Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E ASSISTÊNCIA


SOCIAL

Tema:

Intervenção e avaliação

Chimoio, Abril de 2024


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E ASSISTÊNCIA
SOCIAL
4o Ano – Laboral

Disciplina:

Intervenção Psicológica e Comunitária

Tema:

Intervenção e avaliação

Discentes: Docente:

Leila Bernardo David Curumbu MSc. Tânia Gomes

Maria Helena Zacarias `

Zainabo Esmael Mahambo

Chimoio, Abril de 2024


Índice
Capítulo I....................................................................................................................................4

1. Introdução............................................................................................................................4

1.1. Objectivos........................................................................................................................4

1.1.1. Geral.............................................................................................................................4

1.1.2. Específicos...................................................................................................................4

1.2. Metodologia.....................................................................................................................4

Capítulo II: revisão literária........................................................................................................5

2. Concepções da psicologia comunitária................................................................................5

2.1. O caracter político da psicologia comunitária (órgãos locais).........................................5

2.1.1. Produção de subjetividade e políticas cognitivas.........................................................5

2.2. Níveis de intervenção.......................................................................................................6

2.2.1. Nível primário..............................................................................................................6

2.2.2. Nível secundário...........................................................................................................7

2.2.3. Nível terciário...............................................................................................................7

2.3. Investigação participativa em psicologia comunitária.....................................................7

2.4. Avaliação das necessidades da investigação participativa...............................................8

2.5. Avaliação dos programas de intervenção comunitária.....................................................9

2.6. Psicologia e os problemas sociais....................................................................................9

2.6.1. Problemas sociais.......................................................................................................10

2.7. Prevenção e tratamento em psicologia comunitária.......................................................11

2.8. Contextos de saúde e educação......................................................................................12

2.9. Contextos institucionais.................................................................................................12

Capítulo III................................................................................................................................14

3. Conclusão..........................................................................................................................14

4. Referências bibliográficas.................................................................................................15
Capítulo I
1. Introdução

O presente trabalho visa abordar questões inerentes a psicologia comunitária, mais


concretamente sobre a intervenção e avaliação em psicologia comunitária. A psicologia
comunitária é uma área da psicologia que tem como objetivo contribuir de forma positiva para
o desenvolvimento das capacidades psicossociais presentes nas comunidades, buscando
promover a transformação social e o desenvolvimento humano.

A atuação da psicologia comunitária pode ocorrer em diversos contextos, como em bairros,


escolas, empresas, instituições religiosas e organizações não governamentais. A prática dessa
área envolve a escuta e o diálogo com os membros da comunidade, a identificação das
necessidades e demandas locais, a captação de recursos e as ações coletivas para a
transformação das condições de vida das pessoas. Os profissionais de psicologia comunitária
trabalham em parceria com outros profissionais e lideranças locais, promovendo ações que
visam à promoção da saúde mental, à prevenção de violência e conflitos, à promoção da
participação social e à construção de redes de apoio e solidariedade. Além disso, a psicologia
comunitária também tem como objetivo empoderar os indivíduos e grupos sociais, para que
possam ser protagonistas na transformação de suas realidades (Freitas, 2007).

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Compreender a intervenção e avaliação na psicologia comunitária;
1.1.2. Específicos
 Descrever o caracter político da psicologia comunitária;
 Identificar os níveis de intervenção;
 Descrever a investigação participativa em psicologia comunitária;
 Conceituar prevenção e tratamento em psicologia comunitária;
1.2. Metodologia

Na realização deste trabalho, foi utilizada a pesquisa qualitativa de cunho científico onde se
buscou compreender, descrever e outras informações concernentes ao intervenção e avaliação.
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, através de pesquisa on-line, em sites de busca como
Google e Scielo, procurando por artigos científicos originais e revisados, como também a
pesquisa em livros didáticos.

4
Capítulo II: revisão literária
2. Concepções da psicologia comunitária

Para Góis (1994), a psicologia comunitária estuda os sentidos e significados produzidos e


transformados pelos moradores da comunidade em sua vida cotidiana. O psicólogo
comunitário “investiga o modo de vida da comunidade e como se reflete e se transforma na
mente dos seus moradores, e como, novamente, aparece em suas atividades concretas” (Góis,
1994, p.18). Dessa maneira, a atividade comunitária constitui unidade fundamental sobre a
qual o psicólogo comunitário deve se debruçar, a partir de sua análise e vivência.

Segundo o mesmo autor, a psicologia comunitária adota, a partir da teoria histórico-cultural,


uma compreensão do psiquismo que pressupõe sua constituição social, histórica e
culturalmente estabelecida (Góis, 1994, p.18). Nesse sentido, através da atividade comunitária
é possível avançar no estudo da consciência. Pode-se entender que a consciência humana
distingue a realidade objetiva do seu reflexo. Isto torna possível o planejamento e execução de
ações que não são determinadas por sua finalidade imediata, mas que ganham significado
dentro de um campo de linguagem. Em suma, a consciência é o reflexo da realidade,
refractada através do prisma das significações e dos conceitos linguísticos, elaborados
socialmente.

2.1. O caracter político da psicologia comunitária (órgãos locais)

A psicologia da comunidade costuma se referir à atuação de psicólogos que atendem à


população por meio de algum órgão prestador de serviços, como postos de saúde, centros
sociais, dentre outros. Finalmente, conforme Freitas (2007), por psicologia comunitária
seriam definidos aqueles trabalhos que visam à conscientização e à participação, a partir da
experiência cotidiana e comunitária. Tal proposta intenta também o fortalecimento dos laços
de solidariedade e o aprimoramento das redes sociais, tendo em vista a construção de uma
experiência coletiva de existência.

2.1.1. Produção de subjetividade e políticas cognitivas

Ao situarmos a psicologia comunitária num quadro mais amplo, buscamos compreender


alguns de seus propósitos a fim de tornar visíveis políticas de subjetivação que lhes são
concernentes. O conceito de produção de subjetividade, tal como propõem Deleuze e Guattari
(1995), busca se contrapor a uma concepção interiorizada de subjetividade, como domínio
privado e oposto à dimensão objetiva da realidade. Para esses pensadores, ao invés de tratar a

5
subjetividade como psiquismo ou como reflexo cognitivo do mundo objetivo, parte-se da
concepção de que a mesma se insere num campo de produção anterior à própria constituição
do sujeito e do objeto como formas fixas.

A atuação da psicologia para a modificação dessas relações de poder e, por conseguinte, para
a superação das condições de opressão, necessitaria de dois movimentos interligados para se
realizar. O primeiro diria respeito a uma mudança das possibilidades de leitura da realidade a
partir de um processo de conscientização, como designado por Paulo Freire: o avançar de uma
consciência mágica em direção a uma consciência crítica. A conscientização, portanto, é
entendida como uma superação da "esfera espontânea de apreensão da realidade, para
chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o
homem assume uma postura epistemológica" (Freire, 1980, p. 26).

O segundo procedimento necessário à transformação das relações de poder, no trabalho da


psicologia comunitária, estaria relacionado a uma recriação efetiva das formas de ação das
pessoas diante da realidade, buscando ampliar as possibilidades de transformação social e a
consequente superação das contradições presentes nas relações de opressão. Isso define o que
se chama de fortalecimento da atividade comunitária, cuja conceituação fora esboçada
anteriormente.

Feita esta apresentação mais geral da psicologia comunitária, cabe agora tentar discernir os
modos que ela engendra a produção de subjetividade e suas consequentes políticas cognitivas.
Observamos que, a partir da forma como a psicologia comunitária constrói seus problemas
dá-se lugar a políticas cognitivas ambíguas, que ora se aproximam de uma política da
invenção, ora de uma política da recognição.

2.2. Níveis de intervenção


2.2.1. Nível primário

Este nível destina-se a programas, cujo objectivo é evitar a ocorrência do problema-alvo, isto
é, diminuir a incidência prevenindo através de meios eficazes que alertem e possam antever
consequências. Logo, estuda a causa do problema e os factores de risco, para que estes não
surjam, está muito ligado a problemas interpessoais. Como exemplos deste nível, temos os
programas de prevenção ao tabaco, álcool, drogas, programas de treino e estratégias de estudo
e aprendizagens (Freitas, 2007).

Este nível destina-se a duas faixas etárias:

6
Jovens – enfatizando medidas como a consciencialização e sensibilização para os problemas
da infância e da adolescência em todos os seus aspectos, não direccionado apenas para jovens
de alto risco, mas para todos.

Adultos – fornecer conhecimentos básicos e fazer uma reflexão maior sobre os problemas
abordados, bem como uma participação mais activa em aspectos educacionais.

2.2.2. Nível secundário

Este nível de intervenção requer diversas técnicas como a aquisição de conhecimento em


relação à problemática-alvo, à consciencialização em relação ao comportamento e reacções,
dependendo das situações. Tem como função a diminuição da prevalência e frequência com
que acontece o problema, tentando impedir o seu avanço, caso já tenha dado início ao
problema. É um tipo de intervenção mais restrito, sendo primordial a um grupo específico,
que possa indicar comportamentos de risco (Freitas, 2007).

2.2.3. Nível terciário

Este nível é o nível mais avançado no que diz respeito ao problema. A única forma de
prevenir é diminuir as consequências e aplicar estratégias que visem uma antevisão, caso o
problema regresse. Este nível é considerado uma intervenção remediativa, pela forma como o
problema já se encontra iniciado e é preciso encontrar soluções. Neste nível, existe uma
preocupação a nível individual que consiste na aplicação de soluções de reintegração social
plena, ou em grande parte parcial (Freitas, 2007).

2.3. Investigação participativa em psicologia comunitária

A investigação participativa é definida por Arendt (1997), como uma abordagem colaborativa
que envolve de forma equitativa membros da comunidade, representantes de organizações ou
instituições governamentais e não governamentais e investigadores no processo de produção
de conhecimento. Cada parceiro contribui com recursos únicos e responsabilidades
partilhadas para a compreensão do fenômeno em estudo e da sua dinâmica sociocultural. Essa
abordagem combina investigação com estratégias de capacitação comunitária para reduzir a
lacuna entre o conhecimento produzido através da investigação e a tradução desse
conhecimento em intervenções e políticas que melhorem a saúde das comunidades.

O paradigma de investigação participativa surgiu nos anos 1960, quando movimentos


sociopolíticos e acadêmicos desafiavam as relações entre as universidades e a sociedade e

7
suscitavam a procura de novas teorias e práticas de investigação, com o desafio de usar o
conhecimento para promover uma sociedade mais equitativa. A abordagem participativa em
investigação derivou de duas principais tradições: a investigação-ação de Kurt Lewin (anos
1940-1950), que enfatizava o envolvimento das pessoas afetadas pela problemática na
resolução prática do problema através de um processo cíclico de procura de fatos, ação e
avaliação; e a investigação-ação participativa baseada nos trabalhos de Paulo Freire nos anos
1970 sobre educação popular com populações vulneráveis, em que, numa perspectiva
emancipatória, se desafiava o domínio político do conhecimento pelas elites, o papel das
comunidades enquanto mero objeto de pesquisa, os papéis dos investigadores na academia e a
sua responsabilidade na mudança sociopolítica na sociedade (Arendt, 1997).

2.4. Avaliação das necessidades da investigação participativa

Segundo Góis (1994), a literatura mais recente tem apontado várias necessidades na utilização
da investigação participativa em Psicologia Comunitária. Uma das principais é a integração
do conhecimento teórico-metodológico dos investigadores com o conhecimento e
experiências do contexto dos parceiros. Isso contribui para uma maior compreensão dos
múltiplos determinantes que produzem iniquidades em saúde e para a adoção de boas práticas
que respondam às necessidades das populações.

Os princípios da investigação participativa emergem de uma preocupação ética face a um


histórico de “utilização” das comunidades (especialmente minoritárias e em maior
desvantagem socioeconômica) em prol da investigação sem garantir que as comunidades se
beneficiassem, bem como da influência do conceito de empoderamento comunitário, muito
inspirado no trabalho de Freire (2007) defendia que o desenvolvimento da “consciência
crítica” tornaria indivíduos e comunidades mais empoderados para quebrar o ciclo de
vulnerabilidade. Sustentava que criar conhecimento científico com aqueles mais afetados pela
questão em estudo poderia fazer a diferença na prática da saúde pública.

A colaboração com pessoas da comunidade permite estabelecer uma relação de confiança que
facilita a aceitação do projeto e credibiliza os investigadores, possibilitando a obtenção de um
elevado nível de participação e qualidade dos dados recolhidos (Arendt, 1997). Esses aspectos
assumiram particular relevância num estudo sobre saúde sexual e reprodutiva com populações
imigrantes, permitindo ultrapassar dificuldades linguísticas e culturais, obter o consentimento
de um elevado número de participantes e ter acesso às suas reais perspectivas e a informações
de foro pessoal e sensível.
8
2.5. Avaliação dos programas de intervenção comunitária

Embora seja cada vez mais reconhecido o valor da investigação participativa e incentivada a
sua aplicação em saúde, os investigadores encontram alguns desafios na utilização dessa
abordagem. Um primeiro desafio refere-se à definição de comunidade adotada em cada
programa/projeto. Embora a “comunidade” seja tipicamente entendida como uma entidade
local geopolítica, vários autores sugerem uma definição de comunidade mais ampla, que
inclui todos os implicados na questão em estudo, que partilham características ou interesses
comuns (Freitas, 2007). Assim, para além dos seus residentes, a comunidade pode constituir-
se por profissionais de saúde, organizações, decisores políticos, entre outros. Adicionalmente,
uma vez que as comunidades são entidades heterogêneas, é pertinente identificar os membros
que verdadeiramente a representam e que estão qualificados para consentir a investigação em
nome da mesma. Não existindo uma única solução para todas as situações, o grupo inicial
envolvido no estabelecimento da parceira deve decidir sobre: quem é a comunidade? Quem
pode representá-la? Quem a influencia? Como podem ser envolvidos?

A resposta a essas questões tem impacto em todas as fases posteriores e, em última instância,
nos resultados do projeto. Ao longo da investigação colocam-se várias dificuldades quando se
procura assegurar o envolvimento equitativo dos diversos parceiros e a partilha do controle da
tomada de decisão. Apesar da morosidade do processo e da dificuldade em garantir a total
concordância entre os diferentes parceiros, esses processos de tomada de decisão constituem
uma importante oportunidade de diálogo, partilha de perspectivas e construção de relações de
confiança, aspectos que potencialmente favorecem o projeto. Outro desafio é escolher e
aplicar adequadamente diferentes metodologias, o que influencia os resultados da
investigação (Freitas, 2007).

Adicionalmente, os investigadores podem sentir pressão quando pretendem estabelecer


relações recíprocas e compromissos duradouros com as comunidades, dado que o meio
acadêmico prioriza a produção rápida de publicações científicas (Freitas, 2007). No entanto,
assiste-se a uma valorização dos programas/projetos de investigação participativa por parte
das entidades financiadoras, com incentivo para publicar não só os resultados, mas também os
processos envolvidos nesse tipo de investigação.

2.6. Psicologia e os problemas sociais

9
Analisar problemas sociais na perspectiva da Psicologia exige, por um lado, uma
compreensão deste entrelaçamento, por outro, a adoção de referências conceituais e
metodológicas que deem conta desta realidade - o ser humano e suas implicações com o
mundo e os problemas sociais. De uma forma geral, a Psicologia e as Ciências Humanas e
Sociais têm-se preocupado em entender como somos produzidos pela sociedade, mas têm
pouco ou nada a dizer a respeito de como poderíamos produzir esta sociedade, criando,
através de mudanças provocadas, novas condições de existência pela ação dos indivíduos.
Notoriamente, estamos diante de uma grande crise social, em que a desumanização, o medo, a
desconfiança, a desigualdade social, o desrespeito à diversidade humana, as relações de
exclusão e a barbárie apontam para a evidente necessidade de serem revistos esses problemas
sociais e de intervir para reinventar e transformar o futuro (Freitas, 2007).

2.6.1. Problemas sociais

Um problema social existe quando coletividades sofrem por mutilações do cotidiano, por
desigualdade social e injustiça vivenciada. Isto é, quando as instituições que deveriam estar
em consonância com o desejo humano não cumprem seus objetivos ou não existem. Quando
isso acontece, as leis são transgredidas e não atendem as coletividades nas suas necessidades,
nas suas carências, no seu desejo de ser gente, e a relação entre fazer e ser humano não se
produz. A relevância do problema social está diretamente associada à extensão dos seus
efeitos, por exemplo, aumento dos índices de mortalidade, desnutrição, analfabetismo, fome,
exclusão pelas diferenças humanas e desigualdade social, sofrimento e padecimento psíquico
(Freitas, 2007).

Os problemas sociais são produtos de um sistema social, econômico, político e cultural e,


como tal, não são explicados unicamente pelas características e condições das instituições
sociais vigentes ou pelas características dos seres humanos e da cultura. São, antes,
fenômenos sociais configurados no jogo dessas relações, nas intersubjetividades em ato,
durante o viver cotidiano.

A análise dos problemas sociais, na perspectiva da Psicologia, reflete, por um lado, uma
compreensão desse entrelaçamento. Por outro lado, exige referências conceituais e
metodológicas que deem conta dessa realidade, isto é, do ser humano e suas implicações com
o mundo e com os problemas sociais. Uma análise profunda que desperte os afetos e a
reflexão da realidade e seu compromisso como sujeito social. Desvelar a realidade de tal
forma que nos sintamos capazes de nos comover até as entranhas com a dor e o sofrimento da
10
humanidade excluída, discriminada, vítima da violência e de nos solidarizarmos com suas
causas e lutas (Freitas, 2007).

A análise do problema social reside no enfoque do problema não como materialidade externa
ao indivíduo, na forma de uma crise do estado de bem-estar social, mas na consideração das
implicações psíquicas desse indivíduo, como apropriações, mediações, sofrimentos, reflexões
e potência de ação. Esta perspectiva aguça o olhar para captar as múltiplas e sutis nuanças do
problema social, tal como vividas pelo sujeito (Freitas, 2007). Fazer emergir na análise o
processo de configuração do problema social objetivado no ser humano significa,
fundamentalmente, descobrir sua natureza, seu real, uma vez que é somente em movimento
que um corpo mostra o que é.

2.7. Prevenção e tratamento em psicologia comunitária

A perspetiva da Psicologia comunitária coloca a ênfase em dois temas recorrentes no campo


da saúde Mental: uma preocupação na Prevenção e a necessidade de focar os níveis
ecológicos. Assim, o objetivo dos programas preventivos de grande escala centra-se na
redução do número de pessoas que necessitam de psicoterapia, chamando a atenção para a
necessidade de modificar a forma de prestação e os tipos de serviços (Arendt, 1997).

A definição de prevenção não é consensual, contudo a mais tradicional é a de Gerald Caplan


distinguindo três níveis.

i. Prevenção Primária

Intuito de reduzir a incidência de novos casos de desordem mental na população para


combater forças perniciosas, que operam na comunidade e, pelo fortalecimento da capacidade
das pessoas lidarem com o stress (Arendt, 1997).

ii. Prevenção Secundária

Obejtivo de reduzir a duração de casos de desordem mental que ocorrem apesar dos
programas de prevenção primária, preocupa-se em identificar os grupos vulneráveis, de forma
a reduzir a gravidade ou duração das dificuldades identificadas (ou potenciais dificuldades)
por forma a prevenir problemas futuros, entre outras (Arendt, 1997).

iii. Prevenção Terciária

O intuito é minimizar as incapacidades permanentes e reduzir os efeitos residuais das


dificuldades emocionais, o foco encontra-se essencialmente nos programas de tratamento e
11
reabilitação; direcionada para a redução das probabilidades de que indivíduos que já
experienciaram dificuldades emocionais se tornem mais severamente incapacitados (Arendt,
1997).

2.8. Contextos de saúde e educação

A Psicologia, busca a melhoria da qualidade de vida do ser humano e para conseguir isso foca
suas forças em diferentes áreas. Seu arcabouço teórico e prático embasa o trabalho deste
profissional onde quer que esteja, mesmo em áreas pouco reconhecidas pela sociedade como é
o caso da Psicologia Escolar e Educacional.

A Psicologia tem contribuído para a educação no sentido de melhorar sua qualidade. Dessa
forma, os espaços de trabalho do psicólogo escolar precisam ser ampliados e valorizados, para
além das instituições educativas formais. O psicólogo nesta área pode estudar, pesquisar ou
atuar com as seguintes temáticas: 1) processos de ensino e aprendizagem, 2) desenvolvimento
humano, 3) escolarização em todos os seus níveis, 4) inclusão de pessoas com deficiências, 5)
políticas públicas em educação, 6) gestão psicoeducacional em instituições, 7) formação
continuada de professores, dentre outros.

A Psicologia é uma profissão da saúde e tem muito a acrescentar na formação e


desenvolvimento de trabalhadores dessa área. Neste sentido, é que o trabalho aqui
apresentado é realizado. Apesar de a maioria dos psicólogos que atuam na saúde trabalharem
com atendimentos clínicos, existem outras ações/atividades necessárias e importantes a serem
desenvolvidas. A educação na saúde é uma delas (Freitas, 2007).

No contexto aqui apresentado, o psicólogo, enquanto agente de transformação, tem um vasto


campo de trabalho. Algumas das atividades desenvolvidas por ele, que demonstram resultados
práticos são: facilitação de processos de educação permanente em saúde; preparação de outros
profissionais para esta facilitação; gestão de projetos e processos educativos que estimulem a
reflexão, a autonomia e a transformação da realidade dos serviços; apoio metodológico /
pedagógico para as atividades educativas direcionadas tanto para profissionais quanto para
gestores; avaliação e acompanhamento dos processos educacionais.

2.9. Contextos institucionais

A inserção da psicologia nos contextos institucionais se dá de diversas formas, amparada por


distintos referenciais teóricos, posicionamentos políticos e dispositivos de investigação e
intervenção (Freitas, 2007).
12
A inserção da Psicologia nos contextos institucionais é marcada por uma conexão de saberes
que a torna uma disciplina de interface, ou que demanda que suas/seus autoras/es e
pesquisadores se posicionem num território de fronteira, produzindo bricolagens entre saberes
que têm origens em campos diversos. Constitui-se assim um amplo campo permeado de
práticas e saberes heterogêneos, e este número temático é uma expressão dessa
heterogeneidade.

A Psicologia Institucional é uma abordagem que amplia o escopo da Psicologia tradicional,


focada no indivíduo, para compreender as relações que ocorrem nos contextos
institucionais. Ela reconhece que as instituições têm uma influência significativa no
comportamento e no bem-estar dos indivíduos, e busca intervir nesses espaços para promover
mudanças positivas (Freitas, 2007).

A Psicologia Institucional contribui para a criação de um clima organizacional saudável e para


o fortalecimento das relações interpessoais dentro das instituições. Ao compreender as
dinâmicas de poder, hierarquia e comunicação, essa abordagem busca promover relações mais
igualitárias, participativas e respeitosas. Isso resulta em um ambiente de trabalho mais
harmonioso, no qual os colaboradores se sentem valorizados e motivados.

A intervenção da Psicologia Institucional pode levar a melhorias significativas na eficiência e


na produtividade das instituições. Ao analisar os processos organizacionais, identificar
possíveis entraves e propor soluções, essa abordagem contribui para otimizar o desempenho
individual e coletivo.

Além disso, o fortalecimento das relações de trabalho e o estímulo ao trabalho em equipe


impactam positivamente os resultados alcançados pela instituição.

A Psicologia Institucional busca garantir a saúde mental e a qualidade de vida dos indivíduos
que fazem parte das instituições. Ela se preocupa em identificar fatores de risco psicossociais,
como estresse, assédio moral, sobrecarga de trabalho e insatisfação profissional, e em
implementar medidas de prevenção e promoção da saúde (Freitas, 2007).

13
Capítulo III
3. Conclusão

De forma conclusiva, a psicologia comunitária estuda os sentidos e significados produzidos e


transformados pelos moradores da comunidade em sua vida cotidiana. O psicólogo
comunitário investiga o modo de vida da comunidade e como se reflete e se transforma na
mente dos seus moradores, e como, novamente, aparece em suas atividades concretas.

Neste trabalho refletiu-se sobre a contribuição da investigação participativa em Psicologia


comunitária, analisando as suas perspectivas teóricas, princípios e necessidades. Também se
examinaram alguns aspectos como caráter político do trabalho da psicologia comunitária,
avaliação das necessidades da investigação participativa e avaliação dos programas de
intervenção comunitária.

A investigação participativa integra uma abordagem colaborativa de envolvimento das


comunidades, profissionais, decisores políticos e acadêmicos na produção de conhecimento,
incorporando as suas diferentes perspectivas e experiências. Essa abordagem favorece a
aceitação do projeto, a adesão das comunidades ao estudo e, consequentemente, a qualidade
dos dados coletados. A investigação participativa pode ser, em si só, uma intervenção: o
envolvimento das comunidades pode aumentar a sua tomada de consciência sobre a
importância das temáticas abordadas e capacitá-las para definir e responder às problemáticas
de saúde, promovendo o seu empoderamento.

Contudo, os investigadores encontram desafios na utilização dessa abordagem, relacionados


com o estabelecimento e manutenção das parcerias de investigação, a partilha de controle da
tomada de decisão e a conciliação das motivações e interesses dos parceiros. Mais evidência
sobre o processo de implementação da investigação participativa reforçará o seu quadro
teórico, a compreensão das suas potencialidades e limitações no estudo de diferentes
problemáticas, contextos e populações, e o seu papel benéfico para as comunidades.

14
4. Referências bibliográficas

Arendt, R. J. J. (1997). Psicologia Comunitária: teoria e metodologia. Psicologia Reflexão e


Crítica. Lisboa: Livro Horizonte.

Deleuze, G. & Guatarri, F. (1995). Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 4, S. Rolnik,
Trad. São Paulo: 34.

Freire, P. (1980). Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao


pensamento de Paulo Freire São Paulo: Cortez e Moraes.

Freitas, M. F. Q. (2007). Intervenção psicossocial e compromisso: desafios às políticas


públicas. 1ª ed. Porto Alegre

Freitas, M. F. Q. (1998). Inserção na comunidade e análise de necessidades: reflexões sobre a


prática do psicólogo. Psicologia reflexão e crítica, 11(1), 175-189.

Góis, C. W. L. (1994). Noções de psicologia comunitária. Fortaleza: Edições UFC

15

Você também pode gostar