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FACULDADE DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Tema:
Disciplina:
Tema:
Discentes: Docente:
Ilda Fernando
Joana Boaze
1. Introdução ............................................................................................................................4
Capitulo II ...................................................................................................................................6
2.2.3. Práticas que aproximam a psicologia comunitária de uma política da invenção .............9
3. Conclusão .......................................................................................................................... 16
1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral
Investigar e descrever a Investigação participativa em Psicologia Comunitária;
1.1.2. Objectivos específicos
Conceituar a Investigação participativa;
Descrever o carácter político do trabalho da psicologia comunitária;
Avaliar as necessidades da investigação participativa;
Avaliar os programas de intervenção comunitária;
1.2. Metodologia
Na realização deste trabalho, foi utilizada a pesquisa qualitativa de cunho científico onde se buscou
compreender, descrever e outras informações concernentes à Investigação participativa em
Psicologia Comunitária. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, através de pesquisa on-line, em
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sites de busca como Google e Scielo, procurando por artigos científicos originais e revisados, como
também a pesquisa em livros didáticos.
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Capitulo II
2. Investigação participativa em Psicologia Comunitária
2.1. Concepções da Investigação Participativa
A investigação participativa é definida por Arendt (1997), como uma abordagem colaborativa que
envolve de forma equitativa membros da comunidade, representantes de organizações ou
instituições governamentais e não governamentais e investigadores no processo de produção de
conhecimento. Cada parceiro contribui com recursos únicos e responsabilidades partilhadas para
a compreensão do fenômeno em estudo e da sua dinâmica sociocultural. Essa abordagem combina
investigação com estratégias de capacitação comunitária para reduzir a lacuna entre o
conhecimento produzido através da investigação e a tradução desse conhecimento em intervenções
e políticas que melhorem a saúde das comunidades.
No decorrer da evolução dessa abordagem, vários autores têm-se dedicado a desenvolver uma base
conceitual para a investigação participativa. Nesse contexto, Arendt (1997) têm tido um papel
importante, propondo uma sistematização dos princípios que caracterizam a investigação
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participativa, nomeadamente: reconhecer a comunidade como uma unidade de identidade; basear-
se nas forças e recursos da comunidade; facilitar uma parceria colaborativa e equitativa em todas
as fases da investigação; promover a aprendizagem conjunta e a capacitação dos parceiros;
alcançar um equilíbrio entre investigação e intervenção para benefício de todos; focar-se nos
problemas de saúde pública localmente relevantes e numa perspectiva ecológica; implicar a
reorganização de sistemas; divulgar os resultados aos parceiros e envolvê-los na sua ampla
disseminação; desenvolver um compromisso para a sustentabilidade.
Ao situarmos a psicologia comunitária num quadro mais amplo, buscamos compreender alguns de
seus propósitos a fim de tornar visíveis políticas de subjetivação que lhes são concernentes.
Contudo, não desejamos afirmar uma visão exclusivista sobre as políticas de subjetivação ou
mesmo limitar o seu entendimento aos argumentos expostos. Assim, pretendemos não somente
descrever uma possível concepção de subjetividade presente na psicologia comunitária, mas
também provocar interferências diante de outros intercessores.
Kastrup (2006), fala dos efeitos dessas diferentes políticas de subjetivação. Nesse sentido, eles
criticam uma subjetivação capitalística que modula os indivíduos pela fabricação de blocos
serializados de valores, hábitos, crenças e desejos, dos quais os sujeitos seriam consumidores em
busca de signos identitários. Por outro lado, os autores apontam a possibilidade de processos de
singularização, nos quais os indivíduos ou grupos se arriscam na invenção de modos inéditos de
relacionar-se com a vida e consigo mesmos.
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Diante deste entendimento, é preciso dizer que, tal como outros trabalhadores (Kastrup, 2006), o
psicólogo comunitário se insere no campo social implicado com a produção de subjetividades. Na
tentativa de elucidar tal implicação, trazemos a ideia de políticas de cognição como operador
conceitual.
Segundo o mesmo autor, a psicologia comunitária adota, a partir da teoria histórico-cultural, uma
compreensão do psiquismo que pressupõe sua constituição social, histórica e culturalmente
estabelecida (Góis, 1994, p.18). Nesse sentido, através da atividade comunitária é possível avançar
no estudo da consciência. Pode-se entender que a consciência humana distingue a realidade
objetiva do seu reflexo. Isto torna possível o planejamento e execução de ações que não são
determinadas por sua finalidade imediata, mas que ganham significado dentro de um campo de
linguagem. Em suma, a consciência é o reflexo da realidade, refractada através do prisma das
significações e dos conceitos linguísticos, elaborados socialmente.
Observamos também que, através de alguns conceitos, a psicologia comunitária aponta uma
compreensão específica das relações de poder. São constantes as referências à situação de
opressores e oprimidos e à necessidade de superação desta forma de organização social. Tais
concepções ganham substância e funcionalidade em conceitos como “ideologia de submissão e
resignação” e “caráter oprimido”.
Observamos que, a partir da forma como a psicologia comunitária constrói seus problemas dá-se
lugar a políticas cognitivas ambíguas, que ora se aproximam de uma política da invenção, ora de
uma política da recognição. Vejamos, a seguir, os elementos que levam a essa dupla implicação.
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Em certa medida, o conceito de conscientização, também apropriado pela psicologia comunitária,
pode se aproximar da lógica que compreende uma cisão entre sujeito e objeto, pressupondo uma
realidade anterior à experiência cognitiva. A partir da tipologia dos níveis de consciência proposta
por Freire (1980), pode-se compreender que determinadas relações de conhecimento são mais
autênticas e verdadeiras que outras. Haveria, portanto, experiências cognitivas distorcidas nas
quais o sujeito não atinge um grau de lucidez correspondente com a verdade, o que seria corrigido
com a conquista de uma consciência crítica.
No entanto, se compreendemos que o mundo não é um dado, mas é construção, a atitude cognitiva
não pode ser resumida ao reconhecimento de fatores pré- -existentes através do bom uso da razão.
Acreditamos que o psicólogo deve ser cauteloso para que sua prática não engendre processos de
subjetivação serializados, que intentem aproximar o morador da comunidade de um protótipo que
compreende e transforma a realidade de uma forma específica. Sujeito comunitário que ascenderia
a uma consciência crítica e a partir daí compreenderia “corretamente” os nexos da realidade,
perspectiva que se aproxima da atitude realista de que fala Kastrup (2006).
A psicologia comunitária atinaria para um poder que se exerce de forma coercitiva, em relações
verticalmente hierárquicas. Um tipo de poder que pode ser tomado, possuído como uma
mercadoria, que partiria do aparelho do Estado e se aplicaria a partir dele. Na perspectiva da
psicologia comunitária, há uma relação entre opressores e oprimidos; aqueles que detêm poder
(político, econômico, ideológico, dentre outros) massacrando outros, que são alijados de condições
mínimas de existência ou de possibilidades de luta e transformação social.
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Uma postura que inaugurou a inserção da psicologia nos trabalhos comunitários foi a de valorizar
as potencialidades existentes nos espaços populares. Essa posição é politicamente importante, uma
vez que esses territórios são historicamente discriminados e na maior parte das vezes descritos
exclusivamente pelas situações de violência e pobreza que apresentam. Principalmente nos
grandes centros urbanos (Góis, 1994).
Consideramos, ainda, que a postura dialógica perseguida pelo psicólogo comunitário é um dos
elementos que contribuem para a aproximação desta área a uma política cognitiva da invenção. Os
momentos coletivos de discussão e de reflexão constituem boa parte do trabalho do psicólogo na
comunidade, e exigem uma escuta atenta e aberta para as diferenças que se insinuam no encontro
dos corpos. Através do diálogo, o psicólogo se disponibiliza a lidar com os desvios de percurso,
quando as forças que compõem o coletivo assim solicitarem. O contacto com a multiplicidade das
relações comunitárias convida o psicólogo a manter-se em sintonia com os processos
micropolíticos que não são tão evidentes, pois ainda não se concretizaram em formas prontas.
Freitas (2007) atenta para os diferentes modos de inserção do psicólogo na comunidade, levando
em consideração a forma com que os objetivos do trabalho são definidos. Dependendo dos tipos
de intervenção que têm sido feitos nas últimas décadas, os objetivos podem ser estabelecidos tanto
a priori quanto a posteriori do processo de entrada do psicólogo na comunidade.
Quando a priori, a inserção se dirige de acordo com aquilo que o psicólogo pré-define como
demanda, antes mesmo de conhecer a especificidade da realidade em questão. Quando a posteriori,
a definição dos objetivos pode ser efetuada de duas formas: após realizar levantamento das
condições próprias do lugar, o psicólogo toma para si a tarefa de determinar quais as questões mais
urgentes; ou, após familiarizar-se com a dinâmica da comunidade, o psicólogo aponta questões
conjuntamente com a população, num processo participativo. Neste último caso, o psicólogo
certamente se arrisca mais, uma vez que sustenta o incômodo das incertezas: “os dois – psicólogo
e comunidade – não estão definidos e muito menos têm suas identidades e papéis fixos, imutáveis
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e preservados” (Freitas, 2007, p.5).É em torno desses posicionamentos que acreditamos que a
psicologia comunitária se aproxima de uma política de invenção
Segundo Góis (1994), a literatura mais recente tem apontado várias necessidades na utilização da
investigação participativa em Psicologia Comunitária. Uma das principais é a integração do
conhecimento teórico-metodológico dos investigadores com o conhecimento e experiências do
contexto dos parceiros. Isso contribui para uma maior compreensão dos múltiplos determinantes
que produzem iniquidades em saúde e para a adoção de boas práticas que respondam às
necessidades das populações.
A colaboração com pessoas da comunidade permite estabelecer uma relação de confiança que
facilita a aceitação do projeto e credibiliza os investigadores, possibilitando a obtenção de um
elevado nível de participação e qualidade dos dados recolhidos (Arendt, 1997). Esses aspectos
assumiram particular relevância num estudo sobre saúde sexual e reprodutiva com populações
imigrantes, permitindo ultrapassar dificuldades linguísticas e culturais, obter o consentimento de
um elevado número de participantes e ter acesso às suas reais perspectivas e a informações de foro
pessoal e sensível. Ainda no contexto das populações de “difícil acesso”, os parceiros podem
auxiliar os investigadores na identificação dos locais e redes sociais nos quais se poderá recrutar
participantes e recolher dados.
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e a investigação. Como exemplo, refere-se o envolvimento dos parceiros no treinamento para atuar
como entrevistadores e na construção e validação dos instrumentos para assegurar procedimentos
de coleta de dados (quantitativos/qualitativos) de qualidade. Essa abordagem permite ainda
incorporar questões de saúde que são percebidas pelas comunidades como prioritárias e que
frequentemente não são equacionadas pelos investigadores. Simultaneamente, essa estratégia
favorece o desenvolvimento de competências e aumenta o sentimento de responsabilidade pelo
projeto. Assim, a investigação pode ser em si só uma intervenção, devendo os investigadores
reforçar essa potencialidade.
Embora seja cada vez mais reconhecido o valor da investigação participativa e incentivada a sua
aplicação em saúde, os investigadores encontram alguns desafios na utilização dessa abordagem.
Um primeiro desafio refere-se à definição de comunidade adotada em cada programa/projeto.
Embora a “comunidade” seja tipicamente entendida como uma entidade local geopolítica, vários
autores sugerem uma definição de comunidade mais ampla, que inclui todos os implicados na
questão em estudo, que partilham características ou interesses comuns (Freitas, 2007). Assim, para
além dos seus residentes, a comunidade pode constituir-se por profissionais de saúde,
organizações, decisores políticos, entre outros. Adicionalmente, uma vez que as comunidades são
entidades heterogêneas, é pertinente identificar os membros que verdadeiramente a representam e
que estão qualificados para consentir a investigação em nome da mesma. Não existindo uma única
solução para todas as situações, o grupo inicial envolvido no estabelecimento da parceira deve
decidir sobre: quem é a comunidade? Quem pode representá-la? Quem a influencia? Como podem
ser envolvidos?
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A resposta a essas questões tem impacto em todas as fases posteriores e, em última instância, nos
resultados do projeto. Ao longo da investigação colocam-se várias dificuldades quando se procura
assegurar o envolvimento equitativo dos diversos parceiros e a partilha do controle da tomada de
decisão. Apesar da morosidade do processo e da dificuldade em garantir a total concordância entre
os diferentes parceiros, esses processos de tomada de decisão constituem uma importante
oportunidade de diálogo, partilha de perspectivas e construção de relações de confiança, aspectos
que potencialmente favorecem o projeto. Outro desafio é escolher e aplicar adequadamente
diferentes metodologias, o que influencia os resultados da investigação (Freitas, 2007).
Assim, vários autores têm enfatizado que os padrões de rigor e qualidade científicos devem ser
assegurados. Efetivamente, os diferentes parceiros nem sempre estão capacitados para realizar
algumas atividades inerentes à investigação, como a análise de dados quantitativos/qualitativos, o
que pode produzir vieses com consequências para a interpretação dos resultados.
Ainda segundo Freitas (2007), a investigação participativa varia conforme os seus objetivos e o
contexto em que se desenvolve a parceria. Um desafio coloca-se assim em assegurar que,
independentemente da diversidade na implementação dessa abordagem, a investigação se
mantenha coerente com os princípios que orientam os processos e resultados de uma investigação
participativa, contribuindo para um aumento do conhecimento e beneficiando as comunidades.
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consideram como questão prioritária – nesses casos, os parceiros podem querer abordar outras
preocupações da comunidade, ou mostrar-se resistentes a investigações que desafiem os valores,
atitudes e práticas adotadas. A negociação é uma estratégia que permite ultrapassar essas tensões,
podendo-se, inicialmente, centrar o trabalho na resposta a prioridades específicas da comunidade
e, ao longo do processo de investigação, incorporar o diálogo para uma maior compreensão dos
determinantes de vulnerabilidade e das estratégias que minimizam o seu impacto (Freitas, 2007).
Também frequentemente os parceiros comunitários não estão sensibilizados para os
procedimentos metodológicos necessários para assegurar o rigor científico da investigação,
estando mais empenhados em dar resposta a questões tangíveis da sua realidade.
A intervenção preventiva é uma forma de actuar perante problemas, de forma a evitar determinadas
consequências que possam ser prejudiciais ao seu desenvolvimento. Para prevenir problemas desta
origem, é necessário intervir a nível de programas que estejam bem estruturadas relativamente a
objectivos, metodologia e, sobretudo, ideias principais das quais serão bases para as metas que
visam alcançar a eficácia e sucesso de tal intervenção. A prevenção passa por antevir
consequências e possíveis causas que estão na origem de determinadas questões. A intervenção
preventiva passa também por três níveis (Arendt, 1997):
Nível primário:
Este nível destina-se a programas, cujo objectivo é evitar a ocorrência do problema-alvo, isto é,
diminuir a incidência prevenindo através de meios eficazes que alertem e possam antever
consequências. Logo, estuda a causa do problema e os factores de risco, para que estes não surjam,
está muito ligado a problemas interpessoais. Como exemplos deste nível, temos os programas de
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prevenção ao tabaco, álcool, drogas, programas de treino e estratégias de estudo e aprendizagens
(Arendt, 1997). Este nível destina-se a duas faixas etárias:
Adultos – fornecer conhecimentos básicos e fazer uma reflexão maior sobre os problemas
abordados, bem como uma participação mais activa em aspectos educacionais.
Nível secundário:
Este nível de intervenção requer diversas técnicas como a aquisição de conhecimento em relação
à problemática-alvo, à consciencialização em relação ao comportamento e reacções, dependendo
das situações. Tem como função a diminuição da prevalência e frequência com que acontece o
problema, tentando impedir o seu avanço, caso já tenha dado início ao problema. É um tipo de
intervenção mais restrito, sendo primordial a um grupo específico, que possa indicar
comportamentos de risco (Arendt, 1997).
Nível terciário:
Este nível é o nível mais avançado no que diz respeito ao problema. A única forma de prevenir é
diminuir as consequências e aplicar estratégias que visem uma antevisão, caso o problema
regresse. Este nível é considerado uma intervenção remediativa, pela forma como o problema já
se encontra iniciado e é preciso encontrar soluções. Neste nível, existe uma preocupação a nível
individual que consiste na aplicação de soluções de reintegração social plena, ou em grande parte
parcial (Arendt, 1997).
Podemos, então concluir que, o psicólogo actua essencialmente de uma forma mais preventiva,
seja a nível primário e secundário (sendo estes mais focados numa intervenção preventiva), ou a
nível terciário (num aspecto mais remediativo, na medida em que já é necessário soluções para o
problema em questão).
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Capitulo III
3. Conclusão
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4. Referências bibliográficas
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