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Nota explicativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Após essa primeira leitura, você pode passar aos “Elementos da filosofia
de Olavo de Carvalho”. Faço aí uma descrição ampla, mas sucinta, dos prin-
cipais tópicos do seu pensamento. Se algo ficar confuso para você, não há
problema: de fato, o texto é compacto e requer explicações adicionais, mas
certamente é possível ter a partir dele uma visão panorâmica da filosofia de
Olavo.
Boa leitura.
Ronald Robson
Ronald Robson — Como estudar a obra de Olavo de Carvalho
Freyre é celebrado, seus livros têm saída, mas a classe mais ou menos
amorfa da qual em geral esperamos o peneiramento das ideias, os “inte-
lectuais” (professores universitários, curadores culturais, opinadores em ge-
ral), ainda hoje trata o mestre de Apipucos com condescendência, senão
com franca oposição, a fim de mantê-lo cativo das etiquetas de reacionário
e ideólogo da morenidade, alvo de predileção daqueles que hoje combatem
o “racismo estrutural”. As ideias seminais de livros como Aventura e rotina
(1953) e Para além do apenas moderno (1973) não chegaram a ser com-
batidas. Foram apenas ignoradas pelos palradores de maior visibilidade e
nutridas à sombra, quase como uma boa-nova que se deve manter em segre-
do, por um círculo relativamente estreito de estudiosos, infelizmente muitas
vezes de tendência especializada demais, até provincianos, e pouco atentos à
vocação integradora, “multidisciplinar” e universalizante da obra de Freyre.
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intuição”, coisa que ele mesmo não fez. Falo da necessidade de dar foros de
cidadania à “teoria dos quatro discursos” nas mais diversas áreas do saber,
e sequer me consta que suas mais óbvias aplicações à historiografia, tantas
vezes sugeridas pelo próprio Olavo, tenham sido aproveitadas por alguém.
As discussões da “técnica filosófica”, como Olavo a entendia, necessitam ir
muito além dos rudimentos que expus em meu livro sobre o filósofo. Toda a
sua multitudinária reação à filosofia de Kant permanece dispersa nas fontes
mais heterogêneas, o que torna muito difícil ao estudioso, mesmo ao estu-
dioso honesto e bem-disposto, inteirar-se do escopo de seus argumentos e
aquilatar sua verdade ou erro – pois muitas vezes não resta claro nem a qual
passagem de Kant ele está aludindo em algumas de suas críticas.
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Recordo esses casos apenas para ilustrar como seria relativamente fácil
tornar Olavo lido nas universidades: bastaria que aqueles que se queixam
das universidades ingressassem nelas, participassem de grupos de pesquisa,
pusessem Olavo entre as referências, o discutissem, o editassem. Há zonas
relativamente incontroversas em sua obra, que poderiam ser aproveitadas.
Tudo isso é muito importante, mas não é o mais importante. Interessa-me
em primeiro lugar o que fazer de mim, a partir da obra de Olavo, como
creio que deveria interessar aos demais alunos dele. René Descartes fez-se o
protótipo do filósofo moderno (do bom filósofo, inclusive) ao dar as costas
à universidade. A cultura mais pujante criada entre os séculos XV e XVIII
veio das franjas das universidades, da borda cultural de agremiações e ins-
titutos, com mais patrocínio privado que estatal. E foi justamente grande
parte dessa cultura que, num movimento oposto, se oficializou nas univer-
sidades a partir do século XIX. Nelas o intelectual se trancafiou novamente:
se no século XV lia manuais nos quais se decantava uma rala beberagem de
Pedro Lombardo e Aristóteles, agora passava a beber de um suco concentra-
do de historicismo que o entronava feito novo guia dos povos, pois que situ-
ado no ápice histórico a partir do qual julgaria – negativamente, presuma-se
– todo o passado humano. Mais uma vez, o intelectual confunde o mundo
com a confortável torre de marfim onde se alojou. Descartes hoje começaria
por fazer implodir metodicamente essa torre.
À sua maneira, Olavo fez isso, e é provável que seu nome aos poucos
passe a ser tomado em outros países como referência de um novo tipo de in-
telectual, que talvez não seja ridículo denominar intelectual por dissidência,
o que é bem mais que um intelectual dissidente. Essa percepção se ampliará
à medida que um grupo de pessoas tiver por sua obra a devoção que um Ed-
son Nery da Fonseca teve pela de seu mestre Gilberto Freyre, num discipu-
lado constante e criativo. É preciso exercitar a liberdade que Olavo nos deu,
a qual irá independer de maior ou menor liberdade política.
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Nem tudo até agora foi divertido, contudo. Olavo teve a vida que esco-
lheu, não a que merecia – menos ainda a que merecíamos nós outros, seus
leitores e alunos. Optou, com todas as suas idiossincrasias, por ser um mes-
tre, um professor full time, o que desnorteou muita gente, tentada assim a
emular até seus gestos e gostos, quando não cada uma de suas palavras acer-
ca de tudo e todos. Bem como desnorteou aqueles que nele não viram mais
que a pátina do palavrão e do doesto, e que fizeram da fofoca uma régua pela
qual medir sua obra. Que Olavo tenha feito um prognóstico errado ao afir-
mar que “Bolsonaro é o líder natural e predestinado da revolução brasileira”
não deveria hoje escandalizar ninguém, pelo menos não escandalizar mais
que o próprio fato de ele ter escrito isso – por maior que seja sua simpatia
pelo governo anterior.
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ções mais propícias. Olavo foi odiado pelo PT e pelo MBL, por militares e
por bolsonaristas, por Fernando Haddad e por Marco Antonio Villa, por ca-
tólicos progressistas e por católicos tradicionalistas, por muçulmanos e por
militantes do movimento gay, mas vou parar antes de citar nomes de you-
tubers. É um currículo formidável, que não o isenta de erros nem o cobre
com o manto de outsider imaculado, mas que assinala uma marca constante
de sua atuação: Olavo viveu e morreu como corpo estranho no combalido
organismo da cultura brasileira. Mas no futuro tenderá a surgir mais como
ele mesmo, sem o ruído que hoje o cerca, e agigantar-se como fonte viva de
cultura.
No futuro eu não sei, mas no presente ele é a nossa mais possante nas-
cente criativa. E a mais mal aproveitada. Morto, Olavo nada tem a ganhar
de nós: nós é que temos tudo a perder sem ele.
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I.
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E assim por diante, a passar por camadas que apenas podem ser alcan-
çadas, mas não necessariamente, como a da síntese individual (oitava), a
da personalidade intelectual (nona) ou mesmo a do destino final (décima
segunda).
II.
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III.
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IV.
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V.
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Cada intuição, por sua vez, inaugura uma cadeia potencialmente ilimi-
tada de outras intuições; disso trata a teoria da tripla intuição: o ato pelo
qual o indivíduo intui (primeira intuição) é, ao mesmo tempo, intuição de
algo (segunda intuição) e intuição das condições desse ato intuitivo (terceira
intuição). Isso explicaria ainda, por exemplo, certos simbolismos naturais,
como a identificação do “sol” ou da “luz” com o conhecimento em inúmeras
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VI.
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VII.
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VIII.
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1. A anamnese pela qual o filósofo rastreia a origem das suas ideias e as-
sume a responsabilidade por elas.
2. A meditação pela qual ele busca transcender o círculo das suas ideias
e permitir que a própria realidade lhe fale, numa experiência cognitiva ori-
ginária.
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Contudo, não esgotei nesse livro o que tinha a dizer a propósito e a partir
de sua filosofia. No momento, redijo um novo ensaio sobre Olavo, de caráter
mais introdutório mas não menos arriscado; e, paralelamente, inicio um
curso on-line ao redor dessa filosofia, em consonância com aquilo que de-
fendi ser, em “O futuro de Olavo de Carvalho” (que você leu páginas atrás),
o cerne da posteridade de sua obra.
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Levei muito a sério essa confluência de esforços que parecem tão dis-
tanciados, um ainda próximo da época em que os principais interesses de
Olavo eram a psicologia e as religiões comparadas, outro já no início de um
predomínio da metafísica e da teoria política em seu pensamento.
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Você pode até conhecer um pouco a filosofia de Olavo, mas para avaliar
seu real significado é preciso ter uma visão de como ela se situa na cultura
brasileira e como pode assim ter uma aplicação prática. Neste módulo trata-
rei do pensamento de Olavo a respeito do Brasil, do nosso lugar no mundo e
de como chegamos à situação de calamidade cultural e política em que nos
encontramos.
Aula 2: Como se faz crítica cultural (I): A Nova Era e a Revolução Cultu-
ral e O Jardim das Aflições
Muitas são as pessoas que admiram o professor Olavo, mas temem ter
dificuldade com termos e conceitos filosóficos e, por isso, acabam não co-
nhecendo o que ele tem a nos oferecer de mais importante. Mas não há o
que temer. Neste módulo você será iniciado na filosofia, mesmo que nunca
tenha tido contato com obras filosóficas. Irá se familiarizar com as noções
profundas de “consciência” e de “níveis do eu”, tornando-se ao fim capaz de
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