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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

em PRECEPTORIA EM SAÚDE

Princípios e diretrizes
no Sistema Único de Saúde

unidade 1 Sistema Único de Saúde:


histórico, princípios e diretrizes

Ana Luiza de Oliveira e Oliveira


Cristiane Spadacio
ASPECTOS FUNDAMENTAIS
DO SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE: HISTÓRICO,
PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
CONTEUDISTAS: ANA LUIZA DE OLIVEIRA OLIVEIRA
CRISTIANE SPADACIO

RESUMO

O Sistema Único de Saúde (SUS) define-se como o arranjo organizacional


do Estado brasileiro que dá suporte à formulação e à implementação
da Política Nacional de Saúde. Não se restringe a um sistema de presta-
ção de serviços assistenciais, mas é complexo e busca articular ações
de promoção da saúde e prevenção de doenças, com ações de cura
e reabilitação. Assenta-se em princípios doutrinários e diretrizes
organizativas, que servem de linhas de base às proposições de
reorganização dos serviços, das práticas de saúde e da formação dos
profissionais de saúde. Assim, é fundamental compreender como esse
sistema foi organizado política e socialmente enquanto direito e como
os profissionais de saúde são agentes essenciais para a sobrevivência
desse modelo de atenção à saúde. Este módulo, por sua vez, tem como
objetivo apresentar de maneira crítico-reflexiva o histórico de consti-
tuição do SUS, seus princípios fundamentais, diretrizes organizativas
e o papel dos trabalhadores da saúde como preceptores na formação
dos futuros profissionais.

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EMENTA
Definição do Sistema Único de Saúde. Apresentação dos princípios
doutrinários. Apresentação das diretrizes organizativas. Aspectos
sócio-históricos da constituição do SUS. Regulamentação do SUS.
Papel do profissional de saúde no SUS. Formação de profissionais de
saúde no SUS e para o SUS.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL
Apresentar de maneira crítico-reflexiva o histórico de cons-
tituição do SUS, seus princípios doutrinários, diretrizes
organizativas e o papel dos trabalhadores da saúde na for-
mação dos profissionais de saúde no SUS e para o SUS.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•  Discutir, conceitualmente, o que é o SUS e seus
princípios ético-legais, ressaltando a importância do
processo de conformação e consolidação política do SUS
e o papel do profissional de saúde.

•  Introduzir o desenvolvimento das Políticas de Saúde no


Brasil em uma perspectiva sócio-histórica, a fim de que o
aluno possa dimensionar, criticamente, o SUS de hoje e
as perspectivas para os próximos anos.

•  Apresentar e discutir as diretrizes organizativas e o


alcance dessas diretrizes no cotidiano de trabalho dos
profissionais de saúde.

•  Fomentar o debate da preceptoria como uma prática


consciente no que diz respeito ao papel do SUS
enquanto formador de recursos humanos para a saúde.

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CONTEÚDO
UNIDADE 1: SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE: HISTÓRICO,
PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
AULA 1: O que é o SUS?

AULA 2: Aspectos sócio-históricos da constituição do SUS

AULA 3: O alcance dos princípios e diretrizes: a preceptoria


como uma prática consciente no SUS
Olá, caro aluno! Seja bem-vindo!

Você sabia que o Sistema Único de Saúde é um dos maiores


sistemas universais de saúde no mundo? Que o SUS possui
princípios e diretrizes extremamente democráticos e inovado-
res? E que você, profissional de saúde, é fundamental para a
existência desse sistema de saúde, bem como para a formação
dos futuros profissionais de saúde no país?

Para entender como você se insere nesse sistema grandioso,


este módulo tem como objetivo apresentar, de maneira críti-
co-reflexiva, o histórico de constituição do SUS, seus princípios
fundamentais e diretrizes organizativas. Convidamos você a uma
reflexão crítica do que é a Política Nacional de Saúde brasileira,
como os princípios e diretrizes do SUS perpassam a sua prática
profissional e como você enquanto profissional de saúde é ator
central para a consolidação e manutenção do SUS.

É uma grande alegria construir e compartilhar com você esse


conhecimento. Esperamos que goste e se sinta parte integrante
do conteúdo. E mais, que a discussão que estamos propondo faça
sentido de fato na sua prática profissional cotidiana.

Um ótimo curso a todos!

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situação problema

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UNIDADE 1:
SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE: HISTÓRICO,
PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
AULA 1 - O que é o SUS?
A GRANDEZA DO SUS
E A GRANDEZA QUE
EXISTE EM VOCÊ!
O que faz o SUS e os profissionais de saúde se encantarem e se interes-
sarem por qualquer ambiente de trabalho é você! Sim, você, eu, nós!

A história de Dona Helena se passa em uma Unidade Básica de Saúde


em um grupo de promoção da saúde do Programa HIPERDIA1. Neste
1 - O HIPERDIA
grupo, os moradores e usuários da UBS trocam experiências e conhe- faz parte Plano de
cimentos acerca dos seus problemas de diabetes e hipertensão. Essa Reorganização da
Atenção à Hipertensão
história nos dá indícios de como se estrutura o Sistema Único de Saúde, Arterial e ao Diabetes
o SUS. Vamos aprender mais sobre ele? Mellitus. Tem como base
o cadastramento e o
acompanhamento de
O Sistema Único de Saúde – SUS define-se como o arranjo organizacional hipertensos e diabéticos,
do Estado brasileiro que dá suporte à formulação e à implementação da além de estratégias
como reuniões mensais
política nacional de saúde. É um sistema, pois é formado pelo conjun-
com ações educativas,
to de todas as ações e serviços de saúde, aglutinando as organizações estímulo à realização
públicas de saúde existentes nos âmbitos municipal, estadual e nacional. de atividades físicas,
consultas médicas
Esse sistema engloba também os serviços privados de saúde, em caráter agendadas e entrega
complementar, quando há insuficiência na disponibilidade de serviços de medicamentos. Este
públicos. E é único, pois possui a mesma doutrina e a mesma filosofia programa é realizado
especialmente na
de atuação em todo o território nacional, sendo organizado da mesma atenção básica.
maneira (PAIM, 2015).

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Existem diferentes tipos de sistemas de saúde, a saber:

Seguro Social – Seguridade Assistência


meritocrático (ou residual)

Universal; Universal; Atendimento realizado a


Serviços garantidos Vinculado à condição de partir de comprovação de
para os que contribuem cidadania; pobreza;
com a previdência Financiado solidariamente Atendimento à saúde sob
social; por toda a sociedade por responsabilidade do
Controlado pelo meio de contribuições e mercado privado;
Estado; impostos; Há restrições à intervenção
Exemplo de país em Exemplo de países em do Estado;
que aparece: Alemanha. que aparece: Cuba e Exemplo de país em que
Inglaterra. aparece: EUA.

Fonte: Adaptado de Paim (2015, p. 17).

O SUS foi criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado


pelas Leis n. 8.080/90 e n. 8.142/90, as quais detalham a organização
e o funcionamento do sistema nos níveis municipal, estadual e federal.
Tais fundamentos legais têm a finalidade de alterar a situação de desi-
gualdade na assistência à saúde da população, tornando obrigatório o
atendimento público a qualquer cidadão.

Com a Constituição Federal de 1988, a saúde passa a ser reconhecida como


direito social, em sua Sessão II “Da Saúde”, do artigo 196 ao artigo 200.

A Lei 8.080/90, lei orgânica da saúde, dispõe, de maneira geral, sobre


as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, além
da organização e do funcionamento dos serviços de saúde. Já, a Lei
8.142/90, que se refere ao controle social, discorre sobre a participação
da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovena-
mentais de recursos financeiros da área da saúde.

Conceitualmente, o SUS representa a materialização de uma nova con-


cepção acerca da saúde em nosso país, a partir de uma perspectiva
ampliada, que encara a saúde não só como ausência de doença, mas
também inclui elementos condicionantes, tais como os meios físicos,

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econômicos, sociais, culturais, bioecológicos e uma visão abrangente e
integrada das ações e serviços de saúde (VASCONCELOS; PASCHE, 2009).

É importante ressaltar que o SUS não é apenas um sistema de prestação


de serviços assistenciais, mas sim, um sistema complexo que busca arti-
cular e coordenar ações de promoção e prevenção à saúde, com ações de
cura e reabilitação. Assenta-se, por sua vez, em princípios doutrinários e
diretrizes organizativas, que servem de linhas de base às proposições de
reorganização do sistema, dos serviços e das práticas de saúde. Além de
ser um espaço de aprendizado permanente entre você e seus companhei-
ros de trabalho; você e os estudantes e residentes que têm parte de sua
formação no serviço no seu local de trabalho; você e os gestores; e por
que não, você e você mesmo? Sim!

Se o trabalho é formativo, ele é formativo para todas as pessoas envolvi-


das e, por isso, devemos buscar certa simetria entre todas as categorias
profissionais que estão no nosso ambiente de trabalho. Mas para que
isso aconteça, devemos seguir princípios e diretrizes básicas que estru-
turam o funcionamento do SUS no Brasil, seja ele operacionalizado no
sistema público, seja no sistema privado de atenção à saúde.

PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS
E DIRETRIZES ORGANIZATIVAS
No infográfico a seguir, será possível observar os princípios doutrinários
do Sistema Único de Saúde.

UNIVERSALIDADE EQUIDADE INTEGRALIDADE

Assegura o direito à saúde a Justifica a prioridade na oferta


Considera as várias dimensões
todos os cidadãos brasileiro e o de ações e serviços aos
do processo saúde-doença e as
acesso sem discriminação aos segmentos da população que
ações e serviços também devem
serviços de saúde ofertados possuem maior risco de adoecer
ser integrados.
pelo sistema. e morrer em decorrência de
suas condições sociais
desiguais.

As diretrizes organizativas do sistema são formas de concretizar o SUS


na prática, visando garantir um melhor funcionamento do sistema. Entre
as diretrizes podem ser destacadas: a descentralização com comando
único, a regionalização, a hierarquização dos serviços e participação
comunitária (VASCONCELOS; PASCHE, 2009).
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Descentralizar e redistribuir poder e
responsabilidades entre os três níveis de
governo.
Descentralização e
comando único No Comando Único, cada esfera do governo é
autônoma e soberana em suas decisões e
atividades, respeitando sempre os princípios
constitucionais gerais e a participação da
sociedade.

Distribuir os recursos assistenciais no


Regionalização território, com base na distribuição da
população.

Busca ordenar o sistema de saúde por níveis


de atenção, sendo que os serviços devem ser
organizados em níveis crescentes de complexi-
dade, desde o setor primário representando
Hierarquização
pela atenção básica, passando pelos serviços
do setor secundário (cuidado ambulatorial
especializado) até os serviços do setor
terciário, de alta complexidade tecnológica e
de alto culto, como os grandes hospitais.

Garantia constitucional de que a população


pode participar do processo de formulação das
políticas nacionais de saúde e do controle de
sua execução.
Participação
comunitária
Conselhos de Saúde, nas três esferas de
governo, ou seja, nos Conselhos Municipais de
Saúde, nos Conselhos Estaduais de Saúde e no
Conselho Nacional de Saúde. e também, por
meio da participação em colegiados de gestão
nos próprios serviços de saúde.

Veja, no Infográfico 1 que está no AVASUS, os princípios e diretrizes


dispostos juntos.

Infográfico 1

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Assim, segundo Vasconcelos e Pasche (2009, p. 538), o SUS tem como
objetivo principal: “[...] formular e implementar a política nacional de
saúde destinada a promover condições de vida saudável, a prevenir os
riscos, doenças e agravos à saúde da população, e assegurar o acesso
equitativo ao conjunto dos serviços assistenciais para garantir atenção
integral à saúde”.

O campo de atuação do SUS abrange um conjunto de ações e serviços


de: vigilância sanitária; vigilância epidemiológica; saúde do trabalha-
dor; assistência terapêutica integral, que integra atenção básica, aten-
ção especializada ambulatorial e atenção hospitalar, incluindo também
assistência farmacêutica; apoio diagnóstico e de terapia na assistência
à saúde; formulação e execução da política de sangue e seus derivados;
regulação da prestação dos serviços privados de saúde; regulação da
formação profissional; definição e implementação de políticas de Ciência
e Tecnologia para o setor saúde; e, promoção da saúde em articulação
intersetorial com outras áreas e órgãos governamentais.

Atualmente, um dos temas recorrentes no que diz respeito ao Sistema


Único de Saúde é o seu problemático financiamento. É sabido que des-
de a instituição do SUS pela Constituição de 1988, há insuficiência de
recursos, bem como ineficiência e ineficácia de sua utilização como, por
exemplo, o descumprimento da aplicação dos recursos da União e de
grande parte dos estados, quando os recursos da saúde são utilizados
para outros fins (MENDES; MARQUES, 2009).

O financiamento do SUS é de responsabilidade das três esferas de gover-


no e está normatizado pela Emenda Constitucional n. 29 (EC 29), que
garante financiamento da saúde. Por meio dessa Emenda, são definidos
os percentuais mínimos de aplicação em ações e serviços públicos de saú-
de. Assim, a EC 29 estabeleceu destinação específica mínima das receitas
municipais (15%) e estaduais (12%), estipulando as despesas da União com
base nos recursos utilizados no ano 2000, acrescidos da variação nominal,
anual do Produto Interno Bruto (PIB) (VASCONCELOS; PASCHE, 2009).

Mais de 90% dos recursos do orçamento da União para a saúde são trans-
feridos de forma automática e regular, em parcelas mensais, para cus-
teio das ações e serviços de saúde. Esses repasses ocorrem por meio de
transferências fundo a fundo, realizadas pelo Fundo Nacional de Saúde
(FNS) diretamente para os estados, Distrito Federal e municípios, ou pelo
Fundo Estadual de Saúde aos municípios, de forma regular e automática,
propiciando que gestores estaduais e municipais contem com recursos
previamente pactuados, no devido tempo, para o cumprimento de sua
programação de ações e serviços de saúde (VASCONCELOS; PASCHE, 2009).

São muitos os atuais desafios na atenção à saúde no Brasil. Uma inicia-


tiva bastante promissora no sentido de buscar equacionar os velhos e
novos problemas foi a implementação, em 2006, do Pacto pela Saúde.

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Este pacto refere-se a um conjunto de reformas institucionais do SUS
pactuado entre as três esferas de governo e se apresenta em três dimen-
sões: o Pacto pela Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão.
De maneira geral, esse pacto tem como objetivo promover a melhoria
dos serviços ofertados à população e a garantia de acesso a todos, na
busca por um sistema público de saúde com mais qualidade. É, assim,
um pacto interfederativo, um novo pacto de gestão, a fim de estancar a
crise na forma de financiamento do SUS. Financiamento feito em blocos,
dando relevância à regionalização em:

a) atenção básica;
b) atenção de média e alta complexidade;
c) vigilância em saúde;
d) assistência farmacêutica;
e) gestão do SUS.

Para refletir

Vamos fazer um exercício de reflexão final?


Algumas notícias atuais vêm sinalizando para tendências de
ameaças ao SUS enquanto Política Nacional de Saúde. A par-
tir da compreensão da grandiosidade do Sistema Único de
Saúde, com seus princípios e diretrizes, apresentados no con-
teúdo desta aula e dos exemplos de notícias veiculadas pela
mídia, reflita sobre as consequências do desmantelamento do
SUS para o seu cotidiano de trabalho.

A seguir, destacamos alguns movimentos muito recentes.

i) O primeiro é a mudança na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).


Tais mudanças indicam a abolição da prioridade para a Estratégia Saúde
da Família (ESF), evidenciada pelo financiamento federal para modali-
dades de atenção básica convencional; a flexibilização da presença dos
agentes comunitários de saúde (ACS) nas equipes de Saúde da Família,
adicionada à mudança nas atribuições desses trabalhadores. A criação
da carteira de serviços essenciais pode tornar a atenção básica numa
Atenção Primária à Saúde (APS) seletiva. Também é grande a possibili-
dade de estagnação ou redução do número de equipes de Saúde Bucal.

Como você acha que seria Atenção Primária “flexibilizada”? No caso de


Dona Helena, você acredita que é possível a manutenção das ações de pre-
venção e promoção da saúde com o desmantelamento da atenção básica?

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ii) Um segundo ponto é sobre o término dos blocos de financiamen-
to. A transferência de recursos federais a estados e municípios pode
provocar deslocamento de recursos da atenção básica para procedi-
mentos de média e alta complexidade. Soma-se a isso o agravamento
do subfinanciamento do SUS provocado pela política econômica de aus-
teridade fiscal, que se expressa no congelamento do teto dos gastos
públicos nos próximos 20 anos (EC95/2016).

Você acredita que essa mudança pode afetar sua prática profissional?
De que maneira esse impacto seria percebido? Outros níveis de atenção
possuem competências para realizar esse tipo de trabalho no qual Dona
Helena faz parte?

iii) E, por fim, o terceiro ponto diz respeito à criação de planos populares
de saúde suplementares, vinculados ao capital financeiro internacional
para oferta de ações de atenção básica em larga escala à população de
menor condição socioeconômica. Além da captura de clientela e de pro-
fissionais do SUS para uma Atenção Primária seletiva, de baixa qualidade
e pouco resolutiva.

Como você se imagina trabalhando nessa perspectiva? O modelo médico


privatista está capacitado ou tem interesse em investir em ações como
as que Dona Helena participa?

SAIBA MAIS

Para se informar mais sobre essa discussão, seguem indicações


de leitura de textos jornalísticos publicados na mídia.
A primeira reportagem trata do investimento de capital inter-
nacional privado na saúde brasileira.
<http://www.valor.com.br/empresas/5373415/
dona-da-amil-vai-investir-mais-r-10-bilhoes-no-pais>

A segunda reportagem trata dos impactos negativos da nova


PNAB para o projeto do SUS.
<https://www.abrasco.org.br/site/noticias/sistemas-de-
saude/sobre-os-impactos-negativos-da-nova-politica-
nacional-de-atencao-basica/32383/>

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AULA 2 - Aspectos
sócio-históricos da
constituição do SUS
INTRODUÇÃO
Na aula passada, estudamos o que é o SUS, sua grandiosidade enquanto
sistema nacional de saúde e como parte desse sistema tem impacto na
vida de pessoas como Dona Helena.

Nesta aula, você irá compreender o desenvolvimento das políticas de


saúde no Brasil em uma perspectiva sócio-histórica, que vai resultar na
criação do atual Sistema Único de Saúde. O SUS que temos hoje é fruto
de um movimento social de luta pela saúde e democracia. Vamos ver
como isso aconteceu!

Para esta aula destacamos os acontecimentos que, em períodos espe-


cíficos da história do Brasil corroboraram para a criação do SUS e que,
de certa maneira, ainda corroboram para as características que nosso
sistema de saúde possui. Historicamente e em todas as sociedades, as
formas de intervenção política se relacionam com o processo saúde-do-
ença. Cada sociedade organiza seu sistema de saúde de acordo com
crenças, valores e determinantes sociais (PAIM, 2015). O que irá nos
guiar nesta aula é a construção das políticas de saúde desde o período
da Colonização até os dias atuais.

São três as dimensões básicas da sociedade que se articulam na pro-


dução de políticas de saúde: o Estado, a sociedade e o mercado (COHN,
2009). No caso específico do Brasil, a evolução histórica das políticas de
saúde está estreitamente relacionada com a evolução político-social e
econômica da sociedade brasileira. É preciso, contudo, analisar histori-
camente como essas dimensões foram se organizando e se articulando
em nossa sociedade para conformar a atual Política Nacional de Saúde,
o Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, “[...] ao se falar das políticas
de saúde, alicerça-se mais no desenvolvimento da própria política eco-
nômica-social brasileira do que nos avanços da medicina” (ANDRADE;
SANTOS; RIBEIRO, 2013, p. 481).

Vamos lá?

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A nossa linha do tempo vai conter três grandes fases, as quais estão
descritas resumidamente.

1) Campanhismo: essa é uma fase bastante longa marcada por cam-


panhas sanitárias para combater as epidemias de febre amarela,
peste bubônica e varíola, implementando programas de vacinação
obrigatória, desinfecção de espaços públicos e domiciliares e outras
ações de medicalização do espaço urbano. Apesar de ser uma fase
que historicamente tem seu fim na primeira década do século XX, as
políticas de saúde daqui emergentes dominam o cenário brasileiro
até o início da década de 1960.

2) Modelo médico assistencial privatista: neste modelo, o Estado aparece


como grande financiador por intermédio da Previdência Social, o setor
privado assistencial curativo passa a ser o grande prestador de serviços.
O setor internacional é o grande produtor de insumos, medicamentos
e equipamentos em saúde (ANDRADE; BUENO; BEZERRA, 2009).

3) Sistema Único de Saúde – SUS: essa é a fase de institucionalização e


regulamentação do SUS enquanto atual Política Nacional de Saúde.

Fique ligado na linha do tempo interativa da História das Políticas de


Saúde no Brasil.

Linha do Tempo

A partir da leitura da linha do tempo, ficou claro como o surgimento do


SUS é fruto de uma construção histórica e que os outros modelos ante-
riores não garantiam saúde à população brasileira como um todo. Hoje,
a saúde é um direito assegurado pela Constituição Federal. Isso significa
que você faz parte do SUS. Veja o vídeo 1 que está no AVASUS.

Vídeo 1

Na próxima aula, você conhecerá os alcances do SUS, seus princípios


e diretrizes.

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AULA 3 - O alcance dos
princípios e diretrizes:
a preceptoria como
uma prática consciente
no SUS
Na aula que finaliza este módulo, você será convidado a refletir de que
maneira o SUS, enquanto Política Nacional de Saúde, com seus princípios e
diretrizes fazem parte da sua vida cotidiana, como profissional e cidadão, e
impacta na vida da população atendida. Para isso, compreender como nos
inserimos nos contextos sociais dos quais fazemos parte é fundamental.

O SUS é norteado pela busca por equidade e pela luta contra as desi-
gualdades sociais. Foi a partir desse processo histórico que Dona Helena,
personagem em nossa situação-problema, teve a possibilidade de ter
acesso a um serviço universal com ações de prevenção de doenças e de
promoção da saúde que incluem: disponibilização de medicação; acesso a
consultas de enfermagem e médica; participação em grupos de educação
em saúde; vacinas, entre outros serviços. Além de poder acessar, caso seja
necessário, serviços de média e de alta complexidade.

Essa rede de serviços que se articula para o acolhimento de Dona Helena


deve ser orientada pela Atenção Primária à Saúde, por meio da Estraté-
gia de Saúde da Família (ESF), operacionalidade por equipes multipro-
fissionais que visam garantir a construção do cuidado integral por meio
do trabalho interprofissional e da comunicação direta com a Atenção
Secundária e Terciária.

Pensemos: conhecer o SUS é conhecer seu próprio trabalho, além de ser


um ato de cidadania!

Você, como profissional, de uma maneira ou de outra, faz parte dessa com-
plexa rede de serviços que se comunicam, se complementam. Enquanto
profissional, é importante que o trabalho interprofissional seja entendido
como uma das prerrogativas estratégicas para dar conta da fragmentação
da assistência, caracterizada, muitas vezes, pela centralidade nas ações
dos atos médicos e medicalizadores em serviços especializados.

Então, vamos compreender como se articulam os diferentes níveis de


atenção no SUS? Sempre lembrando que, independentemente do nível
de atenção no qual você trabalhe, é seu papel como profissional de
saúde desenvolver competências da Educação em Saúde e Educação
Permanente para, em última instância, lidar com o processo ensino-
-aprendizado no ambiente de trabalho de modo emancipador. E isso
fica mais fácil quando fazemos de forma coletiva e colaborativa, se

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apropriando do trabalho em equipe para a assistência e também para a
preceptoria de estudantes, residentes e colegas de trabalho.

ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE


(APS) OU ATENÇÃO BÁSICA
Conhecida como “porta de entrada” do sistema, a Atenção Primária à
Saúde (APS) é a base do sistema universal de saúde. Se todos nós pensás-
semos em fortalecer de fato a Atenção Primária, teríamos uma redução
de 80% da procura desnecessária para os outros dois níveis de atenção.

No Brasil, desde 1994, a Atenção Primária tem a Estratégia de Saúde da


Família (ESF) como modelo de serviço. Na ESF, as ações em saúde pos-
suem um direcionamento generalista centrado nos indivíduos/famílias
do território adscrito, levando em conta as especificidades locais.

Nos últimos 15 anos, um conjunto de políticas e respectivos marcos


normativos, em especial aos relativos ao financiamento federal dessas ini-
ciativas, ampliaram e qualificaram a APS, incluindo, de modo importante,
na Estratégia Saúde da Família: Saúde Bucal, Academia de Saúde, NASF,
Programa Saúde na Escola, equipes ribeirinhas e equipes fluviais, consul-
tório de rua, atenção básica no sistema prisional, política de alimentação
e nutrição, Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS).

Houve uma significativa expansão do número de equipes de Saúde


Bucal (SB) no modelo ESF, incluindo equipes para populações específicas
(24 mil Equipes de Saúde Bucal – 600% em comparação com 2002; equi-
pes específicas: rua, ribeirinhos, pluvial) (DATA SUS, 2018).

De acordo com o Ministério da Saúde, a equipe multiprofis-


sional no contexto da ESF é composta por, no mínimo:

•  médico generalista, ou especialista em Saúde da Família,


ou médico de família e comunidade;

•  enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família;

•  auxiliar ou técnico de enfermagem;

•  agentes comunitários de saúde (ACS).

Podem ser acrescentados a essa composição os profissionais


de Saúde bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista
em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal.

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As equipes multiprofissionais, além de apoiarem-se entre si, também
contam com os profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), que se apresentam como estratégia a ser acionada pela atenção
básica, a fim de obter apoio de equipe especializada no suporte às ações
generalistas desenvolvidas na APS, sugerindo também a colaboração
entre diferentes níveis de atenção, por meio do trabalho em rede.

Assim, a atenção básica é entendida como o primeiro nível da atenção à


saúde, o contato preferencial dos usuários e emprega tecnologia de bai-
xa densidade. Tecnologia de baixa densidade pressupõe que a atenção
básica inclui um rol de procedimentos mais simples e baratos, capazes de
atender à maior parte dos problemas comuns de saúde da comunidade.

Saiba mais

Você sabe o que é o NASF?


O NASF é regulamentado por meio da Portaria no 154, de 24
de janeiro de 2008, que cria os Núcleos de Apoio à Saúde da
Família (NASF). Poderão compor os NASF 1, 2 e 3 as seguintes
ocupações do Código Brasileiro de Ocupações – CBO: Médico
Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de
Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo;
Médico Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata;
Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra;
Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico Internista
(clínica médica), Médico do Trabalho, Médico Veterinário, pro-
fissional com formação em arte e educação (arte educador) e
profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional gradu-
ado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública
ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas.
Acesso em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/nasf_perguntas_
frequentes.php>

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ATENÇÃO SECUNDÁRIA
E TERCIÁRIA
Para as situações mais complexas, Dona Helena, caso necessite, pode
acionar, a partir de encaminhamento da atenção básica, outros níveis
do sistema, dos quais também têm acesso: os serviços ambulatoriais e
hospitalares, representados pela sigla MAC (Média e Alta Complexidade).

A média complexidade refere-se a um conjunto de procedimentos que


integra o Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS), esta-
belecido por meio do Decreto n. 4.762/03.

Fazem parte da média complexidade (PAIM, 2015, p. 40):

•  procedimentos especializados realizados por profissionais


de saúde de nível superior e de nível médio;

•  cirurgias ambulatoriais especializadas;

•  procedimentos traumato-ortopédicos;

•  ações especializadas em odontologia;

•  patologia clínica;

•  anatomopatologia e citologia;

•  radiodiagnóstico;

•  exames ultrassonográficos;

•  diagnose;

•  terapias especializadas;

•  fisioterapia;

•  próteses e órteses;

•  anestesia.

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A alta complexidade é representada por procedimentos de alta tecno-
logia e alto custo, como exemplos de procedimentos de média e alta
complexidade, encontram-se: assistência ao paciente portador de doen-
ça renal crônica (por meio dos procedimentos de diálise); assistência ao
paciente oncológico; cirurgia bariátrica; implante coclear, entre outros
registrados no Sistema de Informação Hospitalar e no Sistema de
Informações Ambulatoriais em pequena quantidade, mas com impacto
financeiro extremamente alto, como por exemplo, é o caso dos procedi-
mentos de diálise, quimioterapia, radioterapia e hemoterapia.

Dona Helena demonstra um vínculo bastante estreito com a equipe de


atenção básica, na qual ela faz acompanhamento e que é sua referência.
Quando indicado e necessário, a paciente também é encaminhada a ser-
viços hospitalares. Assim sendo, o acesso a esses serviços, em todos os
seus níveis, garantido por lei, garante o exercício da cidadania.

Daí você pode perceber que Dona Helena tem seu cotidiano perpassado
pelos princípios e diretrizes do SUS: universalidade no acesso, equidade
na assistência, pois tem acesso aos serviços necessários para promo-
ção, proteção e recuperação de sua saúde; integralidade na assistência,
com acesso a um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços;
descentralização, regionalização e hierarquização das ações e serviços
de saúde, uma vez que tem acesso a um conjunto de ações e serviços,
localizados em seu município e próximos a sua residência, condizentes
com suas necessidades de saúde.

Finalizamos o módulo com um extrato do poema Sobre Importâncias, de


Manoel de Barros, para que você reflita qual a real importância da sua
prática profissional no Sistema Único de Saúde que temos hoje e qual
SUS queremos para o futuro.

Sobre importâncias
Um fotógrafo-artista me disse outra vez. Veja que pingo de
sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do
que o sol inteiro no corpo do mar.
Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com
fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo
encantamento que a coisa produza em nós.
Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais impor-
tante para ela do que a Cordilheira dos Andes.
(Extrato retirado do livro Meu quintal é maior do que o mundo).

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REFERÊNCIAS
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BEZERRA, Roberto Cláudio. Atenção primária à saúde e estratégia saúde da
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dezembro de 2016. Altera o Ato das Disposições Constitucionais
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______. O que é o SUS?. Rio de Janeiro: Editora fio Cruz, 2015. 93 p.


(Coleção Temas em saúde interativa) Disponível em: <http://www.
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