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Psicologia Geral

Mª LUÍSA LOPES CHICOTE


MUSSA ABACAR
SÉRGIO S. HUÓ

Psicologia Geral
Psicologia Geral
Psicologia Geral

Psicologia Geral
Psicologia Geral
(Para Cursos de Bacharelato em Regime Semi-Presencial)

Psicologia Geral
Psicologia Geral
Psicologia Geral
Psicologia Geral
Psicologia Geral
Psicologia Geral
Universidade Pedagógica - Nampula
Departamento de Ciências Pedagógicas
2007

Psicologia Geral
IDENTIFICAÇÃO/FICHA

Autores: dra. Mª Luísa Lopes Chicote, dr. Mussa Abacar e dr. Sérgio S. Huó

Título:

Duração da Disciplina: semestral (regime modular)

Ano: 2007

© Autores e UP Nampula, Depto. Ciências Pedagógicas

Nampula, Universidade Pedagógica, 2007


Módulo de Psicologia Geral iii

ÍNDICE
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 5
TEMA 1: A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA................................................................7
Ciência e Senso Comum.........................................................................................7
A CIÊNCIA...............................................................................................................8
Características da Ciência.......................................................................................9
Conceito de Psicologia..........................................................................................10
Importância da Psicologia......................................................................................11
Objecto de Estudo da Psicologia...........................................................................11
Estrutura e Tarefas da Psicologia..........................................................................12
Métodos da Psicologia...........................................................................................13
Relação da Psicologia com outras Ciências..........................................................16
Evolução da Ciência Psicológica...........................................................................17
1. Os Grandes Períodos de Evolução da Psicologia......................................17
2. O Pensamento Psicológico Antes e Depois do Século XVIII......................17
Os primórdios da Psicologia Científica..................................................................17
A Psicologia entre os Gregos.............................................................................18
A Psicologia no Império Romano.......................................................................19
A Psicologia no Renascimento..........................................................................20
A PSICOLOGIA CIENTÍFICA................................................................................22
As Primeiras Abordagens Teóricas da Psicologia.................................................23
O Funcionalismo (Escola funcionalista).............................................................23
O Estruturalismo (Escola estruturalista).............................................................23
O Associacionismo.............................................................................................23
As Principais Teorias da Psicologia do Século XX................................................24
O Behaviorismo ou Comportamentalismo.........................................................24
Análise experimental do comportamento...........................................................25
A Psicologia da Forma: A Escola da Gestalt.....................................................26
A Psicanálise/Freud...........................................................................................27
A Psicanálise e os Mecanismos de Defesa da Personalidade..........................27
TEMA 2: O DESENVOLVIMENTO PSIQUICO E DA CONSCIÊNCIA HUMANA.....30
O Homem como Unidade bio-psico-social............................................................30
A Vida Antes do Nascimento (o Desenvolvimento Pré-Natal)...............................30
Fundamentos Biológicos da Conduta....................................................................31
O Papel da Hereditariedade e do Meio na Conduta..............................................32
Hereditariedade e Meio: o Princípio fundamental da Psicologia...........................33
Psicofisiologia do Sistema Nervoso.......................................................................33
Sistema Nervoso Central (SNC)........................................................................33
Desenvolvimento Filogenético do Psíquico...........................................................35
O Surgimento da Consciência no Processo da Actividade Humana.....................36
Teorias de Desenvolvimento do Psíquico.............................................................37
TEMA 3: A PSICOLOGIA EVOLUTIVA OU ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO...39
A Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de PIAGET.............................................41
A Teoria do Desenvolvimento Psicossexual segundo FREUD..............................44
A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial segundo ERIKSON...........................45
A Teoria do Desenvolvimento Moral segundo KOHLBERG..................................47
TEMA 4: INTRODUCAO AO ESTUDO DA PERSONALIDADE................................50
Génese e Formação da Personalidade.................................................................50
Conceito de Personalidade....................................................................................50
Módulo de Psicologia Geral iv

Estrutura da Personalidade...................................................................................50
Teorias da Personalidade......................................................................................50
TEMA 5: PROCESSOS PSÍQUICOS/COGNITIVOS INTRODUCAO AO.................61
Sensação........................................................................................................... 61
Percepção..........................................................................................................61
Memória............................................................................................................. 61
Pensamento.......................................................................................................62
O Pensamento e Linguagem.............................................................................63
Imaginação........................................................................................................ 63
TEMA 6: ESFERA EMOCIONAL, SENTIMENTAL E VOLITIVA DA
PERSONALIDADE....................................................................................................64
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 67
INTRODUÇÃO
Quando falamos de um curso superior, estamos nos referindo,
indirectamente, a uma Academia de Ciências, já que qualquer Faculdade nada mais
é do que o local próprio da busca incessante do saber científico 1. Este trabalho não
tem a pretensão de abranger todas as questões envolvidas em Psicologia. Trata-
se, tão-somente, de uma contribuição para consulta por parte dos estudantes dos
cursos de Bacharelato em Regime Semi-presencial, a decorrer na UP-Nampula,
através das Extensões Universitárias distritais. Pode também servir de instrumento
de consulta a outros interessados em saber um pouco mais sobre Psicologia, esta
ciência que se ocupa do estudo do Comportamento humano. Os aprofundamentos
teóricos ou práticos poderão ser buscados nos materiais sugeridos na bibliografia no
final deste trabalho, assim como em outros recursos.
Nossa intenção é apenas facilitar a busca dos estudantes no que diz respeito
aos trabalhos de pesquisa académica. A estrutura deste trabalho, por si só, serve de
modelo para um trabalho realizado em sala de aula. Além disso, procuramos
apresentar e explicar as regras para cada parte de um trabalho científico.
Dada a complexidade dos temas e fenómenos psicológicos, os temas
apresentados neste módulo são abordados de uma maneira sintética visando
facilitar a leitura e interpretação dos mesmos.
O módulo foi elaborado respeitando ao programa curricular de Psicologia, da
UP, orientando-se para o alcance dos seguintes objectivos:
 Conhecer a diferença entre a Psicologia do senso comum e a Psicologia
Científica: objecto, métodos, ramos da psicologia, assim como áreas de
aplicação dos conhecimentos psicológicos;
 Conhecer a evolução do pensamento psicológico (as três grandes fases da
evolução da Psicologia)
 Relacionar a psicologia com outras áreas de conhecimento.
 Saber os fundamentos biológicos, sociais, genéticos do comportamento;
surgimento da consciência, teorias do psiquismo;
 Definir o conceito de desenvolvimento, seus factores; desenvolvimento
psicossexual; psicossocial; cognitivo e moral;
 Compreender as teorias da personalidade e suas propriedades individuais
 Conhecer os processos psíquico-cognitivos;
 Dominar conhecimentos referentes à esfera emocional, sentimental da
personalidade.
 Caracterizar o grupo, o colectivo e as relações sociais e interpessoais dentro
do grupo social.

Segundo afirmamos, o módulo está organizado de forma que facilite a


consulta, obedecendo a lógica de agrupamento temático das matérias. O texto
apresenta a seguinte estruturação dos conteúdos programáticos:
Tema 1: A Psicologia como Ciência
 Psicologia do senso comum e Psicologia Científica
 O objecto e importância da Psicologia
 Estrutura e tarefas da psicologia e métodos da Psicologia

1
J.L. de Paiva Bello. Metodologia científica. 2004
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 Resenha histórica sobre a origem e desenvolvimento da Psicologia


 Algumas teorias da Psicologia
Tema 2: Desenvolvimento do Psíquico e da Consciência Humana
 O Homem como unidade bio-psico-social;
 Fundamentos biológicos da conduta;
 Psico-fisiologia do sistema nervoso;
 O papel da hereditariedade e do meio na conduta;
 Desenvolvimento filogenético do psíquico e suas teorias;
 Surgimento da consciência no processo da actividade humana
Tema 3: Psicologia Evolutiva/Desenvolvimento
 Conceito de Desenvolvimento;
 Factores do desenvolvimento e de crescimento;
 Desenvolvimento e a socialização;
 Desenvolvimentos (cognitivo, psicossocial, psicossexual moral)
 Teorias do desenvolvimento humano
Tema 4: Psicologia da Personalidade
 Conceitos da personalidade e sua estrutura;
 Génese e evolução da Personalidade
 Factores gerais que influenciam a Personalidade;
 Teorias da Personalidade;
Tema 5: Processos Psíquicos/Cognitivos
 Conceito de sensação, percepção, memória, pensamento, imaginação;
 Leis, características, propriedades ou particularidades dos processos
psíquicos;
 Teorias dos processos psíquicos;
 Perturbações dos processos psíquicos;
 Pensamentos e linguagem, suas relações, aquisição e desenvolvimento
Tema 6: Esfera Emocional, Sentimental e Volitiva da Personalidade
 Conceitos de Sentimento, Emoção e Vontade
 Bases fisiológicas dos Sentimentos, Emoções e Vontade
 Funções dos Sentimentos, Emoções e Vontade
 Características das Emoções, dos Sentimentos e da Vontade
 Teorias e tipos de Emoções, Sentimentos e da Vontade
 Diferenças entre Emoções humanas dos animais
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TEMA 1:
A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA

Ciência e Senso Comum


Antes de iniciarmos o estudo da Psicologia (nosso propósito neste trabalho),
mostra-se importante apresentarmos de forma breve uma visão básica sobre
ciência, para que possamos compreender a Psicologia como ramo científico.
Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um facto ou
fenómeno qualquer. O conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que
acumulamos em nossa vida quotidiana, através de experiências, dos
relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e artigos diversos.
Entre todos os animais, nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de
criar e transformar o conhecimento; somos os únicos capazes de aplicar o que
aprendemos, por diversos meios, numa situação de mudança do conhecimento;
somos os únicos capazes de criar um sistema de símbolos, como a linguagem, e
com ele registar nossas próprias experiências e passar para outros seres humanos.
Essa característica é o que nos permite dizer que somos diferentes dos gatos, dos
cães, dos macacos, dos leões, e outros animais considerados irracionais;
precisamente porque não têm a capacidade pensante, que caracteriza o homem.
Ao criarmos este sistema de símbolos, através da evolução da espécie
humana, permitimo-nos também ao pensar e, por consequência, a ordenação e a
previsão dos fenómenos que nos cerca.
Existem diferentes tipos de conhecimentos:
O senso comum: conhecimento da realidade
Existe um modo de vida que pode ser entendido como a vida por excelência:
é a vida do quotidiano. É no quotidiano que tudo fluí, que as coisas acontecem, que
nos sentimos vivos, que sentimos a realidade.
Quando fazemos ciência baseamo-nos na realidade quotidiana e pensamos
sobre ela. O conhecimento do quotidiano (senso comum) e o conhecimento
científico aproximam-se e afastam-se contemporaneamente. Aproximam-se
enquanto a ciência se refere à realidade e afastam-se enquanto a ciência abstrai a
realidade para compreender melhor, isto é, transforma a realidade em objecto de
investigação permitindo a construção do conhecimento científico sobre o real.
Sem o conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativa e erros, a nossa vida
quotidiana não teria o devido sentido, de vida.
A esta experiência acumulada no quotidiano chamamos de senso comum,
ou seja, é o conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros que facilitam a
nossa vida no dia-a-dia. (imaginemos ter que pensar sempre que atirando algo da
janela cai; que o carro em velocidade se aproxima, etc.). Esta experiência torna-se
hábito e passa de geração em geração e assim o senso comum vai
construindo suas «teorias» médicas, físicas, psicológicas (poder de persuasão
de um vendedor, um amigo que escuta bem, etc.).
O conhecimento intuitivo não é suficiente para as exigências do
desenvolvimento humano;
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Os gregos, por volta do século 4 a.C. já dominavam complicados cálculos


matemáticos, ainda hoje difíceis, mas eles precisavam entender para resolver
problemas arquitectónicos, navais, agrícolas, etc. Com o tempo tais conhecimentos
especializaram-se, até atingirem um nível de satisfação que permitiu ao Homem de
atingir a lua. A este tipo de conhecimento, que definiremos com mais cuidado logo
adiante, chamamos de Ciência. Deste modo foram-se constituindo várias áreas de
conhecimento, entre as quais podemos citar:
 Filosofia – Forma mais geral de perceber e compreender a natureza. A
especulação em torno deste tema forneceu um corpo de conhecimentos
denominados de filosofia. A Filosofia é fruto do raciocínio e da reflexão
humana. É o conhecimento especulativo sobre fenómenos, gerando conceitos
subjectivos. Busca dar sentido aos fenómenos gerais do universo,
ultrapassando os limites formais da ciência. Leis mais gerais sobre os
componentes do conhecimento, por exemplo os gregos se preocuparam com
a origem e o significado da existência humana
 Religião – Formulação de um conjunto de conhecimentos sobre a origem do
Homem, seus mistérios, princípios morais. A fonte destas tradições e crenças
é a Bíblia (registo do conhecimento religioso judaico-cristão), base da conduta
para muitos, diferente da história. É um c onhecimento revelado pela fé
divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou
negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo.
 Ciência (Conhecimento Científico) – procura conhecer, além dos
fenómenos, suas causas e leis. É o conhecimento racional, sistemático,
exacto e verificável da realidade. Sua origem está nos procedimentos de
verificação baseados na metodologia científica.
 Arte – traduz a emoção, o belo e a sensibilidade, na pré-história encontramos
desenhos do corpo humano nas paredes das cavernas que exprimiam tal
sensibilidade e emoção.
 Ética (moral) – valores morais, normas de conduta.

Ciência, Arte, Ética, Religião, Filosofia, e Senso Comum são domínios do


conhecimento humano. Nosso objectivo é definir a Psicologia como ciência. Para tal
constitui imperativo analisar o que é ciência?”, para que possamos compreender a
psicologia como ciência.

A CIÊNCIA
Como as explicações mágicas, baseadas no senso comum, não bastavam
para compreender os fenómenos, os seres humanos evoluíram para a busca de
respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Desta forma,
nasceu a ciência, metódica, que procura sempre uma aproximação com a lógica.
O ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar. Esta
característica permite que os seres humanos sejam capazes de reflectir sobre o
significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas
descobertas e de transmiti-las a seus descendentes.
O desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à
sua característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido
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a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a
ciência.
Ciência: do latim «scire» que significa conhecimento, pode ser definida
como o conjunto de conhecimentos sobre factos ou aspectos da realidade
(objecto de estudo) expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa.

Características da Ciência
A Ciência é racional, sistemática, exacta e verificável da realidade. Sua
origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica.
Podemos então dizer que o Conhecimento Científico:
- É racional e objectivo.
- Atém-se aos fatos.
- Transcende aos fatos.
- É analítico.
- Requer exactidão e clareza.
- É comunicável.
- É verificável.
- Depende de investigação metódica.
- Busca e aplica leis.
- É explicativo.
- Pode fazer predições.
- É aberto.
- É útil (Galliano, 1979, apud Paiva Bello, 2004;s/p).
A ciência é um processo; facto que um novo conhecimento é produzido
sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido onde negam-se, reafirmam-se,
descobrem-se novos aspectos, e assim a ciência avança;
A Ciência deve verificar a objectividade; suas as conclusões devem ser
passíveis de verificação e isentas de emoções, para tornarem-se válidas para todos.
A Ciência possui objecto específico, linguagem rigorosa/técnica; possui
métodos e técnicas específicas,
O processo cumulativo do conhecimento, a objectividade faz da ciência
uma forma de conhecimento que supera em muito o senso comum. Contudo, não
existe um divisor nítido entre o conhecimento empírico e científico, visto que a
pesquisa científica não se realiza no «vácuo intelectual», mas sempre está
mergulhada em um contexto – o conhecimento científico nasce, em ultima instância,
de problemas observados e acontecimentos encontrados na experiência humana.
Objectivos/propósitos da Ciência
1. Oferecer uma explanação objectiva, factual e útil do universo. Neste caso,
ela procura uma explanação verificável dos fenómenos naturais e sociais,
diferentes, pois, da abordagem artística, religiosa, etc. (central)
2. Controlar – controle prático da natureza e vida social (ervas daninhas,
agricultura; inseminação artificial, clonagem, etc.
3. Descrever, compreender o mundo – curiosidade natural do Homem,
compreender o mundo, tornando-o inteligível é uma necessidade, é possível
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compreender o mundo somente se conhecemos a relações e inter-relações


das variáveis dos fenómenos estudados – como controlar a malária, por
exemplo, se não forem descritas as suas características ou os seus sintomas,
se não for conhecida a causa e a evolução da doença?
4. Prever – a sistematização objectiva da ciência permite uma generalização no
espaço e no tempo e graças a este objectivo muitas vidas tem sido salvas de
terramotos, maremotos, vendavais, etc.

Conceito de Psicologia
Depois desta breve alusão geral à noção de Ciência, iniciemos agora o
estudo da Psicologia.
O termo Psicologia é de origem greco-latino, e etimologicamente pode
traduzir-se no seguinte: psiychè = alma; logia=logos=estudo ou ciência. Assim, a
palavra Psicologia significa estudo da alma ou ciência da alma, ciência que estuda
as ideias, sentimentos, e determinações cujo conjunto constitui o espírito humano.
Esta definição permaneceu até aos meados do séc. XIX devido ao seu
desenvolvimento `condicionado´ com a Filosofia.
Como uma ciência autónoma com um objecto de estudo e métodos próprios
de investigação, ela é definida como ciência que estuda o comportamento do
homem e dos outros animais.
A psicologia supõe-se a outras ciências sociais, especialmente a sociologia.
Mas, enquanto a sociologia concentra sua atenção nos grupos, processos grupais e
forças sociais os psicólogos sociais concentram-se nas influências que os grupos e
a sociedade exercem sobre os indivíduos. A ênfase da psicologia está no ser
humano a diferença dos fisiólogos (biologia) que se concentram no sistema
nervoso, cérebro, memória, atenção, movimento, fome, impacto das drogas, etc.
Actualmente a psicologia é definida como a ciência que se concentra no
comportamento e nos processos mentais – de todos os animais.
o Ciência: enquanto a ciência oferece procedimentos disciplinados e racionais
para a condução de investigações válidas e a construção de um corpo de
informações coerentes e coesas.
o Comportamento: abrange tudo o que pessoas e animais fazem: conduta,
emoção, formas de comunicação, processos de desenvolvimento.
Assim, o objecto de estudo da Psicologia é o comportamento dos seres
vivos especificamente homens e animais, isto é, a Psicologia estuda a resposta
ou conjunto de respostas observáveis de um individuo ou de um grupo, a uma
situação ou estímulo.
o Processos mentais – incluem formas de cognição ou formas de
conhecimento, de entre elas: perceber, participar, lembrar, raciocinar, ou
resolver problemas. Sonhar, fantasiar, desejar, ter esperança são também
processos mentais.
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Importância da Psicologia
Por ser uma ciência multiperspectiva e se aplicar em todas as áreas da vida
humana, tais como no Ensino, na Saúde, na Família, no Comércio, no Desporto,
etc., a Psicologia possui uma vasta importância.
 No ensino permite ao professor conhecer as particularidades individuais dos
alunos para melhor planificar e administrar as aulas, identificar e resolver os
problemas de aprendizagem segundo o desenvolvimento dos alunos e fazer
uma avaliação do processo de ensino e aprendizagem.

 Na saúde permite ao profissional de saúde estabelecer uma melhor


comunicação com o paciente e vice-versa.

 Para os governantes a Psicologia permite uma óptima comunicação com as


massas.

 Também permite ao Homem conhecer-se a si próprio e a natureza de


diferenciação dos outros Homens; ajuda o Homem a resolver os seus
problemas do dia-a-dia, conhecer a forma de agir de cada um, as tendências
compartimentais, as atitudes, as motivações dos outros Homens.

Objecto de Estudo da Psicologia


O objecto ou assunto de estudo de uma determinada ciência é a realidade ou
o aspecto da realidade que ela se propõe a estudar, descrever ou explicar.
Para compreender o objecto de estudo da Psicologia é preciso compreender
a diversidade de objectos definidos por várias correntes psicológicas;

A diversidade dos objectos de estudo da psicologia


 Behaviorismo ou comportamentalismo: segundo estes teóricos o objecto
de estudo da Psicologia é o comportamento;
 Psicanálise: para esta escola o objecto de estudo da psicologia é o
inconsciente.
 Outros psicólogos: o objecto de estudo da psicologia é a consciência ou
ainda a personalidade humana.

Razões da dificuldade de definição do objecto


 Por ser uma área de conhecimento cientifico que se constituiu recentemente
(final do séc. XIX) não obstante a sua existência dentro da filosofia como
preocupação humana;
 Outro motivo que dificulta a definição do objecto de estudo da Psicologia é o
facto do cientista – o pesquisador confundir-se com o objecto a ser
pesquisado – a concepção do Homem `contamina` inevitavelmente a sua
pesquisa;
 Em terceiro, dificuldades justificam-se pelo facto dos fenómenos psicológicos
serem tão diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de
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observação, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição,


medida, controle e interpretação.
A Subjectividade como objecto de estudo da Psicologia
Considerando toda esta dificuldade na definição única do objecto da
psicologia, podemos considerar como objecto a subjectividade.
A identidade da Psicologia é o que diferencia dos demais ramos das ciências
humanas, e pode ser obtida considerando que cada um desses ramos enfoca o
Homem de maneira particular (economia, política, história) trabalham essa
matéria-prima de maneira particular, construindo conhecimentos distintos e
específicos a respeito dela. A psicologia colabora com o estudo da subjectividade:
é essa a sua forma particular, específica de contribuição para a compreensão da
totalidade da vida humana.
A subjectividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai
construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da
vida social e cultural. É a síntese que nos identifica por ser única e nos iguala à
medida em que os conhecimentos que a constituem são experienciados no campo
comum da objectividade social. É o mundo de ideias, significados, emoções,
construído inteiramente pelo sujeito a partir das suas relações sociais, suas
vivências e sua constituição biológica. É a fonte das manifestações afectivas. A
subjectividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar, e de fazer de
cada um. É o nosso modo de ser.
Entretanto a subjectividade não é inata. Ela se constrói, apropriando-se do
material do mundo social e cultural.
A subjectividade em Psicologia é vista em dois níveis: subjectividade social e
individual. A subjectividade individual representa o espaço pessoal dos sentidos
que se atribui ao mundo real (valor, cultura, experiência, ideias) e a subjectividade
social é comparável com o sentido que a sociedade atribui ao mundo real.

Estrutura e Tarefas da Psicologia


Psicologia industrial: estuda a estruturação do trabalho, a conduta dos
trabalhadores, a selecção dos trabalhadores, o incremento da produção e da
produtividade, a avaliação dos funcionários e as greves dos trabalhadores.
Psicologia pedagógica (escolar) ou de aprendizagem: estuda as leis
psicológicas de ensino e de educação do Homem. Estuda a formação do raciocínio
dos alunos, os problemas do governo do processo de assimilação dos meios e dos
hábitos da actividade intelectual, revela os factos psicológicos que influenciam o
processo de aprendizagem, as relações dentro da colectividade de alunos, as
diferenças psicológico individuais dos alunos, as particularidades psicológicas da
educação e do ensino das crianças com desenvolvimento psiquismo anormal.
Em suma: estuda a problemática psicológica no quadro escolar. Tenta
compreender os problemas de adaptação, de relações e de aprendizagem.
Psicologia clínica: dedica-se a prevenção e terapia dos desajustamentos de
conduta qualquer que seja o seu grau de gravidade.
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Psicologia social: estuda a conduta humana na perspectiva de grupos de


colectividades. Investiga o processo de interacção entre membros do grupo e as
influências grupais sobre a dinâmica dos individuais.
Psicologia jurídica: analisa as questões psicológicas relacionadas com a
realização do sistema do direito
Psicologia militar: estuda a conduta do Homem no campo de combate, os
aspectos psicológicos das relações entre os chefes e os subalternos, os problemas
psicológicos de uso de materiais de guerra.
Psicologia experimental: estuda os princípios psicológicos básicos;
(sensação, percepção, atenção, motivação, memória, pensamento, pensamento e
emoções) em situação laboratorial visando a solução de problemas práticos de dia-
a-dia da humanidade.
Psicologia do desporto: analisa as particularidades psicológicas do
indivíduo e da actividade dos desportistas, as condições e os métodos da sua
preparação psicológica, os parâmetros psicológicos de preparação e da capacidade
do desportista e os factores psicológicos relacionados com a organização de
competições.

Métodos da Psicologia
O estudo da Psicologia como ciência pressupõe o uso de métodos, que possa
facilitar a análise do seu objecto de estudo, os fenómenos psíquicos (memória,
percepção, a sensação, o pensamento, assim como a imaginação) que numa só
linguagem são reduzidos em comportamentos.
Método: na perspectiva psicológica é o caminho ou via utilizado para
esclarecer as manifestações ou causas de um comportamento, de manifestações
psíquicas.
Em psicologia, o conjunto dos métodos específicos engloba todos aqueles
que frequentemente são usados pelos psicólogos como:
a) Introspecção ou método introspectivo
Descrição cuidadosa dos fenómenos psíquicos que os estados da
consciência acusavam, mas feita pelo próprio indivíduo. Consiste na orientação da
consciência reflexiva para aquilo que se passa em nós, ou seja, concentração do
espírito sobre si mesmo para analisar os fenómenos que o indivíduo experimenta.
É a observação e a descrição que o indivíduo faz dos seus estados psíquicos.
Supõe um desdobramento do sujeito que é ao mesmo tempo observador e
observado. O sujeito é o próprio objecto.
A introspecção pode ser pessoal ou laboratorial. A introspecção pessoal
consiste na auto-análise, isto é na observação interior e análise. Na introspecção
laboratorial o experimentador (sujeito) estabelece as condições de experiência,
anota e interpreta os resultados.

b) Extrospecção ou método extrospectivo (de Expressão)


Consiste na observação, descrição e explicação dos comportamentos dos
outros. Portanto, as manifestações exteriores do sujeito, são devidamente anotadas
por um observador.
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c) A observação (Método de observação)


A observação como método em psicologia consiste na percepção directa ou
indirecta, atenciosa, racional, planificada e sistemática, das manifestações do
comportamento nas suas condições naturais, com o objectivo de dar uma explicação
científica da sua natureza.

d) A experimentação (Método experimental)


Consiste na relação entre o objecto de investigação e a situação experimental
com o objectivo de descobrir a natureza dessa relação e as variáveis das quais ela
depende. Pressupõe a possibilidade de intromissão activa do pesquisador na
actividade da pessoa submetida a experiência.
Ë a actividade na qual o investigador provoca o fenómeno a estudar e
controla os possíveis factores e condições que podem incidir na sua produção e
desenvolvimento com o objectivo de conhecer a natureza interna do processo
psíquico e desta forma descobrir as leis objectivas que o explicam.
A experimentação como método em psicologia usa-se geralmente em estudo
de casos ao nível animal porque é difícil manipular o comportamento humano, por
razões morais, éticas até mesmo razões ligadas à saúde.

e) Método estatístico
Usa-se para fazer o estudo ao nível dos grupos maiores, isto é, para a
compreensão de fenómenos de massa.

f) Método de entrevista
É uma conversação entre investigador e o sujeito investigado através da qual
o investigador obtém informações sobre o psiquismo. Geralmente se utiliza para
enriquecer e aprofundar a informação obtida a partir da observação e
experimentação. Ela permite a obtenção directa dos dados. O investigador faz a
pergunta e o entrevistado apenas responde a pergunta.

g) Questionário
Consiste num conjunto de perguntas cujo conteúdo e extensão dependem
dos objectivos da investigação e se aplica como substituto da entrevista quando se
trabalha com amostras grandes.

h) Método comparativo
Serve para fazer extrapolação de uma conclusão feita sobre o estudo de um
animal para relacionar ao Homem, permite a formação de um perfil comportamental.

i) Método analítico ou psicanalítico


É um método interpretativo que busca o significado oculto, isto é, que torna
claro o significado daquilo que é manifestado por meio das palavras e acções.

j) Testes psicológicos
Consistem num sistema de tarefas, perguntas, seleccionadas, que tem como
objectivo a avaliação e comparação de sujeitos quanto a qualidade da
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personalidade, habilidades, nível de desenvolvimento intelectual, efectuando-se esta


comparação sobre a base de normas estabelecidas previamente.
Existem testes psicológicos para medir tanto aspectos cognitivos como
aspectos afectivos da personalidade.
Os testes psicológicos não consistem em obter dados novos que serão
necessários para o aprofundamento dos conhecimentos científicos, mas sim em
estabelecer as qualidades psicológicas da pessoa submetida à experiência para se
analisar se corresponde ou não as normas ou padrões revelados anteriormente
Este grupo de testes é utilizado para revelar a existência ou a ausência de
certas capacidades, aptidões, caracterizar com o máximo de precisão certas
qualidades do indivíduo para exercer certa profissão, etc. Podem ser: testes de
inteligência, de capacidades, de aptidões, de personalidade.

k) Métodos de estudo individual ou histórico do caso


Neste método são empregue muitos métodos e técnicas combinadas. Para se
estudar o comportamento de um indivíduo importa conhecer o maior número
possível de factos sobre o mesmo, a fim de que possam ser compreendidas as
principais forças e influências que orientam seu desenvolvimento.
O estudo do caso é frequentemente empregue pelo orientador educativo,
visando ajudar os alunos na solução de seus problemas.
Podemos citar também alguns métodos particularmente usados na Psicologia
de desenvolvimento, que é um ramo da Psicologia; através do qual se estuda o
desenvolvimento humano

l) Métodos longitudinais
É um processo de observação que se faz no sentido de duração. Os estudos
longitudinais têm fornecido informações excelentes e decisivas para a explicação e
compreensão do desenvolvimento humano, quer relativamente ao crescimento físico
e desenvolvimento dos processos cognitivos, quer sobre a evolução da
personalidade e a aquisição da linguagem. Este método procura seguir os sujeitos,
em intervalos de tempo convenientemente escolhidos, para determinar a curva ou lei
de crescimento e desenvolvimento.
O Método longitudinal estuda, no tempo, em períodos mais ou menos
espaçados, o comportamento dos sujeitos ou amostragens de sujeitos.

m) Métodos de corte ou de selecção transversal


Trata-se de um tipo de observação que pode estudar um grande número de
sujeitos num espaço de tempo relativamente curto. Por exemplo, no mesmo espaço
de tempo, o investigador pode observar diferentes ou vários aspectos da estrutura
do sujeito em diferentes faixas etárias através de amostragens significativas. Pode
observar crianças dos 0 aos 2 anos, de 1 aos 3 anos, dos 2 aos 4 anos sob um
determinado número de aspectos da sua personalidade e estabelecer curvas de
desenvolvimento através de processos estatísticos de cada um desses aspectos e
do seu conjunto como integrantes ou componentes de uma mesma estrutura, a
estrutura da personalidade.
Módulo de Psicologia Geral 16

n) Métodos mistos (perspectiva eclética)


Esta perspectiva de uso de métodos é baseada particularmente no recurso a
diversos e variados métodos de estudo. São aplicados simultaneamente um tipo de
método em conjugação com outros métodos. Os métodos são usados em forma de
complementaridade entre um e outros, permitindo o alcance de vários resultados.

Relação da Psicologia com outras Ciências


A Filosofia, a Antropologia, a História, a Sociologia e a Biologia, estão entre
as ciências que contribuem para a compreensão do comportamento humano, em
particular. Vejamos a possível relação que se estabelece:
Filosofia: a correlação que existe entre o corpo e a alma na Filosofia vai
permitir de modo que a psicologia especule e forneça hipóteses empiricamente
testados. Neste sentido, pode-se afirmar que a Filosofia forneceu à psicologia os
primeiros quadros conceptuais.
Antropologia: interessa-se pelas formas culturais dos povos. Esses dados
são importantes porque dão ao psicólogo a consciência da relatividade cultural dos
valores, dos motivos, das aspirações dos indivíduos, o que obriga a ter presente a
influência da cultura no comportamento do indivíduo.
História: permite-nos conhecer o desenvolvimento do Homem através dos
tempos e compreender a partir dessa evolução as características actuais das vàrias
realidades sociais que influenciam no comportamento do indivíduo.
Sociologia: estuda a sociedade, as instituições sociais, a estrutura dos
grupos e o seu funcionamento. Estuda, também, o comportamento humano na
perspectiva dos grupos.
Biologia: estuda o funcionamento e a estrutura do Sistema Nervoso, as
glândulas secretoras e o seu funcionamento. O sistema nervoso capta estímulos, os
organiza e emite respostas ou actos de conduta e, a secreção de hormonas permite
que Sistema Nervoso fique estimulado numa determinada direcção.
Um dos principais ramos da Biologia que se relaciona com a Psicologia é a
Genética. A Genética estuda os processos hereditários subjacentes ao
comportamento.
Esquematicamente:
FILOSOFIA
Estudo do Homem

BIOLOGIA
HISTÓRIA Estudo do S.N. e glândulas
Importância do factor
PSICOLOGIA
secretoras; Processos
tempo e espaço social Estudo do hereditários no
comportamento comportamento

ANTROPOLOGIA SOCIOLOGIA
Influência da cultura no Influências sociais no
comportamento comportamento
Módulo de Psicologia Geral 17

Evolução da Ciência Psicológica


1. Os Grandes Períodos de Evolução da
Psicologia
Pode-se considerar três grandes períodos/fases da evolução da psicologia.
Fase filosófica
É a fase relacionada com a Ética e a Filosofia. Compreendia o estudo da
natureza dos reflexos da mente e da alma. Era um saber especulativo, de carácter
racional. Os filósofos explicavam os fenómenos da natureza (formação de cosmos e
origem do próprio Homem) de forma mitológica. O saber psicológico estava envolto
à vasta área do conhecimento filosófico, portanto, classificado como especulativo,
por não poder provar suas conclusões.
Fase pré-científica (psicologia empírica)
Dedicava-se ao estudo dos factos psíquicos que eram interpretados com
base na experiência do dia-a-dia, isto é, do quotidiano vivido. É nesta fase que se
abre o caminho para a cientificidade da psicologia. A interpretação e consequente
conhecimento dos fenómenos psíquicos era fundamentada, em parte pelo saber
filosófico, influenciado pela experiência quotidiana (social e reflexão sistemática) dos
cientistas.
Fase científica
Estuda os fenómenos e processos psíquicos, descreve-os, explica e
estabelece as relações causa-efeito. Nesta fase a psicologia torna-se ciência
autónoma: define o seu objecto de estudo, métodos e técnicas próprias, leis e
princípios que regem o estudo da psicologia, utiliza uma linguagem rigorosa e
determina os seus objectivos e finalidades.
Contribuiu de forma marcante para a cientificação da Psicologia a
institucionalização, pelo psicofisiologista alemão Wilhelm Wundt, em 1879, de um
laboratório de Psicologia, na cidade alemã de Leipzig. O laboratório permitiu o
desenvolvimento de métodos de estudo próprios, a reverificação do objecto de
estudo, e consequente afirmação de seu conceito como ciência que estuda os
fenómenos psíquicos, ou simplesmente, estudo do comportamento.

2. O Pensamento Psicológico Antes e Depois do Século XVIII

Os primórdios da Psicologia Científica


Por de trás de qualquer produção humana material ou espiritual (cadeira,
religião), existe sempre uma história
Cada um tem uma história pessoal, longa ou curta. A psicologia tem cerca de
dois mil anos de história.
Para compreender a psicologia é necessário compreender sua história,
história essa que está ligada a cada momento histórico, às exigências do
conhecimento da humanidade, as demais áreas de conhecimento humano e aos
novos desafios colocados pela realidade económica e social e pela insaciável
necessidade do Homem de compreender a si mesmo.
Módulo de Psicologia Geral 18

A Psicologia entre os Gregos


É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma
psicologia. De facto, os avanços permitem que os cidadãos se ocupem de coisas do
espírito, como a filosofia e a arte – homens como, Sócrates, Platão, Hipócrates e
Aristóteles dedicaram-se a compreender esse espírito empreendedor do
conquistador grego, ou seja, a Filosofia começou a especular o Homem e a sua
interioridade. O próprio termo Psiché=alma e logos=logos (razão), portanto
etimologicamente Psicologia significa estudo da alma.
Filósofos pré-socràticos – preocupam-se em definir a relação do Homem
com o mundo através da PERCEPÇAO = o mundo existe porque o Homem o vê ou
o Homem vê o mundo que já existe – oposição entre idealistas (a ideia forma o
mundo) e materialistas (a matéria que forma o mundo já dada para a percepção).

Sócrates (496-399 a.C.)


Com ele a Psicologia na antiguidade ganha consistência: segundo Sócrates o
que distingue o Homem do animal é a RAZÃO porque permite ao Homem de
sobrepor-se aos instintos, que seriam a base da irracionalidade – definindo a razão
como essência e peculiaridade do Homem, Sócrates abre um caminho que será
explorado pela Psicologia: fruto desta reflexão são por exemplo, as Teorias da
consciência que de certa forma são resultado desta sistematização na Filosofia.

Platão (427-347 a.C.)


Discípulo de Sócrates, procura o «lugar» para a razão no nosso corpo
(cabeça), onde se encontra a ALMA do Homem. A medula será o elemento de
ligação da alma com o corpo – este elemento era necessário porque Platão
concebia a alma separa do corpo (dualismo). Quando alguém morria a matéria
(corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar outro corpo (reincarnação).

Hipócrates e a Teoria dos Humores (496-361 a.C.)


Uma análise mais acurada das diferenças individuais, estreitamente ligadas a
uma reflexão mais sistemática na relação mente-corpo, foi feita com Hipócrates de
Cosmes. Sendo médico, sua ciência era finalizada à medicina, mas, enquanto
filósofo, funda uma verdadeira e própria ciência do Homem onde confluía
observações sociológicas, psicológicas e fisiológicas. O contínuo esforço de síntese
e de sistematização de tais observações não tiveram precedentes na história do
pensamento humano e permanecerão em seguida apreciados por um período de 20
séculos. Todavia, a medicina hipocrática passou na história como aquela que se
baseava na teoria dos quatro humores.
Hipócrates defende que existem 4 humores no corpo humano: o sangue, a
fleuma, a bílis amarela e a bílis preta. Segundo a prevalência de cada um destes
elementos sobre o outro a pessoa desenvolverá um certo temperamento que poderá
ser respectivamente: sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico e também
vários tipos de predisposições à doença. O Homem é «são» quando estes humores
estão «reciprocamente bem temperados por propriedade e quantidade» e a mistura
é completa. Contrariamente a isto o Homem é doente quando existe excesso ou
defeito destes elementos.
Módulo de Psicologia Geral 19

Mais importantes ainda são os seus estudos neurológicos. Numa das suas
obras afirma que o cérebro é o órgão mais potente do corpo e que os órgãos de
sentido actuam em base à sua capacidade de discernimento. Ainda nesta obra
Hipócrates descreve os delírios e alucinações e afirma a dependência de anomalias
das faculdades intelectuais dos traumas cranianos.
Com estas afirmações, Hipócrates põe em relevo uma concepção que se está
afirmando no pensamento grego, isto é, que o Homem é parte da natureza e pode
ser estudado com os métodos da ciência natural. Esta concepção encontrou a sua
expressão mais forte em Aristóteles.

Aristóteles (384-322 a.C.)


Discípulo de Platão, foi um dos mais importantes pensadores da história da
filosofia – superou o dualismo da dissociação entre a alma e o corpo (inovação).
Para ele a psyché era o princípio activo da vida, isto é, tudo aquilo que cresce, se
reproduz e alimenta possui a sua psyché ou alma (vegetação, animais, Homem,
possuem alma:
 alma vegetativa – vegetais: função reprodutiva e alimentar
 alma sensitiva – animais: função de percepção e movimento
 vegetativa, sensitiva + racional – função pensante
Aristóteles estuda as diferenças entre a RAZÃO, PERCEPÇÃO E
SENSAÇÕES, estudo sistematizado no “Da Anima” o qual pode ser considerado o
primeiro tratado de Psicologia.
Portanto, 2300 anos antes do advento da Psicologia Científica, os gregos já
haviam formulado duas “Teorias”: Platónica – que postulava a imortalidade da
alma e a concebia separada do corpo, e a Aristotélica – que afirmava a mortalidade
da alma e a sua relação de pertencimento ao corpo.

A Psicologia no Império Romano


O império romano nasce às véspera da era cristã, domina parte da Grécia,
Europa e do Oriente Médio
Característica deste período é o advento do cristianismo. Força religiosa que
passa à força política dominante que não obstante as invasões barbarias de 400
d.C., que levam à degradação territorial e económica, o cristianismo sobrevive e até
se fortalece, tornando-se a religião principal da Idade Média, período que então se
iniciara:
Falar da psicologia neste período é relacionada ao conhecimento religioso, o
qual dominando o poder económico e político monopolizava também o saber e,
consequentemente o estudo do psiquismo.

Santo Agostinho (354-430 d.C.)


Inspirado em Platão faz cisão entre corpo e alma, a diferença para ele é que a
alma, não é somente a sede da razão mas também a prova de uma manifestação
divina no Homem. A alma era imortal por ser o elemento que liga o Homem à Deus e
sendo a alma também a sede do pensamento a Igreja passa a se preocupar também
com a sua compreensão. Santo Agostinho postula a famosa epístola: ”conhece-te,
aceita-te, supera-te”.
Módulo de Psicologia Geral 20

São Tomás de Aquino (1225-1274)


Vive num período que preanuncia a ruptura da Igreja católica, o advento do
protestantismo – época que prepara a transição para o capitalismo, com a revolução
francesa e a revolução industrial na Inglaterra. Perante esta crise social e económica
a Igreja devia encontrar novas justificações em relação ao conhecimento como a
relação com Deus e o Homem. São Tomas de Aquino foi buscar em Aristóteles a
distinção entre essência e existência – como Aristóteles, ele considera que o
Homem, na sua essência, busca a perfeição através da sua existência mas
introduzindo o ponto de vista religioso, ao contrario de Aristóteles, afirma que
somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de
igualdade. Portanto, a busca da perfeição do Homem seria a busca de Deus.
S. Tomás encontra argumentos racionais para justificar os dogmas da Igreja e
continua garantindo para ela o monopólio do estudo do psiquismo.

A Psicologia no Renascimento
+ 1200 depois da morte de S. Tomás de Aquino, inicia uma época de
transformações radicais no mundo europeu: RENASCIMENTO ou RENASCENCA –
o mercantilismo, e a descoberta de novas terras (América, Índia, Rota pacífica)
propicia a acumulação das riquezas para a Franca, Itália, Inglaterra, Franca,
Espanha. Na transição para o capitalismo emerge nova forma de organização social
e económica, dá-se também um processo de valorização do Homem.
Foi no período do Renascimento, aproximadamente entre os séculos XV e
XVI (anos 1400 e 1500) que, segundo alguns historiadores, os seres humanos
retomaram o prazer de pensar e produzir o conhecimento através das ideias. Neste
período as artes, de uma forma geral, tomaram um impulso significativo. Neste
período Michelangelo Buonarrote esculpiu a estátua de David e pintou o tecto da
Capela Sistina, na Itália; Thomas Morus escreveu A Utopia (utopia é um termo
que deriva do grego onde u =não + topos = lugar e quer dizer em nenhum lugar);
Tomaso Campanella escreveu A Cidade do Sol; Francis Bacon escreveu A Nova
Atlântica; Voltaire escreve Micrômegas, Nicholas Maquiavel escreve O Príncipe,
caracterizando um pensamento não descritivo da realidade, mas criador de uma
realidade ideal, do dever ser.

Já no fim do período do Renascimento, René Descartes (1596-1659), um


dos filósofos que mais contribuiu para o avanço da ciência postula a separação entre
a mente (alma, espírito) e corpo, afirmando que o Homem possui uma substância
material e uma substância pensante e que o corpo, desprovido do espírito era
somente uma máquina – dualismo corpo e mente que torna possível o estudo do
corpo humano morto, o que era impensável nos séculos anteriores (o corpo era
considerado sagrado pela Igreja, por ser a sede da alma) e dessa forma possibilita o
avanço da anatomia e da fisiologia que inicia a contribuir muito para o progresso da
Psicologia.
No século XIX, o papel da ciência torna-se necessário devido ao crescimento
na ordem económica – CAPITALISMO que traz a industrialização. A ciência deve
dar novas respostas e soluções práticas no campo da técnica. Alguns dos períodos
marcantes são o advento do FEUDALISMO, que se caracterizava basicamente por
produção em massa para subsistência; pela relação senhor feudal–servo; sociedade
estável; hierarquia–base de verdade; centralização do poder. Segue-se o período do
Módulo de Psicologia Geral 21

CAPITALISMO, que põe o mundo em movimento com a necessidade de abastecer


os mercados e produzir mais: criou novas necessidades; questiona as hierarquias
para derrubar a nobreza e o clero dos seus lugares há séculos estabelecidos;
superou-se o antropocentrismo (o Homem – centro do universo), passando a ser
visto um ser livre, capaz de construir o futuro; o servo, liberto do seu vínculo com a
terra pode escolher seu trabalho e seu lugar social; o capitalismo torna todos os
Homens consumidores, em potências das mercadorias produzidas; acima de tudo, o
conhecimento tornou-se livre, independente da fé, os dogmas da Igreja foram
questionados e a racionalidade do Homem apareceu como a grande possibilidade
de construção do conhecimento. O Capitalismo traz como consequência a formação
de uma nova classe, a BURGUESIA. No século XVII e XVIII (anos 1600 e 1700) a
burguesia assumiu uma característica própria de pensamento, tendendo para um
processo que tivesse imediata utilização prática; disputa-se o poder e surge como
nova classe social e económica, defende a emancipação do Homem; com tal, era
preciso quebrar a ideia do universo estável, para poder transformá-lo, era preciso
questionar a NATUREZA para viabilizar a sua exploração em busca de matérias-
primas – condições materiais para o desenvolvimento da ciência moderna:
CONHECIMENTO COMO FRUTO DA RAZÃO. Em resultado disso, abre-se a
possibilidade de se desvendar a natureza e leis de observação rigorosa e objectiva –
não mais submetidos a leis ou dogmas religiosos ou pela actividade eclesial e
portanto sentiu-se a necessidade da ciência:
A possibilidade de realizar trabalhos de pesquisa mais aprofundados, que
exigiam algum tipo de suporte financeiro (só possível com a classe dos burgueses)
fez com que surgissem novos contornos nas diversas áreas do saber. São exemplos
disso:
Na Sociologia Augusto Comte desenvolveu sua explicação de sociedade,
criando o Positivismo, vindo logo após outros pensadores;
Na Economia, Karl Marx procurou explicar a relações sociais através das
questões económicas, resultando no Materialismo-Dialético;
Charles Darwin revolucionou a Antropologia, ferindo os dogmas sacralizados
pela religião, com a Teoria da Hereditariedade das Espécies ou Teoria da
Evolução (selecção natural).
A ciência passou a assumir uma posição quase que religiosa diante das
explicações dos fenómenos sociais, biológicos, antropológicos, físicos e naturais.
Consequências para a Psicologia
Na metade do século XIX temas e problemas até então estudados pelos
filósofos passam a ser estudados pela fisiologia, neurofisiologia em particular –
formulação de teorias sobre o SNC, demonstrando que o pensamento, as
percepções e os sentimentos humanos eram produtos deste sistema.
O capitalismo trouxe uma “maquina” – criação fantástica que determinou a
forma de ver o mundo (o mundo visto como uma máquina), o mundo como um
relógio, todo o universo como se fosse uma máquina, isto é, que podemos conhecer
o seu funcionamento, a sua regularidade, as suas leis, uma forma de pensar que
atingiu as ciências humanas, facto que, para se conhecer o psiquismo humano
passa a ser necessário compreender o mecanismo e o funcionamento da máquina
de pensar do Homem: o CÉREBRO!
Módulo de Psicologia Geral 22

Assim a psicologia começa a trilhar os caminhos da fisiologia, da


neuroanatomia e da neurofisiologia.
Resultado disso, em 1846, a Neurologia descobre que a doença mental é
fruto da acção directa ou indirecta de diversos factores sobre as células cerebrais;
Neuroanatomia descobre que a actividade motora nem sempre está ligada à
consciência para não estar necessariamente na dependência dos centros cerebrais
superiores, p.ex. quando alguém queima a mão na chapa quente, primeiro tira a
mão para depois perceber o que aconteceu, fenómeno denominado REFLEXO, e o
estímulo que chega a medula espinal, antes de chegar aos centros cerebrais
superiores, recebe uma ordem para a resposta, que é tirar a mão; caminho natural
dos fisiologistas, estudo da fisiologia do olho e a percepção das cores – fenómenos
psicológicos. Foram importantes os estudos do psicofisiologista russo Ivan PAVLOV
sobre o reflexo condicionado.
Em 1860 é formulada uma lei no campo da psicofísica, a lei de Fechner–
Weber que estabelece a relação ESTÍMULO – SENSAÇÃO, permitindo a sua
mensuração – aumento da intensidade de uma luz e o seu efeito – com esta lei os
fenómenos psicológicos vão adquirindo status científicos, porque, para a concepção
da ciência da época o que não era mensuràvel, não era possível de estudo científico
Wilhelm Wundt (1832-1926), da Universidade de Leipzig, na Alemanha, cria
um laboratório para realizar experimentações na área da psicofísiologia – por este
facto e da extensa produção teórica na área é considerado o Pai da Psicologia
Moderna, Psicologia científica.
Em resultados de seus estudos Wundt desenvolve a concepção de:
 Paralelismo psicofísico: aos fenómenos mentais correspondem
fenómenos orgânicos, por exemplo, estimulação física: picada de agulha
na pele teria uma correspondência na mente deste indivíduo.
 Método: para explorar a mente ou a consciência do indivíduo, Wundt,
cria um método que denomina introspeccionismo – o experimentador
pergunta ao sujeito, especialmente treinado para a auto-observação, os
caminhos percorridos no seu interior por uma sensorial (a picada de
agulha por exemplo).

A PSICOLOGIA CIENTÍFICA
O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha de final do século 19. Wundt,
Weber e Fechner trabalharam juntos na Universidade de Leipzig – seguiram para
aquele Países muitos estudiosos dessa nova ciência; como o inglês Edward B.
Titchner e o americano William James.
Seus status de ciência é obtido a medida que se “liberta” da filosofia, que
marcou a sua história até aqui e atrai novos estudiosos e pesquisadores, que sob
novos padrões de produção de conhecimento, passam a:
 Definir seu objecto de estudo (comportamento, a vida psíquica, a
consciência)
 Delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de
conhecimento como a Filosofia, Fisiologia
Módulo de Psicologia Geral 23

 Formular métodos de estudo deste objecto


 Formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimento na
área
A Psicologia científica nasce na Alemanha mas se desenvolve, cresce
rapidamente nos Estados Unidos como resultado de grande avanço económico
colocado na vanguarda do sistema capitalista. É ali que surgem as primeiras
abordagens ou escolas em psicologia, as quais deram origem inúmeras teorias que
existem actualmente. Essas abordagens são O Funcionalismo (por William James,
1842-1910); O Estruturalismo (por Edward Titchner, 1867-1927), O Associacionismo
(por Edward Thorndike, 1874-1949).

As Primeiras Abordagens Teóricas da Psicologia


As primeiras abordagens ou escolas em psicologia, as quais deram origem às
enumeras teorias que existem actualmente são consideradas como tendo sido as
seguintes:

O Funcionalismo (Escola funcionalista)


Primeira sistematização genuinamente americana de conhecimentos em
Psicologia – numa sociedade que exigia o pragmatismo para o seu desenvolvimento
económico acaba por exigir dos cientistas americanos o mesmo espírito. Portanto,
para a escola funcionalista de William James (1842-1910), importa responder “o que
fazem os homens e “por que o fazem”. Para responder a isto, James elege a
consciência como o centro de suas preocupações e bisca a compreensão do seu
funcionamento, na medida em que o Homem usa para adaptar-se à realidade.

O Estruturalismo (Escola estruturalista)


. Embora Inaugurada por Wundt, somente o seu seguidor Edward Titchner
(1867-1927) usa o termo estruturalismo pela primeira vez para diferencià-lo do
funcionalismo. O estruturalismo define como objecto de estudo da psicologia “os
estados elementares da consciência, mas vistos como estruturas do SNC. O método
de observação de Titchner, assim como o de Wundt, é o introspeccionismo, e os
conhecimentos psicológicos produzidos são eminentemente experimentais, isto é,
produzidos a partir do laboratório.

O Associacionismo
Edward Thorndike (1874-1949), é considerado o primeiro fundador de uma
teoria de aprendizagem na Psicologia de aprendizagem, na preocupação da
aplicação pràtica da psicologia e não só especulação filosófica.
O Associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá
por processo de associação das ideias mais simples às mais complexas. Assim para
aprender algo complexo precisamos de aprender as ideias simples associadas
aquele conteúdo. Thorndike formula a “lei de efeito” que seria de grande
importância na psicologia comportamentalista. De acordo com essa lei “todo o
comportamento de um organismo vivente tende a se repetir, se nós o
recompensarmos (efeito) o organismo assim que repetir/emitir o comportamento.
Por outro lado o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for
castigado (efeito) após a sua ocorrência. (ex. se apertarmos o botão da rádio formos
Módulo de Psicologia Geral 24

premiados pela música, em outras oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem


como generalizaremos essa aprendizagem para outros aparelhos, como leitores de
discos, gravadores, etc.

As Principais Teorias da Psicologia do Século XX


A psicologia enquanto ramo da Filosofia estuda a alma, a psicologia científica
que Wundt preconiza, a “psicologia sem alma”, o conhecimento científico produzido
no laboratório com uso de instrumentos de medição/mensuração. Da subordinação à
Filosofia a Psicologia se liga à medicina, usando o método de investigação das
ciências naturais como critério rigoroso da construção dos conhecimentos.
A psicologia científica, que se constituiu de 3 escolas (Associacionismo,
Estruturalismo e Funcionalismo) foi substituída neste século XX, por novas Teorias.
As três mais importantes tendências teóricas da psicologia neste séc. consideradas
por inúmeros autores são: Behaviorismo, Gestaltismo e a Psicanálise.

O Behaviorismo ou Comportamentalismo

O Comportamentalismo, ou Teoria S-R (do latim Stimulus – Responsio),


nasce com o americano John Watson (1878-1958), e se desenvolve na América em
função das aplicações práticas, tornou-se importante por ter definido o facto
psicológico de modo concreto a partir da noção de comportamento (behavior).
Em 1913, o americano John Watson num artigo de revista intitulado “A
Psicologia tal como o behaviorista a vê”, inaugura o termo behaviorismo.
Neste contexto, Watson lança bases para a postulação do behavior,
comportamento como objecto da Psicologia, dá à psicologia a consistência
procurada por séculos: objecto observável, mensurável cujos experimentos
poderiam ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos.
O carácter observável do objecto contribui para o alcance de status da ciência
da psicologia, ou seja para a ruptura “definitiva” com a filosofia. Watson defende
uma perspectiva funcionalista para a psicologia, isto é, o comportamento deveria ser
estudado como função de certas variáveis do meio.
Watson busca uma psicologia sem alma e sem mente, livre de conceitos
mentalistas e métodos subjectivos e que tenha a capacidade de prever e controlar.
R – S + para referir-se ao que o organismo faz e as variáveis ambientais que
interagem com o sujeito
Comportamento – unidade básica de descrição = ponto de partida para o
desenvolvimento da ciência do comportamento
O comportamentalismo nega o estudo da consciência: o comportamentalismo
representa uma reviravolta radical no que se refere ao objecto de estudo da
psicologia, do momento em que se limita ao estudo do comportamento observável e
nega o estudo da consciência. Watson afirmou que a psicologia deve considerar-se
a ciência do comportamento, pois a “consciência” e a alma são objectos de pesquisa
inconsistentes para uma ciência empírica. Segundo Watson, a tarefa da psicologia
consistia no estudar as relações cientificamente determinadas entre as situações
estimulantes (S) e a reacção provocada (R):
Módulo de Psicologia Geral 25

 Paradigma comportamentalista: Estímulo (S) Resposta (R)


Estudadas as conexões, os seus mecanismos, e identificadas as leis , pode-
se explicar cada uma das reacções como resultado de um determinado estímulo e
poder prever qual reacção pode seguir uma determinada situação estimulante.
Os comportamentalistas admitem entre o estímulo e a resposta esteja
presente a actividade do cérebro e do SNC, mas afirma que tal actividade está fora
do alcance e que a psicologia não deve interessar-se daquilo que acontece dentro
do organismo (processos neurofisiológicos, processos incónscios, etc.). Concepção
esta dita “black box” sustenta que a psicologia deve interessar-se daquilo que entra
(input) na “caixa preta” e daquilo que sai (output) sem ter que se ocupar
necessariamente da complexa actividade desenvolvida pelo cérebro no seu interior.
Deste modo os comportamentalistas reduzem o âmbito da psicologia somente ao
estudo do comportamento observável mediante o uso dos métodos objectivos de
verificação, estudando a regularidade do comportamento independente dos
correlatados neurofisiológicos.
“black box”

Estimulo(R) Resposta(R)

Processos neurofisiológicos
Processos inconscientes
O quadro negro representa a “black box” ou seja, simboliza tudo aquilo que
não é do interesse para o estudo do psicólogo comportamentalista.

Análise experimental do comportamento

Frederik Skinner (1904-1990), americano, é considerado o mais importante


sucessor de Watson. A sua teoria tem até hoje uma influência. Inaugura o
behaviorismo radical, termo cunhado pelo próprio Skinner em 1945, para designar
uma filosofia da ciência do comportamento (que ele se propôs defender) por meio da
anàlise experimental do comportamento. Algumas noções importantes no
behaviorismo de Skinner são:
COMPORTAMENTO OPERANTE: base da corrente formulada por Skinner,
entendendo este conceito é necessário retroceder aos conceitos de comportamento
reflexo ou respondente.
1) comportamento respondente: usualmente chamada de “não voluntàrio”e
inclui as respostas que são “produzidas” por estímulos antecedentes do
ambiente: interacção estímulo–resposta (ambiente–sujeito) incondicionadas
(não dependem da aprendizagem (limão -salivação; ou as famosas “lágrimas
de cebola”, etc.
Reflexos condicionados – estímulos acompanhados/pareados com outros que
produzem resposta.
Módulo de Psicologia Geral 26

2) comportamento operante (tem efeito sobre o mundo: ex: tocar um


instrumento musical)
Nos anos de 1930, na Universidade de Haward (EUA), Skinner
desenvolvendo o seu trabalho de estudo do comportamento respondente, teoriza
sobre um outro tipo de relação indivíduo-ambiente, a qual viria a ser nova unidade
de análise da ciência: comportamento operante, o qual teria a maioria das nossas
interacções com o ambiente – comportamento operante opera sobre o mundo, por
assim dizer, quer directa quer indirectamente e abrange um leque amplo de
actividade humana, da actividade do recém-nascido (balbuciar, acatar-se a um
objecto, etc.) aos mais sofisticados apresentados pelo adulto.
O comportamento operante inclui todos os movimentos de um organismo dos
quais se possa dizer que, em algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo ao
mundo em redor. O comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer,
quer directa, quer indirectamente”.

A Psicologia da Forma: A Escola da Gestalt

A Gestalt surge em reacção ao associacionismo. Gestalt é um termo alemão


que se pode traduzir como «forma»; «figura»; «configuração»; entendendo também
um aspecto de organização da que se entende melhor quando se fala da percepção
visual. As principais figuras da Gestal são os alemães: Max Wertmeir, Wolfgang
Kohler (1887-1967) e Kurt Kofka.
A Gestalt nega decompor a consciência nos seus elementos mais
elementares, nega a concepção e métodos que descendem deste estudo e que
tendem a uma teoria elementista
Os psicólogos da gestalt estudam em particular os processos cognitivos em
particular a percepção visual e o pensamento
Conceito fundamental da psicologia da forma é o aforisma: «o todo é
mais da soma das partes» atravessa todos os escritos da Gestalt

A B

As leis da percepção visual: são leis sobre a constituição das totalidades


perceptivas que eram chamadas Gestalten ou factores estruturantes. Essas leis
afirmam que as partes de um campo perceptivo tendem a construir outras gestalts
(formas unitárias) que são de tal forma coerentes e unidas, quanto mais os
elementos são
1. vizinhos (lei da aproximação)
2. semelhantes (lei da semelhança)
3. tendem a forma formas fechadas (lei do fechamento)
4. dispostos ao longo duma mesma linha (lei da continuação)
Módulo de Psicologia Geral 27

A Psicanálise/Freud

Sigmund FREUD (1856-1939), médico vienense (Áustria), alterou,


radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Freud ousou colocar os “processos
misteriosos” do psiquismo”, suas “regiões obscuras”, isto é as fantasias, os sonhos,
os esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos. A
investigação sistemática destes problemas levou Freud à criação da Psicanálise.
Freud emprega o termo Psicanálise pela primeira vez em 1896. A
Psicanálise constituiu-se como método e como teoria, e ainda como terapia. Como
método consiste na interpretação e busca do significado do oculto daquilo que é
manifesto por meio de palavras ou acções e como teoria pode ser definida como um
conjunto de conhecimentos, sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica.
Freud, como hebreu, herdou uma rica tradição do pensamento hebraico, e por
outro lado, de formação clássica (filosofia antiga) e perito linguista, ele veio a
contacto com a literatura antiga e moderna. Sobre esta base assentaram-se os seus
estudos de medicina e ciências naturais, no campo da fisiologia, neuropsicológica e
farmacologia. Teve o mérito de ter descoberto a sexualidade (base fundamental de
seus estudos), embora este fosse um tema debatido antes da publicação do sua
obra intitulada ”os três ensaios sobre a teoria sexual”.
Freud elaborou numa primeira instância uma teoria sobre personalidade,
denominada 1ª tópica, na qual estruturava a personalidade como sendo constituída
pelas seguintes instâncias: consciente, inconsciente e pré-consciente; Freud
postula o inconsciente como objecto de estudo da Psicologia, da mesma forma que
quebra a tradição da psicologia como uma ciência da consciência e da razão.
Pela necessidade de melhorar a 1ª tópica, elabora a 2ª tópica, em que
considera a personalidade constituída de três grandes sistemas/estruturas cada um
com sistemas próprios mas integrados: Id, Ego e Superego (ver no capítulo sobre
teorias da personalidade)

A Psicanálise e os Mecanismos de Defesa da Personalidade

Os mecanismos de defesa: são formas que o indivíduo usa para deformação


da realidade, ou melhor, são processos realizados pelo ego e são inconscientes, isto
é, ocorrem independentemente da vontade do indivíduo. Os mais comuns são:
Recalcamento; Formação reactiva; Regressão; Projecção; Racionalização;
Sublimação; Negação.
Recalcamento
A medida defensiva fundamental do ego é o recalque. Freud considerou o
recalque como a reacção normal do ego infantil. O recalque consiste na exclusão
dos impulsos e suas representações ideacionais do consciente. Ocorre sempre que
um desejo, um pulso, ou ideia, ao se tornar consciente, provoca um conflito
insuportável, resultando em ansiedade. O recalque de um desejo, em contraste com
sua rejeição consciente, é uma inibição num nível mais profundo da personalidade.
O fato de ser inconsciente poupa a personalidade consciente um conflito penoso.
A totalidade do acto transcorre fora do consciente. A rejeição é automática; se
assim não fosse, o conteúdo mental inaceitável não poderia permanecer
Módulo de Psicologia Geral 28

inconsciente. É uma inibição reflexiva que segue os princípios dos reflexos


condicionados.
O estudo psicanalítico das neuroses e psicoses mostrou que as forças
psicológicas recalcadas não deixam de existir. O ego deve tomar medidas
defensivas contra elas, medidas que lhe esgotam os recursos dinâmicos e tornam-
no menos capaz de exercer sua função adaptadora de perceber a realidade externa.
No recalque ocorre uma supressão de parte da realidade, ou seja, o indivíduo “não
vê” ou “não ouve”o que está acontecendo.
Repressão
A repressão é o esquecimento ou a negação inconsciente de detalhes
significativos do comportamento, detalhe que são incompatíveis com o auto-retrato
que estamos tentando manter. Na repressão há um bloqueio na consciência dos
conflitos geradores de ansiedade ou de distúrbios na motivação. Eles são
submersos no inconsciente.
Negação
Provavelmente é o mecanismo de defesa mais simples e directo, pois alguém
simplesmente recusa a aceitar a existência de uma situação penosa demais para ser
tolerada. Ex: Um gerente ser despromovido de um cargo que era obrigado a estar
presente mais cedo e continuar chegando no mesmo horário.
Sublimação
É o mecanismo de defesa mais aprovado pela sociedade. Quando temos um
impulso que não podemos expressar directamente, reprimimos a sua forma original,
e deixamo-lo emergir sob uma feição que não perturbe a outrem ou a nós próprios.
Geralmente usamos a sublimação para expressar motivos indesejáveis sendo que,
como a maioria dos outros mecanismos de defesa, ela opera inconscientemente
mantendo-nos desconhecedores das motivos indesejáveis.
Quando um impulso primitivo é inaceitável para o ego, é modificado de forma
a se tornar socialmente aceitável, isso é sublimação.
Racionalização
A racionalização é utilizada nas mais diferentes situações, quer envolvendo
frustração, quer envolvendo culpa. Ocorre pelo uso da razão na explicação de
estados “deformados” da consciência.
O racional é usado para explicar o irracional, tomadas de posições sem
sentido. Quando as pessoas fazem coisas que não deviam, é comum sentirem
culpa, e ao invés de admitirem a razão real de seu comportamento, preferem com
frequência racionalizar inventando razões plausíveis para o seu ato. Ex: Um
funcionário que tira dinheiro do caixa e fala que estava precisando muito e que logo
no próximo mês devolveria ao caixa o que tinha tirado.
Projecção
Às vezes as pessoas se recriminam ou se sentem mal por terem certo
pensamento ou impulsos. Podem atribui-los então a alguém, projectando nessa
pessoa os seus próprios sentimentos. Isso fica muito claro com relação a impulsos
poderosos, como o sexo e a agressão. Ex: Um gerente que sempre chega atrasado
no trabalho reclama ao superintendente geral que seu funcionário nunca chega
pontualmente.
Módulo de Psicologia Geral 29

Deslocamento
Este mecanismo está relacionado à sublimação e consiste em desviar o
impulso de sua expressão directa. Nesse caso, o impulso não muda de forma, mas é
deslocado de seu alvo original para outro. Ex: Ao ser despedido de uma empresa,
um funcionário leal sente raiva e hostilidade pela forma como foi tratado, mas
usualmente tem dificuldade de expressar seus sentimentos de forma directa.
Formação Reactiva
Às vezes, quando as pessoas sentem-se ameaçadas por um impulso
opressor, podem combatê-lo indo para o extremo oposto, e denunciando-o
vigorosamente em outras pessoas. Assim, funcionários que trabalham sem
motivação e de forma relapsa, pode ridicularizar seu companheiro de trabalho que
cometeu algum deslize ou que também é relapso.
Módulo de Psicologia Geral 30

TEMA 2:
O DESENVOLVIMENTO PSIQUICO E DA CONSCIÊNCIA HUMANA
(Evolução psíquica dos indivíduos)
A evolução psíquica dos indivíduos depende da maturação e do
desenvolvimento genético; dos estímulos sociais e afectivos.

O Homem como Unidade bio-psico-social


Todo ser humano à nascença já constitui-se como indivíduo, com qualidades
de integridade próprias, particularidades que o distinguem dos outros. O mesmo não
se pode dizer em relação à Personalidade. O ser humano forma sua personalidade
em resultado da sua constituição biológica (características herdadas), das
influências do meio social e cultural do contexto em que se encontra (aquisições do
meio), assim como das experiências de vida (desenvolvimento), e sempre
considerando seu desenvolvimento psicológico (estabilidade emocional, de
sentimentos). Por tal se diz ser uma unidade bio-psico-social.
Alguns termos importantes para compreender o desenvolvimento humano:
Desenvolvimento: é o conjunto de fases pelas quais o indivíduo passa ao
longo do seu ciclo de vida. É um processo multidimensional que engloba os
aspectos físicos (crescimento); fisiológicos (maturação), psicológicos (cognitivos e
afectivos), sociais (socialização), e culturais (aquisição de valores, normas).
Maturação: é a dimensão fisiológica do desenvolvimento. Refere-se ao grau
de prontidão funcional dos diversos sistemas do organismo, nomeadamente do
sistema nervoso. É que torna possível determinado padrão de comportamento. (por
exemplo, a alfabetização das crianças depende da maturação neurofisiológica para
manejar o lápis, e segurá-lo com as mãos é necessário um desenvolvimento
neurológico o que a criança de 1 ou 2 anos não possui ainda.
Maturidade: é o estádio de desenvolvimento do indivíduo indispensável para
a execução de determinada tarefa, actividade ou função.
Estado etário: fase de maturação e estruturação (anatómica, fisiológica,
psíquica) correspondente a idade ou nível de desenvolvimento do indivíduo.

A Vida Antes do Nascimento (o Desenvolvimento Pré-Natal)


O desenvolvimento pré-natal (gestação) é o período compreendido entre a
fecundação e o parto. Este pode ser dividido em três períodos:
O zigoto
O zigoto forma-se após a fecundação e flutua livremente no fluido do útero.
Ao fim de cerca de duas semanas, o zigoto (ovo) fixa-se na parede do útero
recebendo oxigénio e alimentação do corpo da me. Dois ou três dias da sua
implantação no útero o novo ser passa a chamar-se embrião.
Embrião
O segundo estádio do desenvolvimento pré-natal é o estádio embrionário.
Este estádio começa cerca de duas semanas depois da fecundação, na altura em
que o zigoto (ovo) se fixa à parede uterina.
Módulo de Psicologia Geral 31

O estádio embrionário dura cerca de oito semanas depois da concepção. As


primeiras fases de vida do embrião humano apresentam características semelhantes
com os outros mamíferos. A cabeça do embrião é grande em relação ao resto do
corpo e membros não são diferenciados. No final deste período o organismo é
claramente identificável como humano (tem face, olhos) e passa a se designar feto.
Feto
A partir da oitava semana até ao nascimento o novo ser passa a chamar-se
feto. O feto é capaz de ouvir, movimentar os dedos (dar pontapés, fazer punho, levar
o polegar a boca, escolher a posição de dormir, etc.) sentir sabor, etc. O
desenvolvimento do feto culmina com o nascimento.
Nascimento
O nascimento é conjunto de fenómenos físicos que tem como finalidade
expulsar o feto para o exterior. Quando a criança nasce pesa normalmente 2500
gramas e a placenta para de introduzir alimentos. Crianças com um período de
gestação reduzido e peso inferior a 25000 gramas são consideradas pré-maturas.
A primeira respiração imediatamente após o parto é difícil devido o oxigénio
do ambiente que a criança recebe, pois tem inicio a respiração pulmonar. Se o
pequeno cérebro não recebe oxigénio dentro de 8 (oito) minutos pode contrair
lesões. Por regra, a primeira respiração é acompanhada por grito. O grito converte-
se em breve numa forma de manifestação de dissabores ou transtornos
(indisposição, desconforto, mal estar, alerta à mãe para acções de cuidado, isto é,
um estímulo chave da mãe.
Em cada dor do parto, a criança está exposta a uma pressão com cerca de
25kg. Por isso, partos muito prolongados ou complicados colocaram a criança
provavelmente numa situação de indisposição intensiva. O acto do nascimento por si
só é uma lesão psíquica, o que serve de base para o medo original do homem,
segundo a psicanálise.

Fundamentos Biológicos da Conduta


Hereditariedade e comportamento: mecanismos básicos
Em última instância, as diferenças entre as espécies dependem da
hereditariedade, ou herança física. A hereditariedade compartilhada por todas as
pessoas permite uma série de actividades humanas distintas. Por termos herdados
polegares opostos e dedos móveis, aprendemos facilmente a manipular
ferramentas. A herança de imensos córtices cerebrais permite-nos processar vasta
quantidade de informação.
Além das estruturas influenciadoras e dos comportamentos comuns a todas
as pessoas, a hereditariedade modela o que é exclusivo a cada pessoa. Seus genes
têm algo a dizer sobre uma capacidade de aprendizagem e se somos ou não
propensos à depressão.
Módulo de Psicologia Geral 32

Genética do comportamento
A genética do comportamento, um ramo da psicologia e também da genética,
estuda as bases herdadas da conduta e da cognição. Abrange diferenças individuais
e de espécie (evolutivas).
Os geneticistas do comportamento pressupõem que tudo o que as pessoas
fazem depende, em algum grau, das estruturas físicas subjacentes. Sua tarefa é
definir exactamente quanto de um determinado acto é modelado pela
hereditariedade e quanto o é pelo ambiente. Eles pesquisam também os
mecanismos biológicos pelos quais os genes afectam o comportamento e a
cognição.

O Papel da Hereditariedade e do Meio na Conduta


Hereditariedade e do ambiente: uma parceria permanente
Estará tudo nos genes?
De acordo com Robert Plomin (1993), talvez o principal sobre a genética do
comportamento na última década, o que os cientistas verificaram a repetidas vezes
foi que hereditariedade e experiência influenciam conjuntamente muitos aspectos do
comportamento. Além disto seus efeitos são interactivos – elas jogam uma com a
outra. Por exemplo, em relação a esquizofrenia, embora a evidencia indique que
factores genéticos influenciam o desenvolvimento da esquizofrenia, do outro lado
não parece que alguém herde directamente o distúrbio mas um certo grau de
vulnerabilidade a ela. Portanto, se a vulnerabilidade vai ou não se transformar num
distúrbio real, isso dependerá das experiências de cada pessoa na vida.
O herdado e o meio: qual interacção?
O organismo e o ambiente fazem parte de um todo no qual são inter-
relacionados e em constante interacção. O meio mobiliza ou favorece disposições
hereditárias, mas por sua vez a acção do meio não é independente dessas
disposições.
Por um lado, qualquer factor hereditário opera de modo diferente quando as
condições do meio ambiente variam. Por outro lado, as condições do meio ambiente
exercem diferentes influências sobre as características hereditárias.
As disposições hereditárias traçam o marco do desenvolvimento e oferecem-
nos um plano de construção do organismo. Os genes exercem um papel ou acção
directiva nos fenómenos do desenvolvimento embrionário e, especialmente, dos
primeiros anos de vida, isto é, não se transmitem qualidades já desenvolvidas, mas
apenas disposições ou possibilidades para configurar essas qualidades. Por
exemplo, a estatura de um indivíduo depende de toda a carga genética, mas além
disso, variará, entre outros factores de acordo com a alimentação recebida nos
primeiros anos de vida e com as vicissitudes do desenvolvimento glandular
posterior.
 Herança e meio são factores que contribuem para a formação do novo ser
e se misturam de tal modo que é difícil distinguir o que corresponde a um e
ao outro;
Módulo de Psicologia Geral 33

 Não podem ser considerados opostos ou antagónicos mas


complementares;
 Era comum considerar a herança é rígida, fixa, imutável, irreversível algo
como código ou lista de instruções e procedimentos que não admite
modificações e na qual cada “instrução” age de modo independente das
demais mas hoje tal posição não se sustenta por que também os genes
podem sofrer uma mutação, brusca ou não.
Portanto, Dizer que um os “genes influenciam x ou y” não quer dizer que os
“genes determinam x ous e y”. Tão pouco quer dizer que o ambiente tenha pouca
influência sobre a qualidade em questão. Do início até ao fim da vida, os organismos
estão sendo constantemente moldados tanto pela hereditariedade como pelo
ambiente. A natureza e a extensão de uma influência sempre depende da
contribuição da outra.

Hereditariedade e Meio: o Princípio fundamental da Psicologia


O princípio fundamental e o seu axioma principal é o de que o organismo é
produto da hereditariedade, em interacção com o meio social e com o tempo,
(história pessoal e colectiva) isto é, o comportamento não é resultado de uma única
causa, mas sim de causas múltiplas (biológicas, sociais, culturais,...). É o resultado
da hereditariedade a interagir com o meio e com o tempo.
O nosso potencial hereditário pode ser enriquecido ou empobrecido
dependendo do tipo, quantidade e qualidade dos nossos encontros com o meio e
depende do momento em que estes encontros ocorrem. É pela interacção entre
determinantes da hereditariedade e a influência do meio que o indivíduo se forma,
desenvolve e realiza.
Não se pode limitar aos aspectos educativos e os sócio-culturais pós-natais,
os aspectos físicos, biológicos (alimentares, etc.), e psico-afecivos (emocionais) dos
primeiros tempos da vida, nomeadamente pré-natais e perinatais são fundamentais
na formação de todas as características do indivíduo.

Psicofisiologia do Sistema Nervoso


A comunicação no sistema nervoso é central para o comportamento. Em
breves anotações examinaremos a organização do sistema nervoso.
Especialistas acreditam que há de 85 a 180 biliões de neurónios no cérebro
humano. Obviamente isto é apenas uma estimativa. Se os contássemos sem parar a
proporção de um por segundo, estaríamos contando por cerca de 6 mil anos!
Multidões de neurónios no sistema nervoso têm de trabalhar junto para manter a
informação fluindo eficientemente. Para fazer isso, eles estão organizados em
equipas, várias das quais têm funções e deveres especializados que dependem,
antes de tudo, de sua localização.

Sistema Nervoso Central (SNC)


O sistema nervoso central (SNC) é a porção do sistema nervoso que fica
dentro do crânio e da coluna espinal. Assim, o SNC compreende o cérebro e a
medula e a medula espinal. O SNC é banhado na sua “sopa” nutritiva especial
Módulo de Psicologia Geral 34

chamada fluido cérebro-espinal (FCE). Este fluido alimenta o cérebro e fornece-lhe


uma protecção. Embora derivado do sangue, o FC é cuidadosamente filtrado.
Para entrar no FCE, as substâncias do sangue têm de passar pela barreira
cérebro-sanguínea, um mecanismo membranoso semipermeável que impede a
passagem de certas substâncias químicas entre a corrente sanguínea e o cérebro.
Esta barreira evita que algumas drogas entrem no FCE e afectem o cérebro.
A medula espinal
A medula espinal liga o cérebro ao resto do corpo através do sistema nervoso
periférico. Embora se pareça com um cabo do qual os nervos somáticos saem, ela é
parte do sistema nervoso central e vai desde a base do cérebro até um nível abaixo
da cintura, abrigando aglomerados axónios que carregam os comandos do cérebro
aos nervos periféricos e conduzem sensações de periferia do corpo cérebro. Muitas
formas de paralisia resultam de danos na medula espinal, facto que ressalta o papel
crítico que ela representa na transmissão de sinais do cérebro aos neurónios que
movem os músculos do corpo.
O cérebro
Evidentemente, a glória suprema do sistema nervoso central é o cérebro,
que, anatomicamente, é a parte do sistema nervoso central que preenche a porção
superior do crânio. Embora pese apenas cerca de 2 quilos e possa ser carregado
em uma das mãos, ele contém biliões de células que interagem, integram
informação de dentro, coordenam as acções do corpo e nos capacitam a falar,
pensar, recordar, planear, criar e sonhar.
O Sistema Nervoso Periférico
O primeiro e mais importante corte que separa o sistema nervoso central
(cérebro e medula espinal) do sistema nervoso periférico. O sistema nervoso
periférico é formado por todos os nervos que ficam fora do cérebro e da medula
espinal. Nervos são aglomerados de fibras de neurónios (axónios) que estão no
sistema nervoso periférico. Essa porção do sistema nervoso é exactamente o que
parece, a parte que se estende para a periferia (parte de fora) do corpo. O sistema
nervoso periférico pode ser subdividido em dois: somático e autónomo.
O Sistema Nervoso Somático é formado por nervos que se conectam aos
músculos esqueléticos voluntários e aos receptores sensoriais. Estes nervos
são os cabos que carregam informação dos receptores na pele, músculos e juntas
ao sistema nervoso central e também ordens do sistema nervoso central aos
músculos. Estas funções requerem dois tipos de fibras nervosas: aferentes, que são
axónios que carregam informação para dentro do sistema nervoso central da
periferia do corpo; Os eferentes, que são axónios que carregam informações para
fora do sistema nervoso central para a periferia do corpo. O sistema nervoso
somático permite que nos sintamos e movamos no mundo.
O Sistema Nervoso Autónomo é formado de nervos que se ligam ao
coração, aos vasos sanguíneos, aos músculos lisos, e às glândulas.
Como o próprio nome indica, é um sistema separado (autónomo), embora
seja principalmente controlado pelo sistema nervoso central. O sistema nervoso
autónomo controla funções automáticas, involuntárias, em que normalmente as
pessoas não pensam, como a batida cardíaca, a digestão e a transpiração. Ele
intermédia muito do despertar fisiológico, que ocorre quando as pessoas
Módulo de Psicologia Geral 35

experimentam emoções. Imagine-se, por exemplo, caminhando para casa sozinho a


noite, quando uma pessoa, de aparência pobre aparece atrás de nós e começa a
seguir-nos. Caso sintamo-nos ameaçados, a nossa batida cardíaca e respiração
intensificar-se. A nossa pressão sanguínea poderá subir, possivelmente sentiremos
arrepios, e as palmas das mãos poderão começar a transpirar. Estas reacções
difíceis de controlar são aspectos do despertar autónomo.
O sistema nervoso autónomo pode ser dividido em dois ramos: simpático e
parassimpático. O Sistema nervoso simpático é o ramo do sistema nervoso
autónomo que mobiliza os recursos do corpo para a emergência. Ela cria a reacção
de luta ou fuga. A activação deste sistema desacelera processos digestivos e drena
o sangue da periferia, diminuindo o sangramento em caso de ferimento. Os nervos
simpáticos principais enviam sinais às glândulas supra-renais, liberando as
hormonas que preparam o corpo para o esforço. O Sistema nervoso
parassimpático é o ramo do sistema nervoso autónomo que geralmente conserva
os recursos corporais. Ela activa processos que permitem ao corpo economizar e
armazenar energia. Por exemplo, acções dos nervos parassimpáticos diminuem o
ritmo cardíaco, reduzem a pressão sanguínea e promovem a digestão.

Desenvolvimento Filogenético do Psíquico


Dependência da psique ao meio
A extraordinária variedade que o meio ambiente tem (clima, condições de
vida) suscitou a diferenciação dos organismos (na terra vivem milhões de
espécies de animais). Entre toda a multiplicidade de fenómenos terrestres, existem
suas mudanças cíclicas anuais, a mudança do dia e da noite, as mudanças de
temperatura etc., e todo o organismo vivente adapta-se as condições
existentes.
Uma modificação brusca do ambiente provoca no animal ou o seu
desaparecimento. O meio e a condição de existência do organismo vivo, e o
factor mais importante para determinar a vida dos seres viventes, ou seja, dito em
outras palavras, a existência dos organismos viventes esta condicionada
causalmente pelo meio ambiente. Quanto mais alta e a capacidade do reflexo
dentro de um determinado meio, mais livre e a espécie do influxo do meio.
A psique e a evolução do sistema nervoso
Para que haja um reflexo adequado e necessário antes de mais uma
estrutura dos órgãos de sentido e do sistema nervoso. O grau de desenvolvimento
dos órgãos de sentido e do sistema nervoso determina constantemente o grau e a
forma do reflexo psíquico.
Em corresponderia com o desenvolvimento do sistema nervoso se tem mais
completas as formas do reflexo psíquico ou seja quanto mais completo e o sistema
nervoso tanto mais perfeita e a psique.
A evolução da psique não é linear, ate que se aperfeiçoe em diferentes
direcções. Num mesmo meio habitam animais com os mais variados níveis de
reflexo e ao contrário, em meios diferentes podem-se encontrar diferentes tipos de
animais com níveis de reflexo semelhantes.
Módulo de Psicologia Geral 36

O meio, como a matéria, não e invariável, ele evolui. A este meio em


evolução adapta-se a espécie animal que nele habita. Pode acontecer, sem dúvidas,
que o meio radicalmente se modifique para alguns animais e isto influencia no
desenvolvimento das funções psíquicas, ao mesmo tempo, a mudança ocorrida não
exerce uma influência determinante no desenvolvimento das funções dos outros
animais.

O Surgimento da Consciência no Processo da Actividade Humana


Consciência
A psique como conjunto de reflexos da realidade no cérebro dos homens
caracteriza-se por possuir diferentes níveis.
O mais alto nível da psique, que é próprio do Homem, forma a consciência.
A consciência e a forma superior integrante da psique do Homem que se forma
como resultado das condições histórico-sociais na actividade laboral e na
permanente comunicação oral com as demais pessoas. Neste sentido, pode-se dizer
que a consciência e em ultima instancia (como dizem os clássicos marxistas) um
produto social, a consciência e a existência consciente.
Diferença entre psique humana e psique animal
Sem dúvidas existe uma imensa diferença qualitativa entre a psique humana
mais altamente organizada e a psique animal. Assim não e possível fazer uma
comparação entre “linguagem” dos animais e a linguagem humana, pois enquanto o
animal com a sua linguagem pode somente emitir sinais a seus congéneres, em
relação a fenómenos limitados por uma situação imediata, directa, pelo contrario o
Homem pode informar a outras pessoas com ajuda da linguagem, sobre o passado,
o presente, o futuro e transmitir aos outros a experiência social.
Mediante muitas pesquisas os investigadores mostraram que o pensamento
pratico e somente próprio aos animais superiores. Nenhum investigador observou a
forma abstracta do pensamento no estudo da psique dos animais. O animal pode
somente actuar dentro das marcas duma situação visivelmente percebida, da qual
não pode abstrair e da qual não pode assimilar os princípios abstractos. O animal e
escravo da situação percebida de forma imediata. A conduta do Homem
caracteriza-se pela sua capacidade de abstrair-se ou afastar-se duma situação
concreta dada e prever as consequências que podem surgir em relação a dita
situação.
Desta forma, o pensamento concreto ou pratico dos animais e somente a sua
impressão directa sobre a situação dada, enquanto que a capacidade do Homem de
pensar abstractamente supera a dependência directa da situação dada.
Algumas características que diferenciam a psique humana da ‘psíque animal’:
 O Homem é capaz de enfrentar não somente as influências directas do
meio, mas também pode prever aquelas que podem suceder. O Homem
tem a capacidade de abstrair em correspondência com a necessidade
conhecida, ou seja conscientemente. Esta é a primeira distinção entre a
psique humana e a psique animal;
 A outra diferença e que o Homem tem a capacidade de criar e conservar
ferramentas. O animal cria instrumentos ou ferramentas numa situação
Módulo de Psicologia Geral 37

concreta. Fora desta dada situação concreta o animal nunca identifica os


instrumentos, nem se aproveita deles, uma vez que o instrumento joga um
papel naquela dada situação, que mediatamente deixa de existir para as
outras situações;
 Os homens criam instrumentos de acordo com um plano previsto
anteriormente, utiliza estes instrumentos segundo o fim a que estão
destinados, e os conserva; e todo o homem adquire experiência com os
outros homens no uso destes instrumentos;
 A transmissão das experiências sociais, caracteriza o homem o qual
dispõe duma experiência acumulada pelas gerações anteriores. As
experiências sociais transmitidas ao homem desenvolvem-se em grande
parte na psique. Desde a mais tenra idade a criança aprende a dominar as
formas de utilização dos instrumentos e as formas de trata-los. As funções
psíquicas do homem mudam qualitativamente graças ao domínio de
cada sujeito em particular sobre os instrumentos do desenvolvimento
cultural da humanidade. E no homem se desenvolvem as funções
superiores propriamente humanas (linguagem, memória, pensamento
atenção).
 A quinta distinção entre a psique humana e animal são os sentimentos: para
o homem e animais superiores o sentimento e mais daquilo que ocorre em
seu redor, os objectos e os acontecimentos podem suscitar nos animais e
homens determinados tipos de reacções dependendo daquilo que os
influencia, ou emoções positivas e negativas. Sem duvidas somente no
homem pode existir a capacidade de sentir pena ou alegria sobre o outro
Homem, somente o homem pode experimentar determinados
sentimentos ao tomar consciência de algum aspecto vital nisto.

Teorias de Desenvolvimento do Psíquico


Teoria é a forma de explicação dos factos, de forma unitária, coerente, livre
de contradições internas e que conduza a descoberta de novos factos.
A questão da abordagem do desenvolvimento do psíquico, é ainda polémica
pela existência de várias teorias explicativas, que estão divididas em grupo.

Teorias endogénicas
O desenvolvimento psíquico é feito dependentemente de factores biológicos:
a hereditariedade e as predisposições inatas tornam lugar de relevo. O
desenvolvimento do Homem está programado e reformado pelas disposições.
Segundo esta teoria, os factores do meio ambiente são apenas um atributo
subordinado, as aptidões e qualidades psicológicas da personalidade são reduzidas
aos instintos inatos de acordo com Mendel, Weisman e Morgan.

Teorias exogénicas
O Homem seria no momento do nascimento uma tábua rasa, pelo
adestramento e hábito poder-se-ia fazer-se tudo quando são aplicados os métodos
respectivos. Este grupo de teorias acentua o meio ambiente em que decorre o
desenvolvimento comparativamente aos outros factores como força determinante de
desenvolvimento psíquico.
Módulo de Psicologia Geral 38

O desenvolvimento é mais ou menos directamente reduzido à educação e


formação. Contudo a criança e o jovem são considerados como objectos positivos
das influências externas e deste modo expostos a métodos mecânicos de educação,
segundo Watson.

Teorias de convergências
O desenvolvimento do psíquico é resultado de uma convergência de factores
hereditários e factores ambientais. Logo, o desenvolvimento do psíquico da criança
e do jovem é resultado de forças desiguais da hereditariedade e do meio ambiente.
Significa que, o desenvolvimento do psíquico é determinado pela cooperação de
dois factores principais: hereditariedade e meio ambiente (Stern).
Estas teorias defendem que, no desenvolvimento do psíquico deve-se
distinguir os processos de maturidade e os processos de aprendizagem. Os
processos de maturidade são biologicamente condicionados. Enquanto que os
factores de aprendizagem estão sujeitos a regularidades sociais. Portanto, o
desenvolvimento psíquico seria condicionado pelos factores biológicos e de
assimilação.
Módulo de Psicologia Geral 39

TEMA 3:
A PSICOLOGIA EVOLUTIVA OU ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao
crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que
se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Algumas dessas
estruturas permanecem ao longo de toda a vida (...)
Conceito de desenvolvimento
Tradicionalmente, na literatura psicológica encontramos definidos:
1. Desenvolvimento como o processo de crescimento e diferenciação
continuada no tempo, resultado da maturação biológica e da interacção
com o ambiente e
2. 2. Psicologia de Desenvolvimento, em consequência, como aquele
ramo da psicologia que estuda o processo e organização/estruturação do
indivíduo desde o nascimento ate a idade adulta (desenvolvimento).
Durante o arco da vida a personalidade vai adquirindo, através de processos
evolutivos seja biológicos que psicológicos, uma maior e mais eficiente
harmonização das energias que se dispõem, com uma crescente possibilidade seja
de autonomia e de novos de compreensão seja de participação afectiva e de
socialização com o mundo.
Uma das consequências desta afirmação e que os seres humanos tornam-se
sempre mais complexos na medida em que se desenvolvem. Não só, mas se o
Homem e uma criatura admiravelmente complexa, não menos surpreendente o e
também a pequena criatura, que e o recém-nascido, desde os primeiros instantes
em que vê a luz.

Factores que influenciam o desenvolvimento humano


Vários factores indissociáveis e em permanente interacção afectam todos os
aspectos do desenvolvimento. São eles:
 Hereditariedade
A carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não
desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da
inteligência. No entanto, a inteligência pode desenvolver-se aquém ou alem do seu
potencial, dependendo das condições do meio que encontra.
 Crescimento orgânico
Refere-se ao aspecto fisco. O amadurecimento de altura e a estabilização do
esqueleto permite ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes
não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando
comera a engatinhar e depois de andar, em relação a quando uma criança estava no
berço com alguns dias de vida.
 Maturação neurofisiológica
É o que torna possível determinado padrão de comportamento. A
alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o
Módulo de Psicologia Geral 40

lápis e maneja-lo como nos, e necessário um desenvolvimento neurológico que a


criança de 2, 3 ano não tem. Observe como ela segura o lápis.
 Meio
O conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de
comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito
intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a
média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer
com uma facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de
uma experiência de vida.
Aspectos do desenvolvimento humano
O desenvolvimento humano deve ser entendido com uma globalidade, mas,
para efeito de estudo, tem sido abordado a partir de 4 aspectos básicos.
 Aspecto fisico-motor
Refere-se ao crescimento orgânico, a maturação neurofisiológica, a
capacidade de manipulação de objectos e de exercício do próprio corpo. (ex: a
criança aos 7 meses consegue levar a chupeta a boca porque já tem uma certa
concordância no movimento das mãos).
 Aspecto intelectual
É a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, a criança de 2 anos,
que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que esta debaixo de um
móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada ou salário.
 Aspecto afectivo-emocional
É o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. E’ o sentir. A
sexualidade faz parte deste aspecto. Exemplos: a vergonha que sentimos em
algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo querido, etc.
 Aspecto social
É a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem
outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, e possível
observar que algumas espontaneamente buscam outras para brincar, e algumas que
permanecem sozinhas.

Analisando cada um destes aspectos descobrimos que todos os aspectos


estão presentes em cada um dos casos. Não e possível encontrar um exemplo
“puro”, porque todos estes aspectos relacionam-se permanentemente. Por exemplo,
uma criança tem dificuldade de aprendizagem, repete o ano, vai-se tornando cada
vez mais “tímida” ou “agressiva”, com poucos amigos e, um dia, descobre-se que as
dificuldades tinham origem em uma deficiência auditiva. Quando isso e corrigido
todo o quadro reverte-se. A história pode também não ter um final feliz, se os danos
forem graves.
Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que
estes quatro aspectos são indissociáveis, mas elas podem enfatizar aspectos
diferentes, isto e, estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos
aspectos. A Psicanálise, por exemplo, estuda o desenvolvimento a partir do aspecto
Módulo de Psicologia Geral 41

afectivo-emocional, isto e, do desenvolvimento da sexualidade. Jean Piaget enfatiza


o desenvolvimento intelectual.

A Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de PIAGET


A influência de Jean Piaget (1896-1980) não tem andado longe da de Freud.
Nascido na Suécia, Piaget passou a maior a parte da sua vida dirigindo um instituto
de desenvolvimento infantil em Genebra. Publicou um número extraordinário de
obras e trabalhos científicos, não apenas sobre o desenvolvimento da criança, mas
também sobre educação, história do pensamento, filosofia e lógica, e manteve a sua
prodigiosa produção ate a data da sua morte em 1980.
Embora Freud tenha dado tanta importância, nunca estudou directamente a
criança. A sua teoria foi desenvolvida a partir de observações feitas no decurso de
tratamento de pacientes adultos em sessões de psicoterapia. Piaget, pelo, contrario,
passou, passou a maior parte da sua vida observando o comportamento de bebes,
crianças e adolescentes. Baseou-se muito do seu trabalho em observações
minuciosas de um número limitado de indivíduos, mais do que no estudo de grandes
amostras. Não obstante, defendia que a maioria das suas das suas principais
descobertas eram validas para o desenvolvimento das crianças de todas as culturas.
O desenvolvimento cognitivo (desenvolvimento do pensamento)
De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é produto do equilíbrio
entre o organismo e o meio, porque a aquisição ou assimilação de conhecimentos e
um processo evolutivo de construção, na teoria epistemológica de conhecimento ou
epistemologia genética.
No desenvolvimento cognitivo colocam-se as questões como: “como é
possível o conhecimento”? como é que os conhecimentos aumentam,
(compreensão? extensão)? quer dizer em quantidade como em qualidade.
Um conhecimento e construído com base nos conhecimentos anteriores
organizando-se em processos cognitivos segundo a adaptação do organismo ao
meio. A ideia piagetiana é estrutural ou construcionista quando evidencia a
construção ou organização de estruturas mentais ou processos cognitivos. Por outro
lado, é funcional ou psicobiologica devido a adaptação orgânica e intelectual ao
meio como condições funcionais no sentido de surgir uma organização das
estruturas cognitivas. Assim, o desenvolvimento cognitivo surge das funções de
organização e de adaptação.
O desenvolvimento leva as mudanças progressivas e sequenciais na
estrutura da organização dos processos cognitivos por causa da dialéctica ou
interacção a organização e adaptação. A progressiva adaptação orgânica e
intelectual ao meio conduz ou leva a uma progressiva mudança na sequência das
estruturas cognitivas, tendo um estado mutável e não rígido.
Assim, o processo de adaptação realiza-se por meio de equilíbrio entre
assimilação e acomodação. O equilíbrio leva a aquisição de estruturas cognitivas (o
desenvolvimento cognitivo). As estruturas cognitivas se resumem em dois tipos:
esquemas e conceitos.
Um esquema e um conjunto de regras que define um género especifico de
comportamento (actividades de chuchar, apalpar, olhar, etc.) como parte da
estrutura cognitiva da criança. Quando mais cresce, vai conhecendo o seu meio,
Módulo de Psicologia Geral 42

também vai desenvolvendo estruturas mentais (conceitos segundo Piaget), referindo


aquelas normas que descrevem acontecimentos ambientais, relações entre
conceitos, seus efeitos. Pois, a adaptação ao meio ambiente faz-se através do
processo de assimilação e acomodação.
Assimilação como processo espontâneo da criança consiste em integrar ou
interiorizar a experiência do meio ambiente onde esta inserido (processo). Consiste
em acrescentar novos elementos a um conceito ou a um esquema. Enquanto, a
acomodação refere o ajustamento desses elementos a nova situação. O
ajustamento que o indivíduo faz ao incorporar a realidade externa. Se a assimilação
consiste na capacidade do sujeito interiorizar e conceptualizar as suas experiências
do meio, a acomodação e a resposta do sujeito as exigências imediatas e
constrangedoras do meio, e o grau de adaptação aos estímulos externos, mediante
a reorganização cognitiva, em vez de respostas mecânicas.
Os estádios do desenvolvimento cognitivo em PIAGET
Piaget divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o
aparecimento de novas qualidades do pensamento, o que, por sua vez, interfere no
desenvolvimento global.
Piaget acentua bastante a capacidade da para entender activamente o
mundo. As crianças não observam de uma forma passiva a informação, mas
seleccionam e interpretam o que vêem, ouvem e sentem acerca do mundo que as
rodeia. A partir dos estudos e de numerosas experiências que efectuou sobre as
formas de pensar da criança, chegou a conclusão de que os seres humanos
atravessam vários estádios distintos de desenvolvimento cognitivo – ou seja, vão
aprendendo a pensar sobre eles próprios e mundo a sua volta. Cada estádio implica
a aquisição de novas capacidades e esta dependente de uma de uma conclusão
bem sucedida da fase anterior.
1. Estádio sensório-motor (0 a 2 anos de idade)
Ate uma idade máxima de quatro meses, um bebé não consegue diferenciar-
se do que o rodeia. O desaparecimento do objecto no campo visual da criança perde
todo interesse por ele (não existe/nunca existiu); por exemplo a criança não entende
que são os próprios movimentos que provocam o ranger do berço e não diferencia
entre objectos e pessoas. A actividade cognitiva é comportamental. Pensar é agir.
O bebé não tem noção de que existe algo fora do seu campo de visão.
(Irreversibilidade). Como demonstram alguns estudos, os bebés aprendem de forma
gradual a, a distinguir as pessoas dos objectos, começando a perceber que ambos
têm uma existência independente das suas percepções mais imediatas. Aos 6
meses de idade, a criança investida as características do objecto. Procura o objecto
escondido, continua a existir.
Piaget chama a este primeiro estádio sensório-motor, pois as crianças
aprendem usando os seus diferentes sentidos, sobretudo tocando objectos,
manipulando-os e explorando fisicamente o meio ambiente. De 1 ano e meio o
pensamento da criança esta ligado a linguagem, esquemas motores e a conceitos
de objectos e das suas características. A principal conquista neste estádio é que, a
criança já entende que o meio ambiente tem propriedades próprias e imutáveis.
Módulo de Psicologia Geral 43

2. Estádio pré-operatório (2-7 anos de idade)


Foi aquele que Piaget dedicou grande parte da sua investigação. Nesta fase
desenvolvem-se outras estruturas cognitivas: a criança e capaz de distinguir o “eu”
do objecto; adquire noção de tempo e espaço. Tem início a reversibilidade. A criança
já domina a linguagem e se torna capaz de usar palavras para, de uma forma
simbólica, representar objectos e imagens. Uma criança de quatro anos, por
exemplo, pode usar a mão em movimento para representar o conceito de “avião”.
Início da aquisição de noção de conservação da massa e volume (quantidade)
Piaget apelida este estádio de pré-operacional, pois as crianças ainda não
são capazes de usar, de uma forma sistemática, as suas capacidades mentais em
desenvolvimento. Na maneira de ver o mundo, é característica destas crianças o
egocentrismo, ela acredita que as pessoas vêem o mundo exactamente como ela
vê, p. Ex: ao contar um facto, omite pormenores importantes “julgando” que os
outros têm a mesma visão do facto. Este conceito não se refere a egoísmo mas a
tendência da criança interpretar o mundo exclusivamente em função da sua própria
posição. (ex. pedir explicação de uma ilustração enquanto o livro esta virado para si.
A criança não entende que o outro não vê); as crianças falam ao mesmo
tempo mas não com a outra, como os adultos fazem; não tem categorias de
pensamento que os adultos tem, as crianças não tem conceitos de causalidade,
velocidade, peso ou numero (mesmo se a criança observar alguém a deitar agua
num recipiente alto e estreito para o outro mais baixo e largo, não entende que o
volume continua o mesmo – mas conclui que há mais agua no segundo recipiente,
porque o nível da agua esta mais abaixo.
3. Estádio de operações concretas (7-12 anos de idade)
Existe um equilíbrio estável entre assimilação e acomodação. Durante esta
fase as crianças dominam noções lógicas e abstractas. São capazes de, sem
grandes dificuldades, lidar com ideias como a de causalidade. Uma criança nesta
fase de desenvolvimento e capaz de reconhecer o raciocínio falso implícito na ideia
de que o recipiente mais largo continha menos água do que o mais estreito, mesmo
que os níveis da água sejam diferentes. Torna-se capaz de efectuar operações
matemáticas, como a multiplicação, a subtracção ou divisão. As crianças neste
período são muito menos egocêntricas. Se perguntar a criança quantas irmãs tem
ela dirà uma, mas se perguntar quantas irmãs tem a tua irmã ela provavelmente dirá
“nenhuma” porque não e capaz de se colocar na posição da irmã, não e capaz de
raciocinar em termos hipotéticos.
4. Estádio das operações formais (12-18 anos de idade)
Desenvolvimento das capacidades lógicas, de representação simbólica.
Criação de hipóteses e sua verificação. Pensamento abstracto, dedutivo (processo
de transição do geral ao particular) e indutivo. Raciocínio formal segundo a cultura.
Quando deparam com um problema, as crianças nesta fase são capazes de rever
todas as formas possíveis de resolver, examinando-o teoricamente de maneira a
chegar a uma solução.
De acordo com Piaget os primeiros três estádios de desenvolvimento são
universais; mas nem todos os adultos alcançam o estádio operacional formal. O
desenvolvimento deste tipo de pensamento esta dependente, em parte, dos
processos de escolaridade. Os adultos com uma educação limitada tendem a
continuar a pensar em termos mais concretos e reter largos traços de egocentrismo.
Módulo de Psicologia Geral 44

A Teoria do Desenvolvimento Psicossexual segundo FREUD


Freud dividiu a vida psíquica em dois níveis: o inconsciente e o consciente. O
inconsciente considerou-o mais importante, é a camada mais profunda e
responsável por grande parte de nossas manifestações. A vida psíquica se centra na
libido (pulsões sexuais), responsável pela agressividade como de origem sexual.
Segundo a concepção libidinal, dividiu a personalidade em três instâncias: Id; Ego;
Super-ego (ver o capitulo anterior).
A psicanálise descreveu seja a estrutura da mente (ID, EU, Super-EU), seja o
desenvolvimento dos processos psíquicos dos primeiros anos de vidas. Este
desenvolvimento e decisivo porque nele se deitam os fundamentos da vida psíquica
do futuro indivíduo adulto e os traços persistentes da personalidade. O aspecto mais
evidente da teoria freudiana é o das fases do desenvolvimento psicossexual.
Segundo Freud, a área do prazer sexual desloca-se duma zona erótica/erógena do
corpo a outra, segundo uma sequência determinada biologicamente na medida em
que a criança cresce. De consequência os distúrbios psíquicos do indivíduo adulto
dependeriam dum desenvolvimento não regular das várias fases da sexualidade
infantil. Freud preconiza cinco estádios do desenvolvimento psicossexual.
As fases do desenvolvimento psicossexual segundo Freud
1. Fase oral (0-2 anos)
Nos primeiros meses da vida ate cerca de 2 anos de vida, a libido esta concentrada
na zona oral (boca): o bebe tira prazer através da zona erótica da boca, dos lábios e
da língua, e nos actos de sucção, mordedura e mastigação. No adulto, a fixação
formas da sexualidade oral pode exprimir-se em comportamentos com a sucção do
próprio dedo, comer-se as unhas, comer excessivamente, etc.
2. Fase anal (2-3anos)
Nesta fase o ponto focal da libido desloca-se e as principais fontes de prazer
sexual tornam as actividades esfintéricas. Esta presente seja a exigência de
satisfação da necessidade (defecar) seja de aprender o controlo fisiológico em
relação as regras ditadas pelos pais e as convenções sociais. Conter as fezes
significa, duma parte, bloquear a satisfação de uma necessidade e da outra parte,
significa realizar ou cumprir as regras dos pais, que a sua volta são fonte de
gratificação quando a norma vem respeitada pela criança. A co-presença de
exigências contrastantes, o conflito, relacionado a fase anal poderá manifestar-se no
adulto em comportamentos de excessiva limpeza, pontualidade, obstinação, etc.
3. Fase fálica (3-5 anos)
Entre 3 a 5 anos a libido desloca-se para as zonas genitais a procura do
prazer. O rapaz e a menina tocam os próprios órgãos genitais, tornam-se curiosas
em relação às diferenças entre os dois sexos. Os pais muitas vezes proíbem o
comportamento sexual das crianças desta idade pensando ou considerando que são
formas adultas da actividade sexual, enquanto normalmente exprimem a exigência
das crianças de conhecer o próprio e o outro aparato sexual. Nesta fase manifesta-
se o assim chamado complexo de Édipo2, ou Electra para casos de preferência na
denominação do complexo para o feminino. O menino chegando nesta fase do
desenvolvimento psicossexual, experimenta um desejo de hostilidade para o pai e
2
Do nome da personagem da tragédia grega Édipo, rei de Sofocle. Na tragédia grega, Édipo mata o
pai sem conhecer a identidade e casa-se com a mãe.
Módulo de Psicologia Geral 45

um desejo de amor para com a mãe. Estes dois desejos co-presentes, numa forma
geralmente inconsciente, são vividos como um conflito. Por outro lado, o pai
representa para o menino a fonte da punição (vivida como castração dos próprios
órgãos) por causa do amor dirigido a mãe. O menino pode superar este conflito
através de um processo de identificação com o pai, mediante o qual ele assimila e
faz seu o comportamento paterno. Durante o processo de identificação, os meninos
introjectam no Super-ego grande parte das regras sociais e dos valores partilhados e
derivados da figura dos pais. Na menina verifica-se um processo em parte análogo,
primeiro de hostilidade para com a mãe e amor para com o pai e, portanto, em
seguida, de identificação com a figura materna.
4. Fase da latência (6-inicio da adolescência)
Durante esta fase a actividade da libido perde intensidade, consentindo ao
“Eu” uma trégua para consolidar o desenvolvimento anterior enquanto a criança
orienta ou dirige os próprios interesses no ambiente.
5. Fase genital (fim da adolescência)
O culminar do desenvolvimento psicossexual verifica-se no fim da
adolescência, na fase genital. O rapaz e a rapariga completam o desenvolvimento
psicossexual e orientam o próprio comportamento sexual aos parentes. Elemento
característico desta fase e o surgimento de um interesse de relação reciprocamente
gratificante com os outros. O indivíduo que se encontra nesta fase genital, esta em
grau de manifestar o interesse para com os outros, desejo de partilhar as
experiências significativas e solicitude para o seu bem-estar: este empenho a
reciprocidade não e alcançado por todos.

A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial segundo ERIKSON


O desenvolvimento psicológico, seja na dimensão cognitiva como na emotiva,
não termina com a idade adulta. Os primeiros anos de vida e o período da
adolescência são etapas fundamentais para a construção do mundo psíquico do
adulto, mas a obra da reelaboração e da reorganização da própria vida psíquica
continua incessantemente por toda a existência humana.
A ideia de que o desenvolvimento psíquico dura toda a vida e que seja
estreitamente legada as relações sociais foi elaborada por Erik Erickson (1902-
1994). Erikson, psicanalista, nasceu em Frankfurt, Alemanha.
Enquanto Freud atribuía mais importância ao inconsciente, Erickson
focalizava a sua atenção no papel desenvolvido pelo “Eu” quando se devem
enfrentar problemas nos diferentes períodos da vida.
A teoria de Erikson (1950, 1968) afirma que o desenvolvimento
psicossocial atravessa oito estádios, em cada um do qual o indivíduo deve
enfrentar uma série de problemas, ou a assim chamada crise do estádio, para poder
passar ao estádio sucessivo. Segundo Erikson, na medida em que uma criança
resolve positivamente os problemas de cada estádio, determina-se a sua
possibilidade de tornar-se uma pessoas adulta dotada de capacidade de adaptação.

Os estádios do desenvolvimento psicossocial de Erickson


Módulo de Psicologia Geral 46

1. Estádio sensório-oral (0-1)


Crise entre a confiança e desconfiança. A criança põe-se o problema de ter
confiança o não ter confiança na pessoa que toma cuidado ou se ocupa dela
(geralmente a mãe), se recebe ou não nutrição e afecto. Da confiança para com a
figura materna desenvolvera a confiança para com o ambiente externo e outras
pessoas. Se a criança não contar com o afecto e os cuidados maternos, perdera a
confiança para com as outras pessoas e pensará que o ambiente externo não lhe
pode dar confiança.
2. Estádio muscular-anal (1-2 anos)
Crise entre autonomia-dúvida/vergonha, a criança começa a explorar o
mundo e a entrar em relação com outras pessoas. Na medida em que conquista
autonomamente as habilidades principais, por exemplo aprender a caminhar, deve
também não duvidar de si quando não consegue padronizar esta tal capacidade
imediatamente. A criança deve escolher se ser autónoma em tal situação e continuar
de modo independente, ou então enfrentar o futuro com dúvidas.
Características: afirmação da vontade: a criança desenvolve a capacidade de
escolha, a possibilidade de auto-domínio; sentimentos de autonomia e de amor –
próprio. Pode desenvolver-se sentimentos de perca de auto-domínio, a vergonha e
duvidas quanto ao exercício da vontade.
3. Estádio locomotorio-genital (3-5 anos)
Crise de iniciativa/sentimento de culpa. Desenvolvem-se as estruturas
anteriores e a criança encontra-se a ter que resolver o conflito existente entre o
tomar iniciativa em actividades e apreciar os resultados ou sentir-se culpado por ter
ultrapassado os limites, neste caso surge o medo de punições ou de castigo, criticas
e de consequência o sentimento inibitório (a criança pode perder a capacidade de
tomar novas iniciativas e sente-se em culpa pelos seus falimentos).
4. Estádio de latência (de 6 anos – a puberdade)
Crise da diligencia e complexo de inferioridade. Nesta fase adquirem as
regras fundamentais sobre o mundo externo e as primeiras regras de
comportamento social graças ao facto de frequentar a escola e o grupo dos pares.
As próprias competências podem ser desenvolvidas e reforçadas, ou então podem
ser bloqueadas. O insucesso na escola ou nas relações sociais em geral podem
gerar um sentido de inferioridade que bloca ulteriormente o desenvolvimento
cognitivo e emotivo.
5. Estádio da Adolescência
A crise por superar é entre a identidade e confusão a cerca do papel a
desempenhar (confusão de identidade). O adolescente deve desenvolver o sentido
de identidade de si mesmo, tornar-se um indivíduo com a sua própria personalidade
distinta daquela dos parceiros e dos adultos, com próprias normas sociais e próprios
valores morais. O falimento na construção da identidade manifesta-se na “confusão
de papeis”, facto pelo qual o adolescente não consegue encontrar um papel
adequado para a sua personalidade no contexto social.

6. Primeira idade adulta (20-30 anos)


Módulo de Psicologia Geral 47

Nesta fase a crise é entre intimidade ou amor/isolamento a pessoa enfrenta


a escolha entre uma vida caracterizada de relações de intimidade (capacidade de
amizade e amor), encontrar-se em companhia, amar alguém e a ausência de
relações afectivas, e transformar-se num isolado, evitando compromisso de amor ou
amizade. É o estádio da vida em que se põe também a problema da escolha
profissional que permite a inserção na sociedade. As duas escolhas cruzam-se,
originando as vezes conflitos, sobretudo na mulher pela qual a profissão pode
contrastar com o papel de mulher e de mãe.
7. Meia-idade (40-60 anos)
A crise situa-se entre a criatividade ou interesse/estagnação ou auto-
absorção. Regista-se a consolidação do amor e da amizade: aumento do interesse
profissional, aumento da atenção para com os filhos mas pode viver em debilidade
no relacionamento, em depressão, sem interesse. Para essa fase contribui muito a
tipo de escolha profissional feito, em particular em relação a constatação feita no
que diz respeito aos objectivos ou propósitos alcançados ou não segundo a plano
traçado na juventude. O sentido do insucesso pode muitas vezes estimular a novos
interesses e opções ou a uma nova ou mais lúcida consciência das próprias
capacidades.
8. Velhice (dos 60 anos em diante)
A crise observa-se entre o sentimento de integração e calma/ desespero.
Nesta fase emerge uma outra situação de conflito, aquela concernente a aquisição
de um sentido de integridade, que se experimenta quando se considera que a
própria vida foi completada, dando-lhe um sentido, ao qual se contrapões o
desespero, se se pensa de não ter alcançado os objectivos que anteriormente se
tinham proposto ou de não ter integrado as próprias experiências.
A pessoa pode tornar-se sabia: não se preocupa ansiosamente pela vida
porque descobriu o seu sentido e o da dignidade da sua vida; há aceitação da morte.
Mas pode não alcançar a sabedoria, ao fazer o balanço da sua vida ou avaliação do
seu passado e verifica que não fez nada que valesse a pena, logo surge um
sentimento de desgosto pela vida e de desespero perante a morte.
Cada vez mais está a crescer o numero de anciãos que fica inactivo depois
da reforma e marginalizados em relação as decisões da colectividade. A psicologia
deve ser em grau de afrontar esta nova problemática para a integração dos anciãos
na sociedade.

A Teoria do Desenvolvimento Moral segundo KOHLBERG


No desenvolvimento da personalidade joga um papel fundamental a aquisição
de regras de comportamento que reflectem os valores da cultura e da sociedade em
que o indivíduo vive. Lawrence Kohlberg, fortemente influenciado pela teoria de
Piaget, apresentou a hipótese de o aspecto moral desenvolve-se gradualmente por
estádios.
Kohlberg introduz uma perspectiva desenvolvimentista, isto significa que
revolucionou a compreensão sobre o desenvolvimento moral, descobriu que as
pessoas não podem ser agrupadas em compartimentos definidos com rótulos
simplicistas:
o Este grupo é honesto
Módulo de Psicologia Geral 48

o Este grupo é aldrabão


o Este grupo é reverente
Segundo Kohlberg, o carácter moral das pessoas se desenvolve. Significa
que o crescimento moral se faz de acordo com uma sequência do desenvolvimento.
Para o desenvolvimento do carácter, “dizer as crianças e adolescentes para
adoptarem determinadas virtudes ou manipulá-las até que digam palavras certas
não produz um desenvolvimento pessoal ou cognitivo significativo). (Sprinthal &
Sprinthal, 1993:170).
O desenvolvimento ocorre de acordo com uma sequência específica de
estádios, independentemente da cultura, sub-cultura, continente ou país, raça.
Moral refere-se as normas e regras da conduta social que caracterizam as
concepções a respeito da justiça e injustiça, do bem e do mal. São mantidas ou
cultivadas pela força da opinião pública, hábitos, costumes e educação.
Kohlberg identificou seis estádios fundamentais do desenvolvimento moral
(ver quadro a seguir).
Módulo de Psicologia Geral 49

Os seis estádios do desenvolvimento moral de Kohlberg (1964)

Níveis Estádios Características


A obediência e as decisões morais são baseadas em formas de
poder muito simplicistas, de tipo físico e material Aqui o
comportamento baseia-se na recompensa e no desejo de evitar
I
a punição física severa por parte de um poder superior, “poder
da razão”, “a sobrevivência dos mais fortes”. P. Ex. as acções
são julgadas em termos das suas consequências físicas. O
medo da punição domina os motivos da criança.
As acções baseiam-se amplamente na satisfação das
necessidades pessoais do indivíduo. O motivo básico das
Moralidade pré- pessoas é satisfazer as próprias necessidades. Não consideram
as necessidades das outras pessoas. Envolve a percepção do
convencional ou
poder do negócio/trocas de favor. “Coça-me as costas e eu coço
pré-moral as tuas”...mas obtendo pequena vantagem em cada negócio. há
II uma orientação materialista, na qual as discussões morais se
(0 –7/8) expressam em termos instrumentais e físicos. Este nível aceita
o uso de influências para resolver qualquer delito. Ex: se a
personalidade é encontrada a roubar um carro a punição está
determinada pelo custo do carro. Admite falsificar assinaturas,
subornos, aldrabar o patrão ou cometer outros delitos
semelhantes, desde que a pessoa escape impune.
Filosoficamente, esta categoria de pensamento moral é
designada de hedonismo instrumental: falta de respeito humano
pelas outras pessoas.
O conformismo social: fazer o apropriado e o que agrada os
outros, rejeita as decisões do ego. Há um relacionamento duplo.
O motivo da criança é ser bom rapaz para ser aceite.
Cumprem-se somente as acções que são aceites pelos
parceiros, professores e pais. O “justo” e o “injusto” não vem
avaliado em base as punições físicas ou recompensas (doces,
Moralidade III brinquedos) mas em relação a avaliação que os outros fazem
convencional ou do próprio comportamento e às exigências de oferecer uma boa
de conformidade imagem de si mesmo. Obedece-se as regras para evitar o
sentido de culpa derivante da censura da autoridade.
(7/8–adolescência) Tomada de decisões de acordo com os códigos legais
IV existentes, em todas situações dilemáticas (preservação da
sociedade). A tendência é de ser melhor e não apenas o
cumprimento das normas.
Agir de acordo com o contrato social: Da adolescência em
Moralidade Pós- V diante, a pessoa interiorizou regras abstractas de
convencional ou comportamento social que são muitas vezes em contraste com
as próprias convicções.
dos princípios
Os adultos que atingem esta fase, estão em grau de reflectir
(da adolescência sobre os princípios éticos e universais, tais como a justiça, a
em diante) igualdade, dignidade de todas as pessoas, o bem comum, a
VI
sacralidade da vida, o altruísmo, etc. Esta fase é caracterizada
duma moralidade da consciência, facto pelo qual as pessoas
tendem a ver o comportamento ético como um equilíbrio entre o
bem-estar do indivíduo e aquele da sociedade e a creditar na
aplicação das regras sociais em virtude dos seus princípios,
mas não em prejuízo dos direitos individuais. O indivíduo,
portanto, obedece as regras em base a convicções
amadurecidas e considerações objectivas
TEMA 4:
INTRODUCAO AO ESTUDO DA PERSONALIDADE

Génese e Formação da Personalidade


Nenhum Homem nasce como personalidade. Entretanto, cada um de nós
nasce como um projecto (esboço) da personalidade, quer dizer, cada indivíduo ao
nascer é um centro de iniciativas, de buscas e de construções de boas qualidades.
Isto significa que cada indivíduo permanentemente deve trabalhar para a formação
da sua personalidade.
A personalidade do Homem constrói-se pelos sinais complexos e estáveis:
temperamento, conduta, moral, interesse bem como as necessidades que
definem as propriedades dos sentidos e do comportamento do mesmo Homem. A
personalidade capacita-se às diversas situações da vida, aí se define a sua
totalidade pelas influências sócio-genéticas e sócio -culturais.
Conceito de Personalidade
A personalidade exprime a totalidade de um ser, tal como aparece aos
outros e a si próprio, na sua unidade, na sua singularidade e na sua continuidade. É
o modo relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir, e de
agir do indivíduo. Inclui as atitudes, habilidades, crenças, emoções, desejos, o
modo de se comportar e, inclusive os aspectos físicos do indivíduo.
Em suma, a personalidade é o nosso ser global, inclui o consciente e o
inconsciente na sua relação com o mundo exterior.
Estrutura da Personalidade
Fazem parte da estrutura da personalidade as particularidades
relativamente constantes e viáveis da própria personalidade (do sujeito).
As componentes principais da personalidade são a estrutura endopsíquica e
a exopsíquica.
Exopsiquica: determina a atitude do homem em relação ao meio externo. O
exopsiquismo contempla a experiência social (conhecimentos, hábitos, habilidades)
e a orientabilidade do indivíduo (inclinações, interesses, motivos, ideias, convicções,
sentimentos, etc.). A exopsíquica está condicionada socialmente, é adquirida das
forças do meio, não é biologicamente determinada.
Endopsíquica: manifesta a dependência interna mútua dos elementos e das
funções psíquicas. É identificada com a actividade psico-nervosa do homem.
Relaciona-se com os traços da personalidade como a receptividade, peculiaridade
da memória, percepção, vontade, pensamento, imaginação, etc. A endopsíquica
está condicionada biologicamente, é inata, não depende das forças do meio.

Teorias da Personalidade
A conduta humana é reconhecida como complexa. Assim, o comportamento
não é determinado por um único factor, mas sim por muitos factores, de natureza
diversa. Diante de tão complexo campo de investigação, diferentes grupos de
estudiosos enfatizam diferentes grupos de aspectos de comportamento. Alguns
concentram-se em hereditariedade e outros em influências ambientais. Outros ainda,
Módulo de Psicologia Geral 51

favorecem a formação de um conjunto de leis gerais, entendendo o Homem como


ser social e ao mesmo tempo biológico. As teorias da Personalidade que merecem
distinção especial são: o Behaviorismo, o Gestaltismo, a Psicanálise, a
Disposicional, A humanista, A Fenomenologia, a cognitiva, a Biológica, a
Evolucionista, etc.

Behaviorismo
O termo “Behaviorismo” que em Inglês “behavior” significa comportamento, foi
inaugurado pelo americano John Watson. Watson postulava o comportamento como
objecto de estudo da psicologia e defendia que este (comportamento) devia ser
estudado em função de certas variáveis do meio.
Para entender a personalidade (comportamento) deve-se analisar as relações
funcionais entre acções visíveis e suas consequências também visíveis.
A essência de todo o behaviorismo é ser a ciência do par Estimulo-Resposta.
Todo o comportamento pode ser modificado pelo meio ambiente, de tal forma que o
controle das condutas é possível e os fenómenos psíquicos são previsíveis.
A influência do meio ambiente predetermina o comportamento. Não se
interessa pelos fenómenos como a consciência, a hereditariedade, o prazer e a dor.
O homem é considerado vítima passiva do meio ambiente. O ensino e a
experiência são blocos de construção da personalidade.

O Gestaltismo
Os fundadores da escola da Gestalt foram WERTHEIMER (1880-1943),
KURT KOFFKA (1886-1941) e WOLFGANG KOHLER (1887-1967). Todos eles
negam a fragmentação entre acções e processos humanos, defendendo o principio
de determinação relacional, isto é, que as propriedades das partes dependem do
lugar, papel e função que têm no todo. Sustentam ainda que a maior parte das
configurações, o todo não é igual à soma das partes demonstrando-se que o
estímulo deve ser considerado como uma totalidade. A Gestalt Orienta-se pelos
seguintes princípios:
 O todo é percebido antes das partes que o compõe;
 O todo é definido pelas interacções e interdependências das partes;
 As partes de uma configuração não mantêm sua identidade quando
estão separadas da sua função e lugar no todo

A Teoria da Personalidade segundo Freud/Psicanálise


Segundo Freud, a personalidade se estrutura em instâncias, nomeadamente
Id, Ego e Superego.
O Id
O ID ou inconsciente (infra-eu) é o núcleo primitivo da personalidade. Não
sofre as influências das forças sociais e conscientes que forma o indivíduo. A sua
preocupação é satisfazer as necessidades instintivas de acordo com o princípio de
prazer. O id é a estrutura original básica e mais central. As leis lógicas do
pensamento não se aplicam ao id. O id é a sede das pulsões e dos desejos
recalcados e representações recalcadas (recalcamento = processo mental pelo qual
Módulo de Psicologia Geral 52

pensamentos insuportáveis ao eu consciente são reprimidos) (agressivas e sexuais).


Não conhece juízos de valor, nem o bem do mal, nenhuma moralidade. Os
conteúdos do id são quase todos inconscientes, assim como o material que foi
considerado inaceitável pela consciência. O id não suporta energia de muita tensão
e o seu objectivo é reduzir a tensão dolorosa aos baixos níveis possíveis. O Id é
baseado no princípio do Prazer.
O Ego (Eu)
O Ego é a consciência propriamente dita. É a personalidade enquanto actua
no momento presente. Caracteriza-se pela actividade consciente (percepções
exteriores e elaboração de processos intelectuais) e a capacidade para estar em
contacto com a realidade exterior. O Ego é dominado pelo princípio da realidade
(pensamentos objectivos, actos socializados, actividade racional e verbal). Também
caracteriza-se pelo estabelecimento de mecanismos de defesa contra as invasões
da pulsão. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimento,
pensamento. Em suma, o ego tem a função de ajustar o homem ao meio da
realidade física e social em que vive. É um instrumento de adaptação do indivíduo
ao meio. O Ego é baseado no princípio do Realidade.
O Ego, orientado à realidade do mundo que o circunda, é a chave da
adaptação que procura de mediar as pressões ditadas pelo princípio de prazer, a
busca do prazer e da gratificação imediata, com as exigências impostas pelo
princípio da realidade, provenientes do mundo externo. O ego utiliza a angústia
como sinal de alarme diante dos perigos do mundo interno (pulsional), por outro
lado, organiza mecanismos de defesa que consentem de moderar as exigências do
Id com aquelas do mundo externo.
O Super-Ego (super-eu)
O super-ego é o resultado da interiorização de censuras que a criança faz
suas (identificação) e que lhe vêm dos pais ou do meio ambiente. O conteúdo do
super-ego refere-se a exigências sociais e culturais. Representa o ideal do que é
real. É defensor dos impulsos rumo a perfeição. Origina-se com o complexo de
Édipo, a partir da interiorização das proibições, dos limites e da autoridade. O super-
ego é o depósito das normas morais e modelos de conduta. As suas funções são a
consciência, a auto-observação e a formação das ideias. Podemos afirmar que o
Super-Ego é baseado no princípio da Moralidade/sociabilidade.
A combinação das três camadas, segundo Freud constitui factor importante
para a formação e estruturação da Personalidade.
As investigações sobre os conteúdos do Id, conduziram Freud à formulação
duma doutrina geral das pulsões nas quais a libido exprime-se percorrendo as zonas
eróticas, cada uma das quais representa uma determinada fase de evolução (os
estádios do desenvolvimento psicossexual). O desenvolvimento da libido pode
acontecer naturalmente ou enfrentar bloqueios por interferência da fixação ou da
regressão que bloqueiam o desenvolvimento psíquico e o reconduzem a fases
precedentes, com consequências na formação de sintomas nevróticos. Esta
postulação chamou-se de teoria das pulsões.
Módulo de Psicologia Geral 53

O princípio do Prazer e o principio da Realidade


Contudo, segundo Freud, o bebé no nascimento é dominado duma única
estrutura de personalidade, o Id, fonte originária de todas as motivações e energias.
Ele procura de realizar esta descarga de energia sem preocupar-se daquilo que é
realizável o socialmente aprovável. O seu modo de funcionamento e regulado pelo
principio de prazer, que procura a gratificação imediata e completa das pulsões.
Mas desde o início dos primeiros meses de vida estas tentativas de obter uma
gratificação imediata são frustradas ou punidas. Estas experiências contribuem para
a formação do ego (eu), o qual é governado pelo princípio de realidade.

A Psicologia Analítica de CARL JUNG


 Breves linhas biográficas
Carl Jung (1875-1961), nascido na Suíça, formou-se como medico,
psiquiatra, docente. Trabalhou 6 anos com Freud deste modo nasceu o interesse
para o comportamento humano e separa-se de Freud em 1913 e elabora a sua
teoria denominada Psicologia Analítica ou dos complexos. Analítica porque e
uma psicologia que não procura de isolar funções singulares mas de ocupar-se dos
fenómenos que caracterizam a personalidade na sua totalidade.
Construtor da psicologia analítica, é optimista em relação ao Homem.
Significa que o Homem pode ser orientado no sentido de desenvolver as suas
potências realizando-se como eu.
 Pontos de divergência com Freud
1) Aceita a concepção da libido mas como energia psíquica neutra sem
conotação sexual; nega o papel fundamental da libido na origem da
sexualidade.
2) Do ponto de vista metodológico, Jung e mais ou menos ecléctico, ou seja, usa
elementos psicológicos, mitológicos, que segundo o autor, esses devem ser
considerados porque encontram representações a nível psíquico.
3) Separa-se ainda de Freud porque segundo Jung, não e necessário considerar
somente a nível psíquico um dinamismo causal mas também finalístico, ou
seja, é necessário considerar que no comportamento existe uma meta a
alcançar.
 Objecto de estudo da Psicologia Analítica
O conjunto de todos os processos psíquicos: conscientes e inconscientes.
Ideia fundamental: no que diz respeito a realidade psíquica ele sublinha a
autonomia da realidade psíquica em relação ao fenómeno fisiológico mesmo se não
possível uma separação nítida entre as duas esferas. Ele fala também da realidade
fisiológica como sendo subjectiva enquanto incide somente para um enquanto a
realidade psíquica é objectiva no sentido de que algumas ideias são partilhadas, por
exemplo: simbolismo, arquétipos, etc.
Jung acreditava que somos moldados por nossas metas, esperanças,
aspirações em relação ao futuro bem como do nosso passado. A personalidade
integral (psique), segundo Jung, compõe-se de três sistemas: consciência,
Inconsciente pessoal e inconsciente colectivo.
Módulo de Psicologia Geral 54

1) Consciência: é a actividade que mantém relação entre os conteúdos


psíquicos (conscientes). Na consciência Jung focaliza o eu porque este é o
sujeito da consciência. Ele entende o eu como um conjunto de
representações que constituem o centro do campo da consciência. Funções
do eu: pensamento, sentimento; sensação e intuição
2) O inconsciente pessoal: localiza-se abaixo da consciência, pertence ao
indivíduo. Consiste em todas as lembranças, desejos e outras experiências
da vida da pessoa que foram reprimidos ou esquecidas.
3) Inconsciente colectivo: localiza-se abaixo do inconsciente pessoal. O
inconsciente colectivo compreende conteúdos que segundo Jung constituem
o depósito de modos reagir típicos da humanidade, por exemplo, medo do
mal, relação entre os sexos, entre pais e filhos, situações típicas que o
indivíduo enfrenta ao longo da sua existência.
Segundo Jung, em base as modalidades como se enfrentam estes problemas
constitui-se um depósito colectivo de predisposição ou reacção diferente, estas
situações são independentes da cultura. Jung afirma que o inconsciente pode-se
alcançar directamente mas através de manifestações: Símbolos ou Arquétipos.
Arquétipos
São determinantes inatos da vida mental que dispõe a pessoa a se comportar
de modo semelhante ao dos ancestrais que se viram diante da situação análoga.
Referem-se a símbolos que tem características semelhantes independentemente
das diferenças culturais: mãe terra, herói, luta contra o bem e o mal. São formas
universais de pensamento dotadas de conteúdo afectivo que cria determinada
imagem de cada indivíduo.
Persona
É a máscara da personalidade que usamos no contacto com os outros,
representando-nos tal com o queremos aparecer na realidade. A persona pode não
corresponder a verdadeira personalidade. Inclui nossos papéis pessoais, o tipo de
roupa que usamos, o nosso estilo de expressão pessoal, etc.
Sombra
É a parte mais primitiva e animalesca da pessoa. É o núcleo do material
reprimido na consciência. Ou seja, é a parte da personalidade que se ignora,
geralmente contém material desagradável, ela contem todos os desejos e
actividades imorais e inaceitáveis. A sombra nos impele a emitir comportamentos
que normalmente não nos permitiríamos.
Anima/animus
Reflectem a ideia de que cada pessoa de um sexo exibe algumas
características do outro. Anima se refere as características femininas presentes no
homem e animus as características masculinas presentes na mulher. Estas
características estão ligadas à imagem ideal do homem ou mulher que cada um de
nós tem em si.
Módulo de Psicologia Geral 55

Self
É o arquétipo responsável pela integridade ou estabilidade da personalidade.
O Self é o processo central, um impulso para a individuação (realização de si
mesmo) ou aspiração a auto-realização.
Individuação/integração
Antes de tudo temos que considerar que segundo Jung todo o indivíduo
possui a libido, ou seja esta energia fundamentalmente biológica, mas é neutra, ela
tende à integração dos elementos conscientes e inconscientes. Neste caso emerge
a aqui a concepção finalística da libido em vez da função causal.
Auto-realização
Integrando as componentes conscientes e inconscientes, segundo Jung a
vida psíquica é racional que irracional. A energia libidica dà aquele estimulo para
procurar sintetizar os elementos que são em contradição. Segundo Jung, a libido
tem uma direcção que tende a realizar o indivíduo mas quando a libido encontra um
obstáculo que bloqueia o seu fluir a pessoa percebe um certo tipo de mal estar
psíquico, ou seja, desequilíbrio, mesmo se este bloqueio pode ser positivo no
sentido de que ajuda a pessoa a enfrentar o momento e sintetizar a sua vida.
Por outro lado, a actualização de si realiza-se através deste processo de
individuação (tornar-se a pessoa própria, o actuar-se como pessoa, mesmo como
dever moral de cada pessoa). A meta ideal para tornar-se “humano” é alcançar a
conciliação entre o consciente e o inconsciente mesmo se, obviamente, um
desequilíbrio pode criar dinamismo no próprio crescimento.
Jung desenvolveu um trabalho sobre atitudes que constituem o modo como a
pessoa reage aos estímulos que chegam, são modalidades de acção e existem dois
modos fundamentais: introversão e extroversão. Na primeira atitude o sujeito
dirige a sua energia para seu o próprio interior, tende a ser introspectivo, é guiado
por referências de tipo interior enquanto que o extrovertido dirige a sua energia para
o fora do eu, para eventos e pessoas do mundo exterior.

A Psicologia Individual de ALFRED ADLER


 Breves considerações biográficas
Alfred Adler (1870-1937), nascido em Viena, em família hebreia. Segundo
entre 6 filhos, relativamente gracioso e sofria de uma forma de raquitismo e de
criança desenvolveu uma forma de competição com o primeiro irmão que era génio
e sofria também pela limitação física, por isso desenvolveu uma certa sensibilidade
para com os mais necessitados.
De formação era médico, neurólogo, psiquiatra, sociólogo. A sua atitude
diante dos doentes era especial, e rejeitava o facto de mandar os doentes ao
neurólogo enquanto este não tinha nenhuma lesão e neste caso o neurólogo não
tinha instrumentos necessários para resolver o problema.
A obra fundamental escrita por Adler foi intitulada de “o temperamento
nervoso”. Nesta obra evidencia a mal estar ou distúrbio psíquico como sendo
consequência de uma atitude errada que o indivíduo adopta diante da lógica no
enfrentar a vivência social. Segundo o autor, existe oposição entre o indivíduo e a
sociedade.
Módulo de Psicologia Geral 56

Pontos de divergência com Freud


Adler entrou também em contacto com Freud em 1911, mas diverge com o
Freud porque não concorda que com a ideia de que a libido seja a única fonte do
distúrbio psíquico da própria personalidade mas diz que a distúrbio psíquico é
resultado da afirmação exagerada de si.
Método
Estudo de historias de indivíduos que vem reconstruídas gradualmente
através da recordação da própria infância, o conhecimento da situação social do
indivíduo. Assume particular atenção o conhecimento com a posição em que o
indivíduo ocupa em termos de nascimento. Este método tendia a ajudar o indivíduo
a compreender porque reage num certo modo, as causas da sua inferioridade e
depois a procurar um equilíbrio a nível emotivo, por exemplo através do
amadurecimento duma coragem, confiança que até pode conduzir o indivíduo a
inserir-se na sociedade.
Aspectos fundamentais da psicologia individual
 Adler é autor da psicologia individual (porque quer sublinhar que o
indivíduo é único, irrepetível e que não é possível isolar um acto, ou acção
da totalidade da personalidade) ou Teoria da unidade do indivíduo
indivisível e livre, consciente dos seus próprios objectivos, responsàvel
nas suas acções.
 Adler acredita que o comportamento humano é determinado por forças
sociais e não biológicas e sugeria que só podemos compreender a
personalidade investigando os relacionamentos sociais e as atitudes que a
pessoa tem com os outros.
 Adler considerava a motivação humana um esforço para atingir a sua
superioridade, o poder. Assim, um sentimento generalizado de
inferioridade é a força determinante do comportamento. Somos mais
influenciados por aquilo que o futuro nos reserva.
 Adler também se concentrava na família como factor de desenvolvimento
da personalidade. Crianças com deficiências podem se considerar um
fracasso , mas, por meio da compesansão e com, a ajuda de pais
compreensivos, podem transformar inferioridade em forças.
 segundo Adler, o ser humano tende a realizar a própria personalidade, a
própria unidade e tudo aquilo que o estimula a realizar como unidade é
uma necessidade de conservação (biológica e psicológica) e de realização
de si.
 A autorealização é a necessidade fundamental e é vivida na criança como
complexo de inferioridade, neste caso a criança recolhe a sua energia
para poder afirmar-se;
 o ambiente é um factor que condiciona a inserção adequada na
sociedade, as circunstâncias concretas onde o indivíduo actua o seu
plano, o estilo de vida ou o projecto existencial.
Módulo de Psicologia Geral 57

 - Para entender a pessoa, segundo Adler, é necessário entender o fim a


que as próprias actividades tendem. Para entender o fenómeno psíquico
precisa entender o fim concreto que a pessoa está a perseguir.

As Teorias Disposicionais de ALLPORT, CATTELL e EYSENICK


A orientação disposicional na teoria da personalidade está ligada a psicólogos
anglo-americanos:
A sua base de orientação é que o homem possui conjunto de pré-disposições
para reagir de modo determinado nas diferentes situações, isto é, a personalidade
tem um grupo de traços estáveis. Significa que o homem demonstra estabilidade
determinada nos seus procedimentos, pensamentos, emoções independentemente
do tempo e da experiência.

A Psicologia Humanista de MASLOW e CARL ROGERS


Liderados por Abraham Maslow e Carl Rogers, os psicológos humanistas
enfatizam o potencial de crescimento de pessoas saudáveis.
Nesta corrente confluem várias expressões da psicologia que partilham a
insatisfação dos pressupostos deterministas e reducionistas da Psicanálise e do
comportamentalismo. A psicologia humanista constitui-se como terceira força (como
foi chamada por Maslow) em oposição às duas correntes (acima citadas) que então
dominavam. Da psicanálise foi rejeitado o determinismo biológico, na dinamicidade
das pulsões que supera a espontaneidade e a livre conduta individual enquanto o
comportamentalismo foi rejeitado o elementarismo e pelo objectivismo, que anula
aquilo que na esfera da pesquisa psicológica concerne a totalidade e a
subjectividade.
O humanismo é uma orientação teórica que enfatiza as qualidades únicas dos
seres humanos, especialmente sua liberdade e potencial de crescimento pessoal.

Pressupostos teóricos da psicologia humanista


 A teoria humanista, é uma abordagem centrada no estudo de pessoas
saudàveis e criativas destacando o caracter único da personalidade
humana, a busca de valores e sentido de existência alem da liberdade
de que demonstra a autodirecção e auto-aperfeiçoamento. O
comportamento depende do meio social na interacção com os factores
internos
 Acentua o caràcter da irruducional e unitàrio do Homem, onde as
motivações da acção não são as pulsões, mas são promovindas por
tendências não quantificàveis como a necessidade da exploração, a
criatividade, a visão do mundo em que se exprime a própria identidade, a
qualidade das relações com os outros e sobretudo a autorealização.
 Pela sua natureza o Homem tem capacidade para auto-
aperfeiçoamento ou auto-actualização (uso e explorarão plenos de
talentos, capacidades, potencialidades).

Os Psicólogos humanista:
Módulo de Psicologia Geral 58

 Consideram os seres humanos fundamentalmente bons e as


psicopatologias subentram quando ao Homem é impedido de seguir as
inclinações naturais;
 Negam a teoria freudiana segundo a qual o comportamento adulto é
inevitavelmente o produto das experiências passadas.
 Defendem que a personalidade pode modificar-se também, na idade
adulta;
 Afirmam que as pessoas possuem a liberdade e a capacidade de modelar
o próprio futuro, sobretudo se aceitam as experiências do aqui e agora.

Maslow e a Teoria da Auto-Realização


Abraham MASLOW (1908-1970), em 1962, em Broohklin Colleg nos Estados
Unidos deu início oficialmente a psicologia humanista.
Maslow descreveu a autorealização como a necessidade de tornar-se
sempre mais aquilo que cada um é, de tornar-se tudo aquilo que se é capaz de ser.
Como fundador da psicologia humanista põe uma incondicionada confiança
nas potencialidades da natureza humana que é boa, onde a doença, a maldade ou
as forças destrutivas são resultado da sua frustração e da perversão da natureza
humana (insatisfação de necessidades importantes), não hà traços negativos inatos.
Segundo Maslow a pessoa é portadora de necessidades e desejos. Para
compreender a sua personalidade e o seu comportamento devem ser analisadas as
necessidades que orientam a relação da pessoa no seu ambiente. Nisto, Maslow
realizou uma organização hieràrquica de cinco necessidades (a pirâmide das
necessidades segundo Maslow) que progressivamente têm sido satisfeitas para
favorecer o crescimento e a maturação da pessoa, começando pela satisfação das
necessidades fisiológicas ligadas à sobrevivência chegando a auto-realização e são
estas necessidades que constituem a base da motivação do Homem.
1) necessidades fisiológicas: ligadas a sobrevivência, e tem um nível alto
de intensidade no nascimento: respirar, beber, comer, o sono, a higiene,
etc.;
2) necessidade de segurança: emergem depois da satisfação das
necessidades fisiológicas, e compreendem a necessidade da estabilidade,
da dependência, da protecção, da liberdade do medo, da ânsia e do caos,
a necessidade de ordem e de lei, etc. Necessidade de sentir que o mundo
é organizado e previsível; necessidade de se sentir a salvo, seguro e
estável.
3) necessidade de pertença e afecto (afiliação e de amor): Necessidade
de amar e ser amado, de pertencer e ser aceite; necessidade de evitar a
solidão e a alienação. A pessoa deseja relações de afecto com as
pessoas em geral, deseja um lugar no seu grupo ou na sua família e
procura realizar este objectivo;
4) necessidade de autoestima e estima: depois da satisfação da
necessidade de afecto, nasce o desejo de estima de si mesmo
(autoestima) e da parte dos outros (desejo de prestigio, de fama, de
gloria);
Módulo de Psicologia Geral 59

5) necessidade de autorealização: reflectem a tendência a realizar aquilo


que se ‘e, tornar-se aquilo que se ‘e capaz de ser, trata-se da tendência a
realizar a própria personalidade na totalidade.
Necessidade de corresponder o seu potencial pleno e singular. Neste nível o
homem orienta-se a aqueles valores que Maslow chamou de valores do ser (being)
e que incluem a beleza, a justiça, a lealdade. A satisfação destas necessidades dà
saúde, enquanto a privação orienta a patologia.

Carl Rogers e a Perspectiva Centrada Na Pessoa


O psicológo humanista Carl Rogers concordava com muito do que Maslow
pensava. Rogers considerava que as pessoas são basicamente boas dotadas de
tendências para a auto-realização. Cada um de nós é como uma semente, pronta
para o crescimento e a realização, a menos que seja frustrado por um ambiente que
inibe o desenvolvimento.
A contribuição teórica de Rogers, tem sido denominada de fenomenologica.
Este estudioso parte da descrição do Homem considerando o quadro de referencia
do indivíduo; descreve o indivíduo partindo deste seu mundo fenomenico, daquilo
que o indivíduo percebe
A teoria fenomenológica orienta-se com base nos seguintes princípios
O comportamento duma pessoa pode ser visto:
 Do ponto de vista do observador, daquela pessoa que vê do externo o
comportamento de um determinado indivíduo;
 Do ponto de vista do sujeito que actua num determinado comportamento,
sublinhado deste modo o aspecto subjectivo (reacção do sujeito ‘a
percepção duma determinada situação assim como ele a percebe).
O campo fenoménico ou de percepção é constituído não tanto pela realidade
objectiva, mas do mundo (seja interno que externo) como é percebido pelo sujeito.
Este campo fenoménico dependendo dos autores, é exclusivamente consciente ou
compreende elementos conscientes e subconscientes; para todos é todavia muito
importante e é a verdadeira realidade do sujeito.
Rogers, (1902-1987), na base das suas observações clínicas (1961) refutou a
concepção psiconalitica do conflito de natureza sexual a favor duma concepção
positiva do indivíduo.
O indivíduo, denominado de organismo por Rogers, tende em maneira
natural à sua própria realização, de que o organismo é portador, representa o
caràcter motivacional mais importante da teoria rogersiana, seja no que diz respeito
ao desenvolvimento da personalidade, seja pela importância no processo
terapêutico.
O homem é visto como um ser constituído por varias partes integradas e, por
isso, relacionadas entre si. Rogers parte do conceito de eu (self) para explicar a
personalidade humana;
O conceito do “eu” exprime” um modelo interno que se vai formando a partir
das interacções que as pessoas tem com os vàrios contextos onde se movem. E’ um
padrão organizado de percepções, sentimentos, atitudes que o indivíduo acredita ser
exclusivamente seu.
Módulo de Psicologia Geral 60

O “eu” como objecto de consciência: inclui o conceito de si, o conceito do


próprio esquema corpóreo, o conceito das próprias qualidades, tudo aquilo que o
indivíduo sente como seu.
O “eu” como centro da motivação: a estrutura perceptiva do eu em
determinados momentos vem estimulada; o sujeito sente, por exemplo, que a
execução daquela determinada tarefa é muito importante para si, e portanto, neste
caso quando o eu é percebido como o centro de motivação este eu é muito co-ligado
ao sentido do valor pessoal porque quando existe este aspecto da motivação o
alcance duma determinada finalidade importante para o sujeito darà um sentido de
valor pessoal, de satisfação, de sucesso.
Para alem do eu, o sujeito organiza uma estrutura: o eu ideal (conjunto de
características que a pessoa gostaria de ser);
Rogers acredita que os seres humanos tem uma tendência natural para a
“realização”, esforço no sentido de congruência entre “eu” e experiência.
As interacções entre as pessoas são as que proporcionam o crescimento e
o desenvolvimento do Homem; a auto- realização ‘e é a principal forca motivadora.
Para Maslow – e mais ainda para Rogers-, um aspecto central da
personalidade é o auto-conceito, todos os pensamentos e sentimentos que temos
em resposta aà indagação “ Quem sou eu?” Se nosso autoconceito é positivo,
tendemos a agir e perceber o mundo de maneira positiva. Se é negativo – se a
nossos próprios olhos ficamos aquém do “eu ideal” sentimo-nos insatisfeitos e
infelizes.
Módulo de Psicologia Geral 61

TEMA 5:
PROCESSOS PSÍQUICOS/COGNITIVOS INTRODUCAO AO
Processos Cognitivos são processos que tem como característica mais
saliente representar o sujeito, um objecto ou fenómeno, em geral, exterior ao próprio
sujeito. O seu conjunto constitui a vida cognitiva ou intelectual. Os processos
cognitivos possibilitam o Homem realizar a actividade mental como a inteligência,
capacidades, habilidades, etc. O seu mau funcionamento compromete a actividade
mental.
Alguns processos cognitivos:

Sensação
Fenómeno elementar da consciência resultante da excitação de um órgão dos
sentidos provocados por um estimulo interno ou externo. Consiste em reflectir as
características (propriedades) isoladas dos objectos.
Importância: Tomamos conhecimento do mundo em redor (sons, cores,
cheiro, tamanho), graças aos órgãos dos sentidos. São os primeiros elementos que
nos põem em contacto com a realidade e facilitam a apreensão da mesma. Os
órgãos dos sentidos recebem, seleccionam e acumulam a informação e, transmitem
ao cérebro, surgindo o reflexo adequado do mundo circundante e ao próprio
organismo.

Percepção
Acto de organização de dados sensoriais pelo qual conhecemos “a presença
actual de um objecto exterior”: temos consciência da existência do objecto e suas
qualidades.
Importância: A percepção no PEA está relacionada com a compreensão e
interpretação, análise intelectual do aprendido. A percepção ajuda a compreensão,
análise aprofundada do fenómeno e a chegar a conclusão sobre o mesmo.
A percepção está ligada a atenção. A atenção constitui a fase inicial da
percepção e a principal forma de organização da actividade cognitiva. A atenção é
indispensável à percepção, interpretação, compreensão, imaginação, assimilação,
recordação e reprodução. Durante a aula, a atenção ajuda a compreensão da
essência das tarefas, ajuda a sua resolução e verificação.

Memória
capacidade de lembrar o que foi de algum modo vivido. Ela corresponde as
seguintes operações ou processos: a aquisição, a fixação, a evocação, o
reconhecimento e a localização das informações resultantes de percepções e
aprendizagem. A memória facilita a organização, fixação e retenção do aprendido,
assim como a sua evocação., quando essa informação for necessària. Não haveria
evolução dos nossos conhecimentos se na medida que os adquirissemos, os
perdessemos. A memória conserva o passado e permite incorporà-lo na estrutura
cognitiva do sujeito.
Processos da Memória
Aquisição: consiste no contaco com a informação.
Módulo de Psicologia Geral 62

Fixação: para a fixação exige além da edequada aquisição, a repetição.


Evocação ou reprodução: consiste na lembrança do material fixado. É a
reaparição na consciência de um fenómeno passado. As informações armazenadas
tentam a ser evocadas junto das informações falsas.
Reconhecimento: identificação e uso de informações correctas, e as que
vierem unidas são rejeitadas. Consiste em referir ao passado as nossas lembranças,
enquadrando-as num contexto de factos da nossa experiência pessoal.
Localização: consiste em situar as recordações no trama da nossa história
interior, em dispô-las umas às outros, de forma a marcar-lhes o local próprio no
tempo e no espaço, para estabelecer a sua cronologia íntima e pessoal.
A fixação e a evocação serão tanto maiores quanto maior for o significado do
material. Diferentes partes da matéria devem ser relacionadas, matérias diferentes
devem ser articuladas.
- A memória é condição do progresso intelectual: não haveria evolução dos
nossos conhecimentos se à medida que os adquiríssemos, os perdêssemos;
- A linguagem seria impossível sem a memória, porque para falar é
necessário reter as palavras e o seu sentido;
- Permite aperfeiçoar os nossos actos;
- A personalidade não existiria sem memória, pois é ela que conserva o nosso
passado e permite incorporar no “eu” o que se vai leccionando, para organização da
personalidade.
Quando o aluno não armazena o material aparece o esquecimento. O
esquecimento é o fracasso do esforço evocativo ou impossibilidade de reproduzir o
passado.
Factores do esquecimento:
 Vastidão da matéria
 Irrelevância do conteúdo
 Falta de interesse
 Doenças da memória
 O tempo (as repetições devem ser curtas): a 1ªrepetição deve ser na aula.
 Cansaço

Pensamento
Processo cognitivo que permite a resolução de tarefas (processo de análise e
síntese). Permite reflectir de forma generalizada a realidade objectiva sob a forma de
conceitos, leis, teorias e suas relações.
Importância:
 Ajuda o indivíduo a superar as suas dificuldades desde as mais triviais até
as mais complexas;
 Planificação e organização lógica dos procedimentos a ter em conta na
aula;
 Reflexão sobre uma tarefa para encontrar as mais adequadas soluções;
 Mudança de métodos habituais de resolução de tarefas colocadas;
Módulo de Psicologia Geral 63

 Avaliação de diversas variantes de resolução para encontrar um resolução


mais racional;
 É um factor de ligação entre o concreto e o abstracto.

O Pensamento e Linguagem
O pensamento está socialmente condicionado e ligado indissoluvelmente com
a linguagem, a fala. O pensamento humano é impossível sem a língua. Qualquer
pensamento surge e se desenvolve em ligação indissolúvel com a linguagem.
Quando mais profundo e bem ponderado é um certo pensamento, tanto mais clara e
precisa é a sua expressão em palavras. O homem quando resolve um problema
pensa de si para si como se estivesse a conversar consigo mesmo.

Imaginação
É o processo psíquico cognitivo, exclusivo ao homem, mediante o qualse
criam (elaboram) imagens e noções que não existiam na experiência anterior, ou
seja, a habilidade que os indivíduos possuem de formar representações, costruir
imagens mentais a cerca do mundo real ou mesmo de situações não directamente
vivenciadas.
A base da imaginação são noções da memória que se completam por novas
percepções, transformando-se em novas percepções e noções.
Importância:
a. Permite conceber o resultado do trabalho antes do início;
b. Alarga os horizontes da memória e percepção;
c. Permite antecipar e construir o futuro e o nível de desenvolvimento da
capacidade inventiva. É parte do processo técnico-científico, literário.
d. Permite ao aluno estudar processos, fenómenos inacessíveis para a
observação directa, sua interpretação no quadro de diversas ligações e
relações;
e) Desenvolve nos alunos a atitude criadora através e da análise e
compreensão do actual estado da ciência
Módulo de Psicologia Geral 64

MATÉRIA DE TRABALHO INDIVIDUAL


(Respeitando a Calendarização em quadro anexo)

TEMA 6:
ESFERA EMOCIONAL, SENTIMENTAL E VOLITIVA DA
PERSONALIDADE

Conceitos de Sentimento, Emoção e Vontade


 Bases fisiológicas dos Sentimentos, Emoções e Vontade
 Funções dos Sentimentos, Emoções e Vontade
 Características das Emoções, dos Sentimentos e da Vontade
 Teorias e tipos de Emoções, Sentimentos e da Vontade
Diferenças entre Emoções humanas dos animais
CALENDARIZAÇÃO DAS ACTIVIDADES LECTIVAS PARA PSICOLOGIA GERAL
CALENDARIZAÇÃO BIBLIOGRAFIA
TEMAS CONTEÚDOS
(estudo individual) (recomendada para consulta)
1.  Psicologia do senso comum e Psicologia Científica 1. BOCK, A. M. Bahia et ali. Psicologias.
 O objecto e importância da Psicologia 1ª e 2ª 2. ADELINO, Cardoso et ali Rumos da psicologia
1993.
A Psicologia  Estrutura e tarefas da psicologia e métodos da Psicologia semanas de
3. DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia, 1997.
como Ciência  Resenha histórica sobre a origem e desenvolvimento da Maio 2007
4. ROCHA, A., F. Z. Psicologia.
Psicologia (2 semanas) 5. WEITEN, W - Introdução à Psicologia. 1981.
 O Homem como unidade bio-psico-sócio-cultural; o DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia., 1997.
2.  Fundamentos biológicos da conduta; o GRIFA, Maria C. e MORENO, José E. Chaves
 Psico-fisiologia do sistema nervoso; 3ª e 4ª para a psicologia de desenvolvimento.
o WEITEN, W. Introdução à Psicologia. 1981
Desenvolvimento  O papel da hereditariedade e do meio na conduta; semanas de
o LEONTIEV, A. O Desenvolvimento do
do Psíquico e da  Desenvolvimento filogenéntico do psíquico; Maio 2007
Psiquismo, 1978.
Consciência  Surgimento da consciência no processo da actividade (2 semanas)
o LEZINE, I. Psicologia da primeira infância,
Humana humana 1982.
3.  Conceito de Desenvolvimento; 1.BOCK, A. M. Bahia et ali. Psicologias.
 Factores do desenvolvimento e de crescimento; 1ª a 4ª 2.CAMPOS, Paiva Bartolo. Psicologia do
desenvolvimento e Educação dos jovens
Psicologia  Desenvolvimento (cognitivo, psicossocial, psicosexual semanas de
3.DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia., 1997.
Evolutiva/ moral) Junho 2007
4.SPRINTHALL, N. A. e SPRINTHALL, R. C.
Desenvolvimento  Teorias de desenvolvimento humano (4 semanas) Psicologia Educacional, 1993.
4.  Conceitos da personalidade e sua estrutura; 1ª a 4ª 5.BRAGHIROLLI, Elaine M et ali. Psicologia
 Génese e evolução da Personalidade semanas de geral. Portugal: Editora Vozes, 1990
Julho 2007 6.BOCK, A. M. Bahia et ali. Psicologias.
Psicologia da  Factores gerais que influenciam a Personalidade;
(4 semanas) 7.SPRINTHALL, N. A. e SPRINTHALL, R. C.
Personalidade  Teorias da Personalidade Psicologia Educacional, 1993.
5.  Processos cognitivos: conceito de sensação, percepção, 1. BRAGHIROLLI, Elaine M et ali. Psicologia
memória, pensamento, imaginação; linguagem... 1ª a 4ª semanas de geral. 1990
Processos  Leis, características, propriedades ou particularidades Agosto e 2. DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia, 1997
3. LEONTIEV, A. O Desenvolvimento do
Psíquicos/ dos processos psíquicos; 1ª e 2ª semanas de
Psiquismo, 1978.
Cognitivos  Teorias dos processos psíquicos; Setembro 2007 4. SPRINTHALL, N. A. e SPRINTHALL, R. C.
 Perturbações dos processos psíquicos; (6 semanas) Psicologia Educacional, 1993.
Pensamento e linguagem, suas relações, aquisição e 5. VYGOTSKY, Lev S. Pensamento·e linguagem
desenvolvimento 2001
Módulo de Psicologia Geral 66

6.  Conceitos de Sentimento, Emoção e Vontade 1. BRAGHIROLLI, Elaine M et ali. Psicologia


Esfera Emocional,  Bases fisiológicas dos Sentimentos, Emoções e Vontade geral. 1990
Sentimental e 2. DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia, 1997
 Funções dos Sentimentos, Emoções e Vontade 3ª e 4ª semanas de e
Volitiva da 3. LEONTIEV, A. O Desenvolvimento do
 Características das Emoções, dos Sentimentos e da Setembro e Psiquismo, 1978.
Personalidade Vontade 1ª a 4ª semanas de 4. SPRINTHALL, N. A. e SPRINTHALL, R. C.
 Teorias e tipos de Emoções, Sentimentos e da Vontade Outubro 2007 Psicologia Educacional, 1993.
 Diferenças entre Emoções humanas dos animais (6 semanas) 5. VYGOTSKY, Lev S. Pensamento·e linguagem
2001
BIBLIOGRAFIA

ADELINO, Cardoso e outros - Rumos da Psicologia, Lisboa – Portugal, Editora


Rumos, 1993.
BIGGE, Morris L. Teorias da aprendizagem para professores. São Paulo: Editora
Pedagógiga e Universitária Ltda, 1977.
BRUNNER, Richard; ZELTNER. Dicionário de Psicopedagogia e psicologia
educacional. Petopólis: Editora vozes,1994.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair & TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologias: Uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Editora
Saraiva.
CAMPOS, Paiva Bartolo - Psicologia do Desenvolvimento e Educação dos jovens
COHEN-SOLAL, Julini; GOLSE, Bernard.No início da vida psíquica: o
desenvolvimento da primeira infância. Lisboa: Instituto de Piaget, 2002.
DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Markron Books Ltda, 2001
FERREIRA, Roberto Martins. Sociologia da Educação. São Paulo: Editora Moderna
Ltda, 2001
FERREIRA, Iréne. Psicologia da primeira infância. Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1982.
FLAVEL, John H.; MILLER, Patrício H; MILLER, Scott A. Desenvolvimento cognitivo:
Porto Alegre: Editora ARTMED, 1999.
GAUQUELIM, Michel e Françoise et all. Dicionário de psicologia. São Paulo: Verbo,
1987.
JACQUES-PHILIPE, Leyns. Teorias da Personalidade. Lisboa: Editora Verbo, 1985.
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Editora Progresso, 1978.
LEYENS, Jacques-Philipe. Psicologia Social. Lisboa: edições 70,1978.
LEZINE, Iréne. Psicologiada primeira infância. Lisboa: Publicações Dom Quixote,
1982.
MATTA, Isabel. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Lisboa:
Universidade Aberta, 2001.
MONTEIRO, Manuela dos Santos Ribeiro. Psicologia. Porto: Editora Muller, 1999.
NETO, Felix. Psicologia Social-vol II. Lisboa: Universidade Aberta, 2000.
NOVELLO, Fernando Parolari. Psicologia infantil. São Paulo:Edições Paulistas,
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MUELLER, F.L. História da psicologia II: Psicologia Contemporânea. Genebra:
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PETROVSKI, A (1976). Psicologia geral. URRS: Editorial Progresso, 1980.
PIAGET, Jean. Linguagem e Pensamento da criança. Portugal-Brasil-Paris:
MORAES Editora, 1980.
Módulo de Psicologia Geral 68

PIAGET, Jean. Seis estudos da Psicologia. Lisboa: Editora Dom Quixote, 1977.
RICHARD, Michel. As correntes da psicologia. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
ROCHA, A; FIDALGO, Z. Psicologia. Lisboa: Editora Texto Lda.
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SPRINTALL, Norman A. SPRINTALL, Richard C. Psicologia educacional. Portugal,
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SUTHERLAND, Peter. O Desenvolvimento cognitivo actual. Lisboa: Institito Piaget,
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SUZZARINE, F. A Memória. São Paulo: Editora Verbo, 1980.
VIGOTSKI, L.S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
WALLON, H. Objectivos e métodos de Psicologia. Lisboa, 1980.
WEITEN, Wayne. Introdução à psicologia. São Paulo: Pioneira-Thomsom Learning,
2002.
WERTHEIMER, Michael. Pequena história da psicologia. São Paulo: Companhia
Editora Nacional.
Módulo de Psicologia Geral 69

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