Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO HISTÓRICA
SOBRE A RELAÇÃO ENTRE
MENTE E CÉREBRO:
DA FILOSOFIA À NEUROPSICOLOGIA
São Paulo
2018
© 2018 UNINOVE
Todos os direitos reservados. A reprodução desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação do copyright (Lei nº 9.610/98). Nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização da UNINOVE.
CDU 159.92.01
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Sumário
Agradecimentos.....................................................................................6
Introdução..............................................................................................8
Capítulo 1
Relação mente e cérebro: das especulações filosóficas ao
surgimento dos primeiros autômatos................................................... 11
Capítulo 2
Relação mente e cérebro: das ciências naturais ao surgimento
da psicologia........................................................................................45
Capítulo 3
Relação mente e cérebro: do método introspectivo ao
surgimento da neurociência.................................................................65
Capítulo 4
Relação mente e cérebro: da crise da psicologia ao surgimento
das novas tecnologias...........................................................................98
Capítulo 5
Relação mente e cérebro: da cibernética ao surgimento
das ciências cognitivas.......................................................................128
Capítulo 6
Relação mente e cérebro: da neuropsicologia russa de Luria
ao surgimento da neuropsicologia cognitiva......................................156
Referências.........................................................................................177
Bibliografia consultada......................................................................203
A Autora.............................................................................................204
6 - LUCIA MARIA G. BARBOSA
VOLTAR AO
SUMÁRIO
Agradecimentos
1
Nesta obra os termos mental, cognitivo ou funções psicológicas superiores são
empregados como sinônimos. Compreende-se que eles se referem aos processos que
ocorrem no cérebro, quando o ser humano realiza ações intencionais; às operações
mediadas pela linguagem, que envolvem o controle consciente do comportamento e
que são produzidas reciprocamente na interação do indivíduo com o seu ambiente
social. Elas têm origem material e exterior ao cérebro. Posteriormente se tornam
representações mentais. Inicialmente são interpsíquicas e depois se transformam em
intrapsíquicas (LURIA, 1990; VIGOTSKI, 2000).
2
O lobo frontal integra o neocórtex (o mais recente da evolução filogenética). Ele
se situa na parte anterior do cérebro e apresenta funções motoras e cognitivas. É
responsável pelo planejamento e monitoramento da realização das atividades motoras
e mentais (LENT, 2005).
12 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
4
Na ciência, um paradigma representa um modelo ou um padrão teórico que serve como
parâmetro para o estudo e a investigação em um determinado campo do conhecimento
científico. Dele derivam as produções da ciência. Ele é o conjunto de definições,
conceitos, leis, valores, teorias e técnicas, de uma área científica.
28 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
5
O território da antiga Prússia (um Estado que não existe mais) hoje se encontra na
Alemanha, Polônia e uma parte menor, na Rússia.
38 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
7
Para fins didáticos, neste texto se adotará a grafia de “Vygotsky”, como sugerido
por Glozman (2003) que, em comunicação pessoal com a autora, no ano de 2006,
indicou esta como a grafia mais empregada internacionalmente. Entretanto, nas
Referências e citações se respeitará a grafia que aparece nas capas das publicações
brasileiras: Vygotsky, Vigotski ou ainda, Vigotskii (com dois “i” finais). Apesar de se
tratar do mesmo autor, tal variação se deve ao fato de que as suas obras originais são
escritas no alfabeto cirílico russo, cujas letras não possuem correspondência com o
alfabeto ocidental. Por isso, os diferentes tradutores interpretam a grafia russa de
modos diferentes.
50 - Capítulo 2 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS CIÊNCIAS NATURAIS AO...
9
O termo autopoiese deriva de auto, que significa próprio e poiese, produção.
56 - Capítulo 2 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS CIÊNCIAS NATURAIS AO...
las várias áreas, afetaria as outras. Assim, atribuiu uma função específi-
ca para cada unidade do sistema nervoso. Ele também deixou implícita
a noção de um funcionamento estratificado, em que os níveis inferiores
dependiam dos superiores e eram por eles modificados, mas generali-
zou muito as localizações de funções no córtex. Ele realizava experi-
mentos com animais, em que provocava lesões em seus cérebros, por
meio de ablações (remoções cirúrgicas de pedaços do cérebro). Com
bases nos dados coletados, julgou que a área lesionada do cérebro es-
pecífica não tinha importância, mas sim a extensão da lesão (O’NEIL,
1969; FEINBERG, FARAH, 1997; GAZZANIGA, HEATHERTON,
2005; PINHEIRO, 2005; XAVIER, HELENE, 2007; ANDRADE, 2014).
O fisiologista alemão Johannes Müller (1801-1858) também se
opôs à frenologia e concordou com as críticas de Flourens. Considerado
o pai da fisiologia, em razão dos trabalhos que desenvolveu nesta área,
Müller estabeleceu que a sensação causada pela estimulação de um ner-
vo (seja ela visual ou auditiva, entre outras), sempre corresponderá ao
sentido por ele provocado, independentemente do estímulo responsável
por produzir esta resposta (XAVIER; HELENE, 2007). Dois de seus alu-
nos trouxeram importantes contribuições para a ciência, especialmente
para a neurologia: von Helmholtz e du Bois-Reymond.
O fisiologista tcheco Jan Evangelista Purkinje (1787-1869) des-
cobriu um tipo de célula nervosa muito grande, encontrada no cerebelo,
em 1837. Ela recebeu o seu nome e é conhecida como célula de Purkinje
(GUYTON, 1993). Com este seu trabalho pioneiro, outros cientistas
avançaram nos estudos sobre a neuroanatomia celular.
O anatomista e fisiologista espanhol Santiago Ramón y Cajal
(1852-1934) destacou-se por ter descrito que os neurônios compõem o
encéfalo e que eles seriam responsáveis pela condução dos sinais nervo-
sos por meio de sinapses. Além disso, demonstrou que, em termos anatô-
micos, os neurônios de todos os animais seriam semelhantes. A partir de
seus achados, se descobriu que é o número de células nervosas e a for-
ma como se inter-relacionam o que diferencia a capacidade de aprendi-
zado entre as espécies e não o tipo destas células nervosas. Ele também
70 - Capítulo 3 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DO MÉTODO INTROSPECTIVO AO...
11
Procedimento cirúrgico em que se realiza a retirada de um retalho ósseo para se
acessar o cérebro. Após a cirurgia o pedaço de osso é recolocado.
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 71
12
As afasias são transtornos da linguagem, que podem afetar tanto a sua expressão
(fala ou escrita) quanto a sua recepção (compreensão), em decorrência de danos nas
áreas cerebrais responsáveis pelas funções linguísticas (GIL, 2003).
13
O córtex pré-frontal se localiza à frente das áreas motoras do lobo frontal. Ocupa ¼
do lobo frontal e se associa às funções cognitivas superiores. Comunica-se com quase
todas as demais áreas do encéfalo e tem um papel de controlador e coordenador dos
processos cognitivos e comportamentais (LENT, 2005).
72 - Capítulo 3 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DO MÉTODO INTROSPECTIVO AO...
14
As apraxias constituem transtornos dos gestos intencionais, da manipulação real
ou em mímica de objetos como resultado de lesão cerebral adquirida (GIL, 2003).
15
As alexias são transtornos ou a total incapacidade para se compreender a linguagem
escrita (GIL, 2003).
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 75
18
Itálico do autor da obra original.
82 - Capítulo 3 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DO MÉTODO INTROSPECTIVO AO...
19
Quanta é o plural de quantum, ou seja, um termo da física moderna, criado em
1900, pelo físico alemão Max Planck (1858-1947), que significa a quantidade mínima
de energia que pode ser emitida, propagada ou absorvida.
84 - Capítulo 3 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DO MÉTODO INTROSPECTIVO AO...
21
A abordagem teórica de Vygotsky é conhecida no Brasil por dois nomes: psicologia
sócio-histórica ou psicologia histórico-cultural. Tal fato tem relação com o modo
como o nome original russo foi traduzido para as línguas inglesa ou portuguesa.
Posteriormente, estes termos foram associados a grupos de estudo e/ou de
investigação brasileiros, diferenciados, que deram preferência ao uso de um ou de
outro na publicação de seus trabalhos.
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 93
Eles variavam. Por isso, não se podia determinar com precisão a rela-
ção entre função mental e área cerebral afetada. Além disso, cada pessoa
apresentava uma organização cerebral diferente, em razão de suas experi-
ências pessoais. Ou seja, o cérebro de cada paciente seria único e, devido
às inter-relações das diversas áreas cerebrais, não se poderia afirmar com
segurança se a função mental afetada estaria, de fato, associada apenas
à área lesionada. Haveria a chance de outras áreas (aparentemente intac-
tas), também estarem comprometidas. Embora os conhecimentos sobre o
funcionamento alterado do cérebro houvesse progredido, ainda seria ne-
cessário o desenvolvimento de novas técnicas para se conseguir explicar
o seu funcionamento normal (LURIA, 1973; DAMÁSIO, DAMÁSIO,
1997; FEINBERG, FARAH, 1997; RAICHLE, 1997; LEZAK et al., 2004;
LENT, 2005; LURIA, 2012; MOREIRA-ALMEIDA, 2013; UEHARA,
CHARCHART-FICHMAN, LANDEIRA-FERNANDEZ, 2013).
No século XVII o microscópio revolucionou a biologia e, pos-
teriormente, a partir da década de 1950, o microscópio eletrônico am-
pliou a compreensão sobre a célula nervosa e os processos moleculares
de funções cognitivas (KOVÁCS, 1997; SQUIRE, KANDEL, 2003). A
descoberta do raio-X, durante os últimos anos do século XIX, impactou
sobre a sociedade. Pela primeira vez se revelou o invisível. Acreditava-
se que a quarta dimensão espacial, a qual os sentidos humanos não te-
riam acesso, havia sido demonstrada (SOUZA CRUZ, 2011).
No final do século XIX e início do século XX, quando a psicolo-
gia surgia como ciência, com base nos achados da fisiologia e da psico-
física, nela também se esboçavam as suas primeiras técnicas avaliativas.
Criavam-se os testes psicológicos, no âmbito da prática educacional, com
a finalidade de se avaliar a inteligência. A partir da década de 1940, no-
vos instrumentos psicológicos foram criados. Sob o impacto da psica-
nálise e do behaviorismo, a psicometria direcionou-se para a avaliação
de aspectos conceituais relativos ao comportamento e à personalida-
de23. Desde a metade do século XX, procedeu-se à avaliação dos aspec-
23
Personalidade é um termo controverso, que pode ser definido como o “modo
relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo”,
119 - Capítulo 4 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DA CRISE DA PSICOLOGIA AO...
que também engloba os seus aspectos físicos e “as noções de habilidades, atitudes,
crenças, emoções, desejos” e modo de se comportar. Ela refere-se à forma em que
estes aspectos estão inter-relacionados e se diferenciam em cada pessoa (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p. 100).
24
A lobotomia é um procedimento cirúrgico em que se retiram partes ou a totalidade
de um lobo cerebral.
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 120
revelou que a área lesionada integra uma rede de áreas corticais e sub-
corticais que, em razão de sua interconectividade, atuam de modo or-
questrado para produzir uma função (LURIA, 1973). Atualmente ele é
empregado tanto em animais quanto em humanos. O exame pode ser
realizado tanto em seres vivos quanto no “post-mortem” (exame reali-
zado após a morte).
O método de estudo de lesões cerebrais também foi integrado
às técnicas eletroneurofisiológicas, fundamentais para o conhecimen-
to da relação entre mente e cérebro. Como as células nervosas condu-
zem corrente elétrica para a transmissão do impulso nervoso, foi criado
um equipamento capaz de captar as ondas elétricas que caracterizam tal
atividade: o eletroencefalograma (EEG). Com ele, transformaram-se os
sinais analógicos em digitais. Concebido em 1924, pelo neurologista ale-
mão Hans Berger (1873-1941), com o EEG também se amplificou e se
filtrou as interferências indesejáveis (tanto do próprio organismo quan-
to do ambiente). Desde o final da década de 1920 a atividade elétrica
de origem neural foi registrada com este aparelho. Por meio de eletro-
dos colocados sobre a superfície do crânio a atividade cerebral é capta-
da, com base na frequência e voltagem de seus sinais. Com esta técnica,
também se observam as variações no ritmo do potencial elétrico do cé-
rebro. Para a avaliação dos fenômenos espontâneos, medidos com o uso
do EEG, destacam-se os potenciais evocados ou exógenos (PEs). Para
se investigar as vias sensoriais (visual, auditiva e somatosensorial) se
parte de estímulos externos que desencadeiam sinais elétricos. As téc-
nicas de “event-related potentials” ou “event-related brain potentials”-
ERP (potenciais evocados por evento, potenciais evento-relacionados,
ou potenciais endógenos) possibilitam a captação de alterações na ativi-
dade cerebral, que surgem quando uma tarefa específica é fornecida, ou
seja, em que se realiza uma atividade voluntária de modo consciente. O
potencial cognitivo associado com a realização da tarefa é uma respos-
ta associada com um evento específico. O potencial evocado foi o pri-
meiro procedimento a empregar o eletroencefalograma promediado, ou
seja, em que se realiza um processo técnico matemático de filtragem dos
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 124
se, suas limitações mentais seriam ultrapassadas. Por isso, tais máquinas
nem de longe se assemelhavam à mente humana (CESTARI; GAZONI;
NÖTH, 2014). Porém, foram necessárias para o estabelecimento das ba-
ses que levaram ao surgimento das ciências da computação e das ciên-
cias cognitivas.
Em 1884, o matemático, filósofo e lógico alemão Gottlob Frege
(1848-1925) publicou “Die Grundlagen der Arithmetik” (Os fundamen-
tos da aritmética). Ele concebeu uma lógica como uma linguagem, por
meio da qual se exprimiria tudo o que se faz em aritmética. Com Frege
surgiu a filosofia da mente: a filosofia analítica que constitui um método
de se filosofar. A sua contribuição foi essencial para as ciências cogniti-
vas e marcou o nascimento da lógica moderna, cujas raízes se encontram
em Descartes, Kant, Leibniz e Husserl. O matemático, filósofo e lógico
galês Bertrand Russell (1872-1970) se opôs a Frege (ANDLER, 1998).
Em seu livro “The analysis of matter” (A análise da matéria), publica-
do em 1927, Russell sugeriu que nunca se poderá observar o cérebro de
modo direto, mas somente por meio da via representacional. Conforme
explicado por Teixeira (2000, p. 85): o “cérebro cria imagens de outros
cérebros quando os examina”, ou seja, o conhecimento que se tem do
cérebro é sempre resultado da percepção (um processo indireto ou me-
diado). Só se tem acesso a estas representações. O cérebro é uma reali-
dade material e não é possível se acessar diretamente a matéria.
O engenheiro americano Hermann Hollerith (1860-1929) venceu
um concurso que escolheu o melhor invento para realizar o censo dos
Estados Unidos da América de 1890. Ele concebeu uma máquina estatís-
tica que lia eletricamente pequenos cartões perfurados, onde conseguiu
colocar uma quantidade enorme de informações. Para que as informa-
ções coubessem neles, foi necessário codificá-las em combinações de
furos nos cartões. Desta forma, surgiram os códigos padronizados, que
possibilitam a redução da quantidade de armazenamento dos dados co-
letados (COSTA, 2008).
Em 1931, o matemático austro-húngaro Kurt Friedrich Gödel
(1906-1978) codificou uma série de instruções por meio de números.
131 - Capítulo 5 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DA CIBERNÉTICA AO SURGIMENTO...
27
Até a publicação deste livro, não se encontrou qualquer registro dos anos de
nascimento e/ou de morte de Graham Hitch.
28
Em comunicação pessoal com a autora, no ano de 2007, o Dr. Baddeley sugeriu
que a melhor tradução para a língua portuguesa seria o termo memória operacional
(do que memória de trabalho), porque ele descreveria a noção de que tal memória
permite que operações mentais sejam realizadas simultaneamente, enquanto outras
tarefas cognitivas são processadas. Por isso, neste trabalho ele será preferencialmente
empregado.
145 - Capítulo 5 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DA CIBERNÉTICA AO SURGIMENTO...
29
Conforme diferentes traduções dos termos originais da língua inglesa.
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 148
sua natureza. Por isso, não admitia a ideia de que os distúrbios mentais
fossem manifestações diretas de um único transtorno geral. Pelo con-
trário, considerava que eles seriam consequência de diversos processos
anômalos (LURIA, 1963).
Luria (1979a) também abordou a questão relativa à dominância
hemisférica. Ele explicou que o hemisfério cerebral dominante surgiu
na espécie humana, em decorrência do predomínio do uso de uma das
mãos na realização da atividade de trabalho (na maioria dos casos, a
mão direita). Como consequência desta peculiar lateralização, ocorreu
a dominância do hemisfério esquerdo em indivíduos destros e do direi-
to, nos canhotos. Segundo ele, tal organização funcional do cérebro hu-
mano também teve grande importância e se relacionou com a aquisição
da fala, porque é no hemisfério esquerdo que a fala se processa.
Com as contribuições de Luria, o campo da neuropsicologia se es-
truturou na URSS. O interesse de estudiosos da psicologia em integrar a
seu corpo teórico os conhecimentos sobre funções corticais superiores
e concepções linguísticas levará à concepção de novas metodologias.
Buscar-se-á uma formulação linguística dos fenômenos neuropsicoló-
gicos. Valorizar-se-á o estudo da linguagem como uma interface entre a
neurologia e a psicologia. Por outro lado, o desenvolvimento psicomé-
trico contribuirá para que a relação entre distúrbios das funções nervo-
sas superiores e suas bases neuropsicológicas sejam compreendidos de
uma forma melhor (LEFÈVRE,1989; DAMÁSIO, 2000a).
Principalmente nos Estados Unidos, alguns dos princípios da psi-
cologia sócio-histórica serão adotados por outra escola, sem necessa-
riamente, assumir-se completamente o seu método: a neuropsicologia
cognitiva. Como comentado por Candiotto (2008), tal ecletismo provo-
cará a aproximação entre teorias e técnicas epistemologicamente diver-
gentes, no que é consistente com uma das características do pensamento
pós-moderno. Por exemplo, Léon-Carrión (2002) aproximará os mode-
los conexionistas de processamento de informações, da teoria neurop-
sicológica de Luria, por avaliar que compartilham de bases conceituais
semelhantes. Julga que o modelo das três unidades funcionais (aplicado
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 168
30
Interessante notar que o nome do periódico do qual Hécaen era co-
editor é “Neuropsychologia”(e não a palavra francesa para Neuropsicologia:
“Neuropsychologie”).
31
Esquema corporal é a representação mental do corpo (GIL, 2003).
32
Somatognosia indica o conhecimento adquirido a respeito dos limites do próprio
corpo, da postura em que se encontra o corpo e dos movimentos necessários para
se executar ações físicas (GIL, 2003).
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 170
www.jsmf.org/about/j/COMPLETE%20Gazzaniga%20%20Article.pdf>
Acesso em: 25 jun. 2016.
lo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722011000400021&lng=en&
nrm=iso>. Acesso em: 13 jun. 2014.
33
A grafia do nome e sobrenome do cientista português António Damásio e do mesmo
sobrenome de sua esposa Hanna Damásio aparece sem o acento agudo nesta publicação
americana. Entretanto, no corpo do texto, respeitou-se a acentuação do nome próprio
do autor e manteve-se o acento na segunda letra “A” de seus sobrenomes.
184 - REFERÊNCIAS
HALL, Manly P. Man: the grand symbol of the mysteries: essays in occult
anatomy. Los Angeles: The Philosophical Research Society, 1972. 254 p.
______. Crítica da razão pura, vol. II. São Paulo: Nova Cultural, 1991b.
248p. (Os Pensadores)
______. Obras incompletas, vol. II. São Paulo: Nova Cultural, 1991b.
194p. (Os Pensadores)
Bibliografia consultada