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SCRUTON
RO G E R S C RU TO N
DESEJO SEXUAL
Uma investigação filosófica
FICHA CATALOGRÁFICA
Scruton, Roger
Desejo sexual: uma investigação filosófica / Roger Scruton; tradução de Marcelo Gonzaga de
Oliveira – Campinas, SP: VIDE Editorial, 2016.
ISBN: 978-85-67394-93-0
1. Filosofia moderna: ensaios 2. Ensaios e estudos filosóficos 3. Ética no sexo e reprodução
I. Autor II. Título
CDD – 190.2 / 501.01 / 176
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
1. Filosofia moderna: ensaios – 190.2
2. Ensaios e estudos filosóficos – 501.01
3. Ética no sexo e reprodução – 176
Conselho editorial
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Diogo Chiuso
Silvio Grimaldo de Camargo
VIDE Editorial – www.videeditorial.com.br
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição
por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer
meio.
SUMÁRIO
PREFÁCIO....................................................................................................................... 9
CONSELHO AO LEITOR........................................................................................... 13
Capítulo 1
O PROBLEMA............................................................................................................... 15
Capítulo 2
EXCITAÇÃO................................................................................................................. 37
Capítulo 3
PESSOAS........................................................................................................................ 61
Capítulo 4
DESEJO........................................................................................................................... 93
A perspectiva de primeira-pessoa e a excitação........................................................ 95
Revelação involuntária.................................................................................................. 98
Encarnação...................................................................................................................104
Pessoas desencarnadas................................................................................................108
A natureza pessoal do objeto de desejo....................................................................112
A fenomenologia dos nomes próprios......................................................................115
Pensamento individualizante.....................................................................................117
A perspectiva da primeira-pessoa no desejo...........................................................123
Ética kantiana – uma digressão.................................................................................124
O curso do desejo........................................................................................................127
O objetivo do desejo...................................................................................................130
Capítulo 5
O OBJETIVO INDIVIDUAL.....................................................................................139
Distinções entre atitudes............................................................................................142
O universal e o particular............................................................................................142
O fundado em razões, o livre de razões e o que envolve razões...............................143
A atenção e a desatenção.............................................................................................147
O propositado e o despropositado...............................................................................149
O transferível e o intransferível...................................................................................151
Mediato e imediato......................................................................................................157
As características formais do desejo.........................................................................159
O objeto individual.....................................................................................................162
A “essência subjetiva”..................................................................................................170
Pensamentos individualizantes..................................................................................172
O paradoxo de Sartre..................................................................................................174
O objetivo do desejo...................................................................................................180
Pecado original............................................................................................................187
Animal e pessoa...........................................................................................................193
Capítulo 6
FENÔMENOS SEXUAIS...........................................................................................197
Obscenidade.................................................................................................................197
Modéstia e vergonha...................................................................................................200
O significado dos órgãos sexuais...............................................................................211
Prostituição..................................................................................................................220
Enamoramento............................................................................................................226
Ciúme............................................................................................................................228
Dom-juanismo.............................................................................................................234
Tristanismo...................................................................................................................237
Sadomasoquismo........................................................................................................242
Capítulo 7
A CIÊNCIA DO SEXO...............................................................................................251
A biologia do sexo.......................................................................................................251
Sociobiologia................................................................................................................255
Uma nota sobre Schopenhauer..................................................................................266
O inconsciente.............................................................................................................270
Psicologia freudiana: o problema geral....................................................................272
Freud: a teoria específica............................................................................................276
Crítica: a libido............................................................................................................281
Crítica: a zona erógena...............................................................................................284
A voz freudiana............................................................................................................288
Capítulo 8
AMOR...........................................................................................................................295
A questão de Platão.....................................................................................................298
Níveis de amizade........................................................................................................302
Amizade e estima........................................................................................................306
A intencionalidade da amizade.................................................................................314
Amor e amizade...........................................................................................................315
O amor erótico.............................................................................................................318
Tensões no amor..........................................................................................................323
Amor e indolência.......................................................................................................329
O curso do amor..........................................................................................................331
A expressão do amor no desejo.................................................................................336
Beleza............................................................................................................................343
Novos problemas.........................................................................................................346
Capítulo 9
SEXO E GÊNERO.......................................................................................................347
Sexo e gênero...............................................................................................................348
Construção de gênero.................................................................................................352
Feminismo kantiano...................................................................................................353
O papel do gênero.......................................................................................................355
Homem e mulher........................................................................................................356
Encarnação...................................................................................................................361
Encarnação e construção de gênero..........................................................................365
Tipos pessoais..............................................................................................................372
A questão de Platão e a raiz do desejo......................................................................377
Beleza e gênero............................................................................................................379
Homossexualidade e gênero......................................................................................382
Capítulo 10
PERVERSÃO...............................................................................................................387
Bestialidade..................................................................................................................396
Necrofilia......................................................................................................................399
Pedofilia........................................................................................................................402
Sadomasoquismo........................................................................................................405
Homossexualidade......................................................................................................414
Incesto...........................................................................................................................422
Fetichismo....................................................................................................................427
Masturbação.................................................................................................................430
Castidade......................................................................................................................433
Capítulo 11
MORALIDADE SEXUAL..........................................................................................435
Capítulo 12
A POLÍTICA DO SEXO.............................................................................................471
EPÍLOGO.....................................................................................................................491
Apêndices
I. A PRIMEIRA PESSOA...........................................................................................493
II. INTENCIONALIDADE........................................................................................515
ÍNDICE ONOMÁSTICO..........................................................................................541
ÍNDICE REMISSIVO.................................................................................................551
PREFÁCIO
Essa linguagem – que mostra certo ódio do ato sexual e de
tudo que diz respeito a ele – não pode abarcar o que é distintivo
na experiência sexual. Sua adoção universal por “sexólogos” le-
vou, no entanto, a uma “ciência” notável, que pretende explicar
o que sequer tem linguagem para descrever. O Relatório Kin-
sey, assim como a literatura pseudocientífica seguinte, apenas
continua, de forma mais vulgar e vigorosa, o empreendimento
moralizante de Krafft-Ebing: o trabalho de confrontar nossos
sentimentos morais com uma descrição supostamente “científi-
ca” dos fatos que os ameaçam. O resultado foi a criação do “re-
latório do sexólogo” como um novo gênero literário. O estilo
é exemplificado pelo Masters and Johnson Report, com as suas
repetidas referências ao “bom funcionamento”, “adequação” e
“frequência” do “desempenho sexual”, e sua abordagem pseu-
do-experimental para questões que só podemos ver em termos
neutros se não as entendermos: “O indivíduo C vocalizou um
desejo de retornar ao programa acompanhado de sua esposa
como uma unidade familiar colaborativa.” O efeito dessa “des-
mistificação” do impulso sexual tem sido o aumento de supers-
tições novas e inéditas e o crescimento de um novo tipo de mis-
tério pseudocientífico, cuja dissipação é um dos objetivos deste
livro.
Apenas ocasionalmente um escritor dirigiu-se para a questão
crucial que esta literatura “científica” se esforçou por ignorar: a
questão do que uma pessoa experimenta quando deseja outra.
O desejo não é idêntico nem ao “instinto” que se expressa nele
nem ao amor que o preenche. É, conforme mostrarei, um fenô-
meno exclusivamente humano, e que nos impele precisamente
àquela noção restritiva de “decência” que proibiu sua discus-
10
prefácio
11
CONSELHO AO LEITOR
13
CAPÍTULO 1
O PROBLEMA
1 I. Kant, Lectures on Ethics, tr. L. Infield, new edn, Nova York, 1963, pp. 164 et seq., e
Foundations of the Metaphysic of Morals, Prussian Academy edition, p. 399 (tr. L. W.
Beck, Nova York, 1959, p. 15). Ver também Kant's Philosophical Correspondence: 1759-
99, ed. and tr. Arnulf Zweig, Chicago, 1967, p. 235, onde Kant se refere ao casamento
como um acordo entre duas pessoas para o “uso recíproco dos órgãos sexuais um do
outro”. As posições de Kant serão discutidas no Capítulo 4.
2 G. W. F. Hegel, The Philosophy of Right, tr. and ed. T. M. Knox, Oxford, 1942, addition
to. 158. J. P. Sartre, Being and Nothingness, tr. Hazel E. Barnes, Nova York, 1956, livro
III, Capítulo 3. As posições de Sartre serão discutidas no Capítulo 5.
3 Arthur Schopenhauer, The World as Will and Representation, tr. E. J. F. Payne, Indian
Hills, Colorado, 1958, vol. II, pp. 549 et seq. As posições de Schopenhauer serão
discutidas no Capítulo 7.
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capítulo 1 - o problema
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7 Ver especialmente os fragmentos do trabalho reunidos como o volume VII dos Collected
Works de Dilthey (ed. B. Groethuysen, Leipzig, 1914), cujos excertos estão disponíveis
(sob o título 'The Construction of the Historical World in the Human Studies'), tr. e ed.
H. P. Rickman, em Dilthey, Selected Writings, Cambridge, 1976, pp. 168-245. A obra a
que me refiro sobre a filosofia da ciência moderna é focado na discussão dos conceitos
naturais (ver H. Putnam, 'The Meaning of "Meaning" ', em Philosophical Papers, vol.
II: Mind, Language and Reality, Cambridge, 1975, e S. Kripke, Naming and Necessity,
Oxford, 1978.)
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8 Ver Putnam, 'The Meaning of "Meaning"', e Kripke, Naming and Necessity. O termo
“espécie natural” procede indiretamente de J. S. Mill, A System of Logic (Sistema de
Lógica Dedutiva e Indutiva), 10ª ed., Londres, 1879, livro I, capítulo VII. Mill se refere
a Espécies, que possuem uma existência objetiva, e, assim sendo, mantêm o “E”
maiúsculo para assinalar esse tipo de espécie. A observação de que nossas classificações
são frequentemente funcionais ou analíticas e, portanto, distorcem a natureza das coisas
a que se referem é muito mais antiga do que Mill, inspirando a distinção entre essência
“real” e “nominal” de Locke (Ensaios Sobre o Entendimento Humano, livro III, Capítulo
3, § 13), e o método de Buffon na Histoire Naturelle, em que ele explicitamente rejeita
nossos hábitos costumeiros de classificação, já que eles tentam “dividir a natureza onde
ela é indivisível.”
Sobre a distinção entre espécies naturais e funcionais, ver David Wiggins, Sameness
and Substance, Oxford, 1980, pp. 171 et seq. Talvez a idéia de uma espécie funcional
seja menos familiar do que uma espécie natural; esta idéia, entretanto, é necessária
para entender o “funcionalismo” como uma teoria de dementes. O Funcionalismo
foi detalhadamente explicado por D. C. Dennett nos artigos reunidos em seu livro
Brainstorms, Brighton, 1978.
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9 Drummer Hodge:
They throw in Drummer Hodge, to rest
Uncoffined - just as found:
His landmark is a kopje-crest
That breaks the veldt around;
And foreign constellations west
Each night above his mound.
Young Hodge the Drummer never knew -
Fresh from his Wessex home -
The meaning of the broad Karoo,
The Bush, the dusty loam,
And why uprose to nightly view
Strange stars amid the gloam.
Yet portion of that unknown plain
Will Hodge forever be;
His homely Northern breast and brain
Grow to some Southern tree,
And strange-eyed constellations reign
His stars eternally – NT.
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capítulo 1 - o problema
10 Este ponto de vista – em que descrição e explicação são partes contínuas de um único
processo – tem sido sustentado por muitos escritores, incluindo W. V. Quine, Word
and Object, Cambridge, Mass., 1960, e Wilfred Sellars, Science, Perception and Reality,
Londres, 1963.
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11 A distinção entre qualidades primárias e secundárias é pelo menos tão antiga quanto
Pierre Gassendi; no entanto, nunca deixou de ser problemática: para ter um vislumbre
das discussões modernas, veja o Apêndice 2.
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13 Cf. a idéia de Heidegger de que, para mim, as "coisas" existem essencialmente “para
serem usadas”: Being and Time, tr. J. Macquarrie e E. S. Robinson, Nova York, 1962, pp.
96 et seq.
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mas têm a sua própria verdade que, por não competir com o
propósito da explicação definitiva, não é abalada pelas expli-
cações que parecem, à primeira vista, entrar em conflito com
ela. A Filosofia, arte da revisão e reflexão, está encarregada de
uma grande tarefa de restituição. A ciência tem-nos afastado do
mundo, fazendo com desconfiemos dos conceitos por meio dos
quais lidamos com ele. Tentarei restaurar o conceito do desejo
sexual ao seu legítimo lugar na descrição do Lebenswelt e mos-
trar em detalhes por que uma ciência do sexo não pode nem
suplantar esse conceito nem iluminar o fenômeno humano que
ele descreve.
O conceito crucial para qualquer tentativa filosófica de
fornecer a base para o entendimento humano é o conceito de
pessoa. É uma tese bem conhecida da filosofia – expressa em
inúmeros idiomas e em inúmeros tons de voz – que os seres
humanos podem ser descritos sob duas óticas contrastantes (e,
para alguns, conflitantes): como organismos obedientes às leis
da natureza, e como pessoas, às vezes, obedientes, às vezes deso-
bedientes, à lei moral. As pessoas são agentes morais; suas ações
não têm apenas causas, mas também razões. Elas tomam deci-
sões para o futuro, e por isso têm, além de desejos, intenções.
Elas não se permitem ser sempre arrastadas por seus impulsos,
mas ocasionalmente resistem e os subjugam. Em tudo, o agente
moral é tanto ativo como passivo, e aparece como uma espécie
de legislador entre suas próprias emoções. Ele também é um ob-
jeto não só de carinho e amor (que podemos estender a toda a
natureza), mas também de louvor e de culpa, raiva e estima. Em
todas essas distinções intuitivas – entre razão e causa, intenção e
desejo, ação e paixão, estima e afeto – encontramos aspectos da
distinção vital subjacente a eles e ao esclarecimento daquilo a
que Kant dedicou alguns de seus maiores capítulos: a distinção
entre pessoa e coisa. Apenas uma pessoa tem direitos, deveres e
obrigações; apenas uma pessoa age por razões além das causas;
apenas uma pessoa merece nosso louvor, censura ou raiva. E é
como pessoas que percebemos e atuamos um sobre o outro, me-
diando todas as nossas respostas mútuas com o conceito obscu-
ro, mas indispensável, do agente moral livre.
Eu não acredito que possamos aceitar a majestosa teoria de
Kant, que atribui às pessoas um núcleo metafísico, o “eu trans-
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15 Dilthey, Collected Works, vol. VII; Max Weber, 'The Nature of Social Action', em W.
G. Runciman (ed.), Weber, Selections in Translation, Cambridge, 1978. Ver Capítulo 7,
nota 10.
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16 Eu voltarei a este ponto no Capítulo 12, onde explico mais sobre o que quero dizer
com “sentido” e sua conexão com o ponto de vista humano, que está sempre, no fim
das contas, em guerra com a "impessoalidade" da ciência. Para algumas interessantes
especulações checas sobre este tema, ver V. Belohradsky, Krize Eschatologie Neosobnosti,
Munique, 1981, e o penetrante e doutoral discurso de Vaclav Havel enviado para a
Universidade de Toulouse, "Politics and Conscience", Salisbury Review, 3 (2), 1985.
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CAPÍTULO 2
EXCITAÇÃO
21 Essa teoria é discutida adiante, no Capítulo 7, em que são dadas as fontes freudianas e
pré-freudianas.
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22 O termo usado é “part hog”, inspirado na expressão “going the whole hog”, presente na
mencionada peça de Harold Pinter – NT.
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23 Sobre a classificação dos estados mentais, nos termos dessas distinções formais, ver
meu livro Art and Imagination, Londres, 1974, Parte II.
24 A possibilidade de distinguir objetivo, gratificação, satisfação e resolução para um
único estado mental é um ponto que discuto mais detalhadamente no Capítulo 4.
25 Procópio, História Secreta, Livro IX, 20.
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de modo que ela pareça, aos seus próprios olhos, ser responsá-
vel por aquilo que ele sente.
A estrutura intencional que acabamos de descrever, enquan-
to claramente distinta da estrutura de sentido (linguística), tem
muito em comum com ela. Mas deturparíamos a intencionali-
dade da excitação se a víssemos simplesmente nestes termos,
sem considerar o elemento crucial do “despertar corporal”, que
cada participante tanto sente em si mesmo quanto busca no
outro. Esta experiência é um aspecto crucial da nossa experiên-
cia de encarnação – e da nossa natureza como seres corpóreos.
Ela pode ser ilustrada por um exemplo, que também ajudará
a enfatizar o tipo peculiar de representação que é intrínseca à
excitação. Considere o caso de uma mulher, que se abre para
explorações de seu amante:
Um bosque serei eu, e um cervo serás tu:
Alimenta-te onde quer, na montanha ou no vale nu;
Pasta em meus lábios, e se água te faltar,
Ruma ao sul, onde prazerosas fontes a devem dar.31
[Vênus e Adonis]
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35 No Brasil, a expressão mais comum para expressar essa mesma sensação é “eca” – NT.
36 O Ser e o Nada, livro IV, cap. 2, III, especialmente p. 605-12.
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CAPÍTULO 3
PESSOAS
38 Há duas expressões latinas que significam “no meio das coisas”: “in medias res” e “in
mediis rebus”. A primeira é um recurso literário em que a narrativa começa no meio da
história, e não no início. A segunda, usada no presente caso, indica o ponto a partir do
qual a investigação será conduzida – NT.
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39 Termo usado por Locke em seu Ensaio Acerca do Entendimento Humano (livro III,
cap. III, 15) – NT.
40 W. V. Quine, Word and Object, Cambridge, Mass., 1960, cap. 1; Ontological Relativity
and Other Essays, Nova York, 1969.
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41 Essa distinção, muito sutil em português, é apresentada nas perguntas “How much” e
“How many”, respectivamente – NT.
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42 Este pode ser um dos motivos por trás afirmação de Aristóteles de que a palavra “carne”
apenas é usada homonimamente de carne morta – de carne cuja psyche se foi: De
Generatione et Corruptione, 3903; De Generatione Animalium, 734b; e em outros lugares.
43 Nome genérico para cachorros comumente usado pelos ingleses (mais ou menos
equivalente ao nosso “Totó”) – NE.
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44 Quero dizer, a idéia de substância que parece estar por trás do uso desse termo por
Descartes, Espinoza e Leibniz, segundo a qual uma substância é tanto a portadora de
atributos e quanto uma entidade capaz de existência independente. Ver W. Kneale,
“The Notion of a Substance”, Proceedings of the Aristotelian Society, vol. XL (1939-40).
45 Ética, livro III, prop. 7.
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46 Sir Ernest Barker, Principles of Social and Political Theory, Oxford, 1951, livro IV.
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47 Ver, por exemplo, os ensaios sobre as razões para ações e intenções no trabalho de
Donald Davidson, Essays on Actions and Events, Oxford, 1980, seção I, e no trabalho de
Davidson, “Rational Animals”, Dialectica, 36 (1982).
48 Mestre Gil de Ham é uma narrativa de J.R.R. Tolkien publicada em 1949; uma edição
brasileira foi publicada pela Martins Fontes em 2012. Conta a história de Mestre Gil, um
fazendeiro desprovido de heroísmo, mas que, graças à boa sorte e à ajuda do cachorro
Garm, da égua cinzenta e da espada mágica Caudimordax (ou Morde-cauda), amansa
o dragão Chrysophylax e ganha enorme fortuna – NT.
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53 Poder-se-ia dizer que esta tese foi uma das principais conclusões de Kant em “Os
Paralogismos da Razão Pura”, na Crítica da Razão Pura, (1781, 1787), tr. Norman Kemp
Smith, Londres, 1929, em que Kant critica a inferência a partir da unidade puramente
“formal” pressuposta na autoconsciência (a “unidade transcendental da apercepção”) à
“unidade substancial” necessária para a teoria racionalista da alma.
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54 Estes dois absurdos são discutidos e explicados por Kant na primeira parte extrema-
mente insatisfatória da Crítica da Razão Pura, a “Estética Transcendental”.
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61 Houve uma tentativa, feita de duas formas contrastantes, por D. C. Dennett, Content and
Consciousness, Londres, 1969, e por H. P. Grice, “Method in Philosophical Psychology”,
Presidential Address to the American Philosophical Association, 1974-5.
62 Ver Investigações Filosóficas, parte I, seções 172 et seq.
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Meu argumento, de que os conceitos legais e morais podem ser entendidos em função
da idéia mais básica de responsabilidade que invoco nesta seção, é provavelmente tão
antigo quanto o Ética a Nicômaco de Aristóteles.
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73 Ver as considerações feitas por Derek Parfit em Reasons and Persons, Oxford, 1984,
parte III.
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CAPÍTULO 4
DESEJO
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capítulo 4 - desejo
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Revelação involuntária
Nossa existência como seres responsáveis está intimamente
ligada com nossa capacidade de formar intenções – com o que os
filósofos por vezes chamam de “vontade”. E pode-se pensar que
esse fato basta para explicar todo o caráter “comprometedor” e
envolvente do desejo sexual. O desejo se expressa por padrões
de atividade deliberada, pelos quais podemos ser premiados ou
criticados. No entanto, apesar de ser, naturalmente, uma parte
da verdade, seria errado pensar que a atividade voluntária tem
aqui o tipo de importância suprema que tem em outras esferas
da comunicação interpessoal, ou que o que não é voluntária é,
em certo sentido, apenas uma expressão secundária e derivada
do eu. Pelo contrário, só podemos entender o desejo sexual se re-
conhecermos a importância central do aspecto involuntário do
comportamento humano, tanto como uma expressão de nossos
estados mentais como um momento crucial no que chamo de
“encarnação” do sujeito.75 É uma conseqüência infeliz da tenta-
tiva filosófica para conectar o “eu” com a “vontade” – ou com
sua liberdade – que muitas vezes não se viu a conexão entre o eu
e o que não é voluntário, uma conexão que é, de fato, igualmen-
te constitutiva de nossa natureza. Assim, um filósofo – no que
talvez seja o restabelecimento recente mais profundo da tese da
centralidade da vontade – defendeu que a “ação corporal é por
excelência um fenômeno do ego”, pois é através da ação que
“um homem pode sentir que ele próprio, como uma entidade
distinta está... fazendo com que sua presença seja sentida no
mundo”. Dessa forma, um homem pode “legitimamente sentir
que está representado neste evento – diferente de seus suores e
rubores, e até mesmo de seu riso”. Pelo contrário, no entanto,
nunca um homem é tão representado à perspectiva de outro
como quando fica envergonhado ou ri. A expressão em um ros-
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capítulo 4 - desejo
76 For smiles from Reason flow / To brute denied, and are of love the food – NT.
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77 Tu hai vedute cose, che possente / se’ fatto a sostener lo riso mio – NT.
78 Charles Darwin, The Expression of the Emotions in Man and Animals, Londres, 1872, p.
310.
79 Christopher Ricks, Keats and Embarrassment, Oxford, 1976, p. 50.
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capítulo 4 - desejo
80 How she would start, and blush, thus to be caught / Playing in all her innocence of thought
[Keats, “I Stood Tip-toe”] – NT.
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81 Ibid., p. 54.
82 Ver Havelock Ellis, Studies in the Psychology of Sex, vol. I: On Modesty, 3ª ed., Filadélfia,
1923, p. 23.
83 Santo Agostinho, Cidade de Deus, livro XIV, cap. 23.
84 A operação e suas consequências emocionais são discutidas por Thomas Szasz, Sex:
Facts, Frauds and Follies, Londres, 1981, p. 84.
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85 Ver A. Danto, “Ações Básicas”, em A. R. White (ed.), The Philosophy of Action, Oxford,
1968.
86 Fa del mio corpo tutto un occhio solo / Ne fia poi parte in me che non ti goda – NT.
103
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Encarnação
Parece, então, que certas mudanças involuntárias no corpo
de outra pessoa são elementos importantes na geração e dire-
cionamento do desejo. Descrevi uma característica crucial da
intencionalidade interpessoal: a disposição de encontrar as
marcas da perspectiva do outro exibidas na superfície de seu
corpo. Um fenomenologista pode se referir a isso como o pen-
samento da “encarnação” (Sartre) ou “incorporação” do outro;
um hegeliano poderia descrevê-la como a percepção do “corpo
como espírito” – o corpo transparente, por assim dizer, à inter-
pretação mental. Tais descrições não acrescentam uma teoria
genuína para o que eu indiquei. Na verdade, se as observações
do Capítulo 1 estão certas, não pode haver nenhuma teoria des-
ses dados que não corra o risco de aboli-las – o risco de subs-
104
capítulo 4 - desejo
88 Essa tese, uma sutil variação do que Aristóteles expôs em uma de suas mais grandiosas
passagens (De Anima, 403 a-b), foi defendida de inúmeras maneiras por filósofos
recentes. Ver especialmente Bernard Williams, “Are Persons Bodies?”, em Problems of
the Self, Cambridge, 1973.
105
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
89 Helmuth Plessner, Lachen und Weinen, 3ª ed., Bern, 1961; tr. James Spencer Churchill
e Marjorie Grene, Laughing and Crying: A Study of the Limits of Human Behaviour,
Evanston, 1970.
106
capítulo 4 - desejo
90 A. Schopenhauer, The World as Will and Representation, tr. E. J. F. Payne, Indian Hills,
Colorado, 1958, vol. II, p. 543.
107
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Pessoas desencarnadas
Nem todas as nossas atitudes interpessoais exigem ou focam
na encarnação de seu objeto – um fato que precisa ser reconhe-
108
capítulo 4 - desejo
91 Ver Salmond on Jurisprudence, 12 ed., ed. P. J. Fitzgerald, Londres, 1966, cap. 10, seção
esp. 73.
109
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110
capítulo 4 - desejo
todas essas coisas possam ser amadas, nenhuma pode ser dese-
jada, pela simples razão de que nenhuma delas têm um corpo
humano que seja exclusivamente seu.
Na opinião de muitos, há também pessoas desencarnadas
que são indivíduos verdadeiros. Deus é o exemplo mais impor-
tante. Os cristãos acreditam que somente um Deus encarnado
pode inspirar o amor sincero e natural que seja a fonte da paz
terrena. No entanto, o amor dos muçulmanos por seu Deus de-
sencarnado é de um fervor incomparável. Dizem que o fervor
dirigido a Deus é, neste caso, menor do que o fervor contra seus
inimigos, e que é apenas no sufismo – que se dirige a Deus com
tanta ternura que parece um reconhecimento secreto de Sua en-
carnação – que o calor do verdadeiro amor humano entra na te-
ologia do Islã. Mas são especulações; na superfície, pelo menos,
Deus pode ser amado não apesar de, mas também por causa de,
sua desencarnação, e não apenas com um amor intellectualis. E,
se nós estendermos nossa imaginação para o reino dos diabos,
espíritos, anjos e gênios, reconheceremos de imediato que cada
atitude pessoal, com uma ou duas exceções, foram e continuam
a ser dirigidas a pessoas desencarnadas. Uma exceção impor-
tante, no entanto, é o desejo.
As pessoas nos interessam principalmente como agentes, e
é à sua ação que normalmente respondemos. Mas vemos que
esta ação emana não só de corpos humanos, mas também de
empresas, de instituições, e (estamos aptos a acreditar) de di-
vindades e poderes ocultos. Se não houvesse a encarnação hu-
mana, não haveria nenhum problema especial da identidade
pessoal. Trataríamos as pessoas como fazemos com outras fon-
tes duradouras de mudança, e determinaríamos sua identidade
de acordo com a sua continuidade. (Esta é a conclusão a que
chegou Derek Parfit, que poderia ser reprovado precisamente
por ignorar a realidade intencional de encarnação.92) No de-
sejo, no entanto, eu quero encontrar uma unidade entre seu
corpo e sua identidade pessoal, e manter em seu corpo a alma
que fala e olha a partir dele.
Embora as pessoas sejam essencialmente encarnadas para nós,
e embora nós sempre respondamos a elas enquanto encarnadas,
111
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
93 The Kinsey Report (Alfred C. Kinsey, W. B. Pomery, C. E. Martin et al., Sexual Behaviour
in the Human Male, Londres e Filadélfia, 1949; Sexual Behaviour in the Human Female,
Londres e Filadélfia, 1953); mas essa visão é no mínima tão antiga quanto Freud: veja a
citação de Freud no prefácio.
112
capítulo 4 - desejo
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96 The Kama Sutra of Vatsyayana, tr. Sir R. Burton e F. F. Arbuthnot, Londres, 1963, p.
168-9.
97 As várias concepções sobre nomes, em que todas implicam que a referência
individualizante é alcançada de outra forma que não pela virtude do conteúdo do nosso
pensamento, são discutidas no Apêndice 2. A visão de Kripke sobre os nomes como
“designadores rígidos” está exposta em Naming and Necessity, Oxford, 1978. De uma
forma contrastante, Michael Dummett chega a conclusões parcialmente similares em
Frege: Philosophy of Language, Londres, 1973, apêndice ao cap. 5.
115
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
116
capítulo 4 - desejo
Pensamento individualizante
A intencionalidade individualizante do desejo talvez não
nos surpreenda, já que o desejo sexual é tanto uma resposta
interpessoal quanto a excitação sexual, e é parte de nossa per-
117
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
cepção do outro como uma pessoa que não vemos, por assim
dizer, apenas como um exemplo de sua espécie, substituível por
qualquer outro. Em todas as nossas relações com as pessoas,
a atitude de “respeito pelas pessoas” – a injunção, em termos
kantianos, de tratar os outros como fins em si mesmos, e nun-
ca como meio simplesmente – nos leva a atribuir um valor in-
substituível àqueles com quem nos relacionamos. Um contraste
óbvio pode ser feito aqui entre o desejo sexual e o apetite por
comida.101 Meu apetite por um prato de cenouras é acalmado
pela posse de qualquer prato de cenouras (organizado adequa-
damente). Alguém que proteste dizendo “Não, eu quero Elspeth
(nome de um prato especial de cenouras)”, protesta demais, e
incoerentemente.
No entanto, uma exceção importante ocorre aqui. Como o
Bispo Butler argumentou em seu ataque sobre o hedonismo,102
o que eu quero enquanto está diante de mim é este prato de
cenouras. Eu poderia realmente aceitar um substituto – mas en-
tão eu passaria a querer o substituto. Então, por que esse caso
é diferente do desejo sexual? Será que não é meramente uma
convenção que nos leva a dizer que quando transfiro o meu
apetite deste prato de cenouras para aquele há apenas um ape-
tite com dois objetos sucessivos, enquanto que quando transfiro
minhas atenções de Elizabete para Jane, há dois desejos, dife-
renciados precisamente por seus objetos sucessivos? Em ambos
os casos, com certeza, eu poderia dizer tanto que há um desejo,
e que existem dois – tudo vai depender do propósito da minha
contagem.
A resposta a essa objeção é longa e complexa, e vai nos ocu-
par ainda mais no próximo capítulo. Mas duas coisas devem
ser ditas o quanto antes para dissipar sua força imediata. Em
primeiro lugar, o desejo sexual é diferente do meu apetite por
estas cenouras, pois está fundado sobre um pensamento indi-
vidualizante. É parte do próprio direcionamento do desejo que
uma pessoa em particular seja concebida como seu objeto. As-
sim, surge a possibilidade – já discutida em relação à excitação
118
capítulo 4 - desejo
103 Para uma crítica interessante, mas parcial, da tese dos etologistas, ver Konrad Lorenz,
On Agression (1963), tr. M. Latzke, Londres, 1966, cap. IX. A tese criticada pode ser
encontrada em Beast and Man, de Mary Midgley.
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já que você mostrou que tem projetos vulneráveis a suas inten-
ções. Seu desejo não desculpa, mas culpa. “Eu queria tanto!”
pode ser uma desculpa para tocar num bolo; mas nunca é uma
desculpa para tocar numa dama. Pelo contrário, é a condenação
final. “Então era isso! Ele me queria. Que nojento!” Um toque
acidental teria sido irrepreensível, mesmo que a “sensação fosse
a mesma”. Assim como um toque celebrado no curso normal da
comunicação. É a expressão do desejo na ponta dos dedos que
compromete. Da mesma forma, quando uma mulher está re-
voltada com olhar desejoso de um homem, em seu pensamento
há algo do tipo “Como ele se atreve!” – ela tem raiva daquele
homem, que aparece para ela como responsável pelo desejo que
se revela em seus olhos. (É inegável, porém, que existem diferen-
ças significativas entre a experiência masculina e feminina. No
Capítulo 6 voltarei a essas diferenças, de modo a mostrar que a
minha ênfase nas experiências femininas não é arbitrária.)
Este senso da responsabilidade do outro pode parecer estra-
nho e injusto. Mas não se limita ao destinatário de atenções
sexuais. Ele está lá no primeiro impulso do desejo. O amante
frustrado sente que foi desprezado. Sua recusa não é apenas
um fato, como o bolo que se encontra fora de alcance. Ela é
sentida como uma reação ao desejo, que por sua vez carrega as
marcas do seu compromisso. É “injusto” que o objeto de desejo
deva ser responsabilizado por sua recusa. No entanto, todos
nós devemos aprender as delicadas negociações pelas quais a
nos desembaraçamos das atenções não solicitadas dos outros
sem ofender sua autoestima, e uma das características mais im-
portantes da educação moral consiste na aquisição do controlo
implícito nesta transação.
124
capítulo 4 - desejo
106 I. Kant, Lectures on Ethics, tr. L. Infield, Nova York, 1963, p. 164.
107 Ibidem, p. 166.
125
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108 Ver, por exemplo, o caso de Fairclough v. Whipp (1951) 35 Cr. App. R. 138.
109 Sobre a “lei de ferro da oligarquia”, ver o trabalho de Roberto Michels, Political Parties,
Basle, 1915, tr. Eden e Cedar Paul, Londres, 1921.
126
capítulo 4 - desejo
O curso do desejo
Vamos retornar à discussão da intencionalidade do desejo.
O que é buscado pela pessoa que deseja a outra? Já comentei
sobre a dificuldade em afirmar o objetivo de desejo de forma
proposicional. Embora o desejo envolva uma forte ânsia pelo
outro, não há nenhuma maneira fácil de separar esse anseio da
pessoa individual que é desejada – nenhuma maneira fácil de
descrever, em termos abstratos, apenas o que o outro suposta-
mente deve fazer para me satisfazer. O outro é o meu desejo –
esse é o pensamento imediato, apreendido no poema de Rückert
“Du bist die Ruh”:
Essa ânsia por você
É o que a faz cessar.111
110 Robert Michels, Sexual Ethics, a Study of Borderland Questions, Nova York, 1914, p. 34.
111 Die Sehnsucht du / Und was sie stillt – NT.
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O objetivo do desejo
Qual, então, é o objetivo do desejo? A fim de responder a
esta pergunta, devemos distinguir os vários componentes da es-
trutura intencional de desejo. Os desejos dos animais têm uma
intencionalidade relativamente simples, apreendida na atitude
proposicional que denota o objetivo ou direção do desejo. Os
desejos que são indicativos de nossa natureza racional são mui-
to diferentes, e não seguem a regra da simples intencionalidade
dirigida a objetivos do desejo animal, mesmo quando há um ob-
jetivo reconhecível. Considere uma atividade humana dirigida a
objetivos – o futebol. Aqui o objetivo do jogador muda de um
momento para outro, mas geralmente pode ser resumido como
o objetivo de marcar gols. Ao mesmo tempo, existe um projeto
superior – o de ganhar – que pode não ser alcançado sem tornar
o jogo um fracasso. Os jogadores jogam não apenas para marcar
gols ou ganhar, mas pelo prazer de jogar – um prazer de trabalho
de equipe, exercício e participação envolvente em um empre-
endimento comum. Finalmente, há uma “satisfação” global que
pode ou não existir: o “bom jogo”, no qual gozo, realização e
exercício benéfico se reúnem, proporcionando uma experiência
que está cheia de significado para quem a vivencia. Se alguém
perguntasse, “Qual é o objetivo do futebol?”, a resposta poderia
ser dada em qualquer uma dessas quatro formas: há o objetivo
imediato (pontuar), o projeto mais longínquo (vencer), o motivo
(diversão) e a satisfação (uma experiência “significativa”).
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CAPÍTULO 5
O OBJETIVO INDIVIDUAL
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114 Schopenhauer: “A paixão individual e muito especial de dois amantes é tão inexplicável
quanto a individualidade, também bastante especial, de qualquer pessoa, que lhe é
exclusivamente peculiar: de fato, são uma única e mesma coisa; a última tem explícito o
que na primeira está implícito” (The World as Will and Representation, tr. E. J. F. Payne,
Indian Hills, Colorado, 1958, vol. II, p. 536).
115 Ver o paradoxo de Hegel sobre o mestre e o escravo, que será discutido adiante, no
Capítulo 10.
116 S. Kierkegaard, Either/Or, tr. W. Lowrie Nova York, 1959, vol. II: The Aesthetic Validity
of Marriage, p. 111-14.
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capítulo 5 - o objetivo individual
117 Sobre a distinção entre amor e estima, ver I. Kant, Foundations of the Metaphysics of
Morals, Prussian Academy edition, p. 395 et seq. Para a distinção entre o racional e
o patológico, ver ibid., 399. Kant também defende, entretanto, que “o amor (...) é um
suplemento indispensável à imperfeição da natureza humana como uma livre assunção
da vontade de outrem sob as próprias máximas”: Das Ende aller Dinge, Prussian
Academy edition, vol. VIII, p. 337.
118 Já defendi em outros lugares a visão de que no julgamento moral, precisamente porque
o componente crucial não é uma crença, mas uma atitude, a crença em razões é
inexaurível: “Attitudes, Beliefs and Reasons”, em John Casey (ed.), Morality and Moral
Reasoning, Londres, 1971.
143
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122 Blaise Pascal, Pensées (n. 306 das traduções Penguin por J. M. Cohen, Harmondsworth,
1961).
123 E. B. de Condillac, Traité des sensations et des animaux, em Ouevres completes, Paris,
1821, vol. 3, p. 90.
145
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124 Essa visão aparece de muitas formas: especialmente nas versões decorrentes de Kant
(Critique of Judgement, 1790, tr. J. H. Bernard, Nova York, 1951), e nas decorrentes
de Croce (Aesthetic, 2ª ed., tr. D. Ainslee, Londres, 1923). Para uma discussão dessas
visões, e uma defesa em particular de uma delas, ver meu livre Art and Imagination,
Londres, 1974, cap. 9.
125 Defendo esse ponto em Art and Imagination e em The Aesthetics of Architecture,
Londres, 1979, cap. 5.
146
capítulo 5 - o objetivo individual
A atenção e a desatenção
Algumas atitudes se concentram em características específi-
cas de seu objeto, e ignoram outras. O medo, por exemplo, con-
centra-se sobre o perigo atual e tudo o que o causa, ignorando
as características do objeto ameaçador que poderiam ter sido
consideradas prazerosas ou admiráveis. Tal atitude é “desaten-
ta”, no sentido de que deve necessariamente ignorar alguma
parte do que é apresentado. Em contrapartida, as atitudes aten-
tas não ignoram nada: nenhuma característica de seu objeto
é descontada, e nenhuma característica pode ganhar destaque
com a exclusão total das outras sem mudar de atitude. O exem-
plo mais conhecido de uma atitude atenta é o interesse estético;
cada característica do dito objeto é relevante para a atenção que
o abraça. Mas também se deve reconhecer que certos tipos de
amor – o amor erótico entre eles – são semelhantes. O amante
para quem cada fio de cabelo de sua amada possui um significa-
do individual é como o esteta que pondera cada nota da parti-
tura. Este tipo de luxúria para o detalhe é uma continuação dra-
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desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
127 Ver Art and Imagination, cap. 1, e também “Photography and Representation” em The
Aesthetic Understanding, Londres, 1983.
128 Essa falácia é fundamental à teoria da arte de Croce, como mostrado em seu Aesthetic, e
também à visão decorrente apresentada por R. G. Collingwood em seu Principles of Art,
Oxford, 1937. Os filósofos analíticos não estão imunes a esse erro. Ver especialmente
o trabalho de P. F. Strawson, “Aesthetic Appraisal and Works of Art”, em Freedom and
Resentment and Other Essays, Londres, 1974, em que Strawson defende que as obras
de arte são distinguidas por um critério particular de identidade – que torna todas as
características esteticamente relevantes em propriedades essenciais.
148
capítulo 5 - o objetivo individual
O propositado e o despropositado
A última distinção é algumas vezes confundida com outra; no
entanto, não são idênticas. Algumas atitudes se aproximam (ou
recuam) de seu objeto com um “fim em vista;” outras não. Ao
primeiro tipo pertencem todas as nossas emoções mais práticas,
tais como a agressão (que tem o objetivo de ferir) e o medo (que
visa evitar). Outras atitudes – o interesse estético novamente
fornece um paradigma – não têm nenhum “fim em vista”. Elas
são, na utilíssima expressão de Kant, “desinteressada” (ohne In-
teresse), divorciadas de interesses práticos imediatos. Quando
me aproximo de um objeto com um determinado fim em vista,
o meu propósito determina um critério de relevância – algumas
características do objeto têm uma influência sobre ele, outros
não. Portanto, há uma tendência na filosofia da arte de explicar
a atenção do interesse estético nos termos de seu caráter despro-
positado, que nos priva da capacidade de distinguir o relevante
do redundante.129
É, no entanto, muito simples reduzir as duas distinções em
uma, pois poderia haver atitudes que são atentas e também pro-
positais. O amor é uma delas, mas um exemplo mais vívido é
dado pelo desejo sexual. Não podemos negar que o desejo tem
um objetivo; no entanto, parece ter – ou, pelo menos, tender a –
129 Ver, por exemplo, S. Hampshire, “Logic and Appreciation”, em W. Elton (ed.) Aesthetic
and Language, Oxford, 1954.
149
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150
capítulo 5 - o objetivo individual
O transferível e o intransferível
A distinção acima nos leva, por etapas naturais, a uma quin-
ta, e é uma que já teve destaque nos argumentos dos capítulos
anteriores: a distinção entre o transferível e o intransferível. Fa-
130 Ver F. A. Hayek, Studies in Philosophy, Politics and Economics, Londres, 1967, e Michael
Polanyi, Personal Knowledge, Londres, 1958, cap. 7.
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155
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Mediato e imediato
Há outra distinção que serve para alinhar o sexual e o estéti-
co e separá-los da moral. É a distinção entre as atitudes que são
fundadas na percepção de seu objeto (atitudes que chamarei de
“imediatas”) e atitudes que dependem apenas do pensamento.
Considere a admiração moral. Isso é algo que eu posso sentir
em relação a uma pessoa que nunca conheci, simplesmente com
base no que eu acredito ser verdade sobre ela. Eu posso admirar
Cicero ou Marco Aurélio, sem a menor experiência, seja lite-
ral ou imaginativa, dos próprios homens. É uma idéia recebida
da estética (desde que Baumgarten inventou a palavra)132 que a
apreciação estética se baseia na percepção de seu objeto, e não
pode ser baseada apenas no pensamento. Esse ponto foi apre-
sentado de várias maneiras. Alguns falam da natureza “sensual”
do interesse estético; outros se referem a seu caráter “concreto”
ou “imediato;” outros dizem que o julgamento estético é dis-
tinguido pelo fato de que você deve “ver o objeto por si mes-
mo”.133 Todas essas expressões sugerem diferentes formas de
teorizar uma única observação.
É evidente que algumas atitudes, como o interesse estético,
estão enraizadas na experiência real de seu objeto e não podem
existir sem essa experiência, enquanto outras (especialmente
aquelas que são “universais”) podem ser separado da experi-
ência, já que sua intencionalidade é construída a partir do pen-
samento exclusivamente. O desejo sexual pertence à primeira
categoria. Ele é despertado por uma experiência de encarnação
– pela visão, som ou cheiro de seu objeto. E é tão difícil imagi-
nar um desejo sexual que começa de uma mera descrição, quan-
157
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
158
capítulo 5 - o objetivo individual
134 A confusão já foi bastante esclarecida e criticada por P. F. Strawson em The Bound of
Sense, Londres, 1966, e também por R. Walker, Kant, Londres, 1978, cap. IV.
159
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capítulo 5 - o objetivo individual
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O objeto individual
Como o desejo pode possuir a estrutura intencional que des-
crevemos? Como, em particular, ele pode ser intransferível? A
resposta óbvia – que o desejo é dirigido ao indivíduo, e não ao
tipo – não é mais clara do que a conceito de “pessoa singular”
que é invocado nela. É nos termos desse conceito que devemos
procurar entender, primeiro, os paradoxos do desejo, e, em se-
guida, a satisfação do desejo.
Individuum est ineffabile, dizem os escolásticos. Muitas coi-
sas são sugeridas por esse enunciado. Aqui vai uma delas: obri-
gados pela necessidade metafísica, nós fazemos uma distinção
entre o indivíduo e as propriedades atribuídas a ele. Mas como
podemos fazer essa distinção? Como separamos, em pensamen-
to, o indivíduo de suas propriedades? (Eu uso o termo “pro-
priedade” vagamente, de modo a incluir relações: a proprieda-
de é determinada por cada predicado significativo.) Parece que
precisamos de alguma característica definitória que constitua
o indivíduo como o que ele é. Mas essa característica é uma
propriedade, e como pode uma propriedade ser idêntica ao in-
162
capítulo 5 - o objetivo individual
137 Sobre o caráter “pernicioso” dessa idéia, ver D. Wiggins, Sameness and Substance,
Oxford, 1980, p. 120.
138 Não devemos ficar surpresos, portanto, com o fato de que a maior das tentativas
de dar sentido à idéia de uma essência individual – a tentativa de Espinoza – tende
naturalmente à conclusão de que só há uma coisa, e essa coisa é Deus.
163
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capítulo 5 - o objetivo individual
141 Ver especialmente Bernard Williams, Descartes, The Project of Pure Enquiry, Londres,
1978, sobre o conceito cartesiano “absolute” do mundo. Críticas pertinentes a essa
concepção, em uma versão atribuída a Leibniz, podem ser encontradas em Strawson,
Individuals, cap. 4.
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142 “Dialética Transcendental”, Crítica da Razão Pura (1781, 1787), tr. Norman Kemp
Smith, Londres, 1929.
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capítulo 5 - o objetivo individual
143 J. G. Fichte, The Science of Knowledge, tr. e ed. P. Heath e J. Lachs, Cambridge, 1982, 2ª
Introdução.
144 T. Nagel, “Subjective and Objective”, em Mortal Questions, Cambridge, 1979.
167
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capítulo 5 - o objetivo individual
145 I. Kant, Lectures on Philosophical Theology, tr. Allen J. Wood, R. Gertrude, M. Clark,
Ithaca e Londres, 1978, p. 150. A noção de uma “intuição intellectual” foi considerada
de grande importância nessa conexão por vários seguidores de Kant, e notadamente
por Fichte em The Science of Knowledge.
146 Ver Z. Vendler, “A Note on the Paralogisms”, em G. Ryle (ed.), Contemporary Aspects of
Philosophy, Stocksfield, 1976.
169
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
A “essência subjetiva”
Como sugeri no Capítulo 3, tais argumentos, independente-
mente da sua força, não podem explicar inteiramente o fenô-
meno do privilégio da primeira-pessoa. No entanto, além dessa
sugestão, eles devem inevitavelmente nos levar a rejeitar a no-
ção de uma “essência subjetiva”. Ao mesmo tempo, há algo em
nossas atitudes interpessoais que nos leva a pensar desta forma
sobre os outros, de modo que ainda pode ser o caso da “es-
sência subjetiva” aparecer como o objeto intencional de certos
estados mentais. Nós tendemos a pensar nas pessoas como indi-
víduos quintessenciais, constituídos por suas perspectivas sub-
jetivas invioláveis, que estão enclausuradas dentro deles como
uma noz sob a carne. O pensamento parece ser confirmado em
cada uso do “eu”; em cada declaração de sentimento, intenção
e compromisso. E já que eu reajo a você como pessoa em gran-
de parte com base em seus pensamentos do “eu”, eu não posso
170
capítulo 5 - o objetivo individual
149 “Os Paralogismos da Razão Pura”, e também “A Anfibologia dos Conceitos da Razão
Pura” em A Crítica da Razão Pura.
171
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Pensamentos individualizantes
O que, então, poderíamos dizer sobre a “intencionalidade in-
dividualizante” do desejo? Este tipo de intencionalidade não é
de nenhuma maneira a coisa simples que à primeira vista parece
ser. Como vimos, ela pode ser “desagregada” em componentes
logicamente independentes, dos quais o mais importante para os
nossos propósitos é a “intransferibilidade”, que o desejo com-
partilha com o amor e o interesse estético. A intransferibilidade
não requer que seja atribuída ao objeto nem uma individuali-
dade não-arbitrária, nem uma perspectiva da primeira-pessoa.
Isto se dá pelo caso do interesse estético em um amontoado
de coisas. É claro que, tratando-se de indivíduos, amontoados
são bastante arbitrários: eles podem ser divididos, destruídos e
172
capítulo 5 - o objetivo individual
173
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
O paradoxo de Sartre
Vamos começar com uma observação sobre a teoria de Sar-
tre.152 Sartre reconhece que o principal problema para qualquer
teoria do desejo é explicar a sua intencionalidade individualizan-
te;153 ele também reconhece que nenhuma teoria do desejo que
o representa como um instinto, com o prazer sexual (prazer nos
órgãos de procriação) como seu objetivo, poderia possivelmente
explicar a realidade fenomenológica, pois não explicaria como
outro ser pode ser um componente essencial no projeto do desejo.
151 Assim temos Kant, que defende (na Crítica do Juízo) que no julgamento da beleza nós
entendemos a harmonia entre nossas próprias faculdades e o mundo dos objetos, e em
consequência vemos nas obras da natureza uma idéia de finalidade que é entendida a
partir de nossa atividade e natureza.
152 Being and Nothingness, tr. Hazel E. Barnes, Nova York, 1956, livro III, cap. 3.
153 Ibid., p. 384-5.
174
capítulo 5 - o objetivo individual
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desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
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capítulo 5 - o objetivo individual
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158 G. W. F. Hegel, The Philosophy of Right, tr. e ed. T. M. Knox, Oxford, 1942, complemento
ao parágrafo 158.
178
capítulo 5 - o objetivo individual
179
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
O objetivo do desejo
É claro que é impossível para mim “estar unido” com sua
perspectiva em primeira-pessoa – o que simplesmente me tor-
naria você, abolindo a separação subjacente ao desejo. Se fosse
esse o objetivo do desejo sexual, poderíamos explicar a inten-
cionalidade individualizante do desejo em termos que também
mostram o seu objetivo repleto de paradoxos. Mas por mais
convincente que a descrição possa ser, certamente não é mais
do que metafórica, exatamente da maneira que a descrição de
180
capítulo 5 - o objetivo individual
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capítulo 5 - o objetivo individual
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capítulo 5 - o objetivo individual
161 Quando leggero il disiato riso / esser baciato da cotanto amante, / questi, che esteira da me
non fia diviso, / la bocca mi baciò tutto tremante.
162 Aurel Kolnai, Sexualethik, Sinn und Grundlagen der Geschlechtsmoral, Paderborn, 1930,
p. 66.
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186
capítulo 5 - o objetivo individual
Pecado original
Eu listei quatro características do desejo que, juntas, entram
no paradoxo de Sartre. Mas essas características – pode-se dizer
– também estão presentes em outros sentimentos, tais como a
ternura em relação a uma criança. Por que esses outros senti-
mentos não são paradoxais também? A proximidade do desejo
com o amor de uma criança – e sua ênfase comum na encar-
nação – é um tema bem conhecido da literatura. E a teoria da
transcendência neoplatônica foi aplicada a ambos. No poema
do inglês medieval Pearl, ao poeta é concedida, através da visão
sagrada de sua falecida filha, a mesma revelação concedida a
Dante através da visão de Beatriz: e os termos de referência são
quase os mesmos. Então o que é que na visão de Dante traz a
marca do desejo?
Devemos aqui voltar para a idéia de encarnação. É verdade
que a minha preocupação terna por uma criança se concentra
em sua forma encarnação, e é totalmente dependente do sentido
de seu corpo frágil como o veículo de uma consciência nascente,
a roupa translúcida de um espírito que, porque ainda se desen-
187
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
163 Ver Santo Agostinho, De Nuptiis et Concupiscentia, e a encíclica do Papa Inocêncio III,
De Miseria Humanae Conditionis. As visões do atual pontífice, apesar de seguirem a
tradição agostiniana, mostram uma notável influência kantiana, que as aproxima das
teorias tratadas nesta obra: “A troca do dom da pessoa constitui a verdadeira fonte
188
capítulo 5 - o objetivo individual
189
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165 Bella Millett (ed.), Hali Meidhad, Oxford (Early English Text Society), 1982, p. 4. Minha
tradução não apreende a vigorosa aliteração do original. [Segue a tradução feita por
Roger Scruton: “That vice that begot thee of thy mother, that same / Improper burning
of the flesh, that fiery itch of / That carnal excitement before that digusting work, /
That animal intercourse, that shameless togetherness, / That filthy, stinking and wanton
deed” – NT].
166 Santo Agostinho, A Cidade de Deus, livro XIV, cap. 19.
167 Ibid.
190
capítulo 5 - o objetivo individual
191
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
192
capítulo 5 - o objetivo individual
Animal e pessoa
Ao longo da discussão posterior, encontraremos novamente
a experiência do pecado original como uma falha moral dentro
da estrutura do desejo. O significado desta experiência é preci-
samente o mistério da nossa encarnação: é “original” já que não
podemos escapar disso mais do que podemos fugir da nossa
carne. E ainda assim o mistério sempre escapa ao nosso alcance,
e nos leva a distinguir nossa natureza racional de nossa natu-
reza animal de maneiras que oferecem alguma redenção final
de uma escravidão que só podemos fingir aceitar, mas que nun-
ca aceitamos de verdade. Em O Parlamento das Aves, Chaucer
apresenta um vívido contraste entre o acasalamento de animais
e o de pessoas. Os vários pássaros são reunidos para o seu rito
diurno de acasalamento, e a deusa Natureza preside o agrupa-
mento conforme eles, um a um, se apresentam para declarar
sua vontade irresistível. No caráter das águias, Chaucer (inspi-
rado no Songe Saincte Valentin de Grandson) representa o que
é distintamente humano na atração sexual, enquanto que os
outros pássaros dão voz ao instinto animal.171 As aves inferiores
se unem apenas como espécie, e acasalam apenas como espécie,
com aquela paixão transferível que mostra a estrutura de uma
necessidade biológica. As águias, porém, se reúnem e acasalam
como indivíduos. Os três que desejam a fêmea a desejam, e es-
tão em competindo. Aqui há mais do que um instinto de união;
171 Para uma interpretação desse poema, ver J. A. Bennett, The Parliament of Fowls, an
Interpretation, Oxford, 1957. Eu estou particularmente endividado à obra de Victoria
Rothschild, “The Parliament of Fowls, Chaucer’s Mirror up to Nature?”, The Review of
English Studies, vol. XXXV, (1984), pp. 164-84.
193
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
172 Um tipo de festa encenada por jovens da esquerda em Paris durante a década de 60, em
que cada pessoa tinha que levar um parceiro para ter o direito de ter relações sexuais
com qualquer um presente.
195
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
196
CAPÍTULO 6
FENÔMENOS SEXUAIS
Obscenidade
Há uma teoria do obsceno no que eu já escrevi. A obscenida-
de não diz respeito às coisas em si, mas a um modo de vê-las ou
representá-las. Se dissermos que certas partes do corpo humano
são obscenas, queremos dizer somente que, por algum motivo,
somos levados a vê-las assim: sua natureza ou função nos faz
focar em sua realidade carnal, eclipsando a encarnação da pes-
soa individual. (Daí a idéia de “partes íntimas”, que devem ser
escondidas simplesmente porque eles provocam uma percepção
obscena.) A obscenidade envolve uma percepção “despersona-
lizada” da sexualidade humana, em que o corpo e sua função
sexual aparecem em primeiro lugar em nossos pensamentos,
197
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
198
capítulo 6 - fenômenos sexuais
173 Esse tipo de riso – apesar de que não todos os tipos – foi razoavelmente caracterizado
por Henri Bergson, Le Rire, 23 ed. Paris, 1924; Laughter, Filadélfia, 1970.
174 “What I want is a particular body, / The further particulars being obscene / By
definition” – NT.
199
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Modéstia e vergonha
Certas emoções interpessoais altamente complexas – cons-
trangimento, vergonha e nojo – têm um lugar obviamente im-
portante na conduta sexual das pessoas, e franqueza absoluta
geralmente não é recomendada ou valorizada nas questões se-
xuais. Além disso, o recente declínio na prática da modéstia e a
disposição de falar abertamente sobre o ato sexual não foram
acompanhados da intensificação da paixão sexual, mas, pelo
contrário, por um relaxamento – um “declínio”, como Henry
James certa vez disse, “no sentimento do sexo”.175 No entanto,
é evidente que o embaraço não é nenhuma consequência aci-
dental do desejo. Pois o sujeito do desejo está, em seu próprio
impulso, buscando uma resposta recíproca; ele está, portanto,
possuído pelo pensamento de si mesmo como um possível ob-
jeto de desejo, e envergonhado pela inevitável conclusão de que
talvez ele não o seja. Além disso, ele está tentando obter do
outro uma resposta profundamente comprometedora. Apenas
em circunstâncias especiais é embaraçoso demonstrar amizade
por alguém, ou recebê-la de outrem. O inverso é verdadeiro no
desejo: apenas em circunstâncias especiais esta emoção não é
embaraçosa para ambas as partes. (E cf. a comparação de Santo
Agostinho entre excitação e raiva.)
175 Henry James, Notebooks, ed. T. Matthieson, p. 124, e o prefácio ao The Bostonians.
200
capítulo 6 - fenômenos sexuais
176 Havelock Ellis tem um estudo interessante a respeito da cobertura do rosto na vergonha.
Ver Studies in the Psychology of Sex, vol. I: On Modesty, 3ª ed., Filadélfia, 1923, p. 58-
9. O hábito muçulmano do véu é um índice de vergonha e modéstia. Conforme as
mulheres islâmicas, quanto mais você esconde, mais vulnerável se torna o resquício
de superfície ainda descoberta. Os olhos, mãos e tornozelos das mulheres cobertas
se tornam particularmente excitantes, e também particularmente vulneráveis a
qualquer olhar concupiscente. Frequentemente parece que as mãos da mulher reagem
espontaneamente ao olhar focado nelas, mesmo que o homem não tenha sido visto.
201
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202
capítulo 6 - fenômenos sexuais
203
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204
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205
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206
capítulo 6 - fenômenos sexuais
184 A história está em L. Lombroso e G. Ferrero, La Femme prostituée, Paris, 1893, p. 590.
185 “La pudeur c'est la honte de l'animalite qui est en nous.” Camille Mélinaud, “La
Psychologie de la pudeur”, La Revue, nº 10, p. 397.
207
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
208
capítulo 6 - fenômenos sexuais
186 Max Scheler, Über Scham und Schamgefühl, em Schriften aus dem Nachlass, 2ª edição,
ed. Maria Scheler, Bern, 1957, p. 80.
209
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210
capítulo 6 - fenômenos sexuais
211
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192 J. P. Sartre, Being and Nothingness, tr. Hazel E. Barnes, Nova York, 1956, p. 397.
212
capítulo 6 - fenômenos sexuais
193 “Love has pitched his mansion / In the house of excrement” – NT.
213
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194 Leopardi, “A sè stesso.” Eu discuto o sentido desse poema em The Aesthetic Understanding,
Londres, 1983, p. 237-40.
195 “May’st thou not piss, who did’st refuse to spend, / When all my joys did on false thee
depend” – NT.
214
capítulo 6 - fenômenos sexuais
196 Mais quoi! Tout n’est rien, putains, aux pris de vos / Cuts et cons dont la vue et le gout
et l’odeur / Et le toucher font des elus de vos devots, / Tabernacles et Saint des Saints de
l’impudeur.
216
capítulo 6 - fenômenos sexuais
217
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218
capítulo 6 - fenômenos sexuais
199 “Belle vertu! qu’on attaché sur soi avec des épingles!” – NT.
200 Havelock Ellis, Studies in the Psychology of Sex, vol. I, p. 82.
219
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Prostituição
Esse “medo do obsceno” anima a visão comum de que a
prostituição é inerentemente vergonhosa. Consideremos pri-
meiro a prostituição de mercado (para distingui-la da “prosti-
tuição sagrada” e da “prostituição de comando” – ver abaixo).
220
capítulo 6 - fenômenos sexuais
202 Georg Simmel, The Philosophy of Money, tr. T. Bottomore, D. Frisby e K. Maengelberg,
Londres, 1978, p. 376-7.
222
capítulo 6 - fenômenos sexuais
203 Bernardo de Quiros y Llanas Aguilaniedo, La Mala Vida en Madrid, Madri, 1901,
p. 204.
204 Nesse exame do ethos do consumismo, Jean Baudrillard tem pouco a dizer sobre a
prostituição, mas muito sobre o significado sexual das bonecas e a “fetichização” do
corpo, tornando-o “embonecado” e, portanto, sujeito ao processo de “simulação e
restituição”: La Société de consommation, Paris, 1970, p. 235 et seq.
223
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
205 A frase “economia moral” é usada por E. P. Thompson em “The Peculiarities of the
English” (em The Poverty of the Theory, Londres, 1978) para descrever os acordos que,
em seu entender, foram varridos pela Revolução Industrial e pela evacuação do campo.
206 Eu me refiro aqui aos tipos ideais de “comunismo primitivo”, “escravidão”, “feudalismo”,
“capitalismo”, “socialismo”, e “comunismo (total)” conforme descritos no Capital e em
outros lugares. Uso a expressão “tipo ideal” no sentido dado por Weber: ver a entrada
ideal type no meu Dictionary of Political Thought, Londres, 1982.
207 Pauline Réage, Histoire d’O, Sceaux, 1954.
224
capítulo 6 - fenômenos sexuais
225
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Enamoramento
Vou explorar mais elaboradamente o fenômeno do amor eró-
tico no Capítulo 8. Mas é novamente necessário antecipar obser-
vações posteriores se quisermos ter uma visão clara dos proble-
mas que se apresentam a nós. A característica mais intrigante do
amor erótico é que você pode se apaixonar e, além disso, com um
contato mínimo com o objeto, não mais do que Tamino teve ao
contemplar o retrato de Pamina. A imagem recorrente da “poção
do amor” expressa a convicção de que esse tipo de amor é uma
compulsão, que não é de forma alguma como a estima, e não
requer nenhum conhecimento do caráter do outro.
Para entender o “enamoramento” é preciso perceber que sua
intencionalidade é um caso especial de intencionalidade do dese-
jo. A pessoa que ama vê a personalidade de seu amado em todos
os seus atos e gestos, e fica, por assim dizer, encantada por eles.
A pessoa que se apaixona faz a assimilação inversa: ela vê gestos
e características que despertam seu desejo e, a fim de que o dese-
jo justifique o esforço a que instantaneamente se comprometeu,
imagina uma personalidade que se encaixe no que ela vê. Esta é a
“idealização” do objeto do desejo. Depois disso, tudo é descober-
ta e decepção, ou, se sua imaginação triunfar, a confirmação do
desejo inicial. Inicialmente, não há distinção entre amor e “pai-
xão”: a diferença é revelada quando o amante é submetido a um
“teste” – e é por isso que o amor verdadeiro exige um período
de namoro, e o amor de Tamino por Pamina deve ser submetido
à provação. A pessoa que se apaixona quer que o sorriso, as pa-
lavras, os atos do outro sejam “para ele”, que sejam feitos sem-
pre, em alguma medida, por causa dela. Ela sente, ao perceber
o outro, uma premonição do “lar”: do que é “meu por direito”.
Garibaldi descreve assim seu primeiro encontro com Anita:
Ficamos em silêncio e extasiados, olhando um para o outro, como
duas pessoas que não se vêem pela primeira vez, e que buscam nas
características do outro algo que ative a memória.
Enfim, eu a cumprimentei, e disse: “Você precisa ser minha”.
Eu falava pouco português, e pronunciei as ousadas palavras em
italiano. No entanto, fui magnético na minha insolência. Eu tinha
feito um nó que só a morte poderia desatar.209
226
capítulo 6 - fenômenos sexuais
227
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Ciúme
A dependência ontológica que se encontra no laço erótico é
agudamente exibida pelo mais misterioso dos fenômenos sexu-
ais: a condição do ciúme. A experiência do ciúme é uma expe-
riência de rejeição: não apenas a rejeição por outra pessoa, mas
a rejeição pelo mundo a que se tinha entrado ao juntar-se com
o outro. A vítima do ciúme encontrou uma divisão ontológica.
Ela deixou de pertencer ao mundo que a continha, e entrou em
uma espécie de pesadelo, presa de pensamentos horríveis e fan-
tasias de que não consegue se livrar. Dryden descreve o ciúme
como o “tirano da mente”, mas sua tirania não tem paralelo
real no mundo da política: é antes a tirania exercida pelo tenta-
dor sobre a mente de Santo Antônio. (Seu equivalente político
mais próximo, portanto, não é tirania, mas a inveja ardente do
inferior: que nada mais é do que uma tirania negativa.)
O ciúme começa na descoberta – a descoberta de um rival.
Logo após, a vítima cai, como o herói trágico, em um abismo
de sofrimento solitário. Ele só conhece uma consolação, que é a
descoberta inversa. Ele precisa descobrir que isso não é verdade.
Existem graus de ciúme. Em sua forma extrema (como o ciúme
de Otelo), pode tornar sua vítima irreconhecível para si mesmo
e para os outros. Na sua forma mais branda, permanece oculto,
como uma falha geológica que, não obstante, cede sob a menor
211 Georg Simmel, “Die Koketterie”, em Philosophiche Kultur, Gesammelte Essais, ed. J.
Habermas, Berlim, 1983 (original, Potsdam, 1923).
228
capítulo 6 - fenômenos sexuais
229
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
lar o passado, como Levin fez com Kitty quando lhe mostrou
seu diário (Anna Karenina, Parte IV, cap. 16), é presumir uma
tolerância rara no parceiro, e uma capacidade de suportar uma
dor terrível. (Deve-se dizer, no entanto, que existem diferenças
cruciais entre o ciúme sentido por homens e por mulheres. Vou
mostrar algumas dessas diferenças no Capítulo 9.)
Esta ascensão do desejo sexual nos pensamentos de ciúme
tem consequências importantes. Inclusive, através do ciúme, um
amante pode ficar repentinamente muito sensível à base física
de seu desejo. Milan Kundera, em A Valsa dos Adeuses, descre-
ve uma experiência familiar:
Ele tinha que olhar para o rosto de seu algoz, ele tinha que olhar
para o seu corpo, porque sua união com o corpo de Ruzena parecia
inimaginável e inacreditável. Ele tinha que olhar, como se seus olhos
pudessem dizer-lhe se os corpos deles eram de fato capazes de união.
231
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
232
capítulo 6 - fenômenos sexuais
214 “Je n’aurais pas voulu savoir seulement avec quelle femme elle avait passé cette nuit-là, mais
quel plaisir particulier cela lui representait, ce qui se passait à ce moment-là en elle” – NT.
215 La Fugitive, Pléiade ed., p. 545-6.
233
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Dom-juanismo
Vou terminar este capítulo com um breve exame de três va-
riantes importantes na intencionalidade do desejo, todas fa-
miliares: dom-juanismo, tristanismo (como vou chamá-la) e
sadomasoquismo. É necessário fazer um levantamento desses
234
capítulo 6 - fenômenos sexuais
217 Stendhal, De l’amour, livro II, cap. 59; Denis de Rougemont, Passion and Society, tr. M.
Belgion, ed. rev., Londres, 1956.
218 Søren Kierkegaard, “The Immediate Stages of the Erotic”, em Either/Or, tr. W. Lowrie,
Nova York, 1959, vol. I.
235
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
236
capítulo 6 - fenômenos sexuais
Tristanismo
O tristanismo é um dos mais intrigantes fenômenos sexu-
ais, e uma bela ilustração da catástrofe a que um ser racional
pode ser conduzido por sua racionalidade, e pelo conseqüente
compromisso a uma forma pessoal de união sexual. O amor de
Tristão por Isolda é implausível e obsessivo. Ele está preso pelas
garras de um feitiço que o liga a esta mulher e de que não pode
237
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
222 A expressão “objetivo correlativo” foi tirada de um ensaio de T. S. Elliot sobre Hamlet
(“Hamlet and his Problems”.), em The Sacred Wood, Londres, 1920.
238
capítulo 6 - fenômenos sexuais
239
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
240
capítulo 6 - fenômenos sexuais
224 Cf. a caracterização freudiana desse episódio feita por Pierre-Jean Jouve, Le Don Juan
de Mozart, Paris, 1952.
241
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Sadomasoquismo
Volto-me agora ao sadomasoquismo. A principal tarefa de
qualquer teoria do desejo deve ser explicar a presença no de-
sejo comum (ou seja, não pervertido) desses componentes que
foram descritos como “sadomasoquistas”. Devemos examinar
o sadomasoquismo como examinamos o dom-juanismo e o tris-
tanismo, com vista que mostre que partilha da intencionalidade
do desejo normal. Claro que, levados ao extremo, sadismo e
masoquismo podem destruir seu próprio conteúdo intencional,
e se tornarem pervertidos, à maneira da bestialidade. Mas o
comportamento que é pervertido somente quando levado ao
extremo não é, em si, pervertido. Quanto à forma pervertida de
sadomasoquismo, vou discutir isso com mais detalhes no Capí-
tulo 10.
Desde Krafft-Ebing, em sua célebre Psychopathia Sexualis, é
sugerido que o sadismo e o masoquismo estão intimamente re-
lacionados, tornando-se um lugar-comum adotar o termo “sa-
domasoquismo” para se referir a ambos os fenômenos. Houve
também uma tendência de procurar por algum instinto biológi-
co que os explicasse. Assim, Havelock Ellis, com sua erudição
característica, acumulou evidências dos rituais de “acasalamen-
to” de animais e do comportamento de corte dos povos primi-
tivos para sugerir que a origem do sadomasoquismo reside na
própria estrutura do impulso sexual.225 Para Ellis, o exemplo
paradigmático é a prática do “casamento por captura” – em
que uma mulher é perseguida por seus pretendentes e forçada a
ceder ao mais forte. Ele defende, com efeito, que tais “casamen-
tos” são parcialmente organizados pela “vítima” (como quando
a donzela quirguiz, armada com um chicote, foge a cavalo antes
de seus perseguidores). A garota, portanto, se submete apenas a
essa força que ela também deseja. A agressão do macho, e a sub-
missão da fêmea, aqui se combinam para cumprir um arquétipo
do encontro sexual: e a forma do arquétipo é o sadomasoquis-
242
capítulo 6 - fenômenos sexuais
243
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capítulo 6 - fenômenos sexuais
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250
CAPÍTULO 7
A CIÊNCIA DO SEXO
A biologia do sexo
Os homens são animais, e nenhuma de suas funções está
mais profundamente enraizada em sua natureza animal do que
a da reprodução sexual. É precisamente na experiência diária de
conduta sexual que a idéia de nossa “animalidade” aparece com
proeminência em nossos pensamentos. Nós podemos condenar
este ou aquele ato como “bestiais”, mas ao fazê-lo, geralmente
251
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
236 Montaigne, “Upon Some Verses of Virgil”, em Essays, tr. J. Florio, vol. 3, p. 192.
252
capítulo 7 - a ciência do sexo
237 G. W. Peckham, apud Havelock Ellis, Studies in the Psychology of Sex, 3ª ed., Filadélfia,
1923, vol. III, p. 35.
253
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
254
capítulo 7 - a ciência do sexo
Sociobiologia
A mais radical de todas as tentativas de ciência da conduta
sexual é a Sociobiologia, que, embora reconheça a existência de
fenômenos distintamente sociais, procura explicá-los em termos
evolutivos, mostrando sua relação funcional com a sobrevivên-
cia da espécie. Considere o ritual de acasalamento das aranhas,
239 Este é simplesmente um aspecto do que é por vezes conhecido como a teoria de “Quine-
Duhen”, que diz que observação e teoria são interdependentes; o que você observa só
é genuinamente observado quando a teoria garante essa observação. (Ver P. M. M.
Duhem, The Aim and Structure of Physical Theory, tr. P. P. Wiener, Princeton, 1954, e W.
V. Quine, Word and Object, Cambridge, Mass., 1975, p. 320.
255
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
240 Edward O. Wilson, Sociobiology, the New Synthesis, Cambridge, Mass., 1975, p. 320.
Um sumário legível das teorias sociobiológicas do sexo e da reprodução pode ser
encontrado em D. P. Barash, Sociobiology and Behaviour, 2ª ed., Londres, 1982, caps. 10
e 11.
256
capítulo 7 - a ciência do sexo
257
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
258
capítulo 7 - a ciência do sexo
259
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
tudo o que podemos concluir é que o que quer que exista, existe
porque não é disfuncional: porém, o que faz com que isso seja
verdade, que este tipo de comportamento exista, aqui e agora?
A teoria não tem resposta.
Além disso, a teoria não consegue tocar no que é mais intri-
gante no comportamento humano. No mundo da natureza não
-humana, eventos e processos raramente apresentam problemas
para a nossa compreensão que não sejam resolvidos pela ex-
plicação científica – uma explicação em termos de causas. Mas
o mundo humano é rico em fenômenos que não podem ser in-
teiramente compreendidos apenas ao explicá-los, porque eles
próprios são formas de entendimento. Considere a matemática
– uma prática social que sem dúvida tem sua explicação genéti-
ca. O entendimento matemático não poderia ser gerado através
da Sociobiologia da matemática. Certas práticas matemáticas
(por exemplo, a de derivar cinco da soma de dois e dois) são
de fato geneticamente disfuncionais, e devem, portanto, desa-
parecer na prensa da competição evolutiva. Mas esse fato não
lança nenhuma luz sobre a natureza da verdade matemática.
Ele não mostra o que entendemos quando entendemos que dois
mais dois é igual a quatro. A explicação evolutiva de nossos
hábitos matemáticos depende do nosso entendimento prévio de
que dois mais dois é igual a quatro, e, portanto, não os elu-
cidam. Podemos explicar por que devemos ter adquirido esse
entendimento matemático; mas a explicação não nos diz o que
adquirimos. Para entender isso, devemos nos voltar para a ló-
gica e os fundamentos da matemática, que estão preocupados
com razões, e não causas, e que tentam estabelecer um padrão
de validade independente das leis empíricas.
Claro, a conduta sexual não é o mesmo tipo de coisa que o
raciocínio matemático. Mas é como a matemática ao envolver
um tipo de entendimento que não pode ser reduzido à explica-
ção causal, e que não é, por conseguinte, necessariamente ele-
vado pela explicação causal de sua própria existência. Nossa
compreensão interpessoal pode ser afetada pelo nosso conheci-
mento da Sociobiologia. Mas isso é um fato peculiar, que não
decorre simplesmente da Sociobiologia explicar o que somos.
Mais amplamente, não devemos aceitar que o termo “so-
cial”, usado por vezes para descrever o comportamento coo-
260
capítulo 7 - a ciência do sexo
244 O sentido da diferença entre os dois padrões de atividade – o imposto por um programa
genético e o derivado dos atos criativos de cooperação racional – é responsável
pela distinção de Henri Bergson entre instinto e intelecto: Creative Evolution, tr. A.
Mitchell, Londres, 1911. Uma descrição impressionante dos complexos hábitos sociais
de abelhas foi apresentada por Karl von Frisch, The Dancing Bees, an Account of the
Life and Senses of the Honey Bee, tr. D. Ilse, Londres, 1954. O relato de Von Frisch
é discutido proveitosamente por Jonathan Bennett em Rationality, Londres, 1964.
Bennett mostra que a complexidade do comportamento das abelhas, apesar de notável,
não pode justificar sua descrição como uma linguagem; e sem linguagem não há nem
racionalidade, nem “cooperação” genuína, do tipo familiar no mundo humano.
É importante ressaltar que o comportamento dos animais superiores é diferente
dos insetos por exibir aprendizagem, e é, portanto, infinitamente adaptável para o
recebimento de novas informações. Os bergsonianos, que usam o termo “instinto” para
abranger tanto o comportamento dos insetos quanto certos tipos de comportamento
em animais superiores, ignoram esta distinção vital.
261
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
245 Esse termo, introduzido às ciências sociais por Dilthey, e adotado por Weber, tem
o propósito de apreender um ato intelectual familiar, mas elusivo, por meio do
que compreendemos o comportamento e pensamentos dos outros através de uma
identificação parcial com seu ponto de vista. Ver o verbete Verstehen em meu Dictionary
of Political Thought, Londres, 1982.
262
capítulo 7 - a ciência do sexo
246 Estou me referindo a Desmond Morris, The Naked Ape, A Zoologist’s Study of the
Human Animal, Londres, 1967, e também a Alex Comfort, Sex in Society, 1950, ed.
Revisada em 1963, Londres, em que uma descrição completamente revista do ato
sexual é apresentada para mostrar seus prazeres em termos apetitivos.
247 On Human Nature, p. 109.
263
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
264
capítulo 7 - a ciência do sexo
265
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250 A. Schopenhauer, The World as Will and Representation, tr. E. J. F. Payne, Indian Hills,
Colorado, 1958, vol. II, cap. 44, “The Metaphysics of Sexual Love.”
251 Ibid., p. 549.
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O inconsciente
A Sociobiologia oferece uma explicação para a “escuridão”
do desejo – para o fato de que eu estou preso por esta paixão
e conduzido por uma força que é mais forte do que eu, maior
do que eu, e de alguma forma misteriosa alheia a mim. Não é a
única explicação que foi dada para o fato de que o desejo sem-
pre parece exagerar o seu objetivo. Em O Banquete, Aristófanes
descreve a situação da seguinte forma:
Os parceiros não podem sequer dizer o que esperam um do
outro. Ninguém poderia imaginar que isto seja apenas uma relação
sexual, ou que só isso seria a razão pela qual cada um se alegra tão
avidamente na companhia do outro: obviamente, a alma de cada um
deseja algo mais que não pode expressar, e só revela o que deseja por
adivinhações ou obscuras insinuações.256
255 Neologismo cunhado por R. Wagner no seu Tristão e Isolda (Ato III). O prefixo “ur”
significa “antigo”, “original;” “vergessen” é um verbo que se traduz por “esquecer.”
“Esquecimento primitivo”, “desconhecimento primordial” e “desaparecimento” não são
traduções exatas, mas se aproximam da idéia que encerra o vocábulo – NT.
256 Platão, Banquete, 192c.
270
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257 Eduard von Hartmann, Phylosophy of the Unconscious, tr. W. C. Coupland, Londres,
1884, p. 223.
258 Ibid., p. 232.
259 Ibid., p. 238.
271
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260 Melanie Klein, Envy and Gratitude, a Study of Unconscious Sources, Londres, 1957;
Wilhelm Reich, The Function of the Orgasm, 1968, tr. V. R. Carfagno, Nova York, 1973,
Londres, 1983.
272
capítulo 7 - a ciência do sexo
261 O tipo exato de teoria por que esperava é matéria de disputa. Um candidato possível é
dado por Richard Wollheim, Sigmund Freud, Modern Masters, Londres e Nova York,
1971.
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262 Essa idéia funcionalista de mito é familiar aos escritos de Georges Sorel (especialmente
Réflexions sur la violence, Paris, 1908); sua aplicação à psicanálise parece estar implícita
na discussão de Wittgenstein em Lectures and Conversations on Aesthetics, Freud, and
Religious Belief, ed. C. Barret, Oxford, 1966.
263 “Three Essays on Sexuality” (1905), republicado pela Penguin Freud Library, vol. 7: On
Sexuality, ed. J. Strachey e A. Richards, Harmondsworth, 1977, p. 60.
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271 Sir Karl Popper, Conjectures and Refutations, Londres, 1963, cap. 1, p. 34-5; Ernest Nagel,
“Methodological Issues in Psychoanalytic Theory”, em S. Hook (ed.): Psychoanalysis,
Scientific Method, and Philosophy, Nova York, 1959, p. 38-56.
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Crítica: a libido
Parece-me que ambas as idéias centrais de Freud são incoe-
rentes. Devemos compreender a libido como instinto, que busca
a liberação da “tensão sexual” acumulada através de estímulos
sensoriais de alguma “zona erógena”, e ao mesmo tempo como
uma paixão, dirigida para um objeto, cujos objetivo e gratifica-
ção são inseparáveis da concepção do sujeito de si mesmo, do
outro e da relação que os une. (Pois de que outra forma a proi-
bição do incesto seria vista como uma proibição da “liberação
sexual” com a mãe?) Freud menciona a analogia com a fome –
mas ou ele nunca passou fome, ou então (como ele certa vez ad-
mitiu parcialmente), nunca esteve familiarizado com o desejo.
Eu posso querer me sentar para jantar apenas com aqueles cuja
companhia eu aprecio, e isso certamente dará uma característi-
ca moral importante para os meus hábitos alimentares, e uma
razão para me abster até o momento certo. Mas minha atitude
em relação ao meu amigo, e em relação ao meu bife, são duas
coisas completamente distintas. Eu não busco a companhia do
meu amigo por fome, ou o bife por amizade; nem o meu prazer
pela companhia de meu amigo contém, como componente, o
meu prazer pelo bife. Estas duas atitudes díspares nunca pode-
riam se combinar em uma só, uma vez que suas estruturas in-
tencionais não são congruentes. A amizade é fundada nos pen-
samentos e crenças sobre meu amigo, e se manifesta no desejo
pela sua companhia. É uma atitude interpessoal que visa funda-
mentalmente a reciprocidade, e em que os pensamentos do eu
e do outro são integrantes ao objetivo. Por outro lado, o desejo
pelo bife não precisa envolver nenhuma concepção especial do
eu ou do bife (de que outra forma os animais sentiriam fome?).
Não é interpessoal; nem está fundado em qualquer pensamen-
to além do “aqui, diante de mim, está a comida”. O apetite
acalmado pelo bife poderia ter sido igualmente satisfeito por
qualquer outro objeto relevantemente semelhante, e o prazer de
comê-lo está em sensações localizadas que podem ser experi-
mentadas sem pensar. É inconcebível que esta estrutura inten-
cional possa realmente ser incorporada dentro daquela outra
estrutura que descrevi como amizade – nem mesmo no caso
imaginário, descrito no Capítulo 4, quando nada pode ser co-
mido além dos amigos.
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279 Wilhelm Reich, The Function of the Orgasm; Norman O. Brown, Life Against Death,
Londres, 1959.
280 E. Chambard, Du somnambulisme, Paris, 1881. Ver a discussão em Havelock Ellis, “The
Doctrine of Erotogenic Zones”, Studies in the Psychology of Sex, vol. VII, Filadélfia,
1928, p. 111-20.
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287 Ibid., p. 130. É evidente que há uma distinção entre as sensações sentidas no olho e as
percepções sentidas pelo olho. Alguns filósofos dizem que a percepção não envolve,
e portanto não é uma forma de, sensação (e. g. D. M. Armstrong, Bodily Sensations,
Londres, 1962). Mesmo que discordemos disso, (ver, por exemplo, Christopher
Peacocke, Sense and Content, Oxford, 1983), devemos reconhecer que um prazer da
percepção é uma coisa radicalmente diferente de um prazer da sensação. Como T. de
Aquino persuasivamente defende, o primeiro pode incluir prazeres estéticos (prazeres
envolvidos no reconhecimento da beleza), enquanto o segundo não pode (Summa
Theologica, 1a, 2ae, 27, I) Vou discutir novamente esse ponto no Capítulo 8.
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A voz freudiana
Tal é o caráter dos escritos de Freud – sua capacidade de
proclamar absurdos especulativos no tom de voz apropriado à
ciência meticulosa – e muitos escritores se dispuseram a aceitar
sua palavra, a adotar suas certezas factícias como próprias, e a
supor que o mistério do desejo foi resolvido por sua redescrição
de prazeres infantis como se fossem a verdadeira base da ânsia
do adulto. Os leitores dos trabalhos de Freud são constante-
mente lembrados de que “a ciência tem demonstrado”, que “as
evidências provam conclusivamente”, que “não há mais sombra
de dúvida”; e àqueles que questionam é dito que eles estão “re-
sistindo” a uma verdade desconfortável. O charlatão curioso é
“o médico”, e esses “pacientes” que se dão a liberdade de duvi-
dar de seu diagnóstico são encarados com piedade ou irritação,
e só dão cada vez mais provas de sua perturbação.291 Há uma
recusa quase gramatical de hesitação; as “observações” são re-
latadas como se tratassem de questões publicamente observá-
veis e incontestáveis como
mudanças no clima ou migrações de
aves, enquanto sua linguagem é a da fantasia mais louca. O que
se segue não é atípico:
As catexias de objeto são abandonadas [na solução normal ao
complexo de Édipo] e substituídas pela identificação. A autoridade
do pai ou dos pais é introjetada no ego e forma o núcleo do superego,
291 Assim, entre os treze critérios básicos de “resistência” à análise, Madison (Freud’s
Concept of Repression and Defense, p. 69) lista os seguintes: “expressar uma oposição
intelectual à teoria da psicanálise com fundamentos científicos”; “experimentar
sensações desagradáveis durante a terapia”; e até “desenvolver um interesse teórico na
psicanálise e querer ser instruído na teoria pelo terapeuta”!
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295 É interessante notar que, para a psicanálise, todos esses sentimentos morais são, em
última instância, sistematicamente descartados. Em uma influente e farisaica exposição
de moralidade psicanalítica, J. C. Flugel escreve: “O que chamamos de ‘impedimento
racional’ por parte do indivíduo é (...) outro substituto para tabu.” (Man, Morals and
Society, 1945; Peregrine Edition, Harmondsworth, 1962, p. 163.).
293
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294
CAPÍTULO 8
AMOR
296 Andreas Capellanus, The Art of Courtly Loving, tr. e ed. J. J. Parry, Nova York, 1941,
p. 28.
297 Dante, Vita Nuova, cap. 2.
296
capítulo 8 - amor
298 Sobre esse tema, ver as exageradas teorias de Denis de Rougemont em Passion and
Society, tr. M. Belgion, edição revisada, Londres, 1956; e Comme toi-même, Paris, 1961,
tr. como The Myths of Love, por R. Howard, Londres, 1964.
297
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A questão de Platão
O que dá tanta força à questão de Platão? O amor implica
todo o ser do amante, e deseja todo o ser da pessoa amada. A
encarnação do amado pode ser um objeto crucial de interesse do
amante, mas o amor não pode ser satisfeito nem com a contem-
plação, nem com a posse dessa encarnação no ato de desejo. A
redescrição mística dos dois fenômenos oferece a maneira mais
fácil de uni-los – como quando o neoplatônico descreve o objeti-
298
capítulo 8 - amor
299 Essa idéia é enfatizada por Abravanel (Leone Ebreo), The Philosophy of Love (Dialoghi
d’amore), tr. F. Friedburg-Seeley e J. H. Barnes, introdução por C. Roth, Londres, 1937,
p. 41.
299
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300 D. Hume, Treatise of Human Nature, livro II, cap. 2, seção XI.
300
capítulo 8 - amor
301 Ibid.
301
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Níveis de amizade
Uma discussão sobre o amor erótico deve começar de uma
discussão sobre o amor. Mas “amor” é uma categoria incerta,
e uma sobre a qual teorias rivais da natureza humana, e mo-
ralidades rivais, apresentam suas reivindicações conflitantes.
302
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305
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Amizade e estima
Eu proponho aderir à linguagem kantiana, apesar da sua fal-
ta de clareza e apesar da necessidade de alterar a dicotomia
de Kant no sentido sugerido por Aristóteles. A razão é esta: a
teoria moral de Aristóteles está redigida em termos objetivistas,
de modo que, quando ele fala do amor ao amigo por sua virtu-
de, ele tem qualidades muito específicas – coragem, sabedoria,
justiça e assim por diante – em mente, e acredita não só que
estas são as virtudes, mas também que todo ser racional instin-
tivamente as percebe assim.307 Embora Aristóteles esteja certo
(ver Capítulo 11), é falacioso assumir tal coisa. Além disso, sua
distinção entre os tipos de amizade não requer sua moralidade
objetivista. É suficiente distinguir as atitudes de prazer e estima
a fim de fazer a distinção. E isso não envolve nenhum compro-
misso com qualquer teoria objetivista moral.
Além disso, embora a linguagem kantiana esteja associada a
uma teoria que, por confundir distinções importantes, freqüen-
temente ameaça danificar nosso assunto, ela nos alerta imedia-
tamente para um problema central na teoria do amor. O diver-
timento (uma atitude que pode ser vista como ilustrativa do
segundo nível de amizade) é uma atitude particular. A estima,
no entanto, é universal. Eu não posso estimá-lo sem basear a
minha atitude em alguma qualidade que seja o objeto universal
da minha estima. (Daí a visão de Kant que estima é uma espécie
de reverência pela lei moral.) Mas se for assim, pode parecer
que a estima é menos restritivamente focada em seu objeto do
que o divertimento, menos claramente apreciativa do indivíduo
em quem o seu olhar atualmente repousa. (Deve-se notar aqui
que o contraste entre a “universalidade” das atitudes morais e a
307 A busca por uma teoria objetivista da virtude é vista agora sob alguma suspeita, por
razões como as que são dadas por Bernard Williams em Morality, Londres, 1973,
p. 69-76.
306
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308 Ver S. Hampshire, “Logic and Appreciation”, em W. Elton (ed.), Aesthetics and Language,
Oxford, 1954.
309 I. Kant, Foundations of the Metaphisic of Morals, edição da Academia Prussiana, p. 399
et seq.
307
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310
capítulo 8 - amor
próprio destino. Suas razões não precisam ser razões para mim,
e sua autoimagem pode ser algo com que eu não consigo me
identificar.
Esta é a base real do contraste sentido entre as formas mais
e menos elevadas de amizade. Embora essa amizade mais eleva-
da esteja fundada na atitude universal da estima, com foco no
caráter do outro, ela se envolve intimamente com sua existência
individual como um ser autoconsciente. Vamos retornar breve-
mente à teoria da virtude de Aristóteles. Aristóteles afirmou que
a distinção real entre a virtude e o vício não é entre as ações,
mas entre os caracteres a partir dos quais as ações surgem. O
que admiramos no outro não é a ação (que poderia ser igual-
mente realizada por uma base ou motivo indiferente), mas a
virtude expressa nela. A virtude é uma disposição, caracteriza-
da por um motivo específico; virtudes e vícios são semelhan-
tes na medida em que, ao atuar a partir deles, agimos a partir
de, e revelamos a, nós mesmos. A marca distintiva da virtude é
que as ações feitas por motivações virtuosas são ações em que
o elemento racional não foi dominado; ele prevalece. Na ação
virtuosa, eu sou o criador do que é feito, mesmo que minha
motivação derive de minha existência encarnada e emocional,
e não por iniciativa de alguma lei moral kantiana. Assim, posso
ser dominado pelo medo, mas não pela coragem; pela raiva,
mas não pela justiça – e assim por diante. Somente o homem
vicioso é repetidamente dominado por suas paixões; o homem
virtuoso, ao contrário, exprime-se nelas e por elas, como exige a
razão. A idéia aristotélica de virtude, acredito, é a idéia de uma
disposição na qual a ação racional está em ascensão, e através
da qual é cumprida. (Isso se assemelha a visão de Kant, de que
minha estima por você se deve à liberdade “transcendental” re-
velada em sua razão prática.)
Se isso estiver certo (e vou elaborar melhor esse argumento
Capítulo 11), então a estima é mais verdadeiramente focada no
ser individual do que o gozo. Pois a estima procura o centro da
atividade, que é ao mesmo tempo o locus de sua responsabilida-
de e o sinal da sua perspectiva. E a sua virtude não é algo exter-
no ao seu próprio senso do que você é e do que você pretende.
Pelo contrário, é sua própria essência, a origem de todas essas
razões que você apresenta a si mesmo na determinação do valor
311
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312
capítulo 8 - amor
313
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A intencionalidade da amizade
Qual é o objetivo de amizade? Ou não tem nenhum objeti-
vo? Tenho defendido que a amizade contém duas correntes de
intencionalidade – a derivada do gozo e a derivada da estima.
Nenhuma dessas atitudes tem uma finalidade transcendente,
embora haja, talvez, um propósito “imanente” envolvido no
prazer. Na amizade, no entanto, há um objetivo – o de recipro-
cidade – que transforma essas atitudes em projetos duradouros.
O objetivo é novamente imanente: ele não pode ser especificado
sem fazer referência essencial ao objeto imediato de interesse,
o próprio amigo. Mas ele dota a amizade com um caráter mais
“proposital” do que podemos encontrar no gozo ou na estima.
Eu posso sofrer da completa ilusão transcendental que descrevi
como a consequência natural da estima, e conferir ao outro a
tarefa de redimir a contingência de minha existência. E ainda
assim eu posso não ser “amigo” dele. Assim, toda uma nação
pode sentir que seu destino está inseparavelmente ligado a um
redentor. As pessoas podem estar dispostas a morrer a seu co-
mando; elas podem sofrer por sua morte, e amargura por sua
314 A. Schopenhauer, O Mundo como Vontade e Representação, vol. I, livro 3, seção 51.
314
capítulo 8 - amor
Amor e amizade
Mas isso nos leva ao amor. Pois não é essa a descrição cor-
reta da afeição de Montaigne para Boétie? Montaigne mesmo
afirma que só pode haver um verdadeiro amigo, apoiando a sua
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O amor erótico
Tenho argumentado que a amizade por estima pode se tornar
amor: ao fazê-lo, adquire as características distintivas do amor:
o desejo de “estar com” o outro, sendo confortado por sua pre-
sença corporal, e a “comunhão de interesses” que corrói a dis-
tinção entre os meus interesses e os seus. O amor envolve uma
transição (como diria Martin Buber)316 do eu e ele para o eu e
tu. Duas consequências se seguem. Em primeiro lugar, apesar
de a amizade se desenvolver naturalmente em amor, ela não faz
isso inevitavelmente: portanto, pode haver amizade sem amor.
Em segundo lugar, o amor pode surgir de alguma outra forma.
Portanto, devemos levar a sério a possibilidade de que possa
haver amor sem amizade. O amor cresce não só de amizade,
mas também de companheirismo. Casamentos arranjados não
tem menos amor do que casamentos por paixão – na verdade,
fundados em uma aceitação do destino, eles são menos freqüen-
temente dilacerados pelo sonho de uma liberdade irreal. A co-
munhão que une marido e mulher em tal casamento pode unir
316 Martin Buber, I and Thou (1922), tr. R. G. Smith, Nova York, 1958.
318
capítulo 8 - amor
317 J. M. E. McTaggart, The Nature of Existence, Cambridge, 1927, vol. II, cap. 41, p. 151. Uma
análise parecida é feita por Max Scheler, The Nature of Sympathy, tr. P. Heath, Londres,
1954, p. 121: “Nada mostra melhor [que o objeto do amor é de uma “particularidade
não especificada”] do que a perplexidade extraordinária que vemos como consequência
de pedir às pessoas que deem ‘razões’ para o seu amor.” E cf. Montaigne, “Of Friendship”
(Essays, livro I, no. XXVII, tr. John Florio): “Se um homem me instar a dizer o porquê
de eu amá-lo, sinto que isso não possa ser dito, a não ser pela resposta: porque era ele,
e porque era eu mesmo.”
318 McTaggart, The Nature of Existence, p. 152.
319
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320
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319 S. Kierkegaard, Either/Or, tr. W. Lowrie, Nova York, 1959, vol. II, p. 46.
320 O vol. 1, ostensivamente preocupado com o estilo de vida “estético”, contém o pungente
“Diário de um Sedutor”, a que o vol. 2, preocupado com o estilo de vida “ético”, oferece
um tipo de resposta em uma análise tranquila e solene do casamento.
321
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321 F. Nietzsche, The Will to Power, tr. W. Kaufmann e R. J. Hollingdale, ed. W. Kaufman,
Nova York, 1967, no. 964.
322
capítulo 8 - amor
Tensões no amor
O amor erótico parece, portanto, desafiar as exigências da
razão unicamente para influenciar a razão para seu próprio
ponto de vista. (É por isso que McTaggart diz que o amor é “a
sua própria justificação”.) O amor “moralisa” seu objeto para
que esteja em conformidade com um ideal. Quando o objeto
não pode ser moralizado de acordo com o antigo ideal, o amor
favorece um novo ideal – até mesmo um invertido – a fim de
que seu objeto pode pareça digno de sua atenção. O amor traz
a estima em sua órbita, muitas vezes fazendo com que ela passe
por caminhos desconhecidos.
No amor à primeira vista, portanto, o outro é visto como
uma “presença moral total”. O desejo é experimentado como
uma exigência moral, e também como um direito moral, que
parecem preceder, na imaginação, o primeiro encontro. A ex-
periência é apreendida nas palavras de Florizel para Perdita, no
Conto do Inverno (IV. III):
O que fazes
Melhoras a cada vez. Quando falais (querida),
Gostaria que o fizésseis sempre: Quando cantais,
Gostaria que comprásseis e vendêsseis assim; ao dardes esmolas,
Ao rezardes, ao dirigirdes vossos negócios,
Que estivésseis sempre a cantar. Quando dançais, gostaria que
fosses
323
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
323 What you do / Still betters what is done. When you speake (Sweet) / I’ld have you do it
ever: When you sing, / I’ld have you buy, and sell so: so give Almes, / Pray so: and for
the ord’ring your Affayres / To sing them too. When you dance, I wish you / A wave o’th
Sea, that you might ever do / Nothing but that: move still, still so: / And owne no other
Function. Each your doing, / (So singular, in each particular) / Crownes what you are
doing, in the present deeds, / That all your Actes, are Queens.
324
capítulo 8 - amor
325
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
325 Stendhal, De l’amour, Paris, 1891, livro I, cap. 2: “il suffit de penser a une perfection pour
la voir dans ce qu’on aime.”
326 Defendi essa tese em detalhes em The Aesthetics of Architecture, Londres, 1979,
caps. 5-9.
326
capítulo 8 - amor
327 Defendi essa tese em detalhes em The Aesthetics of Architecture, Londres, 1979,
caps. 5-9.
327
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328 A quebra das linhas, expondo a rima interna, deve-se a Ezra Pound: ver Hugo Kenner
(ed.) The Translations of Ezra Pound, Londres, 1953, em que a canzone está impressa
em uma tradução adornada. Pound faz outra tradução, mais bela e pessoal, no Canto
XXXVI. [Egli è creato / e a sensato / nome / D’alma chostume / di chor voluntade / Vien
da veduta forma che s’intende / Che’l prende / nel possibile intelletto – NT].
329 Robert Solomon, Love: Emotion, Myth and Metaphor, Nova York, 1981, esp. p. 48.
330 Ibid., p. 5.
328
capítulo 8 - amor
Amor e indolência
O amor, em todas as suas formas, envolve um desejo pelo
bem do outro. Mas eu também estou implicado nesse bem;
identifico-me com ele, e ajo para garanti-lo, como se também
fosse o meu. Implícito neste motivo está o desejo primordial
de estar com você, aproveitando sua companhia, reconhecido
por você como parte do seu bem, como você é reconhecido por
mim como parte do meu. Por isso, meu projeto é intrinseca-
mente autolimitante. Meu desejo pelo seu bem é limitado pelo
meu desejo de estar com você, e por ser visto por você como
objeto de um amor igual. Esta é a variante dupla, por assim
dizer, de uma autolimitação que existe dentro de meus próprios
projetos egoístas. Todos esses projetos são limitados pelo que
La Rochefoucauld chamou de “la paresse” – pelo desejo de não
ser perturbado e de estar à vontade comigo mesmo, possuindo
e possuído por mim mesmo, de acordo com as condições co-
nhecidas e existentes. O amor só é inteligível pela suposição de
que ele também tem um estado de “descanso”: um “estar com”
indisputado, em que eu sei que você sabe que eu sei que você
331 Expressão atribuída a Benjamin Franklin, que pode ser traduzida, grosso modo, por
“homem que se fez por conta própria” – NT.
329
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
sabe que nenhum de nós espera do outro mais do que ele pode
dar de bom grado.
O amor é, portanto, essencialmente “interessado”, e mais do
que nunca quando é desinteressado. Se surgir um conflito entre
o seu bem e o nosso companheirismo, eu posso sacrificar o se-
gundo em prol do primeiro apenas renunciando ao ponto de re-
pouso que dá sentido à nossa união. Na autodefesa – que neste
caso significa a defesa da nossa autoconstrução compartilhada
– posso destruir o seu bem. Eu posso lutar contra sua carreira,
suas amizades, sua atividade – tudo, enfim, que lhe dá a chance
de viver feliz sem mim. (Isto é o que Blake quer dizer com o
amor “alegra-se quando é o outro prejudicado”.332)
Assim, como já vimos, eu posso me alegrar com suas falhas,
uma vez que podem ser o sinal de sua dependência. Ao mesmo
tempo, estas falhas devem ser toleráveis para mim. Eu posso fi-
car satisfeito que outros as achem desconcertantes; mas mesmo
no amor erótico eu devo ser capaz de considerá-las não como
grandes falhas morais, mas como pontos fracos, e como quali-
dades que valorizem você para mim. Pois eu preciso ser capaz
de aceitar suas fraquezas como parte do meu raciocínio prático.
Eu posso dar subsídios para a sua preguiça, seu egoísmo, sua
falta de refinamentos essenciais. Pois estas falhas não o colocam
fora do raciocínio com que conduzo minha vida. Mas posso dar
subsídios para a sua covardia, sua maldade, seu caráter, diga-
mos, sendo um assassino ou estuprador?
A resposta é certamente “não”. Mas é um “não” qualificado.
Se eu não posso perdoar o seu vício, então ele deve inevita-
velmente corroer meu amor por você, uma vez que apresenta
cálculos que não podem entrar no meu raciocínio como entram
no seu. (Aquele que ama livremente e felizmente um criminoso
é sempre capaz de ser ele mesmo um cúmplice no crime.) Se isso
não parece ser assim, é por causa da tensão que está contida
dentro do projeto do amor. Meu desejo de estar com você pode
ter se formado hábitos e vínculos que são muito resistentes para
ser facilmente quebrados. No caso do amor erótico e filial, a
relação sempre tem esse caráter inevitável. Em tais casos, o con-
flito entre amor e estima – ou melhor, entre a necessidade de
330
capítulo 8 - amor
O curso do amor
No Capítulo 4, afirmei que a intencionalidade do desejo se-
xual, como a intencionalidade de qualquer outra atitude social,
envolve várias fases distintas de desenvolvimento, ou “momen-
tos”, para usar o termo hegeliano. O objetivo inicial – união
sexual – deve ser definido em função do “o curso do desejo”.
O projeto posterior que emerge deste objetivo – a intimidade
sexual – é um dos quais dei uma descrição implícita. Mas eu
disse pouco sobre a realização do desejo: sobre a condição que
responde ao desejo, como a vingança e a raiva respondem ao
arrependimento. Eu sugeri, no entanto, que este “momento” da
intencionalidade deveria ser descrito em termos normativos. Ao
delinear a realização de um estado de espírito, recomenda-se
um projeto de longo prazo que vai resolver as tensões e satis-
fazer os desejos e necessidades auxiliares surgidos na expressão
da estrutura intencional básica. É evidente que eu já comecei a
331
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
333 “Smiles from reason flow, and are of love the food” – NT.
334 O papa João Paulo II falou sobre a nupcialidade do corpo humano (Love and
Responsability, 1960, tr. H. J. Willetts, Londres, 1981) Suas palavras têm origem em
Max Scheler, apesar de não ter encontrado a passagem específica.
332
capítulo 8 - amor
335 As I hope
For quiet days, faire issue, and long life,
With such love as ‘tis now, the murkiest den,
The most opportune place, the strongest suggestion
Our worser Genius can, shall never melt
Mine honor into lust – NT.
333
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
334
capítulo 8 - amor
335
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
337 Ver Virgil C. Aldrich, Philosophy of Art, Englewood Cliffs, 1963, cap. I.
338 Ver a crítica devastadora da literatura de educação sexual, e de sua ideologia anti-amor,
em Thomas Szasz, Sex: Facts, Frauds and Folies, Oxford, 1981.
336
capítulo 8 - amor
Deus sabe que nunca procurei nada em você, exceto você mesmo;
eu queria simplesmente você, e nada seu. Não pretendi a nenhum
vínculo nupcial, nenhuma parte do casamento, e não eram meus
próprios prazeres e desejos que procurei satisfazer, como você bem
sabe, mas os seus. O título de esposa pode parecer mais sagrado ou
solene, mas mais doce para mim será sempre a palavra amante, ou,
se você me permitir, concubina ou prostituta.339
339 The Letters of Héloise and Abelard, ed. e tr. Betty Radice, Harmondsworth, 1974, p. 113.
340 Not Caesar’s empress would I deign to prove;
No, make me mistress of the man I love;
If there be yet another name more free,
More fond, than mistress, make me that to thee!
Oh happy state! when souls each other draw,
When love is liberty, and nature, law:
All then is full, possessing, and possess’d,
No craving void left aking in the breast:
Ev’n thought meets tought, ere from the lips it part,
And each warm wish springs mutual from the heart.
This sure is bliss (if bliss on earth there be)
And once the lot of Abelard and me – NT.
337
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
338
capítulo 8 - amor
342 Eu discuto essa questão em Art and Imagination, Londres, 1974, cap. 9.
343 Abravanel, The Philosophy of Love, p. 53.
339
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
340
capítulo 8 - amor
341
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
342
capítulo 8 - amor
Beleza
Duas características do amor erótico o distinguem da ami-
zade: a sensação de compulsão, e o foco absoluto na natureza
física do outro. Ambas essas características contribuem para o
desejo, e ambas são, por sua vez, modificadas pelo “curso do
amor” – pelo projeto de autoconstrução. Os componentes do
amor erótico estão em tão íntima relação um com o outro que
os atributos físicos do outro são “moralizados” no próprio ato
de percebê-lo. E a compulsão do desejo também é moraliza-
da; eu sinto isso como um movimento de simpatia para com o
amigo cujo calor eventualmente acabará por me consolar. La
Rochefoucauld tem uma máxima cínica, que não há nenhuma
mulher cujo mérito sobrevive à sua beleza. Seu ponto não é que
o mérito de uma mulher consiste em sua beleza, mas sim que ele
persiste apenas enquanto outros se dão ao trabalho de obrigá-la
a exibi-lo, e que eles só vão fazer isso enquanto puderem ver seu
mérito em seu semblante.
É um hábito universal empregar a idéia de beleza para des-
crever essa confluência intrincada de atrações. Será que este uso
do termo envolve um emprego do mesmo conceito que está en-
volvido na avaliação da arte? Vale a pena dizer alguma coisa em
resposta a essa pergunta. É necessário rejeitar todas as tentati-
vas de uma análise “realista” do belo – uma análise que utilize
o adjetivo “belo” para denotar uma propriedade do objeto que
é corretamente assim descrito. Nenhuma análise assim poderia
348 Theodor Reik, Of Love and Lust, Nova York, 1957, cap. 1.
343
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
349 Tentei defender essa afirmação em Art and Imagination, partes I e II.
344
capítulo 8 - amor
345
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Novos problemas
Tudo o que eu disse a respeito do “curso do desejo” e do
“curso do amor” depende de uma idéia de normalidade. Eu des-
crevi uma norma de conduta humana e, naturalmente, alguém
dirá que não tenho direito a esse conceito de “normalidade” –
mesmo que eu tenha me comprometido a um modo de pensar
que, nestes tempos iluminados, é moralmente inaceitável. Devo,
portanto, tentar justificar a idéia de normalidade sexual, e dar
uma base filosófica genuína a um conceito que eu acredito que
não podemos evitar em nossa compreensão diária de conduta
sexual – o conceito de perversão. Vou me dedicar a este tópico
no Capítulo 10.
Mas há outro problema mais urgente e que agora deve ser
confrontado. Pode admitir-se que, ao vincular o desejo sexual e
o amor erótico, eu resolvi o problema de Platão. Mas só através
da criação de outro problema, igualmente grave, sobre a natu-
reza do próprio sexo. Eu situei o desejo tão firmemente no reino
do interpessoal para fechar a lacuna entre desejo e amor. Mas,
ao fazer isso, eu abri outra lacuna, entre desejo e sexo, entre o
projeto da união sexual e o ato progenitor. O que o sexo tem a
ver com a intencionalidade do desejo na minha análise? Eu fiz
do desejo uma parte do amor, apenas por descrevê-lo em termos
que fazem pouca ou nenhuma referência ao impulso procriador.
Por isso, talvez o que Platão quis dizer ainda pode estar correto.
Ainda é um problema, entender como a nossa natureza como
seres sexuais – com impulsos, sensações e equipamentos sexuais
– entra no funcionamento do desejo. Só se entendermos que é
possível, finalmente, fechar a lacuna entre o mundo “espiritual”
das atitudes interpessoais e o mundo “animal” do organismo
humano: a lacuna entre o eu e o corpo. É para este problema
que vamos nos voltar.
346
CAPÍTULO 9
SEXO E GÊNERO
350 Ver G. E. M. Anscombe, “Contraception and Chastity”, em The Human World, vol. II
(1972).
347
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Sexo e gênero
Conduzi toda a discussão até este ponto sem mencionar expli-
citamente o sexo – ou seja, o fato da diferenciação sexual. O lei-
tor pode razoavelmente se perguntar o que o sexo tem a ver com
a atitude interpessoal que estou descrevendo. É claro, o desejo se-
xual não ocorre apenas entre pessoas de sexo diferente: uma aná-
lise do desejo sexual que não poderia ser estendida à homossexu-
alidade seria ridícula em si e também totalmente ineficaz como
base para um julgamento moral coerente. É certamente uma das
questões vitais da moralidade sexual: se a relação homossexual
é moralmente distinguível da heterossexual. Se a primeira não
for uma expressão do desejo, será difícil ver em que termos essa
questão pode ser colocada, para não dizer respondida.
348
capítulo 9 - sexo e gênero
349
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
351 Otto Weininger, Sex and Character, English edition, Londres, 1903, p. 65.
350
capítulo 9 - sexo e gênero
351
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Construção de gênero
O gênero denota, no meu uso, uma classificação intencional:
uma ordem provocada na realidade pela nossa maneira de ver
e responder a ela. Mas neste caso, também somos o objeto de
nossa classificação, e temos um grande interesse nos fatos que
registra. Por conseguinte, a existência da classificação muda a
coisa descrita: nós adaptamos a realidade à nossa percepção,
justificando, assim, o entendimento intencional expresso nela.
O fenômeno percebido através do conceito de gênero é tam-
bém, em certa medida, o produto desse conceito.
O termo “gênero”, portanto, beira a ambiguidade – ou, pelo
menos, tem dois níveis semânticos. Ele expressa o conceito que
informa nossa compreensão intencional de sexo; ele também
denota o artefato que construímos em resposta a esse entendi-
mento, e pelo qual enfeitamos, exageramos ou escondemos nos-
sa natureza sexual. Nesse caso, parodiando Frege, o sentido não
se limita a determinar a referência; ele também a modifica. No
que se segue, portanto, usarei o termo “gênero” para designar
tanto uma maneira de perceber as coisas quanto uma caracte-
rística artificial particular da coisa percebida (sua “construção
de gênero”).
Existem outros conceitos que pertencem à nossa compreen-
são intencional que tem o efeito de mudar a realidade à qual
eles são aplicados. Um desses é o conceito de pessoa. Ao ver-nos
352
capítulo 9 - sexo e gênero
Feminismo kantiano
No decorrer da discussão, vou me opor expressamente à
imagem filosófica por trás das causas consideradas acima. Vou
descrever esta imagem na sua forma mais clara, como a teoria
do gênero do “feminismo kantiano”. De acordo com esta teo-
ria, o que eu sou realmente e fundamentalmente, para mim e
para outros, é uma pessoa. Minha natureza enquanto pessoa es-
tabelece, completa e exclusivamente, todas as minhas reivindi-
cações para ser tratado com consideração, e é a verdadeira base
de toda reação interpessoal em relação a mim. Embora eu seja
encarnado, ser assim é, por assim dizer, o instrumento da mi-
nha “realização” no mundo público da emoção pessoal. Minha
personalidade é distinta da sua forma corporal, e é o verdadeiro
locus dos meus direitos, meus privilégios, meus valores, minhas
escolhas e – usando o termo kantiano – minha “liberdade”. Ca-
racterísticas do meu corpo, que distinguem o meu corpo do seu,
não podem dar motivos razoáveis para qualquer julgamento a
respeito da minha natureza enquanto pessoa. Se eu sou aleija-
do, ou negro, ou bonito, sou tanto pessoa quanto você, que é
“saudável”, branco e feio. A categoria “pessoa” é uma unidade:
há apenas um tipo de coisa que cai sob ela, e as distinções entre
as pessoas são simplesmente distinções entre propriedades pes-
soais acidentais – distinções expressas e reveladas em escolhas
livres. Não há distinção real entre o masculino e o feminino, ex-
ceto na medida em que a liberdade humana foi dobrada em cer-
tas direções, por quaisquer pressões sociais, de modo a ter duas
formas contrastantes. As distinções de gênero não podem estar
na natureza das coisas. Pois, apesar de poder haver dois tipos
de corpos humanos o masculino e o feminino, não pode haver
dois tipos correspondentes de pessoa humana. Isso significaria
atribuir essas distinções corporais à “liberdade” das pessoas que
dividem, assim como o racista atribui a cor da pele ou a raça do
outro à sua responsabilidade. Embora o negro escravizado vista
o caráter induzido por sua escravidão, ele é, em si mesmo, algo
353
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
354 Simone de Beauvoir, Le Deuxième Sexe, Paris, 1949, tr. Como The Second Sex por H. M.
Parshley, Londres, 1953:
Agora, o que sinaliza peculiarmente a situação da mulher é que ela – um ser livre e
autônomo como todas as criaturas humanas – encontra-se, no entanto, vivendo em
um mundo onde os homens a obrigam a assumir o estado do Outro. Eles propõem
estabilizá-la como objeto e condená-la à imanência, já que sua transcendência deve
ser ofuscada e para sempre transcendida por outro ego (consciência) que é essencial
e soberano. O drama da mulher está nesse conflito entre as aspirações fundamentais
de todo sujeito (ego) – que sempre considera o eu essencial – e as compulsões de uma
situação em que ela é o não-essencial. [Penguin edn, p. 29]
354
capítulo 9 - sexo e gênero
O papel do gênero
O feminista afirma que conceitos de gênero não têm validade
fora das atitudes que servem para transmitir. Não há nenhum
fato material sobre gênero, apenas distinções de atitude que po-
dem ser redesenhadas a qualquer momento. Colocando de ou-
tra forma: a idéia de gênero é puramente intencional; ela não se
envolve nem com a distinção material entre os sexos, nem tem
qualquer finalidade explicativa que nos levaria a atribuir uma
realidade independente para a divisão que ela registra.
Isso seria plausível apenas se a profunda divisão entre ho-
mem e mulher (a divisão de tipo natural) fosse de tal ordem
que não interferisse em nosso entendimento intencional. Assu-
mir que não interfere é, no entanto, falacioso. Os antifeministas
afirmam que a distinção entre homem e mulher determina res-
postas distintas aos dois tipos naturais, e que nós empregamos
conceitos de gênero para concentrar essas respostas nas caracte-
rísticas relevantes de seus objetos. Para o feminista, a distinção
355
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Homem e mulher
É amplamente reconhecido que a distinção biológica entre
os sexos não é tão absoluta na realidade como tende a ser em
nossos pensamentos. Enquanto sexualidade não é exatamente
356
capítulo 9 - sexo e gênero
355 Algumas das evidências para essa afirmação – ardentemente discutida, por exemplo,
por Anne Oakley em Sex, Gender and Society, Londres, 1972 – estão reunidas em Sex
and the Brain, Londres, 1983, por Jo Durden-Smith e Diane de Simone. As autoras
chamam atenção para a extrema censura, e para a mania quase universal de censura,
exercida pelas feministas a fatos cientificamente estabelecidos.
357
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
358
capítulo 9 - sexo e gênero
356 “De la puberté”, 1749, em L’Histoire naturelle (seleções, ed. J. Varloot, Paris, 1984, p. 87).
359
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
360
capítulo 9 - sexo e gênero
Encarnação
Neste ponto, o leitor pode razoavelmente objetar que não
estou reconhecendo uma de minhas próprias premissas per-
sistentemente reafirmada: que o intencional e o material são
conceitualmente distintos, e que o primeiro é determinado, na
melhor das hipóteses, apenas por nossa concepção do segundo.
Por que a nossa concepção de gênero não pode tomar qualquer
forma exigida pelo nosso entendimento moral, sem levar em
conta a verdade científica relativa à diferenciação sexual? Pois,
afinal, essa “verdade” é uma “descoberta” relativamente recen-
te – talvez até mesmo uma invenção recente – e está mais para
um pedido de desculpas cientificista por uma ideologia velha do
que para uma base científica de uma nova.
361
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Embora haja algum vigor nessa objeção, já sugeri que ela não
consegue ser totalmente convincente. Nossas concepções de gê-
nero são permeáveis às nossas concepções de sexo, e os fatos do
sexo são suficientemente importantes, e suficientemente vívidos,
para causar um impacto indelével na nossa experiência. Reco-
nhecemos a divisão biológica entre homem e mulher, e é ressur-
gente em nossas percepções. Mas também reconhecemos outras
distinções, não tão obviamente biológicas, que percebemos em
conjunto com a realidade biológica. É uma parte integrante da
experiência do desejo sexual que consideramos o sujeito como
oprimido, naquele momento, pelo seu sexo. É esta condição
corporal que vem para a superfície, e que toma o comando.
E, neste momento, tudo o que está associado a sua existência
como um ser sexual – desde seu tom de voz ao seu papel social
– é recolhido em sua sexualidade e faz parte dela. O gênero é
um prelúdio social sofisticado; quando a cortina sobe, o que é
revelado não é o gênero, mas o sexo.
Não há dúvida de que nós nunca somos tão revelados como
animais do que no ato sexual. A realidade física do corpo é
exposta neste ato, e se torna objeto de exploração e curiosida-
de. Precisamente as partes que distinguem os sexos assumem o
significado mais esmagador. Nossa percepção da base animal
da nossa existência é, portanto, trespassada pelo nosso conheci-
mento da diferenciação sexual. Todas as nossas tentativas para
elaborar ou diminuir a distinção, para dar-lhe identidade social
e moral, para resgatá-la do estigma do “meramente animal”,
acabam confirmando o fato derradeiro – que nossa natureza
como animais encarnados é revelada precisamente na fisiologia
que nos divide. Na rendição final ao desejo, nós experimenta-
mos nossa natureza encarnada; nós sabemos, então, a “verda-
de” do gênero: que, como criaturas encarnadas, somos insepa-
ráveis do nosso sexo.
A experiência da encarnação no desejo sexual é, então, uma
das respostas radicais que são focadas pelo nosso conceito de
gênero. O que acontece no ato sexual impõe sobre nós um sen-
tido de nossa “identidade de gênero”, enquanto nos obriga
a experimentar a encarnação do gênero no sexo. Ao mesmo
tempo, muito pouco da distinção de gênero observada poderia
ser explicada por “referência retroativa” ao ato sexual. Nossa
362
capítulo 9 - sexo e gênero
359 Margaret Mead, Male and Female, Nova York, 1950; Harmondsworth, 1962, p. 30-1.
363
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
364
capítulo 9 - sexo e gênero
363 Margaret Mead, Coming of Age in Samoa, Nova York, 1927. As descobertas de Margaret
Mead foram vigorosamente, senão cruelmente, questionadas por Derek Freeman,
Margaret Mead and Samoa, Cambridge, Mass., 1983.
365
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
366
capítulo 9 - sexo e gênero
367 G. W. F. Hegel, The Phenomenology of Spirit (1807), ed. J. Hoffmeister, Hamburg, 1952,
seção 475 (tradução minha).
367
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368
capítulo 9 - sexo e gênero
369
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370
capítulo 9 - sexo e gênero
371
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Tipos pessoais
O resultado da construção de gênero é que percebemos o
Lebenswelt como sujeito a uma grande divisão ontológica. Não
só existe uma distinção intencional entre pessoa e coisa, há
outra entre o masculino e o feminino, que é inicialmente uma
distinção entre pessoas. Mas esta segunda divisão ontológica,
enquanto ele extrai seu sentido de nossa compreensão das pes-
soas, não se limita à esfera pessoal. Pelo contrário, alcança toda
a natureza, apresentando-nos com um masculino e um femini-
no em tudo. Um salgueiro, uma coluna coríntia, um noturno
de Chopin, uma torre gótica – em todos eles pode-se receber
a intimação corporificada da feminilidade, e alguém que não
consiga entender essa possibilidade é alguém com percepções
empobrecidas. Assim, o mundo intencional reflete de volta para
nós a divisão ontológica que exemplificamos. Nós absorvemos
e reabsorvemos as idéias do masculino e do feminino, como
conteúdos intencionais, já impressas com a marca da sexualida-
de humana e do desejo humano. O gênero torna-se, assim, uma
característica inevitável do nosso mundo, não menos real por
ser de nossa própria criação.
Embora o gênero seja um artefato, é também, em outro sen-
tido, uma característica tão natural do Lebenswelt como a pró-
pria pessoa humana. Nenhuma pessoa pode facilmente se abs-
ter de pensar em si mesmo como “de” um determinado sexo, e
de racionalizar esse pensamento em uma concepção de gênero.
A experiência de encarnação sexual, que compromete e desvia
tanto os nossos projetos, obriga-nos a ter consciência do nosso
sexo como um canal através do qual fluem vontade e consciên-
cia. O gênero é o conceito segundo o qual o sexo entra na nossa
vida, dando uma forma persistente e fundamentada a projetos
372
capítulo 9 - sexo e gênero
371 A questão da relação entre sexo e gênero foi utilmente discutida no julgamento de
Ormrod J. em Corbet v. Corbet [1970] 2 All E. R. I, 33-51, o caso de divórcio precipitado
pela decisão de April Ashley de se “tornar” a mulher que já se sentia ser. Como o
juiz aponta, a distinção é de considerável importância legal, já que muitas questões
adjudicáveis exigiam que os gêneros das partes fosse determinado, diferente do sexo.
(Passaportes, por exemplo, devem ser claros a respeito do gênero.) Ver também as
torturas sentimentais de Jan Morris em Conundrum, Londres, 1974.
372 Ver, genericamente, Robert Gray e Bruce McEwen, Sexual Differentiation of the
Brain, Cambridge, Mass., 1980, e, particularmente, John Money e Mark Schwartz,
“Biological Determinants of Gender Identity Differentiation and Development”, em J.
B. Hutchinson (ed.), Biological Determinants of Sexual Behaviour, Nova York, 1978.
373
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
374
capítulo 9 - sexo e gênero
podemos falar de uma “essência real” que une tudo o que está
incluído por eles? Nesse caso, qual é o conteúdo da nossa cren-
ça de que homens e mulheres são dois tipos de pessoa?
Superficialmente, essa pergunta é fácil de responder. Nós só
temos que nos referir à analogia com qualidades secundárias.
A distinção entre vermelho e verde é uma distinção objetiva,
mesmo que seja, nas palavras de Colin McGinn, “subjetiva-
mente constituída”.374 É a natureza dos objetos em si que nos
leva a perceber alguns como vermelhos e alguns como verdes. A
distinção entre os objetos da experiência é aqui tão real como
a distinção entre as experiências. Estabelecer uma “distinção
real” de gênero, portanto, seria suficiente para mostrar que a
nossa experiência das pessoas contém o gênero como parte de
seu conteúdo.
Mas a questão tem outro componente menos superficial, um
que levou à referência a uma “essência real” de cada tipo pes-
soal. O feminista kantiano pode aceitar que as distinções de
gênero são inevitáveis – ou pelo menos escapáveis somente a
um custo intolerável – e afirmar que também são inerentemente
triviais. Tais distinções não tocam de forma alguma na realida-
de moral das próprias pessoas. Certamente não existe tal coi-
sa como uma “essência real” dos homens,
distinta da “essência
real” das mulheres, sendo que os termos “homem” e “mulher”
designam dois tipos de pessoa.
Mas aqui encontramos o que é talvez a mais séria objeção
ao feminismo kantiano, que, precisamente no sentido em que o
gênero é um artefato, também o é a pessoa humana. É inevitável
que os seres humanos, em condições sociais, se desenvolvam em
pessoas, e sejam descritos uns pelos outros em termos pessoais.
Por isso, todos os seres humanos devem possuir um conceito da
pessoa. As concepções da pessoa, no entanto, variam de cultu-
ra para cultura e de tribo para tribo. Da mesma forma, todos
os seres humanos em condições sociais inevitavelmente se de-
senvolvem em homens e mulheres, e descrevem uns aos outros
por meio dessas categorias. Por isso, todos os seres humanos
possuem um conceito de gênero. Mas as concepções de gênero
variam de lugar para lugar e de tempos em tempos. E é plausível
375
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
376
capítulo 9 - sexo e gênero
378
capítulo 9 - sexo e gênero
Beleza e gênero
Vale a pena voltarmos neste momento para a discussão da
beleza. Quase tudo no mundo pertence a algum tipo, cujos mo-
delos parecem bonitos para nós. Há belas canetas, cavalos, pe-
dras, nuvens, casas, demonstrações e sons. Há também belos
caracteres e almas – ou seja, pessoas cujos atributos morais não
apenas elogiamos, mas também contemplamos com emoção
agradável. Isto levanta a questão de saber se “belo” é um adjeti-
vo “atributivo”375 no sentido dado por Geach. A proposição de
375 P. T. Geach, “Good and Evil”, em P. Foot (ed.), Theories of Ethics, Oxford, 1967.
379
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
380
capítulo 9 - sexo e gênero
381
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Homossexualidade e gênero
Todas as características de nossa percepção sexual a que me
referi neste capítulo, da crua distinção de tipos biológicos ao
ponto alto da contemplação estética, servem para enfatizar não
só a distinção entre os sexos, mas também a alteridade do ou-
tro sexo e a familiaridade do próprio. O feminismo kantiano
tende a assumir – com Simone de Beauvoir – que apenas um
sexo percebe o outro em termos de sua “alteridade”.377 Naquela
mesma observação, no entanto, é revelado o reconhecimento
secreto de que o homem é tanto o “outro” para a mulher como
a mulher é o “outro” para o homem. O homem é o “outro” cuja
alteridade reside em sua “criação” da alteridade da mulher. Se
o feminismo kantiano estivesse certo, seria impossível pensar
em homens, como uma classe, envolvidos nesta supostamente
falsa representação e na sua ação opressiva associada. Apenas
pessoas individuais – que por acaso são do sexo masculino –
podem ser responsáveis por tal crime. Mas, por hipótese, a sua
masculinidade, não sendo uma característica de sua personali-
dade, não teria nenhum papel a desempenhar na sua respon-
sabilidade. Nesse caso, nunca poderíamos dizer que a divisão
do mundo em gêneros, e a construção de um mito do “outro”
382
capítulo 9 - sexo e gênero
383
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
384
capítulo 9 - sexo e gênero
385
CAPÍTULO 10
PERVERSÃO
380 Ver “Three Essays on Sexuality” (1905), reimpresso na Penguin Freud Library, vol. 7:
On Sexuality, ed. J. Strachey e A. Richards, Harmondsworth, 1977, especialmente o
no 1, “The Sexual Abberations.”
387
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388
capítulo 10 - perversão
389
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382 Rémy de Gourmont, The Natural Philosophy of Love, tr. Ezra Pound, Londre, 1926, nova
edição, 1957, p. 91-2 (originalmente Essai sur l’ instinct sexuel, Paris, 1904). Recentes
pesquisas sugerem que essa característica particular dos hábitos de acasalamento do
louva-a-deus não é natural, mas um resultado da observação de entomólogos lascivos.
390
capítulo 10 - perversão
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capítulo 10 - perversão
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desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Bestialidade
A menos que vítima de delírios, a pessoa que copula com
um animal está consciente, em primeiro lugar, que este ato não
pode ter, para o animal, a importância que tem para ela, e, em
segundo lugar, que o animal não pode fazer nenhuma exigência
moral dele, não pode sentir nem vergonha nem constrangimen-
396
capítulo 10 - perversão
397
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
390 Féré faz uma análise interessante do que ele chama de “zoofilia”, o amor pelos animais
que, embora não uma perversão em si, pode preceder o desenvolvimento do desejo
bestial. A implicação é que, nesse caso, o desejo surge do amor (C. Féré, Evolution
and Dissolution of the Sexual Instinct, 2ª ed., Paris, 1904, p. 181). Essa implicação
também aparece em J. R. Ackerley, My Dog Tulip, Londres, 1956. Mas, como Ackerley
deixa claro, o desejo só foi possível porque o cão é inteiramente percebido em termos
pessoais.
398
capítulo 10 - perversão
Necrofilia
Pode-se aplicar exatamente a mesma explicação ao caso
em que o “objeto” de desejo (se é que pode ser assim descrito)
não é nem animal nem pessoa, mas a relíquia morta de ambos.
399
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
392 Essa expressão [“corpse prophanation”] é usada por Henry Spencer Ashbee (“Pisanus
Fraxi”); ver Peter Fryer (ed.), Forbidden Books of the Victorians, Londres, 1970
(bibliografia de literatura erótica de H. S. Ashbee).
393 “Love; cold – dead indeed, but not dethroned” – NT.
400
capítulo 10 - perversão
401
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Pedofilia
A necrofilia é a forma mais absoluta de perversão, em que a
existência do outro é considerada uma ameaça para o envolvi-
mento sexual. Em outras perversões, o outro não é mais deseja-
do como ausente, mas de forma diminuída. O caso paradigmá-
tico é a pedofilia, em que o outro não é desejado apesar do fato
de ser uma criança, mas porque é uma criança. Há um instinto
natural em valorizar o que é jovem, e desafogar nossos desejos
no que é fresco e belo. O pedófilo, no entanto, não dirige sua
atenção a um “ser humano jovem”, mas a uma “criança”. A
diferença aqui é paralela à entre sexo e gênero. A idéia do in-
fantil pertence à compreensão intencional, não à material. Ela
guarda nossa noção de que a vida da pessoa está dividida em
dois episódios, uma o prelúdio da outra. A criança é a criatura
– por mais fisicamente desenvolvida que esteja – cuja natureza
pessoal ainda não está formada, que não pode suportar o peso
das respostas interpessoais e, em particular, que é considerada
apenas parcialmente responsável pelo que diz e faz. A criança é
o prelúdio da pessoa, e com uma criança a plena reciprocidade
não é possível nem desejável. Na ternura do desejo, é natural
desejar proteger o outro como se protege uma criança. Mas esse
sentimento não é mais que uma premonição da privacidade fi-
nal da ligação sexual, e de sua realização doméstica – sua reali-
zação à parte do mundo:
Árvore tu és
Musgo tu és,
Tu és como violetas ao vento.
Uma criança – tão longe – tu és,
402
capítulo 10 - perversão
403
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404
capítulo 10 - perversão
Sadomasoquismo
Como já tratei no Capítulo 6, o sadomasoquismo deve ser
entendido como uma parte relativamente normal do cânone
das possibilidades sexuais, em que uma relação moral inteligí-
vel entre semelhantes encarna num ato sexual. No entanto, o
sadomasoquismo também tem a sua forma pervertida. Aqui, a
perversão não consiste tanto no fracasso de enfrentar o outro
como pessoa, mas na incapacidade de reconhecê-lo como tal.
Para compreender a natureza perversa do sadismo, é preciso
entender o caráter moral da escravidão, da qual é uma encar-
nação sexual.
Só os seres racionais podem ser escravizados, e apenas os
seres racionais escravizam. O cavalo doméstico é treinado em
hábitos não naturais de conformidade, mas, depois de tê-los ad-
quirido, ele existe normalmente dentro desses limites, não sendo
vítima de qualquer injustiça, nem objeto de nenhum abuso.396
A escravidão é uma solução específica para o problema do con-
flito humano. Ao conferir domínio estável a uma das partes e
subjugar a outra, oferece uma resposta única e inequívoca às
396 Cf. as descrições de Céline do comportamento dos cavalos na guerra: “os cavalos têm
muita sorte, pois apesar de suportarem a guerra assim como nós, não pedimos sua
anuência ou seu credo” [les chevaux ont bien de la chance eux, car s'ils subissent aussi
la guerre, comme nous, on ne leur demande pas d'y souscrire, d'avoir l'air d'y croire]
(Voyage au bout de la nuit, Paris, 1952, p. 45).
405
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
397 Os “paradoxos da escolha coletiva” são muitos e distintos – abrangendo desde aqueles
que surgem da procura por uma “função de bem-estar social”.
398 Ver G. W. F. Hegel, The Phenomenology of Spirit (1807), tr. A. V. Miller, Oxford, 1977, B.
IV. A, seções 178-196.
399 Ver a distinção de Sir Isaiah Berlin entre as liberdades positiva e negativa em “Two
Concepts of Liberty”, em Four Essays on Liberty, Oxford, 1969.
406
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409
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410
capítulo 10 - perversão
401 J.P. Sartre, Being and Nothingness, tr. Hazel E. Barnes, Nova York, 1956, p. 406.
402 S. Freud, “Instincts and their Vicissitudes”, 1915, e “The Economic Problem of
Masochism”, 1924, em Collected Papers, tr. J. Riviere, Nova York e Londres, 1924-50,
vols. II e IV.
403 Fryer, Forbidden Books of the Victorians, p. 24.
411
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capítulo 10 - perversão
413
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Homossexualidade
Uma resposta moderna comum à sugestão de que a conduta
homossexual é pervertida é rejeitá-la como parte de uma ideo-
logia extinta. O desejo homossexual, diz-se, assim como o dese-
jo heterossexual, pode existir tanto da forma pervertido como
da normal, e se for pervertido, o será nas mesmas circunstâncias
e pelas mesmas razões que o desejo heterossexual. Pois a única
diferença reside no fato de que, enquanto no amor heterossexu-
al os parceiros são de sexos diferentes, no amor homossexual
eles são do mesmo sexo. E como é possível que isso tenha tanta
importância, sendo que o padrão de normalidade não deriva de
nossa natureza enquanto animais, mas de nossa natureza como
pessoas?
No entanto, apesar de essa conclusão ser plausível, é neces-
sário reconsiderar o argumento que leva a ela. Pois este argu-
mento confunde sexo e gênero. A homossexualidade vem sendo
considerada um fenômeno distinto porque as pessoas têm re-
conhecido e considerado moralmente significativa a disposição
de desejar aqueles que são do mesmo sexo. O masculino e o
feminino denotam dois tipos distintos de pessoa, e a experiência
do gênero desempenha um papel significativo na determinação
do conteúdo intencional do desejo. O desejo homossexual pode
reter a intencionalidade interpessoal que é normal para nós;
mas ainda pode haver uma diferença moral entre as condutas
homossexual e heterossexual. A posição correta, creio eu, é esta:
talvez a homossexualidade não seja, por si só, uma perversão,
embora possa existir de formas pervertidas. Mas é significativa-
mente diferente da heterossexualidade, de uma forma que expli-
ca, em parte – mesmo que isso não justifique – o julgamento tra-
dicional da homossexualidade como uma perversão. Digo isto
com grande incerteza, e sabendo que pode ser recebido como
um ultraje. Meu objetivo, no entanto, não é condenar, mas elu-
cidar – e se a verdade é desconfortável, esta não será a única
ocasião de ser assim.
414
capítulo 10 - perversão
406 A. Schopenhauer, The World as Will and Representation, tr. E. J. F. Payne, Indian
Hills, Colorado, 1958, vol. II, pp. 565-6. Uma reviravolta interessante ao argumento
do sociobiólogo foi apresentada por Michael Levin, que defende que a anormalidade
genética do ato homossexual também deve ser uma fonte de infelicidade – mesmo
quando não reconhecida como tal – assim como nosso fracasso em fazer exercícios é
uma fonte de infelicidade: “Why Homosexuality is Abnormal”, The Monist, 1984.
415
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
407 Jules Michelet, La Femme (1859), ed. Thérèsa Moreau, Paris, 1981, p. 286.
416
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418
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410 Eric Fuchs, Sexual Desire and Love, tr. M. Daigle, Cambridge e Nova York, 1983
(original: Le Désir et la tendresse, Genova, 1979), p. 216.
420
capítulo 10 - perversão
421
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Incesto
Há muitas explicações psicológicas para o que se tornou co-
nhecido como o “tabu do incesto”. Curiosamente, no entanto,
as duas mais populares – a da psicologia freudiana e a do socio-
biólogo – estão em plena contradição. Para o sociobiólogo, os
propósitos da seleção sexual só podem ser cumpridos em uma
espécie que olha além do seu “círculo genético” em busca de
um parceiro para acasalar. Há um valor de sobrevivência ligado
à aversão ao incesto; no longo prazo, portanto, ele irá emergir
como um traço psicológico dominante. Para o freudiano, no en-
tanto, o tabu do incesto, longe de expressar uma aversão inata,
é uma reação adquirida a um desejo inato. O tabu é a interio-
rização de um édito parental, e mascara anseios proibidos que
– na vida sexual do adulto maduro – encontram expressão em
uma forma purificada, quando o pai ou a mãe são recriados na
figura de um substituto permitido. A teoria de Freud é prefigu-
rada por Paley, que – em uma das poucas tentativas existentes
de dar uma base filosófica para a moralidade sexual comum –
422
capítulo 10 - perversão
412 William Paley, Moral and Political Philosophy, 1785, livro III, parte III, cap. 5.
413 Was so schlimmes schuf das Paar, / das liebend einte der Lenz? / Der Minne Zauber
entzückte sie: / wer nüsst mir der Minne Macht?
423
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424
capítulo 10 - perversão
415 G. W. F. Hegel, The Philosophy of Right, tr. e ed. T. M. Knox, Oxford, 1942.
425
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426
capítulo 10 - perversão
Fetichismo
A elevada tragédia do incesto é, até certo ponto, balanceada
pela comédia inferior do fetichismo – a mais inofensiva e diver-
tida de todas as perversões, e aquela que (a menos que combi-
nada com alguma intenção de ferir ou humilhar os outros) pode
mais seguramente ser deixada à discrição do indivíduo. É prati-
camente desnecessário dizer que o fetichismo é uma perversão
427
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
428
capítulo 10 - perversão
419 Charles de Brosses, Du Culte des dieux fetiches, Paris, 1970. O termo começou a adquirir
seu significado distintamente moderno na obra de Kant Religion within the Limits of
Reason Alone (1973), tr. T. M. Greene e H. H. Hudson, Chicago, 1934, livro 4, parte 2,
seção 3.
429
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Masturbação
A discussão acima nos leva a uma forma familiar, e ampla-
mente praticada, de liberação sexual: a masturbação, acompa-
nhada, via de regra, pela fantasia sexual. A masturbação existe
em duas formas: a primeira é aquela em que se alivia de um
período de isolamento sexual, e é-se guiado por uma fantasia
de cópula; a outra é aquela em que a masturbação substitui o
encontro humano, e talvez o torne impossível, reforçando o ter-
ror humano, e simplificando o processo de gratificação sexual.
Em uma perspectiva plausível, apenas a segunda poderia ser ra-
zoavelmente descrita como pervertida, pois somente a segunda
mostra um afastamento do impulso sexual da união interpesso-
al – um afastamento, no entanto, que ocorre sob a pressão de
fantasias de união sexual.
Para entender esta segunda forma de masturbação, devemos
olhar um pouco mais de perto o tema da fantasia sexual. Eu es-
crevi de forma um pouco vaga sobre a “representação” do obje-
to sexual. A fim de compreender a operação da fantasia sexual,
no entanto, é necessário distinguir representação de substituição.
Algo que parece ser uma representação pode na verdade ser um
substituto. Por exemplo, alguém que quer satisfazer sua curiosi-
dade em relação à aparência de Sophia Loren pode se contentar
430
capítulo 10 - perversão
420 Já discuti essa questão de forma mais aprofundada em “Fantasy, Imagination and the
Screen”, em The Aesthetic Understanding, Londres, 1983.
421 Ibid.
431
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
422 Ver R. A. D. Grant, “The Politics of Sex”, Salisbury Review, I (2), 1982.
423 Kant, Metaphysic of Ethics, Prussian Academy edition, parte II, pp. 423-4 (tr. por M. J.
Gregor como The Doctrine of Virtue, Nova York, 1964, pp. 87-8).
424 Diogenes Laércio, VI, 2, 46.
432
capítulo 10 - perversão
Castidade
O breve resumo acima, de determinados casos-padrão de
perversão, ou o que por vezes acusado de ser perversão, levan-
ta duas questões importantes. Em primeiro lugar, a castidade
é uma perversão? Em segundo, a perversão é necessariamente
repreensível?
A verdadeira castidade não é uma perversão – pois ela não
envolve a deflexão do desejo de seu objeto pessoal, mas quer a
superação do desejo ou o controle de sua expressão manifesta.
A alma impura pode ser incapaz de realizar o ato sexual. Ele
pode, como Klingsor, ainda viver no mundo do desejo, moti-
vado por ele em tudo, mas frustrado em sua solidão. A verda-
deira castidade envolve a devoção a projetos que não exigem
desejo – um distanciamento do desejo, não negando sua natu-
reza interpessoal, mas proibindo seu poder motivador. Isso não
precisa destruir o desejo: na verdade, a sabedoria popular e a
moralidade popular convidam-nos a vê-lo como um prelúdio
433
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
434
CAPÍTULO 11
MORALIDADE SEXUAL
425 Ver John McDowell, “Reason and Virtue”, The Monist, 1979, e “Are Moral Requirements
Hypothetical Imperatives?”, Proceedings of the Aristotelian Society, Supplementary
Volume, 1978.
426 R. Scruton, “Attitudes, Beliefs and Reasons”, em J. Casey (ed.), Morality and Moral
Reasoning, Londres, 1971.
427 I. Kant, Critique of Pratical Reason, 1788, tr. L. W. Beck, Chicago, 1949; G. W. F. Hegel,
Phenomenology of Spirit (1807), tr. A. V. Miller, Oxford, 1977; F. H. Bradley, Ethical
Studies, Oxford, 1876.
428 Cf. a visão de Hare de que os imperativos morais são parcialmente distintos por sua
qualidade de “sobreposição” – R. M. Hare, Freedom and Reason, Oxford, 1963, cap. 9,
pp. 168 et seq.
429 McDowell, “Reason and Virtue”; ver também Mark Platts, “Moral Reality and the End
of Desire”, em M. PLatts (ed.), Reference, Truth and Reality, Londres, 1980.
430 A sugestão foi feita por Armatya Sen, “Informational Analysis of Moral Principles”, em
Ross Harrison (ed.), Rational Action, Cambridge, 1979.
436
capítulo 11 - moralidade sexual
437
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438
capítulo 11 - moralidade sexual
439
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435 Há circunstâncias anormais e imprevisíveis, em que se podem ter boas razões para ser
irracional; ver abaixo, p. 263-4.
440
capítulo 11 - moralidade sexual
441
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442
capítulo 11 - moralidade sexual
437 John Casey, “Human Virtue and Human Nature”, em J. Benthal (ed.), On Human
Nature, Londres, 1973.
443
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
438 “Patience hardens to a pittance, courage / unflinchingly declines into sour rage, / the
cobweb-banners, the shrill bugle-bands / and the bronze warriors resting on their
wounds” – NT.
444
capítulo 11 - moralidade sexual
439 Henry Sidgwick, The Methods of Ethics, Londres, 1879, 7ª ed., 1907, p. 359.
446
capítulo 11 - moralidade sexual
440 D. Parfit, Reasons and Persons, Londres, 1984. Parfit dá a entender que os critérios para
a identidade pessoal ao longo do tempo são inatingíveis, e também desnecessários.
Argumentos muito similares foram usados (e.g. por Hume, Tratado da Natureza
Humana, livro I, cap. 4, II) para mostrar que os critérios para a identidade de qualquer
objeto ao longo do tempo são inatingíveis, e igualmente desnecessários.
447
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
441 O argumento de Hume (Tratado da Natureza Humana, livro I, cap. 4, II) procura mostrar
que as afirmações de identidade ao longo do tempo sempre vão além da evidência
que temos para criá-las. A consideração subjacente ao argumento de Hume (de que
há somente conexões contingentes entre eventos em momentos distintos) também
448
capítulo 11 - moralidade sexual
subjaz muitos dos argumentos oferecidos por Parfit. Alguns filósofos sustentaram
que há alguns juízos de identidade ao longo do tempo que não podem estar errados –
especificamente, certos tipos de reivindicações mnemônicas de primeira-pessoa. Ver S.
Shoemaker, Self-Knowledge and Self-Identity, Ithaca, 1963.
449
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
450
capítulo 11 - moralidade sexual
443 A sugestão tem origem em H. Frankfurt, “Freedom of the Will and the Concept of a
Person”, Journal of Philosophy, vol. 68 (1971), p. 5-20, e é muito bem explorada por D.
C. Dennett, em “Conditions of Personhood”, em A. O. Rorty (ed.), The Identities of
Persons, Los Angeles, 1976.
451
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
444 Ver, por exemplo, J. L. Mackie, Ethics, Inventing Right and Wrong, Harmondsworth,
1977.
452
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453
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454
capítulo 11 - moralidade sexual
455
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446 “Ser-lançado” – o termo de Heidegger para a condição em que o agente confronta pela
primeira vez o mundo objetivo (Being and Time, tr. J. Macquarrie e E. S. Robingson,
Nova York, 1962). OP termo descreve a situação do agente enquanto percebido: antes
de assumir responsabilidade pela minha existência, meu ser tem uma qualidade de
arbitrariedade que me aflige com ansiedade.
447 Parfit, Reasons and Persons, pp. 12-13, extraído de T. C. Shelling, Strategy of Conflict,
Cambridge, Mass., 1960.
456
capítulo 11 - moralidade sexual
457
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448 Ver novamente as críticas feitas a Margaret Mead por Derek Freeman, Margaret Mead
and Samoa, Cambridge, Mass., 1983.
458
capítulo 11 - moralidade sexual
449 Cf. a poesia de amor de Hafiz, de Omar Khayam, e dos poetas Diwan; e também os
contos de fidelidade amorosa nas Mil e Uma Noites.
450 Ver Mary Douglas, Implicit Meanings, Londres, 1975, e Purity and Danger, Londres,
1966, para um estudo sobre o fenômeno do nojo e poluição entre tribos africanas.
459
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
451 Acredito que Rei Roger seja uma importante expressão de certa visão do erótico, que é
visto essencialmente como externo à sociedade, clandestino, ininteligível e subversivo.
Eu discuti essa ópera e seu significado em “Between Decadence and Barbarism: the
Music of Szymanowski”, em M. Bristiger, R. Scruton e P. Weber-Bockholdt (eds.), Karol
Szymanowski in seiner Zeit, Munique, 1984, p. 159-78.
460
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462
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463
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464
capítulo 11 - moralidade sexual
465
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454 Uma crítica excêntrica e politizada, mas bastante perceptiva, dessa “comoditização” do
sexo pode ser encontrada em Stephen Heath, The Sexual Fix, Londres, 1982.
466
capítulo 11 - moralidade sexual
455 Karl Marx, Capital, trs. S. Moore e E. Aveling, ed. F. Engels, Londres, 1887, vol. I, parte
I, cap. I, seção 4.
467
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
456 A. Heron (ed.), Towards a Quaker View of Sex, Londres, 1963, citado em Ronald
Atkinson, Sexual Morality, Londres, 1965, p. 148.
457 And don’t, with the nasty, prying mind, drag ir out from its deeps
And finger it and force it, and shatter the rhythm it keeps
When it is left alone, as it stirs and rouses and sleeps – NT.
468
capítulo 11 - moralidade sexual
469
CAPÍTULO 12
A POLÍTICA DO SEXO
458 Eu uso “sentido” aqui como uma tradução do alemão Sinn (e do tcheco smysl)
para captar o que Husserl e Patočka consideravam o verdadeiro objeto das ciências
“humanas”. O termo tem muitos sentidos técnicos. Meu uso não deve ser confundido
com aqueles que pertencem à filosofia da linguagem (e.g. o uso de Frege de Sinn),
apesar de poder haver razões independentes para pensar que o significado linguístico
é um caso especial do que eu quero dizer por sentido. Tenho em mente o significado
de “sentido” como em “o sentido da vida”, em que o sentido da vida é, pelo menos
parcialmente, distinto do propósito da vida. Na tradição inglesa, o estudo desse tipo
de sentido foi considerado assunto para o crítico literário, e não para o filósofo. Há,
realmente, considerável semelhança entre a idéia husserliana da tarefa da Filosofia e
concepção de Leavis da crítica cultural. Ao negar que possam existir duas culturas, e que
a ciência pode ser uma cultura, Leavis defende a prioridade e autonomia do Lebenswelt,
e a necessidade de acercar-se dele com interesses e ferramentas conceituais diferentes
daqueles da explicação científica. (Ver F. R. Leavis, Nor Shall my Sword, Londres, 1973.)
O estudo do crítico não é explanatório, mas comparativo; ele envolve uma tentativa de
discernir o significado, para agentes moralmente motivados, dos trabalhos do homem
e da natureza.
472
capítulo 12 - a política do sexo
459 Rudolf Otto, The Idea of the Holy, tr. J. W. Harvey, Oxford, 1923.
460 Ver o estudo de Heidegger sobre preocupação (Sorge) e ansiedade (Angst), em Being
and Time, tr. J. Macquarrie e E. S. Robinson, Nova York, 1962. O trabalho relevante
de Patočka é Dvě Studie o Masarykovi, Toronto, 1980. Infelizmente, ainda não foi
traduzido para o inglês.
473
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
461 H. Marcuse, Eros and Civilization, A Philosophical Enquiry into Freud, nova ed., Boston,
Mass., 1966; Erich Fromm, The Art of Loving, Nova York, 1960; Wilhelm Reich, The
Function of the Orgasm, 1968, tr. V. R. Carfagno, Nova York, 1973, Londres, 1983; The
Sexual Revolution, Londres, 1951; e Norman O. Brown, Life Against Death, Londres,
1959.
474
capítulo 12 - a política do sexo
475
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
463 Ver J. Patočka, Kacírské eseje o Filosofii Dejin (Ensaios Heréticos sobre a Filosofia da
História), Munique, 1980, tr. Erika Abrams, Essais Hérétiques, Paris, 1980.
464 Ver J. Patočka, Platon a Evropa (palestras privadas de 1973), Praga, 1973. Este é um
texto saamizdat, que foi traduzido para o francês por Erika Adams como Platon et
L’Europe, paris, 1983.
476
capítulo 12 - a política do sexo
477
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
478
capítulo 12 - a política do sexo
467 Ver as observações sobre a gênese da crença moral em G. Harman, The Nature of
Morality, Nova York, 1977, e os dogmas gerais do “realismo científico” expostos por J. J.
C. Smart em Philosophy and Scientific Realism, Londres, 1966.
468 O termo usado por Weber é Entzauberung. Ver Wissenschaft als Beruf, tr. como “Science
as a Vocation”, em From Max Weber, ed. e tr. H. H. Garth e C. Wright Mills, Londres,
1947.
479
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480
capítulo 12 - a política do sexo
472 Esse pensamento é hegeliano: tentei traduzi-lo em uma linguagem política aceitável em
The Meaning of Conservatism, 2ª ed., Londres, 1974.
481
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482
capítulo 12 - a política do sexo
476 A frase é de Kierkegaard: ver Either/Or, tr. W. Lowrie, Nova York, 1959, vol. II.
483
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484
capítulo 12 - a política do sexo
478 “To apprehend / The point of intersection of the timeless / With time, is an occupation for
the saint” – NT.
485
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479 E. Husserl, Die Krisis der europäishen Wissenschaften und die transzendentale
Phänomenologie, ed. W. Biemel, Haia, 1976.
480 Cf. Demóstenes, Against Naicea: “mantemos as senhoritas pelo prazer, as concubinas
pelo cuidado diário com nossa pessoa, e as esposas pelos filhos legítimos, e pela guarda
fiel do lar”.
481 Ver Capítulo,* e especialmente a obra de Capelão lá referida.
487
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488
capítulo 12 - a política do sexo
Por outro lado, já faz um século e meio desde que Hegel es-
creveu essas palavras, e a vida continua.
489
EPÍLOGO
484 Ver Roger Scruton, “Thinkers of the Left: Michel Foucault”, Salisbury Review, I (3),
1983, reimpresso em Thinkers of the New Left, Londres, 1985.
492
APÊNDICES
I. A PRIMEIRA PESSOA
485 As duas idéias são tratadas separadamente por Husserl em seu trabalho. Ver
especialmente Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale
Phänomenologie, ed. W. Biemel, Haia, 1976, parte 3, seção 34: “Exposition des Problems
einer Wissenschaft von der Lebenswelt.”
493
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
486 Sobre isso, ver meu Art and Imagination, Londres, 1974, caps. 7 e 8.
494
apêndices - i. a primeira pessoa
495
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
496
apêndices - i. a primeira pessoa
490 Rudolf Carnap, Der logische Aufbau der Welt, Berlim, 1928.
491 E. Husserl, Cartesian Meditations, tr. D. Cairns, Haia, 1960, reimpresso em 1969, p. 52.
492 Ibid., p. 53.
493 As interpretações do argumento de Wittgenstein incluem:
O argumento é dirigido contra a possibilidade de uma “definição ostensivamente
privada” (G. E. M. Anscombe, em uma conversa, e A. J. Kenny, em Wittgenstein,
Londres, 1973).
O argumento conclui que eu não posso me referir a “sensações privadas”, mas somente
às circunstâncias públicas ligadas a elas. (Essa interpretação é familiar a muitos dos
497
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
primeiros críticos – ver os artigos em O. R. Jones (ed.), The Private Language Argument,
Londres, 1971.)
O argumento é o corolário de uma tese maior sobre a linguagem e, em particular, da
visão que foi conhecida como “antirrealismo”, segundo a qual o significado de uma
sentença não é determinado pelas condições de sua veracidade, mas pelas condições
de suas afirmações justificadas. (S. Kripke, Wittgenstein on Rule-Following and Private
Language, Oxford, 1982, na linha de M. Dummett, Truth and Other Enigmas, Londres,
1978, Prefácio, esp. p. XXXIV—XXXVII.)
A segunda interpretação me parece completamente equivocada. No início do argumento,
Wittgenstein coloca a questão: “Como as palavras se referem às sensações?”, e oferece
“uma sugestão” como resposta. Todo o teor do argumento é dirigido à conclusão de
que, porque nós de fato nos referimos às sensações, elas não podem ser “privadas”.
A terceira interpretação já foi criticada por mim em outra ocasião (num artigo sobre
a obra de Kripke, Mind, vol. XCII (1984), p. 592-601). Parece-me que o argumento
de Wittgenstein não depende do antirrealismo e, se dependesse, seria tão implausível
quanto o antirrealismo. A primeira interpretação é de difícil compreensão, já que
parece não dizer o que dos “processos internos” que tornam sua “ostensão” impossível.
Entretanto, é possível que o meu argumento seja compatível com essa interpretação.
O argumento começa na seção 243, onde se faz uma suposição de que as sensações
sejam objetos “imediatamente privados”. Segue-se daí que a suposição está errada,
e que as sensações não são conforme descritas nesta seção. Wittgenstein prossegue
afirmando que as palavras se referem sim às sensações, e dá uma sugestão de como
isso acontece. A sugestão imediatamente o obriga a examinar as peculiaridades do caso
da primeira-pessoa, já que essas peculiaridades indicam que sua sugestão pode estar
errada. Ele defende (seções 246-50) que o caso da primeira-pessoa foi mal interpretado
por seu oponente, favorecendo falaciosamente o “objeto privado”. Ele chega a
considerar o fato evidente que podemos falar de duas pessoas tendo a mesma sensação,
e oferece sugestões sobre o funcionamento do jogo linguístico público de “identidade”
que mostra como isso acontece. Ele, então, na seção 256, introduz o argumento da
linguagem privada, em suas várias versões. O argumento da seção 258 (o argumento
diário) parece-me fraco, e aberto às objeções feitas por Ayer e outros. (Ver os artigos
em Jones, The Private Language Argument.) Mas é só um gesto, e o argumento retorna
mais forte e devastador na seção 288 – e em sua versão subsequente que esbocei. As
seções intermediárias fornecem as observações básicas para sustentar uma teoria da
publicidade dos sentidos, que vão dar lugar ao caso das palavras sensíveis. Na minha
interpretação, fui muito influenciado pelas conversas com Malcolm Budd.
498
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499
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500
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507
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ocorre é tal objeto. Que garantia que ele pode obter? Como ele
pode testar sua hipótese, que isto, que agora o confronta, não é
publicamente identificável?
A tentação é de responder o seguinte. Quem fala essa língua,
que está familiarizado diretamente com essa coisa, está em posi-
ção de saber que é privada. Pois ele é capaz de saber algo sobre
essa presente ocorrência (por exemplo, que ela ocorre). E isso
já não é mais do que está publicamente disponível? O objeto,
portanto, já não é privado, ou pelo menos, por assim dizer, tem
partes privadas?
A resposta é não. O máximo que está implícito é que agora
parece que ele está diante de um objeto privado. A hipótese de
que ninguém mais pode saber sobre ele é uma hipótese a que ele
não tem direito. Pois este fato (se é que é um fato) não é “dado”
a ele. Pelo contrário, não é mais do que uma especulação filo-
sófica e, além disso, uma que não pode ter fundamentos con-
cebíveis. A tentação é dizer que ele pode simplesmente saber,
sem provas, que este é um objeto privado. Mas é uma tentação
que deve ser combatida. Mesmo se nós permitirmos que algo
é “dado” ao usuário linguagem privada, não podemos inferir
que a coisa é um objeto particular. Pelo contrário, os únicos
exemplos plausíveis de que dispomos do que é “dado” – sensa-
ções, pensamentos, experiências – são fenômenos publicamente
identificáveis, que descrevemos sem problemas numa linguagem
pública. Dada a revogação das condições normais que regem o
“acesso privilegiado”, não podemos supor que nada está garan-
tido para o usuário da linguagem privada pela sua noção de que
agora é a ocasião de usar a palavra “S”. O que lhe parece certo
é certo. Mas isso significa que a regra que ele parece seguir não
é mais do que a aparência de uma regra.
Parece que estamos sendo forçados à conclusão de que quem
fala a linguagem privada não terá êxito em estabelecer uma nor-
ma de referência. A suposição de que a palavra “S” indica um
objeto privado continua a ser, para ele, uma mera suposição que
poderia ser verdadeira ou falsa sem fazer qualquer diferença
para a sua prática linguística. Nem ele nem ninguém podem ter
a menor razão para pensar que ele está se referindo a um objeto
privado. E aqui somos tentados a concordar com Wittgenstein,
508
apêndices - i. a primeira pessoa
que “uma roda que pode ser girada, mas que nada se move com
ela, não faz parte do mecanismo”.502
Nossa estratégia agora pode ser concluída passando para o
estágio (6) do argumento: a proposição de que não há nenhuma
língua em que objetos particulares podem ser referidos. Apenas
uma curta consideração é necessária para confirmar isso. Uma
linguagem é pública enquanto suas regras de referência identifi-
quem seu objeto de maneiras acessíveis a mais de um. Não im-
porta se apenas uma pessoa efetivamente fale essa língua.503 Se
o campo de referência for publicamente identificável, a lingua-
gem é publicamente transmissível. Uma linguagem que não é
publicamente transmissível deve ser uma língua cujo campo de
referência não pode ser publicamente definido. E tal língua cai-
ria sob a mesmíssima crítica que levantei contra as linguagens
privadas – a crítica de que, nestas circunstâncias, não foi pos-
sível estabelecer uma regra de referência. Além disso, a tentati-
va de se referir a um objeto privado será sempre equivalente à
tentativa de estabelecer uma linguagem privada. Assim, dada a
impossibilidade dessa tentativa, podemos concluir que nenhum
objeto privado pode ser referido.
Mas, alguém dirá, você já não se referiu aos objetos particu-
lares ao longo do mesmo argumento que pretendia negar que
isso era possível? Do que mais você estava falando? Como você
pode negar não só a existência, mas, por assim dizer, a própria
verbalização de algo? Como você pode formular a proposição
de que certo tipo de coisa não pode ser referido sem, ao mesmo
tempo, se referir a ele?
Há algo opressivamente hegeliano sobre essa objeção, que
argumenta que é impossível traçar limites para a referência, já
que todas as tentativas de traçar esses limites acabam por es-
tendê-los. Ao mesmo tempo, a objeção nos lembra de que os
nossos argumentos sobre referência não são tanto linguísticos
como são epistemológicos: eles não dizem respeito ao que pode
ser dito, mas ao que pode ser pensado. Devemos, aqui, passar
509
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
504 I. Kant, Critique of Pure Reason, (1781, 1787), tr. N. Kemp Smith, Londres, 1929, A 442
(B 470).
505 Ibid., A 496 (B 524).
510
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511
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506 Não há dúvida de que a obra Remarks on the Foundations of Mathematics (ed. G. H.
von Wright, R. Rhees e G. E. M. Anscombe, tr. G. E. M. Anscombe, Oxford, 1956)
mostra que Wittgenstein foi parcialmente persuadido pela abordagem construtivista.
Eu acredito que ele foi motivado não por uma teoria “antirrealista” geral do significado,
mas pelo desejo de considerar as peculiaridades da verdade matemática – em especial,
seu caráter a priori e necessário.
512
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513
II. INTENCIONALIDADE
509 D. C. Dennett, “Beyond Belief ”, em A. Woodfield (ed.), Thought and Object, Essays on
Intentionality, Oxford, 1982.
510 F. Brentano, Psychology from an Empirical Standpoint, 2ª ed., ed. Oskar Kraus, Leipzig,
tr. A. C. Rancurello, D. B. Terrell e L. L. McAlister, Londres, 1973, livro II, cap. 1, seção
5, p. 88-9. (Eu fiz uma pequena modificação na tradução.)
516
apêndices - ii. intencionalidade
511 Ibid., Observações Complementares, p. 271 et. seq., Ver também a Introdução à segunda
edição da obra de Brentano (incluído como um pós-escrito ao texto inglês), por Oskar
Kraus, seção esp. II, p. 373 et seq.
512 Ver E. Husserl, Ideas, General Introduction to Phenomenology, 1913, tr. W. R. Boyce
Gibson, Londres, 1931.
513 Mas, como Wittgenstein assinala em seu pertinente Anotações sobre as cores (Remarks
on Colour, ed. G. E. M. Anscombe, tr. L. L. McAlister e M. Schattle, Oxford, 1977), “não
há tal coisa como a fenomenologia, apesar de existirem problemas fenomenológicos”
(seção 53).
517
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514 F. Brentano, The True and the Evident, ed. O Kraus, tr. R. Chisholm, Londres, 1966, p.
78.
515 Ver R. Chisholm, em H. N. Castañeda (ed.), Intentionality, Minds and Perception,
Detroit, 1967.
518
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516 D. Davidson, “Mental Events”, em Essays on Actions and Events, Oxford, 1980.
517 D. C. Dennett, “Intentional Systems”, Journal of Philosophy, vol. 68 (1971), reimpresso
em Brainstorms, Brighton, 1978.
519
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520
apêndices - ii. intencionalidade
521 Daí a emergência da semântica de “mundos possíveis” na teoria da lógica modal. Ver G.
E. Hughes e M. J. Creswell, An Introduction to Modal Logic, Londres, 1968, p. 75-80.
522 G. Frege, “On Sense and Reference” (retraduzido como “On Sense and Meaning”), The
Philosophical Writing of Gottlob Frege, tr. e ed. P. T. Geach e M. Black, Oxford, 1952.
523 Por exemplo, a identidade de sentido não permite substituição em contextos como
“João acredita que...” Se João é ignorante da identidade de sentido entre “p” e “q”, ele
pode acreditar em p, e ainda assim não acreditar em q.
524 Ver Martin Davies, Meaning, Quantification and Necessity, Themes in Philosophical
Logic, Londres, 1981.
521
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522
apêndices - ii. intencionalidade
não escolheram valores de verdade, mas conjuntos como seu objeto de referência
singular, evitando a suspeita de favorecerem Frege pela assunção de que valores de
verdade são “objetos”.
523
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527 A “semântica situacional”, que rejeita a idéia que sentenças refiram valores de verdade,
rejeita também o princípio de que equivalentes lógicos podem ser substituídos salvo
denotato: ver Jon Barwise e John Perry, Situations e Attitudes, Cambridge, Mass., 1983.
Entretanto, isso não afeta a questão de se eles podem ser substituídos salva veritate,
nem tocando, por isso, na discussão da intencionalidade.
528 J. L. Mackie, “Causes and Conditions”, em Ernest Sosa (ed.), Causation and Conditionals,
Oxford, 1978. [N.T.] INUS, partes insuficientes (I) mas não-redundantes (N) de uma
condição que é, em si mesma, desnecessária (U) mas suficiente (S) para a ocorrência do
efeito.
524
apêndices - ii. intencionalidade
529 Ver “Reference and Modality” em From a Logical Point of View, 2ª ed., Cambridge,
Mass. 1961.
530 Ver David Kaplan, “On Quantifying in”, em D. Davidson e J. Hintikka (eds.), Words and
Objections, Dordrecht, 1969; H. Putnam, “The Meaning of ‘Meaning’”, em Philosophical
Papers, vol. II: Mind, Language and Reality, Cambridge, 1975.
525
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531 A teoria oratio recta tem origem em R. Carnap, The Logical Syntax of Language, tr. A.
Smeathon, Londres, 1937, p. 240 et seq. A teoria oratio recta para contexto mental pode
ser expressa em função da noção de P. T. Geach de “dizer com o coração;” ver Mental
Acts, Londres, 1957, p. 79 et seq.
526
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527
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533 Gareth Evans, “The Causal Theory of Names”, Aristotelian Society, Supplementary
Volume, vol. XLVIII (1973), p. 187-208.
528
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529
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536 Colin McGinn, “The Structure of Content”, em Woodfield, Thought and Object.
537 Ibid., p. 211.
530
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531
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542 Estou em dívida com a discussão das qualidades secundárias em C. McGinn, The
Subjective View: Secondary Qualities and Indexicals, Oxford, 1983. Ver p. 123.
532
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533
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543 Para uma explicação desse termo, ver A. J. Kenny, Action, Emotion and Will, Londres,
1963, p. 189.
534
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prio não é o que pode ser temido, mas o que é certo, adequado
ou justificado temer. O nocivo é o objeto formal do medo; seu
objeto é o pavoroso. Justificar a descrição “pavoroso” é justifi-
car o medo: não é só justificar uma crença, mas toda a resposta,
e, em particular, o padrão de atividade que a exprime.
A confusão entre objetos formal e próprio leva muitos – in-
cluindo Sartre544 – a considerar as emoções como um tipo de
juízo. O medo, em seguida, transforma-se no reconhecimento
do pavoroso, a ansiedade no reconhecimento do angoissant, o
prazer no reconhecimento do divertimento, e assim por diante.
Começa a parecer como se nada sobrasse da emoção além deste
ato (reconhecidamente apaixonado) de avaliação. A caracterís-
tica de um objeto formal é que alguém pode pensar que algo
seja uma instância dele, e ainda assim não sentir nenhuma incli-
nação para a emoção que ele parcialmente identifica. O objeto
formal é dado por uma descrição que fica aquém da encarnação
das características emocionais peculiares que serve para focar.
Se alguém perguntasse o significado da classificação “pavo-
roso”, portanto, não seria suficiente oferecer as condições de
verdade de uma crença: esta classificação deve ser entendida em
termos da emoção que ele celebra, e não em termos de alguma
crença em que a emoção está fundada. Colocando a coisa mais
diretamente: justificar a descrição “x é pavoroso” é dar razões
de ordem prática, e não teórica. Não é justificar uma classifica-
ção, mas uma resposta. A resposta vem em primeiro lugar e, em
seguida, a classificação é explicada em termos dela. Creio que
este fato seja extremamente importante para a compreensão da
intencionalidade das emoções morais.545 Ele também é relevante
para a consideração do amor, do desejo e das outras atitudes
interpessoais. Tais atitudes, porque têm pessoas como seu ob-
jeto, são “famintas por justificação”. O sujeito se sente julgado
a seus próprios olhos por suas paixões e amores, e procura se
apresentar, através destas atividades, como digno da simpatia e
respeito de todos que possam desafiá-los. Amor e desejo, por-
tanto, são inevitavelmente mediados e disciplinados por con-
544 J. P. Sartre, Sketch for a Theory of Emotions, tr. P. Mairet, prefácio por Mary Warnock,
Londres, 1962.
545 Já defendi esse ponto em “Attitudes, Beliefs and Reasons”, em J. Casey (ed.), Morality
and Moral Reasoning, Londres, 1971.
535
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539
ÍNDICE ONOMÁSTICO
A
Abelardo, Pedro 336, 337
Abravanel (Leone Ebreo) 299, 339
Ackerley, J.R. 398
Aldrich, Virgil C. 336
Anscombe, G.E.M. 77, 78, 83, 84, 144, 146, 147, 347, 391, 439, 497, 501,
512, 517
Apuleio 298
Aristófanes 270, 271
Aristóteles 19, 33, 37, 65, 68, 87, 105, 210, 303, 305, 306, 308, 311, 312,
317, 364, 393, 439, 440, 441, 443, 444, 468, 475, 492
Armstrong, D.M. 286
Ashbee, H.S. 400, 411, 412
Ashley, April 373
Atkinson, R. 468
Auden, W.H. 333
Ayer, Sir Alfred J. 498, 509
B
Barash, D.P. 256
Barbin, D.P. 374
Barwise, Jon 524
Bataille, Georges 249
Baudrillard, Jean 223
Beattie, J. 484
Beauvoir, Simone de 354, 382, 383
Bennett, J.F. 70, 193, 261
Bergson, Henri 199, 261
Berlin, Isaiah 406
Bernini, Gianlorenzo 246, 434
Blake, William 161, 330
Boccaccio 16, 298, 321
541
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C
Capellanus, Andreas 296
Carew, Thomas 388
Carlyle, Thomas 203, 388
Carnap, Rudolph 497, 522, 526
Casanova de Singalt, Jacques 382, 383, 384
Casey, John 11, 143, 290, 436, 443, 535
Cavafy, C.P. 395
Cavalcanti, Guido 16, 327, 328
Chambard, Ernest 284
Chaucer, Geoffrey 16, 193, 194, 298, 320, 321, 492
Chikamatsu 155, 238
Chisholm, R.M. 518
Church, Alonzo 522
Clark, Sir Kenneth 169, 366
Cleland, John 198
Collingwood, R.G. 148, 304
Comfort, Alex 263
Conrad, Joseph 492
Cornevin, Charles 243
Courbet, Gustave 218
Creswell, M.J. 521
Croce, Benedetto 146, 148, 304
Céline, Louis Ferdinand 405
D
Dante, Alighieri 16, 100, 185, 187, 239, 296, 297, 300, 321, 492
Daudet, Alphonse 230
Davidson, Donald 69, 70, 519, 525, 531
Davies, Martin 521
Demóstenes 487
Dennett, D.C. 20, 80, 451, 504, 516, 519
Descartes, René 66, 89, 165, 172, 460, 493
542
índice onomástico
E
Eliot, T.S. 472, 485
Ellis, Havelock 9, 102, 201, 202, 203, 219, 242, 243, 247, 253, 284
Engels, Friedrich 31, 467
Estratão 417, 418
Evans, Gareth 77, 170, 484, 528
F
Faulkner, William 411
Ferrero, G. 207
Flugel, J.C. 293
Fontane, Theodor 234
Fortes, M. 484
Foucault, Michel 60, 245, 374, 491, 492
Frankfurt, H. 451
Freeman, Derek 365, 458
Frege, Gottlob 45, 115, 352, 472, 504, 505, 521, 522, 523, 526, 529
Freud, Sigmund 10, 41, 94, 112, 203, 238, 272, 273, 275, 276, 277, 278,
279, 280, 281, 282, 283, 284, 285, 286, 287, 288, 289, 290, 291,
292, 387, 388, 411, 422, 428, 462, 465, 474
Frisch, Karl von 261
Fromentin, Eugene 426
Fromm, Erich 474
Fryer, Peter 400, 411
Fuchs, Eric 420
Féré, C. 9, 242, 243, 247, 398
G
Garibaldi, Giuseppe 226, 227
Geach, P.T. 379, 504, 521, 526
Goldsmith, Oliver 492
543
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H
Hafiz 459
Hampshire, Sir Stuart 82, 149, 307, 450
Hare, R.M. 142, 436
Harman, G. 479
Harris, Frank 212
Hartmann, Eduard von 271
Hayek, F.A. von 27, 151, 480
Heath, Stephen 167, 319, 351, 466
Hegel, G.W.F. 15, 89, 117, 141, 177, 178, 367, 368, 381, 406, 407, 408,
409, 413, 425, 436, 475, 482, 488, 489
Heidegger, Martin 26, 29, 89, 456, 473, 496, 517
Herrick, Robert 237, 366
Hesíodo 492
Hill, Geoffrey 444
Hobbes, Thomas 482
Hocquenghem, Guy 352, 364
Homero 492
Hughes, G.E. 521
Hume, David 285, 300, 301, 302, 364, 365, 439, 447, 448
Husserl, Edmund 18, 19, 25, 29, 32, 33, 472, 487, 493, 496, 497, 499,
517, 532
Huxley, Aldous 56, 406
Héloise 337
I
Ingres, J.A.D. 207
J
James, Henry 106, 142, 143, 144, 200, 305, 342, 378, 380
Jerônimo, São 390
José II 342
Jouve, Pierre-Jean 241
Joyce, James 492
544
índice onomástico
K
Kafka, Franz 411
Kant, Immanuel 15, 17, 19, 28, 29, 74, 75, 85, 88, 89, 90, 95, 124, 125,
126, 143, 146, 149, 153, 155, 157, 159, 160, 161, 162, 166, 169,
171, 174, 178, 180, 222, 228, 285, 304, 305, 306, 307, 309, 311,
376, 395, 429, 432, 435, 436, 437, 438, 439, 441, 452, 473, 477,
478, 510, 511, 512, 538
Kaplan, D. 525
Keats, John 100, 101, 400
Kenny, A.J. 77, 497, 534
Khayam, Omar 459
Kierkegaard, Sören 141, 235, 236, 321, 483
Kleist, Heinrich 185, 401
Kneale, William 66, 520
Kolnai, Aurel 185, 203
Krafft-Ebing, Richard Freiherr von 9, 10, 242, 243, 247
Kraus, Oscar 516, 517, 518
Kripke, Saul 19, 20, 81, 115, 165, 498, 505
L
Laclos, Chanderlos de 198
Langland, William 492
Lawrence, D.H. 198, 210, 360, 384, 395, 468, 469, 472, 492
Leavis, F.R. 472
Leopardi, Conde Giacomo 192, 214
Lessing, Gottfried 313
Levin, Michael 231, 415, 421
Lewis, C.S. 298
Locke, Don, 20, 63, 537
Locke, Don 504
Lombroso, L. 207
M
Mackie, J.L. 452, 524
Madison, Peter 278, 288
Mann, Thomas 44, 158, 297
Maomé 381
Marcuse, Herbert 474
Marx, Karl 31, 37, 224, 467
Masaccio 201
Maupassant, Guy de 212, 213
545
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N
Nabokov, V. 462
Nagel, Ernest 279
Nagel, Ernest 45, 47, 48, 88, 113, 118, 167, 182, 394, 395
Nietzsche, F. 322
Norman Malcolm 77
O
Oakley, Anne 357
Ormrod, Senhor Justiça Sir Roger 373
Ovídio 48, 298, 397
P
Paley, William 422, 423
Parfit, Derek 91, 111, 447, 449, 456
Parmênio 223
Peacocke, Christopher 286, 531
Peckham, G.W. 252, 253, 256
Perrot, Philippe 370, 371
Perry, John 524
546
índice onomástico
Q
Quine, W.V. 23, 63, 255, 522, 525
Quiros y Llanas Aguilaniedo, B. de 223
R
Racine, Jean 234, 424, 426
Rafael 313
Rawls, John 438, 482
Reich, Wilhelm 272, 284, 474
Reik, Theodor 342, 343
Restif de la Bretonne, Nicolas 205, 206
Rilke, Rainer Maria 515
Rochester, Earl de 214, 218
Rougemont, Denis de 235, 297, 298
Rousseau, Jean-Jacques 177, 474
Rudolf Otto 473
Ruskin, John 368
Russell, Bertrand 298
Réage, Pauline 224
S
Sacher-Masoch, Leopold 243, 248, 428
Sade, Marquês de 137, 248, 249, 413, 463
Safo 418
Sandel, Michael 438
Santo Agostinho de Hipona 16, 102, 107, 188, 190, 200
Sardou, Victorien 487
Sartre, Jean-Paul 15, 45, 46, 50, 57, 89, 90, 104, 113, 123, 141, 174, 175,
176, 177, 178, 179, 180, 181, 187, 189, 192, 212, 245, 246, 313,
323, 411, 496, 535
547
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
T
Tanner, M.K. 391
Teichman, Jenny 77, 391
Teócrito 360
Thompson, E.P. 224
Ticiano 313
Tolstói, Leo 305
V
Van den Berghe, Pierre 263, 264
Verlaine, Paul 216, 384
W
Wagner, Richard 225, 235, 269, 270, 297, 460
Waugh, Evelyn 495
548
índice onomástico
X
Xenofonte 218
Y
Yeats, W.B. 139, 213, 216, 399, 480
Young, Wayland 211, 218
549
ÍNDICE REMISSIVO
A
adjetivos 344
adultério 234, 297, 379, 487, 488
alimentação 123, 359
amizade 132, 150, 151, 162, 188, 200, 225, 265, 281, 295, 302, 303, 304,
305, 306, 307, 308, 310, 311, 312, 313, 314, 315, 316, 317, 318,
319, 320, 322, 331, 343, 442, 443
amor 9, 10, 15, 16, 17, 18, 28, 30, 34, 38, 47, 48, 52, 53, 60, 90, 96, 99,
101, 109, 110, 111, 112, 114, 115, 117, 120, 122, 124, 125, 126,
127, 128, 135, 136, 137, 139, 140, 143, 144, 145, 146, 147, 148,
149, 150, 152, 154, 155, 156, 159, 160, 161, 162, 172, 177, 178,
179, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 190, 194, 195, 196, 206,
207, 209, 210, 211, 213, 219, 220, 222, 223, 225, 226, 227, 229,
230, 232, 234, 235, 237, 238, 239, 241, 243, 245, 247, 248, 259,
266, 271, 284, 287, 290, 291, 294, 295, 296, 297, 298, 299, 300,
301, 302, 303, 306, 307, 313, 315, 316, 317, 318, 319, 320, 321,
322, 323, 324, 325, 327, 328, 329, 330, 331, 332, 333, 335, 336,
337, 338, 339, 340, 341, 342, 343, 344, 345, 346, 347, 349, 359,
360, 361, 377, 381, 383, 388, 389, 390, 391, 395, 396, 398, 399,
400, 414, 417, 419, 421, 423, 424, 425, 426, 427, 434, 440, 444,
455, 456, 457, 458, 459, 461, 462, 463, 464, 465, 466, 467, 469,
475, 476, 477, 480, 483, 485, 486, 487, 489, 528, 535, 539
amor cortês 296, 297, 327, 487
amor erótico 9, 15, 16, 60, 135, 136, 147, 154, 156, 226, 229, 235, 295,
296, 297, 298, 299, 300, 302, 307, 316, 318, 319, 320, 321, 322,
323, 328, 330, 331, 332, 343, 344, 345, 346, 398, 399, 417, 424,
455, 456, 458, 463, 464, 480, 483, 485, 486, 487, 489
animais 16, 38, 40, 51, 58, 59, 61, 62, 63, 65, 66, 67, 72, 73, 75, 87, 90,
93, 100, 109, 119, 126, 130, 144, 156, 171, 193, 194, 196, 198, 200,
210, 216, 242, 243, 250, 251, 252, 254, 258, 261, 268, 275, 277,
281, 293, 299, 320, 339, 348, 362, 365, 377, 380, 389, 392, 393,
397, 398, 414, 531, 534, 537
animação sexual 54, 55
antirrealismo 498, 505, 506
551
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
B
beijo 38, 39, 40, 99, 209, 338, 341, 342, 388, 401, 421
beleza 107, 145, 174, 219, 223, 236, 286, 296, 299, 300, 301, 302, 319,
326, 333, 343, 344, 361, 368, 379, 380, 381, 462, 480
bestialidade 50, 51, 57, 126, 177, 242, 392, 396, 397, 398, 399, 401, 421
C
caráter 17, 20, 23, 42, 44, 46, 53, 54, 67, 74, 95, 97, 98, 99, 123, 131,
134, 149, 150, 157, 159, 161, 162, 163, 169, 191, 193, 202, 206,
226, 238, 239, 276, 288, 308, 310, 311, 312, 314, 315, 316, 320,
324, 328, 330, 338, 345, 350, 351, 353, 360, 384, 391, 405, 411,
415, 421, 424, 430, 432, 433, 439, 440, 448, 457, 459, 468, 480,
481, 486, 495, 507, 512, 519, 528
carícia / carícias 34, 43, 45, 46, 48, 49, 50, 53, 135, 175, 182, 338, 341,
378, 381, 427
casamento 15, 59, 119, 122, 190, 236, 242, 297, 318, 321, 337, 358, 390,
403, 424, 458, 459, 463, 483, 484, 485, 486, 487, 488, 489, 492
caso de primeira-pessoa 454
castidade 433
cheiro 157, 244, 340, 360
ciúme 34, 161, 228, 229, 230, 231, 232, 233, 234, 248, 249, 252, 257,
289, 335, 358, 359, 360, 397, 425, 458, 487
classificação 20, 21, 22, 23, 24, 30, 41, 66, 67, 352, 357, 534, 535, 536,
537, 538
complementaridade 369, 419, 420, 421
conatus 66
552
índice onomástico
concupiscência 188
conservadorismo 35, 475
constrangimento 100, 200, 201, 208, 210, 227, 336, 396, 443, 465
construção de gênero 352, 353, 364, 365, 367, 368, 370, 371, 372
contracepção 392
contrato social 438, 482, 486
coprofilia 215
coprofobia 215
coqueteria 227, 228
coragem 306, 311, 322, 364, 443, 444, 445, 456
cortejo 38, 252, 253, 254, 257, 267, 369, 370
crime passionel 234
culpa 28, 32, 100, 101, 110, 124, 202, 291, 308, 410, 423, 454, 537
cunilíngua 388, 389
curiosidade 19, 58, 129, 130, 153, 199, 208, 248, 287, 362, 404, 418, 430, 487
curso do amor 331, 332, 335, 343, 346, 421
curso do desejo 127, 189, 331, 332, 335, 346
D
“dado” 32, 167, 180, 250, 309, 494, 496, 507, 508, 528
dança 256, 324, 370, 377, 378, 489
deformidade 301
democracia 134
desejabilidade 144
desejo sexual 9, 10, 13, 15, 17, 18, 27, 28, 33, 34, 35, 38, 50, 60, 61, 73,
92, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 105, 110, 112, 113, 114, 115, 117,
118, 121, 122, 123, 124, 126, 127, 131, 132, 133, 134, 136, 141,
143, 149, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 159, 160, 175, 176,
177, 180, 191, 193, 194, 196, 211, 212, 216, 227, 229, 231, 238,
246, 247, 249, 250, 252, 254, 255, 266, 267, 280, 282, 284, 289,
293, 295, 301, 302, 307, 312, 331, 338, 340, 344, 346, 348, 362,
373, 377, 378, 379, 387, 393, 394, 395, 396, 418, 425, 426, 428,
429, 430, 435, 455, 457, 458, 459, 464, 465, 471, 494
desejo vicário 158
Deus 16, 18, 34, 62, 102, 111, 120, 163, 168, 169, 172, 184, 189, 190,
191, 193, 245, 269, 296, 300, 337, 373, 381, 420, 441, 477, 478,
479, 528
dialética 53, 166, 178, 409, 486
dinheiro 221, 222, 223, 225
divertimento 304, 306, 307, 310, 312, 535
dom-juanismo 234, 235, 237, 240, 242, 249
E
economia de mercado 151, 224
553
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
educação 124, 215, 308, 336, 368, 370, 372, 433, 439, 440, 441, 445,
446, 458, 459, 462, 465, 467, 469, 475, 479
emoção 22, 24, 25, 30, 31, 34, 43, 58, 93, 96, 97, 128, 129, 142, 155, 181,
183, 189, 200, 207, 216, 243, 244, 246, 249, 253, 278, 319, 320,
322, 341, 344, 353, 379, 396, 398, 400, 403, 404, 405, 423, 429,
436, 453, 458, 495, 535
enamoramento 226, 227
encantamento 515
encarnação 46, 47, 49, 50, 55, 56, 57, 58, 96, 97, 98, 100, 104, 105, 106,
107, 108, 109, 110, 111, 112, 123, 125, 127, 129, 130, 132, 137,
139, 157, 158, 175, 176, 177, 184, 187, 188, 189, 191, 192, 193,
194, 196, 197, 199, 207, 208, 215, 216, 236, 245, 246, 249, 298,
309, 310, 318, 320, 321, 324, 326, 328, 332, 345, 348, 355, 362,
363, 365, 366, 367, 369, 370, 371, 372, 376, 380, 405, 408, 421,
429, 434, 442, 460, 463, 468, 478, 488, 535
ensinamento Quaker 468
entendimento intencional 29, 31, 34, 59, 106, 129, 172, 215, 255, 262,
263, 264, 265, 275, 291, 292, 293, 310, 352, 355, 477, 484, 515,
532, 536, 538, 539
entendimento tácito 151
ereção 38, 102, 103, 107, 212
escravidão 117, 193, 224, 244, 353, 354, 405, 406, 409, 410, 460, 469
essência 20, 30, 37, 59, 60, 65, 75, 129, 146, 155, 163, 164, 165, 169,
170, 178, 180, 186, 221, 222, 255, 286, 298, 311, 375, 381, 441,
454, 496, 499, 513
essência individual 163, 164, 165, 169, 180, 186
Estado 110, 367, 477, 481, 482, 485
estima 28, 39, 87, 143, 159, 161, 162, 178, 186, 226, 295, 299, 305, 306,
307, 308, 311, 312, 313, 314, 316, 318, 319, 320, 321, 322, 323,
329, 330, 331
estupro 17, 55, 177, 204, 345, 399, 459, 467
eu 9, 17, 25, 28, 30, 39, 41, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 55, 56, 65, 68, 73, 74,
75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 93, 94,
95, 96, 97, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 111, 113, 116,
117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 125, 127, 128, 129, 132, 137,
141, 142, 143, 144, 145, 148, 149, 151, 152, 153, 154, 155, 157,
158, 160, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 175, 176,
177, 178, 179, 180, 182, 183, 184, 186, 187, 188, 192, 194, 196,
197, 199, 200, 201, 204, 205, 206, 209, 214, 215, 226, 227, 229,
230, 235, 237, 238, 239, 240, 241, 244, 245, 246, 248, 249, 250,
251, 254, 255, 261, 262, 266, 267, 268, 270, 271, 274, 275, 276,
279, 281, 284, 290, 291, 292, 296, 301, 304, 305, 308, 309, 310,
311, 312, 314, 315, 316, 317, 318, 319, 320, 328, 329, 330, 331,
332, 333, 335, 337, 338, 341, 343, 344, 345, 346, 349, 350, 351,
353, 354, 355, 359, 363, 373, 376, 378, 384, 393, 394, 395, 396,
406, 407, 408, 410, 411, 412, 413, 414, 416, 417, 418, 421, 422,
554
índice onomástico
424, 426, 434, 436, 437, 438, 440, 441, 442, 443, 444, 445, 446,
447, 448, 449, 450, 451, 452, 453, 454, 456, 457, 459, 460, 463,
466, 467, 468, 469, 472, 475, 476, 477, 478, 481, 484, 486, 489,
492, 494, 496, 497, 499, 501, 502, 503, 506, 507, 512, 513, 515,
520, 524, 525, 526, 529, 530, 533, 538
eu transcendental 28, 89, 90, 94, 95, 125, 180, 215, 437, 538
excitação 18, 34, 37, 38, 39, 40, 42, 43, 44, 45, 46, 48, 49, 50, 51, 52, 53,
54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 93, 95, 96, 97, 103, 108, 112, 117,
118, 127, 130, 131, 132, 133, 136, 160, 175, 182, 183, 184, 187,
188, 189, 190, 191, 195, 198, 200, 211, 214, 216, 217, 221, 230,
236, 247, 277, 284, 286, 287, 289, 332, 338, 339, 341, 342, 368,
395, 399, 402, 404, 417, 418, 421, 422, 426, 428, 429, 488, 491
excitação sexual 37, 39, 42, 43, 44, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 61, 95, 96,
112, 117, 188, 190, 191, 214, 216, 230, 236, 277, 284, 286, 289,
338, 341, 342, 395, 404, 417, 418, 428, 429
excremento 192, 215
experiência estética 37, 155, 159, 161, 228, 326
explicação científica 26, 133, 260, 275, 472
explicação funcional 31
exposição indecente 135
extensionalidade 520, 521, 522, 523, 524, 525, 526
F
falácia naturalista 60
família 319, 367, 424, 425, 426, 427, 433, 481, 482, 488
fantasia 44, 135, 177, 224, 229, 232, 288, 342, 374, 410, 429, 430, 431,
432, 465, 466, 467, 469
felação 388, 389
felicidade 27, 87, 155, 285, 328, 337, 393, 440, 441, 442, 443, 446, 455,
478, 539
feminismo 353, 355, 373, 375, 382, 383
feminismo kantiano 353, 355, 373, 375, 382, 383
Fenomenologia 18, 117, 407
fetiche religioso 429
fetichismo 277, 396, 427, 428, 429, 430
fidelidade 21, 119, 120, 235, 252, 265, 334, 458, 459, 463, 464
fisicalismo 516
flerte 227
fornicação 18
fotografia 108
fraqueza de vontade 82
futebol 130, 131, 134, 136
G
gravidez 215, 391
555
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
H
haecceitas 163
harém 225
hermafroditismo 357, 374
historicidade 476, 477
história 31, 41, 53, 59, 60, 61, 69, 89, 90, 94, 110, 121, 161, 207, 212,
224, 261, 262, 265, 292, 309, 349, 376, 383, 427, 428, 459, 475,
476, 481, 483, 485, 491, 492
homem e mulher 34, 350, 355, 356, 360, 362, 367
homossexualidade 235, 348, 349, 352, 364, 385, 396, 414, 415, 417, 418,
419, 420, 421, 426, 468
humor 264, 304, 404
I
idealismo transcendental 510
idealização 226, 325, 331
identidade dos indiscerníveis 168
identidade pessoal 111, 309, 447
ideologia 31, 255, 336, 361, 414, 485
Iluminismo 108
“imanente” 159, 304, 314
imperativo categórico 125, 126, 127, 178, 354, 435, 436
incesto 281, 289, 292, 297, 396, 422, 423, 424, 425, 426, 427
inconsciente 44, 113, 270, 271, 273, 274, 275, 290, 291, 429
indexicais 170, 527
indivíduos 62, 63, 64, 88, 91, 109, 111, 120, 127, 159, 164, 170, 172, 193,
194, 195, 256, 271, 426, 446, 468, 480
indolência 329
inibição 248, 278, 404
iniciação 243, 403, 404, 484
inocência 32, 47, 100, 101, 189, 202, 403, 404, 424, 426, 461, 462, 463,
471, 479, 480
insanidade 84, 229
instinto 9, 10, 101, 127, 157, 174, 193, 202, 242, 250, 261, 271, 276, 277,
278, 281, 293, 342, 381, 389, 402, 443
instituições 35, 37, 68, 93, 109, 111, 368, 420, 474, 475, 477, 478, 479,
480, 481, 482, 483, 485, 488, 489
integridade sexual 468, 469, 473, 474, 480, 481
intelecto 261, 328
intencionalidade 25, 27, 31, 32, 41, 45, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56,
57, 58, 59, 60, 61, 66, 70, 72, 97, 98, 99, 104, 108, 112, 115, 117,
121, 122, 123, 125, 127, 130, 131, 132, 133, 136, 137, 141, 145,
146, 151, 152, 154, 155, 156, 157, 158, 160, 161, 172, 174, 177,
180, 182, 195, 197, 202, 206, 211, 216, 217, 218, 221, 226, 228,
234, 235, 242, 244, 248, 249, 267, 268, 271, 275, 282, 283, 284,
556
índice onomástico
285, 286, 287, 288, 292, 302, 312, 313, 314, 320, 328, 331, 335,
346, 378, 379, 392, 394, 398, 402, 410, 414, 430, 433, 434, 459,
463, 516, 517, 518, 519, 520, 521, 524, 525, 526, 527, 528, 529,
530, 531, 532, 534, 535, 537, 539
intencionalidade epistêmica 55, 61
intensionalidade 520, 522, 526, 527, 530, 531
intenção 21, 28, 43, 47, 48, 56, 61, 70, 71, 76, 82, 83, 84, 85, 155, 170,
181, 182, 189, 212, 218, 228, 244, 248, 265, 318, 338, 377, 391,
427, 448, 450, 451, 515
intimidade 135, 136, 167, 183, 210, 215, 227, 229, 331, 379, 426, 461,
464, 483, 488
intuição 159, 169, 303, 346, 433, 454
irracionalidade 84, 457
K
Kama Sutra 115
kinseyismo 300, 336, 473
L
lar 226, 359, 365, 389, 424, 425, 483, 487, 515
Lebenswelt 25, 26, 27, 28, 29, 32, 33, 62, 87, 173, 254, 372, 381, 472,
473, 476, 479, 482, 493, 515, 516, 532, 538, 539
lei 28, 67, 105, 126, 213, 241, 268, 284, 297, 298, 305, 306, 311, 337,
338, 371, 394, 409, 417, 423, 424, 437, 438, 441, 466, 481, 520,
521, 522, 525
lei de ferro da oligarquia 126
liberalismo 482
liberdade metafísica 90, 193
libido 125, 273, 276, 277, 280, 281, 282, 283, 284, 287, 310
linguagem 10, 32, 33, 40, 47, 48, 69, 70, 71, 73, 75, 76, 83, 84, 85, 86, 90,
94, 113, 126, 155, 168, 176, 179, 189, 198, 209, 210, 211, 225, 257,
261, 264, 272, 275, 279, 288, 304, 306, 324, 327, 336, 351, 354,
370, 371, 373, 407, 447, 448, 459, 471, 472, 481, 484, 493, 495,
496, 497, 498, 500, 501, 502, 503, 504, 505, 506, 507, 508, 509,
512, 513, 518, 519, 521, 527, 531, 532
livre de razões 143, 146
lodo 192, 214
louva-a-deus 390
luxúria 93, 132, 135, 147, 177, 190, 191, 196, 218, 220, 235, 299, 314,
333, 342, 432, 459, 463, 464, 465
M
masculino e feminino 349, 354, 357, 358, 359, 382, 417
557
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
N
narcisismo 182
necessidade 24, 27, 33, 61, 68, 88, 91, 120, 122, 125, 132, 133, 156, 160,
162, 191, 192, 193, 195, 215, 221, 234, 235, 247, 249, 257, 264,
278, 290, 299, 306, 319, 321, 324, 330, 331, 342, 343, 344, 361,
370, 382, 406, 407, 408, 417, 427, 431, 442, 458, 472, 476, 496,
501, 538
necrofilia 55, 392, 396, 400, 401, 402, 421
neuterismo 357
ninfomania 53
nojo 200, 202, 216, 289, 459
nomes próprios 115, 527, 529
normalidade 32, 110, 197, 277, 322, 346, 357, 383, 387, 388, 389, 392,
393, 414, 415, 458
númeno 510, 511
O
objeto formal 142, 534, 535
obscenidade 57, 197, 198, 199, 206, 211, 217, 218, 224, 229, 237, 249,
398, 415, 421, 422, 426, 427, 432, 433, 434, 467, 468, 489
558
índice onomástico
ódio 10, 31, 52, 109, 110, 112, 143, 177, 234, 302, 316, 331, 412, 475
olhar 34, 45, 46, 47, 48, 64, 90, 93, 96, 97, 100, 103, 122, 124, 128, 135,
173, 175, 176, 182, 201, 202, 204, 205, 206, 207, 216, 219, 231,
241, 244, 245, 246, 249, 253, 265, 306, 307, 318, 338, 341, 359,
360, 381, 392, 410, 423, 424, 430, 455, 456, 486, 487, 503, 528
órgãos sexuais 15, 38, 41, 52, 61, 102, 108, 130, 190, 198, 202, 203, 204,
206, 211, 212, 213, 215, 216, 217, 238, 341, 418, 421
orgasmo 45, 112, 113, 133, 134, 135, 175, 429, 466
orgulho 43, 53, 85, 257, 320, 453, 454, 456
P
paixão 16, 28, 97, 100, 116, 141, 156, 177, 193, 200, 214, 226, 227, 230,
235, 236, 266, 267, 270, 281, 297, 298, 307, 318, 321, 323, 328,
395, 401, 424, 426, 429, 463, 483, 485, 486
pecado 189, 190, 191, 192, 193, 198, 199, 216, 238, 314, 404, 479
pecado original 187, 190, 191, 192, 193, 199, 216, 238, 314, 479
pedofilia 396, 402, 403, 404, 425, 467
pensamento 15, 24, 25, 27, 31, 37, 40, 42, 43, 45, 46, 48, 49, 50, 55, 58,
68, 69, 71, 72, 73, 74, 88, 95, 99, 101, 104, 105, 115, 116, 118, 119,
120, 121, 122, 124, 125, 127, 129, 132, 134, 141, 154, 155, 157,
158, 161, 162, 167, 170, 171, 174, 176, 177, 184, 187, 190, 191,
199, 200, 204, 205, 206, 208, 212, 227, 230, 233, 235, 237, 239,
243, 251, 252, 281, 284, 292, 301, 302, 318, 324, 325, 328, 338,
339, 341, 347, 351, 358, 359, 366, 372, 376, 378, 383, 388, 398,
409, 423, 426, 427, 429, 431, 433, 435, 436, 446, 447, 449, 453,
458, 467, 471, 475, 479, 481, 491, 495, 496, 497, 499, 513, 526,
528, 529, 532, 536
pensamentos individualizantes 119, 158, 186, 195, 196, 528
persona 67
personalidade jurídica 68, 109
perspectiva de primeira-pessoa 91, 95, 102, 106, 107, 175, 184, 186, 198,
291, 308, 376, 392, 435, 438, 446, 447, 454, 478, 493, 494, 538
perversão 32, 52, 216, 248, 277, 342, 346, 385, 387, 389, 390, 392, 393,
394, 395, 398, 399, 400, 401, 402, 405, 414, 415, 423, 425, 426,
427, 430, 432, 433, 434, 463, 464, 465, 468, 472
pesar 213, 317, 318
pessoas 15, 26, 28, 30, 31, 47, 51, 58, 59, 61, 62, 66, 67, 68, 71, 86, 87, 88,
91, 93, 94, 95, 99, 105, 109, 110, 111, 118, 122, 123, 131, 132, 144,
153, 155, 159, 165, 170, 175, 179, 183, 188, 193, 200, 202, 203, 216,
218, 226, 234, 250, 254, 264, 282, 283, 290, 299, 303, 309, 314, 315,
319, 336, 342, 343, 346, 347, 348, 349, 353, 354, 356, 363, 365, 367,
369, 372, 375, 379, 380, 382, 391, 392, 395, 404, 408, 409, 414, 420,
421, 424, 425, 429, 430, 432, 436, 438, 441, 442, 446, 455, 460, 461,
465, 466, 472, 475, 478, 481, 482, 483, 485, 486, 487, 489, 492, 498,
499, 501, 503, 527, 534, 535, 537, 538
559
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
Q
qualidades secundárias 24, 375, 532, 533, 534, 538
quantificação 525, 526
R
racionalidade 68, 71, 72, 94, 95, 237, 261, 262, 354, 370, 437, 457
racionalismo 27, 66, 108
raiva 28, 30, 41, 84, 87, 93, 124, 131, 133, 136, 139, 140, 151, 152, 154,
182, 200, 243, 244, 302, 310, 311, 331, 336, 413, 443, 444
razão prática 83, 89, 125, 303, 311, 317, 436, 439, 447, 454, 477, 536
reciprocidade 48, 50, 127, 128, 131, 136, 176, 181, 182, 221, 281, 312,
314, 315, 316, 402, 412
referência 25, 65, 76, 77, 80, 106, 115, 116, 120, 121, 142, 163, 164, 165,
167, 187, 206, 210, 211, 212, 232, 233, 267, 271, 275, 285, 296,
314, 346, 352, 357, 362, 375, 380, 395, 415, 426, 449, 496, 499,
500, 501, 502, 504, 505, 508, 509, 510, 511, 512, 513, 516, 517,
518, 519, 520, 521, 522, 523, 527, 530, 532
religião 27, 33, 34, 373, 429, 461, 477, 478, 479
remorso 85, 186, 309, 449, 450, 453, 454
representação mental 70, 71, 520, 527, 531, 532
560
índice remissivo
S
sagrado 32, 337, 398, 459, 477, 478, 479, 480, 481, 484, 485, 538
satiromania 235
saúde 256, 298, 442, 452
sedução 38, 137, 156, 235, 236, 241, 424
seleção sexual 256, 271, 422
sensação 34, 39, 40, 41, 42, 43, 49, 54, 55, 57, 72, 73, 101, 102, 113, 124,
142, 152, 158, 175, 204, 210, 212, 215, 217, 218, 227, 232, 233,
243, 244, 252, 286, 288, 291, 300, 324, 325, 326, 338, 340, 343,
411, 417, 418, 419, 426, 428, 449, 450, 453, 455, 459, 494, 495,
498, 499, 501, 502, 503, 507
sensualidade 322, 340
sentido 22, 27, 30, 31, 38, 40, 44, 49, 51, 55, 59, 64, 65, 67, 68, 69, 70,
72, 73, 76, 77, 78, 79, 82, 85, 98, 102, 103, 106, 109, 119, 120, 123,
128, 131, 133, 134, 141, 142, 144, 147, 150, 151, 152, 154, 159,
163, 175, 180, 184, 187, 191, 192, 196, 201, 207, 213, 214, 218,
222, 223, 224, 231, 236, 239, 249, 253, 256, 261, 267, 273, 275,
278, 279, 283, 287, 301, 303, 304, 306, 307, 310, 311, 312, 319,
320, 326, 330, 336, 337, 341, 344, 349, 350, 352, 355, 356, 362,
363, 372, 374, 375, 379, 381, 389, 393, 400, 405, 406, 407, 409,
410, 416, 422, 423, 426, 431, 432, 442, 446, 451, 453, 457, 458,
460, 461, 465, 466, 467, 471, 472, 473, 474, 476, 477, 478, 486,
488, 492, 496, 497, 501, 502, 503, 504, 505, 510, 511, 518, 521,
525, 526, 527, 533
seres humanos 28, 31, 37, 58, 61, 66, 67, 68, 82, 95, 109, 113, 198, 222,
253, 254, 259, 261, 354, 360, 365, 375, 377, 443, 471, 538
sexo 13, 28, 53, 59, 108, 112, 124, 128, 191, 199, 200, 201, 210, 212,
223, 224, 225, 229, 230, 251, 256, 263, 268, 272, 276, 286, 292,
293, 294, 296, 299, 342, 343, 346, 348, 349, 350, 351, 352, 354,
356, 357, 358, 360, 361, 362, 363, 364, 365, 366, 368, 370, 371,
372, 373, 374, 376, 378, 379, 380, 381, 382, 383, 384, 402, 414,
415, 418, 419, 460, 466, 468, 469, 474, 479
561
desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton
sexualidade infantil 42, 129, 277, 280, 284, 288, 289, 404
significado 18, 20, 22, 24, 39, 40, 48, 50, 54, 61, 70, 77, 81, 87, 96, 102,
129, 130, 147, 159, 174, 176, 181, 182, 184, 185, 192, 193, 194,
206, 209, 211, 223, 238, 245, 265, 267, 277, 279, 313, 322, 325,
326, 340, 344, 345, 362, 369, 370, 371, 388, 389, 395, 398, 402,
415, 418, 420, 424, 429, 435, 437, 455, 460, 461, 463, 472, 473,
474, 476, 477, 478, 479, 484, 485, 487, 493, 498, 504, 505, 512,
515, 516, 527, 535
silogismo prático 439, 440
simiomorfismo 263
sistemas intencionais 519
sociedade civil 481, 482, 486
Sociobiologia 251, 255, 257, 258, 260, 262, 263, 265, 266, 268, 270, 358,
360
sodomia 389, 421
sorriso 47, 55, 99, 100, 102, 103, 185, 226, 246, 248, 285, 300, 320
substantivos contáveis 63, 65
substantivos incontáveis 64
substância 65, 66, 88, 89, 105, 145, 158, 166, 167, 180, 206, 272, 319,
320, 333, 478, 486, 492, 510, 527
sujeira 202, 203
T
tabu 205, 210, 292, 293, 404, 422, 459, 480
tarefa da Filosofia 472
temperamento 304, 305, 351, 445
temperança 444, 455, 459
teologia 111, 150, 163, 209, 477
tipos funcionais 20, 21, 24
tipos ideais 224, 225
tipos naturais 21, 23, 354, 355, 374, 527
Tipos pessoais 372
tortura 244, 245, 246, 345, 457
trabalho 10, 11, 16, 17, 19, 37, 47, 58, 69, 70, 76, 82, 90, 126, 130, 148,
178, 183, 190, 191, 203, 221, 225, 227, 259, 270, 271, 309, 319,
341, 343, 363, 364, 365, 367, 370, 371, 392, 407, 408, 411, 473,
480, 488, 491, 493, 496, 522, 533
tragédia 90, 115, 116, 245, 313, 426, 427, 457
tristanismo 234, 237, 240, 241, 242, 249
típico 63
U
união 10, 34, 35, 58, 61, 103, 113, 125, 128, 131, 133, 134, 136, 137,
139, 140, 160, 175, 181, 184, 187, 190, 191, 193, 194, 195, 213,
214, 220, 221, 227, 231, 237, 238, 239, 241, 249, 252, 266, 268,
562
índice remissivo
270, 271, 277, 280, 287, 293, 299, 300, 316, 319, 321, 329, 330,
331, 336, 339, 346, 349, 351, 358, 361, 368, 370, 378, 379, 384,
387, 389, 394, 395, 398, 400, 417, 418, 419, 420, 424, 426, 430,
433, 458, 460, 462, 463, 483
V
valores 21, 59, 222, 317, 323, 353, 438, 452, 453, 463, 471, 478, 523, 524
vergonha 34, 100, 189, 190, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208,
209, 211, 213, 216, 217, 219, 220, 224, 229, 232, 249, 278, 289,
293, 310, 378, 396, 397, 398, 412, 424, 464, 469
vergonha verbal 209
Verstehen 29, 262
vida 15, 16, 17, 24, 25, 30, 32, 40, 47, 59, 61, 62, 66, 67, 68, 70, 72, 88,
97, 102, 107, 109, 110, 119, 136, 137, 143, 193, 195, 196, 205, 206,
207, 212, 214, 225, 227, 257, 258, 259, 266, 269, 270, 272, 278,
280, 282, 283, 285, 292, 295, 296, 315, 317, 320, 321, 322, 324,
328, 330, 333, 342, 348, 349, 358, 359, 361, 367, 369, 371, 372,
377, 387, 389, 392, 393, 394, 395, 399, 400, 401, 402, 403, 404,
406, 408, 413, 417, 422, 425, 427, 434, 435, 440, 442, 445, 447,
451, 452, 455, 457, 461, 463, 465, 468, 472, 476, 477, 478, 479,
484, 486, 487, 489, 491, 506, 534, 536
vida mental dos animais 40
virgindade 192, 359
virtude 9, 74, 83, 86, 115, 120, 134, 148, 165, 170, 212, 217, 219, 261,
302, 303, 305, 306, 308, 311, 312, 313, 317, 319, 321, 322, 325,
326, 327, 328, 329, 332, 336, 338, 364, 391, 393, 416, 424, 436,
441, 442, 443, 444, 447, 454, 455, 456, 459, 463, 467, 468, 473,
474, 478, 487, 528, 530, 537
vontade 20, 41, 44, 52, 54, 57, 82, 85, 89, 98, 99, 102, 106, 107, 137, 143,
151, 169, 173, 176, 188, 190, 191, 193, 204, 212, 213, 248, 249,
261, 264, 267, 268, 300, 327, 328, 329, 338, 368, 372, 393, 401,
406, 407, 408, 432, 451, 452, 465, 478
voto de amor 321, 434, 486
vício 189, 311, 322, 323, 330, 364, 365, 444, 445
Z
zonas erógenas 42, 277, 284, 342
zoofilia 398
563
Este livro foi impresso pela Gráfica Daikoku.
O miolo foi feito com papel chambrill avena
80g, e a capa com cartão triplex 250g.