro, com a intenção de promo- que visam à redução do estigma envolve, neces-
ver o uso de algum tipo de droga em outrem. Por sariamente, a realização de intervenções no nível
consequência, há um desejo de distanciamento macro, como por exemplo, a implementação de
social desses sujeitos: políticas públicas. Entretanto, a desmistificação
“Algumas mães com filhos com transtorno em torno da loucura e das pessoas com necessi-
que viam alguns adolescentes usuários de AD dade decorrentes do uso de álcool e outras dro-
ficavam assustadas. ‘Pera ai? Agora esses me- gas, não pode ser pensada somente em termos
ninos vão estar aqui também? Afasto meu filho macro. É preciso desenvolver ações no plano
das drogas, agora vejo o menino aqui dentro?’” micro, ou seja, no cotidiano das instituições e
(S. 5). nas suas práticas, que sejam capazes de produzir
De acordo com Ronzani e Andrade (2014) mudanças significativas na vida dessas pessoas.
diversas razões podem favorecer o processo de
estigmatização das pessoas com necessidades O Trabalho em Equipe
decorrentes do uso abusivo de álcool e outras As falas evocadas relacionadas às formas de
drogas. Dentre estas, os autores destacam o fato relações interdisciplinares e trabalho em equipe
desses usuários serem vistos como alguém com foram agrupados nesta categoria. No que se refe-
baixa autoestima e com fraqueza de caráter, sen- re às interações interdisciplinares estabelecidas
do ele o único responsável pelo seu problema. entre os profissionais, observa-se uma contradi-
Além desses “rótulos”, verifica-se que a estig- ção nos relatos. Algumas falas demonstram que
matização desse público está associada à exis- o trabalho em equipe é organizado por turnos de
tência de uma forte conotação moral, o que di- trabalho, configurando-se diferentes equipes em
ficulta a realização de abordagens “adequadas” um mesmo serviço. Outros profissionais colo-
(Ronzani & Andrade, 2014). cam que as relações entre as disciplinas se modi-
Apesar de verificar a existência das relações ficam a cada momento:
estigmatizadas, no que concerne ambas as de- “tem três equipes aqui dentro. Não é porque
mandas presentes no CAPSi, a análise dos dados juntou todo mundo que se tornou uma equipe.
também aponta que a convivência foi um fator Então tem o grupo da manhã, o grupo da tarde
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e nós que somos o meio termo, que fazemos 8h” de cada profissional, que proporcionam a auto-
(S. 8). nomia desses, mas ao mesmo tempo produzem
“temos que ser só trans ou só multi? Vamos interdependência (Sousa & Bastos, 2016). Neste
ser essa metamorfose ambulante...” (S. 3). contexto, os núcleos de competência, isolada-
Como relatado anteriormente, os modos de mente, não conseguem dar conta das necessi-
organização do trabalho em equipe de saúde, dades do campo da saúde, sendo necessária a
suas relações e interações estabelecidas entre as criação de mecanismos de flexibilidade entre os
disciplinas, pode ocorrer de formas diferencia- limites das competências para proporcionar um
das. Por um lado, temos multidisciplinaridade e cuidado integral.
a pluridisciplinaridade, com quase nenhum con- As questões subjetivas que se referem ao
tato entre as disciplinas, e, no outro extremo, te- cotidiano do trabalho em equipe, também se
mos a interdisciplinaridade e transdisciplinarida- fizeram presentes nesta categoria. Verificou-se
de com uma grande interação entre elas (Sousa que essas questões influenciam na construção
& Bastos, 2016; Tavares et al., 2012). dos processos de trabalho:
Na primeira fala verifica-se a existência de É uma construção. Que envolve aquilo que
três equipes no CAPSi, que estabelecem formas há de melhor e pior no ser humano: vai-
de relação diferenciadas com os seus membros, dade, egoísmo, narcisismo, ódio, inveja.
porém não estabelecem interações entre elas. Já Quando a gente se reuni, isso tudo está co-
a segunda fala caracteriza o trabalho em equipe locado. Como construir isso no sentido que
como uma “metamorfose ambulante”, em que a se transforme numa ferramenta de trabalho
organização do trabalho oscila entre multi, inter (S. 4).
e transdisciplinaridade. Isto relaciona-se aos mo- A subjetividade, conforme proposto por
mentos vivenciados pela equipe: Nardi (2006), é um conceito estratégico para a
Às vezes tem momentos que a gente está eu- psicologia social na medida em que compreen-
fórico. As coisas avançando, caminhando. de a indissociabilidade entre individual e cole-
A gente acha que dali só vai mais ainda, tivo, dentro e fora, indivíduo e sociedade. Neste
como maníaco acha. Tem momentos que a contexto, o autor ressalta que os processos de
gente está assim: pra baixo, desanimado, trabalho em saúde não podem ser analisados
desacreditado. E acha que vai piorar mais apenas pela vertente técnica da produção, mas
ainda. Então é assim, essas coisas compa- considerando também o modo como os sujeitos
recem em uma equipe. A equipe nem sempre vivenciam e dão sentido às suas experiências de
está num rumo, pra melhora. E nem sempre trabalho.
ela está acabada, esfacelada. Cabe a gen- Franco e Merhy (2012) colocam que os
te saber lidar com esses momentos de uma processos de trabalho em saúde, na sua micro-
equipe (S. 1). política, revelam um mundo dinâmico, criativo,
Os dados indicam que também há necessi- não estruturado e com alta possibilidade inven-
dade de se preservar os núcleos de competência, tiva; ou seja, o cuidado é uma produção social e
sem perder de vista a flexibilização e o compar- também subjetiva. Diante desta perspectiva, os
tilhamento do conhecimento: autores reconhecem que a vida produtiva é orga-
Estou indo no saber dele, permitindo que nizada pelas relações e que o agir cotidiano dos
ele também se aproprie do meu. Mas sem trabalhadores é permeado pelas relações estabe-
atropelar o dele e que ele atropele o meu. lecidas entre esse e pelo cenário que se encontra.
Até onde posso ir com meu saber sem atro- Assim, o trabalho em equipe e, consequente-
pelar o saber do meu colega? Onde posso mente, a produção de cuidado estão colocados
deixar o saber dele entrar na minha práti- em um território composto por múltiplas deter-
ca? (S. 5). minações, em que por meio dos encontros e das
Entende-se o núcleo de competências como negociações dos sentidos podem ou não produzir
um conjunto de práticas e saberes específicos um agir coerente.
Percepções sobre o Processo de Trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial 1555
Infanto-Juvenil.

A Produção de Cuidado no CAPSi de redução de danos no cuidado da criança e do


As questões referentes à clínica e a produção adolescente com necessidades decorrentes do
de cuidado também emergiram nas falas apre- uso abusivo de álcool e outras drogas.
sentadas. Conforme ilustrado nos relatos abaixo, Outra diferença identificada na produção do
cuidado refere-se à forma de utilização do ser-
os profissionais identificam algumas distinções
viço. Verifica-se que as crianças e adolescentes
na condução da clínica da criança e do adoles-
com necessidades decorrentes do uso de álcool
cente com sofrimento psíquico com necessida-
e outras drogas vão ao serviço, principalmente,
des decorrentes do uso de álcool e outras drogas:
para suprir suas necessidades básicas, sendo es-
Qual o ponto de junção das duas clinicas,
tes momentos utilizados pelos profissionais para
isso é desafiador. Acho que não houve essa
a realização de intervenções:
sensibilidade por parte da área técnica, no
porque essa clientela [crianças e adolescen-
sentido de sensibilizar a gestão de que a
tes que fazem uso do álcool e outras dro-
característica da clinica de AD é diferente
gas], eles vem sem agenda, eles vem solici-
da clinica do transtorno. Como conciliar as
tando: “ah quero lanchar. Quero almoçar.
clinicas é o grande desafio (S. 6).
Eu preciso de um banho”. Eles vêm só pra
São clínicas distintas, mas tem muitas coisas
isso. Ai a partir disso, a gente conversa, vai
em comum né. No sentido assim, a questão
fazendo as intervenções com eles, criando
da inserção social, da escola. As questões
um vínculo (S. 7).
familiares né, as complexidades são muito
Observa-se na fala uma ruptura com a clíni-
parecidas, a gente tem muita coisa em co-
ca tradicional e a criação de novas metodologias
mum, a condução clínica que é distinta, no
de organização do trabalho. Para Sousa (2010),
sentido assim, do um a um ali, isso é distinto
o CAPS tem como proposta a construção de uma
mesmo (S. 11).
clínica cada vez mais fluida e diversificada para
Como já relatado anteriormente, a produção
intervir em situações complexas, nas quais o
de cuidado em saúde mental é norteada pelo mo-
sistema tradicional se mostra insuficiente. Para
delo da atenção psicossocial. Sendo acrescidas
tanto, a estrutura física desses serviços deve ser
as estratégias de redução de danos nas demandas
diferenciada, permitindo uma maior circulação e
vinculadas ao uso de álcool e outras drogas. No
uso do espaço tanto pelos usuários quanto pelos
que se refere à temática da saúde mental infanto-
profissionais. Neste contexto, embora a existên-
-juvenil, soma-se a essas propostas, a necessida-
cia de um espaço de escuta reservado seja neces-
de de contemplar o sistema de particularidade em
sária, a clínica pode ser realizada nas mais diver-
torno da criança e do adolescente, que envolve a
sas situações, se caracterizando com inovadora
inclusão na produção de cuidado de outros seto-
e inventiva.
res: atenção básica, educação, assistência social,
justiça e direitos (Couto, 2012; Lima, 2014; Mi-
Considerações Finais
nistério da Saúde, 2014). Além dessa particulari-
dade, ressalta-se também a necessidade de incluir Este artigo teve como objetivo analisar as
a família no tratamento; de adequar a linguagem percepções dos profissionais de saúde sobre os
e de inserir o lúdico no campo das interven- efeitos produzidos no processo de trabalho e,
ções (Avellar & Bertollo, 2008; Guerra, 2005). consequentemente, na produção do cuidado,
Assim, “o ponto de junção” da clínica di- diante da fusão de um CAPS ADi com um CAP-
recionada à criança e ao adolescente com sofri- Si. Os resultados indicam que a não participa-
mento psíquico com a clínica voltada para as ção dos profissionais no planejamento das ações
demandas decorrentes do uso de álcool e outras para a unificação dos serviços produziu reflexo
drogas, seria tanto o modelo de atenção psicosso- no trabalho. Dentre esses, verificou-se dificul-
cial quanto o sistema de particularidade da saúde dades para: a realização do trabalho em equipe
mental infanto-juvenil. O que as diferencia, no multidisciplinar, sob a ótica da interdisciplinari-
sentido de “um a um”, seria o uso da estratégia dade; a construção de um agir comprometido; e
1556 Belotti, M., Quintanilha, B. C., Tristão, K. G., Ribeiro Neto, P. M., Avellar, L. Z.

a divisão de trabalho por demandas. Alguns pro- Referências


fissionais só atendiam demandas relacionadas ao
sofrimento psíquico e outros as decorrentes do Avellar, L. Z., & Bertollo, M. (2008) A saúde mental
uso de álcool e outras drogas. na infância e adolescência e o diálogo necessário
Ressalta-se também, a exclusão dos usu- entre as dimensões clínica, ética e política. In E.
ários e seus familiares no processo de planeja- M. Rosa, L. Souza, & L. Z. Avellar (Eds.), Psico-
logia Social: Temas em debate (pp. 68-87). Vitó-
mento para a fusão dos serviços. Verifica-se que
ria, ES: Universidade Federal do Espírito Santos.
esta realidade aponta para mais uma fragilida-
de do modelo de cogestão, visto que tal política Bardin, L. (2006). Análise de conteúdo (L. de A. Rego
& A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70.
também propõem o fortalecimento da participa-
ção social, por meio da inclusão dos usuários no Belotti, M., & Lavrador, M. C. C. (2016). A prá-
planejamento, implementação e avaliação dos tica do apoio matricial e os seus efeitos na
processos de produção de saúde (Ministério da Atenção Primária à Saúde. Cadernos de Tera-
pia Ocupacional - UFSCar, 24(2), 373-378.
Saúde, 2009a). Destaca-se ainda que, em relação
doi:10.4322%2F0104-4931.ctoRE0627
aos estigmas apresentados pelos usuários e seus
familiares, pode-se aferir que essas conotações Busanello, J., Lunardi, W. D., Filho, Kerber, N. P. C.,
Santos, S. S. C., Lunardi, V. L., & Pohlmann, F.
sociais teriam sido desmistificadas mais facil-
C. (2013). Grupo focal como técnica de coleta
mente se estes estivessem incluídos nas discus-
de dados. Cogitare Enfermagem,18(2), 358-364.
sões e ações de planejamento para a junção do doi:10.5380/ce.v18i2.32586
serviço. No entanto, conforme relatado no item
Cavalcante, C. M., Jorge, M. S. B., & Santos, D. C.
resultados e discussões, verificou-se que a con-
M. dos. (2012). Onde está a criança?: Desafios
vivência entre ambas as demandas presente no e obstáculos ao apoio matricial de crianças com
CAPSi, favoreceu a diminuição dos estigmas em problemas de saúde mental. Physis: Revista de
torno da criança e do adolescente com sofrimen- Saúde Coletiva, 22(1), 161-178. doi:10.1590/
to psíquico e com necessidades decorrentes do S0103-73312012000100009
uso do álcool e outras drogas. Couto, M. C. V. (2012). Política de Saúde Mental
Diante do exposto, pondera-se que as difi- para crianças e adolescentes: Especificidades e
culdades identificadas no processo de trabalho desafios da experiência brasileira (2001-2010)
do serviço estudado poderiam ter sido ameniza- (Tese de doutorado, Instituto de Psiquiatria, Uni-
das se os diferentes sujeitos implicados com a versidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil).
produção de cuidado estivessem envolvidos nas Cunha, P. F., & Magajewski, F. (2012). Gestão
discussões relacionadas a fusão dos serviços; ou participativa e valorização dos trabalhadores:
seja, se em vez de uma postura verticalizada, ti- Avanços no âmbito do SUS. Saúde e Socieda-
vessem sido criados espaços que favorecessem a de, 21(Suppl. 1), 71-79. doi:10.1590/S0104-
problematização do processo de trabalho diante 12902012000500006
de uma nova possibilidade de realidade institu- Faria, H. P., Werneck, M. A. F., Furquim, M. A., San-
cional. Tais espaços de discussão poderiam fa- tos, M. A., & Teixeira, P. F. (2009). Processo
vorecer a corresponsabilização na produção de de trabalho em saúde (2. ed.). Belo Horizonte,
MG: Nescon.
cuidado, promover uma melhor interação entre
os profissionais e, consequentemente, facilitar Franco, T. B., & Merhy, E. E. (2012). Cartografias
a organização do trabalho em equipe, além de do Trabalho e Cuidado em Saúde. Revista Tem-
fortalecer o vínculo entre usuários, familiares e pus Actas de Saúde Coletiva, 6(20), 151-163.
doi:10.18569/tempus.v6i2.1120
profissionais.
É importante salientar que, neste estudo não Guerra, A. M. C. (2005). A psicanálise no campo
da saúde mental infanto-juvenil. Psyché, 9(15),
foi possível inserir, na coleta de dados, os pro-
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fissionais da gestão que discutiram e decidiram
org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
sobre a fusão do CAPS ADi com o CAPSi, e os 11382005000100011&lng=pt&nrm=i&tlng=pt
usuários e seus familiares. Não sendo possível,
Lima, R. C. (2014). Saúde mental na infância e ado-
analisar sobre a ótica destes como ocorreu o pro- lescência. In M. A. S. Jorge, M. C. de A. Carva-
cesso de junção.
Percepções sobre o Processo de Trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial 1557
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