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PREFÁCIO ...........................................................................................................................................4
1 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO ................................................................................6
1.1 JONH LOCKE E A PSICOLOGIA ...............................................................................................9
1.2 A INFLUÊNCIA DE DARWIN ....................................................................................................10
2
1.3 WUNDT: DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FISIOLÓGICA À PSICOLOGIA DOS POVOS.....12
1.4 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA......................................................................14
1.5 O PRINCÍPIO DO SENTIDO .....................................................................................................15
1. 6 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL.............................................18
2 GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS ABORDAGENS DELES DERIVADAS.....23
2.1 INÍCIO, O ESTRUTURALISMO .................................................................................................23
2.2 FUNCIONALISMO .....................................................................................................................24
2.3 WUNDT E O ASSOCIACIONISMO ...........................................................................................24
2.4 PAVLOV E A REFLEXOLOGIA .................................................................................................25
2.5 BEHAVIORISMO, A PRIMEIRA POTÊNCIA ............................................................................28
2.5.1 Burrhus Frederic Skinner .......................................................................................................29
2.6 GESTALT, A PSICOLOGIA DA FORMA ...................................................................................30
2.7 PSICANÁLISE ...........................................................................................................................31
2. 8 HUMANISMO ............................................................................................................................34
2.8.1 Pirâmide de Maslow ................................................................................................................36
2.9 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL ...............................................................................................37
2.10 PSICODRAMA ..........................................................................................................................38
2.10.1 Jacobo Levy Moreno ..............................................................................................................39
2.10.2 Teoria do psicodrama .............................................................................................................41
2.10.3 Método psicodramático ..........................................................................................................43
2.10.4 Psicodrama psicanalítico .......................................................................................................45
2.11 PSICOLOGIA ANALÍTICA ...........................................................................................................47
3 A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA) .....................................49
3.1 PESQUISA EM PSICOLOGIA E BIOÉTICA .............................................................................58
4 PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ...........................................................61
4.1 PSICOLOGIA DO ESPORTE ....................................................................................................63
4.2 PSICOLOGIA AMBIENTAL .......................................................................................................63
4.3 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL............................................................................................64
4.4 PSICOLOGIA INDUSTRIAL: .....................................................................................................65
4.5 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL:..........................................................................................666
4.6 PSICOLOGIA HOSPITALAR ....................................................................................................68
4.7 PSICOLOGIA ESCOLAR ..........................................................................................................69 3
4.8 PSICOLOGIA JURÍDICA ...........................................................................................................82
5 PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO........................................................................................86
6 CONCEITO DE SAÚDE ............................................................................................................92
7 SAÚDE MENTAL ......................................................................................................................96
8 DEFICIÊNCIA MENTAL ............................................................................................................97
8.1 CLASSIFICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA MENTAL.......................................................................98
9 TRANSTORNO MENTAL ........................................................................................................101
10 PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS ...............................................................................104
10.1 DEPRESSÃO ...........................................................................................................................104
10.2 ANSIEDADE .............................................................................................................................108
10.3 TRANSTORNO BIPOLAR ........................................................................................................111
10.4 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC) ...............................................................116
10.5 ESQUIZOFRENIA ....................................................................................................................120
10.6 HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE ATENÇÃO .........................................................................126
11 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ..................................................................................................132
12 INTERVENÇÃO .......................................................................................................................158
13 EQUIPE MULTIPROFISSIONAL .............................................................................................165
14 PRESENTE E FUTURO DA PSICOLOGIA CLÍNICA ..............................................................168
15 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................177
GLOSSÁRIO ......................................................................................................................................178.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................183
PREFÁCIO
FIGURA 1
A Psicologia talvez seja uma das mais controversas ciências da atualidade. Amada por
uns e odiada por outros, sem dúvida ainda permanece obscura para a grande maioria.
Ouve-se falar dela como ‘coisa do demônio’ dentro de igrejas católicas e evangélicas.
Confundida com práticas alternativas não reconhecidas pela Ciência tradicional, muitos cientistas
a veem com maus olhos e até com certo desdém. O certo é que as pessoas normalmente
costumam combater aquilo que não conhecem. Esse comportamento é no mínimo
preconceituoso.
Faz-se necessário conhecer para só depois exercer sobre aquilo que se conhece
algum tipo de pensamento, seja de apoio ou repulsa. Mas que seja feito com fundamento.
O certo é que a Psicologia provavelmente seja uma das mais complexas ciências da
atualidade. A começar pelo seu próprio objeto de estudo, a pretensão de estudar a alma
humana. Por mais que se estude, jamais será possível abarcar toda esta complexidade, pois o
ser humano é o reflexo de interações ambientais, sociais, físicas, cognitivas e espirituais.
Várias Ciências se cruzam na busca desse conhecimento, como a Neurologia, a
Filosofia, as Ciências Sociais, a Psiquiatria... Tudo o que for dito perto da dimensão do ser
humano envolto em sua cultura e valores será muito pouco. Tudo isso faz da Psicologia uma
Ciência extremamente bela e complexa, dificílima, embora fascinante. Ninguém, jamais sairá
ileso depois que dela se aproximar.
E o objetivo deste curso é facilitar uma primeira aproximação com essa Ciência, que
mais pergunta que responde, pois não é função da Psicologia encontrar respostas, ou soluções
simples e prontas para coisas complexas, mas apenas se propõe a entender melhor quem é o
ser humano e como ele age. Quero caminhar com você ao dar os primeiros passos rumo ao
conhecimento psicológico e espero que se apaixone tanto quanto eu me apaixonei por essa
Ciência, ainda tão mal compreendida. Vamos lá?
5
1 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO
Desde o início dos tempos, o ser humano sempre quis compreender melhor o mundo
que o rodeia, conhecendo as suas origens. Se entendermos a Psicologia como um
conhecimento amplo, é possível afirmar que os mais antigos filósofos, os pré-socráticos, eram, 6
em sua essência, psicólogos, embora não fossem assim denominados nem tivessem o seu
exercício regulamentado em lei.
Na busca pela indagação de si e pelo entendimento de suas origens, várias correntes
teóricas se formaram. Dentre elas, as duas mais importantes, tentando explicar a origem do ser
humano e do Universo: o Criacionismo e o Evolucionismo.
Entende-se o Criacionismo como sendo a teoria ou sistema que sustenta as espécies
animais e vegetais criadas de forma distinta, permanecendo invariáveis. Houve um Ser
Superior que criou todas as coisas que existem. O relato da criação do mundo encontra-se
pormenorizado na Bíblia Sagrada, livro de orientação de todos aqueles que professam a fé
cristã (FERREIRA, 1993).
Ao processo gradual de mudança genética em que as características de toda uma
espécie são alteradas durante muitas gerações, produzindo uma mudança cuja função é
proporcionar uma melhor adaptação dos indivíduos daquela espécie ao meio ambiente, processo
conhecido como Seleção Natural, dá-se a denominação de Evolucionismo (HAYES, 1997).
Mas as grandes questões da humanidade não se limitaram àquelas ligadas ao
Universo. O ser humano sempre se interessou por conhecer melhor a sua própria essência: De
onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que vim fazer nesse mundo? As respostas a essas
perguntas trariam alívio para a própria angústia e inquietação inerentes ao ser humano. Era
preciso entender melhor as próprias emoções, ansiedades, sentimentos, o porquê da existência,
do nascimento, da morte...
Faz-se necessário entender que esses questionamentos tão profundos são naturais e
fazem parte do processo de autoconhecimento. Não é preciso fugir de sensações que nem
sempre são confortáveis, mas enfrentá-las, tirando proveito de cada evento desagradável para
encontrar o próprio equilíbrio, a própria estrada. Um dos grandes equívocos atuais
provavelmente seja o de querer se livrar, a todo e qualquer custo, da dor e dos sofrimentos
humanos. Mas eles são parte da complexa natureza humana. Não há fórmulas miraculosas para
fazer com que o ser humano pare de sofrer, por mais que os livros de autoajuda falem o
contrário. Não é essa a finalidade da Psicologia, mas sim, entender a alma humana e aprender a
lidar melhor com a própria existência.
A partir desse breve comentário, poderíamos afirmar que a Psicologia nasce de dois ramos
distintos: da Filosofia, considerando pensadores como Aristóteles e Platão (os primeiros psicólogos –
ainda que não utilizassem esse termo) e da Medicina, ainda que, de forma equivocada, tentassem 7
encontrar respostas físicas para questões emocionais (Os pensadores, 1999).
Provavelmente, a primeira grande obra psicológica de que se tem notícia seja a do
pensador Aristóteles, intitulada “De Anima”. Embora já se estudasse a alma humana, o termo
Psicologia só aparece no século XVI, com Rodolfo Goclênio.
A palavra Psicologia tem sua raiz etimológica nos termos psiché (alma) + logos (razão,
estudo). É bom que se diga que a Psicologia enquanto profissão é algo ainda recente, pois a
regulamentação da profissão de psicólogo foi instituída somente em 27 de agosto de 1962 (data
em que hoje se comemora o Dia do Psicólogo).
Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado, mas com
uma curta história de reconhecimento enquanto atividade profissional e Ciência. Tal frase lança
luz sobre o fato de que os povos de todos os tempos e de todas as culturas se tenham ocupado
dos problemas da alma e da vida humana.
A partir de alguns testemunhos escritos que nos ficaram das antigas culturas da Índia,
China, Ásia Anterior, do Delta e do Nilo. A partir de mitos e contos populares, bem como de
obras eruditas, pode-se concluir que as pessoas sempre refletiram sobre a alma, a morte e a
imortalidade, sobre o bem e o mal, e as causas dos seus medos e preocupações.
O estudo da alma humana e a existência do ser humano são eventos interligados. Daí
a afirmação que a Psicologia é uma ciência em construção e de que o psicólogo é um
profissional sempre em formação. Não há psicólogos prontos, visto que compreender o ser
humano requer estudo incessante e a capacidade de aprender com os próprios erros.
A nossa ciência ocidental, assim como a Psicologia, remonta à Grécia Antiga, pelo que
o antigo escrito do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) “Acerca da Alma”, é designado
muitas vezes como o primeiro Manual de Psicologia. De fato, esse grande mestre da ciência
antiga tratou de quase todos os problemas que ainda hoje nos ocupam; interessou-se de modo
muito especial pela questão dos fundamentos biológicos da vida anímica e do seu
desenvolvimento.
É do pensador Aristóteles a tese de que o todo vem antes das partes e é, portanto,
mais do que o somatório das suas partes. Por exemplo: cada floresta é mais do que o somatório
das suas árvores, arbustos e ervas que a constituem e dos animais que nela habitam, é uma
totalidade própria com características especiais que pertencem à totalidade. Porém, tais
totalidades existem igualmente no domínio psíquico. Esse é um dos grandes fundamentos do
que atualmente se intitula Psicologia da Gestalt, ou Psicologia da Forma. 8
Essa concepção opõe-se à de Wilhelm Wundt (1832-1920), de que o todo da mente é
constituído a partir de processos elementares, a qual denominou, a princípio, de a moderna
Psicologia Científica, orientada pelo pensamento atomista da Física.
Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como aquilo que vivificava a
vida. Como, porém, se realizava essa vivificação foi problema que permaneceu tão discutido
quanto insolúvel. Tales de Mileto, muito antes de Aristóteles, considerou o movimento como
algo essencial para o processo de vivificação; alguns filósofos da Antiga Grécia pensavam que
a alma era “ar”, outros, que eram os odores os elementos vivificantes. (Os pensadores: Pré-
socráticos, 1999).
Platão (427-347 a.C.) qualifica alma como algo espiritual; o seu discípulo Aristóteles
considerava-a como uma força, aliás, incorpórea, mas que movia e dominava os corpos. A partir
de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela especulação, existiam, contudo, também já
na Antiguidade, estudos amplos sobre processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos
sensoriais e sobre perturbações dessas funções em caso de lesões cerebrais.
Muito se houve falar sobre a doutrina dos quatro temperamentos, sobretudo em livros
norte-americanos de Psicologia. Mas a grande verdade é que essa doutrina remonta ao grande
médico grego Hipócrates (cerca de 400 a.C.), retomada e desenvolvida pelo médico romano
Galeno (201 até 131 a.C.). Segundo ele, existem quatro temperamentos, determinados pela
predominância de um dos quatro “humores”: o sanguíneo (sangue: folgazão e superficial), o
colérico (bílis amarela: vontade forte e iras repentinas), o melancólico (bílis negra: pensativo e
triste) e o fleumático (muco: sossegado e inativo). Apesar do seu funcionamento
pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos afirmou-se na prática e os quatro tipos
foram finalmente introduzidos como noções da nossa linguagem do dia a dia. (SOURNIA, 1996).
Outro nome fundamental para que se estudem os primórdios da Psicologia é Santo
Agostinho (354-430), pelo fato de ter descoberto dois métodos importantes: o da auto-
observação e o da descrição da experiência interior, dando origem a uma Psicologia mais
subjetiva e qualitativa, baseada na fala e na introspecção, ao contrário daquela que prioriza
apenas o comportamento observável. De certa forma, pode-se citar a psicologia europeia como
aquela que mais se aproxima de uma Psicologia menos comercial e imediatista para uma mais
aprofundada e introspectiva, denominada por alguns de ‘Psicologia profunda’.
9
FIGURA 2
Grande parte das pessoas que trabalham na Educação já ouviu falar que ‘a criança é
como uma folha em branco na qual são registradas as várias experiências’. Essa ideia que
também influenciou bastante a Psicologia, principalmente em relação às abordagens que
priorizam a experiência como a principal fonte de formação do ser humano, vem de um pensador
conhecido: Jonh Locke.
Esse pensador veio sublinhar a importância que desempenham as impressões
sensoriais para o desenvolvimento da nossa experiência. Imaginou o espírito da criança como
uma folha de papel em branco (tábula rasa) na qual são “registradas” as experiências. John
Locke também tem papel decisivo na Pedagogia e na Psicopedagogia. Seu pensamento
sustentou ricas correntes pedagógicas e psicológicas. (ABAGNANO, 2000).
Já Aristóteles se ocupara das associações, da combinação de duas ou mais 10
representações ou vivências parciais. O fato de David Hume (1711-1776) ter retomado e
aperfeiçoado a teoria aristotélica das associações demonstrou ser de extraordinária importância,
também para a atual Psicologia. Hume ensinou que as representações eram imagens de
impressões sensoriais e se encontravam ligadas umas às outras com base em leis
mecanicamente funcionais. Reforçando o pensamento de Aristóteles, formulou as leis da
associação do contato espaço-tempo, da semelhança, do contraste e da causalidade.
Desde então se verifica a importância que as experiências exercem sobre a vida de
qualquer ser humano, gerando gratificação ou traumas. As experiências têm uma função
primordial na estrutura da pessoa, principalmente até os seis anos de vida. Aquilo que é
vivenciado nessa fase torna-se determinante na vida adulta. A forma de ser, de reagir e de
enfrentar crises em boa parte é construída na infância. Também a forma feliz de celebrar a vida
em seus detalhes mais simples.
FIGURA 4 - WUNDT
Wundt é considerado por muitos estudiosos como o pai da Psicologia. Sem dúvida, a
posição de destaque que Wundt ocupa entre os psicólogos e a sua influência internacional,
gigantesca, têm sua fundamentação em uma série de circunstâncias: Wundt não se limitou a
criar, em 1879, em Leipzig, o primeiro laboratório destinado à investigação experimental dos
fenômenos da consciência, fato que muitos consideraram o marco inicial da Psicologia como
ciência independente.
Ele desenvolveu, além disso, um sistema amplo para o nascimento dessa nova
ciência, pesquisando aspectos que iam desde a Psicologia Experimental Fisiológica até a
Psicologia dos Povos, dando origem àquilo que hoje se conhece como Psicologia Social e
Comunitária. Essa ampla gama de estudos dentro da Ciência Psicológica demonstrava que 13
Wundt possuía invulgar capacidade e fecundidade para o trabalho.
Fato curioso é que a base teórica da Psicologia pensada por Wundt vinha da Física.
Não é à toa que hoje se fala em termos como campos de tensão dentro da dinâmica dos grupos.
Tal como um físico, ele pretendia encontrar elementos e processos elementares; a
partir deles pensava poder construir a alma como um todo. No entanto, também ele próprio, no
fundo, não estava absolutamente convencido desta ideia, como demonstra o fato de ter
esperado que a Psicologia dos Povos fornecesse de qualquer modo conhecimento para os
fenômenos mais complexos da alma humana.
Apesar da grandiosa concepção fundamental, a Psicologia dos Povos de Wundt não
levou a quaisquer resultados duradouros precisamente no que se refere à compreensão dos
fenômenos mais complexos ou mesmo daqueles que dizem respeito ao desenvolvimento
humano. Mesmo porque Wundt não chegou a desenvolver um conceito preciso daquilo que seria
essa área da Psicologia, a Psicologia dos Povos.
Enquanto Wundt militava em defesa da Psicologia dos Povos, outros pensadores
estudavam os fenômenos de maturação por meio da observação de animais e de crianças, o
que daria origem à Psicologia do Desenvolvimento. Esse sistema de pensamento incide
exclusivamente sobre a observação do comportamento animal e humano e dos processos de
maturação de tal comportamento. De Francis Galton a Lloyd Morgan, William McDougall,
Thorndike, Yerkes e John B. Watson, encontramos uma série de investigações brilhantes que se
ocupam das questões da hereditariedade, do comportamento animal, dos instintos e do
comportamento infantil.
O estudo do comportamento observável é um dos pilares doutrinários do Behaviorismo
e os estudos realizados por seus seguidores baseavam-se quase que exclusivamente em
observações de animais e de crianças. Hoje em dia a Psicologia Animal e a Psicologia Infantil
constituem dois ramos extremamente vastos e significativos da investigação psicológica, apesar
de que já são necessários vários cuidados legais, pelos abusos antes cometidos por
pesquisadores menos avisados.
Em pesquisas que envolvam seres humanos, por exemplo, é necessário, atualmente,
que seja assinado um termo de Livre Consentimento. É preciso conhecer de que trata a
pesquisa e quais os possíveis riscos envolvidos nela, para, só assim, decidir se deseja fazer
parte da experiência ou não. 14
Em relação aos animais, o pesquisador precisa garantir, por meio de documentações
específicas, que este não vai sofrer nenhum dano. Controvérsias à parte, o certo é que a
tradição das observações realizadas em animais foi perpetuada em muitos países e pela
comparação cuidadosa entre o comportamento animal e o humano – levada a efeito nas
investigações de Wolfgang Köhler, Howard Liddel, Nikolaas Tinbergen, Konrad Lorenz e Otto
Koehler – permitiu que se obtivessem conhecimentos fundamentais sobre as funções psíquicas
em diferentes fases do desenvolvimento.
Muitas pesquisas são relacionadas a medicamentos, por exemplo, parte da
generalização dos resultados obtidos do estudo com animais. É do conhecimento geral o grande
incremento sofrido pela Psicologia da Criança e do Adolescente; amplificada ao âmbito da
investigação experimental, desde Karl Bühler e David Katz até Arnold Gesell e Jean Piaget.
Praticamente toda a teoria piagetiana foi obtida a partir de observações dos seus
próprios filhos. Um estudo cuidadoso e que certamente exigiu muito do seu espírito investigativo.
Foram anos a fio para que fosse possível elaborar a sua teoria, de contribuição inestimável
também para a Psicologia Clínica Infantil, de maneira mais específica.
FIGURA 5
18
É possível falar de uma Psicologia genuinamente brasileira? Até bem pouco tempo
parecia impossível até mesmo pensar sobre essa possibilidade.
O filósofo Farias Brito (1912, p. 277, apud ANTUNES, 2004 ) retrata bem essa posição
pessimista ao questionar que: de todo esse assunto, de tão alta significação, o que motivaria
entre eles incentivaria o interesse dos homens mais eminentes de todo o mundo? A resposta
deveria ser: nada, absolutamente nada! Pois, para ele, realmente, o solo da intelectualidade
nacional não parecia ser terreno fértil e propício para a semente da nova Ciência.
Depois de posição tão desoladora, é importante ressaltar que se o pensamento culto
brasileiro não fosse tão fértil, a Psicologia enquanto Ciência não teria tido a expansão tão grande
que teve no início século XX, e ainda hoje continua tendo. Poucas vezes uma Ciência cresceu
tanto e em tantas áreas ao mesmo tempo como a Ciência Psicológica, e de forma específica, a
Ciência Psicológica Brasileira. O brasileiro tem as suas peculiaridades e, se ainda hoje ainda
importamos boa parte das pesquisas da Europa e dos Estados Unidos, também já se fazem
adaptações de testes psicológicos para a realidade brasileira, o que demonstra o franco
crescimento dessa Ciência em nosso País.
A Psicologia enquanto profissão, por exemplo, está presente nas áreas jurídica, clínica,
organizacional, dos esportes, hospitalar, do comportamento animal, etc. Além disso, o Brasil foi
um dos primeiros países do mundo a regulamentar a profissão de Psicólogo, pela Lei 4.119.
Infelizmente, não há muitos registros daquilo que se produz no Brasil em termos de
Ciência Psicológica, pelo menos em termos proporcionais. Aprendeu-se a supervalorizar
aquilo que vem de fora e a desvalorizar a nossa produção, seja ela artística ou científica e de 19
que área for.
Por um lado, os profissionais de Psicologia não registram seu trabalho, talvez por
considerarem de pouco valor (seria um complexo de inferioridade?). Por outro lado, o Brasil, pelo
próprio processo de colonização, sofre daquilo que se pode denominar “Complexo de Menos
Valia”. E assim se forma uma profissão sem registros, sem memória, sem história, aliás, noção
plenamente generalizada para outras áreas no Brasil. Infelizmente, ainda há uma grande
quantidade de conhecimentos importados, de forma especial, o conhecimento importado dos
Estados Unidos.
O grande problema é que a nossa gente e a nossa cultura são diferentes e aquilo que
se aplica para outros países muito provavelmente não se aplicará para nosso povo.
Principalmente em se tratando de questões psicológicas e emocionais, pois se tem no Brasil,
uma diversidade religiosa e cultural completamente incomum a outros lugares.
Daí se questionar tanto a validade dos testes psicológicos, em sua grande maioria
criados em outros países e aplicados aqui.
Ao realizar um breve retrospecto da história da Psicologia no Brasil, vê-se que no início
do século XX muitos estudantes que se interessaram pela Psicologia foram estudar no exterior,
vislumbrando problemas e “soluções” típicos daqueles locais. Ao retornarem ao Brasil,
assumiram a posição de intelectuais dominadores, colocando o Brasil na posição de “objeto de
pesquisa”.
Dentro dessa perspectiva, tudo o que partia do povo, sua cultura, suas crenças, seus
valores, era menosprezado, considerado como “não científico”. Apagar hábitos, costumes e
tradições eram “papel científico”, sua “mais nobre função”. Decorre daí que um povo que não
preserva as suas próprias raízes se torna mais fácil de dominar, pois não reconhece a sua
própria identidade. Um povo sem história é um povo sem identidade.
E um povo sem identidade assume a identidade de qualquer outro como sendo sua. O
que não é verdade soa falso, inautêntico. Esse fato é visto muito facilmente nos hábitos
alimentares, na linguagem, na forma de vestir... É urgente a necessidade de nos reconhecermos
como Nação e valorizar aquilo que é genuinamente nosso.
Boa parte desse problema tem a sua origem no Pensamento Positivista, que não
considera o conhecimento histórico como algo de valor científico, o que se torna um
impedimento ao próprio avanço.
Ao desvalorizar a contribuição da cultura pré-científica à evolução do conhecimento 20
humano, essa corrente restringe a história da Psicologia ao desenvolvimento da Psicologia
científica nos últimos dois séculos.
A exclusão do domínio historiográfico dos conhecimentos psicológicos difundidos no
seio das diferentes tradições culturais e julgados não relevantes implica a renúncia à memória
das raízes dessa disciplina presente em tais tradições e o esquecimento das questões originais
que determinaram o seu surgimento, ou favoreceram sua influência e seu desenvolvimento em
específicos ambientes culturais. Outra consequência é a redução da Psicologia a apenas a
europeia e norte-americana, revestidas de uma pretensa universalidade (ANTUNES, 2004).
Felizmente, o que era visto como avanço científico, hoje é visto como sério entrave ao
conhecimento. Não há mais como negar o profundo nexo entre Ciência e conhecimento
histórico. Parte daí a busca incessante de vários estudiosos em Psicologia para encontrar as
verdadeiras raízes do conhecimento psicológico brasileiro.
A partir do século XVI, o que se vê é uma combinação original entre o que se pode
denominar de psicologia indígena e conhecimentos europeus.
Como exemplos desses primeiros registros, podemos citar os seguintes títulos:
Tratados da terra e gente do Brasil (Londres, 1625), Notícias curiosas e necessárias sobre o
Brasil (Lisboa, 1668), Crônicas (Lisboa, 1661), Sermões-XV volumes (Lisboa, 1696), Arte de
criar bem os filhos na idade de puerícia (Lisboa, 1685), Nova Escola para aprender a ler,
escrever e contar (Lisboa, 1722), Viridiário Evangélico-IV volumes (Lisboa, 1724; 1734; 1746,
1755), Progymnasma literário e tesouro de erudição sagrada e humana, para enriquecer o ânimo
de prendas e a alma de virtudes (Lisboa, 1737), Reflexões sobre a vaidade dos homens ou
Discursos morais sobre os efeitos da vaidade (Lisboa, 1752), Problemas de Arquitetura Civil, a
saber: Porque os edifícios antigos têm mais duração e resistem mais ao tremor de terra que os
modernos? (Lisboa, 1770).
Muito interessantes são os relatos sobre o comportamento social dos índios em uma
fase de pré-colonização. Eles revelam muito sobre uma forma peculiar de Psicologia, a indígena.
De acordo com esses relatos, o amor às crianças é intenso e se alguém trata bem aos pequenos
indígenas tem dos pais aquilo de que precisar.
O papel maternal é extenso, ou seja, as mulheres das tribos cuidam das crianças como
se fossem suas mães. Depois do parto, a mulher levanta-se e ocupa-se de suas tarefas
domésticas e da roça. Enquanto o marido fica deitado na rede e recebe as visitas e os cuidados
de amigos e parentes – como se fora a mulher. Para dar atenção à criança, o pai se afasta do 21
trabalho e permanece em casa. A mãe amamenta a criança exclusivamente de leite materno até
um ano, um ano e meio e em alguns casos até os sete ou oito anos.
As índias, no período da colonização, foram proibidas de amamentar seus filhos por
período prolongado – à moda das mulheres portuguesas, que entregavam seus filhos às amas
nos primeiros anos –, tendo como justificativa que, se amamentadas, as crianças cresceriam
‘frouxas’. Atualmente, o hábito de amamentar é amplamente estimulado e reconhecido como
benéfico pela Ciência.
Há relatos daquele período de que as crianças indígenas participavam ativamente da
sociedade e da rotina da vida adulta. Os pais levavam as crianças para junto de si quando vão
trabalhar. De igual modo, os hábitos higiênicos são aprendidos desde cedo: as crianças
levantam cedo e vão ao rio, lavar-se e nadar.
Os jogos simbólicos, tão enfatizados por psicanalistas como Erik Erikson e Bruno
Bettelheim são prática comum na vida das crianças indígenas há muito tempo. Iniciadas na vida
social e religiosa desde cedo, elas cantam, dançam e representam nas suas tribos e as
brincadeiras variadas são feitas com muita alegria. Segundo relatos do período colonial, as
crianças eram muito mais alegres que os meninos portugueses e as brincadeiras ocorriam sem
brigas nem palavrões. É prática comum os mais hábeis ensinarem os outros a tocar e a cantar.
Não se observam práticas punitivas nas comunidades indígenas e há uma relação de
estreito afeto entre pais e filhos. Também não se observa uma divisão radical entre infância e
vida adulta, mas as regras sociais são transmitidas gradativamente, sempre ao lado de algum
adulto, pai ou mãe, o que se transforma em uma fonte de segurança e saúde emocional.
As condições de vida social indígena aparecem como elementos que facilitam um
desenvolvimento psíquico sadio e bem integrado em todos os seus fatores. A clareza acerca do
significado e da positividade da vida, transmitida pelos adultos, permite à infância indígena uma
alegria, vivacidade, abertura à realidade, muitas vezes relatadas pelos missionários e viajantes
do período colonial, em seus diários.
Pode-se dizer que, de modo geral, na formação da cultura brasileira, a Psicologia,
antes do advento desse saber enquanto Ciência ocupava um lugar de conhecimento
generalizado difuso, presente em diversas áreas humanas. No Brasil do século XIX, a Psicologia
se restringe na transmissão e interpretação de conhecimentos vindos da Europa e dos Estados
Unidos. Observa-se uma descontinuidade entre conceitos e práticas de conhecimentos
psicológicos do período colonial e aqueles adquiridos no século XIX. 22
Esse fato se deve à intensa desvalorização de tudo o que foi aprendido anteriormente,
havendo, então, uma tentativa de apagar todo e qualquer registro e impregnar uma “nova
psicologia”, a “psicologia médica”.
Quase nada se sabe acerca das produções brasileiras. Pouco se fala das publicações
psicopedagógicas de Alexandre de Gusmão, da obra de Padre Vieira ou do Frei Mateus da
Encarnação Pinna. Nossos pensadores não são reconhecidos, à época, como intelectuais.
Pode-se afirmar que o esquecimento praticado no século XIX a respeito da tradição
anterior é uma das causas da “perda de memória” da Psicologia atual. A fragmentação e a
dispersão dos conhecimentos psicológicos também são uma grande barreira à tentativa de
unificação dessa Ciência, pois seus conhecimentos nascem da Medicina e da Filosofia e
perpassam a Política, Sociologia, Direito e Religião.
Sem dúvida, as dificuldades se iniciam a partir de seu objeto de estudo: a subjetividade
humana. Apesar disso, ou até mesmo por causa disso, a Psicologia também é reconhecida
como uma Ciência altamente rica e complexa, perpassando várias áreas humanas.
2 GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS ABORDAGENS DELES DERIVADAS
23
Considera-se Wilhelm Wundt como fundador da psicologia moderna, por ter criado, em
1879, o primeiro laboratório de psicologia na universidade de Leipzig (na Alemanha). A
Psicologia só se tornou uma ciência independente da Filosofia graças a Wundt, nos finais do
século XIX. Foi a partir desse acontecimento que se desenvolveram de forma sistemática as
investigações em psicologia, por intermédio de vários autores que a essa ciência se dedicaram,
construindo múltiplas escolas e teorias.
Wundt criou o que, mais tarde, seria chamado de Estruturalismo, por Edward
Titchener; cujo objeto de estudo era a estrutura consciente da mente, as sensações. Segundo
essa perspectiva, o objetivo da Psicologia seria o estudo científico da Experiência Consciente
por meio da Introspecção. Titchener levou a ideia da Psicologia para os Estados Unidos da
América, modificando-a em alguns pontos. As principais limitações do Estruturalismo residem no
fato de a introspecção não ser um verdadeiro método científico incontestável e de essa corrente
excluir as psicologias animal e infantil. Essa corrente foi extinta em meados do século XX
(BADCOCK, 1976).
2.2 FUNCIONALISMO
Wilhem Wundt (1832-1920), juntamente com o seu discípulo Tichener, inicia o caminho
que irá levar a Psicologia a atingir o estatuto de ciência.
Começa por definir como objeto da Psicologia o estudo da mente: o estudo da mente
(ou consciência) faz-se ao nível do consciente do ser humano pela análise dos elementos
simples da mente, à semelhança da divisão em átomos da realidade (MONTEIRO, 2003).
Para ele e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867-1927), as
operações mentais não eram mais do que a organização de sensações elementares, procurando
relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso.
No seu laboratório, em Leipzig, vai procurar conhecer a forma como se relacionam e
associam os elementos da consciência: é a concepção associacionista dos comportamentos.
Para atingir esse objetivo, vai utilizar como método a introspecção (observação
interna), mas de um modo controlado: observadores treinados deveriam, no laboratório,
descrever as suas próprias experiências, resultantes de uma situação experimental definida. Os
dados eram depois relacionados e interpretados por uma equipe de psicólogos; exemplo, após a
apresentação de um estímulo visual ou som teriam de descrever as sensações recorrendo a um
conjunto definido de termos para maior objetividade.
2.4 PAVLOV E A REFLEXOLOGIA
FIGURA 7 - PAVLOV
25
26
28
FIGURA 10 - SKINNER
29
FIGURA 11
30
Fundada dentro da filosofia por Max Wertheimmer e Kurt Koffka, a Gestalt traz novas
perguntas e respostas para a Psicologia. Ela se detém nos campos da percepção e na visão
holística do homem e do mundo. A palavra gestalt não tem uma tradução para o português, mas
pode ser entendida como forma, configuração. Criticava principalmente a psicologia de Wundt,
que era chamada de psicologia do “tijolo e argamassa”, pois via a mente humana dividida em
estruturas.
A Gestalt preocupa-se com o homem visto como um todo, e não como a soma das
suas partes (o lema da Gestalt é justamente este: o todo é mais que a soma das suas partes).
No ano de 1951, Frederic S. Pearls cria a teoria Gestalt-terapia, trazendo consigo a teoria de
campo de grupos de Kurt Lewin.
2.7 PSICANÁLISE
31
2.8 HUMANISMO
Maslow trouxe, para a Psicologia que havia fundado, estes autores, agregando, ainda
seus estudos sobre a pirâmide de necessidades humanas.
36
Para Maslow, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que se precise
saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades
sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de auto-estima. Se uma destas
necessidades não está saciada, há a incongruência. Quando todas estiverem de acordo, abre-
se espaço para a auto-realização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo. Esta é hoje
considerada a terceira grande força dentro da psicologia. (FRICK, 1975).
2.9 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
FIGURA 15
37
Maslow estava insatisfeito com sua própria teoria, dizendo que faltava-lhe o fato de o
homem ser um ser espiritualizado. Para ele eram importantes a espiritualidade e as
características da consciência alterada, teoria de Stanislav Grof. Criou então, com ajuda de
outros psicólogos, uma teoria que era abrangente nesse aspecto. Como Carl G. Jung era um
estudioso dos aspectos transcendentais da consciência, foi tomada sua teoria para incorporar a
Psicologia Transpessoal.
A abordagem Transpessoal é, portanto, uma área da Psicologia que estuda as
possibilidades psíquicas (mentais, emocionais, intuitivas e somato-sensoriais) do ser humano
pelos diferentes estados ou graus de consciência pelos quais passa a pessoa (para se ter ideia
do que sejam estados de consciência, lembre-se que o estado de consciência de quando se está
acordado é diferente do estado de consciência de quando se está dormindo; que o estado de
consciência de quando se resolve um problema de matemática é diferente de quando se assiste
a um filme, etc.) (JORNAL INFINITO, 2003).
Em cada um desses estados de consciência (que são vários, alguns ainda
desconhecidos) é experimentada uma forma diferente de se perceber ou interpretar a realidade
(quando estamos com raiva ou frustrados, percebemos o mundo de uma maneira muitíssimo
diversa de quando estamos apaixonados).
A Psicologia Transpessoal, portanto, volta-se para o estudo desses diversos estados,
não os encarando como contrários, mas como complementares, dando, porém, especial ênfase
àqueles estados de consciência superiores, espirituais ou “transpessoais”. Porque, em tais
estados, o sentimento de separação e de egoísmo torna-se um segundo plano em relação a um
sentimento e identificação mais ampla, cooperativa, fraternal, transpessoal para com todos os
seres vivos (consciência crística, búdica, nirvânica, universal ou ecológica). 38
Segundo a Teoria Transpessoal, Francisco de Assis, Gandhi, Jesus Cristo, Einstein,
Luther King e tantos outros grandes nomes foram detentores de outra forma de ver e sentir o
mundo que o fizeram capazes de ajudar o próximo e tornaram-se capazes de ver o mundo de
outra forma. A essa capacidade eles denominam “consciência cósmica”.
A Psicologia Transpessoal fala de vários níveis de consciência, que vão do mais
obscuro (a sombra), até o mais alto grau de consciência, a transpessoal. Por ter seu foco na
consciência e seus aspectos, foi também chamada de Psicologia da Consciência. Seu estudo é
recente e traz muitas características que necessitam de um estudo maior (TABONE, 2005). Vale
ressaltar que a Psicologia Transpessoal ainda não é reconhecida como prática científica pelo
Conselho Federal de Psicologia e os psicólogos inscritos no Conselho não estão autorizados a
tê-la como prática profissional.
2.10 PSICODRAMA
“Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto,
arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-
los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus” (J. L.
Moreno).
2.10.1 Jacobo Levy Moreno
FIGURA 16 - MORENO
39
41
2.10.2 Teoria do Psicodrama
47
FIGURA 18
49
Muito se tem discutido sobre o que vem a ser conhecimento científico. Uns consideram
que só deve ser reconhecido como Ciência aquele tipo de conhecimento que se pode medir e
quantificar. A Ciência deve auxiliar no sentido de predizer os fatos. Todo e qualquer
conhecimento que não se enquadre dentro das tabelas estatísticas deve ser colocado fora dos
parâmetros científicos.
Na verdade, o conceito de Ciência nunca foi uma unanimidade. Há várias correntes de
pensamento se debatendo entre si, como também outros tipos de conhecimento lutando pelo
reconhecimento de ser reconhecido como científico. Com a Psicologia não haveria de ser
diferente e há várias práticas alternativas se autodenominando científicas dentro da prática
psicológica.
Entre punições efetuadas pelo Conselho de Ética dos Conselhos Regionais de
Psicologia, muitas práticas hoje já são reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia. O
exemplo mais claro é a acupuntura.
Mas o que vem a ser Ciência? O que poderia ser considerado científico ou não? Quais
os critérios para que um conhecimento seja reconhecido como Ciência, ao passo que outros não
o são? Qual a diferença entre pensamento e Ciência?
A grande diferença entre o ser humano dos outros animais, pelo menos até que se
prove o contrário, é que a pessoa é capaz de pensar. Pensamos ou pelo menos deveríamos
pensar antes de agir. Ainda assim há aqueles que agem por impulso e só depois pensam naquilo 50
que fizeram.
Existem pensamentos simples, como aqueles que nos fazem preparar o café da
manhã, levar o filho à escola e realizar tarefas como escovar os dentes e calçar os sapatos.
Algumas dessas atividades são quase automáticas e praticamente não refletimos sobre elas.
Há, contudo, cadeias de pensamentos bem mais elaboradas e que nos fazem parar
para refletir sobre elas. Esse tipo de pensamento utiliza-se da razão e de cadeias lógicas para
fazer sentido. Utiliza-se do pensamento racional para a tomada de decisões importantes na vida,
como a escolha profissional, por exemplo.
Dentre os tipos de pensamento existem aqueles rotineiros, comuns. Crê-se em
determinadas coisas apenas porque todo o mundo crê. Fazem parte desse universo as
crendices, as benzeduras, as superstições.
Muitas práticas são oriundas de um método denominado de tentativas e erro. Por
exemplo, muitos chás são utilizados porque uma determinada pessoa fez uso dele e ele não fez
mal, sem que houvesse um fundamento, uma explicação lógica para tal prática.
A crença no sobrenatural é outro exemplo. As festas populares são ricas em rituais e
precisam ser respeitadas, pois fazem parte da história de um povo. Os índios possuem uma
cultura muito rica e muitas drogas utilizadas por eles já tiveram o seu valor científico
comprovado.
Todos os tipos de pensamentos humanos têm o seu valor. Mas só a partir do momento
em que se pensa sobre os próprios processos de pensamento é que se dá início àquilo que
comumente denominamos de saber científico. A Ciência se mostra principalmente como algo
racional e sistemático. A Ciência utiliza métodos específicos, a depender de objetivos
previamente traçados.
Dentro da Psicologia Científica, para efeitos didáticos, é possível dividir a sua história
em fases, desde a Antiguidade, quando já havia muito conhecimento apreendido da
experiência humana. Embora não sistematizado, até os dias atuais, quando já existe um
reconhecimento da Psicologia enquanto profissão e Ciência e já há um volume considerável
de material científico produzido.
Ao se falar em fase pré-científica, ou seja, aquela que foi do século XVI até 1879, havia
rudimentos de uma psicologia ainda muito ligada à Filosofia. Essa foi uma fase de rejeição às
verdades absolutas implantadas pela igreja e de questionamento sobre o pensar humano. A
racionalidade se mostrava como traço preponderante do pensamento, sobretudo por construir as 51
suas bases na Grécia Antiga, berço da civilização humana ocidental.
Cinco correntes se mostraram influentes dentro dos germes de uma futura psicologia
científica e até hoje influenciam as escolas ou abordagens psicológicas.
São elas:
O Empirismo Crítico, que apresenta nomes de destaque como os de Descartes,
Locke e Kant. Dentro dessa linha de pensamento considerava-se fator de suma
importância que houvesse um pensamento racional, no qual fosse capaz de quantificar
e provar, por meio de experimentos, os fenômenos mentais. O termo mente substitui o
anteriormente utilizado, ‘alma’. Essa corrente filosófica daria origem, dentro da
Psicologia, à Psicologia Experimental, que utilizaria animais de laboratório para
reproduzir possíveis comportamentos humanos.
Mais tarde, foram realizadas cirurgias mentais, com a intenção de mudar o
comportamento do sujeito. A violência, assim como a alienação mental, eram frutos de
distorções cerebrais facilmente tratáveis com cirurgias.
Dessa corrente filosófica viriam todas as linhas que tentariam reduzir o comportamento
humano a fórmulas matemáticas e estatísticas. O Behaviorismo tem uma forte base
empirista. Sua linha mais radical elimina a possibilidade de estudar a psique humana.
Apenas o comportamento observável é capaz de ser estudado dentro de parâmetros
científicos.
Outra corrente filosófica propunha que a razão provinha do somatório de ideias
simples. Pensamento de base fundamentalmente atomista se encontra presente até os
dias atuais por intermédio, por exemplo, do nosso sistema de ensino.
Para ser considerado bom, o profissional precisa ter um profundo conhecimento em
uma determinada área. Daí decorre em cursos de especialização, mestrado e
doutorado, o que afunila a visão do todo a tal ponto que se torna praticamente
impossível manter uma visão geral sobre o assunto.
Nas rotinas do trabalho em saúde, tem se tornado uma luta incessante a implantação
do trabalho interdisciplinar, pois a formação profissional estimulou o estudo em grades,
que por sua vez se fragmenta em disciplinas e estas em unidades de ensino. É dito ao
professor que ele “não pode fugir do assunto”.
Depois, é cobrado que esse profissional trabalhe em equipe interdisciplinar. É
possível? Essa forma de ver o mundo e de atuar vem do pensamento atomista, que 52
tem nomes de importantes defensores como Darwin, Mill e Spencer.
O Materialismo Científico foi outra corrente filosófica que influenciou a
Psicologia. De acordo com esse pensamento, apenas aquilo que fosse quantificável
e observável valeria como objeto de estudo científico. Fazem parte dessa corrente,
nomes como August Comte e Marx. A nossa bandeira representa bem esse
pensamento, com o lema “Ordem e Progresso”. Ficaria fora daquilo que é
considerado científico o estudo das emoções, dos sentimentos, a história e tudo o
mais que pudesse, de alguma forma, se relacionar com a dimensão subjetiva do ser.
Husserl trouxe a Fenomenologia, pensamento que deu origem à abordagem de
mesmo nome, para a qual o que interessa é apenas a descrição do fenômeno. Na
abordagem originada desse pensamento, não se utiliza classificações diagnósticas,
visto que essa forma de agir dentro da Psicologia é considerada preconceituosa para a
Psicologia, ou seja, uma forma de rotular e discriminar o ser humano.
As angústias fazem parte da experiência humana, portanto, impossível à pretensão de
querer curar as doenças. O ser humano é visto de forma única e a dicotomia
cartesiana é eliminada nessa perspectiva de pensamento, ou seja, não há bem e mal,
feio ou bonito, médico e paciente, mas um contexto que precisa ser descrito e
observado.
O Romantismo origina uma corrente psicológica basicamente ingênua, na qual
todo o homem é essencialmente bom e está direcionado para a autorrealização e
auxílio mútuo. Se apresentar algum tipo de comportamento reprovável, não o faz por
sua culpa, mas é vítima de um sistema social injusto e perverso, que o impede de ser
bom. A abordagem Humanista deriva do Romantismo, por compartilhar dessa
perspectiva. Rosseau eternizou essa corrente com o “Mito do Bom Selvagem”.
É considerado como período da Psicologia enquanto Ciência aquela que vai de 1879
até os dias atuais e o seu marco inicial foi a criação do Primeiro Laboratório de Psicologia
Experimental do mundo, na Alemanha, por Wundt.
Nessa primeira fase da Psicologia enquanto Ciência, e até para afirmar-se enquanto
tal, seu estudo era baseado em fórmulas físico-matemáticas e utilizava-se da terminologia
médica, de forma mais específica, a fisiológica. 53
Essa fase é marcada pela busca de estruturas imutáveis e universais, provavelmente
para tentar encontrar respostas baseadas na anatomia humana a questões de outro âmbito. Os
escritos freudianos são de certa forma considerados estruturalistas, na medida em que
representam muito bem as estruturas da consciência, em níveis de consciente, pré-consciente e
inconsciente.
Outra ramificação preocupa-se muito mais com o dinamismo, o funcionamento mental,
portanto, é denominada de Funcionalista. Baseia-se na linguagem da fisiologia para encontrar
respostas aos estudos da percepção humana.
Não diria que nessa época surgiriam as escolas ou abordagens psicológicas, mas que
as correntes filosóficas tomariam forma de pensamento psicológico, o que seria conhecido como
abordagens. Não há uma abordagem pura, mas cada abordagem fundamenta-se no
pensamento de determinados filósofos e suas escolas.
O Behaviorismo é uma das mais conhecidas abordagens psicológicas e tem o seu
norte no pensamento positivista de Comte. Sem dúvida, foi a primeira escola organizada,
fundamentando as suas estruturas no Positivismo.
Ela foi reconhecida utilizando em termos a psicofísica de Wundt, embora não se ocupe
muito em teorizar, pois já se inicia com experiências que visam entender o comportamento
humano como algo produzido por determinados condicionantes.
O comportamento torna-se, portanto, para essa Escola, fruto de pequenas ações
aprendidas ou excluídas, a partir de estímulos ambientais. Tem-se claro, portanto, a visão
atomista daquilo que seria denominado de estudo do comportamento humano.
A Psicologia se restringe ao estudo daquilo que é observável. Destacam-se nomes
como Skinner e Watson.
Em relação à Psicanálise, ainda é questionada quanto à sua cientificidade. Resultado
claro disso é que a grande maioria dos cursos de Formação em Psicanálise ainda não são
reconhecidos pelo MEC.
Como amplamente divulgado, o pai da Psicanálise foi o médico psiquiatra e
psicanalista Sigmund Freud, no início do século XX. Duas grandes apropriações realizadas pela
Psicanálise foram a descoberta do inconsciente – ou seja, aquilo que acaba por determinar
ações do sujeito sem que se tenha acesso às suas reais causas – e a descoberta da
sexualidade infantil. Determinante da maioria das ações e atitudes da vida adulta, a depender da
gratificação ou privação da satisfação dessas necessidades da vida infantil. 54
Para Freud, a libido, energia sexual, é multifocal e permeia toda a vida psíquica do
sujeito, podendo ser canalizada para vários aspectos e não apenas para a vida sexual em si.
Esse talvez seja o maior equívoco dos críticos dessa abordagem psicológica.
Quando Freud se refere ao falo, por exemplo, que não está se referindo ao órgão
sexual masculino, mas ao poder que ele representa. Por utilizar uma linguagem ‘sexualizada’,
reduzem sua teoria às questões sexuais. Coube a Jung ampliar esse discurso, incluindo aí
mitologia e antropologia.
Fazem parte de temas importantes da Psicanálise o Complexo de Édipo, Inconsciente,
Atos Falhos, Hermenêutica dos Sonhos, etc.
Por se tratarem de temas tão subjetivos, ainda hoje se pergunta se a Psicanálise
realmente funciona. O certo é que a Psicanálise propõe a cura pela fala e imortalizou a figura do
analista e do divã. Se tornando um importante passo para o autoconhecimento e oportunidade
rara para proporcionar um encontro com o eu e parar em meio a tanta correria dentro desse
sistema produtivo-capitalista em que se vive.
A Psicanálise permeia áreas como a Hospitalar, discursos do cinema, das letras, das
artes, organizacional, psicodrama, escolar, ou seja, onde são realizadas análises de algum tipo
de discurso, certamente aí estará a Psicanálise.
São várias as escolas advindas da Psicanálise, dentre elas, as de: Jung, Reich, Klein,
Anna Freud, Adler, etc.
É percebida a falta de algo novo em torno do conhecimento psicanalítico, pois o que se
vê são repetições daquilo que já foi dito e feito.
Quanto à Gestalt, há desacordos quanto a se tratar de uma escola definida. Ela é mais
aceita como um conjunto de conhecimentos que veio auxiliar a Psicologia a ter uma visão mais
total do ser humano. Algo que contemplasse as várias dimensões do ser e não apenas uma
pequena parte fragmentada.
Atualmente, muito graças à Gestalt, o ser humano é contemplado, dentro das mais
diversas áreas da Psicologia, em suas dimensões físicas (comportamentos e somatizações),
social, cognitiva, emocional e até mesmo a espiritualidade já se mostra como algo a não ser
ignorado dentro das quatro paredes de um consultório, por exemplo.
Já existem estudos científicos do benefício da fé para a proporção do bem-estar
humano. A Gestalt utiliza ideias de Koehler, Sartre, Merleau-Ponty e Husserl. 55
Um importante ramo ou área da Psicologia trabalha com o desenvolvimento humano e
baseia-se principalmente nas ideias de Piaget e Vygotsky. É a Psicologia do Desenvolvimento,
aplicável em clínicas, hospitais e escolas, principalmente.
Estudos sobre maturação cognitiva, relação entre linguagem e aprendizagem e o papel
social entre todo esse processo fizeram parte do discurso desses brilhantes pensadores.
Suas reflexões permanecem bastante atuais e têm gerado inúmeros debates
acalorados. Enquanto para uns as ideias de ambos se excluem, para outros elas apenas se
complementam.
Carl Rogers, por sua vez, trouxe para a Ciência Psicológica a concepção filosófica de
humanismo, exaltando o ser humano como o autor mais importante da sua própria existência.
Apregoava ser a pessoa mais importante que qualquer sistema psicológico.
Essa grande quantidade de escolas acabou gerando ferrenhos adeptos de uma ou
outra. Dar-se-ia novamente a fragmentação e as guerras entre profissionais e estudantes, que
acabariam por defender esta ou aquela posição. Isso gerou muita rivalidade e facções. Pouco se
podia perceber que a pluralidade de escolas e pensamentos só enriqueceria o estudo da alma
humana. Era necessário somar e não dividir. Quanto mais conhecimento teórico, melhor poderia
ser a prática ou as práticas psicológicas.
Aos poucos, o sistema quase partidário dentro das academias, aquele que forma
discípulos deste ou daquele pensador, cede lugar a um novo profissional de Psicologia, aquele
denominado ‘eclético’ e ainda criticado por muitos, por ser considerado indefinido em sua
posição teórica.
Seguindo a tendência atual do saber e fazer científicos, o profissional da Psicologia
começa a atuar por temática, a depender da necessidade do paciente ou cliente, da pessoa que
procura atendimento psicológico.
É um profissional que pode ser considerado especialista e generalista ao mesmo
tempo, pois necessita ter um conhecimento muito aprofundado sobre todo o saber psicológico,
para ser tão generalista a ponto de entender a necessidade de seu paciente.
O psicólogo temático tem, então, a liberdade de escolher uma área de atuação
(Psicologia Jurídica ou Hospitalar, por exemplo), e a partir daí ter a liberdade de utilizar os
diversos conhecimentos de cada corrente ou escola psicológica. 56
O fato é que a Ciência é uma conquista recente da humanidade. Tem 300 anos e
surgiu no século XVIII. Isso não quer dizer que antes disso não tenha havido qualquer saber
rigoroso, pois desde a Grécia Antiga o ser humano anseia por um tipo de conhecimento que seja
distinto ao saber comum e ao mito.
Enquanto Sócrates se preocupava com a definição dos conceitos, desejando atingir a
essência das coisas, Platão mostrava o caminho que a educação do sábio deveria percorrer
para ir do doxa (opinião) à episteme (Ciência). Entretanto, a Ciência só se desvincula da
Filosofia na Idade Moderna.
O mundo científico aspira à objetividade, pois as conclusões devem ser verificadas por
qualquer outro membro competente da comunidade científica. A racionalidade desse
conhecimento procura despojar-se do emotivo, tornando-se, na medida do possível, impessoal.
A Ciência, apesar da busca por um conhecimento racional e verdadeiro, não é absoluta.
É apenas mais uma de tantas outras verdades. Está tão sujeita a falhas, quanto qualquer outro tipo
de conhecimento. Daí surgirem modelos científicos e até teorias contraditórias.
É impossível admitir que um conhecimento seja neutro, pois conhecimento é poder e o
poder está atrelado às ações políticas. Daí o cuidado que se deve ter para associar todo e
qualquer conhecimento científico a uma prática ética.
Como em qualquer outra prática científica, a pesquisa psicológica visa quatro
finalidades básicas: descrição, explicação, predição e controle. A descrição é o objetivo básico
de qualquer Ciência. Os psicólogos reúnem fatos a respeito do comportamento e do
funcionamento mental, a fim de formarem quadros precisos e coerentes desses fenômenos
(DAVIDOFF, 1983).
Quando é extremamente difícil ou impossível usar estratégias diretas, recorrem a
testes, entrevistas, questionários e outras táticas indiretas que têm menos probabilidade de
serem exatas. Depois, faz-se necessário estabelecer uma relação de causa e efeito. Estas
explicações se transformam em hipóteses.
Quanto aos princípios básicos que norteiam a pesquisa psicológica, podem ser citados
os seguintes, dentre outros:
1) precisão – os psicólogos procuram ser precisos de diversas maneiras. Primeiro,
definem claramente o que estão estudando. Segundo, tentam colocar seus dados em
forma numérica, ao invés de confiar em impressões pessoais. É possível encontrar
esses cientistas (principalmente os da linhagem positivista norte-americana) fazendo 57
medições em fenômenos aparentemente imensuráveis, como o amor, a ansiedade ou
a intoxicação por drogas lícitas ou ilícitas. Terceiro, após completarem a pesquisa, os
psicólogos escrevem relatórios detalhados, descrevendo os sujeitos, o equipamento,
os métodos, as tarefas e os resultados. O relatório preciso de pesquisa permite a
outros cientistas do comportamento repetir ou replicar os estudos dos outros para ter a
certeza de que são consistentes;
2) objetividade – a pesquisa científica em Psicologia se esmera para que não
ocorram distorções, pois, ao contrário de outras áreas, a Psicologia é a única em que o
objeto de estudo tem a mesma natureza do pesquisador. Ou seja, ao pesquisar a
personalidade de seres humanos, o cientista não pode perder de vista que também é
um ser humano e que não pode deixar que sentimentos como o amor e o ódio
interfiram nos seus estudos;
3) empirismo – os psicólogos acreditam que a observação direta é a melhor fonte de
conhecimento. E a especulação, por si só, é considerada como prova inadequada.
Esses cientistas não devem adiantar como evidências noções populares, suas próprias
ideias plausíveis, as especulações de cientistas eminentes ou pesquisas de opinião a
respeito deste ou daquele tópico. Todas essas estratégias se apoiam apenas em
conjecturas e não em observação direta;
4) determinismo – todos os acontecimentos devem ter causas naturais. Os
psicólogos acreditam que os atos das pessoas são determinados por enorme número
de fatores. Alguns intrínsecos (potencialidades genéticas, motivos, emoções e
pensamentos); outros extrínsecos (pressões pessoais e circunstâncias externas, sejam
ambientais ou sociais);
5) parcimônia – ou seja, as explicações devem ser padronizadas e ajustadas aos
fatos observados;
6) tentativas – as conclusões devem ser permanentemente reavaliadas e jamais
definitivas. O psicólogo não deve ter um conhecimento como algo absoluto e acabado,
mas sempre duvidar dele.
FIGURA 19
Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios (vida) e ethos
(relativo à ética). Segundo Diniz e Guilhem, “[...] por ser a bioética um campo disciplinar
compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e dos
animais não humanos, seus temas dizem respeito a situações de vida que nunca deixaram de
estar em pauta na história da humanidade [...]”.
Em muitas ocasiões, ao longo da história, abusos dos mais diversos foram cometidos
em nome da Ciência, por intermédio das denominadas pesquisas científicas. O alvo principal
para o exercício de tais experimentos eram os menos favorecidos, os excluídos sociais:
transtornados mentais, pobres, prisioneiros...
O ponto culminante desse tipo de distorção aconteceu com as ‘experiências’ do
Holocausto, envolvendo inúmeros seres humanos sacrificados e que até hoje choca todo o
mundo pela crueldade e pelo abuso de poder praticado por médicos nazistas.
A Ciência jamais deve sobrepujar o ser humano e o psicólogo também deve estar
atento a isso. O respeito ao outro deve permear toda a nossa prática. Foi criado, a partir disso,
um código limitando pesquisas com seres humanos.
Toda e qualquer pesquisa Científica não deve se colocar a serviço de interesses
financeiros ou quaisquer outros que estejam acima do bem da humanidade. A Ciência não é
neutra nem ingênua, por isso mesmo os estudiosos devem estar atentos ao uso que podem
fazer das pesquisas advindas dela. O pesquisador precisa ter claros os possíveis efeitos sobre o
outro que determinadas descobertas podem exercer sobre a humanidade, pois o mito da
neutralidade científica é uma farsa. 59
Toda pesquisa científica precisa ser controlada por rígidas normas, principalmente
aquelas que envolvam seres humanos. Van R. Porter instaurou o termo Bioética em 1971, e
desde então inúmeros progressos nesse sentido foram feitos.
Os direitos dos seres humanos precisam ser respeitados, partindo do pressuposto de
que aquele que participa de pesquisas deve ter claros os seus objetos e objetivos de cada estudo,
como também o livre arbítrio de desejar participar da pesquisa ou não, sem jamais ser induzido a
participar. O cientista deve estar alerta ao risco de sedução que o poder científico exerce.
No Brasil, os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa que envolva seres
humanos estão regulados pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, por meio
da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, estabelecida em outubro de 1996. Essas
Diretrizes foram detalhadas para pesquisas envolvendo novos fármacos, medicamento, vacinas
e testes diagnósticos por meio de outra resolução (251/97), de agosto de 1997. Novas
resoluções estão sendo elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais.
O objetivo maior da avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir três princípios
básicos: a beneficência, o respeito à pessoa e a justiça. Nesta garantia devem ser incluídas
todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com a pesquisa, seja o sujeito da
pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a mesma se desenvolve e, em última
análise, a sociedade como um todo.
Os cuidados éticos da pesquisa em saúde envolvem a qualificação dos pesquisadores,
o direito de informações precisas que o participante necessite obter, a relação custo-benefício,
pois os benefícios devem sempre se sobrepor aos riscos, além de passar necessariamente por
um Comitê de Ética, para avaliação a priori.
É fundamental salientar que uma pesquisa que envolva seres humanos só pode ser
realizada se absolutamente todos os outros possíveis meios tiverem se esgotado. O sigilo deve
permear todo o processo de pesquisa, para que o indivíduo pesquisado não seja exposto de
alguma forma.
Se porventura os riscos envolvidos ultrapassarem aquele previsto, todo o processo da
pesquisa deve ser imediatamente interrompido e sua metodologia revista.
Seria ideal que o pesquisador fosse completamente indiferente aos resultados a serem
obtidos, para não correr o risco de ser tendencioso, mas nem sempre isso é possível.
Quanto ao Comitê de Ética que é responsável pela autorização prévia da pesquisa,
devem participar pesquisadores reconhecidamente competentes, como também representantes 60
da comunidade, de preferência que não privilegiem algum setor, religião ou gênero. Devem ser
avaliados tanto aspectos éticos quanto a qualificação dos respectivos pesquisadores.
4 PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
61
FIGURA 20
Quem nunca se viu extasiado frente a uma jogada brilhante de Ronaldinho Gaúcho ou
Kaká? Quem nunca ficou impressionado com a paixão de uma torcida fanática por um
determinado time?
O que motiva esportistas a treinarem horas e horas a fio? A verdade é que a
profissionalização de atletas está começando cada vez mais cedo e as pressões por resultados
estão sempre maiores. Também o número de horas de treinamento testa os limites do atleta.
Saudades de casa, necessidade de adaptar-se a países diferentes, jogadas cada vez mais
duras, o que coloca a saúde do atleta sempre em risco, e quando acidentes ocorrem, pressão
para que retorne o mais breve possível….
Todo esse ambiente favorece transtornos como depressão e ansiedade, pois nem todo
atleta apresenta estrutura emocional para lidar com a fama rápida e também com um sem-número
de frustrações, pois se sabe que o universo daqueles que ganham cifras milionárias é mínimo.
A grande maioria vive quase que na miséria absoluta. Todo esse ambiente favoreceu o
nascimento da Psicologia do Esporte, pois o Esporte é considerado um dos maiores fenômenos
de massa e tem requerido pesquisadores das mais variadas áreas, pois a tecnologia empregada
é quase sempre a de ponta. Pesquisadores da Antropologia, Sociologia e Filosofia têm feito
parte desse universo, como também os das áreas da Medicina, Engenharia, Fisiologia e
Biomecânica, dentre tantos outros.
De forma mais específica, dentro da Psicologia do Esporte tem sido estudados temas
como Motivação, Agressão, Violência, Liderança e Personalidade, embora no início os estudos
tenham se restringido a apenas questões mais fisiológicas, como o Condicionamento Reflexo,
tema de base Behaviorista. A Psicologia do Esporte tem seus primeiros registros como tal a partir
do início do século XX, especificamente a partir da Copa do Mundo de Futebol de 1958, no Brasil.
Ainda não há um arcabouço teórico específico dessa área da Psicologia e esta acaba 62
por recorrer a conhecimentos específicos da Psicologia Clínica e da Psicologia Social. No Brasil,
essa área de atuação do psicólogo só se torna reconhecida em dezembro de 2000, e ainda
assim apenas como uma especialidade.
Problemas vividos por outras áreas de atuação também estão presentes na Psicologia
do Esporte, pois a equipe Esportiva ainda não tem como certa a real possibilidade de auxílio
quanto ao desempenho dos atletas e resultados práticos a partir do trabalho do psicólogo.
João Carvalhaes foi o primeiro psicólogo brasileiro de que se tem registro a atuar na
Psicologia do Esporte Brasileira. Psicometrista, trabalhou no São Paulo Futebol Clube, na capital
paulista, por 20 anos. Ele estava presente na conquista do primeiro título mundial do Brasil, em
1958 (MACHADO, 1997; RUBIO, 1999; 2000a).
O campo de atuação da Psicologia do Esporte envolve o estudo da pessoa praticante
de esporte, seja este de caráter amador ou profissional, competitivo ou não competitivo.
Isso inclui a avaliação, diagnóstico, intervenção ou simplesmente a análise do contexto
esportivo incluindo o comportamento do grupo ou indivíduo praticante da atividade. Faz parte
dessa perspectiva a necessidade de realizar ações prognósticas, ou seja, de tornar predizível
possíveis resultados. Isso é realizado dentro de certa probabilidade estatística (AZEVEDO
MARQUES; JUNISHI, 2000; FIGUEIREDO, 2000; MARKUNAS, 2000; MARTINI, 2000).
Os métodos normalmente utilizados para intervenção esportiva, após análise
diagnóstica realizada pelo psicólogo esportivo, são aqueles baseados em processos sensoriais,
sensório-motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de ordem psicossociais.
Pode-se afirmar, então, que na Psicologia do Esporte são estudadas as
particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar sua dinâmica e
assim poder intervir de forma efetiva e eficaz, visando à obtenção dos resultados desejados,
fazendo fluir o melhor que cada atleta possui, em termos potenciais, preservando a sua saúde e
o seu equilíbrio psicológico.
4.2 PSICOLOGIA AMBIENTAL
FRIGURA 21
63
FIGURA 21
64
FIGURA 22
68
Definição:
é um ramo da Psicologia que se diferencia dos demais, por pretender
principalmente humanizar a prática dos profissionais de saúde dentro do contexto
hospitalar (BRANDÃO, 2001);
a partir da Psicologia Hospitalar, a própria Psicologia redefiniu conceitos teóricos
na tentativa de uma melhor compreensão da somatização, suas implicações,
ocorrências e consequências.
Psicologia Hospitalar:
o psicólogo se descobre sendo instrumento de alívio de uma das facetas mais
sofridas da realidade humana, a morte;
o psicólogo hospitalar descobre de modo concreto um dos preceitos máximos da
Psicologia, que é a cura por meio da palavra, a cura da dor provocada pelo sofrimento
físico e emocional.
FIGURA 23
O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre uma
constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos.
Com o desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de atuação
profissional, no final do século XIX, várias perspectivas se abriram, fato que também ocorreu à
chamada Psicologia Educacional (MACHADO, 2004).
Durante as três primeiras décadas do século XX, a Psicologia Aplicada à Educação 70
teve enorme desenvolvimento. Nos EUA, destacava-se a necessidade de um novo profissional,
capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a educação.
Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o estudo e a
medida das diferenças individuais; e a psicologia da criança.
Até a década de 50, a Psicologia da Educação aparece como a ‘rainha’ das ciências da
educação.
Seu conceito: uma área de aplicação da Psicologia na Educação. A Psicologia
Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a natureza, as condições, os
resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem escolar. Ela deveria ser uma disciplina
autônoma, com sua própria teoria e metodologia.
Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da aplicabilidade
educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a primeira metade do
século XX. Prenuncia-se uma crise.
Surgem outras disciplinas educativas tão importantes à educação quanto a Psicologia,
e esta precisa ceder espaço.
Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar que conserva até hoje.
Não mais é considerada como a Psicologia Aplicada à Educação. Atualmente, a
Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da Educação, e
caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a
partir de um entendimento psicológico.
Definição de Psicopedagogia:
Especialização dentro da Pedagogia e/ou Psicologia que trata dos distúrbios de
aprendizagem (crianças que possuem dificuldades para aprender).
Aprendizagem significativa:
É interessante destacar que não basta apenas ‘ensinar’; é preciso oportunizar aos
nossos educandos uma aprendizagem significativa. Ou seja, para que a aprendizagem provoque
uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é
necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida, sendo capaz de
reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento.
“Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples retenção, não tem
significado nenhum” (JOSÉ; COELHO).
Ensino X Instrução:
ensinar – fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros saibam,
adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu produto final;
instruir – manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo capaz de
aprender, sob condições específicas (aprendizagem escolar). Esse é um conceito
ultrapassado.
Dessa diferença entre ensinar e instruir pode-se dizer que existem dois tipos de
aprendizagem: informal e formal.
A aprendizagem e a Psicologia da Educação – Aprendizagens Informal e Formal:
Aprendizagem Formal – processo que é direcionado, orientado e previamente
planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução;
Aprendizagem Informal – processo que é de natureza incidental, não dirigido, e
carente de controle. Resulta da experiência no ambiente de vida (fora da escola);
advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionado à 74
aprendizagem formal.
Domínios da Aprendizagem:
A aprendizagem abrange três domínios fundamentais: intelectual ou cognitivo; afetivo-
social; sensório-psiconeurológico.
Domínio intelectual ou cognitivo (inteligência humana)
A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos à
aprendizagem humana.
Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a ele;
desenvolve-se por meio de fases, ao longo da vida, que se sucede em uma mesma ordem, mas
devido às diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades diferentes para cada pessoa, 75
dependendo do ritmo de desenvolvimento.
Princípios da Aprendizagem:
1º princípio: “universalidade” – a aprendizagem é coextensiva à própria vida,
ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a aprendizagem
se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte;
2º princípio: a aprendizagem é um processo constante e contínuo;
3º princípio: “gradatividade” – a aprendizagem é gradual, isto é, aprende-se pouco
a pouco;
4º princípio: “processo pessoal/individual” – cada indivíduo tem seu ritmo próprio
de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá
constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também ambiental,
dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do estágio 76
de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico constitucional
(introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das questões
ambientais;
5º princípio: “processo cumulativo” – as novas aprendizagens do indivíduo
dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de
pré-requisitos para as subsequentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao
repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui indo construir
sua bagagem cultural;
6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” – esse processo de acumulação de
conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza suas
ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor.
Fatores da aprendizagem:
saúde física e mental – para que seja capaz de aprender, a pessoa deve
apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu
sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física, como
na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem.
Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são exemplos disso;
motivação – é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da
aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para satisfazer a
sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia; por ser estimulada
pelos órgãos dos sentidos, por meio de cores alegres; por sentir-se inteligente e bem
consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir necessidade de
conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal, admiração);
prévio domínio – domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências
anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não o possuem;
maturação – é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do
organismo, levando a padrões específicos de comportamento. a maturação
neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma sequência (leis céfalo-caudal e
próximo-distal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma interação 77
entre ambas;
inteligência – capacidade para assimilar e compreender informações e
conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para
criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com lógica
na resolução de problemas;
concentração e atenção – capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa. Desta
capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender;
memória – a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à aprendizagem,
pois quando a pessoa precisar de um conhecimento, ela deverá ser capaz de
resgatá-lo da memória, usando os conhecimentos anteriormente adquiridos. No
entanto, quem aprende está sujeito a esquecer o que aprendeu. O esquecimento se
dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem, causada por
estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de evocação do fato memorizado
por meio de um critério diferente do usado na fixação da aprendizagem; pelo desuso
das informações; por um componente emocional que não permite a memorização da
informação ou a ‘esconde’ no subconsciente.
Fatores neuroendócrinos:
O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino. Podemos
considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens, controlando a função da
glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de todas as glândulas do organismo e
possibilitando à criança explorar seu potencial genético, de desenvolvimento e de aprendizagem.
Neuro-Hormônio Adenocorticotrófico (ACTH): é liberado pelo hipotálamo; sua secreção
acompanha um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de
luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional.
Fatores ambientais
O meio ambiente no qual a pessoa está inserida exerce influências particularmente
poderosas, contribuindo positivamente para a realização do plano genético; ou negativamente,
apresentando obstáculos. O ambiente compreende tanto condições da vida material, estando em
primeiro lugar a alimentação e sua utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico
(socioeconômico, estilo de vida) e o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é
constituído pela relação afetiva primária e o estímulo materno.
Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é normal e
favorável pode-se calcular que 80% a 90 % da variabilidade natural da espécie humana, nos
limites da normalidade, se realizam segundo o programa genético pré-determinado, entretanto,
quando o meio é desfavorável e heterogêneo, a hereditariedade pode cair a 60%.
Nutrição
Em relação à alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a qualidade
desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao crescimento e à aprendizagem.
A alimentação saudável é a balanceada, com proteína suficiente, além da presença de hidratos
de carbono, gorduras, sais minerais e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento
consome 40% das calorias fornecidas à criança. 79
Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de metabolismo
basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos excretos; atividade
muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja beneficiada, a nutrição do
indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia é, então, transmitida por meio dos
macronutrientes: vitaminas; proteínas; hidratos do carbono; sais minerais; gorduras.
Variáveis sócio-econômico-culturais
As variáveis socioeconômicas exercem importante influência: renda per capita, a idade
dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e saneamento, escolaridade, higiene;
cultura dos pais (influencia na alimentação da criança).
Dada a melhoria nas condições de vida – tais como a urbanização, melhoria nos
cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos restritivo, entre
outros fatores –, existe uma forte tendência para que as crianças das gerações que nos
sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Essa tendência de aceleração secular pode ser
vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstram que as crianças brasileiras estão
maturando cada vez mais cedo, em todas as classes sociais, onde as regiões Sul e Sudeste do
país são as que mais crescem.
Família e os fatores psicossociais:
Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta elementos
diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural segundo o nível
intelectual, os conhecimentos adquiridos por intermédio dos pais, a herança dos costumes, etc.
Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da mãe com a criança desde os primeiros
instantes da vida. 80
A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o relacionamento da
mãe e, consequentemente, a qualidade de sua conduta com a alimentação, proteção física,
estímulo psíquico e cultural da criança. A carência afetiva consiste na falta de carinho e de
solicitação afetiva materna, perturbando ou mesmo impedindo o vínculo mãe e filho,
determinando o aparecimento de uma síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento
neuropsicomotor, no crescimento e no estado emocional, e por consequência, na aprendizagem.
FIGURA 24
82
FIGURA 25
86
Necessidades da multidisciplinaridade:
A Psicologia nasceu de estudos filosóficos e fisiológicos, portanto carrega traços
destes dois tipos de conhecimento. Atualmente, ela incorporou outros conhecimentos ao seu
próprio, trabalhando lado a lado com estes, é o caso da Psicologia Social, por exemplo, que
trabalha com bases teóricas de sociólogos, antropólogos, teólogos e filósofos, tais como Auguste
Comte, Michel Foucault, entre outros. O próprio Carl Gustav Jung trabalha com trabalhos
antropológicos, podendo traçar as diferentes culturas com símbolos em comum.
A Psicologia Comunitária faz trabalho em campo, junto a assistentes sociais terapeutas
ocupacionais. Os conhecimentos dessas áreas se fundem.
A Psicologia Jurídica trabalha com funcionários do Direito (advogados, juízes,
desembargadores), assim como os Psicólogos Hospitalares trabalham com médicos,
enfermeiros, enfim, com outros agentes promotores de saúde. Há, também, a área da
psicopedagogia, que trabalha com conteúdos da Pedagogia no campo da aprendizagem.
Algumas áreas da Psicologia, como a Psicologia Transpessoal e, em partes, a
Psicologia Analítica, necessitam de estudos em Física e Metafísica para que possam se tornar
conhecimentos amplos acerca do ser humano, seja em analogias, seja em estudos sobre
eventos parapsicológicos, sendo que esses estudos são recentes e não se constituem
plenamente como ciência psicológica.
Tanto as áres alheias da Psicologia citadas, quanto a própria Psicologia, precisam
trabalhar unidas, quando tratam de interesses em comum, os conhecimentos se cruzam, e
aumentam, e é possível que existam diferentes pontos de vista em constante diálogo.
Comitês de Bioética trazem esta multidisciplinaridade, agindo sobre problemas
corriqueiros e controversos. Estes comitês são formados por muitas outras correntes do
conhecimento, além do psicólogo. São médicos, enfermeiros, advogados, fisioterapeutas, físicos,
teólogos, pedagogos, farmacêuticos, engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da
comunidade onde o comitê está inserido. Eles decidem aspectos importantes sobre tratamento
médico, psicológico, entre outros. 91
6 CONCEITO DE SAÚDE
FIGURA 26
92
FIGURA 27
96
FIGURA 28
97
103
10 PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS
10.1 DEPRESSÃO
104
FIGURA 29
10.2 ANSIEDADE
FIGURA 30
A ansiedade é uma sensação ou sentimento decorrente da excessiva excitação do
Sistema Nervoso Central consequente à interpretação de uma situação de perigo. Parente
próximo do medo (muitas vezes onde a diferenciação não é possível), é distinguida dele pelo
fato de o medo ter um fator desencadeante real e palpável, enquanto na ansiedade o fator de
estímulo teria características mais subjetivas.
A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra a 109
intersecção entre o físico e psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos como: taquicardia
(batedeira), sudorese, tremores, tensão muscular, aumento das secreções (urinárias e fecais),
aumento da motilidade intestinal, cefaleia (dor de cabeça). Quando recorrente e intensa também
é chamada de síndrome do pânico (crise ansiosa aguda). Toda essa excitação acontece
decorrente de uma descarga de um neurotransmissor chamado noradrenalina.
O nosso Sistema Nervoso Central e a nossa mente necessitam de uma situação de
conforto e de segurança para usufruir a sensação de repouso e de bem-estar.
Quando a nossa percepção nos alerta para uma situação de perigo a essa situação
acontece o estado ansioso.
Evolutivamente, faz pouco que saímos dos tempos da caverna, quando os perigos de
vida e a necessidade de luta eram constantes. A excitação do Sistema Nervoso Central vinha
como uma forma de estimular o nosso corpo para a luta ou para a fuga.
O que interpretamos como perigo hoje transcende e muito o perigo de vida biológico.
Perda de status, de conforto, de poder econômico, de afetos, amizades, de privilégios,
vantagens, de possibilidade de concretizar interesses, de vaidade, são fatores mais do que
suficientes, em muitos casos, para disparar o estado ansioso.
Em estados de desequilíbrio emocional, o simples contato com o novo, com situações
inesperadas e desconhecidas são o suficiente para disparar estados ansiosos.
A principal característica psíquica do estado ansioso é uma excitação, uma aceleração
do pensamento, como se estivéssemos elaborando, planejando uma maneira de nos livrar do
perigo e da maneira mais rápida possível. Esse movimento mental, na maioria das vezes acaba
causando certa confusão mental, uma ineficiência da ação, um aumento da sensação de perigo
e de incapacidade de se livrar do perigo, o que configura um círculo vicioso, pois essa sensação
só faz aumentar ainda mais o estado ansioso. “Mente acelerada é mente desequilibrada”.
Esse movimento impulsivo de a mente se acelerar, de precisar ter tudo sob controle,
para poder usufruir a sensação de repouso e conforto, faz com que ela se excite; e se o
problema não tiver uma solução mental imediata, como o que acontece na maioria dos casos,
terá a chamada ansiedade patológica, que tende a se cronificar e piorar com os anos.
A ansiedade poderia ter uma origem genética, ou seja, a pessoa herda de seus
ancestrais uma pré-disposição para ter esses sintomas. Nesses casos as manifestações podem
ser bastante precoces, sendo a pessoa desde cedo uma criança agitada, às vezes, hiperativa,
que chora com facilidade e às vezes até com dificuldade de dormir. 110
A ansiedade precoce também pode se manifestar por meio da avidez de mamar e em
uma postura mais teimosa e possessiva ainda como criança. A segunda é uma infância carente
e problemática – em que as dificuldades dos pais, mas principalmente da mãe de passar afeto e
suprir as carências afetivas da criança, vão fazendo com que ela vá se sentindo insegura e
exposta. E vá gravando e condicionando um sentimento de que coisas ruins e sensações
negativas podem acontecer a qualquer momento.
A terceira é a dificuldade de incorporar fatos e intercorrências novas ou desconhecidas.
O velho ou conhecido sempre traz a sensação de segurança e controle. O novo por
sua vez tem a capacidade de potencializar a sensação de medo no sentido de que algo ruim ou
perigoso pode vir a acontecer.
É mais ou menos assim: “Tudo que vem de mim é seguro e tudo que vem de fora e
não está sob controle é perigoso”. É a clássica postura do pessimista, como aquele personagem
dos desenhos antigos de TV, a hiena Hardy, amiga do leão Lippy, que sempre dizia: “Oh céus,
oh vida, oh azar, não vai dar certo!”. Traumas de infância, grandes sustos, perdas afetivas ou
mesmo materiais, também podem desencadear quadros ansiosos importantes, mas não
chegariam a ser causas específicas.
10.3 TRANSTORNO BIPOLAR
FIGURA 31
111
Depressão
humor “para baixo”, tristeza, angústia ou sensação de vazio;
irritabilidade, desespero;
pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida;
cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental;
falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim;
falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia;
pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, ideias de culpa,
fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio);
sentimentos de insegurança, baixa autoestima, medo;
interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado e
no futuro;
redução da libido e vontade de ter sexo;
perda ou aumento de apetite e/ou peso;
insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado;
dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras
doenças – dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas
gastrointestinais, alterações menstruais, queda de cabelo, dentre outros;
em depressões graves, alucinações e/ou delírios.
Tratamento do Transtorno Bipolar:
O tratamento envolve manejo nas fases agudas e na terapia de manutenção. Os
quadros agudos demandam contenção imediata dos sintomas por meio da farmacologia:
estabilizadores do humor, antidepressivos (se necessário), antipsicóticos (se necessário) e,
muitas vezes, internação hospitalar para proteção do paciente.
Os episódios de depressão aguda são tratados, preferencialmente, com 115
antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, pois são maiores indutores de “virada”
maníaca (eufórica) ou hipomaníaca, mais comuns com as ADTs (tricíclicos).
As fases maníacas podem ser controladas com carbonato de lítio, ácido valpróico,
carbamazepina, lomotrigina, gebapentina e topiramato. Se sintomas psicóticos estiverem
presentes, é necessário o uso de antipsicóticos ou benzodiazepínicos. Muitas vezes, é
necessária a combinação de drogas, isto é, mais de um estabilizador do humor associado,
antidepressivos, mesmo na fase de manutenção.
Existem substâncias que propiciam a desestabilização do quadro do humor e que
devem ser identificadas (tricíclicos, esteroides, álcool e os estimulantes).
Psicoterapia:
Sabe-se que a terapia cognitiva pode contribuir na adesão do tratamento e na
prevenção das recaídas, tornando-se um valioso acessório para o tratamento farmacológico.
Como relatado anteriormente, o Transtorno Bipolar não se limita meramente a um problema
bioquímico, mas também, psicológico e social (envolve dificuldades pessoais, familiares e
sociais). Existem outros tipos de psicoterapias, como individual, grupal, de família, conjugal,
entre outros, mas, o que importa é se está surtindo resultado na melhora do paciente e na sua
qualidade de vida.
10.4 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)
FIGURA 32
116
Sou ou não sou um portador do TOC? Eis uma pergunta que você pode ter se feito
eventualmente. Provavelmente, ouviu em algum programa de rádio ou TV, leu em alguma
reportagem de jornal ou revista que lavar as mãos seguidamente, revisar várias vezes as portas,
janelas ou o gás antes de deitar, não gostar de segurar-se no corrimão do ônibus. Evitar usar as
toalhas de mão utilizadas pelos demais membros da sua família, não conseguir tocar com a mão
no trinco da porta de um banheiro público, ter medo de passar perto de cemitérios ou entrar em
uma funerária, de deixar um chinelo virado. Assim como outros comportamentos semelhantes,
podem, na verdade, constituir sintomas do chamado Transtorno Obsessivo-Compulsivo ou TOC.
E você deve ter ficado com dúvidas quanto a ser ou não um portador. Medos e
preocupações fazem parte do nosso dia a dia. Aprendemos a conviver com eles tomando certos
cuidados. Fechamos as portas antes de deitar, lavamos as mãos antes das refeições ou depois
de usar o banheiro, desligamos o celular antes da sessão de cinema ou verificamos
periodicamente o saldo bancário de nossa conta.
Esses mesmos comportamentos e preocupações, entretanto, podem se tornar
claramente excessivos, quando repetidos inúmeras vezes em um curto espaço de tempo e
quando acompanhados de grande aflição.
É comum, ainda, pelo tempo que tomam, que comprometam as rotinas e o
desempenho no trabalho. Isso configura o que, de forma convencional, chamamos de obsessões
ou compulsões, sintomas característicos de um transtorno bem mais comum do que se imagina, 117
o TOC.
O TOC é um transtorno mental incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) entre os chamados
transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou
compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações
excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).
Sua característica principal é a presença de obsessões (pensamentos, imagens ou
impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou desconforto) e das
compulsões ou rituais (comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, realizados
para reduzir a aflição que acompanha as obsessões).
Dentre as obsessões mais comuns estão à preocupação excessiva com limpeza
(obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Outro exemplo são as dúvidas
(obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão). A obsessão está ligada aos
pensamentos; já os atos ou comportamentos são denominados de comportamentos
compulsivos.
Compulsões mentais:
Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são realizadas
mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis. Elas têm a mesma
finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento.
Alguns exemplos:
repetir palavras especiais ou frases;
rezar;
relembrar cenas ou imagens;
contar ou repetir números;
fazer listas;
marcar datas;
tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos
contrários.
FIGURA 33 120
10.5 ESQUIZOFRENIA
Transtornos do afeto:
A diminuição da resposta emocional já foi considerada um sintoma característico da
esquizofrenia. Muitos pacientes são indiferentes ou apáticos, evitam o contato com olhar,
apresentam ausência na inflexão na voz, mudanças na expressão facial e os movimentos
espontâneos e os gestos expressivos podem estar diminuídos. Com frequência perdem a
capacidade de sentir prazer e podem descrever-se como vazios de emoção.
Tratamento:
O tratamento da esquizofrenia envolve vários tipos de profissionais que trabalham em
equipe.
Os objetivos da equipe de saúde são:
controlar os sintomas da doença tentando minimizar os efeitos deletérios da
medicação;
prevenir riscos de suicídio e crise paranoide;
evitar hospitalizações;
desencorajar o paciente ao uso indiscriminado da emergência médica;
cuidar da saúde geral do paciente;
melhorar sua qualidade de vida e dar à família suporte emocional.
Talvez o fator mais importante para cumprir esses objetivos seja assegurar que o
paciente faça o tratamento. Devido ao isolamento social, ideias paranoides, negação da doença
e desconforto com os efeitos colaterais das drogas, muitos pacientes abandonam o tratamento.
Tratamento farmacológico:
Antipsicóticos “típicos” ou clássicos são aquelas medicações que tendem a produzir
sintomas extrapiramidais (EPS). Esses agentes têm sido as principais drogas na farmacoterapia
da esquizofrenia por mais de um quarto de século.
Os sintomas que respondem melhor aos antipsicóticos típicos são os chamados
sintomas positivos, como delírios e alucinações. Já nos sintomas negativos, além de não
responderem tão bem, podem ser acentuados com seu uso.
A maioria dos autores divide o tratamento farmacológico da esquizofrenia em duas
fases: aguda e manutenção ou profilática.
Fase aguda
Envolvem a tentativa de aliviar os sinais e sintomas associados como delírios,
alucinações, alterações formais do pensamento e do comportamento. Apesar da variação das 125
doses utilizadas na prática clínica, as doses recomendadas para a fase aguda situam-se em
600-700 mg de clorpromazina ou equivalente/dia ou 5-20 mg/dia de haloperidol ou flufenazina.
A administração de altas doses de antipsicótico (neuroleptização rápida) no tratamento
de pacientes agudos não é indicada devido à falta de estudos controlados, demonstrando que
essa medida é mais eficaz no controle de sintomas psicóticos. Após a remissão dos sintomas,
diminui-se a dose e avalia-se a necessidade de tratamento em longo prazo com antipsicóticos.
Se a medicação for suspensa, o médico deve estar atento a algum sinal de recidiva e,
em caso de nova crise psicótica, a medicação deve ser introduzida por tempo indefinido.
FIGURA 34
Psicoterapia e Psicopedagogia:
Essas disciplinas ajudam a criança a entender o problema contra o qual está lutando,
a estabelecer metas e padrões e reconhecer e avaliar seu comportamento. Podem ser de
grande valia.
Esses programas ensinam controles internos que podem ser usados em várias
situações. Seu filho aprenderá a oferecer recompensas pelos seus feitos e aprenderá a partir
dos seus erros.
Coopere com seu médico ou terapeuta para desenvolver programas de modificação
comportamental. É importante que o programa seja claro, facilmente entendido e executado por
todos que dele participam – pela criança bem como pelos adultos.
É essencial que essas intervenções sejam realizadas com cautela e boa vontade, em
um ambiente calmo e carinhoso. A criança deve participar com disposição. Certifique-se de que
os dois tenham entendido que esses programas objetivam ajudar e não punir.
Desenvolva uma rotina estável em casa. Para diminuir a confusão e a quantidade de
estímulos diários, defina horários específicos para comer e dormir.
Experimente atribuir uma tarefa pequena e rápida e insista delicadamente para que
seja concluída. Em seguida, não deixe de agradecer e elogiar seu filho quando a tarefa tiver sido
concluída.
Faça com que a criança participe de projetos que ela goste para ajudá-la a 130
concentrar-se.
Aprender a concentrar-se alterará sua resposta ao mundo, gradativamente. Lembre-se
sempre de que, além de ter um desequilíbrio do sistema nervoso que transforma em tortura o
simples ato de permanecer sentado, a criança hiperativa e inteligente entedia-se facilmente.
Cooperar com o hiperativo para ajudá-lo a realmente concluir um projeto. Concluir um
projeto oferecerá uma ideia de competência e maior autoestima. O domínio e conclusão de uma
tarefa requerem elogios.
Busque terapia para você e seu cônjuge. Para ajudar a diminuir os sentimentos de
frustração e isolamento, os pais da criança hiperativa precisam de informação e apoio.
Busque auxílio; certamente encontrará. Você aprenderá a apoiar seu filho e a ficar
calmo e próximo, mesmo quando a situação parecer fora de controle. Você também aprenderá
que é importante que os pais tirem férias sem se sentirem estressados ou culpados por deixarem
uma criança “difícil” com outras pessoas competentes. Nunca é demais enfatizar a necessidade
dos pais terem uma folga. Tire uma tarde, uma noite ou um fim de semana. Entre em contato
com uma pessoa que possa tomar conta do seu filho. Ligue para seus pais e amigos.
Se você não fizer isso para o seu próprio bem, faça por seu filho. Provavelmente você
voltará se sentindo renovado, mais calmo e carinhoso.
Atividades físicas:
São fundamentais, principalmente aquelas que mantêm a criança em contato com a
água, como a hidroginástica e a natação. É importante saber que a água exerce um efeito
calmante. Práticas como a yoga e o tai-chi-chuan também são interessantes, pois treinam a
mente para que fique quieta.
Alguns cuidados importantes:
Durante a gestação, mantenha a exposição a chumbo ambiental ao mínimo possível e
elimine álcool. Os dois têm sido relacionados à hiperatividade.
Não deixe que seu filho se exponha ao chumbo. As fontes mais comuns de exposição
ao chumbo são tinta à base de chumbo, água potável e cerâmica mal esmaltada.
131
Alguns fatos sobre a hiperatividade:
Há um equívoco muito grande, principalmente nas escolas, em “diagnosticar” crianças
como sendo hiperativas. Embora muitos pais de crianças enérgicas perguntem aos médicos
sobre a hiperatividade, ela não é problema comum. Agitação não é sinônimo de hiperatividade.
Ansiedade também não. Tampouco problemas de concentração. É fundamental procurar um
psicólogo, de preferência especialista em Psicopedagogia ou Psicologia Escolar.
De acordo com um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, apenas 3% das
crianças são realmente diagnosticadas com a desordem do déficit de atenção. A hiperatividade é
dez vezes mais comum nos meninos do que nas meninas. A causa ou causas exatas da
hiperatividade são desconhecidas.
Os profissionais de saúde teorizam que a desordem pode ser resultado de: fatores
genéticos; desequilíbrio químico; lesão ou doença na hora do parto ou depois do parto; ou um
defeito no cérebro ou sistema nervoso central, resultando no mau funcionamento do mecanismo
responsável pelo controle das capacidades de atenção e filtragem de estímulos externos.
Metade das crianças hiperativas tem menos problemas comportamentais quando
seguem uma dieta livre de substâncias como flavorizantes, corantes, conservantes, glutamato
monossódico, cafeína, açúcar e chocolate e mantém psicoterapia associada a atividades físicas,
ou seja, o tratamento deve ser multidisciplinar.
FIGURA 35
132
Na prática:
134
FIGURA 36
De maneira geral, uma avaliação psicológica se constitui por uma entrevista individual,
às vezes substituída ou acrescida de uma dinâmica de grupo, e um teste para avaliação da
personalidade. Outros testes, de habilidades ou aptidões específicas, são acrescentados ao
conjunto de técnicas de avaliação, conforme o objetivo e a área de atuação do profissional.
O objetivo maior é o de diagnosticar cada pessoa, conhecer suas competências
individuais e, para isso, o teste psicológico ainda é o melhor instrumento de que se dispõe,
embora jamais único no processo, pois além de resultar em dados confiáveis, já que suas
características psicométricas são comprovadas cientificamente. Ele permite que o psicólogo
tenha uma visão total da pessoa, que consiga definir quais são as suas competências ou
características mais vantajosas e quais aquelas em que precisaria investir um pouco mais.
Em um processo de seleção, por exemplo, tais informações permitem ao psicólogo
indicar com maior segurança pessoas para cargos específicos e orientar as lideranças sobre
como lidar com seus colaboradores e no que efetivamente investir para obter maior
desenvolvimento e melhores resultados.
Da mesma forma, em treinamento e desenvolvimento, uma avaliação psicológica traz
subsídios suficientes para que um programa seja encaminhado considerando as especificidades
individuais e grupais, podendo até, com isso, gerar um redirecionamento das estratégias adotadas.
Há pouco tempo, algumas empresas procuravam premiar colaboradores 135
tecnicamente bons com uma promoção para cargos de chefia, sem outro critério senão a
satisfação com o desempenho desse funcionário, ou seja, sem uma avaliação que pudesse
assegurar que essa pessoa tivesse características condizentes com posições de liderança,
além de sua competência técnica.
O resultado final geralmente era desastroso para o colaborador e para a empresa. Por
não ser um líder e necessitar desenvolver as competências de liderança, não se saía bem na
nova função. Como nem sempre é possível a pessoa retornar ao cargo anterior, a empresa
contava com duas opções: mantê-lo no cargo e arcar com consequências indesejáveis ou então
demiti-lo. Prejuízo para ambos.
Para um planejamento de carreira, a realização de uma avaliação psicológica também
se torna decisiva, visto que norteará todo o programa a ser desenvolvido com o profissional,
especificando as características psicológicas a serem desenvolvidas para que ele possa
futuramente ascender em uma hierarquia com sucesso.
No momento atual, o foco das empresas, seja qual for o seu negócio, é cada vez mais
seus recursos humanos e sabe-se que o sucesso da empresa deve-se ao conhecimento e ao
investimento em pessoas. A avaliação psicológica, científica e ética, apoiada em instrumentos e
testes fidedignos, contribui essencialmente para essa finalidade.
Em se tratando da Psicologia Clínica, a avaliação psicológica é usada para fins
diagnósticos, ou seja, para avaliar a saúde emocional do paciente e verificar se ele é portador de
algum transtorno. Vale ressaltar que nem sempre a queixa inicial é a responsável pelo
sofrimento psíquico de uma pessoa, mas a constatação disso só se verifica depois de uma
avaliação psicológica.
Entrevista psicológica:
136
FIGURA 37
Existem vários tipos de entrevistas e são vários os profissionais que dela se utilizam.
Com o psicólogo não é diferente. Ele utiliza esse instrumento para elaborar diagnósticos, durante
avaliações e em prognóstico, ou seja, quando, durante uma entrevista devolutiva, por exemplo,
mostra as probabilidades futuras de um quadro psicológico atual.
É bem verdade que a entrevista psicológica sofreu algumas modificações no início do
século XIX, quando predominava o modelo médico. Naquela época, Kraepelin usava a entrevista
com o objetivo de detalhar o comportamento do paciente, e, assim, poder identificar as
síndromes e as doenças específicas que as classificavam segundo a nosografia vigente.
(SILVA, 2007).
Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se interessava pelo enfoque
psicobiológico (aspectos biológicos, históricos, psicológicos e sociais) do entrevistado. A partir de
Hartman e Anna Freud o interesse da entrevista se deslocou para as defesas do paciente. Isto é,
a Psicanálise teve sua influência na investigação dos processos psicológicos, sem enfatizar o
aspecto diagnóstico, antes valorizado.
Nos anos 50, Deutsch e Murphy apresentaram sua técnica denominada Análise
Associativa que considerava importante registrar não somente o que o paciente dizia, mas,
também, em fornecer informações sobre ele. Desse modo, desviou-se o foco sobre o
comportamento psicopatológico para o comportamento dinâmico. Ainda naquela década, Sullivan
concebeu a entrevista como um fenômeno sociológico, uma díade de interferência mútua.
Após esse período, a entrevista e o aconselhamento psicológicos se deixaram
influenciar, entre outros, por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em centrar no paciente. Ou
seja, em procurar compreender, de acordo com o seu referencial, significados e componentes 137
emocionais, tendo como base a sua aceitação incondicional por parte do entrevistador.
FIGURA 38
Os objetivos da entrevista:
FIGURA 39
Com base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde mental, pode-se
classificar a entrevista quanto aos seguintes objetivos:
a) diagnóstica – visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do paciente, bem
como as indicações terapêuticas adequadas. Assim, faz-se necessário uma coleta de
dados sobre a história do paciente e sua motivação para o tratamento. Quase sempre,
a entrevista diagnóstica é parte de um processo mais amplo de avaliação clínica que
inclui testagem psicológica;
b) psicoterápica – procura colocar em prática estratégia de intervenção psicológica
nas diversas abordagens – rogeriana (C. Rogers), jungiana (C. Jung), gestalt (F. Perls), 139
bioenergética (A. Lowen), logoterapia (V. Frankl) e outras –, para acompanhar o
paciente, esclarecer suas dificuldades, tentando ajudá-lo a solucionar seus problemas;
c) de encaminhamento – logo no início da entrevista, deve ficar claro para o
entrevistado, que ela tem como objetivo indicar seu tratamento, e que este não será
conduzido pelo entrevistador. Devem-se obter informações suficientes para se fazer
uma indicação e, ao mesmo tempo, evitar que o entrevistado desenvolva um vínculo
forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar;
d) de seleção – o entrevistador deve ter um conhecimento prévio do currículo do
entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as informações que o
candidato tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais significativos do
examinando em relação à vaga pleiteada, etc.;
e) de desligamento – identifica os benefícios do tratamento por ocasião da alta do
paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade de trabalhar
algum problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com o funcionário
que está deixando a empresa, e tem como objetivo obter um feedback sobre o
ambiente de trabalho, para providências, intervenções do psicólogo em caso, por
exemplo, de alta rotatividade de demissão em um determinado setor;
f) de pesquisa – investiga temas em áreas das mais diversas ciências, somente se
realiza a partir da assinatura do entrevistado ou paciente, do documento Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS no 196/96), no qual estará
explícita a garantia ao sigilo das suas informações e identificação, e liberdade de
continuar ou não no processo.
A sequência temporal das entrevistas diagnósticas:
140
FIGURA 40
Essa sequência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas subsequentes e
entrevista de devolução, caracterizadas de forma diferente, e mostrando objetivos distintos
conforme o momento em que elas ocorram (GOLDER, 2000).
a) Entrevista inicial
É a primeira entrevista de um processo de psicodiagnóstico. Semidirigida, durante a
qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Segundo Fiorini (1987, p. 63), o empenho do
terapeuta nessa primeira entrevista pode ter uma influência decisiva na continuidade ou no
abandono do tratamento. Pinheiro (2004) salienta que essa entrevista ocorre em um certo
contexto de relação constantemente negociada. O termo negociação se refere ao
posicionamento definido como “um processo discursivo, através do qual [...] são situados numa
conversação como participantes observáveis, subjetivamente coerentes em linhas de histórias
conjuntamente produzidas” (DAVIES; HARRÉ apud PINHEIRO, 2004, p.186).
Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de outro técnico, 141
encaminhando o entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou com a chamada do próprio
entrevistado. Tem como objetivos discutir expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher
informações sobre o entrevistado, que não poderiam ser obtidas de outras fontes (SILVA, 2007).
As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua aparência, comportamento durante
a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que podem facilitar o processo
de análise do caso. Para Gilliéron (1996), a primeira entrevista deve permitir conhecer:
o modo de chegada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por alguém ou
a conselho de alguém, etc.);
o tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o seu terapeuta;
as queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela qual
ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido).
A partir dessas impressões e expectativas, entrevistador e entrevistado constroem
mutuamente suas transferências, contratransferências, e resistências que foram ativadas bem
antes de ocorrer o encontro propriamente dito.
Um clima de confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o entrevistando
revele seus pensamentos e sentimentos sem tanta defesa, portanto, com menos distorções. No
final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os seguintes pontos: horários, duração das
sessões, honorários, formas de pagamento (quando particular), condições para administrar
instrumentos de testagem e para as condições de consulta a terceiros.
b) Entrevistas subsequentes
Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a pessoa do
paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do contrato de trabalho de
psicodiagnóstico, normalmente são necessários mais alguns encontros. O objetivo das
entrevistas subsequentes é a obtenção de mais dados com riqueza de detalhes sobre a história
do entrevistado, tais como: fases do seu desenvolvimento, escolaridade, relações familiares,
profissionais, sociais e outros.
FIGURA 41
FIGURA 42
Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal, focalizada,
por pautas e estruturada:
a) entrevista informal (livre ou não estruturada) – é o tipo menos estruturado, e só se
distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados.
O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado, bem
como a identificação de alguns aspectos da personalidade do entrevistado;
b) entrevista focalizada (semiestruturada ou semidirigida) – é tão livre quanto a
informal, todavia, enfoca um tema bem específico. Permite ao entrevistado falar
livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia do tema original o
entrevistador deve se esforçar para sua retomada;
c) entrevista por pautas (semiestruturada ou semidirigida) – apresenta certo grau de
estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesses que o
entrevistador vai explorando ao longo do seu curso. As pautas devem ser ordenadas e
guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o
entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas assimiladas. Quando
este, por ventura, se afasta, o entrevistador intervém de maneira sutil, para preservar a
espontaneidade da entrevista; 145
d) entrevista estruturada (fechada) – desenvolve-se a partir de uma relação fixa de
perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos os entrevistados,
que geralmente são em grande número. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos
dados, esse tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de
levantamentos sociais.
FIGURA 43
O processo de entrevista é orientado por seu referencial teórico. Aqui serão vistas, em
síntese, algumas das perspectivas:
a) Perspectiva Psicanalítica – tem como base os pressupostos dos conteúdos
inconscientes. O entrevistador busca avaliar a motivação inconsciente, o
funcionamento psíquico e a organização da personalidade do entrevistado. A entrevista
é orientada para a psicodinâmica da estrutura intrapsíquica ou das relações objetais e 146
funcionamento interpessoal;
b) Perspectiva Existencial-Humanista – não procura formular um diagnóstico, e sim,
verificar se o interesse do indivíduo está autorrealizado ou não. Aqui não existe uma
técnica específica de entrevista, essas são consideradas pelos existencialistas como
manipulação. O entrevistador reflete o que ouve, pergunta com cuidado, e tenta
reconhecer os sentimentos do entrevistado;
c) Perspectiva Fenomenológica – estuda a influência dos pressupostos e dos
preconceitos sobre a mente, e que os acionam ao estruturar a experiência e atribuir-lhe
um significado. Além de uma atitude aberta e receptiva, é necessário que o
entrevistador atue como observador participante, e que, assim, seja capaz de avaliar
criticamente, por meio de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o que está
ocorrendo na entrevista.
FIGURA 44
Segundo Ribeiro (1988), a realização da entrevista psicológica segue diferentes
enfoques:
a) psicométrico – o entrevistador faz uso constante de uma série de instrumentos:
testes, pesquisas, controle estatístico, etc., predeterminados, enquanto dispositivos
para a aquisição de conhecimentos sobre o entrevistado. Nessa situação, dificilmente o
entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o encontro permanece mais em nível 147
formal e informativo do que espontâneo criativo e transformador. Isso não quer dizer
que seja menos válida ou mais superficial;
b) psicodinâmico – a relação poderá ser mais aprofundada devido ao fato de o
entrevistador contar com maior disponibilidade de tempo para questionar o
entrevistado, e conduzir a situação de maneira “menos estruturada”. Sua atenção não
está no aqui e no agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual
submensagens poderão dificultar a comunicação;
c) antropológico – abrange a relação ambiente-organismo na compreensão da
comunicação. Qualquer dado será considerado, mas, nem sempre, é possível dizer em
que momento ele está e onde será utilizado. Esse tipo de entrevista parece mais
complexo, assim sendo, exige mais prática do entrevistador para analisar as
informações.
Técnicas de entrevista:
FIGURA 45
Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se realiza durante
o seu transcurso. As observações são registradas em função das hipóteses que o entrevistado
emite. O entrevistador ordena na seguinte disposição: observação, hipótese e verificação. Uma
boa observação consiste, de algum modo, em formular hipóteses que vão sendo reformuladas
durante a entrevista em função das observações subsequentes.
No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real 148
envergadura e transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa profissional, porque
estas são as unidades de uma práxis que resguarda a tarefa mais humana: compreender e
ajudar os outros. Assim, indagação e atuação, teoria e prática, devem ser manejadas como
momentos e aspectos inseparáveis do mesmo processo.
Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o beneficiário do
resultado:
a entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da consulta
psicológica ou psiquiátrica;
a entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado científico
da mesma;
a entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma instituição.
Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador que
desperte interesse ou motive a participação do entrevistado.
Dinâmica da entrevista:
FIGURA 46
O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e nem sua
história de vida. Não deve permitir em ser considerado como um amigo pelo entrevistado e, nem
entrar em relação comercial, de amizade ou de qualquer outro benefício que não seja o
pagamento dos seus honorários. Para Gilliéron (1996), a investigação repousará:
na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre;
em um modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional que se 151
estabelece entre o paciente e o terapeuta; modelo de apoio objetal.
O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva. Diante de
informações prévias fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas não serão mantidas
em reserva. Em função de não abalar a confiança do entrevistado, estas lhe serão comunicadas.
A reação contratransferencial deve ser encarada como um dado de análise da
entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer outro sentimento do
entrevistado.
As atitudes do entrevistado não devem ser “domadas” ou subjugadas, não se trata de
querer triunfar e nem se impor perante ele. Compete ao entrevistador averiguar como essas
atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do entrevistado, de certo modo, tem
uma relação direta com o nível de repressão do entrevistador.
Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos relevantes
das suas dificuldades. A linguagem é um meio de transmitir informação, mas poderá ser também
uma maneira poderosa de se evitar uma verdadeira comunicação (BLEGER, 1980). Nem
sempre, uma carga emocional intensa significa uma evolução no processo.
O silêncio é uma expressão não verbal que muitas vezes comunica bem mais que as
palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador iniciante. Ele pode ser também
uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito não consegue enfrentar.
Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são comuns nas dinâmicas de grupo, mas
que também ocorrem, com bastante frequência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar
foram destacados alguns tipos de silêncio:
silêncio de tensão – é a expressão da ansiedade. Facilmente observado pela
postura corporal tensa ou inquieta do entrevistado, da sua respiração ofegante, do
tamborilar dos dedos, etc.;
silêncio de medo – deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de fugir de
uma situação psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita muita tensão e,
como consequência, forte descarga psicossomática;
silêncio de reflexão – surge normalmente após a intervenção do entrevistador, ou
logo após um feedback, ou mesmo depois do entrevistador ter passado por algum tipo
de vivência. Nele, observa-se a ausência de tensão, há um recolhimento introspectivo 152
de elaboração mental;
silêncio de desinteresse – o indivíduo perde o foco da atenção, camufla
resistência, se desinteressa pela situação externa porque interiormente ela o atinge.
A ansiedade na entrevista:
FIGURA 47
Transferência e contratransferência:
FIGURA 48
Transferência:
Freud (1914-1969) entende que a transferência é “[...] apenas um fragmento da
repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido [...] para todos os
aspectos da situação atual” (p.166). A transferência é designada pela Psicanálise como um
processo por meio do qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos,
em certo tipo de relação estabelecida, eminentemente, no quadro da relação analítica. A
repetição de protótipos infantis vividos com um sentimento de atualidade acentuada.
Classicamente a transferência é reconhecida como o terreno em que se dá a problemática de
um tratamento psicanalítico, pois são a sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação
e a sua resolução que as caracterizam (LAPLANCHE; PONTALIS, 2004).
A transferência e a contratransferência são fenômenos que estão presentes em toda
relação interpessoal, inclusive na entrevista. Na transferência o entrevistado atribui papéis ao
entrevistador, e se comporta em função deles, transfere situações e modelos para a realidade
presente e desconhecida, e tende a configurar esta última como situação já conhecida,
repetitiva. No entender de Gori (2002, p. 78), repetindo transferencialmente, evoca-se a
lembrança e é somente por meio da lembrança que temos acesso à história “[...] por meio da 155
transferência é forjado num lugar intermediário entre a vida real e um ensaio de vida, para que o
drama humano possa ter um desfecho”.
A articulação do conceito de “momento sensível” (grifo da autora) passa pelo
posicionamento do terapeuta. Esse instante preciso determina os mecanismos que instalam a
transferência. Com efeito, é o momento em que uma relação de trabalho se torna possível. A
abertura ao outro, a espera de ajuda vinda do exterior é forte e expõe o paciente tanto ao melhor
quanto ao pior dessa interação (GOLDER, 2000).
Nessa perspectiva, Gilliéron (1996, p. 14) diz que todos os pacientes procuram obter
alguma coisa do terapeuta. Eles não buscam apenas a cura de um sintoma, mas também certa
qualidade de relação. Os entrevistados revelam aspectos irracionais ou imaturos de sua
personalidade, seu grau de dependência, sua onipotência e seu pensamento mágico.
As transferências negativas e positivas podem coexistir em um mesmo processo,
embora, quase sempre com predomínio relativo, estável ou alterado, de uma delas. Segundo
Sang (2001, p. 319-320), é a situação analítica e não a sua pessoa o que levou a paciente a se
apaixonar por ele, isto é, que o amor de transferência é essencialmente impessoal: “[...] o
analista não deve nem reprimir nem satisfazer as pretensões amorosas da paciente”. Deve sim,
tratá-las como algo irreal. No que é confirmado por Yalom (2006, p. 175), quando diz que os
sentimentos que surgem na situação terapêutica. Geralmente pertencem mais ao papel que à
pessoa, é um equívoco tomar a adoração transferencial como um sinal de sua atratividade ou
charme pessoal irresistível.
Contratransferência:
Na contratransferência emerge do entrevistador reações que se originam do campo
psicológico em que se estrutura a entrevista. Porém, se constitui, quando bem conduzida, em
um indício de grande significação e valor para orientar o entrevistador no estudo que realiza.
Seu manejo requer preparação, experiência e um alto grau de equilíbrio mental, para que
possa ser utilizada com validade e eficiência. Na contratransferência, salienta Gilliéron (1996),
as emoções vividas pelo analista são consideradas reativas às do paciente, vinculando-se,
portanto, ao passado deste último, e não dizendo respeito diretamente à pessoa do analista.
Manfredi (apud ZASLAVSKY; SANTOS, 2005, p. 296), distingue cinco tendências de
abordagens dessa questão:
1) a contratransferência não é mais considerada como uma criação unicamente do 156
paciente, por ignorar a transferência do analista;
2) é problemático diferenciar a contratransferência normal da patológica (os dados à
disposição do analista não permitem, quase sempre, uma diferenciação);
3) a tolerância à contratransferência já seria suficiente, dada aqui, a dificuldade da
diferenciação dos sentimentos envolvidos na dupla;
4) devia-se, mais sábia e humildemente, fazer também a rota inversa: procurar no
paciente, e não só procurar no analista;
5) a questão do confessar ou não, ou confessar/revelar até quando/quanto, os
sentimentos contratransferências despertados.
Para que o instrumento Entrevista Psicológica, de fato, se efetive como auxiliar no
trabalho do psicólogo, não é o bastante a sua compreensão ou domínio teórico e técnico que
fundamenta e norteia sua prática, mas também de experiências que são adquiridas em
rollyplays por intermédio de estágio, supervisão; laboratório ou oficinas de sensibilidade.
É preciso desenvolver a sensibilidade para entrevistar, aprender ser empático, saber
lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro (entrevistando), facilitando assim
que seu universo, um tanto livre das “ameaças”, se descortine. O entrevistador precisa adquirir a
habilidade da “dissociação instrumental”, e ser capaz de adentrar esse universo, sem juízo de
valor, sem preconceito, para que assim possa estar com o Outro, conhecer, não temer, se perder
e se achar e, finalmente, voltar à realidade do contexto.
E agora, de posse de sua bagagem técnica tecer suas observações, ponderações e
considerações, de modo axiomático, considerado que a utópica da neutralidade sempre deverá
ser perseguida. Os princípios éticos serão avivados em cada encontro, e nenhum instrumento
poderá adquirir uma aura de prevalência sobre a pessoa do entrevistado, que é mais importante
e assim deve ser respeitado. O que não significa ser “meloso”, por demais e muito menos
autoritário.
O entrevistador deve habilitar-se em se inscrever na virtualidade da distância e
proximidades ótimas que o trabalho possa fluir. Ser a pessoa na figura do profissional imbuído
da intenção singular de realizar uma atividade sem perder sua essência humana.
Nessa investida, é fundamental que o profissional se “conheça”, e que faça de
rotineiras as reflexões sobre suas atitudes, postura e comportamento, bem como de que tenha
também flexibilidade em reformulá-los, quando a necessidade aponte. Muito do trabalho do 157
psicólogo certamente vem em consequência do “automergulho” que lhe dará a base na qual se
apoiam a sua atuação e intervenção com toda transparência.
12 INTERVENÇÃO
FIGURA 49
158
Abordagem sistêmica:
Parte da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação de Watzlawick é um
paradigma que emerge das ciências exatas e fornece uma base teórica e prática de
compreensão dos sistemas humanos. Nos anos 40, Ludwig von Bertalanffy publicava uma série
de princípios válidos para vários sistemas (biológicos, físico-químicos, sociais).
O sistema é um complexo organizado em múltiplos elementos que estão em interação
recíproca no seu interior e com o meio. Um sistema pode ser aberto (auto-organizado) ou
fechado (entropia).
A perspectiva sistêmica constitui um bom suporte teórico para a intervenção,
especialmente em terapia familiar. Põe em causa uma epistemologia linear, unidirecional e
contextualiza os problemas humanos, não em um único sentido, mas em função dos contextos
em que emergem os problemas. Alarga a perspectiva de intervenção, centrada apenas em um
sistema pessoal, para uma perspectiva que se centra nos contextos de vida e nas redes de
apoio dos sujeitos. Esses pressupostos são aplicados, sobretudo, na terapia familiar.
Modelo cognitivo-comportamental:
“O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz dos
fatos” (Epitectus - Século I)
Essa perspectiva teve origem nos trabalhos de Aaron Beck e Albert Ellis. Sugere que
as nossas crenças e atribuições desempenham um importante papel no comportamento.
Essa abordagem é historicamente baseada nos princípios da aprendizagem e da 159
psicologia experimental. Centra-se no comportamento observável e não observável.
Pensamentos adquiridos por meio da aprendizagem e do condicionamento no ambiente social.
As terapias cognitivo-comportamentais compartilham alguns pressupostos básicos,
ainda que existam diferentes abordagens conceituais e estratégicas para os diversos
transtornos. Há algumas características essenciais no núcleo das terapias cognitivo-
comportamentais (DOBSON, 2001):
a atividade cognitiva influencia o comportamento;
a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;
o comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva.
Essa terapia baseia-se na premissa que uma inter-relação entre cognição, emoção e
comportamento é parte integrante do funcionamento psicológico normal. Um acontecimento de
vida pode acarretar inúmeras formas de agir, sentir e pensar, mas não é o evento em si que gera
as emoções e comportamentos, é o que nós pensamos e interpretamos sobre esse evento.
Outra premissa é que as distorções cognitivas são muito frequentes em diferentes
transtornos.
Ao contrário do que acontece com o modelo psicanalista, o material trazido à consulta
não é interpretado pelo terapeuta, mas elaborado conjuntamente com o cliente, com o objetivo
de identificar, examinar e corrigir as distorções do pensamento que causam sofrimento
emocional ao indivíduo.
Albert Ellis centrou-se nas crenças irracionais para lidar com pensamentos e
comportamentos problemáticos. Pensamentos como “toda a gente deve me apreciar”, “ninguém
vai amar alguém tão feio como eu” vão inevitavelmente conduzir à decepção.
Aaron Beck desenvolveu a terapia cognitiva para tratar a depressão e outros
problemas. Beck considera que durante o desenvolvimento, as pessoas formulam regras sobre o
funcionamento do mundo, tendendo serem simplistas, inflexíveis e frequentemente baseadas em
concepções errôneas.
As abordagens cognitivistas podem-se distinguir em duas tradições:
cognitivismo substantivo racionalista – centra-se no conteúdo, pensamento
interno, mecanicista (Ellis, Beck, Meichenbaum, D’Zurilla, etc.);
cognitivismo construtivista desenvolvimental – o construtivismo prega que o
conhecimento e a experiência humana implicam em uma pró-ação ativa do sujeito, a
importância das emoções e os problemas psicológicos refletem diferenças entre as 160
exigências do ambiente e a capacidade adaptativa do cliente.
Abordagem humanista:
Essa abordagem tem as suas origens na filosofia europeia e no trabalho
psicoterapêutico de Victor Frankl, Carl Rogers, Abraham Maslow, Rollo May, Fritz Perls e outros.
Rejeitando as premissas básicas das teorias psicodinâmicas e comportamentalista, os
humanistas assumem uma abordagem fenomenológica que enfatiza a percepção individual e a
experiência. Tendem a ver as pessoas como ativas, pensadoras, criativas e orientadas para o
crescimento. Consideram que as pessoas são basicamente bem intencionadas e que
naturalmente lutam pelo crescimento, amor, criatividade e autoatualização. Em vez de se centrar
na influência do passado, os humanistas focam-se no “aqui e agora” ou presente.
Abordagem psicodinâmica:
Foi fundada com o trabalho de Sigmund Freud. Muitos neofreudianos e outros
revisionistas fizeram uma grande adaptação, desenvolvimento e mudança na abordagem básica
de Freud. Essa abordagem ainda mantém certas concepções sobre o comportamento humano e
problemas psicológicos.
Defende que o comportamento humano é influenciado por desejos intrapsíquicos,
motivações, conflitos e impulsos. Os mecanismos de defesa do ego (adaptativos ou não) são
utilizados para lidar com conflitos, desejos, necessidades e fantasias não resolvidas, que
contribuem para o comportamento normal ou anormal.
As experiências precoces na infância desempenham um papel fundamental no
desenvolvimento psicológico e no comportamento adulto. A compreensão dessas influências
inconscientes e a sua discussão e integração nas experiências quotidianas ajudam a melhorar o
funcionamento psicológico. A relação de transferência que se desenvolve entre o cliente e o
terapeuta também ajuda a melhorar o funcionamento psicológico.
Freud desenvolveu uma compreensão do comportamento humano baseada em três
estruturas mentais, que normalmente estão em conflito:
o id, inato, funciona segundo o princípio do prazer e representa todos os
desejos e necessidades mais primitivas. O id não conhece juízos de valor, moral, ou
o bem ou o mal. O id procura a satisfação imediata sem considerar as circunstâncias
da vida real. A nossa energia psíquica básica (libido) está contida no Id e exprime-se
por meio da redução da tensão. Contudo, para a satisfação das necessidades é
preciso interagir com o mundo real. O ego, que é mediador entre o id e o mundo
exterior, ajuda nessa interação;
o ego, que funciona segundo o princípio da realidade, mantém em suspenso as
exigências para o prazer que provêm do id, até que se encontre um objeto apropriado
para satisfazer a necessidade e reduzir a tensão. Desenvolve-se por volta do primeiro
ano de idade e representa os aspectos racionais e razoáveis da nossa personalidade,
ajudando-nos a adaptar a um mundo desafiante;
o superego, que se desenvolve por volta dos cinco anos de idade, quando são
assimiladas as regras de comportamento ensinadas pelos pais, por meio de um
sistema de recompensas e castigos. Representa a internalização de normas e regras 163
sociais, culturais e familiares. O superego inclui o ego ideal (a imagem perfeita do que
somos e do que podemos ser) e a nossa consciência (as regras de bons e maus
pensamentos e comportamento).
Irá haver um conflito inevitável entre id, ego e superego para lidar com a ansiedade e
desconforto e a necessidade de utilizar mecanismos de defesa do ego. O ego está em uma
posição difícil, pois tem de lidar com forças opostas. Os mecanismos de defesa são estratégias
desenvolvidas pelo ego para proteger o indivíduo desses conflitos internos e, em geral,
inconscientes.
Eles ajudam a lidar adaptativamente, ou não, com a inevitável ansiedade de ser
humano. Há uma variedade de mecanismos de defesa, como a repressão (manter pensamentos,
desejos, sentimentos e conflitos desagradáveis fora da consciência). Negação (negar que
existem pensamentos ou sentimentos problemáticos), sublimação (substituição de uma meta que
não pode ser satisfeita por outra socialmente aceitável), projeção (a origem da ansiedade é
atribuída a outra pessoa).
Freud também definiu vários estádios psicossexuais do desenvolvimento da
personalidade. No decorrer desses estádios, as crianças são autoeróticas ao obter prazer erótico
quando estimulam as zonas erógenas do corpo. Cada estádio tende a estar localizado em uma
determinada zona erógena. Estes incluem as fases: oral, anal, fálica, latente e genital.
o estádio oral vai desde o nascimento até ao segundo ano de vida. A estimulação
da boca (sugar, morder, etc.) é a fonte de satisfação erótica;
no estádio anal, a satisfação vai da boca para o ânus e as crianças têm prazer na
zona anal. Nessa fase treinam a higiene pessoal e as crianças podem reter ou expelir
fezes;
no estádio fálico, por volta do quarto ano de idade, a satisfação erótica passa
para zona genital, havendo manipulação e exibição dos órgãos genitais. Nesse estádio
há o desenvolvimento do Complexo de Édipo, em que o rapaz desenvolve um desejo
incestuoso e de morte, desejando unir-se à mãe e eliminar o pai. Os medos de
retaliação e de castração resultam na repressão desses impulsos e na identificação
com o pai.
O objetivo dessa abordagem é o insight-compreensão de fatores inconscientes que
levam a comportamentos e sentimentos problemáticos, por intermédio de uma análise
aprofundada e cuidadosa do papel de desejos, impulsos e conflitos inconscientes na vida diária. 164
Técnicas como a associação livre (dizer tudo o que nos passa pela cabeça), a análise
dos sonhos e a interpretação são usadas para compreender e tratar vários problemas.
13 EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
FIGURA 50
165
FIGURA 51
168
FIGURA 52
FIGURA 53
FONTE: Disponível em: <http://casadooriente.blogs.sapo.pt/arquivo/Terapia.jpg>.
Vários estados de sofrimento, crises, transtornos e doenças têm encontrado uma
solução e melhora apenas com o auxílio da Psicoterapia.
Não é possível hoje se falar em doenças sem uma consideração pela dimensão
psicológica e emocional. Cada vez está mais evidente a natureza psicossomática de todas as
experiências humanas. A saúde psicológica é pré-condição e parte integrante da saúde global.
171
Cada ser psicossomático vive uma história de interações, encontros e acontecimentos
em que as doenças (orgânicas ou mentais) resultam também dos desequilíbrios existenciais e de
soluções inadequadas de vida.
A Psicoterapia é um processo que permite transformações profundas da
personalidade, com resultados evidentes em diversas situações como:
tratamento de vários transtornos como pânico, fobias, depressão, anorexia,
bulimia, frigidez, impotência, etc.;
resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares, profissionais etc.;
crises existenciais, transições difíceis (luto, crises profissionais, etc.) e mudanças de
fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa, envelhecimento, etc.);
aprendizado do autogerenciamento da capacidade de lidar com o estresse,
dialogando com os estados afetivos internos e os efeitos dos desafios e problemas da vida;
descoberta de novos modos de conduzir a própria vida;
aquisição de autoconhecimento, autonomia e amadurecimento pessoal.
Os tipos de Psicoterapia:
FIGURA 54
Existem alguns tipos de Psicoterapia, conforme as necessidades e a configuração dos
problemas. Os principais tipos são:
Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos;
Psicoterapia de Grupo;
Psicoterapia de Casal;
Psicoterapia de Família; 172
Atendimento Emergencial.
FIGURA 55
O processo terapêutico é como atravessar um túnel. Nesse túnel você vai rever muitas
cenas da história da sua vida de um ângulo completamente novo, fazendo conexões inusitadas
entre os eventos e percebendo a potência do passado para moldar quem você é hoje.
Na travessia desse túnel você aprenderá a reconhecer os seus padrões de
comportamento, que levam você a se comportar de modo parecido em situações diferentes,
inclusive repetindo os mesmos erros.
Você aprenderá a reconhecer o “como” do seu comportamento: como você age, como
se relaciona, como pensa, sente. E aprenderá caminhos para poder influenciar e transformar
esses padrões.
Essa é uma travessia acompanhada de alguém que pode ajudar você a se
compreender. Alguém que pode lhe ajudar a transformar o seu jeito de ser, a mudar e a se
conhecer profundamente. Essa travessia pode mudar completamente a sua vida. 173
O vínculo na Psicoterapia:
FIGURA 56
A base de uma boa terapia está na relação terapêutica. A boa terapia se desenrola em
um enquadre clínico (ambiente pré-definido) com um clima terapêutico favorável. Aí está um dos
segredos dessa arte: criar um ambiente que permita a revelação dos mundos internos e favoreça
o desenvolvimento do processo singular de cada um. Nesse clima é possível que o ser mais
oculto e amedrontado se mostre, seja ouvido, transforme-se, que o processo formativo possa
prosseguir formando vida.
O ser humano nasce, cresce e vive em ambientes vinculares. Desses ambientes
emocionais depende seu bem-estar e suas realizações na vida. Os problemas vinculares – da
primeira infância à terceira idade – afetam profundamente a capacidade que as pessoas têm de
amar, trabalhar e viver. A Psicoterapia é um espaço para se esclarecer e transformar essas
dificuldades vinculares. E esse processo ocorre por meio de uma relação saudável com um
profissional eticamente comprometido e tecnicamente qualificado.
FIGURA 57
FIGURA 58
177
Quero parabenizá-lo por ter chegado até aqui, ao final do curso. Você conheceu as
linhas básicas da Psicologia Científica e de como ela funciona, de forma mais específica sobre a
Psicologia Clínica.
Em muitos momentos, o trabalho desse profissional em muito se assemelha ao
trabalho do psiquiatra e atualmente do filósofo clínico e não raro o psicólogo é convidado a
integrar uma equipe. Com competência, atualização constante, uma paixão incomensurável pelo
ser humano, capacidade mais para calar, do que para falar. Observar, analisar, interpretar e
muita humildade são pré-requisitos para quem quer atuar nessa área.
Necessita-se de muita disposição para trabalhar, sem horários fixos, e disposição para
dedicar-se, horas a fio, a analisar casos, avaliar testes, redefinir linhas de ação... Por fim, para
quem se apaixonou pelo que leu, aconselho que procure uma boa faculdade de Psicologia, que
disponibilize do Curso de Formação (única modalidade que dá direito a clinicar) e faça a
graduação, ponto de partida da carreira profissional.
Lembre-se: o psicólogo está em constante formação e deve se comportar como
estudante sempre, jamais como dono de um saber acabado, pronto. De certeza, apenas uma: a
Psicologia é a profissão mais complexa, mais difícil e mais fascinante que existe! Ame-a ou
deixe-a! Sucesso a todos!
GLOSSÁRIO
EMPÍRICO: Aquilo que pode ser mensurado. Observações empíricas são aquelas que podem
proporcionar um nível de dados objetivos, os quais podem ser avaliados de uma forma ou de 179
outra. De forma geral, empregando o termo “medida”, vagamente, quase todas as formas de
investigação psicológica podem ser consideradas empíricas.
ESTEREOTIPIA: do grego stereós, sólido + typos, tipo, arte de converter em formas fixas o que
primeiro se compõe com tipos móveis; casa em que se estereotipa; palavra, atitude, gesto
invariavelmente retido. Comportamento mecanicista, robotizado, pouco original, ritualista.
LIBIDO: Termo originalmente utilizado por Sigmund Freud para se referir à energia sexual do id 180
(instância inconsciente responsável pelo instinto) e disponível para distribuir energia para os
processos mentais e as atividades físicas. Mais tarde, Freud reconsiderou a libido como a
energia geral de vida. No uso cotidiano, o termo ainda está associado à conotação de energia
sexual.
PENSAMENTO POSITIVISTA: Teoria filosófica que tem como base a ideia de evolução do
pensamento e do comportamento humano, do mais baixo para o mais alto escalão. A evolução
humana é tratada como algo alinear e contínuo. O pensamento só é considerado válido se tiver 181
valor científico e a pesquisa científica válida é a quantitativa, numérica. Nada que não for
comprovado tem valor enquanto Ciência. Não são considerados pontos como a cultura, a religião
ou os mitos de um determinado lugar. Esse pensamento originou o Behaviorismo, na Psicologia,
que acredita que o comportamento humano pode ser treinado, moldado.
PSICOLOGIA DA GESTALT: A palavra Gestalt tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma
tradução da Bíblia, significando “o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares”. Hoje
adotada no mundo inteiro, significa um processo de dar forma ou configuração. Gestalt significa
uma integração de partes em oposição à soma do “todo”. A palavra gestalt tem o significado de
uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado e que tem
uma forma ou configuração como um de seus atributos.
Dizer que um processo, ou o produto de um processo é uma gestalt, significa dizer que não pode
ser explicado pelo mero caos, a uma mera combinação cega de causas essencialmente
desconexas, mas que sua essência é a razão de sua existência. A Psicologia da Gestalt,
baseada nesse princípio, dá origem a uma prática clínica denominada Gestalt-terapia, um
método de psicoterapia desenvolvido por Fritz Perls, que trabalha de preferência com o aqui e
agora e não com o passado, cuja pretensão é promover o aumento da consciência da pessoa
acerca do modo como os seus processos psicológicos estão integrados. A ênfase na
compreensão da pessoa como um todo decorre dos princípios da Gestalt (HAYES, 1997). 182
PSICOMETRIA: do grego psyché, alma + metrein, medir; medição das funções psíquicas por
meio de testes normalizados destinados a estabelecer uma base quantificável das diferenças
entre indivíduos.
SETTING: Diz-se do momento da sessão e dos papéis ali representados. Refere-se ao momento
atemporal e não ao tempo cronometrado. Para tempo de relógio (de 45 minutos a uma hora),
local, forma, pagamento, contrato de acompanhamento psicológico, denomina-se “enquadre”.
São os acordos feitos normalmente na primeira consulta.
TESTAGEM: Termo utilizado em qualquer tipo de pesquisa de saúde que envolva experimentos
com grupos-teste e grupo-controle.
183
ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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ANGELO, L.F. Psicanálise e Psicologia do Esporte: É possível tal combinação?. São Paulo:
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Metodologia. São Paulo: Mc Graw-Hill Ltda., 1986.
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BLEGER, José. Temas de psicologia: entrevista e grupos. Trad. Rita M. de Moraes. São
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CASTILHO, Áurea. A dinâmica do trabalho de grupo. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark ed,
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BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia. história de deuses e heróis. 2. ed. Rio de
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