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TEORIAS DA PERSONALIDADE E DO

TEMPERAMENTO
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SUMÁRIO

TEORIAS DA PERSONALIDADE E DO TEMPERAMENTO ................... 0

FACUMINAS ............................................................................................ 2

Introdução ................................................................................................ 3

Abordagem histórica sobre os estudos do temperamento e traços de


personalidade ..................................................................................................... 5

Modelos de Personalidade .................................................................... 14

Temperamento e Caráter....................................................................... 17

Teorias da Personalidade ...................................................................... 20

Perspectiva Psicanalítica ................................................................... 20


Perspectiva Neoanalítica.................................................................... 21
Perspectiva Humanista ...................................................................... 23
Perspectiva da Aprendizagem ........................................................... 24
Perspectiva Cognitiva......................................................................... 24
Perspectiva das Disposições ............................................................. 25
Perspectiva Psicobiológica ................................................................. 26
A Estrutura da Personalidade ................................................................ 27

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 31

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FACUMINAS

A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um


grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos
de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Introdução

Temperamento é entendido como sinônimo de personalidade, apesar de


apresentar diferentes opiniões entre os pesquisadores sobre seu significado. a
palavra temperamento vem do latim “temperare” que significa “equilíbrio”. Esta
noção está ligada à teoria dos humores de Empédocles e de Hipócrates, onde
se defende que a saúde do ser humano depende de um equilíbrio entre os
elementos que compõem este mesmo ser, como veremos ao expor esta teoria.

Em Psicologia, temperamento é mais comumente entendido como se


referindo ao aspecto da personalidade que diz respeito às disposições e reações
emocionais, bem como de sua rapidez e intensidade. Este conceito mais
psicológico de temperamento está ligado a psicólogos como Jung, psicanalista,
e Klages no seu tratado sobre caracterologia (1929).

São muitos os seus componentes, vários indivíduos compartilham de


algumas características semelhantes, porém, a personalidade de cada pessoa é

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individual e irreproduzível; então o seu estudo consiste na analise das variações


e das diferenças individuais. É formada durante a etapa do desenvolvimento
psicoafetivo começando da gestação, pois estes estão em condições distintas e
já apresentam comportamentos particulares. Então essa formação inclui
elementos geneticamente herdados e adquiridos no meio externo em que vivem.

A organização da personalidade é formada a partir dos genes,


experiências particulares, percepções individuais, capazes de tornar o individuo
único na maneira de ser e desempenhar o papel social. Compreender esses
aspectos não é tarefa fácil, pois estão envolvidos muitos fatores como o
biológico, social e psicológico. Com outras palavras, a personalidade é um
conjunto de características identitárias próprias de cada um que foram
geneticamente herdadas, socialmente aprendidas, formando o mundo interno
psíquico do indivíduo e é consideravelmente estável à medida que o tempo vai
passando, e isso garante um melhor ajuste ao meio ambiente.

Desde os primórdios, a noção de personalidade tem sofrido significativas


mudanças, o que desde já nos deixa a refletir acerca do quão complexo é esta
temática bem como de todas as componentes intimamente relacionadas.

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Abordagem histórica sobre os estudos do


temperamento e traços de personalidade

A origem da Teoria da Personalidade deve-se aos médicos e as


exigências das práticas médicas, visto que a formação dos pioneiros nesse
campo é o resultado da combinação de suas teorias da personalidade com a
prática psicoterápica como meio de tratamento de doenças mentais, na tentativa
de entender tanto a natureza básica do Ser Humano quanto os desvios e as
peculiaridades de seu sistema nervoso. À medida que a psicologia progride de
uma análise introspectiva da mente humana, para uma ciência do

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comportamento humano surge à necessidade do estudo da personalidade ser


retirado do domínio médico e psicoterápico para tornar-se parte integral de uma
psicologia científica. Há também, os processos motivacionais, os quais de
acordo com Machado (1997) assumem um papel importante e decisivo para o
ajustamento do Ser Humano ao meio. Essa relação pelo interesse dos processos
funcionais e motivacionais gera uma compreensão adequada do comportamento
humano que só será possível a partir do estudo da sua personalidade total.

A Personalidade é a síntese integral das atividades psíquicas, e atributo


característico único dos Seres Humanos. Segundo Allport (1966), é difícil dizer
que um bebê recém-nascido tenha personalidade, pois não tem a organização
característica de sistemas psicofísicos (o funcionamento da personalidade
inseparável corpo e mente). Mas afirma que a personalidade começa no
nascimento, que o bebê tem uma personalidade potencial, sendo quase
inevitável que certas capacidades se desenvolvam. Para o autor, são
componentes da personalidade, o físico, o temperamento e a inteligência, sendo
esses considerados a matéria prima da personalidade. Dentre os três, o físico é
o mais ligado à hereditariedade, mas existem muitos estudos que provam que
as bases do temperamento e da inteligência são também determinadas
geneticamente. Allport alerta que os três fatores, dentro de certos limites, são
influenciados, durante a vida, pela nutrição, pela saúde, pela doença e pelo
ambiente.

Segundo Kalinine & Schonardis Filho (1992), pode-se observar que a


influência das reações comportamentais na vida dos Seres Humanos e em seus
destinos tem atraído a atenção dos cientistas. A mais antiga teoria psicológica
de que se tem notícia é, ao mesmo tempo, a que teve mais influência através
dos séculos. Segundo Allport (1966), a teoria começa com a antiga crença grega,
atribuída a Empédodes, do século V a. C., de que a natureza é composta de
quatro elementos, isto é, ar, terra, fogo e água. O segundo estágio da teoria foi

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acrescentado por Hipócrates, o “pai da medicina”, segundo o qual essa fórmula


para a natureza como um todo (o macrocosmo) deve refletir-se na constituição
do Ser Humano (o microcosmo). E esses elementos são representados, no corpo
humano, sob a forma de quatro “humores”. Se um humor predominasse no
corpo, deveríamos esperar uma predominância correspondente de um
temperamento. A teoria foi mais bem elaborada pelo médico romano Galeno, no
século II da era cristã. Galeno via os humores como a raiz não apenas do
temperamento, mas também das doenças. Embora a ciência moderna tenha
mostrado que as substâncias hormonais do corpo são mais numerosas e mais
complexas do que o supunham os antigos, a ideia de que o temperamento - “que
é a base emocional da personalidade”, seja condicionado pela química do corpo
foi cada vez mais confirmada pela pesquisa moderna.

Além da ideia a respeito da química do corpo, existe outra razão, ainda


mais completa, que sustenta essa teoria, são os quatro padrões descritos pela
teoria, pois são perfeitamente adequados para qualquer esquema dimensional
moderno de classificação do temperamento. É verdade que os nomes dos
temperamentos têm um colorido qualitativo: colérico significa irascível,
sanguíneo significa esperançoso, melancólico significa triste e fleumático
significa apático. Mas esses coloridos qualitativos são coerentes com uma visão
lógica e qualitativa das possíveis dimensões do temperamento (ALLPORT,
1966).

Segundo Petroviski (1985), o temperamento é a característica da


personalidade que permite identificar as peculiaridades dinâmicas dos processos
psíquicos como intensidade, velocidade, cadência e ritmo. Dois componentes do
temperamento, atividade e emocionalidade, estão presentes na maioria das
classificações e teorias do temperamento. A atividade do comportamento
caracteriza o grau de energia, de impetuosidade, de velocidade, de inércia e de
lentidão. A emocionalidade caracteriza as peculiaridades da transcorrência das

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emoções, dos sentimentos, dos estados de espírito e suas qualidades, como: o


sinal (positivo/negativo) e a modalidade (alegria, mágoa, medo, tristeza, cólera,
etc).

Segundo Anastasi (1972), são conhecidos três sistemas básicos para


explicar a essência do temperamento, dos quais os dois primeiros têm somente
interesse histórico. O primeiro sistema (humoral), o qual já foi citado
anteriormente, liga o estado do organismo com a proporção dos sucos (os
líquidos e humores) que circula pelo organismo. Pela prevalência dos tipos de
líquidos que circulam pelo organismo, foram destacados os seguintes
temperamentos: sanguíneo; colérico; fleumático e melancólico.

O segundo sistema (constitucional) se apoia nas diferentes constituições


do organismo, sua estrutura física, proporções de diferentes partes do corpo e
proporções de diferentes tipos de tecidos. A constituição é o aspecto físico-
morfológico da personalidade. É a estrutura ou arquitetura do corpo humano. O
estudo da constituição é objetivo da Biotipologia, ciência que estuda os diversos
tipos humanos com suas particularidades somáticas e psíquicas, as quais se
associam intimamente. Embora não haja unidade de doutrina relativamente à
classificação dos tipos constitucionais, pode-se afirmar que há uma estreita
relação entre a forma e o espírito, entre a figura e o caráter, entre o soma e a
psique (ANASTASI, 1972).

A relação entre os traços físicos e psíquicos também tem sido considerada


do ponto de vista de tipos constitucionais. Na tentativa de simplificar as
variações, quase infinitas, observáveis entre os indivíduos, estudiosos como
Kretschemer e Sheldon propuseram certos tipos humanos básicos. Um indivíduo
específico pode então ser descrito mais ou menos se aproximando a um desses
tipos. Estes tipos constitucionais são apresentados como sendo uma
caracterização do indivíduo, nos traços físicos, intelectuais e emocionais, e não

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são encarados como quaisquer qualidades isoladas do organismo (ANASTASI,


1972).

A tipologia constitucional representa uma abordagem ao estudo da


relação entre características físicas e psicológicas. As duas teorias mais aceitas
e utilizadas são as de Kretschemer e Sheldon.

A teoria dos quatro humores, enunciada por Hipócrates na Grécia Antiga,


foi uma das primeiras que tentaram explicar o temperamento. Este médico
considerava que tanto a personalidade quanto o estado de saúde da pessoa
dependiam do equilíbrio entre quatro tipos de substâncias: bílis amarela, bílis
negra, fleuma e sangue. Ele os chamou de humores corporais.

Séculos mais tarde, Galeno de Pérgamo, tomando como referência esta


classificação hipocrática, categorizou as pessoas de acordo com seus
temperamentos. Com eles, ele distinguiu quatro tipos de pessoas:

 Colérico (bílis amarela): pessoas apaixonadas e enérgicas, que se


irritam com facilidade.
 Melancólico (bílis negra): indivíduos tristes, fáceis de comover e
com grande sensibilidade artística.
 Fleumático (fleuma): sujeitos frios e racionais.
 Sanguíneo (sangue): pessoas alegres e otimistas, que expressam
carinho pelos demais e se mostram seguras de si mesmas.

Goethe, o grande poeta e filósofo, descreveu o fenômeno da cor como as


ações e os padecimentos — condições ativas e passivas— da luz. Na sua
opinião, as cores surgem como resultado de uma constante interação entre luz
e treva. O vermelho, laranja e amarelo de um lado do espectro são resultantes
da vitória da luz sobre a sombra; o lado do verde, azul e púrpura mostra a

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derrota da luz e o triunfo da treva. Esta interpretação dinâmica do fenômeno da


cor será útil para um entendimento dos temperamentos humanos.

Podemos descrever o temperamento como tendência do humor do


indivíduo; o seu temperamento constitui a forma de reação e a sensibilidade
inatas de uma pessoa em relação ao mundo. Trazemos conosco a nossa
coloração temperamental; não a adquirimos mais tarde no curso da infância ou
da juventude. Nos primeiros anos, entretanto, o nosso temperamento real é
substituído por outra cor temperamental, a qual gradualmente se desgasta. Em
fins da segunda década, o temperamento duradouro se revela claramente. Na
altura do vigésimo ano, a formação do temperamento está concluída e, dessa
data em diante, uma pessoa carrega consigo o seu temperamento, sem
modificar-se, até o fim da sua vida.

Seria possível descrever ou definir a natureza do temperamento? Rudolf


Steiner se refere às quatro formas distintas de temperamento que Hipócrates e
Aristóteles reconheceram e descreveram, e tenta dar algum significado a esses
quatro tipos. No seminário sobre educação, ele denominou as duas qualidades
que constroem o temperamento de ‘excitabilidade e energia’. De acordo com
isso, descreveu os quatro temperamentos, como segue:

- Colérico: grande energia e grande excitabilidade.

- Melancólico: grande energia e pouca excitabilidade.

- Sanguíneo: pouca energia e grande excitabilidade.

- Fleumático: pouca energia e pouca excitabilidade. Podemos agora


perguntar o que Rudolf Steiner quer dizer quando usa neste contexto as palavras
energia e excitabilidade. Energia indica poder e força; excitabilidade, um maior
ou menor grau de sensibilidade. Energia, neste caso, significa a força de uma
pessoa para viver e suportar. Excitabilidade é a sua capacidade de reagir; se o

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indivíduo é lento ou rápido no apreender uma situação ou impressão e em fazer


uso delas. Uma pessoa sanguínea será muito sensível a qualquer impressão
nova. Ela a apreenderá rapidamente, mas também irá muito rapidamente dirigir-
se a alguma outra coisa que a poderá distrair do seu interesse inicial. Uma
pessoa colérica tem a mesma excitabilidade forte, mas é também igualmente
forte em energia. Tal indivíduo manterá seu interesse em algo por um
considerável período e não o abandonará antes de haver alcançado
compreensão e domínio do assunto.

Uma pessoa fleumática é vagarosa no reagir e fraca em energia. E


facilmente influenciada pelo seu ambiente porque tem pouca iniciativa própria.

O temperamento mais peculiar é o melancólico. De pouca excitabilidade,


mas de grande energia, o melancólico apodera-se rapidamente do assunto
escolhido. Pessoas melancólicas são condescendentes com ideias especiais e
facilmente se fixam nelas. Entre os fanáticos e especialistas existem muitos de
temperamento melancólico.

Estas poucas descrições tornam óbvio que diferentes combinações entre


excitabilidade e energia constituem os quatro tipos de temperamentos. Parece
que a energia está relacionada com o poder da vontade, e a excitabilidade com
a esfera dos sentidos. A vivacidade sensorial de uma pessoa e sua aptidão para
reconhecer e julgar é a origem da sua excitabilidade, que se relaciona com a
região do pensamento. Assim, em cada um dos quatro temperamentos o poder
da vontade e a esfera do pensamento estão combinados. Estes dois elementos
determinam a realidade dos temperamentos.

Em uma das suas conferências, Rudolf Steiner referiu-se a esses dois


elementos da alma e, depois de extensas reflexões, chegou à seguinte
conclusão: “A luz é da mesma natureza que o pensamento, e as trevas são da
mesma natureza que a vontade”.² Se nos lembrarmos de que Goethe descreveu

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a cor como o resultado da interação entre luz e trevas, descobrimos agora que
um fenômeno similar ocorre na alma humana; a irradiante luz do pensar
interagindo com as trevas do querer cria a coloração dos temperamentos. No
lado de fora estão as cores; no lado de dentro, o espectro dos temperamentos.

Seria errado pensar que um indivíduo é apenas determinado por um


temperamento. Todos abrigam os quatro temperamentos em sua personalidade
total; mas um dos quatro é mais pronunciado que os demais. Dispondo em
círculo os quatro tipos principais, temos a seguinte ordem:

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Um indivíduo colérico apresentará sempre certas tendências melancólicas


e sanguíneas. O temperamento fleumático, entretanto, dificilmente será nele
reconhecível. O homem colérico (tal como Beethoven, Napoleão e muitos outros)
se inclinará mais para o lado melancólico; a mulher colérica, mais para o
sanguíneo.

Uma pessoa melancólica tem sintomas de fleumática, tanto quanto traços


de colérica, mas não mostrará nunca a mais leve indicação de uma atitude
sanguínea. Tudo nela apresentará a marca das trevas e da vontade, com muito
pouca excitabilidade.

O fleumático pode apresentar algumas qualidades melancólicas, tanto


quanto sanguíneas. Seu temperamento colérico está completamente oculto e
dificilmente se deixará mostrar. Nesse caso, é mais o homem que possuirá
tendências sanguíneas e a mulher que apresenta traços melancólicos.

O temperamento sanguíneo tem um lado colérico masculino e uma


qualidade fleumática feminina. Ele nunca apresentará tendências melancólicas.

Começamos a entender agora a ordem peculiar dos quatro


temperamentos. É um fato serem dois deles sempre polos opostos, e assim
excluem-se mutuamente. O indivíduo fleumático raramente apresenta sinais de
um temperamento colérico, e igualmente o sanguíneo e o melancólico são
incompatíveis. Cada temperamento tem, no entanto, dois companheiros, os
quais variam em intensidade e aparência. Desse modo é múltipla a combinação.

Como os temperamentos são influenciados, amalgamados por muitas


outras qualidades do indivíduo, dificilmente serão encontrados dois traçados
tempera- mentais similares. Cada pessoa tem seu temperamento especial, o
qual é como o manto da sua individualidade. Esta vestimenta é tecida na trama
da energia com a urdidura da excitabilidade. Somos nós próprios os tecelões
desse pano temperamental; damos a ele a textura especial, a coloração pessoal

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e o corte individual. Nem sempre é fácil reconhecer o temperamento de uma


pessoa, porque os três temperamentos estão, com frequência, intimamente
misturados, e o dominante perde sua cor proeminente. Por isso, algumas vezes,
será necessário procurar pelo temperamento que não está presente. Se a
qualidade da melancolia está completamente ausente, o temperamento polar
oposto, o sanguíneo, será o principal. Esta chave para diagnóstico é
frequentemente de grande ajuda.

Outro sintoma importante é a relação dos vários temperamentos com o


fenômeno do tempo. Uma pessoa melancólica está profundamente confinada às
experiências do passado. Ela estará sempre contemplando acontecimentos
passados, remoendo-os vezes sem conta em sua mente. Tem grande
dificuldade em esquecer o que lhe foi feito; toda a sua atitude está voltada para
tempos que já passaram.

A pessoa colérica pode esquecer facilmente. Não gosta de se repetir ou


de se voltar para experiências já passadas. Procura a atividade, deseja opor-se
a algo, abordar e assumir novas tarefas. Seu olhar está voltado para o futuro.

O fleumático e o sanguíneo estão relacionados com o presente. As


impressões imediatas são seguidas rápida e ansiosamente pela mutável atitude
do temperamento sanguíneo. A pessoa fleumática gosta de entregar-se ao
presente e não liga muito nem ao passado nem ao futuro. Estes dois
temperamentos são filhos do tempo presente.

Modelos de Personalidade

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Cattell (1940), partindo da compilação de descritores de Allport (1940),


reduziu a lista de 18 mil léxicos referentes à personalidade para 171 pares
antagônicos, onde cada par foi considerado uma característica da personalidade
com variação binária e não havendo possibilidade de um intermediário. Após a
análise fatorial (identifica uma tendência de associação entre os traços simples
binários) formam-se pequenos grupos (traços de classe baixa) e posteriormente
os supergrupos (traços de classe alta). Por tanto, partiu de uma base empírica
para chegar a uma estrutura e em seguida, talvez, desenvolver uma teoria sobre
a organização da personalidade.

Após sucessivas análises fatoriais, reduziram-se as dimensões para


apenas cinco o que foi denominado de modelo 5-fatorias, admitindo as
seguintes: neuroticismo, extroversão, conscienciosidade, cordialidade e
abertura. Paralelamente, baseado em Eysenck (1959), o sistema binário evoluiu
para uma estrutura trifatorial: dimensão da afetividade negativa (neuroticismo),
afetividade positiva (extroversão) e motivação não-afetiva (impulsividade,
psicoticismo ou por antonímia conscienciosidade).

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Atualmente, admite-se, conceitualmente, seis dimensões, dessas, três


estão presentes em todos os modelos vigentes de personalidade e possuem
correlatos neurobiológicos parcialmente descritos: afetividade negativa,
afetividade positiva e impulsividade. Integridade do self e empatia e tolerância
representam conceitos mais complexos (estão relacionadas ao caráter).
Acredita-se que a primeira seja intermediada por estruturas do neocórtex
(principalmente o pré-frontal) e o segundo por englobar os conceitos de
hostilidade e agressividade, supõe-se está relacionado às estruturas do córtex
pré-frontal e pode ser modulada pela atividade serotoninérgia. Essas dimensões
são importantes porque o ajustamento do individuo ao meio que o cerca depende
delas. A dimensão da abertura ainda não possui evidências biológicas relevantes
para a clínica da personalidade (BUSATTO, 2006).

Os modelos de personalidade englobam dois importantes aspectos:


qualidade das expressões afetivas e a reatividade do indivíduo aos estímulos.
Tais aspectos podem ser bem estudados, pois são observados em diversas
espécies mamíferas. A seguir foram colocados os traços de personalidade mais
comumente encontrados.

A afetividade positiva que se relaciona com o que é conhecido no senso


comum como “extroversão”, tal característica está relacionada com um sistema
de aproximação comportamental que visa colocar o animal em contato com
estímulos potencialmente gratificantes; o traço afiliativo da personalidade é
atribuído a sistemas neuronais que controlam o comportamento sócio-sexual; e
a afetividade negativa está diretamente relacionada a três experiências
emocionais: medo, ansiedade e alerta, sendo que cada uma dessas emoções
acontece devido à ativação de receptores específicos para cada uma delas.

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Temperamento e Caráter

A fisiologia do indivíduo ajuda a formar sua personalidade, por conta da


liberação de algumas substâncias que podem ocasionar certos comportamentos.
Entretanto, é importante ressaltar que o papel biológico na produção da
personalidade é apenas um dos fatores que o fazem, ou seja, a personalidade é
formada através de um processo muito mais amplo do que apenas a composição
química de um sujeito. Ele sofre influência do caráter e do temperamento.

Este pode ser conceituado diante de diversas teorias, são elas: Teoria dos
humores, teorias morfológicas, psicológicas, tipologia de Jung, tipologia de
Thomas e Chess, de Buss e Plomin, e o modelo psicobiológico de temperamento
e caráter, este que é o mais relevante para o desenvolvimento do presente
trabalho. Segundo Cloniger, Svrakic e Przybeck (1998), a personalidade seria
baseada em sete dimensões, sendo quatro de temperamento e três de caráter.

Quanto ao temperamento, é importante ressaltar que sua existência é de


base hereditária, porém suas características podem e devem ser controladas, ou
podem durar até a vida inteira, dependendo apenas da forma como cada
indivíduo lida com o próprio temperamento.

Segundo esta teoria, o temperamento é dividido em quatro dimensões:


Procura de novidade, fuga de injúria, dependência em reforço e persistência. O
caráter é construído através das experiências sociais e pela compreensão dos
valores morais e culturais, ou seja, ele é aprendido através da família, escola e
na sociedade de maneira geral. É a expressão da personalidade por meio das
atitudes de uma pessoa.

Segundo Reich (1995), psiquiatra e psicanalista ucraniano, o caráter é o


conjunto de reações e hábitos comportamentais de uma pessoa que vão sendo
adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo individual de cada pessoa.

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Estão inclusos as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento


(timidez, agressividade) e as atitudes físicas (postura, movimentação do corpo).

Um exemplo de expressão corporal relacionada ao caráter seria na


apresentação de um trabalho, cada pessoa irá reagir de maneira diferente: uns
terão taquicardia, sudorese, diarreia, outros estarão tranquilos, relaxados.

O conjunto das dimensões da personalidade de afeto negativo, afeto


positivo e impulsividade tem manifestação precoce e são pouco influenciadas
pelo desenvolvimento vital, por isso são chamados de temperamento. Já o
conjunto das dimensões empatia e tolerância e integridade do self que se
definem ao longo do tempo, são formadas pela interação individuo-meio e
influenciadas pelas disposições inatas, cuidados parentais e históricos
biográfico, são chamadas de caráter.

O temperamento se organiza em torno de memórias inconscientes,


estocadas em estruturas do sistema córtico-estriatal que associam percepções
e afetos. Este aprendizado por associação requer percepção dos eventos
vividos, mas não requer lembrança, nem faz parte dos conteúdos recobrados
pela consciência. O caráter se organiza em torno de memórias conscientes,
processadas e estocadas no sistema córtico-líbico-diencefálico, baseadas em
conceitos, representando um aprendizado mediado por símbolos e linguagem.

Com relação à aprendizagem associativa pode-se entender melhor com


o seguinte exemplo: duas crianças que fazem pela primeira vez uma prova de
química, nenhuma consegue boas notas, porém uma decide se dedicar mais aos
estudos para tirar uma nota melhor e a outra desiste logo e admite que vá para
a recuperação. Ambas lembram-se das experiências legais de tirar nota azul e
das ruins de tirar nota vermelha. Porém, o resultado comportamental mostra que
o primeiro é mais suscetível as memórias positivas e o segundo as memórias
negativas. No entanto, não se deve concluir que uma determinada conformação

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temperamental é melhor que outra, pois é preciso avaliar o restante da


personalidade para julgar sua adaptabilidade.

O caráter é organizado pela linguagem e tem papel central no ajustamento


do indivíduo ao meio. Deficiências na sua estruturação na dimensão da
integração do self, principalmente, e em menor grau na empatia e tolerância são
características encontradas em todos os tipos de transtornos de personalidade.
Variações extremas de temperamento podem dificultar o desenvolvimento do
caráter. O perfil temperamental define um modo habitual de expressão afetiva e
reatividade, ao passo que o caráter é o responsável pela adaptação desse perfil
ao meio social.

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Teorias da Personalidade

Desde os primórdios, a noção de personalidade tem sofrido significativas


mudanças, o que desde já nos deixa a refletir acerca do quão complexo é esta
temática bem como de todas as componentes intimamente relacionadas. Face
a uma panóplia de definições, segundo Carver et Scheier (2000, cit in Hansenne,
2003) da forma mais sintética possível, destacam alguns pontos:

I. A personalidade não corresponde a uma justaposição de peças,


mas sim representa uma organização;

II. A personalidade não se encontra num local específico. Ela é ativa


e representa um processo dinâmico no interior do indivíduo;

III. A personalidade corresponde a um conceito psicológico cujas


bases são fisiológicas;

IV. A personalidade é uma força interna que determina como o


indivíduo se comportará;

V. A personalidade é constituída por padrões de respostas


recorrentes e consistentes;

VI. A personalidade não se reflete apenas numa direção, mas sim em


várias, à semelhança dos sentimentos, pensamentos e comportamentos.

Perspectiva Psicanalítica

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A perspectiva psicanalítica é única, cujo seu autor é Freud. Os elementos


mais importantes desta teoria são: a personalidade é um conjunto dinâmico
constituído por componentes em conflito, dominadas por forças inconscientes e
a sexualidade tem um papel crucial nesta teoria. Refere também a existência da
primeira tópica e da segunda tópica, sendo o inconsciente, o pré-consciente,
consciente e o Eu, Id, Superego, respectivamente.

Segundo Freud (1964 cit in Hansenne, 2003), existem 5 fases no


desenvolvimento da personalidade, sendo estas a oral, a anal, a fálica, o período
de latência e a fase genital.

Perspectiva Neoanalítica

Jung rejeita a teoria da sexualidade e realiza uma interpretação dos


sonhos de forma diferente. Um dos pontos essenciais da teoria de Jung é o de
o inconsciente ser dividido em duas entidades diferentes: o inconsciente pessoal
e o inconsciente coletivo, sendo este último constituído por arquétipos.

Segundo Jung (1933, cit in Hansenne, 2003), considerou duas atitudes


distintas, a introversão e a extroversão e paralelamente a isto, definiu 4 funções
psicológicas: o pensamento, as impressões, as sensações e as intuições.
Fomentou também que o desenvolvimento da personalidade é encarado
segundo 4 fases: a infância, a juventude, a middle age e a fase old age.

Segundo Adler (1927 cit in Hansenne, 2003), considerava o indivíduo


como uma pessoa inteira, cuja vida passa da imaturidade para a maturidade. O
autor refere que os indivíduos decidem o rumo que as suas vidas vai tomar e
que independentemente da direção tomada, procuram alcançar a perfeição
dentro do que eles próprios estabeleceram.

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Um dos aspectos fundamentais da sua teoria, assenta no facto de que o


homem deve cumprir 3 tarefas na vida: inserir-se na sociedade, consagrar tempo
a um trabalho e desenvolver relações amorosas. E sendo assim, é através
destas 3 tarefas que a criança vai desenvolver os seus interesses sociais.

Segundo Horney (1945 cit in Hansenne, 2003), não considerava que a


personalidade fosse exclusivamente determinada por pulsões inconscientes,
nem que a libido constituísse a fonte energética das pulsões. A autora defende
também que o desenvolvimento normal da personalidade apenas se evidencia
se os fatores presentes no ambiente social da criança lhe permitirem adquirir
confiança em si mesma e nos outros. Deste modo, quando as condições não se
evidenciam, a criança vai desenvolver uma ansiedade e poderá apresentar
necessidades neuróticas.

Horney descreveu 3 tendências que os indivíduos verificam perante si


próprios e diante dos outros para reduzir a ansiedade. São 3 maneiras de viver,
pensar e comportar que desta maneira constituem 3 tipos de personalidade: o
tipo submisso, o tipo agressivo e o tipo desligado.

Para Sullivan (1953 cit in Hansenne, 2003), a personalidade é constituída


pela configuração duradoira das situações interpessoais recorrentes que
caracterizam uma vida humana. O conjunto destas relações a “dois” começa com
a relação com a mãe e termina com a escolha do parceiro. Relata também que
existem 2 tipos de tensões provenientes das experiências que vivemos: as
necessidades físicas e a ansiedade interpessoal.

Sullivan considerava que a personalidade se desenvolvia segundo 6


estádios de desenvolvimento da infância à adolescência, encontrando-se cada
um centrado numa relação interpessoal única.

Erikson (1968 cit in Hansenne, 2003), criou a ideia de desenvolvimento


da personalidade segundo 8 estádios psicossociais (relação existente entre o

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desenvolvimento psicológico do indivíduo e o contexto social). As referidas


etapas compreendem 4 fases na infância, 1 durante a adolescência e 3 no
decorrer da vida adulta.

Segundo o autor Fromm (1976 cit in Hansenne, 2003), a personalidade


resulta da interação dinâmica entre necessidades inerentes à natureza humana
e as forças exercidas pelas normas sociais e pelas instituições. Refere que
existem 8 necessidades e atribui relativa importância aos caracteres, que podem
ser do tipo individual ou do tipo social.

Perspectiva Humanista

De acordo com Rogers (1961 cit in Hansenne, 2003), considerava o


sujeito na sua totalidade, atribuindo grande importância à criatividade,
intencionalidade, livre-arbítrio e espontaneidade. Rogers concede um lugar
importante à noção de “si”, e define o modo como as experiências são vividas e
a forma como se apreende o mundo. Tendo isto como base, criou um teste
intitulando-se Q-sort, e segundo o autor, a personalidade desenvolve-se se no
ambiente constar 3 fatores primordiais: a empatia, a visão positiva e as relações
congruentes.

Maslow (1962 cit in Hansenne, 2003), considerava os indivíduos como


fundamentalmente bons, racionais e conscientes. E que estes eram os atores
dos seus próprios destinos e evolução. Para além disso, considerava que
existiam fatores motivacionais que sustentam a personalidade. E tendo isto

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como base, Maslow elaborou uma hierarquia das necessidades, que são
organizadas em função da sua importância.

Perspectiva da Aprendizagem

Skinner considerava que o ambiente determina a maior parte das nossas


respostas e que em função das suas consequências, as mesmas serão ou
reproduzidas ou eliminadas. Refere ainda que os comportamentos respondem a
leis: é possível controla-los através de manipulações do ambiente (Skinner, 1971
cit in Hansenne, 2003).

Para Bandura, os fatores mais importantes são os sociais e cognitivos.


Insistindo no facto de que a maioria dos reforços são de natureza social, como a
atenção dos outros, a aprovação, os sorrisos, o interesse e a aceitação. Ponto
fulcral da teoria da aprendizagem de Bandura é o facto de que com base na
observação do comportamento de outrem, construímos uma ideia de como os
novos comportamentos são produzidos (Bandura, 1971 cit in Hansenne, 2003).

A teoria de Rotter (1966 ci in Hansenne, 2003), considerava que o


ambiente podia controlar os comportamentos, sendo um dos aspectos
fundamentais na sua teoria a ideia de expectativa, ou seja, uma situação idêntica
não ser considerada pela mesma maneira por 2 indivíduos. Com isto, o autor
demonstrou que os indivíduos manifestam 2 tipos de expectativas gerais que se
podem qualificar como 2 formas de representar a relação entre comportamentos
e reforços: trata-se do locus of control.

Perspectiva Cognitiva

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Kelly (1955 cit in Hansenne, 2003), considerava que os processos


cognitivos representam a característica dominante da personalidade. Para tal, o
indivíduo formula expectativas às quais chamou de construtos pessoais. Com
base nisto criou o REP Test que visa apreendê-los.

Mischel (1995 cit in Hansenne, 2003), rejeitou desde logo a noção de traço
de personalidade. Com isto, o autor sugeriu que uma teoria adequada da
personalidade devia ter em conta 5 categorias de variáveis cognitivas: as
competências, as estratégias de codificação, as expectativas, os valores
subjetivos e os sistemas de auto regulação.

No caso da depressão, Beck (1972 cit in Hansenne, 2003) postulou que


os doentes deprimidos têm distorções cognitivas, que fazem com que eles
descodifiquem a realidade de maneira inadequada. Derivado disto, o autor
elaborou a terapia cognitiva para ajudar as pessoas a modificarem as distorções
cognitivas.

Perspectiva das Disposições

Allport (1937 cit in Hansenne, 2003), foi o primeiro a utilizar a noção de


traço de personalidade. Na sua opinião, cada indivíduo é único em função de
uma configuração específica de traços. Assim, o autor distingue traços comuns
de traços individuais, definindo 7 fases que terminam no final da adolescência.

Cattell (1965 cit in Hansenne, 2003), baseou-se na observação com


principal foco na predição da personalidade. Na teoria deste autor, os traços
constituem a dimensão de base da personalidade. Estes traços são herdados e
desenvolvem-se ao longo da vida do indivíduo. Com isto, desenvolveu um
questionário 16-PF para apreender a personalidade.

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Segundo Eysenck (1990 cit in Hansenne, 2003), bastam 3 super traços


ou dimensões para descrever a personalidade: extroversão versus introversão,
neuroticismo versus estabilidade emocional e psicoticismo versus força do Eu.
O autor faz também referência a 4 níveis: os tipos, os traços, as respostas
habituais e as respostas específicas. Eysenck, desenvolveu assim, o EPQ que
permite medir as 3 dimensões desta teoria.

Derivado à longa discussão de um grande número de psicólogos da


personalidade, consideraram que as diferenças individuais podem determinar-
se por 5 fatores (Big Five): a extroversão, a agradabilidade, a conscienciosidade,
o neuroticismo e a abertura à experiência. Devido a isto, foi desenvolvido um
questionário para avaliar as 5 dimensões fundamentais da personalidade: o NEO
PI (Hansenne, 2003).

Perspectiva Psicobiológica

De acordo com Gray (1982 cit in Hansenne, 2003), a sua teoria surge a
partir de observações de comportamentos animais, colocados em condições
particulares de recompensa e de punição. Assim sendo, esta teoria fomenta-se
em 3 fatores: a ansiedade, a impulsividade e o sistema fight/flight.

O modelo proposto por Tellegen (1985 cit in Hansenne, 2003),


compreende 3 dimensões preponderantes: a emoção positiva, a emoção
negativa e o constrangimento. Foi desenvolvido um questionário para apreender
estas dimensões: o Questionário Multidimensional da Personalidade. A emoção
positiva está relacionada ao sistema de facilitação comportamental, a emoção
negativa está associada com a atividade do locus coeruleus e o constrangimento
com a serotoninérgica.

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Zuckerman (1994 cit in Hansenne, 2003), substituiu o modelo dos 5


factores por um modelo alternativo. Modelo este de 3 fatores compreendendo os
fatores de sociabilidade, de emocionalidade e de procura impulsiva de
sensações de carácter antissocial.

Cloninger (1988 cit in Hansenne, 2003), propõe um modelo biossocial da


personalidade, que se articula com temperamentos e caracteres. Cujos
temperamentos são geneticamente determinados, estando associados a
variáveis biológicas específicas, ao passo que os caracteres correspondem à
aprendizagem e aos efeitos do ambiente. Com tudo isto, os temperamentos são:
procura da novidade (ativação), o evitamento do perigo (inibição), a dependência
da recompensa (manutenção) e a persistência. Por outro lado, os caracteres são:
a autodeterminação (maturidade individual), a cooperação (maturidade social) e
a transcendência (maturidade espiritual). Foi desenvolvido o questionário TCI
com 226 itens que permite medir as 7 dimensões do modelo. Hoje em dia existe
o TCI-R que veio substituir o anterior para diagnosticar perturbações da
personalidade.

A Estrutura da Personalidade

Visto que o sujeito humano age como uma unidade, ainda que
heterogênea, de corpo-e-mente, estes dois componentes, físico e psíquico,
devem estar sempre interagindo e, de algum modo, agindo conjuntamente.
Mesmo assim, pode-se visualizar a possibilidade na qual alguns indivíduos
agiriam mais sobre o impacto de um dos componentes, enquanto outros agiriam
mais sob o outro. Dali já surge a possibilidade de se caracterizarem os sujeitos
em tipos diferenciados em termos do predomínio de um destes componentes,
físico ou psíquico, no seu modo de ser e de se comportar. Por que não? Inclusive,
a tipologia jungiana de extroversão vs. introversão pode ser concebida como

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representando esta polaridade de ser do homem, sendo a primeira a orientação


para fora, para o físico, e a segunda a orientação para dentro, para o psíquico
(veja a figura 3-4). De qualquer forma, a concepção filosófica caracteriza o ser
humano como uma unidade composta de dois elementos heterogêneos agindo
em uníssono, a saber, o físico e o psíquico.

A esta distinção do ser em físico e psíquico deve estar também associada


a distinção de inconsciente e consciente. A consciência, como uma nova
realidade evolutiva, emergente a partir do físico e biológico (Popper, 1977;
Davies, 1983), representa o psíquico, enquanto o inconsciente representa mais
o biológico, o físico. Esta distinção vem também explicitada em termos de
racional e irracional; o que está adequado, apenas que ela reduz a polaridade
do ser (mente- corpo) ao nível da função do conhecer, deixando de fora os
aspectos do sentir e do agir, como veremos a seguir.

Como o ser humano é uma entidade una que pode ser analisada em
subsistemas variados, uma dessas análises pode ser feita em termos da
predominância dos componentes físico e psíquico em tais sistemas. Assim, um
subsistema neste ser humano é constituído por aquela região onde predomina o
físico e outra em que predomina o psíquico. Há, contudo, um momento em que
o físico e o psíquico se equilibram formando um estágio, sistema ou esfera do
ser humano em que ambos os níveis de ser atuam igualmente. Esta distinção
bate com o que Freud descreve e chama de consciente, pré-consciente e
inconsciente, sendo o consciente o predominantemente psíquico, o inconsciente
o predominantemente físico e o pré-consciente a esfera entre os dois ou o ser
misto físico-psíquico (veja figura 3-1 e figura 3-4).

Isto daria conta do ser do indivíduo ser humano, na visão do “homo


philosophicus”.

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Aqui se faz necessária pelo menos uma nota sobre a problemática da


mente, isto é, da esfera psíquica do ser humano. A admissão e sobretudo a
concepção de uma realidade mental no ser humano não é algo consensual e
tranquilo entre os psicólogos e mesmo filósofos que estudam este ser humano.
Aqui existem duas tendências que me parecem nefastas e que gostaria de
comentar, porque elas vêm sempre atrapalhando a compreensão do que seja o
psíquico. Poderíamos chamar estas tendências de reducionismo materialista e
o essencialismo reificante. O reducionismo procura, de todos os modos, reduzir
os processos psíquicos a processos biológicos. A visão materialista tem feito isto
sistematicamente durante toda a história do conhecimento humano; em
Psicologia, além do behaviorismo, ela aparece atualmente clara no ramo da
neuropsicologia: redução dos processos mentais a processos corticais sutis ou
similares.

Uma outra vertente de diferenciação entre os indivíduos, além do ser,


poderia ser considerada a atividade, a função (como diria Jung) ou as
capacidades ou faculdades deste ser humano. E esta atividade pode ser
concebida, como o tem sido na tradição histórica da Filosofia e também da
Psicologia, como tripartite, a saber, as funções de conhecer, sentir e agir, ou por
outros nomes sob os quais se queira entender estas três funções, além dos seus
substantivos de conhecimento, sentimento e motivação ou vontade, ou, ainda,
faculdade cognitiva, faculdade afetiva e faculdade conativa. Nesta parte já não
aparece tão clara esta distinção em três funções, pois outros diriam que elas são
em maior número. O próprio Jung fazia aqui algumas distinções que podem
parecer até estranhas ou, pelo menos, não se vê bem o por quê de tais
distinções. A armadura psicanalítica certamente é uma das causas de tais
idiossincrasias de Jung. Ele distinguia as funções em termos de energização
(extroversão vs. introversão), atenção (sensação vs. intuição), decisão
(pensamento vs. sentimento) e vivência (julgamento vs. percepção). Além de

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conceber estes conceitos de um modo peculiar (por exemplo, intuição estaria


ligada a uma coisa chamada “sexto sentido”!), Jung parece estar amarrado à
tradicional magia do número 4, a qual vem desde Pitágoras. E outros, ainda, têm
outras sugestões neste particular das funções humanas.

Esta tabela quer expressar que a função de conhecimento se manifesta,


ao nível físico do ser humano, no fenômeno da percepção sensorial (a sensação)
e, ao nível psíquico, na elaboração teórica da realidade (o pensamento). O sentir
se manifesta na emoção corporal e no sentimento ao nível psíquico. O agir, por
sua vez, se manifesta na ação instintiva, reflexa, ao nível físico, e na ação livre,
na tomada de decisão, ao nível psíquico. Os símbolos gregos expressam a
terminologia técnica sob a qual os níveis do ser humano têm sido expressos
durante a história.

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Para cada um desses seis tipos de atividade, o ser humano deve possuir
um instrumento ou órgão, vamos chamar de faculdade, que o qualifica para
desempenhar tal função, dado que é axiomático de que a função procede da
estrutura. Assim, para a percepção ele tem os sentidos; para a teoria, ele tem a
inteligência (intelecto); para a emoção, ele possui o sistema neuroendócrino (a
emoção surge espontaneamente “do intestino”, dizem os taitianos – Levy, 1984);
para o sentimento, ele tem o senso do valor (atitude?); para a ação instintiva, ele
possui o instinto; e para a ação livre, ele tem a vontade.

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